O INDO-EUROPEU AS LÍNGUAS NO MUNDO É possível que as línguas do Mundo, em número superior a 3000, tenham por base um antepassado único; não há, todavia, provas disso. Em contrapartida, podemos subdividi-las em famílias, estando comprovada a existência de um elo estrutural e genético entre os membros de muitas delas; outras, contudo, por falta de informação segura, têm de ser apresentadas sob base geográfica. INDO-EUROPEU: GEOGRAFIA Destas famílias a mais importante, em termos de números de idiomas, é o Indo-Europeu ( assim chamado porque os seus membros se estendem do norte da Índia até o ocidente da Europa). Idiomas oriundos de línguas indo-europeias são hoje falados por quase dois milhares de milhões da população total do Mundo(...). Supõe-se, embora isso não esteja provado, que houve outrora uma língua proto-indoeuropeia, da qual não chegaram até nós registos, mas que em grande parte pode ser reconstituída, comparando os registos dos mais antigos membros de cada ramo. Desta língua-mãe é crível que se tenham separado vários ramos, tornando-se muito diferenciados, no decurso das suas migrações, embora ainda se reconheçam neles as raízes da fonte comum. AS LÍNGUAS INDO-EUROPEIAS A língua portuguesa e os demais idiomas românicos são resultado de uma lenta e conturbada transformação, através dos séculos, de outra língua, o latim, que por sua vez era também transformação de outra, o indo-europeu, falado por um povo quase sem história ao qual se convencionou chamar ariano ou ária. O INDO-EUROPEU: MIGRAÇÕES Nas sucessivas e seculares migrações do povo ariano, o indo-europeu em contato com outros falares fracionou-se em diversos ramos como, por exemplo, o germânico, o itálico, o báltico, o eslavo, o celta, o albanês, o grego, o indo-irânico e o armênio. Desses, o que mais interessa à história do português é o ramo itálico, ao qual pertencem, entre outros, o umbro, o latim e osco, línguas respectivamente do noroeste, centro e sul da Península Itálica. Provavelmente por volta do segundo milênio antes de Cristo, é que começou a penetração ariana na Itália. RAMOS DO INDO-EUROPEU A) Germânico: 1. Germânico Oriental: *Gótico 2. Germânico Ocidental: Baixo - *Anglo-Saxónico, Inglês; Neerlandês-Flamengo, Frísico, Africânico (b); Baixo Alemão; Alto Alemão; 3. Germânico do Norte ou Escandinávico: *Escandinávico Antigo; Islandês; Norueguês, Sueco, Dinamarquês. RAMOS DO INDO-EUROPEU B) Itálico (ou Latino-Românico): 1. *Osco - *Úmbrico 2. Latim - *Falisco (o latim deu origem ao Português (ou Galego-Português), ao Castelhano, ao Catalão, ao Francês, ao Provençal, ao Sardo, ao Italiano, ao RetoRomânico (ou Rético ou Ladino), ao *Dalmático, ao Romeno). RAMOS DO INDO-EUROPEU C) Balto-Eslávico: 1. Báltico: *Prussiano Antigo, Lituânico, Letónico; 2. Eslávico: *Eslávico Litúrgico Antigo; Russo, Ucraniano, Russo Branco (ou Bielorusso); Polaco; Checo, Eslovaco; Servo-Croático, Eslovénico, Macedónico; Búlgaro. RAMOS DO INDO-EUROPEU D) Indo-Irânico 1. Irânico: *Persa Antigo, *Avéstico, Persa Moderno, Pastó ou Afegane, Curdo, Tajique; 2. Índico: *Sânscrito, *Prácritos, Hindi-Urdu (ou Hindustani), Bengali, Marata, Penjabi, Guzarate, Birari, Rajastani, Cingalês, Sindi, Assamês, Oriá, Nepali, etc. RAMOS DO INDO-EUROPEU G) Grego *Minóico, *Homérico, *Grego-Clássico, *Grego Comum Bizantino, Grego Moderno. RAMOS DO INDO-EUROPEU H) Céltico: 1. *Gálico ou Gaulês; 2. Goidélico: Irlandês, Escoto (Gaélico), Manquês; 3. Britónico: Galês, Bretão, *Córnico RAMOS DO INDO-EUROPEU I) Arménico: *Arménico Clássico; Arménico Moderno RAMOS DO INDO-EUROPEU J) Albanês: *Ilírico; Albanês Moderno O LATIM O latim era a língua dos latinos, povo de costumes simples e rudes que habitava o Lácio, a região da Itália Central. Roma, fundada hipoteticamente em 753 a. C., a princípio não passava de simples cidadela; porém, dada a sua localização estratégica, não tardou a exercer uma suserania efetiva sobre algumas das cidades mais importantes, e os romanos, dotados de grande tino político e guerreiro, no século III a.C., já tinham dominado quase toda a Itália. Com o aumento crescente do poder, aumentava a ambição da conquista, e os exércitos romanos espalharam-se durante séculos, por quase todo o mundo conhecido, numa ânsia desmedida de domínio, subjugando os povos e a todos impondo seus costumes e sua língua: o latim vulgar. A ROMANIZAÇÃO O latim se estabeleceu na região do Lácio, na Itália, como parte dos movimentos migratórios dos Indo-europeus, deslocando-se da Europa oriental. A cidade de Roma, centro dessa nova população latina, foi também o centro da língua, com um dialeto urbano, que afinal se impôs como língua comum, mas, a princípio, se diferençava bastante dos dialetos rústicos em volta, estendidos do curso inferior do rio Tibre até os Apeninos e os Montes Albanos. A importância da cidade já é preponderante no séc. III a. C. OS ROMANOS: ESTRUTURA SOCIAL A organização social assentava-se na supremacia de uma classe aristocrática, os “patrícios”, que inicialmente eram os únicos a deter os poderes políticos. Separavam-se, tanto política como social e economicamente, de uma grande massa de habitantes, um tanto amorfa, a “plebe”, em que entravam certos contingentes de população rural, feita citadina, estrangeiros imigrantes e escravos libertos. Os patrícios exageravam os aspectos dessa heterogeneidade dos plebeus para os considerarem fora do quadro dos genuínos cidadãos romanos. A ROMANIZAÇÃO Com os povos submetidos, os romanos adotaram geralmente uma política bastante aberta para a época. Impunham o direito romano e exploravam economicamente a região, mas respeitavam as tradições religiosas dos vencidos, e permitiam que estes continuassem a utilizar sua língua materna, ao menos nos contatos entre si. Na realidade, os romanos consideravam um motivo de grande honra para si o uso do latim pelos vencidos. LATIM: VARIAÇÃO LINGUÍSTICA A dicotomia social favorecia uma dicotomia do uso linguístico. Aí estavam as condições de uma oposição entre o uso elegante, que era o dos patrícios, e outro indisciplinado, mais próprio da plebe. LATIM CULTO O que se entende por latim clássico era também a base da língua escrita e da língua literária stricto sensu. Estava sujeito a uma disciplina rigorosa e era tema de atenção por parte dos intelectuais e, mais particularmente, dos gramáticos, que desde cedo se inspiraram na gramaticologia grega. Como uso refletido e aprendido, resistia às forças evolutivas da língua, cingia-se a um padrão escrito, que procurava ser imutável, e prestava-se mal para a vida social corrente, cotidiano. O LATIM VULGAR O latim ponto de partida dos idiomas românicos é o latim vulgar ou coloquial, isto é, a língua viva do povo romano e dos povos romanizados, língua instrumento de comunicação diária, com finalidades práticas e imediatas. BIBLIOGRAFIA MELO, Gladstone Chaves de. INICIAÇÃO À FILOLOGIA E À LINGÜÍSTICA PORTUGUÊSA.Rio de Janeiro: Livraria Acadêmica, 1971. HAUY, Amini Boainain. História da Língua Portuguesa. Vol.I Séculos XII, XIII e XIV. São Paulo, Ática, 1989.