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Drogas legais e potencialmente letais
Após a era das “super-drogas’ assistimos agora ao preocupante aumento das drogas sintéticas.
Alice A da Matta Chasin
Rafael Lanaro
As “super-drogas” significaram o uso da tecnologia e de conhecimentos de
química e cinética para a produção de formas com teores aumentados de princípio ativo,
como é o caso do skunk (maconha obtida de forma a concentrar em até 5 vezes o teor de
THC) ou do crack, forma básica da cocaína, que pode ser fumada pois se volatiliza às
temperaturas elevadas ao contrário da forma de sal (cloridrato de COC), que se
decompõe com o aumento da temperatura. O uso da cocaína na forma de crack, ou seja,
fumada, é comparado em termos de velocidade de absorção à via intravenosa
("picada"). A extensa área de superfície dos pulmões favorece a efetiva absorção desta
forma da cocaína. A ação é rápida e os efeitos intensos são comparáveis aos que se
seguem a uma "picada" e ocorrem em 1 a 2 minutos. A duração dos efeitos, também à
semelhança da via intravenosa, é considerada curta, o que requer a utilização de novas
quantidades para manter o estado de intoxicação. O ato de fumar cocaína apresenta a
agravante de facilitar o reforço associado à dependência, tanto por constituir uma via de
administração socialmente aceita (não requer a parafernália associada a "drogas"
ilícitas, como agulhas, seringas, etc) como por não oferecer riscos de transmissão de
AIDS, hepatite, etc. Da mesma forma o ice drop é a forma básica da metanfetamina que
pode ser fumada.
As assim chamadas Drogas sintéticas são substâncias ou misturas de substâncias
psicoativas produzidas por síntese química, a partir de substâncias não encontradas na
natureza. Segundo relatório conjunto da EUROPOL (polícia da União Européia) e do
European Monitoring Centre for Drug Addiction (EMCDD) divulgado em 27 de abril
de 2010, há 24 novas drogas psicoativas, todas proibidas, ofertadas no mercado europeu
no ano de 2009 (http://maierovitch.blog.terra.com.br/2010/04/27/alerta-da-policiaeobservatorio-24-novas-drogas-no-mercado/).
Dentre essas substâncias estão a maconha sintética, o SPICE, vendida para uso em
incenso que consta de uma mistura de ervas naturais às quais são adicionados agonistas
(agem nos mesmos centros produzindo o mesmo efeito) canabinóides . Dentre esses, o
JHW-018, CP-47,497, HU-210, apresentam alta potência (4 a 5vezes maior que o
THC). São vários os tipos de SPICE e seu uso gera efeitos semelhantes aos de uma
intoxicação severa por maconha. Significa alternativa legal de consumo da droga em
vários países e o fato de que podem ser comercializados pela internet e de que não são
detectados por técnicas disponíveis na rotina dos Laboratórios de Toxicologia implica
em severos problemas de Saúde Pública.
Outra droga sintética que não está sob controle internacional e, portanto, - seus
padrões de uso, provavelmente, estejam sendo subestimados, é a MEFEDRONA, uma
droga sintética muitas vezes utilizada como uma alternativa legal para as anfetaminas ou
a cocaína e que se espalha em diferentes partes do mundo, principalmente Europa,
América
do
Norte
e
Austrália
(http://www.unodc.org/southerncone/pt/frontpage/2010/04/07-mefedrona-uma-drogalegal-e-potencialmente-letal.html).
A MEFEDRONA é a 4-metil metacatinona (4-MMC), composto utilizado para
síntese orgânica e apresenta e efeitos semelhantes à cocaína e ao MDMA (estimulante,
entactógeno e alucinógeno); origina o metabólito 4-metilefedrina, vasoconstrictor
periférico e seu uso pode desencadear depressão e ataques de pânico. Ainda há poucos
estudos sobre sua cinética e mecanismos de ação.
Os derivados da piperazina, principalmente o mCPP (meta-clorofenilpiperazina),
vendido como ECSTASY, são estimulantes do sistema nervoso central que vêm
ganhando popularidade na Europa, por serem considerados alternativa legais aos
derivados anfetamínicos. Os efeito euforizantes acontecem nas doses de 75 a 150 mg e
duram de 6 a 8 horas.
O ECSTASY, por sua vez, já utilizado há algum tempo, segundo o Relatório sofreu
um boom. Outros derivados da fenetilamina, como o DOB (2,5-dimetoxi-4bromoanfetamina), alucinógeno com alta toxicidade, são agora apontados como aqueles
com crescimento de uso.
A forma de comprimidos coloridos com desenhos ilustrativos é uma das principais
com que se comercializa o ECSTASY, fazendo com que os usuários e outros
profissionais da saúde ou não relacionem essa forma farmacêutica com o MDMA, que é
o princípio ativo do ECSTASY. Porém, nos últimos anos isso não deve ser mais
considerado como característica dessa designer drug, uma vez que já foram encontrados
vários princípios ativos e associações diferentes em comprimidos apreendidos, como
por exemplo: MDMA e Tramadol; mCPP e 1% de cocaína; TFMPP; mCPCPP; MDMA
e mCPP; metoclopramida; MDMA, Cetamina e Cafeína; Paracetamol, Oxicodona e
Cafeína; MDMA e 4MMC entre outros.
Algumas dessas associações podem apresentar potencialização dos efeitos
prazerosos e desencadear efeitos tóxicos mais potentes, como por exemplo, a interação
entre mCPP e 1% de cocaína ou diltiazem, em que a mesma diminui a atividade da
CYP2D6 (P-450), que é responsável pela metabolização do mCPP. Também a interação
entre MDMA e mCPP provoca a exacerbação dos efeitos relacionados com a
estimulação serotoninérgica (síndrome serotoninérgica) por atuarem com mecanismos
de ação semelhantes.
Outra associação muito utilizada pelos jovens é entre o ECSTASY e o VIAGRA®
(citrato de sildenafil), chamada popularmente de “SEXTASY”. O ECSTASY aumenta
a empatia, a motivação e a desinibição em termos sexuais, porém em alguns homens
pode provocar a impotência sexual devido à constrição de vasos periféricos, fato pelo
qual se associa o VIAGRA®. Essa associação torna-se um problema também, uma vez
que o indivíduo pode estar sob a influência de várias substâncias psicoativas e não
adotar comportamentos adequados para se evitar doenças sexualmente transmissíveis.
Estudos sobre a possível interação entre o sildenafil e o MDMA ainda se encontram em
fase de experimentação, porém o que possivelmente pode ocorrer é uma potencialização
dos efeitos adversos do sildenafil, como angina ou insuficiência cardíaca (uma vez que
o MDMA também é responsável por eventos graves em nível cardiovascular). Pode
também ocorrer mialgia, que se agravaria pela rabdomiólise, nefrotoxicidade,
neurotoxicidade e hepatotoxicidade.
O GHB (gama hidroxi-butirato) é um ácido graxo de cadeia curta, presente
naturalmente no SNC de mamíferos, apresenta estrutura química semelhante ao ácido
gama-aminobutírico (GABA), com efeito neurotransmissor ou neuromodulador
inibitório. Em 1960, foi usado como um anestésico e hipnótico (com efeitos
semelhantes aos barbitúricos e benzodiazepínicos) em seres humanos na Europa, mas
seu uso foi suspenso devido aos diversos efeitos colaterais. O GHB, nas ruas, também é
chamado de Liquid Ecstasy, Grievous Godily Harm, G ou Gina, Liquid E, Liquid X,
Gib, Cherry Meth, Água de Fogo, Zen ou Liquid Death, Sopa, Água Salgada, GAMAOH, Scoop. Seu principal uso ocorre por usuários jovens em festas rave, fisiculturistas
(estimula a produção do hormônio do crescimento) e também por assaltantes ou
estupradores.
Os análogos do GHB, que incluem GBL (gama butirolactona), BD (1,4 Butanediol),
são drogas que possuem estruturas químicas semelhantes ao GHB. Estes análogos
produzem efeitos similares àqueles associados com o GHB e são usados como
substitutos. Os efeitos do GHB e análogos são semelhantes, sendo ainda mais intensos
quando associados ao álcool. Seus efeitos estão diretamente relacionados com a
dosagem utilizada, como por exemplo, 10 mg/kg: euforia, amnésia, redução da
ansiedade, relaxamento, aumento da libido e efeito anabólico; 20 e 30 mg/kg:
sonolência; acima de 50 mg/kg: anestesia, inconsciência, coma, tremores, contrações
musculares clônicas, depressão do SNC e respiratória.
A CETAMINA ou KETAMINA é um anestésico dissociativo que atua como
antagonista não competitivo do receptor NMDA, ativado pelo glutamato. Utilizado na
medicina humana de modo seguro principalmente por não deprimir de forma acentuada
a respiração e também aplicável na medicina veterinária.
É também usada para fins recreativos como droga de abuso em abordagem sexual,
sob a forma de pó branco, aspirado por via nasal, ou em comprimidos semelhantes ao
ECSTASY, que podem ser utilizados por via oral. . Outra forma encontrada é em
solução incolor, que é injetada por via intramuscular. Nas ruas, é conhecido como: K,
Special K, Vitamina K, Pó dos Anjos, entre outros. Os principais efeitos são: melhora
no humor, prejuízo no contato com a realidade, despersonalização, alucinações visuais,
prejuízo na atenção/memória. Doses mais elevadas podem provocar: redução da função
motora, taquicardia ou bradicardia.
O OEDT (Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência), com sede em
Lisboa, salienta no relatório que os novos compostos sintéticos, comercializados pela
Internet como «legais» ou com a advertência «não destinados a consumo humano»,
são um «desafio crescente», uma vez que não estão regulamentados
http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=170349).
O UNODC (órgão das Nações Unidas que trata das questões da drogas) mantém
o Programa de Monitoramento, Análise, Relatórios e Tendências sobre Drogas
Sintéticas ( SMART, na sigla em inglês). O trabalho se dá conjuntamente com
governos para desenvolver, avaliar e reportar dados e informações sobre drogas
sintéticas, auxiliando os países no planejamento da prevenção e na elaboração de
legislações que respondam ao tema.
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