caracterização das fácies sedimentares

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4. FÁCIES SEDIMENTARES E AMBIENTES DEPOSICIONAIS
Os sedimentos da Formação Urucutuca foram originalmente interpretados por Bruhn
e Moraes (1989) como complexos turbidíticos canalizados, com base nos afloramentos desta
formação. Entretanto, estes mesmos afloramentos foram reanalisados por d´Avila et al.
(2002), que apresentaram uma nova interpretação para estes sedimentos.
Figura 9: Localização dos poços estudados, adaptado de Bruhn & Moraes, 1989.
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Com base nas evidências de campo, d´Avila et al. (2002) sugerem que os depósitos
aflorantes da Formação Urucutuca tenham sido gerados pela escavação contínua do Cânion
de Almada em direção ao continente, onde teria atingido um estuário.
Segundo o estudo de d´Avila et al. (2002), o cânion de Almada teria provocado uma
escavação contínua em direção ao continente, onde teria atingido um embayment estuarino,
no qual chegariam rios de montanha. Estes rios depositariam a carga sedimentar no estuário
e esta seria posteriormente retrabalhada pela oscilação da maré, formando estruturas wavy,
linsen, ripples, mud coupplets nos arenitos. A interpretação paleoecológica destas rochas
indica um ambiente costeiro raso (Strohschöen & Dino; apud: d´Avila, 2002).
Estes sedimentos apresentam erosão por fluxos gravitacionais conglomeráticos
canalizados, originados, possivelmente, por cheias fluviais dos rios que cortavam as
montanhas em volta. Assim, o estuário, em meio aos altos do embasamento, agiria
amplificando o efeito das marés e receberia os fluxos turbidíticos. A presença de
paraconglomerados intercalados aos depósitos de marés indicaria que o relevo da região era
relativamente acentuado.
De acordo com os dados de Strohschöen & Dino (apud: d´Avila et al., 2002), o contexto
deposicional seria bastante raso na porção oeste do cânion (cabeceira), e a seção tornar-seia progressivamente mais profunda para leste, onde ocorrem turbiditos canalizados,
associados a depósitos de slumps e debris flows.
As amostras de arenito utilizadas neste estudo petrográfico são provenientes de
testemunhos dos poços estratigráficos F1 (246,45 m), F2 (182,45 m) e F3 (177,90 m), de
testemunhagem intercalada com uma broca descontínua, e obtidos pelo convênio UENF,
PETROBRAS e UERJ (inseridos no projeto “Estudo Geológico de Afloramentos Análogos
aos Reservatórios Turbidíticos da Bacia de Campos”). Estes poços amostraram os
sedimentos da Formação Urucutuca localizados na porção emersa da Bacia de Almada (Fig.
9).
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Nestes poços foram distintos dois grupos de fácies sedimentares, o grupo que
representa os depósitos de maré e o grupo que representa os depósitos turbidíticos, sendo
que destes grupos, somente as fácies arenosas e conglomeráticas foram amostradas para o
estudo de petrografia quantitativa.
Depósitos de Maré:
Arenitos com lentes de lama (All)
Arenitos de tamanho de grão muito variado, desde muito finos, finos, médios e até
grossos / muito grossos, com ripples e intercalações de lentes de lamas, comumente duplas
(mud coupplets), (Fig. 10), compostas por lama e clastos intrabaciais, formando estruturas
do tipo flaser (Fig. 10) e wavy (Fig. 12).
Figura 10: Esquerda: arenitos com mud coupplets e ripples. Direita: Arenito com lentes de lama
gerando a estrutura flaser.
As ripples apresentam concentrações de minerais opacos na porção anterior, e na
porção frontal formam-se planos com concentração de matriz deposicional e pequenos
clastos intrabaciais (Fig. 11). Os grãos são moderadamente selecionados, subangulosos a
subarredondados, com empacotamento aberto.
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Figura 11: Esquerda: concentrações de opacos na porção anterior de ripple (4X- LN), Direita:
concentração de intraclastos na porção frontal das ripples (4X- LN).
Figura 12: Esquerda: Arenito com lentes de lama gerando a estrutura wavy, e com mud coupplets no
topo. Direita: arenito com estrutura wavy e bioturbação associada.
Esses arenitos comumente possuem matriz deposicional e apresentam icnofósseis
do tipo Ophiomorpha (Fig. 13), que são icnitos de alimentação e habitação gerados pela
ação de artrópodes crustáceos (Fernandes et al., 2002).
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Figura 13: Esquerda: Detalhe de bioturbação do tipo Ophiomorpha. Direita: Arenito com
estrutura sedimentar destruída pela sobreposição da bioturbação.
Folhelhos: lamitos friáveis, com fissilidade, de cor cinza escura a preta, compostos por lama
argilosa, micas e matéria orgânica. Apresentam-se intercalados com lentes arenosas (linsen)
delgadas (Fig. 14). Esta feição sugere a ação das marés ao longo do cânion. Possuem
também algumas concreções carbonáticas com fraturas características de septárias.
Possuem porções milimétricas de silte e areia fina. Apresentam bioturbações do tipo
Chondrites.
Lamito Maciço: lamitos cinza escuros a pretos compostos por lama argilosa, micas, matéria
orgânica e fósseis (Fig. 14). Apresentam localmente intercalações de lentes de areia média e
grânulos dispersos. Também ocorrem bioturbações horizontais. Possuem localmente
nódulos calcíferos.
Siltito Maciço: siltitos de cor cinza, maciço. Ocorrência restrita.
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Figura 14: Esquerda: Folhelho com lentes de areia gerando estrutura do tipo linsen. Direita: lamito
maciço com fóssil.
Fácies Turbidíticas:
Arenito com estratificação plano paralela (App)
Arenitos médios a grossos com estratificação plano-paralela (Fig. 15), cor cinza clara,
com pequenas variações internas para tamanhos grânulo e seixo. Estas rochas têm seleção
boa, apresentando níveis de grânulos de intraclastos e fragmentos de rocha. Os grãos são
subangulosos a subarredondados, com empacotamento aberto, sendo a maioria dos
contatos grão/cimento ou pontuais.
Arenito Maciço (Am)
Arenitos médios a grossos e maciços (Fig. 15). São moderadamente selecionados,
apresentando grânulos de intraclastos e fragmentos de rocha. Os grãos são subangulosos a
subarredondados, com empacotamento aberto.
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Figura 15: Esquerda: arenito com estratificação plano-paralela. Direita: Arenito maciço.
Conglomerado Seixoso Maciço com Intraclastos (Csmi)
Conglomerados seixosos, maciços, com matriz de arenito grosso a muito grosso,
contendo pequenas quantidades de grãos intrabaciais. A quantidade de matriz varia, sendo
que algumas rochas apresentam-se totalmente suportadas pelos grãos enquanto outras são
suportadas pela matriz arenosa (Fig. 16). A composição dos seixos é dominantemente de
rochas plutônicas, com alguns fragmentos de rochas gnássicas subordinados, e eles têm
forma arredondada a subarredondada. A seleção é muito pobre e os grãos da matriz são
subangulosos (observações em grãos de quartzo), o empacotamento é aberto, sendo a
maioria dos contatos grão/cimento ou grão/não grão ou ainda pontuais.
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Figura 16: Esquerda: conglomerado com baixo teor de matriz arenosa, com poros secundários
gerados pela dissolução de alguns componentes (indicados por setas).
Foram também descritos lamitos deformados, característicos de depósitos de slump.
Estes lamitos possuem as mesmas características composicionais dos demais lamitos in
situ, porém, apresentam-se bastante deformados por dobramentos. Segundo Walker (1992),
o termo slump é usado para descrever grupos de camadas deformadas, muito dobradas,
geradas pela queda, ou deslocamento de sedimentos previamente depositados (já um pouco
consolidados), devido a uma situação de instabilidade, que pode ser gerada pela carga
excessiva ou pelo tectonismo na bacia.
Ocorrem, freqüentemente associados aos conglomerados, depósitos de diamictitos
com arcabouço formado por grânulos e seixos de composição variada, desde quartzo e
fragmentos plutônicos até intraclastos lamosos, bioclastos e concreções carbonáticas. A
matriz é composta por uma mistura de lama, silte e areia.
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Figura 17:Esquerda: Lamito deformado, provavelmente devido a um processo de slump. Direita:
Diamictito provavelmente resultante da ação de fluxos de detritos dentro da bacia.
Segundo Walker (1992), os depósitos de diamictitos podem também ser chamados
de lamitos seixosos e podem ser gerados por fluxos de detritos (debris flows) dentro da
bacia. Estes fluxos remobilizam sedimentos pouco consolidados, que são ricos em lama
misturada com água e possuem coesão. Assim esta lama suporta os clastos mais grossos
durante o episódio de transporte e deposição.
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