Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro- UNIRIO Escola de Medicina e Cirurgia- EMC Síndrome Edemigênica Alunos: Ana Clara Martins Beny London Brunna Santana Gabriela Umaña Igor Gomes Júlia Vargas Larissa Brison Paula Almeida Raquel Quimas Victor Hugo Sabino Prof.: Eugênio Pacelle Disciplina: Clínica Médica IV- 2009.2 Síndrome Edemigênica: É definido clinicamente como um aumento aparente de volume de líquido intersticial, podendo ser localizado (ex: ascite, hidrotórax) ou generalizado (anasarca). Patogenia: Forças de Starling: aumento da pressão hidrostática e diminuição da pressão coloidosmótica do plasma. Lesão capilar Redução do volume arterial efetivo Fatores renais e ativação do sistema arginina-angiotensina-aldosterona (RAA) Endotelina Peptídios natriuréticos (atrial e cerebral) Causas clínicas do edema: Obstrução da drenagem venosa e/ou linfática Insuficiência cardíaca congestiva Síndrome nefrótica e outros estados hipoalbuminêmicos Cirrose hepática Edema induzido por fármacos Edema idiopático (ocorre principalmente em mulheres, sem relação com o ciclo menstrual, mas também pode ser decorrente do uso de diuréticos). Diagnósticos Diferenciais: A- Edema localizado: Obstrução venosa e/ou linfática Processo inflamatório Hipersensibilidade B- Edema generalizado: Insuficiência cardíaca congestiva Ocorrência de cardiopatia manifestada por fadiga e falta de ar, cardiomegalia com ictus cordis deslocado, presença de B3, B4 e sopros; dispnéia ou dispnéia paroxística noturna, estertores basais, distensão venosa (turgência jugular), edema agudo de pulmão, congestão hepática e seus sinais e edema periférico. Exames: hemograma completo, eletrocardiograma, Rx de tórax. bioquímica, perfil de eletrólitos, EAS, eco e Achados Laboratoriais: Aumento dos níveis dos peptídeos natriuréticos circulantes, da taxa de nitrogênio da uréia e creatinina, do ácido úrico e das enzimas hepáticas (ocasionalmente, e acompanhado de congestão hepática). Diminuição do sódio sérico. Insuficiência renal a)Síndrome nefrótica Manifestações: proteinúria maciça com perda diária igual ou superior a 3,5g de proteínas, hipoalbuminemia (níveis plasmáticos de albumina abaixo de 3g/dL), edema generalizado, hiperlipidemia e lipidúria. Fisiopatogenia: aumento da permeabilidade das paredes capilares glomerulares, causando proteinúria maciça e hipoalbiminemia; redução da pressão coloidosmótica e aumento da reabsorção renal de sódio e água (aldosterona), gerando o edema; e aumento da síntese hepática de lipoproteínas, transporte anormal de partículas lipídicas circulantes e redução do catabolismo, ocasionando hiperlipidemia e lipidúria. Causas primárias: glomerulopatia membranosa, doença da lesão mínima, glomeruloesclerose segmentar e focal e glomerulonefrites membranoproliferativas. Causas secundárias: Diabetes Mellitus, amiloidose, LES, drogas (AINES, penicilamina, “heroína de rua”), infecções (Malária, sífilis, hepatites B e C, SIDA), doenças malignas (carcinoma, linfoma), alergia a picada de abelhas e nefrite hereditária. b) Síndrome nefrítica (glomerulonefrite aguda) Causas: Insuficiência renal: Aumento da permeabilidade capilar e retenção renal de NaCl e água Origem pós-estreptocócica: faringoamigdalite, piodermite. Doenças bacterianas (endocardite, abscessos, sepse, doença pneumocócica). Doenças virais (hepatite B ou C, varicela, mononucleose infecciosa, parotidite, sarampo). Doenças parasitárias (malária falciparum, toxoplasmose). LES, tumores, Síndrome de Goodpasture e outras doenças multissitêmicas. Doenças primárias do glomérulo (glomerulonerite membranoproliferativa) Achados clínicos: hipertensão arterial, anasarca e/ou edema periorbitário, sintomas sistêmicos (cefaléia, mal-estar, anorexia), sintomas do trato gastrintestinal (dor abdominal, náuseas), dor lombar bilateral por entumescimento da cápsula renal, débito cardíaco geralmente normal (diferença em relação ao edema causado por Insuficiência cardíaca). Achados laboratoriais: Hematúria Albuminúria Hipoalbuminemia Proteinúria (< 3,5 g/dia) Oligúria EAS (Urina tipo I): presença de piúria (leucocitútria), cilindros hemáticos e leucocitários e hemácias deformadas. Anemia (geralmente normocítica) Azotemia (retenção ureia e creatinina) eventual ↓Níveis plasmáticos de renina (devido à retenção renal primária) Diferença arteriovenosa de oxigênio normal (≠IC) Diagnóstico laboratorial: GNDA- biópsia renal (imunofluorescência indireta) para pesquisa de Imunocomplexos, presentes em 70% dos casos. GNPE- anticorpos contra antígenos estreptocócicos em títulos elevados (ASLO para pós-faringoamigdalite e anti DNAse B para pós-impetigo) e níveis séricos baixos de C3. Obs:A biópsia renal só é feita quando ocorre oligúria há mais de uma semana, queda do complemento por mais de 8 semanas, proteinúria nefrótica (>3,5 g/dia), evidências clínicas ou sorológicas de doença sistêmica ou evidencias clinicas de glomerulonefrite rapidamente progressiva (anúria ou aumento das escórias nitrogenadas). C)Insuficiência Renal Crônica: Manifestações: Anemia e fadiga, perda do apetite, edema da Síndrome Nefrótica, anormalidades da homeostasia de Na+, K+, H2O e equilíbrio ácido-básico. Achados laboratoriais: Declínio da TFG Albuminúria Creatinina sérica aumentada Ureia aumentada Sódio, Potássio,Cálcio e Fósforo aumentados Insuficiência hepática-> Cirrose Manifestações: Icterícia, distúrbios da coagulação, hipoalbuminemia, ascite, varizes esofágicas, encefalopatia hepática Exames Laboratoriais: Bioquímica (anormalidades das enzimas hepáticas) Testes para RNA do HCV,HBs-Ag, anti-HBs, HBeAg Biópsia hepática Exames de imagem Origem nutricional Manifestações: Cabelos frágeis, sinal da bandeira, má cicatrização de feridas, edema e hepatomegalia Achados Laboratoriais: ↓ Níveis séricos de albumina ↓ Transferrina ↓ Capacidade de ligação do ferro total ↓ Creatinina sérica ↑ Ureia nitrogenada urinária Linfopenia Hipotireoidismo Manifestações: pele seca, redução da transpiração, adelgaçamento da epiderme e hiperceratose do estrato córneo, retenção de água com espessamento da pele sem depressão (mixedema), língua aumentada, alimentação precária, constipação Avaliação Laboratorial: Dosagem de TSH e T4 TSH ↑ e T4↓ indicam hipotireoidismo TSH normal exclui hipotireoidismo primário, mas não secundário. Dosagem de T3 não é indicada Hiperadrenocortismo exógeno Causado principalmente quando o paciente faz uso prolongado de corticóide/esteróides ou ACTH, também conhecido como Cushing Iatrogênico, o que acarreta no edema, pois a Síndrome aumenta a retenção de sódio e secundariamente de fluidos corporais, além de aumentar a excreção de potássio, inibir a produção de hormônio anti-diurético e elevar as chances da formação de cálculo ureteral pelo aumento da desmineralização óssea com hipercalciúria. Manifestações: Obesidade centrípeta (fáscies em lua cheia e giba de búfalo), aumento do peso corporal, fadiga e fraqueza, hipertensão, hirsurtismo, estrias abdominais violáceas e edema, além de osteoporose ,amenorréia e tumor basófilo de hipófise Exames Laboratoriais: Cortisol plasmático ACTH plasmático TC de supra-renal Imagem da hipófise Glicosúria Administração de fármacos indutores de edema Anti-hipertensivos Vasodilatadores : Antagonistas do canal de Ca² Diidropiridina; Verapamil; Diltiazem Ativadores de canais de k + Diazóxido ; Minoxidil Antagonistas α-adrenérgicos Fentolamina; Doxazosina Inibidores do sistema RAA Captopril; Enalapril; Losartan AINES Podem levar ao edema por causa da vasoconstrição renal que provocam. São eles: Ibuprofeno, AAS, Paracetamol, Naproxeno, Diclofenaco, Indometacina Outros fármacos Ciclosporinas imunossupressor Interleucina 2 Droga utilizada para tratamento de HIV junto com antiretrovirais Hormônios esteróides glicocorticóides; estrogenios; esteróides anabólicos; progestinas. Caso clínico: Anamnese: ID: E.J.de S. 58 anos, masculino, cor: branca, divorciado, espírita. Profissão: mecânico industrial e taxista aposentado. QP: “ falta de ar”. HDA: Paciente refere início de quadro de queimação em MMII, sem irradiação e sem sinais flogísticos há 3 anos, com aparecimento noturno e melhora ao amanhecer. Há 1 ano, relata que iniciou quadro de colúria, disúria e urina espumosa com odor sui generis.Refere melhora as disúria e persistência dos outros sintomas. Há 5 meses, refere ter iniciado dispnéia aos médios esforços com piora ao decúbito e melhora ao sentar, associado à secreção de muco esbranquiçado e “chiado” ao tossir.Além disso, refere edema de MMII.Refere piora do edema com o uso de bebida alcoólica e não identificou nada que melhorasse o quadro. No último mês, percebeu aparecimento de edema periorbital. No dia 15/07, procurou o Hospital Salgado Filho com crise hipertensiva, sendo medicado com captopril® e lazix® tendo melhora momentânea da hipertensão. Na mesma semana, teve outra crise e procurou um posto de saúde, sendo medicado com captopril®, mas sem melhora do quadro. No dia 22/07, foi levado ao Hospital do Andaraí com dispnéia a pequenos esforços e transferido ao HUGG após 14 dias, com diagnóstico de edema agudo de pulmão hipertensivo. HPP: Hipertenso e diabético há 30 anos sem tratamento regular.Faz uso de: Enalapril® e Metformina. DCI’s: varicela e sarampo. Refere não ter tomado todas as vacinas na infância.Relata tuberculose aos 48 anos e gonorréia aos 27. Nega outras DST’s .Nega pneumonia, cirurgias, alergias, traumas ou transfusões. Refere internação há 5 anos por edema de membro superior direito e não soube informar a causa. Relata constipação (freqüência de uma vez a cada 5 dias) fazendo uso de Lactopurga®. HFAM: Mãe com hipertensão arterial. Pai com diabetes mellitus. 7 irmãos hígidos e 2 com diabetes, um deles falecido por essa causa. HSOC: Etilista há 30 anos (cerveja, cachaça, whisky...) todos os dias e fumante há 30 anos, 30 maços/ano. Alimentação hipossódica. Apetite normal e sede aumentada (boca ressecada). Exame Físico: Paciente em regular estado geral, LOTE, cooperativo ao exame, hipocorado(2+/4+), anictérico, acianótico, hidratado, boa PCP. Coloração alaranjada nas palmas e dedos das mãos. Sinais vitais: PA: 150x70 mmHg FC: 69bpm FR: 15 inc/min Tax: 36,5°C Cabeça e Pescoço: Edema periorbital, sem linfonodomegalia, tireóide sem nódulos, de tamanho normal. Abdome: Globoso, algo tenso, peristalse normal, timpânico a percussão, indolor a palpação superficial e profunda. Presença de hepatomegalia ( fígado a 5cm abaixo do RCD), Traube livre, com ascite (piparote positivo). Equimose na região mesogástrica à esquerda. Aparelho respiratório: MVUR audível, FTV normal, sibilos nos ápices pulmonares D e E, no 1/3 médio do pulmão E e na lateral do pulmão D. ACV: BNF,2T, sem sopros, desdobramentos ou extra-sístoles. MMII: edema com cacifo (3+/4+), sem sinais flogísticos, panturrilhas livres, não palpo pulso pedioso pelo intenso edema nos pés (4+/4+). Exames complementares: 1-Dia da internação: 04/08/2009 ↓ pH ↑ FCO2 Hb ↑ K+ ↑Ca 2+ ↓Lac 7,312 7,350-7,450 1,2% 0,0-0,8 5,5% 3,5-5,0 2,02 meq/L 0,2-0,6 5 mg/dL 5-14 2-Dia 17/08/2009 ↓ pH 7,249 ↓ pCO2 26,9 ↓ pO2 74,1 ↓ SO2 93,1% ↑FCO2 Hb 1,8% ↓ Na+ 129 meq/L ↓ cCa2+ 1,22 meq/L ↓Lac 4 mg/dL 7,350-7,450 35-45 83-108 95-99 0,0-0,8 136-144 2,30-2,58 5-14 3-EAS (05/08/2009): Sem proteínas, sem glicose, sangue 1+, cilindros ausentes, bactérias raras. 4-Urina 24h: Dia 06/08/2009 Volume: 2400 mL Creatinina: 1596 mg/24h Proteínas: 2304 mg (1000-2000) (até 120 mg) Dia 20/08/2009 Volume: 450 mL Creatinina: 922 mg/24h (1000-2000) Proteínas: 297 mg (até 120mg) Potássio: 0,4mg (26-123 mg) Dia 26/08/2009 Volume: 250 mL Creatinina: 446 mg/24h Proteínas: 307 mg (1000-2000) (até 120 mg) 5-Eco-doppler transtorácico: Conclusões: Aumento leve do AE Hipertrofia das paredes do VE Função sistólica de VE preservada Déficit do relaxamento do VE VCI normal 6-Ultra-sonografia: O exame mostra que os rins têm forma, topografia e dimensões normais. A espessura do parênquima renal bilateral está conservada, com relação córtico-medular preservada. Ausência de imagem sugestiva de cálculo intra-renal, bem como de dilatação do sistema pielocaliciano de ambos os rins. Bexiga anatômica. 7-Radiografias Diagnóstico Clínico: Insuficiência Renal Crônica secundária a Diabetes e Hipertensão