40 EPIDEMIOLOGIA BÁSICA DA SÍNDROME DE GUILLAIN-BARRÉ NOS ESTADOS DE ALAGOAS, BAHIA, RIO GRANDE DO NORTE E RIO DE JANEIRO Jármison Luciano Pinheiro 1 Evandro Vieira Gouveia2 Gladstony dos Santos Toledo 3 Alexandre Zandonadi Meneguelli 4 Cristiane Ferreira Silveira 5 RESUMO: A Síndrome de Guillain-Barré (SGB) é uma patologia autoimune que resulta na desmielinização do sistema nervoso periférico através de um mecanismo de mimetismo molecular. É caracterizada por paralisia flácida e dissociação albumino - citológica do líquor (LCR). O diagnóstico é essencialmente clínico. O estudo do líquor e a da eletromiografia (EMG) são importantes no diagnóstico. Este estudo caracteriza-se como retrospectivo, sendo realizado de março a outubro de 2016. Com a finalidade de coletar dados referentes aos elevados índices de contaminação e locais de incidência, neste caso os Estados da Federação. Estes valores são segundo a OMS, e devem estar dentro os períodos de Janeiro á Novembro de 2015. Os resultados foram obtidos por meio de um desdobramento dos dados epidemiológicos relacionados a outras patologias, como febre Zika, Dengue e Chikungunya descritos no material da pesquisa, que demonstraram uma incidência entre 0,27 e 1,4 por 100.000 habitantes nos estados estudados. Palavras-chave: Guillain-Barré. Incidência. Notificações. Estado. 1 INTRODUÇÃO A Síndrome de Guillain-Barré (SGB), também chamada de Polirradiculoneurite aguda, faz parte de uma série heterogênea de neuropatias adquirida de evolução rápida, uma doença autoimune e inflamatória aguda conduzindo a desmielinização e/ou degeneração axonal dos nervos periféricos por consequência de um mecanismo complexo de mimetismo molecular (FONSECA et al., 2004). 1 Acadêmico do Curso de Graduação em Enfermagem da Faculdade Panamericana de Ji-ParanáUNIJIPA. E-mail: [email protected]. 2 Acadêmico do Curdo de Graduação em Enfermagem da Faculdade Panamericana de Ji-ParanáUNIJIPA. E-mail: [email protected]. 3 Acadêmico do Curdo de Graduação em Enfermagem da Faculdade Panamericana de Ji-ParanáUNIJIPA. E-mail: [email protected]. 4 Doutorando em Biotecnologia pela Universidade Católica Dom Bosco – UCDB, Mestre em Ciências Ambientais pela Universidade Federal de Rondônia – UNIR, Especialista em Zoologia – FACIMED, Graduado em Ciências Biológicas – CEULJI-ULBRA. Diretor do Instituto de Pesquisa e Educação de Rondônia – IPER, Professor da Faculdade Panamericana de Ji-Paraná- UNIJIPA. E-mail: [email protected]. 5 Graduada em Enfermagem. Especialista em Saúde Pública. Professora do Curso de Enfermagem da Faculdade Panamericana de Ji-Paraná- UNIJIPA. E-mail: [email protected] Rev. Saberes UNIJIPA, Ji-Paraná, Vol 5 nº 1 Jan/Jun 2017 ISSN 2359-3938 41 O mimetismo molecular, parte das consequências dessa síndrome, é caracterizado pela síntese de moléculas análogas sob o ponto de vista estrutural, antigênico ou funcional, relacionado a um microrganismo patogênico, apresentando algumas características biomoleculares semelhantes às de seus organismos hospedeiros (BAÑUELOS; PÉREZ, 2002). A bainha de mielina é considerada como responsável por facilitar à condução dos estímulos nervosos e dos reflexos tendinosos, a desmielinização e/ou degeneração leva a inflamação aguda dos nevos do sistema nervoso periférico e interferindo na condução de sinais advindo do sistema nervoso até a musculatura, e em alguns pacientes no sentido contrário da transmissão dos impulsos elétricos, interferindo na condução sensorial até o sistema nervoso central (RODRIGUES, 2015). A Polirradiculoneurite aguda em 60% a 70% dos casos tem como etiologia doenças agudas procedentes de microrganismos de uma a três (1-3) semanas anterior, infecções por Campylobacter jejuni (32%), Citomegalovírus (13%), vírus Epstein barr (10%), são as mais comuns, e outras infecções virais como Hepatite por vírus tipo A, B e C, influenza e vírus da imunodeficiência humana (HIV) podem desencadear mecanismos de mimetismo molecular e consequentemente iniciando um processo de autoimunização do organismo contra os nervos do sistema nervoso periférico. Outros fatores menos consideráveis como imunização, cirurgias e gravidez também podem dar início a produção de anticorpos autoimunes específicos para ataque a bainha de mielina dos nervos periféricos (BRASIL, 2015). De acordo com informações disponibilizadas por Acosta et al. (2007), na Síndrome de Guillain-Barré há paralisia flácida de caráter agudo, ascendente e simétrico. Posteriormente, inicia uma variante benigna da Polirradiculoneurite Aguda, a Síndrome de Miller Fisher (SMF), considerada uma neuropatia multifocal, que cursa com a tríade: ataxia, oftalmoplegia e arreflexia e por fim, também ocorre dissociação albumino - citológica do líquido cefalorraquidiano (LCR) (DAMIANI; LAUDANNA; DAMIANI, 2011). Os agravos descritos acima, normalmente causam queixas iniciais aos pacientes, consistindo em sensação de parestesias nas extremidades distais dos membros inferiores e superiores e em 50% dos casos, dor neuropática lombar ou Rev. Saberes UNIJIPA, Ji-Paraná, Vol 5 nº 1 Jan/Jun 2017 ISSN 2359-3938 42 nas pernas, seguida de fraqueza muscular que comumente inicia nos membros inferiores e posteriormente pode atingir outras regiões anatômicas (geralmente sendo membros inferiores, braços, tronco, cabeça e pescoço, seguindo essa ordem de evolução) (TORRES; SÁNCHEZ; PÉREZ, 2003). O diagnóstico é essencialmente clínico, pois retratam os sinais e sintomas, exames complementares como o estudo do Líquido Cefalorraquidiano (LCR) e a Eletromiografia (EMG) são importantes adjuvantes para o diagnóstico e descartar outras causas de paraparesia flácida (FONSECA et al., 2004). A síndrome de Guillain-Barré é comumente a maior causa de paralisia flácida no mundo com uma incidência anual de 1-4 por 100.000 habitantes com prevalência em pessoas entre 20-40 anos. No Brasil não existem dados epidemiológicos consolidados, o mesmo está relacionado com a não obrigatoriedade de notificação dos casos (BRASIL, 2009). Segundo a OMS (2016), houve um aumento considerável de casos da síndrome Guillain-Barré no Brasil, que entre janeiro e novembro de 2015, mil setecentos e oito (1708) casos novos em todo o país, o que corresponde mais de cinco (5) casos por dia. Portanto, este estudo teve como objetivo descrever a respeito as Síndrome de Guillain-Barré e apresentar dados epidemiológicos nos estados de Alagoas, Bahia, Rio Grande do Norte e Rio de Janeiro. 2 METODOLOGIA Trata-se de uma pesquisa bibliográfica com abordagem quantitativa e qualitativa, sendo realizada a partir dos dados epidemiológicos coletados, descritiva de caráter retrospectivo, os assuntos abordados foram coletados nos meses de março a maio do ano de 2016, sendo utilizado incialmente uma procura alternada em campos de busca online com a palavra-chave Guillain-Barré, na qual foram selecionados dezessete artigos científicos e dois cadernos disponibilizados pelo Ministério de Saúde que referenciam a definição e características gerais da síndrome em estudo, incluindo trabalhos de língua portuguesa e língua espanhola, sendo a tradução realizada pelos autores do trabalho, foram selecionados sete Rev. Saberes UNIJIPA, Ji-Paraná, Vol 5 nº 1 Jan/Jun 2017 ISSN 2359-3938 43 artigos científicos para dar seguimento ao trabalho, que melhor destrinchava o assunto em estudo. Posteriormente, realizou-se um desdobramento de dados epidemiológicos encontrados em boletins epidemiológicos e artigos científicos da Síndrome de Guillain-Barré nos estados de Alagoas, Bahia, Rio Grande do Norte e Rio de Janeiro que estavam interligados com Microcefalia, Zika vírus, Dengue e outras doenças que podem desencadear a síndrome. Os estados selecionados apresentaram indicies consideráveis de notificações segundo boletim epidemiológico da Organização Mundial de Saúde – OMS, entre os meses de janeiro a novembro de 2015, organizadas por meio de gráficos que discorrem através do trabalho. 3 RELAÇÃO DO GUILLAIN-BARRÉ COM O ZIKA VÍRUS O surto de Zika na Polinésia Francesa nos anos de 2013 e 2014 demonstra nitidamente uma provável etiologia associada do vírus com a Síndrome de GuillainBarré. Dois anos após esse surto a Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) divulgou uma atualização epidemiológica aos seus estados membros, apresentando a correlação de síndromes neurológicas (SN) ou síndromes autoimunes (SA) e síndrome de GuillainBarré, (Figura 1) alertando a todos os países favoráveis a proliferação do vírus, para possível aumento dos casos da síndrome decorrente ao vírus. 80 70 60 50 40 30 20 10 0 TOTAL SGB Figura 1 – Distribuição dos números de notificações de casos de síndromes neurológicas ou síndromes autoimunes e síndrome de Guillain-Barré na Polinésia Francesa nos anos de 2013 e 2014 Fonte: Organização Pan-Americana de Saúde – OPAS/Organização Mundial de Saúde – OMS, 2016 Rev. Saberes UNIJIPA, Ji-Paraná, Vol 5 nº 1 Jan/Jun 2017 ISSN 2359-3938 44 Quando ocorre o isolamento de outras etiologias e ao mesmo tempo comparadas com o Zika Vírus, aumenta consideravelmente a associação para provável causa da Síndrome por conta do vírus, dados esses importantes para epidemiologia preventiva (Figura 2). 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Zika Outras Etiologias SGB Total Incidência Figura 2 – Apresenta as notificações da síndrome de Guillain-Barré por Zika e outros fatores etiológicos e a incidência correspondente da Polinésia Francesa no ano de 2013 e 2014 baseando-se na população de 2013 informada pelo banco mundial, utilizado no cálculo x para 100.000 Fonte: Organização Pan-Americana de Saúde – OPAS/Organização Mundial de Saúde – OMS, 2016 Entre o período estudado verificou-se conjuntamente a notificações de indivíduos que apresentaram Zika vírus, Dengue e Chinkungunha vírus, transmitidos pelo vetor Aedes aegypti com uma incidência elevada da síndrome de Guillain-Barré, principalmente nos casos de febre Zika, como exemplo, no estado da Bahia em julho de 2015, foram notificados quarenta e dois (42) casos da síndrome de GuillainBarré, onde 62% (26) tinha compatibilidade com os sintomas do vírus Zika, sendo uma possível antecessora para a síndrome de Guillain-Barré, no entanto a Organização Mundial de Saúde juntamente com outras entidades de pesquisas ainda estudam a relação, não sendo encontrado até o momento parecer final sobre o assunto que comprove a ligação entre a síndrome de Guilla-Barré e o Zika vírus (OPAS/OMS, 2016). Rev. Saberes UNIJIPA, Ji-Paraná, Vol 5 nº 1 Jan/Jun 2017 ISSN 2359-3938 45 4 EPIDEMIOLOGIA E INCIDÊNCIA DOS ESTADOS SELECIONADOS ENTRE JANEIRO E NOVEMBRO DE 2015 A incidência da síndrome de Guillain-Barré anual segundo a OMS, 2016, é de um a quatro (1-4) por 100.000 habitantes. Utilizando a forma de cálculo para incidência a partir das notificações de novos casos, buscamos realizar o cálculo em todos os estados, simulando a população geral de cada Unidade Federativa – UF conforme a Figura 3, como susceptível à síndrome, conforme a Figura 4 e 5, pois a ligação com infecções anteriores pelo vetor Aedes aegypti está intimamente relacionada anteriormente, os estados que foram foco desta pesquisa apresentaram índices elevados de casos de Dengue, Chikungunya e Zika, principalmente a esta última infecção, nesse sentido não existe idade e nem sexo para o acometimento da síndrome (SAMPAIO, 2011). 20000000 15000000 10000000 5000000 0 Alagoas Bahia Rio Grande do Norte Rio de Janeiro População Total Figura 3 – População Total dos Estados em pesquisa para o cálculo de incidência Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, 2016 80 60 40 20 0 Alagoas Bahia Rio Grande do Norte Rio de Janeiro Notificações Figura 4 - Notificações de SGB nos estados específicos de janeiro a novembro de 2015 Fonte: Organização Pan-Americana de Saúde – OPAS/Organização Mundial de Saúde – OMS, 2016 Rev. Saberes UNIJIPA, Ji-Paraná, Vol 5 nº 1 Jan/Jun 2017 ISSN 2359-3938 46 1,6 1,4 1,2 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 Alagoas Bahia Rio Grande do Norte Rio de Janeiro Incidência Figura 5 – Incidência dos estados explorados entre janeiro e novembro de 2015 por 100.000 habitantes Fonte: Organização Pan-Americana de Saúde – OPAS/Organização Mundial de Saúde – OMS, 2016 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Por ser uma doença autoimune e de diversas etiologias que geralmente são infecções virais e bacterianas, a síndrome de Guillain-Barré exige principalmente cuidados de prevenção, em períodos em que a incidência de casos de infecções pelo vetor Aedes aegypti, muito comum no Brasil pelo clima tropical e épocas chuvosas em que a o acumulo de agua, proporciona melhores condições da propagação do inseto e contaminação. No Brasil, a Polirradiculoneurite Aguda, manteve-se dentro da incidência média mundial divulgada pela Organização Mundial de Saúde – OMS, mas o risco desse número crescer cada vez mais comparados a anos anteriores, por condições climáticas que proporcionam a propagação das doenças causadoras, são eminentes, se tornando necessário pesquisas atuais e investimentos para controle de vetores e meios de infecções, o controle de outras doenças é um importante coadjuvante para frear novos casos. Os boletins epidemiológicos são importantes, pois contém informações de ações epidemiológicas efetuadas durante um determinado período, números de agravos notificados, morbidade, mortalidade entre outros, diante disso, a síndrome de Guillain-Barré não possui dados epidemiológicos específicos no Brasil, pois sua notificação não é obrigatória pelos órgãos de atendimentos e Rev. Saberes UNIJIPA, Ji-Paraná, Vol 5 nº 1 Jan/Jun 2017 ISSN 2359-3938 terapia, 47 consequentemente uma doença que pode evoluir para um quadro de insuficiência respiratória grave, não tem amparo preventivo completo. Nesse seguimento introduzimos dados de 5 (cinco) estados brasileiros que segundo a OMS apresentaram maior número de casos, onde se comprova com a característica numérica do estado de Alagoas, que chega a um aumento de 516,7% notificações no período estudado, e que todos os estados mantiveram estável a incidência por 100.000 mil, mesmo com média de cinco (5) novos casos diários. Portanto, devem ser reformulados os protocolos que exijam notificações da Síndrome de Guillain-Barré, para que sejam criadas medidas de prevenção e caracterização de agravos. A sociedade deve receber orientações sobre cuidados para que seja fortalecido o controle de infecções e vetores de transmissão, que será possível quando dados concretos serem disponibilizados e por fim, ações públicas direcionadas a doenças causadoras devem ser fortalecidas em conjunto com instituições privadas para um quadro eficaz de prevenção e controle. REFERÊNCIAS ACOSTA, María Inés et al. Síndrome de Guillain Barré. Revista de Postgrado de la VIa Cátedra de Medicina, v. 168, 2007. Disponível em: < http://ecaths1.s3.amazonaws.com/ckm/1646479276.Sindrome%20de%20Guilliain%2 0Barre.pdf. Acessado em 12 de maio de 2016. BAÑUELOS, Marino Rodrigo; PÉREZ, Carlos. Mimetismo molecular y autoinmunidad: Una revisión de la bibliografía reciente. Natura Medicatrix: Revista médica para el estudio y difusión de las medicinas alternativas, v. 20, n. 4, p. 170-173, 2002. Disponível em: < http://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/4955914.pdf. Acessado em: 22 de maio de 2016. 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