Oncologia do Sistema Reprodutor Feminino 1.0 INTRODUÇÃO 1.1 EPIDEMIOLOGIA 1.1.0 Panorama geral De um total de 58 milhões de mortes ocorridas no mundo, a mortalidade por câncer correspondeu a 7,6 milhões, o que representa 13% de todas as mortes. Os câncer com maior mortalidade e os principais foram: pulmão (1,3 milhão); estômago (cerca de 1 milhão); fígado (662 mil); cólon (655 mil); e, mama (502 mil). Do total de óbitos por câncer ocorridos em 2005, mais de 70% ocorreram em países de média ou baixa renda (WHO, 2006). 1 No Brasil, a estimativas de novos casos de câncer para 2008 e 2009, apontaram para 466.730 casos. Os tipos mais incidentes, à exceção do câncer de pele do tipo não melanoma, foram os cânceres de próstata e de pulmão no sexo masculino e os cânceres de mama e de colo do útero no sexo feminino, acompanhando o mesmo perfil da magnitude observada no mundo. 1 Foi esperado para o ano de 2008 231.860 casos novos para o sexo masculino e 234.870 para sexo feminino. Estima-se que o câncer de pele do tipo não melanoma (115 mil casos novos) será o mais incidente na população brasileira, seguido pelos tumores de próstata (49 mil), mama feminina (49 mil), pulmão (27 mil), cólon e reto (27 mil), estômago (22 mil) e colo do útero (19 mil). 1 Os tumores mais incidentes para o sexo masculino, são devidos ao câncer de pele não melanoma (56 mil casos novos), próstata (49 mil), pulmão (18 mil), estômago (14 mil) e cólon e reto (12 mil). Para o sexo feminino, destacam-se os tumores de pele não melanoma (59 mil casos novos), mama (49 mil), colo do útero (19 mil), cólon e reto (14 mil) e pulmão (9 mil). 1 A frequência de casos de câncer no Brasil varia com a região e a localização primária, sendo bem heterogênea. As regiões Sul e Sudeste, são os locais de maior incidência e prevalência. Na região Sudeste a estimativa foi de 7440, e no estado de São Paulo 16,22 casos para cada 100 mil mulheres, sendo que para neoplasia do colo e corpo do útero (região não especificada), foi de 20,75 para cada 100 mil mulheres no mesmo estado. 1 1.1.1 Colo do útero O número de casos novos de câncer do colo do útero esperados para o Brasil no ano de 2008 foi de 18.680, com um risco estimado de 19 casos a cada 100 mil mulheres. 1 Com aproximadamente 500 mil casos novos por ano no mundo, o câncer do colo do útero é o segundo tipo de câncer mais comum entre as mulheres, sendo responsável pelo óbito de, aproximadamente, 230 mil mulheres por ano. Sua incidência é cerca de duas vezes maior em países menos desenvolvidos comparado com os mais desenvolvidos. A incidência por câncer do colo do útero torna-se evidente na faixa etária de 20 a 29 anos e o risco aumenta rapidamente até atingir seu pico geralmente na faixa etária de 45 a 49 anos. 1 Em países desenvolvidos, a sobrevida média estimada em cinco anos varia de 59 a 69%. Nos países em desenvolvimento os casos são encontrados em estádios relativamente avançados e, conseqüentemente, a sobrevida média é de cerca de 49% após cinco anos. 1 Sabe-se hoje que para o surgimento do câncer do colo do útero a condição necessária é a presença de infecção pelo vírus do papiloma humano (HPV). Aproximadamente todos os casos de câncer do colo do útero são causados por um dos 15 tipos oncogênicos do HPV. Destes, os tipos mais comuns são o HPV16 e o HPV18. Outros fatores que contribuem para a etiologia deste tumor são o tabagismo, baixa ingesta de vitaminas, multiplicidade de parceiros sexuais, iniciação sexual precoce e uso de contraceptivos orais. 1 Até a década de 90, o teste Papanicolaou convencional constituiu-se na principal estratégia utilizada em programas de rastreamento voltadas ao controle do câncer do colo do útero. Novos métodos de rastreamento como testes de detecção do DNA do HPV e inspeção visual do colo do útero utilizando ácido acético (VIA) ou lugol (VILI) são apontados, em vários estudos, como eficazes na redução das taxas de mortalidade por câncer do colo do útero. No Brasil, o exame citopatológico é a estratégia de rastreamento recomendada pelo Ministério da Saúde prioritariamente para mulheres de 25 a 59 anos. 1 É estimado que uma redução de cerca de 80% da mortalidade por este câncer pode ser alcançada através do rastreamento de mulheres na faixa etária de 25 a 65 anos com o teste de Papanicolaou e tratamento das lesões precursoras com alto potencial de malignidade ou carcinoma "in situ". Para tanto é necessário garantir a organização, integralidade e a qualidade do programa de rastreamento, bem como o seguimento das pacientes. 1 1.1.2 Corpo do útero O câncer endometrial atualmente é considerado a sexta neoplasia maligna da mulher, superada pelas neoplasias do colo uterino, pele, mama, intestino grosso e estômago. No Brasil, estima-se que o câncer de colo do útero seja a terceira neoplasia maligna mais comum entre as mulheres, sendo superado pelo câncer de pele (não-melanoma) e pelo câncer de mama, e que seja a quarta causa de morte por câncer em mulheres. Para o ano de 2003, as Estimativas da Incidência e Mortalidade por Câncer apontavam a ocorrência de 16.480 novos casos e 4.110 óbitos por câncer do colo do útero. 1 2 De todos os tumores da genitália feminina, 11% são do corpo uterino e destes, 90% são representados pelo câncer do endométrio, e os 10% restantes são do miométrio. 1 A maior incidência das neoplasias de endométrio é entre os 55 e 65 anos de idade e seu aparecimento é mais comum em mulheres brancas, obesas, na pós-menopausa, de baixa paridade e com menopausa tardia. 1 Aceita-se, de forma clara e inconteste, que o aumento da prevalência do câncer de endométrio nos paises desenvolvidos dê-se devido aos seguintes aspectos: - aumento da população feminina e maior expectativa de vida da mulher -maior incidência de obesidade - diminuição da paridade( diminuição da ação protetora - gestagênica - da gravidez). - aumento do uso de estrogênios na pré e pós-menopausa. 1.1.3 Ovário Os cânceres de ovário representam 4% dos tumores presentes nas mulheres em São Paulo, no biênio 2001-2002, segundo a FOSP. É raro o aparecimento do câncer epitelial do ovário antes dos 30 anos. A faixa etária de maior incidência está acima dos 50 anos. Cutler e Young1 verificaram que a prevalência do câncer do ovário era de 30 por 100.000 mulheres aos 40 anos de idade, elevando-se para 70 por 100.000 aos 60. Estudos de DeLand et al. mostraram que a média de idade das portadoras de câncer do ovário era de 50 anos, contra 34 anos das portadoras de neoplasias benignas. Yancik et al. verificaram uma incidência de carcinoma de ovário de 15,7 por 100.000 mulheres entre 40 e 44 anos, elevando-se para 35 após os 50 anos, com um pico de 54 entre os 75 e 79 anos. Para Ries, a incidência de câncer do ovário em mulheres com menos de 65 anos é de 9,4 por 100.000, passando a 54,8 após os 65. Há também maior incidência nos casos de menopausa tardia provavelmente devido ao maior número de posturas ovulares. Cass et al. afirmaram que a doença ovariana é rara indicação para cirurgia em mulheres com menos de 20 anos. 1 1.1.4 Mama 3 Sendo sem dúvida o maior temor das mulheres, devido a sua alta incidência e efeitos psicológicos, que afetam a percepção da imagem própria e conseqüentemente da sexualidade. E um câncer rato antes dos 35 anos, porém acima desta idade sua incidência cresce de maneira progressiva e rápida1. Em países ocidentais, o câncer de mama apresenta uma das principais causas de câncer entre as mulheres. As estatísticas demonstram um aumento de sua incidência tanto em países desenvolvidos quanto em países em desenvolvimento, demonstrando que este câncer não tem predileção por estrato social. A Organização Mundial da Saúde (OMS), registrou um aumento de 10 vezes nas taxas de incidência ajustadas por idade nos Registros de Câncer de Base Populacional de diversos continentes1 No Brasil, o câncer de mama é o que mais causa mortes entre as mulheres. Como pode ser visto na tabela abaixo1 Tabela A : Estimativas para o ano 2008 de número de casos novos de câncer, por região.* Localização Primária Norte Nordeste Centro-Oeste Sul Sudeste Mama Feminina 1.210 7.630 2.630 9.500 28.430 Traquéia, Brônquio e Pulmão 1.020 3.630 1.690 7.210 13.720 Estômago 1.200 3.840 1.250 4.360 11.150 Próstata 1.750 9.820 3.200 9.500 25.260 Colo do Útero 1.700 4.720 1.350 3.470 7.440 Cólon e Reto 550 2.680 1.430 5.950 16.380 Esôfago 230 1.360 560 3.110 5.290 Leucemias 530 1.900 650 1.820 4.640 Cavidade Oral 400 2.500 750 2.500 8.010 Pele Melanoma 150 450 250 1.950 3.120 4.550 14.190 7.260 27.270 64.610 13.290 52.720 21.020 76.640 188.050 4.330 26.240 7.490 22.940 54.010 17.620 78.960 28.510 99.580 242.060 Outras Localizações Subtotal Pele não Melanoma TOTAL * Números arredondados para 10 ou múltiplos de 10 4 Um enfoque maior na região sudeste pode ser visto na tabela abaixo1: Tabela B : Estimativas para o ano 2008 das taxas brutas de incidência por 100.000 e de número de casos novos por câncer, em mulheres, segundo localização primária* Localização Primária Neoplasia maligna Mama Feminina Estimativa dos Casos Novos Estado Casos Capital Taxa Bruta Casos Taxa Bruta 28.430 68,12 11.100 99,39 Colo do Útero 7.440 17,83 2.400 21,44 Cólon e Reto 8.790 21,07 3.650 32,69 Traquéia, Brônquio e Pulmão 4.750 11,41 1.710 15,35 Estômago 3.950 9,47 1.340 11,96 Leucemias 2.180 5,20 710 6,43 Cavidade Oral 1.930 4,64 600 5,34 Pele Melanoma 1.610 3,88 540 4,77 Esôfago 1.220 2,93 300 2,62 Outras Localizações 34.590 82,89 12.990 116,32 Subtotal 94.890 227,38 35.340 316,45 Pele não Melanoma 26.840 64,30 7.390 66,00 Todas as Neoplasias 121.730 291,69 42.730 382,64 * Números arredondados para 10 ou múltiplos de 10 E com um enfoque ainda mais profundo, temos no estado e na cidade de são Paulo a seguinte incidência1: Tabela C: Estimativas para o ano 2008 das taxas brutas de incidência por 100.000 e de número de casos novos por câncer, em mulheres, segundo localização primária. em mulheres, segundo localização primária.* Localização Primária Neoplasia maligna Mama Feminina Estimativa dos Casos Novos Estado Casos Capital Taxa Bruta Casos Taxa Bruta 15.640 72,52 5.940 95,30 Colo do Útero 3.500 16,22 1.260 20,18 Cólon e Reto 5.190 24,05 2.020 32,40 Traquéia, Brônquio e Pulmão 2.540 11,80 880 14,05 Estômago 2.180 10,09 770 12,40 Leucemias 1.210 5,57 390 6,27 Cavidade Oral 1.020 4,75 290 4,62 Pele Melanoma 1.130 5,26 330 5,24 530 2,47 160 2,51 Outras Localizações 18.250 84,64 6.990 112,14 Subtotal 51.190 237,41 19.030 305,30 Pele não Melanoma 14.980 69,48 4.020 64,45 Esôfago 5 Todas as Neoplasias 66.170 306,88 23.050 369,79 * Números arredondados para 10 ou múltiplos de 10 Sem dúvida um tópico muito comentado quando se fala de câncer de mama é o auto exame das mamas. É importante ressaltar que órgãos como o INCA não estimulam o auto exame das mamas como estratégia isolada de detecção precoce do câncer de mama. É recomendado que o auto exame das mamas faça parte das ações educativas para a saúde1. No entanto existem evidências científicas que sugerem que o auto exame das mamas não é eficiente para o rastreamento e não contribui para a redução da mortalidade por câncer de mama. Além de provocar conseqüências negativas, como: falsa sensação de segurança nos exames falsamente negativos, impacto psicológico negativo nos exames falsamente positivos e aumento no número de biópsias de lesões benignas1. Portanto é imprescindível lembrar que o auto exame das mamas de maneira alguma substitui o exame físico realizado por profissional de saúde qualificado para essa atividade1. 3.0 DISCUSSÃO 3.1 Anatomia regional da pelve A inervação de toda pelve e períneo é constituída pelos plexos sacro e coccígeo, situados na parede póstero-lateral da cavidade pélvica, e em geral, ocorrem no plano entre os músculos e os vasos. São formados pelos ramos ventrais de S1 a Co, havendo uma contribuição significativa de L4 e L5, que entram na pelve a partir do plexo lombar. Os nervos deste plexo principalmente somáticos contribuem para a inervação do membro inferior e músculo da pelve e períneo. Ramo cutâneos inervam a pele sobre o lado medial do pé, a parte posterior do membro inferior e a maior parte do períneo. 2 Além dessa inervação a parte vertebral do sistema nervoso visceral, é representada, na pelve, pelas extremidades inferiores dos troncos simpáticos na pelve, pelas extremidades inferiores dos troncos simpáticos. Cada tronco entra na cavidade pélvica a partir do abdome, passando sobre a asa do sacro medialmente aos troncos lombares e posteriormente aos vasos ilíacos. Os troncos têm uma trajeto em direção caudal ao longo da superfície anterior do sacro, onde ficam posicionados medialmente aos forames sacrais anteriores. Ocorrem quatro gânglios ao longo de cada tronco. Anteriormente ao cóccix, os dois troncos unem-se para formar um único pequeno gânglio terminal (o gânglio ímpar). 2 A principal função dos troncos simpáticos na pelve é trazer fibras simpáticas pós ganglionares para os ramos anteriores dos nervos sacrais para distribuição à perifeira, principalmente a partes do 6 membro inferior e do períneo. Isso é efetuado por ramos comunicantes cinzentos, que se conectam com os troncos para os ramos anteriores sacrais. 2 Além dos ramos comunicantes cinzentos, outros ramos (os nervos esplâncnicos sacrais) se unem e contribuem para a parte pélvica do plexo pré vertebral associado à inervação das vísceras pélvicas. 2 A principal artéria da pelve e do períneo é a artéria ilíaca interna a cada lado. Além de fornecer a irrigação para a maior parte das vísceras pélvicas, para as paredes e seu assoalho, e para as estruturas no períneo, incluindo os tecidos eréteis do clitóris, esta artéria da origem a ramos que seguem nervos para a região glútea do membro inferior. Outros vasos que se originam no abdome e contribuem para a irrigação de estruturas pélvicas incluem a artéria sacral média e, nas mulheres, as artérias ováricas. 2 A artéria ilíaca interna origina-se da artéria ilíaca comum a cada lado, aproximadamente ao nível do disco intervertebral entre LV e SI e situa-se antero medial à articulação sacroilíaca. O vaso tem um trajeto cuadal sobre a entrada pélvica e depois se divide em troncos anterior e posterior no nível da margem superior do forame isquiático maior. Ramos do tronco posterior baixo, a parede pélvica posterior e a região glútea, são eles: a. ilíaca iliolombar, a. sacral lateral, a. glútea superior. Ramos do tronco anterior irrigam as vísceras pélvicas, o períneo, a região glútea, a região adutora da coxa, são elas: a. vesical superior, a. umbilical, a. vesical inferior, a a. retal média, a a. uterina, a. vaginal, a. obturatória, a. pudenda interna e a. glútea inferior. 2 Nas mulheres, os vasos gonadais (ováricos) originam-se da aorta abdominal e depois descem, atravessando a entrada pélvica e irrigando os ovários. Eles se anastomosam com partes terminais das artérias uterinas. A cada lado, os vasos trafegam, no ligamento suspensor do ovário quando atravessam a entrada pélvica para o ovário. Ramos atravessam o mesovário até chegar ao ovário e atravessam o ligamento largo para se anastomosarem com a artéria uterina. 2 As veias pélvicas seguem o trajeto de todos os ramos da artéria ilíaca interna, exceto para a artéria umbilical e a artéria íliolombar. A cada lado, as veias drenam para as veias ilíacas internas, que saem da cavidade pélvica para se unir as veias ilíacas comuns situadas em posição imediatamente superior e lateral à entrada pélvica. Na cavidade pélvica, extensos plexos venosos interconectados associam-se às superfícies das vísceras (bexiga, reto, próstata, útero e vagina). Em conjunto, estes plexos formam o plexo pélvico de veias. A parte do plexo venoso em torno do reto e do canal anal drena através das veias retais superiores (tributárias das veias mesentéricas inferiores) e entra no sistema porta hepático e, através 7 das veias retais média e inferior, entra no sistema das veias cavas. Este plexo pélvico é uma importante derivação portocava quando o sistema porta hepático fica bloqueado. A parte inferior do plexo retal em torno do canal anal tem duas partes, uma interna e uma externa. O plexo retal inferior está no tecido conjuntivo entre o esfíncter anal interno e o epitélio que reveste o canal. Este plexo liga-se superiormente com ramos da veia retal superior dispostos longitudinalmente e que se situam cada coluna anal. A veia dorsal profunda única que drena os tecidos eréteis do clitóris e o pênis não segue ramos da artéria pudenda interna até a cavidade pélvica. Em lugar disso, esta veia entra diretamente na cavidade pélvica através de um espaço formado entre o ligamento arqueado do púbis e a margem anterior da membrana perineal. As veias unem-se ao plexo de veias vesicais (da bexiga)na mulher. Além das tributárias da veia ilíaca interna, as veias sacrais médias e veias ováricas fazem um trajeto paralelo ao da artéria sacral média e da artéria ovárica, respectivamente, e saem da cavidade pélvica para unir-se a veias do abdome. Linfáticos da maioria das vísceras pélvicas drenam principalmente para os linfonodos distribuídos ao longo das artérias ilíacas internas, externas e seus ramos associados, que drenam para linfonodos associados às superfícies laterais da aorta abdominal. Por sua vez, estes linfonodos aórticos laterais drenam para os troncos lombares, que continuam até a origem do ducto torácico aproximadamente no níevel vertebral TXII. Linfáticos dos ovários e partes relacionadas ao útero e tubas uterinas saem da cavidade pélvica superiormente e drenam, através dos vasos que acompanham as artérias ováricas, diretamente para os linfonodos aórticos laterais e, em alguns casos, para os linfonodos pré-aórticos na superfície anterior da aorta. Os canais linfáticos dos tecidos superficiais do pênis e do clitóris acompanham os vasos pudendos externos superficiais, assim como os canais linfáticos do escroto ou dos grandes lábios. A glande do clitóris, os pequenos lábios e a extremidade inferior terminal da vagina drenam para os linfonodos inguinais profundos e os linfonodos ilíacos externos. 3.2 Vulva 3.2.0 ANATOMIA O clitóris e o aparelho vestibular, juntamente com algumas pregas da pele e de tecido, formam a vulva. A cada lado da linha média, há duas pregas finas de pele denominadas pequenos lábios. A região contida por eles, e em que se abrem a uretra e a vagina, é o vestíbulo. Anteriormente, os pequenos lábios bifurcam-se, formando uma prega medial e uma lateral. As 8 pregas mediais unem-se para formar o frênulo do clitóris, que se une à glande do clitóris, que se une a glândula do clitóris e o corpo do clitóris para formar o prepúcio do clitóris. Posteriormente ao vestíbulo, os pequenos lábios se unem, formando uma pequena prega transversa, o frênulo dos pequenos lábios (a comissura posterior da vulva).2 Dentro do vestíbulo, o orifício vaginal é cercado, em graus variáveis, por uma prega de membrana em forma de anel, o hímen, que pode ter uma pequena perfuração central ou pode fechar completamente a abertura vaginal. Após a ruptura do hímen, os remanescentes irregulares do hímen franjam a abertura vaginal.2 Os orifícios da uretra e da vagina associam-se às aberturas das glândulas. Os ductos das glândulas parauretrais (glândulas de Skene) abrem-se no vestíbulo, uma a cada lado da margem lateral da uretra. Os ductos das glândulas vestibulares maiores (glândulas de Batholin) abrem-se adjacentemente à margem póstero lateral da abertura vaginal na prega entre o orifício vaginal e os remanescentes do hímen. 2 Lateralmente aos pequenos lábios, há duas pregas largas, os grandes lábios, que se unem anteriormente para formar o monte púbico. O monte púbico fica sobre a parte inferior da sínfise púbica e é anterior ao vestíbulo e ao clitóris. Posteriormente, os grandes lábios não se unem e são separados por uma depressão denominada comissura posterior, que fica sobre a posição do corpo do períneo. 2 3.2.1 FATORES ETIOLÓGICOS E PREDISPONENTES Os principais fatores de risco para o câncer de vulva são a idade (65 a 75 anos), lesões pré neoplásicas (neoplasia intracelular da vulva, líquen eslceroso, hiperplasia de células escamosas), infecção por papilomavírus humano, antecedentes de carcinoma de colo de útero ou NIC (neoplasia intracelular do colo uterino), infecção por HIV e tabagismo. 4 Em contraste com o carcinoma de vulva, que incide preferencialmente na sétima década de vida, a neoplasia intracelular de vulva (NIV) ocorre em mulheres mais jovens, com 40 a 50 anos de idade. O aumento da incidência de NIV em mulheres mais jovens nas últimas décadas tem sido correlacionado ao comportamento sexual (multiplicidade de parceiros e início precoce de atividade sexual) e à infecção por HPV de alto risco. 5 A NIV é dividida em quatro graus: NIV 1, que corresponde à displasia leve; NIV 2, displasia moderada; NIV 3, displasia severa e NIV 4 ou carcinoma de vulva in situ. 4 O carcinoma espinocelular é o tipo histológico mais freqüente da doença, ocorrendo em mais de 90% dos casos. Os carcinomas são tumores malignos de origem epitelial. Além do carcinoma espinocelular, outros tipos histológicos raros podem ser encontrados em neoplasias de vulva, como 9 sarcomas, melanomas, linfomas, carcinoma basocelular, doença de Paget da vulva, e carcinoma da glândula de Bartholin. Os tumores metástaticos para a vulva são mais raros ainda. 4 3.2.2 FISIOPATOLOGIA - Carcinoma e Neoplasia Intra-epitelias da Vulva Quanto à etilogia, a patogênese e à apresentação clínica, os carcinomas de células escamosas da vulva podem ser dividios em dois grupos gerais. 6 O primeiro grupo está associado ao HPV relacionado ao câncer (de alto risco) e muitas vezes está acompanhada ou é precedido de uma alteração pré cancerosas clássica e facilmente identificada denominada neoplasia intra epitelial da vulva (NIV). Essa forma de NIV engloba as lesões classificadas como carcinoma in situ ou doença de Bowen. A NIV caracteriza-se por atipia nuclear das células epiteliais, aumento das mitoses e falta de diferenciação da superfície. Essas lesões apresentam-se em geral como placas brancas ou pigmentadas na vulva. A NIV está aparecendo com uma freqüência crescente nas mulheres de 40 anos e, com ou sem carcinoma invasivo. Essa associação indica um agente etiológico comum, o HPV. 6 O segundo grupo de carcinomas de células escamosas está associado à hiperplasia das células escamosas e ao líquen escleroso. Essas neoplasias não estão caracteristicamente associadas ao HPV. Esses tumores foram associados ao acúmulo da proteína p53. 6 Quando o câncer invasivo se instala , a propagação metastática fica vinculada ao tamanho do tumor, à profundidade da invasão e ao comprometimento dos vasos linfático. Os linfonodos inguinais, pélvico, ilíacos e paraórticos são afetados com mais freqüência. 6 - Doença de Paget extramamária É uma lesão rara e singular da vulva, e às vezes da região perianal, que apresenta manifestações cutâneas similares àquelas vistas na doença de Paget da mama. Manifesta-se na forma de uma área bem demarcada, com contornos semelhantes a um mapa, eritematosa, encrostada e pruriginosa, que surge em geral nos grandes lábios. Pode estar acompanhada de um espessamento ou tumor submucoso palpável. 6 - Melanoma Maligno Tendem a ter as mesmas características biológicas e histológicas dos melanomas que surgem em outras partes do corpo e são capazes de disseminar e metastatizar. 6 3.2.3 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 10 Apesar de ser a vulva o órgão mais externo da genitália feminina, o câncer que aí se instala é o mais tardiamente diagnosticado. Essa patologia leva, desde o seu primeiro sintoma até o diagnóstico definitivo, um tempo médio de 18 meses, diferentemente do que ocorre com a neoplasia maligna do colo uterino, cujo referido tempo é de 9 meses. Vários fatores concorrem para que isso suceda. Entre eles, pode-se citar o pudor da paciente, pois sendo um câncer com maior incidência na idade avançada (acima dos 50 anos) faz com que ela fuja do exame ginecológico, porque não quer expor seus genitais. Outras vezes, a paciente, despreza os sintomas usando pomadas ou outros recursos para cura de uma sintomatologia frustra, omitindo sintomas importantes ao médico. 4 Os sintomas mais freqüentes são prurido, tumor, sangramento, leucorréia e dor:4 - o prurido costuma se o primeiro sintoma, ocorrendo em 60% das vezes, sendo em geral queixa antiga; - o tumor é notado pela paciente ao manusear os seus genitais na sua higiene íntima, relatando ao médico tardiamente; - o sangramento se dá pelo trauma local, determinado pelas manobras higiênicas ou mesmo pela deambulação; - a leucorréia é resultante da necrobiose e infecção de tumor, dando odor característico; - a dor é um dos sintomas menos comuns, encontrada nos tumores mais avançados. 3.2.4 DIAGNÓSTICO Pacientes com NIV reclamam de prurido vulvar, irritação, ou desconforto, mas aproximadamente 50% das pacientes são assintomáticas no momento do diagnóstico. Pacientes com neoplasia vulvar invasiva geralmente se queixam de uma massa vulvar e prurido crônico. Lesões avançadas podem sangrar e são frequentemente doloridas. 8 Por causa das muitas manifestações da NIV, qualquer lesão vulvar nova deve ser biopsiada. Uma vez diagnosticado alto grau de NIV, a vulva inteira, colo, e vagina devem ser cuidadosamente examinadas porque essas pacientes possum geralmente envolvimento multifocal e milticêntrico. O exame de colposcopia pode ajudar a definir a extensão da doença. Diagnóstico de lesões invasivas vulvares necessitam de um pedaço para biópsia com um pouco da pele ao redor e com delimitação dérmica e tecido conjuntivo para que o patologista possa avaliar a profundidade da invasão estromal. 8 Pacientes com doença invasiva requerem avaliação adicional para metástase regional. Todos os pacientes com doença invasiva necessitam de exame físico cuidadoso incluindo um exame pélvico detalhado, raio x de tórax, e um perfil boquímico. Citoscopia e proctoscopia devem ser realizados em pacientes com tumores próximos a uretra ou ânus. Pacientes que reclamam de dor óssea ou que possuem tumor fixo na pelve óssea devem ter raio x de todo esqueleto. TC ou RM podem ser 11 realizadas para avaliar a profundidade inguinal e linfonodos pélvicos para possível metástase regional. Estudos preliminares de PET sugerem que o exame tem uma sensibilidade pequena mas alta especificidade no diagnóstico de linfono metástatico. 8 3.2.5 ESTADIAMENTO PATOLÓGICO Em 1983, FIGO adotou um estagiamento clínico baseado no TNM para o câncer vulvar. Esse sistema era baseado em dados clínicos do tumor primário e linfonodos regionais. No entanto, a correlação entre diagnóstico clínico dos linfonodos inguinais e os achados patológicos são pequenos. 8 Em 1988, a FIGO modificou o estadiamento para incorporar mais informações e com ganho de acurácia para acesso cirúrgico de linfonodos regionais. Esse estadiamento foi revisado novamente em 1994 para criar um estágio IA para lesões minimamente invasivas. 8 Tabela 1 International Federation of Gynecology and Obstetrics (FIGO) Estadiamento do cancer de vulva (1994) 9 Linfonos Tumor Estadiamento Descrição regionais primário FIGO Tumor primário e linfonodos regionais não podem ser NX TX acessados N0 T0 Sem evidência de tumor primário N0 Tis 0 Carcinoma in situ Tumor confinado à vulva ou vulva e períneo, com 2 cm ou menos na sua maior dimensão e invasão estromal N0 T1 I na sua maior dimensãoa Sem metástase para linfonodos regionais. Tumor confinado à vulva, ou à vulva e ao períneo, com 2 cm ou menos na sua maior dimensão e invasão N0 T1a IA estromal de até 1mmb Sem metástase para linfonodos regionais. Tumor confinado à vulva, ou à vulva e ao períneo, com 2 cm ou menos na sua maior dimensão e invasão N0 T1b IB estromal maior que 1mm.b Sem metástase para linfonodos regionais. Tumor confinado à vulva, ou à vulva e ao períneo, com N0 T2 II mais de 2 cm em sua maior dimensão . Sem metástase para linfonodos regionais. Tumor de qualquer tamanho com contigüidade para N1 T3 III uretra baixa e/ou ânus ou vagina. Metástase para linfonodos regionais. Tumor invadindo a uretra superior, a mucosa da bexiga, a mucosa do reto ou que está fixo ao osso N2 T4 IVA púbico. Metástase para linfonodos regionais bilaterais. M1 IVB Metástase a qualquer distância incluindo nódulos 12 a linfáticos pélvicos. TNM equivalente a classifcação do Committee of the Internacional Union Against Cancer Equivalent está indicada nas duas primeiras colunas. b A profundidade da invasão é definida como a medida do tumor da junção estromo epithelial da papilla adjacente mais superficial para o ponto de invasão mais profundo. Tabela 2 Grupamento de estádios clínicos9 Estádio clínico TNM 0 Tis N0 M0 I T1 N0 M0 IA T1a N0 M0 IB T1b N0 m0 II T2 N0 M0 III T1 N1 M0 T2 N1 M0 T3 N0 M0 T3 N1 M0 IVA T1 N2 M0 T2 N2 M0 T3 N2 M0 T4, qualquer N, M0 IV B Qualquer T, ou N, M1 3.2.6 TRATAMENTO A operação tradicional do carcinoma invasivo de vulva consistem em radical e total ressecção da vulva, e retirada de linfonods inguinais, foi desenvolvida no início do século 20, e popularizada durante as décadas subseqüentes, e se tornou padrão até os anos 80. A radioterapia era sabido que se tinha uma pequena chance no tratamento. Embora essa cirurgia se aproximou de encontrar 5 anos de sobrevida com taxas de 60 a 70%, de complicações físicas ou psicológicas, e pacientes com múltiplos nódulos positivos continuaram a ter um mau prognóstico. Em 1981, Hacker demonstrou que uma cirurgia menos invasiva, operando através da separação vulvar e incisões maiores, atingiram níveis de cura similares aquelas encontradas com a tradicional vulvextomia radical. Além disso, prospectivos e retrospectivos estudos têm estabelecido a taxa de radioterapia na cura de doença avançada locoregional. 8 Em pacientes com estágio clínico IV (T1-4, N2 M0 ou M1), as opções de tratamento dependem da extensão da doença, podendo ser indicadas vulvectomias radical com exenteração pélvica, cirurgia seguida de radioterapia no leito tumoral para lesões com margens exíguas, ou com comprometimento capilar linfático, e radioterapia na região inguinal com dois ou mais linfonodos comprometidos. 13 Em lesões grandes, a radioterapia neoadjuvante está indicada para melhorar a ressecabilidade tumoral. 4 Um tratamento paliativo em detrimento da cirurgia radical é a radioterapia com quimioterapia concomitante. 4 Um dos grandes problemas do tratamento do carcinoma de vulva é a recidiva locorregional. Nos casos cuja recorrência não envolve linfonodos, a excisão de tumores localizados está associada a índices de sobrevida de 50% em cinco anos. A radioterapia paliativa pode ser indicada com ou sem quimioerapia. 4 Atualmente, a quimioterapia não é muito eficaz no tratamento da doença metastática ou recorrente e a participação em estudos clínicos é recomendável. 4 3.3 Vagina 3.3.0 ANATOMIA A vagina é o órgão copulatório nas mulheres. É um tubo fibromuscular distensível que se estende do períneo, passa pelo assoalho pélvico e entra na cavidade pélvica. A extremidade interna do canal aumenta de volume para formar uma região chamada cúpula vaginal. 2 A parede anterior da vagina está relacionada com a base da bexiga e a uretra; de fato, a uretra está imersa na parede vaginal anterior ou fundida com ela. Posteriormente, a vagina está relacionada principalmente com o reto. 2 Inferiormente, a vagina abre-se para o vestíbulo do períneo em posição imediatamente posterior à abertura externa da uretra. De sua abertura externa (o intróito), a vagina tem um trajeto pósterosuperior através da membrana perineal, entrando na cavidade pélvica, onde fica fixada, por sua parede anterior, à margem, circular do colo uterino. 2 O fórnice da vagina é o recesso formado entre a margem do colo uterino e a parede vaginal. Com base na posição o fórnice subdivide-se em fórnice anterior e dos laterais. 2 O canal vaginal normalmente está em colapso, de que a parede anterior fique em contato com a parede posterior. 2 3.3.1 FATORES ETIOLÓGICOS E PREDISPONENTES Neoplasia intraepithelial de vagina (VAIN) geralmente acompanha CIN e é sabido que possuem uma etiologia similar. Lesões VAIN são mais freqüentes no terço proximal da vagina e pode ter extensões de áreas adjacentes do CIN ou leões separadas. A baixo taxa de carcinoma de vagina reflete o fato que a vaguna não possui uma zona de transição de células epiteliais imaturas susceptíveis a transformação; HPV induz lesões vaginais e é sabido que aumenta em áreas de 14 metaplasia escamosa que desenvolvem durante abrasão de mucosa causada por coito, uso de absorvente interno, ou outro trauma. No entanto, vírus ou outros tipos de fatores de risco independem do modo de tratamento indubitavelmente relacionado com alguns pacientes que diagnosticaram com câncer vaginal e irradiação pélvica para outra malignidade. 8 Carcinoma invasivo primário de vagina é uma doença predominate de mulheres jovens. No entanto a FIGO sugere que o pico de incidência na idade decaiu desde os anos 60, quando o pico da incidência foi entre mulheres com 80 anos. 8 Obesidade, contraceptivo oral, e gravidez sugerem a possibilidade de risco de desenvolvimento de carcinoma de células claras na eposição de DES. Infecções de HPV podem ser um co-fator em alguns casos. 8 3.3.2 FISIOPATOLOGIA A maioria dos tumores benignos da vagina ocorre durante o período reprodutivo da vida das mulheres e consiste em tumores músculo esqueléticos (rabdomiomas) ou tumores do estroma (pólipos endometriais). Os tumores malignos clinicamente importantes quanto a freqüência e ao comportamento biológico são o carcinoma e o rabdomiossarcoma embrionário (sarcoma botrióide). 6 - Adenocarcinoma Por causa de seu crescimento insidioso e invasivo, o câncer de vagina (o escamoso e o adenocarcinomatoso) é difícil de curar. A propagação do carcinoma de colo para a vagina é muito mais comum do que as neoplasias malignas primárias da vagina. Consequentemente, antes que o diagnóstico de carcinoma primário de vagina seja feito, é preciso excluir a presença de uma lesão cervical preexistente. 6 - Rabdomiossarcoma embrionário Incomum, encontrado com mais freqüência em bebês e em crianças com menos de 5 anos de idade. O tumor consiste basicamente em rabdomioblastos embrionários malignos e é, por essa razão, um tipo de rabdomiossarcoma. 6 3.3.3 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Os sintomas mais freqüentes são prurido (costuma ser o primeiro sintoma), tumor (notado pela paciente ao manipular os genitais), sangramento (trauma local determinado pelas manobras de higiene ou mesmo pela deambulação), leucorréia (resultante da necrobiose e infecção de tumor), dor. 4 3.3.4 DIAGNÓSTICO 15 Muitos pacientes com VAIN e com carcinoma invasivo de vagina são assintomáticos, nesse caso são geralmente diagnosticados durante um Papanicolau anormal. Colposcopia no caso de anormal citologia sempre inclui um exame detalhado de toda vagina e cérvix, até mesmo quando há uma lesão óbvia, porque pacientes podem apresentar múltiplas áreas anormais. 8 Aproximadamente 50 a 60% dos pacientes com cancer invasivo apresentam sangramento vaginal, massa palpável, dispareunia, ou dor na região perineal da pelve. Todas as pacientes devem ter raio x de abdome, uma contagem total de células vermelhas, e uma perfil bioquímico. Citoscopia e ureteroscopia são fortemente recomendados em pacientes com tumores grandes ou tumores envolvendo a parede anterior da vagina. Proctoscopia é indicado para lesões envolvendo a parede posterior da vagina. Um enema baritado do esqueleto pode também ser necessário em alguns casos. Os rins devem ser localizados em raros casos de hidronefrose realizado com uma clássico pielograma intravenoso ou pielograma obtido com TC. No entanto, deve ser novamente enfatizado que as regras da FIGO para estadiamento clínico são proibidas o uso de outras informações obtidas por TC, RNM, linfanfiografia, ou estadiamento cirúrgico para mudar o estadiamento clínico. 3.3.5 ESTADIAMENTO PATOLÓGICO Tabela 3 International Federation of Gynecology and Obstetrics Estadiamento clínico do carcinoma de vagina 9 Estágio Descrição 0 Carcinoma in situ, carcinoma intraepitelial I O carcinoma está limitado a parede vaginal II O carcinoma envolve o tecido subvaginal mas não se estende para a parede pélvica III O carcinoma se estende para a parede pélvica O carcinoma se estendeu através da pelve ou está clinicalmente envolvida com a mucosa IV do intestino e reto. Edema não permite que o caso seja remetido ao estágio IV Crescimento e disseminação para órgãos adjacentes e/ou extensão através de pelve IVA verdadeira IVB Disseminação para órgão distantes A classificação da FIGO para câncer vaginal está listado a cima. Porque é um estadiamento clpinico, a classificação das lesões em estágios I ou II é provavelmente muito subjetivo. Geralmente (menor do que 0,5 cm), relativamente tumor exofítico tende a ser classificado como estágio I, e denso, tumor infiltrativo e aqules com nodularidade vaginal óbvia tendem a ser classifcados com estágio II. 3.3.6 TRATAMENTO Tecnicamente os aspectos do tratamento de câncer vaginal são muito especializados e são extremamente de acordo com a localização, tamanho, e distribuição do tumor sem a vagina e estruturas adjacentes. Para alcançar um bom resultado para pacientes com esse câncer taro, 16 tratamento deve ser desenvolvido em centros que tem um forte time interdisciplinar, incluindo radiação oncológica especializado na braquiterapia e bomba externa para tratar esses cânceres. 3.4 Útero 3.4.0 ANATOMIA O útero é um órgão muscular de parede espessa na linha média entre a bexiga e o reto. Consiste em corpo e colo e, inferiormente, une-se à vagina. Superiormente, as tubas uterinas projetam-se lateralmente a partir do útero e abrem-se na cavidade peritoneal imediatamente adjacentes aos ovários. 2 O corpo do útero é achatado na direção antero posterior e, acima do nível de origem das tubas uterinas, tem uma extremidade superior arredondada (fundo do útero). A cavidade do corpo do útero é uma fenda estreita, quando vista lateralmente, e tem a forma de triângulo invertido, quando vista anteriormente. Cada um dos cantos superiores da cavidade é contínuo com a luz de uma tuba uterina; o canto inferior é contínuo com a luz de uma tuba uterina; o canto inferior é contínuo com o canal central do colo uterino. 2 A parede do útero é relativamente espessa e formada de três camadas. Externamente há uma serosa – constituída de mesotélio e tecido conjuntivo – ou, dependendo da porção do órgão, uma adventícia – constituída de tecido conjuntivo sem revestimento de mesotélio. As outras camadas uterinas são o miométrio, uma espessa camada de músculo liso, e o endométrio, ou mucosa uterina. 3 Miométrio O miométrio, a camada mais espessa do útero, está composa de pacotes de fibras musculares lisas separadas por tecido conjuntivo. Os pacotes de músculo liso se distribuem em quatro camadas muito bem definidas. A primeira e a quarta camadas são compostas principalmente de fibras dispostas longitudinalmente, isto é, paralelas ao eixo longo do órgão. As camadas intermediárias contêm os grandes vasos sanguíneos que irrigam o órgão. 3 Durante a gravidez, o miométrio passa por um período de grande crescimento como resultado de hiperplasia e hipertrofia. Durante esta fase, muitas células musculares lisas adquirem características ultra-estruturais de células secretoras de proteínas e sintetizam ativamente colágeno, cuja quantidade aumentada significantemente no útero. Após a gravidez há degeneração de algumas células musculares lisas, redução no tamanho de outras e degradação enzimática do colágeno. O útero reduz seu tamanho para as dimensões aproximadas de antes da gravidez. 3 17 Endométrio O endométrio consiste em um epitélio e uma lâmina própria que contém glândulas tubulares simples que às vezes se ramificam nas porções mais profundas. As células que revestem a cavidade uterina se organizam em um epitélio colunar simples formado de células ciliadas e de células secretoras. 3 Os vasos sanguíneos que irrigam o endométrio são muito importantes para o fenômeno cíclico de perda de parte do endométrio durante a menstruação. Das artérias arqueadas, que se orientam circunferencialmente nas camadas médias do miométrio, partem dois grupos de artérias que provêem sangue para o endométrio: as artérias retas, que irrigam a camada basal, e as artérias espirais, que irrgiam a camada funcional. 3 Estrógenos e progesterona controlam grande parte da estrutura e funções do aparelho reprodutor feminino. A proliferação diferenciação e secreção das células epitelias, como também o tecido conjuntivo, dependem desses hormônios. Mesmo antes do nascimento esses órgãos são influenciados por estrógenos e progesterona, que circulam no sangue materno e alcançam o feto pela placenta. Depois da menopausa, a síntese diminuída desses hormônios causa uma involução geral dos órgãos reprodutores. 3 Depois da puberdade os hormônios ovarianos, por estímulo da adeno-hipófise, fazem com que o endométrio passe por modificações estruturais cíclicas durante o ciclo menstrual. A duração do ciclo menstrual é variável, mas dura em média 28 dias. 3 Ciclos menstruais geralmente começam entre 12 e 15 anos de idade e continuam até os 4550 anos. Como os ciclos são conseqüência de eventos ovarianos relacionados À produção de ovócitos, a mulher só é fértil durante o período em que ela estiver tendo ciclos menstruais. 3 Para finalidades práticas, considera-se o começo de um ciclo menstrual como o dia em que se inicia o sangramento menstrual. Este sangramento consiste em minúsculo fragmentos de endométrio misturados com sangue dos vasos sanguíneos rompidos durante a menstruação. A fase menstrual do ciclo dura em média três a quatro dias. A fase seguinte do ciclo menstrual é denominada fase proliferativa, que é seguida pela fase secretória (ou luteal). A fase secretória começa após a ovulação e dura aproximadamente 14 dias. A duração da fase proliferativa é variável, em média 10 dias. Apesar desta divisão em fases, as mudanças estruturais que aocntecem durante o ciclo são graduais;ç a divisão em fases depende da secreção diferencial de hormônios ovarianos que se reflete em diferentes situações funcionais e clínicas da mulher durante o ciclo.3 3.4.1.0 Colo do útero 18 3.4.1.1 ANATOMIA O colo do útero compõe a parte inferior do útero e tem a forma e cilindro curto e largo com um canal central estreito. O corpo do útero normalmente faz um arco para a frente (anteflexão do colo) sobre a superfície superior da bexiga esvaziada. Ademais, o colo uterino é angulado para frente (antevertido) sobre a vagina, de modo que a extremidade do colo uterino se projeta na parte anterior da vagina. Como a extremidade do colo uterino tem forma de cúpula, faz uma abaulamento para o interior da vagina e forma-se uma calha ou fórnice em torno da margem do colo uterino, onde este se une à parede vaginal. O canal central tubular do colo uterino abre-se, abaixo, como orifício externo, na cavidade vaginal e, acima, como orifício interno, para a cavidade uterina. 2 3.4.1.2 FATORES ETIOLÓGICOS E PREDISPONENTES O HPV é considerado, no momento, o agente mais importante da oncogênese cervical. Como sabido esse vírus é a causa do condiloma acuminado de vulva transmitido pelo contato sexual. 6 Uma grande quantidade de dados epidemiológicos obtidos de estudos moleculares estabeleceu os seguintes fatores de risco para a neoplasia cervical, que apontam para uma complexa interação entre o hospedeiro e o vírus. 6 - Início das relações sexuais em idade muito precoce; - Vários parceiros sexuais; - Grande número de gestações; - Parceiro sexual que já teve várias parceiras sexuais; - Presença de um tipo de HPV associado a câncer (16 e 18) - Detecção persistente de um HPV de alto risco, particularmente em alta concentração (carga viral); - Certos tipos de HLA e de vírus; - Exposição a contraceptivos orais e à nicotina; - Infecções genitais (clamídia) 3.4.1.3 FISIOPATOLOGIA Para entender a patogênese do câncer de colo de útero, é importante conhecer os fatoresenvolvidos em seu desenvolvimento, que foram identificados por estudos moleculares, patológicos, clínicos e epidemiológicos. Durante muito tempo, os dados epidemiológicos apontaram para um agente transmitido por contato sexual, o HPV. O HPV é considerado, no momento o agente mais importante na oncogênese cervical. 6 Os dados experimentais mostram que as proteínas dos genes (E6 e E7) dos HPVs de alto risco podem interromper o ciclo celular ao se ligarem à proteína RB com conseqüente aumento do 19 número de receptores das proteínas Ciclina E (E7) e p161NK4; podem interromper o processo de morte celular ao se ligarem à proteína p53 (E6); podem induzir a duplicação dos centrossomos e desencadear uma instabilidade genômica (E6, E7); e podem impedir a senescência replicativa pelo aumento do número de receptores da telomerase (E6). A proteína E6 do HPV induz uma rápida degradação do p53 por meio de proteólise dependente de ubiquitina, com uma conseqüente redução dos níveis de proteína p53 em duas a três vezes. A proteína E7 forma um complexo com a forma fosforilada (ativa) da proteína RB, que leva à proteólise da proteína RB pelo proteossoma, e como a proteína RB hipofosforilada normalmente inibe a entrada na fase S ligando-se ao fator de transcrição E2F, percebe-se que os dois oncogenes do vírus operam conjuntamente para promover a síntese de DNA quando bloqueiam a parada do crescimento mediada pela p53 e a apoptose das células geneticamente alteradas. Assim, os oncogenes virais são decisivos no prolongamento do tempo de vida das células epiteliais genitais, um elemento necessário para o desenvolvimento do tumor.7 - Carcinoma de células escamosas O carcinoma invasivo do colo do útero manifesta-se de três formas diferentes: como câncer vegetante (ou exofítico), como ulcerativo e como infiltrativo. A variante mais comum é o tumor vegetante, o qual produz uma massa incontestavelmente neoplásica que, quando evidente a olho nu, projeta-se sobre a mucosa circundante. O carcinoma cervical avançado propaga-se por disseminação direta e invade todas as estruturas contíguas, que incluem o peritônio, a bexiga urinária, os ureteres, o reto e a vagina. Os linfonodos locais e os distantes também são afetados. Dá origem a metástase no fígado, pulmão, medula óssea e em outras estruturas. 6 Ao exame histológico, cerca de 95% dos carcinomas escamosos são compostos de células relativamente grandes que podem estar em fase de queratinização (tumor bem diferenciado) ou não (tumor moderadamente diferenciado). Um pequeno subconjunto de tumores é formado por carcinomas escamosos mal diferenciados de células pequenas e, mais raramente, por carcinomas indiferenciados de células pequenas (carcinomas neuroendócrinos ou de células em grão de aveia). 6 - Adenocarcinoma in situ Adenocarcinoma in situ é diagnosticado quando células glandulares da endocérvix normal são repostas por células altas, células colunares irregulares com estratificação, núcleo hipercromático e aumento da atividade mitótica mas a principal das glândulas endocervical é mantido e não há invasão estromal óbvia. Porque o adenocarcinoma in situ é frequentemente multifocal, biópsia de margens deve ser realizada. 20 3.4.1.4 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Doença pré invasiva é geralmente detectável durante um exame cervical citológico. Doença invasiva precoce pode não ser associada com nenhum sintoma e é também detectada durante os exames de rotina. Os sintomas precoces do câncer cervical invasivo são geralmente sangramento vaginal anormal, seguido do coito ou esfregaço vaginal. Isso pode estar associado com um claro ou odor fétido vaginal. Dor pélvica pode resultar de doença locoregional invasiva ou de inflamação pélvica coexistente. Dor no flanco pode ser um sintoma de hidronefrose, frequentemente complicado por pielonefrite. O trajeto da dor ciática, edema de membro inferior, qualquer hidronefrose é quase sempre associado com invsão da parede pélvica pelo tumor. Pacientes com tumores avançados podem ter hematúria ou incontinência de uma fístula vesicovaginal cusada poela extensão direta do tumor. Compressão externa do reto por um efeito de massa primário pode causar constipação, mas a mucosa retal é raramente envolvida no diagnóatico inicial. 8 3.4.1.5 DIAGNÓSTICO O estágio de carcinoma cervical pré invasivo, o alta prevalência da doença em populações de baixa renda, e a sensiblidade do rastreamento citológico faz o carcinoma cervical um alvo ideal de rastreamento de câncer. Apenas nações com bem desenvolvidas em programas de rastreamento tem experimentado uma substancial queda no câncer cervical com taxas de morte durante esse período. 8 Em 2001, o American Câncer Society convencionou em uma conferência e atualizou as 1988 recomendações do rastreamento do câncer cervical no contexto de novas tecnologias e informações sobre a etiologia e epidemiologia do câncer cervical. Essa sociedade recomenda que o rastreamento para essa patologia deve começar aproximadamente 3 anos depois da primeira relação sexual, mas não mais tarde do que 21 anos; o rastreamento deve ser realizado anualmente com o teste citológico ou a cada 2 anos usando líquido base citologia Pap, até os 30 anos. Começando aos 30 anos, mulheres que tiveram três consecutivos, tecnicamente satisfatório testes com resultado negativo podem ser rastreada a cada 2 a 3 anos. Mulheres com 70 ou mais anos que tiveram três testes consecutivos, tecnicamente negativos e satisfatórios e que tiveramnenhum resultado anormal em 10 anos e mulheres que tiveram histerectomia para ginecologia benigna pode cessar o rastreamento de câncer. Mulheres com história de NIC 2 ou NIC 3 ou indicativo de histerectomia pode ser rastreado até elas terem 3 testes normais consecutivos e sem teste anormal em 10 anos. Mulheres com história de câncer cervical, mulheres com útero exposto ao dietilstibestrol (DES), e mulheres que são imunocomprometidas devem realizar rastreamento regulara assim que tiverem com uma boa saúde. 8 21 As taxas de falso negativo encontradas no teste de Papa Nicolau estão ao redor de 20 a 30% em mulheres com alto grau de NIC e 10 a 15%em mulheres com câncer invasivo. No entanto, a sensibilidade do rastreamento é geralmente aumentada por testes repetidos anualmente. A sensibilidade de testes individuais podem ser melhoradas por amostragem adequada, garantindo amostra de junção escamocolunar e do canal endocervical; Esfregaço sem endocervical ou células metaplásicas são raramente inadequadas, e na maioria dos caso o teste deve ser repetido. Porque adenocarcinoma in situ origina próximo ou ao redor da zona de transformação, isso pode ser perdido com esfregaço cervical. Detecção de lesão endocervical podem ser melhoradas quando espécimes obtidas com raspado citológico. Por causa de hemorragia, necrose, e intensa atividade inflamatória pode encobrir os resultados. O esfregaço do Papanicolau é uma forma pobre de diagnosticar lesões grnades, que devem ser sempre biopsiadas. A maioria dos estudos encontrou que método do líquido base do Papa possui uma grande sensibilidade do que o esfregaço vaginal. O teste de HPV está atualmente sendo estudado em uma série de definições, embora ainda não é recomendado com rotina, teste de HPV ASCUS. Esfregaços seguidos pela colposcoia em pacientes com lesões HPV positivas parece oferecer uma alta precisão e de meios eficientes de detectar HSIL em equívoco. Os pacientes com resultados anormais em exames citológicos que não têm uma grosseira lesão cervical deve ser avaliado com colposcopia e biópsia dirigida. Após a aplicação de uns 3% de ácido acético solução, o colo do útero é examinado em 10 - a 15 vezes ampliação com um brilhante, luz filtrada que reforça a acetowhitening e vascular padrões característicos de displasia ou carcinoma. Os colposcopistas qualificados podem distinguir com precisão entre baixa e alta grade displásica, microinvasor doença, mas não pode ser distinguido de consistentemente em lesões intra colposcopica. 8 Em um paciente com uma constatação atípica colpocitológico, se não forem encontradas anormalidades no exame colposcópico ou se toda a junção escamocolunar não pode ser visualizada, curetagem endocervical deve ser realizada. Algumas autoridades defendem a rotina além de curetagem endocervical para exame colposcópico para minimizar o risco de cancro no oculto faltando endocervical canal, no entanto, é provável que seja razoável para omitir este passo em mulheres não tratadas previamente se a todo junção escamocolunar é visível com um anel completo de epitélio colunar inalterado na parte inferior do canal. Biópsia cone cervical é usado para diagnosticar lesões ocultas endocervical e é um passo essencial no diagnóstico e na gestão de microinvasor carcinoma do colo do útero. A geometria do cone é individualizada e adaptada à geometria do colo do útero, no local da junção escamo colunar, e o local e tamanho da lesão. Cervical cone biópsia produz um diagnóstico preciso e diminui a incidência de terapia inadequada quando (1), a junção escamo colunar é mal visualizada em colposcopia e uma 22 lesão de alto grau é suspeita, (2) de alto grau displásicos epitélio estende para o canal endocervical, ( 3) os achados citológicos sugerem alto grau displasia ou carcinoma in situ, (4) um carcinoma microinvasor é encontrado na biópsia dirigida (5), a curetagem endocervical espécimes mostram CIN de alto grau, ou (6) os achados citológicos são sugestivos de adenocarcinoma in situ. 8 3.4.1.6 ESTADIAMENTO PATOLÓGICO As lesões pré-cancerosas devem ser interpretadas tendo em mente o seguinte: que elas representam um continuum de alterações morfológicas com linhas de demarcações pouco nítidas; que elas não evoluem invariavelmente para um câncer e que podem regredir espontanemente; e o risco de não desaparecerem ou evoluírem para um câncer aumenta de acordo com a gravidade da alteração pré-cancerosa; que elas estão associadas ao HPV e que os tipos de alto risco são encontradas com maior freqüência nas lesões precursoras de grau mais alto. 6 As NIC apresentam-se em graus distintos de alterações arquiteturais epiteliais precursoras, sendo a NIC 1 alterações celulares restritas as células das camadas basais, NIC 2 quando essas alterações ocorrem em pelo menos metade da espessura do epitélio e NIC 3 quando as alterações atingem toda a camada de células epiteliais. 10 Estágio 0 I IA IA1 IA2 IB IB1 IB2 II IIA IIB Tabela 4 International Federation of Gynecology and Obstetrics Estadiamento do Carcinoma de Cervix (1994) Descrição Carcinoma in situ, carcinoma intraepitelial. Casos de estágio 0 não devem ser incluídos em qualquer terapêutica estatística para carcinoma invasivo(NICIII) O carcinoma é estritamente confinado à cervix (extensão para o corpo deve ser descartada). Câncer identificado somente microscipicamente. Em lesões maiores, ou até mesmosuperficiais, invasivas, sãoestágio IB cancer. Invasão é limitado a estensão do invasão estromal com uma profundidade máxima de 5mm e não mais amplo do que 7mm. (A profundidade não deve ser maior do que 5mm tomadas da base do epitélio, ás vezes superfície glândulas. Que é riginada. Envolvimento de espaço vascular, venoso ou linfático, não deve alterar o estadiamento). Invasão estromal não é maior do que 3mm de profundidade e não é menos do que 7mm. Invasão estromal maior do que 3mm e não maior do que 5mm em profundidade e largura não é maior do que 7mm. Lesões clínicas confinadas à cervix ou lesões pré clínicas maiores do que IA. Lesões clínicas não maiores do que 4cm em tamanho. Lesões clínicas maiores do que 4 cm de tamanho O carcinoma se estende pela cervix, mas não se estende pela parede pélvica; o carcinoma envolve a vagina, mas não maior do que o terço inferior. Sem involvimento parametrial óbvio. Involvimento parametrial óbvio. O carcinoma se estendeu pela parede pélvica; no exame retal não há nenhum cancer livre entre o tumor e a parede pélvica; o tumor involve o terço distal da vagina; todos os casos com hidronefrose our ins não funcionais devem ser incluídos, ao menos que é sabido que possuem outras causas. 23 III IIIA IIIB Sem extensão para a parede pélvica, mas com involvmento do terço da vagina. Extensão sobre a parede pélvica ou hidronefrose ou sem função renal. O carcinoma se extendeu através da pelve verdadeira e tem envolvimento clínico de mucosa da bexiga ou reto. O carcinoma se extende através da pelve verdadeira e tem clínica envolvida de mucosa de bexiga ou reto. Propagação do crescimento para órgãos adjacentes Propagação para órgãos distantes. IV IVA IVB Estadiamento clínico A FIGO definiu o sistema de estadiamento mais amplamente aceito para os carcinomas de cervix. O mais recente (1994) atualização do sistema é resumida na Tabela 3. Desde as primeiras versões do câncer do colo uterino estadiamento sistema, tem havido muitas mudanças, sobretudo na definição da fase I da pré-doença que não foi colocada em uma categoria separada até 1950, e o estádio IA categoria de casos com início de invasão estromal, foi descrita pela primeira vez em 1962. Casos de invasão estromal precoce e invasão oculta foram redistribuídos entre as fases IAi, IAii, e IBoccult várias vezes até 1985, quando a FIGO eliminou fase IBoccult e desde as primeiras definições específicas de doença microinvasor (estádios IA1 e IA2). Em 1994, essas definições foram alteradas novamente, e pela primeira vez, estádio IB tumores foram subdivididas de acordo com tumor de diâmetro (Tabela 42.2.2). Embora estas alterações melhoraram gradualmente o valor discriminatório da encenação sistema, as muitas variações nas definições dos estádios IA e IB tem complicado a nossa capacidade para comparar os resultados dos pacientes cujos tumores foram estadiados e tratados durante diferentes periodos. Além disso, até 1994 , a maioria dos oncologistas ginecológicos nos Estados Unidos não utilizado o FIGO, mas a Sociedade de Ginecologia Oncologistas - definição de uma microinvasor carcinoma, ou seja, tumor que invade o estroma em um ou mais locais a uma profundidade de 3 mm ou menos abaixo da base do epitélio e no qual linfático ou vascular envolvimento não é demonstrado. A FIGO baseia-se no exame clínico e cuidadosa dos resultados de estudos radiológicos e procedimentos específicos. Estas devem ser realizadas e devem ser atribuídas à fase definitiva antes de qualquer terapia é administrada. O estádio clínico nunca deve ser alterada com base nas conclusões posteriores. Quando é duvidoso que a fase um caso particular, deverá ser colocado, o caso deve ser atribuído à etapa anterior. De acordo com a FIGO, o crescimento fixo à parede pélvica por um curto e indurável, mas não nodular, parametrium deve ser atribuído à fase IIb. O caso deve ser classificado como estágio III se o parametrium é nodulares à parede pélvica ou se o próprio crescimento estende-se a parede pélvica. Nas suas regras de estadiamento clínico, FIGO afirma que palpação, inspeção, colposcopia, curetagem endocervical, histeroscopia, 24 cistoscopia, proctoscopy, intravenous urography e exame radiográfico dos pulmões e no esqueleto pode ser usado para estadiamento clínico. Suspeita de bexiga ou retal participação deve ser confirmada por biópsia. Apreciação do bolhosas edema ou células malignas na citologia lavagem da bexiga não são suficientes para diagnosticar envolvimento de bexiga. A FIGO especificamente afirma que as conclusões sobre exames, tais como linfangiografia, laparoscopia, tomografia computadorizada, ressonância magnética e são de valor para o planejamento da terapia "porque estes ainda não estão geralmente disponíveis e à interpretação dos resultados é variável" não deve ser a base para mudar o estádio clínico. Exame sob anestesia é desejável, mas não exigida. As regras e as notas descritas no estadiamento FIGO sistema são partes integrantes do sistema de estadiamento clínico e devem ser rigorosamente observadas, para minimizar inconsistências no estadiamento entre instituições. Embora a maioria dos clínicos FIGO utilizar o sistema de classificação, um número de grupos europeus utilizam um sistema de estadiamento que divide estádio IIB tumores, de acordo com o grau de envolvimento e parametrial divide fase III, de acordo com tumores se existe é unilateral ou bilateral parede pélvica fixação. Embora pacientes tratados cirurgicamente por vezes são classificados de acordo com um sistema de estadiamento TNM patológico, esta prática não tem sido amplamente aceita porque não pode ser aplicada aos pacientes que são tratados com primário radiotherapy.8 3.4.1.7 TRATAMENTO Como a freqüência de linfonodos comprometidos nesse estágio é cerca de 1%, a linfadenectomia não é obrigatória.8 - Colonização clássica ou laser: no caso de mulheres que optam por manter a fertilidade. Se a peça cirúrgica apresentar margens livres, sem invasão vascular ou linfática, o tratamento é definitivo. - Histerectomia simples: tratamento padrão para este estádio. Em pacientes jovens, a ooforectomia deve ser evitada. - Radioterapia: reservada a pacientes com co-morbidades clínicas que inviabilizem o tratamento cirúrgico. Estádios IA2 e IB1 O tratamento cirúrgico exclusivo é o mais adequado para essas pacientes, especialmente para as que estão na menacme, devendo a radioterapia ser reservada às pacientes com doenças associadas que contra-indiquem o tratamento cirúrgico.8 Histerectomia total ampliada 25 Histerectomia total, parametrectomia e colpectomia dos terços superiores da vagina associadas à linfadenectomia pélvica. Caso a parametrectomia seja realizada ao nível da origem da artéria uterina, a cirurgia é então classificada como nível III de Piver, caso a parametrectomia ocorra na altura do cruzamento entre vasos uterinos e ureter é definidida com nível II de Piver. A ooforectomia pode ser evitada em pacientes na pré-menopausa. Pacientes com prolapso genital podem beneficiar-se da histerectomia radical vaginal (Schauta) com linfadenectomia extraperitoneal ou laparoscópica.8 Radioterapia Exclusiva Restrita a pacientes sem condições clínicas para cirurgia devido a co-morbidades.8 A radioterapia adjuvante deve ser indicada nos casos em que há comprometimento linfonodasl, margens comprometidas, paramétrio com doença residual e quando houver invasão vascular e/ou linfática.8 Estádios IB2 A radioterapia complementar deve ser indicada em caso de margens cirúrgicas comprometidas, linfonodos comprometidos ou invasão microscópica parametrial.8 Radioterapia exclusiva Para pacientes sem condição clínicas para cirurgia devido a co-morbidades. Pacientes com tumores de grande volume podem beneficiar-se d quimioterapia neoadjuvante, seguida de histerectomia total ampliada, com índices de resposta ao tratamento semelhantes aos de pacientes submetidos diretamente ao tratamento cirúrgico.8 Estádios IIB, IIIA, IIIB, IVA - Radioterapia e quimioterapia exclusica - Quimioterapia neoadjuvante seguida de radioterapia e/ou cirurgia -Exenteração pélvica (esvaziamento pélvico) reservada aos tumores recidivados após os tratamentos padronizados anteriores, sem doença extrapélvica e/ou extensão à parede óssea. Frequentemente, esses casos apresentam comprometimento de órgão adjacente (bexiga ou reto).8 O seguimento das pacientes deve ser rígido nos dois primeiros anos após o tratamento, comseguimentos a cada três a quatro meses com citologia oncótica e exames radiológicos. É nesse período que se detecta a grande maioria das recidivas (85%). Após os dois primeiros anos, as consultas devem ser realizadas com intervalos de 6 meses até completar-se cinco anos do 26 tratamento. Após cinco anos sem evidência de doença, o seguimento poderá ser realizado anualmente.8 Histerectomia 3.4.2.0 Corpo o útero 3.4.2.1 MIOMÉTRIO Os tumores mesenquimais representam 10% das neoplasias do útero. Os possíveis sarcomas são o sarcoma endometrial, leiomiossarcoma e os sarcomas de tecidos não específicos (acometendo tecido fibroso, vasos, linfáticos). Pode haver mistura com carcinoma, formando os carcinosarcomas, sendo o mais comum com o sarcoma endometrial. Adenocarcinoma é raro.11 3.4.2.1.1Manifestações clínicas Os sarcomas apresentam características grosseiras com áreas de necrose e hemorragia. Geralmente acomete o fundo uterino. Se acomete o endométrio, é comum o aparecimento de sangramentos anormais. Pólipos podem obstruir o canal cervical ou pode ser visto através da vagina, comum nos carcinosarcomas. Logo que o tumor acomete a serosa, se espalha rapidamente acometendo órgãos adjacentes, comum no leiomiossarcoma. 11 As pacientes apresentam sintomas de expansão de massa na pelve, como dor, pressão, aumento da freqüência urinária, ou acometimento dos órgãos adjacentes, como hematuria, tenesmo, sangramento retal, obstipação e fístula. 11 Os cânceres uterinos têm maior propensão a disseminação hematogênica. Metástase pulmonar é freqüentemente observado, assim como hepática, óssea e no sistema nervoso central. 11 3.4.2.1.2Tratamento O tratamento da paciente com leiomioma do útero precisa ser analisado com base na idade, sintomas, achados físicos e laboratoriais, estado hormonal, doenças concomitantes e desejo reprodutivo. Como não há técnica isenta de riscos ou complicações, não indicamos tratamento guiados apenas pelo tamanho do tumor em pacientes assintomáticas.Nessas, a conduta expectante é a opção, uma vez que a morbidade em cirurgias uterinas por indicações benignas é maior que a presença de malignidade em úteros removidos por provável leiomioma (0,29%), considerando-se ainda que os casos de leiomiossarcoma concentram-se de maneira marcante na pós-menopausa. Além disso, faltam evidências consistentes de que a presença de útero aumentado possa 27 comprometer estruturas vizinhas na ausência de sintomas, e de que o risco cirúrgico aumente nos casos em que o tratamento é postergado até que os sintomas justifiquem a intervenção. São candidatas a tratamento as pacientes com mioma uterino sintomático, com sangramento uterino anormal, dor pélvica e/ou sintomas compressivos ou de peso. Beneficiam-se, também, de tratamento conservador (miomectomia) as pacientes com história de infertilidade ou de complicações gestacionais devido ao mioma, assim como aquelas que farão uso de técnicas de reprodução assistida, quando há distorção da cavidade uterina ou nódulos intramurais maiores que 5 cm, melhorando as chances de implantação ovular. 12 Histerectomia é aconselhada para os tumors de utero, principalmente os leiomiossarcomas e as massas pelvicas. A cirurgia geralmente é extensa devido ao prognóstico não ser muito bom. Porém, há casos não são cirúrgicos. Pacientes com acomentimento pelvic muito extenso ou com massa que não é ressecável não devem ser submetidas a procedimentos cirúrgico de alto risco. Cirurgias paliativas, como em fistulas, aumentam a sobrevida de pacientes graves, porém deve-se avaliar a condição do paciente. O uso de radioterapia é controverso. 11 O tratamento clínico visa o controle dos sintomas. Antiinflamatórios nãohormonais, utilizados no período perimenstrual, inibem a síntese de prostaciclinas e podem controlar distúrbios de sangramento leves e dismenorréia. Anti-fibrinolíticos atuam na hemostasia endometrial e ajudam no controle de episódios hemorrágicos. Contraceptivos hormonais combinados reduzem o fluxo menstrual e as cólicas. Progestágenos, utilizados na fase lútea, ajudam na regularização do ciclo. DIU com progestágenos são uma alternativa para diminuição do sangramento naquelas sem irregularidades importantes da cavidade uterina. Análogos agonistas do GnRH (a-GnRH), como gosserrelina, triptorrelina e leuprorrelina, podem reduzir em até 50% o volume do útero e dos leiomiomas, com bons resultados entre 8 a 12 semanas de tratamento, levando à suspensão temporária da menstruação. Além disso, melhoram sintomas álgicos, polaciúria, urgência miccional e noctúria. Os eventos adversos relacionam-se ao hipoestrogenismo e são: instabilidade vasomotora, sudorese, cefaléia, labilidade emocional e também secura vaginal, queda da libido e diminuição da densidade mineral óssea, caso o tratamento prolongue-se por 6 meses ou mais, daí a limitação do seu uso por tempo indeterminado. Devem ser utilizados no pré-operatório de casos selecionados de miomas grandes, presentes em locais com maior risco de complicação cirúrgica (submucosos, próximos a pedículos vasculares ou intraligamentares) e em pacientes anêmicas, na associação com suplementação de ferro. Lembramos que os leiomiomas, bem como os sintomas, retornam aos patamares iniciais após a suspensão da medicação e, por isso, os a-GnRH não são indicados como tratamento isolado.12 3.4.2.2 ENDOMÉTRIO 28 3.4.2.2.1 Manifestações clínicas e diagnóstico Para mulheres com sangramento após menopausa, o diagnóstico de câncer de endométrio ou de lesões precursoras deve ser afastado; por outro lado, naquelas na menacme com sangramento uterino disfuncional (SUD) o endométrio deve ser obrigatoriamente estudado, antes de se iniciar qualquer terapêutica, pois não raramente pode-se tratar de um carcinoma endometrial ou de uma lesão precursora. Nessas mulheres a anamnese, o exame clínico e a determinação sérica da glicose são imprescindíveis, pois é comum a associação entre câncer de endométrio, diabetes, hipertensão arterial e obesidade. Cuidadosa investigação do peso também deve ser incluída, destacando o sobrepeso e a obesidade mórbida, pois é cada vez mais freqüente o número de casos de câncer de endométrio nessas mulheres. 13 Em relação às mulheres após a menopausa há um consenso quanto ao primeiro exame que deve ser solicitado: a ultra-sonografia, de preferência a transvaginal para mensurar a espessura endometrial (dupla camada); se esta for menor de 5 mm, afasta-se praticamente o câncer endometrial. O outro exame, também ambulatorial é a aspiração do endométrio com cânula tipo Pipelle, que de acordo com a Associação Norte-americana de Câncer é capaz de diagnosticar 99% das lesões. Este exame é o mais indicado para as mulheres com SUD em idade reprodutiva. 13 3.4.2.2.2 Fator de risco e etiopatogenia Cerca de 80% de todos os casos são adenocarcinomas de padrão endometrióide cuja relação com hiperplasia endometrial prévia é bem estabelecida, e há também os cânceres sem relação a exposição hormonal, como o carcinoma intraepitelial. Este ultimo está relacionado com a mutação do gene p53.12 Os principais fatores de risco relacionados à hiperplasia endometrial e progressão para o câncer estão relacionados à hiperestimulação do endométrio pela exposição crônica aos altos níveis circulantes de estrógenos, sem oposição de efeitos antiproliferativos da progesterona. Estes incluem obesidade, dieta hiperlipídica e sedentarismo sendo que a conversão periférica no tecido adiposo de androgênios em estrógenos parece ser o principal mecanismo relacionado. A história reprodutiva é também importante visto que mulheres nuligestas, que não sofreram efeitos de longos períodos de produção de progesterona pela placenta, também têm risco elevado.14 A obesidade é um importante fator de risco para o câncer endometrial, em decorrência da conversão de testosterona em estrona no tecido adiposo, levando a um maior estímulo endometrial. A incidência mundial do câncer de endométrio está em franca ascensão; de fato, estudos 29 epidemiológicos desvelam que mais de 40% dos casos são atribuídos ao excesso de peso, acometendo 80% das mulheres no estágio da pós-menopausa, na idade entre 50 e 60 anos. A prevalência do câncer endometrial, em mulheres com obesidade abdominal, mostra-se aumentada nas portadoras de hipertensão arterial sistêmica (HAS), sendo ainda maior após a menopausa, efeito que é diretamente dependente da elevação do IMC.14 Na obesidade abdominal os adipócitos são metabolicamente mais ativos e os ácidos graxos resultantes de sua lipólise migram para o fígado, ocupando os receptores de insulina e resultando em hiperinsulinemia; esta, em altas concentrações, liga-se aos receptores de IGF-I, elevando a produção de androgênios, que somada com a redução do SHBG, ocasionada pela obesidade, provoca aumento na biodisponibilidade dos estrogênios, principalmente da estrona15. No endométrio este incremento do IGF-I representa também um possível fator de proliferação local, podendo acarretar em hiperplasia e câncer do endométrio.14 O uso de hormônios para aliviar a sintomatologia relacionada à menopausa é amplamente praticado em todo mundo, e potenciais efeitos adversos são de grande interesse para Saúde Pública devido ao potencial impacto numa grande população exposta. Nas últimas três décadas, a principal questão relacionada à terapia de reposição hormonal (TRH) foi o risco de câncer do endométrio. Entre 1962 e 1973, o mercado farmacêutico norte-americano quadruplicou as vendas de estrógenos usados para reposição hormonal, num período que coincidiu com o aumento do espectro de indicações para o uso de estrógenos após a menopausa e o aumento da incidência de carcinoma do endométrio nesta faixa etária. Ao mesmo tempo, diversas evidências experimentais e epidemiológicas relacionavam os estrógenos ao desenvolvimento do câncer endometrial. Desta forma, foi de grande impacto a publicação no mesmo fascículo de dezembro de 1975, no conceituado periódico New England Journal of Medicine, de dois estudos caso-controle que avaliavam a hipótese de que o aumento na incidência do carcinoma do endométrio estava relacionado ao aumento do uso da terapia de reposição hormonal.16 O achado de que a TRH aumenta o risco de câncer de endométrio apenas em mulheres não obesas foi posteriormente confirmado por grandes estudos prospectivos 17 . A explicação mais plausível para tal observação é que mulheres obesas já apresentam níveis de estrógenos endógenos tão altos – e suficientes para carcinogênese – que a influência de estrógenos exógenos é pequena. No início da década de 90, alguns estudos já haviam comprovado o efeito antiproliferativo e de diferenciação glandular da progesterona sobre o endométrio quando utilizada seqüencialmente 30 com estrógenos. A TRH chegou ao ano 2000 com algumas certezas, que incluíam o efeito protetor da combinação com progestínicos sobre o endométrio, e várias dúvidas referentes a até que ponto benefícios e efeitos adversos podiam ser quantificados para guiar a decisão de usar ou não usar cada esquema. Num grande estudo denominado WHI (Women Health Iniatiative), foi desenhado um ensaio clínico controlado randomizado com mais de 160 mil mulheres entre 50 e 79 anos acompanhadas entre 1993 e 1998. O estudo foi interrompido precocemente com 5,2 anos de média de seguimento porque os efeitos deletérios da TRH combinada superaram seus benefícios.15 Esta observação seguiu-se ao relato prévio de que a TRH combinada aumenta o risco de eventos cardiovasculares em mulheres com cardiopatia prévia. Períodos de anovulação, prevalente em menarca tardia e menopausa precoce são fatores protetores. Isso se deve a redução a exposição ao estrógeno. Há uma relação entre o tratamento prolongado de tamoxafeno para terapia de cancer de mama e o desenvolvimento de cancer endometrial. Assim, essa terapia deve se restringir a 5 anos. 12 3.4.2.2.3 Diagnóstico Deve-se considerar o fato da paciente estar na pós-menopausa com sangramento vaginal ou sangramento prolongado em pacientes na perimenopausa. Obesidade é um fator relevante. Curetagem e biópsia tem sido os padrões de diagnóstico. O papanicolaou pode aparecer negativo, em 50% dos casos. Pode-se realizar ultrassonografia e tomografia computadorizada. Há casos de pacientes assintomáticas.12 3.4.2.2.4 Prognóstico e estadiamento O prognóstico da doença é determinado principalmente pelo seu estadiamento e a sobrevida em cinco anos é estimada em 85% para o estágio I (restrito ao corpo uterino), 75% para o estágio II (extensão para o colo), 45% para o estágio III (extensão para outras estruturas pélvicas) e 25% para o estágio IV (invasão da mucosa vesical ou colônica, ou metástases extra-pélvicas)13. O estadiamento clínico encontra-se na tabela 5, de acordo com FIGO. Tabela 5. Estadiamento clínico do corpo do útero 31 Estágio Descrição I Tumor restrito ao fundo uterino. IA Cavidade uterina medindo menos de 8 cm. IB Comprimento da cavidade uterina maior de 8 cm. II O tumor excede o cérvix uterino. III O tumor se espalhou para órgãos pélvicos adjacentes. IV Volumosa massa na pelve ou a distancia. IVA Tumor invade a mucosa da bexiga ou o retossigmoide. IVB Metástase a distancia. Não há duvida de que a histerectomia total é a terapêutica de eleição e a extensão da cirurgia dependerá do estadiamento da doença (tabela 6). Entretanto, é crescente o número de casos de mulheres com câncer de endométrio em idade reprodutiva que desejam conservar seu potencial reprodutivo ou de mulheres com contra-indicações para a cirurgia. Nestas situações duas opções emergem como importantes alternativas: a inserção de um sistema intra-uterino liberador de levonorgestrel (Mirena) ou a utilização do acetato de medroxiprogesterona em altas doses. 13 Tabela 6. Estadiamento cirúrgico dos tumores de corpo uterino, segundo FIGO Estágio Descrição I Tumor restrito ao fundo uterino. IA Tumor limitado no endométrio. IB Tumor invade menos da metade da espessura do miométrio. IC Tumor invade mais da metade da espessura do miométrio. II Tumor se extende ao cervix. IIA Extensão cervical limitada as glandulas endocervicais. IIB Tumor invade o estroma cervical. III Acometimento regional. IIIA Tumor invade a serosa ou citologia peritoneal positiva. IIIB Metástase vaginal. IIIC Tumor acometeu a pelve ou linfonodos para-aórticos. IV Volumosa massa na pelve ou a distancia. IVA Tumor invade a mucosa da bexiga ou retossigmoide IVB Metástase a distancia 3.4.2.2.5 Tratamento 32 O tratamento padrão consiste, inicialmente, na ressecção cirúrgica, com histerectomia total abdominal associada a salpingo-ooforectomia bilateral (HTA + SOB) e linfadenectomia seletiva. Nos estádios cirúrgicos mais avançados, por exemplo, FIGO IC (invasão de mais de 50% da parede miometrial) ou superior, e em pacientes com fatores adversos para a recidiva preconiza-se também o tratamento adjuvante sob a forma de radioterapia de feixe externo (RT) e/ou braquiterapia de fundo vaginal. Ainda há discussão, na literatura, acerca da melhor forma de adjuvância para o câncer de endométrio, e em alguns centros essas pacientes podem ser tratadas com o uso de RT ou braquiterapia de fundo vaginal exclusivas, ou mesmo com RT abdominal total, RT de região paraaórtica, ou com a adição de quimioterapia (QT), notadamente, para os casos de estádios mais avançados(5–9). 11 No Brasil, no início dos anos 90, a introdução do uso de braquiterapia de alta taxa de dose (BATD) proporcionou nova perspectiva no uso de radiações para o tratamento adjuvante do câncer ginecológico. Comparada à braquiterapia de baixa taxa de dose, a BATD tem eficácia semelhante, mas com maior segurança, proteção radiológica e comodidade para o tratamento(10). 11 A radioterapia tem sido discutida nos estágios I e II. Em IA e IB, muitos dos pacientes não são irradiados, por serem considerados de baixo risco. Porém alguns pacientes realizam braquiterapia, nesses estágios, enquanto que todos nos IC realizam após a cirurgia. No estágio II, os pacientes são submetidos a radio e a braquiterapia. Os estágios III e IV são indicativos de radioterapia, e dependendo da extensão, aconselha-se a irradiar o abdome todo. Há caso de terapia adjuvante com quimioterapia e terapia hormonal também.12 A quimioterapia deve ser considerada para pacientes com avançada evolução da doença que não são propícios a radioterapia e a cirurgia. Os agentes são platinum, doxorubicin, paclitaxel, fluorouracil, ciclofosfamida e isofosfamida. Combinação de drogas, como da cisplatin e doxorubicin é melhor do que a monoterapia de doxorubicin em pacientes na fase III. 12 Hormônio terapia pode ser usado apesar de ainda haver controvérsias. Usa-se hidroxiprogesterona, megestrol, tamoxifeno sozinho ou combinado com medroxiprogesterona. 12 3.5 Tuba uterina 3.5.1ANATOMIA A tuba uterina é um tubo par que se implanta de cada lado dos ângulos supero laterais do útero. Esse tubo é irregular quanto ao calibre, apresentando aproximadamente 10cm de 33 comprimento. Ele vai se dilatando á medida que se afasta do útero, abrindo-se distalmente por um verdadeiro funil de borda franjada. 18 Pode-se identificar as regiões: intramural é o segmento que se situa na parede uterina, a região ístmica que se situa logo após a intramural, a região ampolar é a porção dilatada onde normalmente ocorre à fecundação e o infundíbulo que é comparado a um funil com seu rebordo irregular que se assemelha a franjas e são chamadas de fímbrias. A parte uterina é a porção intramural, isto é, constitui o segmento do tubo que se situa na parede do útero. No início desta porção da tuba, encontramos um orifício denominado óstio uterino da tuba, que estabelece sua comunicação com a cavidade uterina. A istmo é a porção menos calibrosa, situada junto ao útero, enquanto a ampola é a dilatação que se segue ao istmo. A ampola é considerada o local onde normalmente se processa a fecundação do óvulo pelo espermatozóide. A porção mais distal da tuba é o infundíbulo, que pode ser comparado a um funil cuja boca apresenta um rebordo muito irregular, tomando o aspecto de franjas. Essas franjas têm o nome de fímbrias da tuba e das quais uma se destaca por ser mais longa, denominada fimbria ovárica. O infundíbulo abrese livremente na cavidade do peritoneo por intermédio de um forame conhecido por óstio abdominal da tuba uterina. A parte horizontal seria representada pelo istmo e a vertical pela ampola e infundibulo. Comumente o infundíbulo se ajusta sobre o ovário, e as fimbrias poderiam ser comparadas grosseiramente aos dedos de uma mão que segurasse por cima, uma laranja. 18 Estruturalmente a tuba uterina é constituída por quatro camadas concêntricas de tecidos que são, da periferia para a profundidade, a túnica serosa, tela subserosa, túnica muscular e túnica mucosa. A túnica muscular, representada por fibras musculares lisas, permite movimentos peristálticos à tuba, auxiliando a migração do óvulo em direção ao útero. A túnica mucosa é formada por células ciliadas e apresenta numerosas pregas paralelas longitudinais, denominadas pregas tubais. A tuba possui duas funções: transportar o óvulo do ovário ao útero; local onde ocorre a fertilização do óvulo pelo espermatozóide.3 3.5.2 TIPOS DE CÂNCERES DA TUBA UTERINA Cancer na tuba uterina é uma doença rara, com poucos casos relatados. A maioria dos carcinomas é adenocarcinoma seroso papilar, crescendo em direção a luz da tuba. Pode aparecer também histologia milleriana, como tumores endometrioides. Raramente o acometimento é bilateral. 19 3.5.3 MANIFESTAÇÃO CLINICA E DIAGNOSTICA 34 A maioria dos pacientes são diagnosticados com doenças restritas às tubas e a estruturas pélvicas. No entanto, esse tumor tende a acometer os linfonodos retroperitoniais, e assim se disseminar. 19 Sangramento vaginal pós-menopausa chama a atenção para esse tipo de câncer. Cólica abdominal aliviada por corrimento vaginal profuso amarelado intermitente ocorre na minoria dos casos, porem dor intermitente abdominal e leucorréia são sintomas comuns. A distensão da tuba produz dor mais intensa do que as relatadas por pacientes com câncer de ovário. 19 Ocasionalmente, o borrão do Papanicolaou revelando células glandulares anormais com negatividade para achados cervicais e endometriais pode diagnosticar câncer de tuba. 19 3.5.4 FATOR GENÉTICO Há alta freqüência de pacientes com mutação dos genes BRCA 1 e BRCA 2. A diferenciação de câncer de tuba com metástase de câncer de ovário é difícil. Assim, para chegar a um diagnóstico de câncer de tuba, é necessário evidencia histológica da transição de carcinoma in situs e invasão maligna com o epitélio da própria tuba. Quando não se sabe se o tumor primário é de ovário ou de tuba uterina, chama-se o tumor de tubo-ovariano. 19 3.5.5 PROGNÓSTICO A sobrevida depende da invasão da primeira lesão. Para lesão de mucosa, a sobrevida de 5 anos é de 91%, comparado com 53% dos tumores que invadem a muscular e menos de 25% que atingem a serosa. Diferenciação histológica e envolvimento linfático tem significado no prognostico. 19 3.5.6 TRATAMENTO A abordagem cirúrgica e o estadiamento são os mesmos do câncer epitelial de ovário. É usado a combinação de quimioterapia com paclitaxel e carboplatin quando o carcinoma se espalhou pela tuba. Mesmo com a doença restrita à tuba, é indicada a terapia adjuvante devido a invasão da parede muscular, extensão a serosa e alterações histológicas. 19 3.6 Ovários 3.6.1 Anatomia e fisiologia 35 O ovário, de aproximadamente 3cm de comprimento, 2cm de largura e 1,5cm de espessura, está situado por trás do ligamento largo do útero preso pelo mesovário e logo abaixo das tubas. Apresenta um pólo tubal, e outro uterino. Podemos observar uma face lateral e outra medial, sua borda anterior está presa à face posterior do ligamento largo ao passo que sua borda posterior é livre. Em virtude do terço distal da tuba uterina normalmente estar voltada para baixo, o ovário toma uma posição vertical, com uma extremidade dirigida para cima e outra para baixo. O ovário se prende ao útero através do ligamento próprio do ovário ou útero ovariano e se fixa à parede pélvica pelo ligamento suspensor do ovário. A borda mesóvarica representa o hilo do ovário onde entram e saem os vasos ováricos. O ligamento suspensor do ovário estende-se da fáscia do músculo psoas maior à extremidade tubal do ovário, enquanto o ligamento próprio do ovário vai de sua extremidade uterina à borda lateral do útero, logo abaixo da implantação da base da tuba uterina. E percorrendo o ligamento suspensor do ovário que a artéria e a veia ovárica irrigam esse órgão.Ilustrado na figura 1. 18 Figura 1. Anatomia dos órgãos genitais femininos. Antes da primeira ovulação (expulsão do óvulo pela superfície do ovário), apresentam-se lisos e rosados, mas após isso, tornam-se branco-acinzentados e rugosos; isso ocorre decorrente das cicatrizes deixadas pelas consecutivas ovulações. Os ovários também tendem a diminuir de tamanho na fase senil.18 Apesar de alguns folículos poderem iniciar o seu desenvolvimento esporadicamente durante a vida fetal e neonatal, é só após a puberdade que se inicia o recrutamento regular dos folículos primordiais para integrarem o grupo de folículos em crescimento. Deste modo, apenas alguns folículos iniciam o seu crescimento em cada dia, formando um contínuo de folículos em crescimento.3 O crescimento do ovócito é de 20-30 mm para 100-130mm. Há aumento da síntese de RNA e protéica, com formação de uma camada de glicoproteínas que envolve o ovócito, chamada de zona pelúcida. Ocorre então crescimento e proliferação das o células da granulosa, com formação de uma rede de ligações gap entre as células da granulosa e o ovócito. A condensação das células do estroma ovárico forma a camada teca, que, sob ação hormonal, se desenvolve, dividindo-se em teca interna, 36 que é muito vascularizada, e teca externa, de natureza fibrosa.Há a formação de um fluido viscoso constituído por mucopolissacáridos, que é excretados pelas células da granulosa e outros componentes provenientes do plasma sanguíneo, sendo chamado de fluído folicular. As células da granulosa se diferenciam em cumulus oophorus, envolvendo o ovócito e as células da granulosa murais localizadas perto da membrana do folículo. 3 Parte dos folículos primários vão para a ovulação, porém outra parte sofre atresia, levando a morte do ovócito. Isso é comprovado pelo fato de um recém-nascido apresentar um milhão de folículos e quando chega na puberdade, apresenta 500 mil folículos, e apenas 400 folículos chegam a ovular.3 A ovulação ocorre devido a células ovarianas e foliculares da zona do estigma (zona transparente que se forma na superfície ovariana) aumentarem de volume graças a presença de vesículas contendo proteases, assim as células degeneram, as proteases liberadas nos espaços extracelulares desintegram os elementos conjuntivos. Em virtude do progressivo estiramento, em dado momento, o estigma se rompe. Nesse momento, as gonadotrofinas ativam o plasminogênio que se transforma em plasmina, que atuaria na dissolução da parede, e ocorre aumento da contratilidade ovariana.3 Após a ovulação, a fase lútea normal exige desenvolvimento folicular pré-ovulatório ótimo e estimulação tônica contínua pelo LH. Para então ocorrer intensa proliferação celular e vascularização crescente. A progesterona atua centralmente e dentro do ovário para suprimir novo crescimento folicular. O corpo lúteo dura aproximadamente 14 dias, sua regressão parece envolver a ação luteolítica de sua própria produção de estrógeno mediada por alteração local de prostaglandina . Ocorre a perda de função e morte celular, a fim de permitir o desenvolvimento folicular do próximo ciclo.3 Crescimento folicular é contínuo até o momento em que se torna dependente de suporte externo hormonal (gonadotrofinas FSH e LH). Os hormônios pertencem ao eixo hipotálamo-hipófiseovário, sendo o GnRh o neuro-hormônio liberador de gonadotrofinas que provém do hipotálamo, o FSH (hormônio folículo estimulante) e o LH (hormônio luteinizante) originais da hipófise, e o estrogênio e a progesterona produzidos no ovário, como exposto na figura 2. 20 Figura 2. Níveis hormonais no ciclo menstrual 37 O FSH estimula o desenvolvimento e crescimento dos folículos, a produção de estógenos pelos mesmos e maturação dos ovócitos. O LH estimula a produção de andrógenos pelo folículo nas células da teça, causa a ovulação e liberação do ovócito pelo folículo, estimula a formação do corpo lúteo (luteinização das células granulosas da teça), e estimula a produção de progesterona pelo mesmo. Ilustrado na figura3. 20 Figura 3. Secreção e ação dos hormônios sexuais femininos 38 3.6.2 Fatores de risco e etiologia A Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica os tumores epiteliais ovarianos, por serem os mais freqüentes, em nove grupos (tabela 7) que podem ser sub-classificados, de acordo com o padrão de crescimento, em císticos, sólidos, papilíferos, entre outros; quanto à quantidade de estroma fibroso no tumor; e quanto ao comportamento biológico, conforme o grau de atipias e invasibilidade, em benignos, malignos e boderlines, sendo que os últimos possuem comportamento biológico intermediário13. Por sua prevalência e seu desenvolvimento silencioso, torna-se importante discorrer sobre a patogênese da neoplasia maligna epitelial de ovário, a menos clara entre os tumores genitais femininos14, que se não detectada precocemente produz elevada mortalidade, apesar dos avanços no manejo da doença avançada. 21 Tabela 7. Classificação histológica dos tumores epiteliais de superfície ovariana I Classificação histológica Sub classificação Seroso Cistoadenoma seroso (benigno); tumor boderline (de malignidade limítrofe); cistoadenocarcinoma seroso (maligno); adenofibroma seroso; cistoadenofibroma seroso. II Mucinoso Cistoadenoma mucinoso (benigno); tumor boderline (de malignidade limítrofe); cistoadenocarcinoma mucinoso (maligno); adenofibroma mucinoso. III Endometrióides Benignos; de malignidade limítrofe; malignos. IV Células Claras Benignos; de malignidade limítrofe; malignos. V Células Transicionais Tumor de Brenner; tumor de Brenner (malignidade limítrofe); tumor de Brenner maligno; carcinoma de células de transição (tipo não-Brenner). VI Células escamosas Benignos; intermediários; carcinoma de células escamosas. VII Tumores epiteliais mistos Tumor mülleriano; adenossarcoma. VIII Tumores indiferenciados e Tumores malignos de estrutura epitelial. não-classificados IX Outros Carcinoma adenóide-cístico; carcinoma basalóide. Fatores hormonais, ambientais e genéticos estão relacionados com o aparecimento do câncer de ovário. Cerca de 90% dos cânceres de ovário são esporádicos, isto é, não apresentam fator 39 de risco reconhecido. Cerca de 10% dos cânceres de ovário apresentam um componente genético ou familiar. História familiar é o fator de risco isolado mais importante.22 Em 1971, Fathalla propôs que podem ocorrer alterações genéticas na superfície epitelial do ovário em resposta a uma incessante ovulação, por microtraumas e injúrias de repetição. Ele teorizou ainda a possibilidade de ativação de mitoses celulares sucessivas, que podem desencadear mutagênese e, por conseguinte, carcinogênese. Em 1978, Zajicak sugeriu que a inclusão cística epitelial na superfície do ovário pode ser fonte de neoplasia, uma vez que há uma relação modesta entre o número de cistos germinativos de inclusão e idade ovulatória, fornecendo evidências que estes podem ser causados durante período ovulatório ou pelo menos associados a ele23. Casagrande, em 1979 relacionou o risco de desenvolver carcinoma de ovário e o número de ovulações, entre menarca e menopausa, com o risco de desenvolvimento dessa neoplasia. Conforme esta proposta, os períodos de anovulação são considerados fatores de proteção. Deve-se lembrar ainda que o tecido ovariano é responsivo a gonadotrofinas e, portanto, um estado hipergonadotrófico é fator contribuinte para desenvolvimento de carcinoma de ovário. Cramer e Welch, em 1983, sintetizaram essas teorias em um modelo no qual inclusões císticas epiteliais recebem estimulações de altas taxas de gonadotrofinas e seus efeitos diretos e indiretos na esteroidogênese induzem carcinoma.24 Segundo essas teorias, quanto maior for o período de permanência em anovulação em uma mulher, maior será a proteção do epitélio ovariano a processos carcinogênicos. Os períodos de anovulação correspondem a situações como gravidez, uso de anticoncepcionais hormonais orais (ACHO), amamentação, pequeno período menstrual na vida reprodutiva, como menarca tardia e menopausa precoce. Há conclusões que para períodos de anovulação, independente da idade, superior ou inferior a 55 anos, os principais contribuintes para que o risco de carcinoma epitelial ovariano diminua são gravidez a termo, uso de ACHO e amamentação. Embora não tenham encontrado grande impacto sobre esse risco, em relação à menarca tardia e menopausa precoce, observaram que a ação protetora da anovulação em tecido epitelial ovariano é mais notória por períodos consecutivos mais prolongados do que em ciclos intermitentes durante a vida reprodutiva. Observou-se também que o tempo de ovulação está envolvido na patogênese carcinogênica em mulheres em pré-menopausa, mas não naqueles carcinomas ovarianos encontrados na pósmenopausa25. Além de que carcinomas ovarianos do tipo não-mucinoso estão mais relacionados com período menstrual e ciclos ovulatórios do que com os carcinomas mucinosos26. No entanto, um estudo maior, evidenciou que o uso de ACHO, paridade, amamentação, ligação tubária, histerectomia, idade na menarca e menopausa, e história familiar positiva para carcinoma ovariano 40 não determinaram diferenças nos subtipos histopatológicos nos carcinomas malignos diagnosticados.24 Sabe-se que concomitante à gestação ocorrem anovulação e supressão pituitária e, logo, há diminuição no risco carcinogênico sobre epitélio ovariano. Assim, teoricamente, cada gestação adicional a termo está associada com diminuição de risco de carcinoma epitelial ovariano invasivo e carcinoma de baixo potencial maligno ou boderlines. A primeira gestação a termo reduz em aproximadamente 40% o risco desse tipo de câncer, no entanto os dados sugerem que cada gestação adicional à primeira confere uma diminuição de no risco para carcinoma invasivo epitelial de ovário. Percebe-se, então, que a magnitude protetora da primeira gestação é maior do que as demais. Gestações não levadas a termo não protegem contra o carcinoma como aquelas que são levadas. 24 O efeito da idade durante a primeira gestação sobre o risco de carcinoma de ovário epitelial desapareceu quando corrigido em relação ao número de gestações. No entanto, quanto mais tarde a mulher gestar, maior é a magnitude protetora dessa gravidez. Em relação à infertilidade, vários estudos têm indicado que ela é um fator independente para o risco de câncer de ovário, separadamente do efeito de nuliparidade. Joly et al. concluíram que mulheres que desenvolveram câncer de ovário tinham um estado gonadal que facilitava tanto o desenvolvimento da neoplasia quanto a baixa fertilidade. Nasca et al. definiram que os fatores determinantes da infertilidade são importantes para correlacionar baixa paridade, gravidez e risco aumentado de câncer de ovário. Esses estudos sugerem que fatores que culminam em alterações de fertilidade exercem função importante no desenvolvimento de câncer de ovário, tipo epitelial.24 Segundo as mesmas teorias, mulheres que começam a menstruar precocemente e têm sua menopausa tardiamente são mais propensas ao carcinoma de ovário. Esse risco aumenta naquelas cuja menarca precede aos dez anos de idade. Na rotina, observa-se que a menopausa precoce interfere pouco sobre o risco da carcinogênese, uma vez que durante o período de climatério ocorrem ciclos ovulatórios esporádicos, diminuindo o impacto sobre o fator anovulação e, assim, observa-se que idade avançada na menopausa é fracamente associada ao aumento do risco de câncer de ovário tipo epitelial.27 Quanto ao uso de drogas indutoras de ovulação, que agem elevando os níveis de FSH, os estudos confirmam e nos orientam sobre seu envolvimento na patogênese de tumores boderlines de ovário, quando administradas por tempo superior a 12 meses, sendo esses considerados pela OMS primários às neoplasias epiteliais.24 O estrogênio das pílulas anticoncepcionais é capaz de suprimir a ovulação e reduzir a secreção de gonadotrofinas pela pituitária e, assim, pode-se diminuir o risco de câncer de ovário, tipo epitelial. Riman et al. demonstraram aumento no risco de câncer de ovário quando comparadas mulheres usuárias e não usuárias de terapia de reposição hormonal (TRH), sendo o aumento no risco 41 proporcional ao tempo de uso. Observaram que a relação entre uso de TRH e carcinoma de ovário é mais forte em mulheres não-histerectomizadas ou nãolaqueadas28. Ainda não se sabe porque a TRH pode diminuir os níveis de FSH e LH, mas não diminui o risco do carcinoma de ovário. Acredita-se que, durante o período da menopausa, há vários fatores presentes na superfície do epitélio ovariano, como fatores angiogênicos, genes moduladores e de crescimento e moléculas de adesão, e que estes estão relacionados a esse comportamento, nessa faixa populacional.29 Em relação à teoria das gonadotrofinas, constatado que o tratamento com agonista do hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) reduz a incidência de carcinoma de ovário ou inibe o crescimento desse quando já presente. Henderson et al., em 1998, sugeriram que estimulação persistente do ovário por gonadotrofinas pode ter efeito direto ou indireto na carcinogênese de ovário por aumentar os níveis de estrógenos. 24 Ligação tubária e histerectomia, com conservação de ovários, podem comprometer o suplemento sanguíneo ovariano. Com isso, as seqüelas cirúrgicas desses procedimentos, inclusive as circulatórias, agem diminuindo a ação hormonal e, assim, reduzem esse risco. Essa proteção tende a ser maior em histerectomizadas em idade fértil do que em menopausadas. No entanto, com o efeito de feedback, há aumento de produção de gonadotrofinas e teoricamente o risco poderia estar aumentado.24 O tipo histológico epitelial de neoplasia maligna ovariana pode estar relacionado à história familiar de carcinoma da mama, ovário ou ambos e nessas pacientes pode incidir em idade mais precoce do que em população geral5. Essa síndrome familiar está relacionada à mutação em dois genes, o BRCA-1 e BRCA-2, localizados respectivamente nos cromossomos 17q e 13p, envolvidos no processo de reparo de DNA21. Outra síndrome associada ao aumento de risco de câncer de ovário hereditário é a síndrome de Lynch II, com mutação nos genes MSH2 ou MLH1, também relacionada a tumores de cólon não-poliposos e endométrio. Pesquisas informam que história positiva de câncer de ovário, em dois ou mais parentes de primeiro grau, aumenta significativamente o risco de câncer de ovário. Parazzini et al. confirmaram que a história familiar aumenta o risco da doença, mas a porcentagem de casos de câncer de ovário explicados por história familiar é pequena: menos de 1% dos casos observados no estudo demonstraram serem atribuídos ao risco familiar. A literatura discorre que aproximadamente 5% a 10% dos casos de carcinoma epitelial ovariano invasivo são hereditários, com presença da mutação em BRCA-1 e BRCA-2. Um estudo 30 comparou os efeitos do uso de ACHO, paridade, amamentação e ligação tubária em mulheres com diagnóstico de carcinoma ovariano invasivo, divididas em grupos conforme as mutações encontradas: 185delAG e 5382insC em BRCA-1, e 6174delT em BRCA-2. Eles não encontraram diferenças entre os grupos quanto ao uso de ACHO, paridade, e amamentação. No entanto, o grupo BRCA-1 apresentou maiores índices de ligação 42 tubária do que o grupo BRCA-2. Em 2001, foi publicado um estudo, que acessava os efeitos da paridade e do uso de ACHO no risco de carcinoma de ovário entre mulheres judias, grupo étnico com alta incidência de mutação de genes BRCA-1 e BRCA-2, em Israel, para determinar se o uso de ACHO e multiparidade abaixa o risco dessa patologia nessas pacientes. O uso prolongado de ACHO não determinou diminuição do risco dessa patologia, embora se tenha encontrado diminuição de risco nas pacientes mais velhas, provavelmente porque essas usavam pílulas com maior dosagem hormonal. Narod et al.61, em seu estudo caso-controle, com 207 casos de neoplasia ovariana hereditária e 161 controles, grupo composto por irmãs das portadoras da mutação, concluíram que o uso de ACHO pode diminuir o risco desse carcinoma, nesse grupo específico.Esses dados nos indicam que o uso de ACHO, como prevenção dessa patologia, em mulheres portadoras dessa mutação, talvez seja prematuro, mas até o momento acredita-se que se trata de fator protetor. Fatores já mencionados como gravidez, uso de ACHO e amamentação são mais protetores do que a síndrome dos ovários policísticos, uma vez que nestas pacientes os períodos anovulatórios tendem a não serem consecutivos. Relacionada a essa síndrome, está a obesidade e, assim, também é intrínseca a proteção a carcinomas ovarianos, uma vez que anovulação também é mais freqüente nessas mulheres. A hiperinsulinemia também está associada à hiperprodução de androgênios ovarianos e a acantose nigricans é freqüentemente observada em pessoas com alto grau de resistência à insulina. Assim, essas situações podem estar envolvidas com períodos anovulatórios e fator de proteção ao carcinoma de ovário, embora alguns estudos tenham fundamentado que hiperandrogenismo eleva o risco de carcinoma de ovário. 24 Baseando-se na evidência de que inflamação crônica pode influenciar na carcinogênese epitelial ovariana, vários estudos passaram a analisar sua interferência, partindo da premissa de que anti-inflamatórios nãohormonais (AINES), como aspirina e acetominofeno, alteram a resposta inflamatória no organismo. O uso de três ou mais vezes por semana de aspirina por período maior ou igual a 6 meses pode reduzir em 40% o risco dessa neoplasia. Há uma relação inversa significativa entre o uso de paracetamol e risco de câncer de ovário. 24 3.6.3 Manifestações clínicas Um câncer de ovário pode atingir um tamanho considerável antes de produzir sintomas. O primeiro sintoma pode ser um leve desconforto na região abdominal inferior, semelhante a uma indigestão. O sangramento uterino não é um sintoma comum. O aumento dos ovários em uma mulher na pós-menopausa pode ser um sinal precoce de um câncer de ovário, embora ele possa ser causado por cistos, tumores benignos e outros distúrbios. Pode ocorrer acúmulo de líquido no interior da cavidade abdominal. Finalmente, pode ocorrer distensão abdominal em decorrência do 43 aumento dos ovários e do acúmulo de líquido. Neste estágio, a mulher pode apresentar dor pélvica, anemia e perda de peso. Raramente, os cânceres de ovário secretam hormônios que acarretam o crescimento excessivo do endométrio (revestimento uterino), ginecomastia (aumento das mamas) e hirsutismo (aumento da pilificação). O diagnóstico do câncer de ovário em seus primeiros estágios é difícil, pois os sintomas geralmente ocorrem somente quando o câncer disseminou-se além dos ovários e porque muitas outras doenças menos graves produzem sintomas parecidos. 3.6.4 Diagnóstico Como os sintomas só aparecem tardiamente, o diagnóstico tende a ser mais voltado para os exames laboratoriais e de imagem. Marcadores tumorais são substâncias que podem ser detectadas e quantificadas no sangue ou em outros fluidos orgânicos de pacientes portadores de neoplasias. Diversas categorias de marcadores têm sido investigadas para o diagnóstico precoce dos tumores ovarianos, entre as quais merecem destaque: as sialomucinas epiteliais; proteases com seus inibidores complementares e produtos de clivagem; citocinas, receptores e reagentes de fase aguda; hormônios, fatores promotores e inibidores de crescimento; citoqueratinas; lípides e lipoproteínas; proteínas oncofetais; auto-anticorpos; e mais recentemente os perfis proteômicos31. Estas substâncias podem ser utilizadas isoladamente ou em combinação. O marcador ideal deve ser produzido por todos o tumores da mesma linhagem e seus níveis devem ser mensuráveis mesmo na presença de pequena quantidade de células. Os níveis séricos devem refletir com precisão a evolução clínica e a regressão da doença, sendo a sua normalização associada à cura. Deve ser sensível e específico, apresentar níveis proporcionais ao tamanho tumoral, ter utilidade no estabelecimento do prognóstico, antecipar a ocorrência de recorrências e permitir a seleção de tratamento. Nenhum dos marcadores estudados até o momento apresenta todas estas características. Marcadores tumorais são substâncias detectadas no exame de sangue e que aumentariam na presença de tumores malignos. No caso do ovário estas seriam o CA 125, a Alfa-feto-proteina e o beta-HCG. Estes marcadores tem baixa especificidade com grande número de falsos positivos. Os marcadores são muito úteis no seguimento da paciente com câncer de ovário, porém pouco confiáveis para o diagnóstico inicial. O CA 125, por exemplo, pode estar elevado em doenças benignas como o mioma uterino ou a endometriose.22 O CA 125 é marcador mais conhecido e utilizado na condução clínica de pacientes com tumores epiteliais de ovário. É uma sialomucina de elevado peso molecular, também conhecido como MUC 16, que foi inicialmente identificada por meio de anticorpos produzidos por animais 44 imunizados com células de cistadenocarcinoma seroso papilífero do ovário humano. Este marcador tem sido estudado para o rastreamento de mulheres assintomáticas, no diagnóstico diferencial de mulheres com massas pélvicas, no monitoramento de resposta ao tratamento adjuvante e na detecção precoce de recorrência do tumor após tratamento. 32 Os parâmetros de sensibilidade e especificidade do CA 125 na detecção do câncer de ovário variam na dependência de diversos fatores. A sensibilidade varia entre 24 e 97% e depende principalmente do estádio e do tipo histológico do tumor. Para o estádio I a sensibilidade está entre 27 e 66%, para o estádio II entre 65 e 100%, para o estádio III entre 87 e 90% e para o estádio IV em torno de 94%. Entre os tipos histológicos o desempenho é melhor para os tumores serosos e endometrióides quando se compara com tumores mucinosos e de células claras. Para os tumores serosos a sensibilidade está entre 68 e 94%, para os tumores mucinosos entre 52 e 68%, para os tumores endometrióides em torno de 92% e, para os tumores de células claras em torno de 61%. A especificidade varia entre 71 e 100%, podendo ser comprometida por uma série de eventos fisiológicos (ex. menstruação), por diversas condições benignas (ex. endometriose), e por outras neoplasias. Em estudos utilizando pessoas saudáveis como controle, a especificidade é de cerda de 96%, quando são incluídas pessoas com doença benigna a especificidade cai para 71 a 86% e quando entre os controles existem portadores de outras neoplasias cai para cerca de 62%. 31 Os níveis séricos de CA 125 podem ser interpretados com base em um ponto de corte fixo ou na dosagem seriada e avaliação do comportamento da curva pelo cálculo de risco de câncer de ovário (RCO). Há uma preocupação importante com relação ao uso de valores de corte fixos para o CA 125 (30 ou 35 U/mL) como método de detecção do câncer de ovário inicial e assintomático, pois a sensibilidade tende a ser limitada. Por outro lado, quando se avaliam dosagens seriadas de CA 125 verifica-se que os níveis deste marcador elevam-se rapidamente nos casos de tumores ovarianos pré-clínicos e permanecem relativamente estáveis nas pessoas normais, independentemente se nível inicial é elevado. Levando-se em conta estes aspectos, o cálculo do RCO, baseado na comparação de curvas de dosagem seriada de CA 125 com curvas conhecidas de pacientes com câncer e controles, é considerado melhor que pontos de corte fixos para a detecção precoce do câncer de ovário. Esta nova forma de analisar eleva a sensibilidade do método de 62% para 84%, mantendo a especificidade fixa em 98%33. Mais recentemente, a extração do RNA mensageiro e a síntese do DNA complementar a partir de tumores e de tecido normal têm sido utilizadas para localizar genes superexpressos e identificar uma variedade de marcadores, incluindo prostatina e a osteopontina. A principal limitação do uso do método baseado nos microarrays de DNA complementar é que as seqüências 45 gênicas identificadas, DNA ou RNA, não necessariamente refletem a funcionalidade das proteínas codificadas, em virtude da atividade transcricional tumoral, das diversas interações proteínaproteína e modificações conformacionais, que podem alterar o padrão de proteínas encontrado na circulação. 32 Por outro lado, proteínas produzidas por tecidos tumorais podem ser consideradas uma forma de "assinatura molecular" da lesão primária. O desenvolvimento tumoral é um processo complexo que requer a interação coordenada de numerosas proteínas, e tipos celulares. Como resultado de extensos estudos sobre patogênese molecular dos tumores malignos, diversas novas vias e redes regulatórias têm sido identificadas. O delineamento destas vias tem revelado diversos eventos únicos marcados por mudanças morfológicas e histológicas na célula, e a expressão de genes e proteínas que acompanham a transformação oncogênica. Portanto a assinatura celular muda durante o desenvolvimento do câncer. Pela leitura destas modificações podemos melhorar a detecção precoce e o diagnóstico de indivíduos com câncer. 32 Novas tecnologias para estudo de proteínas têm sido utilizadas para a identificação de novos marcadores para o câncer de ovário. Uma interessante abordagem é a utilização de padrões de perfis gerados pela análise do soro de pacientes com câncer de ovário por meio da espectrometria de massa, sem a identificação de proteínas específicas. Estes perfis são gerados por espectrômetro de massa SELDI-TOF (Surface-Enhanced Laser Desorption and Ionisation Time-of-Flight) e analisados por complexas ferramentas de bioinformática. 32 Embora esta idéia tenha ganhado muita atenção, está ainda em avaliação para a detecção precoce do câncer de ovário. Por este método não é necessária a identificação dos componentes individuais do soro, são enfatizadas basicamente as diferenças relativas no perfil protéico do soro de pacientes com câncer quando comparadas com controles sem a doença. Cada proteína recebe um número que é a razão entre sua massa e carga. Imprecisões no uso da espectrometria de massa com possíveis artefatos em função de diferentes condições de geração de perfis entre os casos e os controles e uso de peptídeos de baixo peso molecular foram levantadas. Tais fatos dificultam tanto a reprodutibilidade dos resultados, quanto problemas de interpretação dos dados. Utilizando os mesmos conjuntos de dados da publicação original, outros autores não conseguem reproduzir os resultados de sensibilidade e especificidade. 32 A ultra-sonografia é método naturalmente associado aos marcadores tumorais, tanto nas tentativas de rastreamento como para o diagnóstico diferencial dos tumores ovarianos. Na presença de aumento do volume ovariano, as características ultra-sonográficas podem ser associadas ao risco 46 de malignidade. Em série de 1017 tumores, 0,3% dos cistos uniloculares, 8% dos cistos multiloculares e 39% dos tumores predominantemente sólidos eram malignos. 32 A experiência com a ultra-sonografia transvaginal como método inicial para o rastreamento do câncer de ovário é, no entanto, limitada. Utilizando-se 8 cm3 como valor máximo do volume ovariano foram identificados 33 (2,5%) exames anormais em 1300 mulheres na pós-menopausa, destas 27 foram submetidas à laparotomia com a identificação de apenas dois tumores malignos primários do ovário e 14 cistadenomas.32 A utilização liberal da ultra-sonografia é responsável pelo aumento no número de casos de massas anexiais em mulheres assintomáticas após a menopausa. A prevalência destas lesões após os 55 anos é cerca de 21,2%, sendo 15,7% cistos simples e 5,5% cistos complexos. A remoção cirúrgica de cistos ovarianos benignos parece ter pouco impacto na incidência futura de câncer de ovário. Uma minoria destas massas é maligna. No entanto sua presença é sempre motivo para preocupação. Nestes casos devem-se procurar metodologias que permitam reduzir ao máximo as intervenções desnecessárias sem deixar de realizar o diagnóstico precoce dos tumores malignos. A combinação de características clínicas, ultra-sonográficas e a dosagem de CA 125 são os métodos recomendados para tal finalidade.32 3.6.5 Estadiamento e Prognóstico Segundo a International Federation of Gynecology and Obstetrics (IFGO), o estadiamento do cancer epithelial de ovário apresenta-se em três estádio, que se subdividem, como mostrado na tabela 8. 34 Tabela 8. Estadiamento do câncer epitelial de ovário, segundo IFGO Estágio I Tumor limitado ao ovário IA Em um ovário; sem: ascite, lavado peritoneal positive, envolvimento superficial ou ruptura. IB Em dois ovários; sem: ascite, lavado peritoneal positive, envolvimento superficial ou ruptura. IC Presença de ascite, lavado peritoneal positive, envolvimento superficial ou ruptura. Estágio II Tumor ovariano com extensão na pelve IIA Envolvimento do útero ou das tubas uterinas. IIB Envolvimento de outro órgão pelvic (bexiga, reto ou parede). IIC Estensão pelvic mais indicative do estágio IC. Estágio III Tumor envolvendo o abdomen ou linfonodos 47 IIIA Doença microscopic for a da pelve, envolvendo o omento. IIIB Massa de 2cm de diametro ou menos. IIIC Massa maior que 2cm ou envolvimento linfonodal. Estágio IV Envolvimento de órgãos a distância, incluindo espaço pleural ou parênquima esplênico ou hepático. Os fatores de prognóstico, definidos pela correlação com a sobrevida, em geral refletem a extensão da doença (estádio), a biologia intrínseca do tumor (tipo e grau histológico) e a capacidade da paciente tolerar o tratamento para a doença (performance status). Assim como estes fatores prétratamento, outros que podem ter impacto na sobrevida incluem o tipo de tratamento recebido (citorredução ótima, quimioterapia baseada em derivados da platina) e o efeito da terapêutica sobre o tumor (ex. resposta completa) ou sobre a paciente (ex. mielossupressão)3. No entanto, no momento do diagnóstico, 29% dos casos apresentam-se com tumor restrito aos ovários, 6% com tumores disseminados regionalmente e 59% com disseminação à distância35. A taxa de sobrevida geral, em 5 anos, é de 50%, com 95% de sobrevida para paciente com neoplasia restrita aos ovários (estadiamento I), 79% naquelas com doença infiltrada em tecidos adjacentes aos ovários (estadiamento II) e de 28% naquelas com estádio clínico avançado (estadiamento IV). Na Escócia, a taxa global de sobrevida para pacientes diagnosticadas com câncer de ovário, entre 1991 a 1995, foi em um ano de 56,3% e de 28,9%, em cinco ano. Em 2000, a taxa global de sobrevida, em cinco anos, para o carcinoma de ovário foi 39,1%10. Em 2000, o Departamento de Ginecologia do Hospital AC Camargo obteve sobrevida global de 58,4%. A média de idade dessa neoplasia está entre 40 e 65 anos12, sendo a sexta década de vida a idade mais prevalente ao diagnóstico.36 3.6.6 Tratamento O câncer de ovário é tratado cirurgicamente. A magnitude da cirurgia depende do tipo específico do câncer e de seu estágio. Quando o câncer não se disseminou além do ovário, é possível a remoção apenas do ovário afetado e da tuba uterina correspondente. Quando houve disseminação do câncer além do ovário, ambos os ovários e o útero, assim como linfonodos e estruturas adjacentes selecionados através dos quais o câncer geralmente dissemina-se, devem ser removidos. Após a cirurgia, a radioterapia e a quimioterapia podem ser utilizadas para destruir qualquer área pequena de câncer que possa ter restado. O câncer de ovário que já se disseminou (produziu metástases) além do ovário é difícil de ser curado. Cinco anos após o diagnóstico, a taxa de sobrevida das mulheres que apresentam os tipos mais comuns de câncer de ovário varia de 15 a 85%. A ampla 48 variação da taxa de sobrevida reflete as diferenças da agressividade de determinados cânceres e das respostas imunes contra o câncer de cada mulher. 37 A única maneira de interferir na história natural do câncer do ovário é o estabelecimento precoce de seu diagnóstico e correta abordagem terapêutica. O fato de que mesmo em países desenvolvidos pouco se avançou em termos de diagnóstico precoce tem colaborado para a manutenção de taxa de mortalidade por esta doença em níveis elevados. Outro fato de importância é o diagnóstico diferencial de benignidade e malignidade dos tumores do ovário. Caso a suspeita de malignidade seja elevada, a paciente deverá ser encaminhada para centro de atendimento especializado para o tratamento adequado, por equipe capacitada para a abordagem dessa doença. 37 Quando um tumor de ovário avançado é descoberto durante a avaliação intra-operatória, a conduta padronizada é um adequado estadiamento cirúrgico associado a uma citorredução agressiva. A citorredução refere-se à remoção de toda doença possível. Enquanto que para a maioria dos tumores sólidos, a ressecção cirúrgica agressiva somente se justifica quando todo tumor pode ser removido oferecendo uma cirurgia potencialmente curativa. Ao contrário, para o câncer de ovário, a citorredução cirúrgica quando a doença residual é menor que 1cm (citorredução ótima) pode oferecer maiores índices de resposta à quimioterapia, intervalos mais longos sem progressão da doença e aumento na mediana de sobrevida.Tanto a definição de citorredução ótima quanto a porcentagem de pacientes em estádios avançados em que possa ser realizada essa abordagem, tem variado amplamente na literatura. A definição de citorredução ótima tem variado desde doença não visível até 0,5 ou 1 cm de doença residual.37 A citorredução, descrita por Meigs, em 1935, constitui um dos princípios do tratamento cirúrgico do câncer de ovário. Pacientes submetidas à excisão completa do tumor apresentam maior sobrevida em relação àquelas cuja massa tumoral foi retirada parcialmente. Considera-se uma citorredução satisfatória quando persiste doença residual com diâmetro inferior a um centímetro. Pacientes submetidas a uma citorredução ótima apresentam sobrevida global média de 35 meses, ao passo que aquelas com doença residual maior que um centímetro sobrevivem, em média,18 meses. 24 A cirurgia de citorredução é o padrão ouro no tratamento de carcinoma ovariano.38 A quimioterapia neoadjuvante é indicada para carcinoma que não é ressecável, pelo menos não imediatamente, podendo realizar a cirurgia posteriormente de uma maneira menos agressiva. Tal opção terapêutica também é indicada para pacientes que tem prognóstico ruim.39 49 A porcentagem de pacientes em estádios clínicos III-IV que podem ser submetidos a uma citorredução ótima tem variado de 25% a 75% dos casos. Desta maneira, a citorredução ótima não pode ser atingida em uma proporção significativa das doentes, principalmente nos tumores avançados. Por sua vez, quando esses tumores invadem estruturas pélvicas adjacentes (peritônio pélvico, fundo de saco, bexiga, reto e cólon sigmóide) para se atingir uma citorredução ótima, a solução tática é a realização de uma ressecção anterior baixa associada a uma ressecção em monobloco dos demais órgãos pélvicos envolvidos (exenteração pélvica).37 Essa conduta cirúrgica, no entanto apresenta alta morbidade aliada a substancial mortalidade. Quando somente o reto ou cólon sigmóide em sua porção inferior é invadido, a ressecção anterior baixa com histerectomia total em monobloco também designada como exenteração pélvica posterior pode ser o suficiente. Contudo, quando ocorre à invasão conjuntamente do trígono vesical, o procedimento padronizado é a ressecção dos órgãos do trato urinário inferior (bexiga e terço distal dos ureteres) e do trato genital interno associado à ressecção anterior baixa em monobloco (exenteração pélvica total supra-elevadora). Como alternativa estratégica, com o objetivo de se evitar cirurgias multiviscerais, a utilização da quimioterapia neoadjuvante tem sido recomendada em associação a citorredução de intervalo.40 3.7 Mama 3.7.1 ANATOMIA A mama adulta feminina encontra-se entre a segunda e a sexta costela e entre a borda do esterno e a linha média axilar. As mamas possuem pele, tecido subcutâneo e tecido mamário que inclui epitélio e estroma. Cada mama contém entre 15 e 20 lobos de tecido glandular sustentado por tecido conectivo fibroso. A diferença no tamanho das mamas é responsabilidade do tecido adiposo, disposto entre os lobos41. Como exemplificado pela figura abaixo: 50 Figura 4: Anatomia da mama O aporte sanguíneo é proveniente das artérias mamária interna e torácica lateral. A drenagem linfática é feita superficialmente e profundamente, sendo que 95% da drenagem é feita pelos linfonodos axilares. 41 Os linfonodos axilares são variáveis em número e são tradicionalmente divididos em 3 níveis, baseados na sal relação com o peitoral menor. Os linfonodos paraesternais são localizados no seis primeiros espaços intercostais a menos de 3 cm da borda esternal, sendo que a maior concentração está nos 3 primeiros espaços. 41 Como pode ser visualizado na figura abaixo: 51 Figura 5 : Drenagem linfática da mama 3.7.2 FATORES DE RISCO Múltiplos fatores estão associados com o aumento risco de desenvolver câncer de mama, dentre eles podemos citar: idade avançada, história familiar, exposição a hormônios femininos endógenos e exógenos, dieta, lesões mamárias benignas e fatores ambientais. A maioria destes fatores está associado a um pequeno a médio aumento no risco de desenvolver câncer de mama. Foi estimado que 50% das mulheres que desenvolvem câncer de mama não apresentam qualquer fator de risco a nãos ser a idade e o sexo42. Alguns destes fatores serão abordados novamente adiante. 3.7.3 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 3.7.3.1Lesões Epiteliais Benignas Várias alterações benignas de ductos e lóbulos são observados nas mamas, podendo ser achados casuais ou mais raramente palpáveis. Essas alterações foram dividas em grupos baseados em sua capacidade de subseqüente desenvolvimento de câncer mamário: Alterações mamárias não proliferativas, doença mamária proliferativa e hiperplasia atípica. 42 3.7.3.2 Alterações mamárias não proliferativas 52 Este grupo abrange inúmeras alterações agrupadas sob o termo alterações fibrocísticas. Chamam atenção quando imitam o carcinoma produzindo massas palpáveis, densidades mamográficas, calcificações ou descarga mamilar.As áreas afetados podem ter tanto um aumento difuso mal definido como nodularidades bem definidas. 42 Em um estudo de mamas normais post mortem, cistos e fibroses grosseiramente evidentes foram encontrados em 20% e as alterações histológicas estavam presentes em 59% das mulheres. Concluindo que as altereções não proliferativas são as partes mais prováveis dos aspectos histológicos observados na mama normal. 42 3.7.3.3 Doença Mamária Proliferativa Inclui tanto a hiperplasia ductal atípica quanto a hiperplasia lobular atípica. A primeiras estão presente em 5 a 17% das biópsias realizadas por calcificações, sendo encontrada em menor freqüência em biópsias por densidade mamografica ou massas palpáveis. Já a segunda é um achado essencialmente casual, sendo encontrada em menos de 5% das lesões, feitas por qualquer razão. 42 3.7.3.4 Carcinoma de Mama Os principais fatores de risco para o desenvolvimento deste tipo de câncer são hormonais e genéticos. 42 Vamos detalhar cada um separadamente. 3.7.3.4.1 Câncer Mamário Hereditário Aproximadamente 13% das mulheres com câncer de mama apresentam parentes de primeiro grau com a doença. Cerca de 3% de todos os câncer de mama podem ser atribuídos a dois genes autossômicos dominantes altamente penetrantes: BRCA1 e BRCA2. A penetrância depende da variável mutante. Mutações nesse gene aumentam o risco em 60 a 85%, além de diminuir em 20 anos a idade média do diagnóstico. 42 O BRCA1 está também associado a uma predisposição maior de 20 a 40% para câncer ovarianos. Já o BRCA2 aumenta em apenas 10 a 20% porém também está associado ao câncer de mama masculino. Quando a pessoa é portadora de oncogenes BRCA1 eBRCA2 ele apresenta uma maior predisposição para os seguintes cânceres: cólon, próstata e pâncreas. A função destes genes, simplificadamente, pode ser explicada pela parada do ciclo celular e reparação do DNA danificado, por um processo ainda não completamente explicado. 42 Os cânceres mais comumente associados ao BRCA1 tem um padrão pouco diferenciado, com crescimento sincicial com margens compressivas, com resposta linfocítica e não expressam receptores hormonais nem super expressam HER-2 ( receptor de fator de crescimento epidérmico). Enquanto os associados ao BRCA2 não tem expressão morfológica distinta. 42 53 A suscetibilidade genética gerada por outros genes conhecidos é menos comum, sendo responsável por menos de 10% dos carcinomas mamários. Como por exemplo o gene da cinase ponto de controle (CHEK2). Além deste estão em busca de um suposto gene BRCA3 de alta penetrância, porém a busca ainda não rendeu frutos. 43 3.7.3.4.2 Câncer Mamário Esporádico Os principais fatores de risco para este tipo de câncer estão associados à exposição hormonal: sexo, idade da menarca e da menopausa, amamentação no peito e exposição a estrógenos exógenos. A maioria destes ocorre em mulheres menopausadas com super expressão de ER (receptores de estrógenos). 42 O estrógeno atua de duas formas principais: os seus metabólitos podem gerar radicais livres que lesam o DNA ou causar dano diretamente ou ainda pela ação direta hormonal direcionando a proliferação de lesões pré malignas ou cânceres. 42 3.7.4 CLASSIFICAÇÃO DO CARCINOMA DE MAMA A maioria das malignidades da mama são adenocarcinomas de vários tipos, sendo responsáveis por 95% de todos os tumores da mama. 42 Vamos nos ater as adenocarcinomas devido a sua prevalência. Eles podem ser divididos em42: 1. Carcinoma in situ – 15~30% a) Carcinoma ductal in situ b) Carcinoma lobular in situ 2. Carcinoma invasivo – 70~85% a) Carcinoma “Ductal” b) Carcinoma lobular c) Carcinoma tubular d) Carcinoma mucinoso e) Carcinoma medular f) Carcinoma papilar g) Carcinoma metaplásico 1. Carcinoma in Situ a) Carcinoma Ductal in Situ (DCIS) Teve grande aumento nas últimas décadas de menos de 5% para 15~30%. Representam quase 50% dos cânceres detectados mamograficamente. A forma mais freqüente de apresentação é por calcificações42. 54 O DCIS é limitado aos ductos e lóbulos pela membrana basal, acometendo mais comumente somente um único sistema ductal. Porém pode proliferar-se pelos ductos e lóbulos e acometer todo um setor da mama91. Um exemplo de DCIS pode ser visto na figura abaixo: Figura 6 : DCIS Há ainda o risco dos DCIS extensivos e de alto grau evoluírem para carcinomas invasivos, enfatizando a importância de diagnóstico adequado e da terapia apropriada para prevenir esta condição. 42 Em 95% doas casos a mastectomia é curativa porém a conservação da mama é apropriada a maioria das mulheres com DCIS. A conservação resulta em um nível levemente mais alto de recorrência do câncer, sendo os principais fatores de risco para isso o grau do tumor, o tamanho e as margens. A morte em mulheres com DCIS tratadas mesmo com a mama preservada é baixa, estando em níveis inferiores a 2%.42 b) Carcinoma Lobular in Situ (LCIS) O LCIS é sempre um achado casual, pois não está associado a calcificações ou reações estromais que podem alterar a densidade. Logo seu diagnóstico é pouco freqüente entre 1 a 6%, podendo este número estar subdiagnosticado. Em 20 a 40% dos casos se apresenta bilateralmente e em 80 a 90% das vezes aparece em mulheres antes da menopausa42. Um exemplo de LCIS pode ser visto na figura abaixo: 55 Figura 7 : LCIS Devido a sua disposição multicêntrica e bilateral ao invés de um neoplasma verdadeiro, muitas vezes, o LCIS é considerado um marcador de risco de câncer de mama. O LCIS pode ter as mesmas alterações genéticas da área adjacente a um carcinoma invasivo, sustentado a teoria do marcador. 42 As mulheres com LCIS desenvolvem carcinomas com a mesma freqüência que mulheres com DCIS não tratada. Sendo o desenvolvimento de carcinomas em mulheres com LCIS diagnosticado 3 vezes mais provável. 42 2. Carcinoma invasivo a) Carcinoma Invasivo “Ductal” Trata-se de um agrupamento de todos os tipos de carcinoma que não se encaixam em nenhum tipo especial, sendo responsáveis por 70 a 80% dos adenocarcinomas. 42 Este grupo de tumores não apresenta clínica significativa.Podendo apresentar massa dura com aspecto de nódulos bem delimitados de consistência pétrea, com diâmetro médio de 1 a 2cm e raramente ultrapassando os 5cm de diâmetro. 42 No carcinoma propriamente dito, podem existir pequenos focos pontilhados ou cordões de estroma elastótico e ocasionalmente tem pequenos focos de calcificação, exibindo um amplo espectro de aparências variando entre os dois extremos. 42 b) Carcinoma lobular invasivo Apresentam-se geralmente como uma massa palpável ou densidade mamográfica, assim como os carcinomas invasivos “ductais”. No entanto um quarto destes pode ter uma 56 apresentação vagamente espessa da mama ou alterações arquiteturais sutis na mamografia. Podendo as metástases também serem de difícil detecção clínica ou radiológica devido a este tipo de invasão42. Um exemplo de fácil detecção pode ser visto na figura abaixo: Figura 8 : Carcinoma Lobular Invasivo Sua apresentação é mais freqüente bilateral e em mulheres pós menopausa, podento tal fato estar ligado a reposição hormonal. Geralmente são bem diferenciados ou moderadamente diferenciados, comummente expressando receptores hormonais e estando associados a LCIS42. A maioria dos carcinomas lobulares apresenta uma falta de uma região no cromossomo 16 (16q22.1), que inclui ao menos oito genes responsáveis pela adesão celuar, entre eles a ecaderina e a beta-caderina42. Diferentemente dos outros cânceres de mama que tem preferência metastática pela pleura e pelo pulmão. Este tipo tem predileção por: peritônio, retroperitônio, leptomeninges, trato gastrointestinal, ovários e úteros. 42 c) Carcinoma Tubular São responsáveis por até 10% dos carcinomas menores que 1 com de diâmetro.São detectados tipicamente como densidades mamográficas irregulares em mulheres com 50 anos42. Um exemplo deste tipo pode ser visto na imagem abaixo: 57 Figura 9: Carcinoma Tubular Mais de 95% dos carcinomas tubulares apresentam receptores hormonais. Por definição todos estes tumores são bem diferenciados. As metástases axilares ocorrem em menos de 10% dos casos, a menos que hajam focos múltiplos de invasão. O reconhecimento deste tipo é importante devido a seu excelente prognóstico. 42 d) Carcinoma Mucinoso Trata-se de um tipo pouco comum, abrangendo apenas 1 a 6% dos casos. Também se apresenta como uma massa circunscrita. Tende a aparecer em mulheres mais velhas com um crescimento lento que leva anos42. Abaixo vemos um exemplo clássico deste tipo: 58 Figura 10: Carcinoma Mucinoso O prognóstico é ligeiramente melhor do que os carcinomas “ductais”. A oncogênese é semelhante ao medular com uma incidência de 55% associada hipermetilação do promotor de BRCA1. 42 e) Carcinoma Medular Muitas vezes confundido clinica e radiologicamente com o fibroadenoma, apresenta-se como uma massa bem circunscrita, que algumas vezes apresenta um crescimento rápido. 42 Apesar da presença quase global de fatores de pobres prognóstico como alto grau nuclear, aneuploidia, ausência de receptores hormonais e altos índices proliferativos, os carcinomas lobulares tem um prognóstico melhor que aquels do grupo “ductal”. 42 59 Entre as mulheres com o oncogene BRCA1, 13% manifestam este tipo de câncer. Porém 67% deste tipo de câncer está associado a hipermetilação do promotor de BRCA1, sugerindo uma associação dessa morfologia com expressão gênica de base. 42 f) Carcinoma Papilar Invasivo Extremamente raros com incidência menor que 1% de todos os adenocarcinomas invasivos. A arquitetura e apresentação clínica é semelhante a DCIS, porém o prognóstico geral é melhor. 42 g) Carcinoma Metaplásico Inclui uma ampla variedade de tipos raros de câncer de mama, estando pouco firmemente estabelecido sobre seus aspectos clínicos e prognósticos. 42 3.7.5 DIAGNÓSTICO E BIÓPSIA A presença ou ausência de carcinoma em uma mama com clínica ou mamografia suspeita só pode ser confirmada com uma amostra do tecido. A alta sensibilidade da ressonância magnética para a detecção de cânceres surge com a possibilidade de substituir a biópsia na avaliação de lesões suspeitas da mama. Porém em estudos multi institucionais demonstraram que um ressonância anormal não indica com certeza a presença de câcer e uma tomo “limpa” não exclui a presença de carcinoma. 44 Portanto a biópsia continua a técnica padrão para o diagnóstico de tanto lesões palpáveis como não palpáveis. As técnicas disponíveis de biópsia são: punção aspirativa por agulha fina, biópsia excisional e biópsia por agulha cortante. Tendo cada um suas vantagens e desvantagens. 44 3.7.6 ESTADIAMENTO44 O estadiamento do câncer de mama pode ser feito através da classificação TNM: Tamanho do tumor Tx - tumor não pode ser avaliado Tis - carcinoma in situ T1 - tumor com até 2 cm. em sua maior dimensão T1 mic - carcinoma microinvasor (até 1 mm) T1a - tumor com até 0,5 cm em sua maior dimensão T1b - tumor com mais de 0,5 e até 1 cm em sua maior dimensão T1c - tumor com mais de 1 cm. e até 2 cm em sua maior dimensão T2 - tumor com mais de 2 e até 5 cm em sua maior dimensão 60 T3 - tumor com mais de 5 cm. em sua maior dimensão T4 - qualquer T com extensão para pele ou parede torácica T4a extensão para a parede torácica T4b edema (incluindo peau d'orange), ulceração da pele da mama, nódulos cutâneos satélites na mesma mama T4c associação do T4a e T4b T4d carcinoma inflamatório Observações: O comprometimento do músculo grande peitoral não caracteriza T4. Presença de retração da pele ou papila não interfere no estadiamento. Linfonodos Regionais Nx - Os linfonodos regionais não podem ser avaliados N0 - Ausência de metástase N1 - Linfonodo(s) homolateral(is) móvel(is) comprometido(s) N2 - Metástase para linfonodo(s) axilar(es) homolateral(is), fixos uns aos outros ou fixos a estruturas vizinhas ou metástase clinicamente aparente somente para linfonodo(s) da cadeia mamária interna homolateral N2a - Metástase para linfonodo(s) axilar(es) homolateral(is) fixo(s) uns aos outros ou fixos à estruturas vizinhas N2b - Metástase clinicamente aparente somente para linfonodo(s) da cadeia mamária interna homolateral,s em evidência clínica de metástase axilar N3 - Metástase para linfonodo(s) infraclavicular(es) homolateral(is) com ou sem comprometimento do(s) linfonodo(s) axilar(es), ou para linfonodo(s) da mamária interna homolateral clinicamente aparente na presença de evidência clínica de metástase para linfonodo(s) axilar(es) homolateral(is), ou metástase para linfonodo(s) supraclavicular(es) homolateral(is) com ou sem comprometimento do(s) linfonodo(s) axilar(es) ou da mamária interna N3a - Metástase para linfonodo(s) infraclavicular(es) homolateral(is) N3b - Metástase para linfonodo(s) da mamária interna homolateral e para linfonodo(s) axilar(es) N3c - Metástase para linfonodo(s) supraclavicular(es) homolateral(is) Observação: Clinicamente aparente é definido como detectado por estudos de imagem (exceto linfocintigrafia), pelo exame clínico ou pelo diagnóstico patológico macroscópico. Metástases Mx metástase à distância não pode ser avaliada 61 M0 ausência de metástase à distância M1 presença de metástase à distância (incluindo LFN supraclaviculares) Estadiamento TNM do câncer de mama por agrupamentos44 Estádio 0: Tis N0 M0 Estádio I: T1 N0 M0 Estádio II A: T0 N1 M0 T1 N1 M0 T2 N0 M0 Estádio II B: T2 N1 M0 T3 N0 M0 Estádio III A: T0 N2 M0 T1 N2 M0 T2 N2 M0 T3 N1 M0 T3 N2 M0 Estádio III B: T4 N0 M0 T4 N1 M0 T4 N2 M0 Estádio III C: T qualquer N3 M0 Estádio IV: T qualquer N qualquer M1 3.7.7 TRATAMENTO A avaliação dos cânceres recentemente diagnosticados começa com a determinação se ele é operável ou não. A presença de metástase a distância tem sido considerada uma contra-indicação para cirurgia mas estudos recentes demonstram uma melhor sobrevida em pacientes operados com metástase a distância45,46, mas a terapia sistêmica continua sendo o tratamento inicial. Uma busca de metástases em pacientes assintomáticos com estágios I e II não tem embasamento. Já em pacientes com estádio 3, metástases ocultas são mais freqüentes e estudos de estádio são recomendadas pela maioria das organizações46. Pacientes com T4 e pacientes com N2 também não são candidatos a cirurgia como terapia inicial, sendo indicada a terapia sistêmica primeiro. Pacientes com estádio I, II e T3N1 a abordagem inicial é geralmente cirúrgica, nestes pacientes é necessário uma avaliação cuidadosa para checar sua compatibilidade com a terapia conservadora da mama e a possibilidade de mastectomia com ou sem reconstrução mamária. A terapia inicial sistêmica pode ser utilizada para diminuir a população de 62 células neoplásicas e permitir a terapia conservadora da mama em mulheres que de outra forma teriam de fazer uma mastectomia total como por exemplo mulheres com carcinoma inflamatório avançado. 44 Opções de Tratamento Cirurgia Pode ser conservadora; ressecção de um segmento da mama (engloba a setorectomia, a tumorectomia alargada e a quadrantectomia), com retirada dos gânglios axilares ou linfonodo sentinela, ou não-conservadora (mastectomia). É uma cirurgia com um mortalidade me 30 dias, independentemente da idade menor que 1%. Complicações graves após a cirurgia são infrequentes, mas 100% da mulheres apresentam perda sensorial no peitoral.44 São tipos de mastectomia: mastectomia simples ou total que inclui a retirada da mama com pele e complexo aréolo papilar, a mastectomia com preservação de um ou dois músculos peitorais acompanhada de linfadenectomia axilar, a mastectomia com retirada dos músculos peitoralis ou somente um, acompanhada de linfadenectomia axilar, a mastectomia poupadora de pelee a lumpectomia, em que apenas um nódulo é retirado. Todas ainda quando possível devem ser acompanhadas da reconstrução imediata da mama para minimizar os efeitos psicológicos e ter de ser submetida a outra grande cirurgia. 44 Os exemplos de cirurgia podem ser vistos na figura abaixo: Figura 11: Tipos de cirurgia No carinoma ductal in situ a mastectomia simples é um tratamento curativo em 98% dos casos, mas certamente representa procedimento excessivamente mutilante para considerável parcela dos casos 44. 63 Tumores com diâmetro inferior a dois centímetros e margens cirúrgicas livres de comprometimento podem ser tratados com ressecção segmentar seguida de radioterapia complementar 44. Quando é impossível assegurar a obtenção de margens livres, em função da extensão ou multicentricidade do tumor as cirurgias não conservadoras da mama, seguidas ou não de reconstrução mamária, são indicadas. A linfadenectomia de nível I ou a dissecção do linfonodo sentinela deve ser realizada em casos de comedonecrose ou grau histológico GIII devido à possibilidade de microinvasão e envolvimento axilar 44. Na neoplasia lobular in situ, considerada como um fator de risco para o desenvolvimento do câncer de mama, indica-se a biópsia excisionalseguida de exame clínico semestral e mamografia anual. 44 Para carcinomas invasores com diâmetro tumoral inferior a três centímetros a cirurgia conservadora preenche os pré-requisitos que norteiam o tratamento cirúrgico do câncer de mama, que são: máximo controle loco-regional, estadiamento, prognóstico semelhante com menor morbidade e mutilação 44. Para a indicação de uma cirurgia conservadora é necessário que os seguintes pré requisitos sejam preenchidos: realização de mamografia prévia, diâmetro tumoral menor que 3 cm, ausência de comprometimento da pele, tumor único, avaliação das margens cirúrgicas (no intra ou pósoperatório), proporção adequada entre volume da mama e do tumor (distorção menor do que 30%) 44 . A avaliação das margens cirúrgicas modifica a extensão da cirurgia e contribui para reduzir a incidência de recidiva local nas cirurgias conservadoras. Quando a avaliação das margens for feita posteriormente à cirurgia e for identificado o comprometimento das mesmas,recomenda-se a reintervenção. À cirurgia conservadora, segue-se a radioterapia complementar na mama. 44 Nas mulheres com tumor de diâmetro igual ou inferior a três centímetros, sem comprometimento nodal clinicamente aparente, pode ser utilizada, quando disponível, a técnica do linfonodo sentinela que visa identificar aquelas que necessitam ser submetidas à linfadenectomia axilar. É baseada na retirada do linfonodo sentinela, que é o primeiro linfonodo a receber células metastáticas do tumor primário. O linfonodo sentinela pode ser identificado pelo cirurgião por meio de injeção de corantes vitais juntamente com radiofármacos ou somente um dos dois,seguido de linfocintigrafia e uso de detector portátil de irradiação.O exame citológico ou histológico é realizado pelo patologista para identificar ou descartar a presença de metástases. Esta técnica deve ser realizada por equipe multidisciplinar: mastologista, patologista e médico nuclear. 44 64 São contra-indicações para a realização da técnica do linfonodo sentinela: realização de biópsia prévia, complicada por hematoma, presença de cicatrizes extensas, mamoplastia, quimioterapia neoadjuvante e gravidez. Não havendo disponibilidade da técnica do linfonodo sentinela ou nos casos em que o linfonodo sentinela mostrou-se comprometido pela neoplasia maligna da mama, deve-se proceder à linfadenectomia axilar 44. Nos casos de carcinomas invasores com diâmetro igual ou maior que três centímetros, com ou sem quimioterapia neoadjuvante a mastectomia deve ser indicada. As técnicas modificadas que preservam um ou ambos os músculos são as mais empregadas pois além de assegurarem resultados semelhantes à mastectomia radical, facilitam a reconstrução e reduzem a morbidade. A opção pela técnica depende dos achados intraoperatórios, das circunstâncias clínicas e da idade da paciente. Sempre que se indicar uma mastectomia em pacientes com boas condições clínicas, deve-se considerar a possibilidade de se realizar a reconstrução mamária imediata. 44 Hormonioterapia e Quimioterapia A terapia adjuvante sistêmica pode ser posterior tanto ao tratamento cirúrgico como a radioterapia instituídos. Sua recomendação deve basear-se no risco de recorrência. As mulheres com indicação de mastectomia como tratamento primário, podem ser submetidas à quimioterapia neoadjuvante, seguida de tratamento cirúrgico conservador, complementado por radioterapia. Para aquelas com receptores hormonais positivos, a hormonioterapia, também está indicada 44. Hormonal O Tamoxifeno( TMX) é o agente mais estudado para terapia hormonal para Câncer de mama. Estudos com mulheres que tomaram Tamoxefeno por 5 anos, demonstram uma redução de 41% na recorrência anual do câncer e uma redução de 34% na mortalidade anual para mulheres com câncer de mama ER positvo. Esses ganhos foram independentesde idade e menopausa, com ou sem o uso de quimioterapia. 48 O uso por menos de 5 anos apesar de efeitos benéficos não demonstrou tantos como o uso por 5 anos, já o uso por mais de 5 anos não demonstrou nenhum ganho adicional. 48 O uso de inibodores da areamotaso para a diminuição dos níveis de estrógeno para terapia hormonal coadjuvante vem sendo pesquisada, porém só se mostrou eficiente causando uma depleção de até 90% do estoque de estrógeno em mulheres já menopausadas. A associação de inibidores da aromatase com TMX apresentou modestas melhoras nos índices de recorrências de tumores, metastases a distância e tumores contralaterais mas sem resultados significativos na mortalidade quando comparados com o uso apenas do TMX por 5 anos. 49 65 O TMX é associado a raros riscos de de tromboembolismo e cancer de útero 50 , enquanto os inobidores da aromatose estão associados a osteoporose e síndrome artralgica. Ambos os tratamentos estão associados a sintomas menopausais, como: suores noturnos, fogachos, disfunção sexual e sintomas genitourinários. 51 Como o TMX é metabolizado pelo citocromo p -450 em seus metabólitos ativos, deve –se tomar cuidado com interações medicamentosas com outras drogas metabolizadas pelo mesmo P – 450, a exemplo de inibidores dos recepoteres da serotonina, oque pode interferir negativamente no resuldato da terapia com o TMX. 52 Qumioterapia A quimioterapia adjuvante consiste em múltiplos ciclos, que comprovademnte já se mostraram melhores doque ciclos simples, de poliquimioterapicos que é de imoportância estratégica para a diminuição dos riscos derecorrência de tumores e aumento da sobrevida independentemente de idade, tumor com receptor de estógeno ou terapia hormonal adjuvante. Também já foi demonstrada a superioridade dos ciclos com antracíclico . 53 Baseado nestes dados a terpia com antracíclicos está recomendada para a maioria dos pacientes com linfonodos positivos e tumores de alto risco com nódulo negativo.53 A introdução do taxanos ao tratamento de cânceres de mama em estágios iniciais constituiu um importante avanço na história da quimioterapia. Estudos demonstraram que a terapia com paclitaxel melhoraram tanto a taxa de sobrevida como o tempo sem recorrência do câncer em mulheres com cânceres de mama com o linfonodo positivo.54 A dosagem e cronograma da quimioterapia continua uma área de grande investigação clínica, tentando determinar a melhor quimioterapia para cada tipo e estágio do câcer, visando uma maior individualização da quimioterapia. 55 Receptores hormonais são considerados importantes preditores de benefícos da quimioterapia. Estudos demostraram uma associação benéfica na quimioterapia e hormonioterapia para tumores com baixa ou pouca expressão ER, porém nem todo os estudos retrospectivos demonstraram uma vantagem na utilização da quimioterapia, estando essa realção ainda não muito bem estabelecida. 56 Os HER-2 também foram amplamente estudados com preditores do benefício da quimioterapia adjuvante. Muitos estudos retrospectivos sugerem que uma expressão exacerbada de HER-2 está associada a efeitos benéficos da terapia com antracíclicos. Estes estudos também criticam o uso disseminado do trastuzumab em tumores positvos para HER-2, oque apresentou resultados duvidosos. 57 66 Radioterapia Pode ter como objetivo tanto destruir as células remanescentes após a cirurgia como reduzir o tamanho do tumor antes da cirurgia. Após cirurgias conservadoras deve ser aplicada em toda a mama da paciente, independente do tipo histológico, idade, uso de quimioterapia ou hormonioterapia ou mesmo com as margens cirúrgicas livres de comprometimento neoplásico 44, o que gerou a máxima : “mama preservada é igual a mama irradiada”. Um reforço da dose no leito tumoral , está indicado nas pacientes com carcinoma ductal infiltrante, principalmente naquelas com idade inferior a 50 anos. Os casos de carcinoma ductal in situ, quando tratados por meio da cirurgia conservadora, devem ser submetidos à radioterapia adjuvante em toda a mama. 44 A positividade de um dos fatores listados a seguir é suficiente para a indicação de radioterapia após a mastectomia 44: - tumores com diâmetro igual ou maior que cinco centímetros - pele comprometida pelo tumor - dissecção inadequada da axila - margem comprometida (menor do que 1 cm.) - quatro ou mais linfonodos comprometidos A utilização de quimioterapia com antracíclicos no período após as cirurgias radicais ou conservadoras protelam o início da radioterapia para o término da terapêutica sistêmica, não devendo ser este período superior a seis meses desde a realização da cirurgia. 44 Existindo mais de quatro linfonodos axilares comprometidos e em tumores centrais ou mediais, deve ser incluída a cadeia da mamária interna, principalmente nos três primeiros espaços intercostais, uma vez 30% das vezes a mesma se apresenta comprometida. 44 4.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. 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