Por que comemos o que comemos da forma como o fazemos ? Uma perspectiva antropológica da alimentação Livia Barbosa VIII Congresso Nacional Ilsi Brasil - 2017 A construção social da comida • Os hábitos e as práticas alimentares são socialmente construídos. – Não são determinados nem pela biologia nem pelo meio ambiente – São escolhas feitas a partir de um determinado contexto e momento histórico • Exigências nutricionais versus as escolhas culturais – As necessidades nutricionais são atendidas das mais diferentes formas • • • • As várias “proteínas” Os vários “carbs” Os vários açucares O que torna alguma coisa comestível? Comestibilidade • A comestibilidade é aquilo considerado “digno” de ser comido por um determinado grupo. – Ela é independente do teor nutricional ou da disponibilidade ambiental de um determinado item. – Ela pode nos levar aos limites da sobrevivência • Sociedades diferem entre si pelo seus respectivos graus de comestibilidade. – Brasil e China • Alimento e comida Aprendemos a Comer • Não comemos de forma genérica mas de forma especifica e particular. • Aprendemos a comer durante toda a nossa vida de acordo com: • Idade, sexo, situação, companhia, horários,novos conhecimentos , novos produtos, etc. A gramática social da comida • Alimentos não são ingeridos aleatoriamente mas sim de acordo com determinadas regras • O que, quando, onde, com quem, de que maneira? • O quem tem para jantar? A reprodução social através da comida • Estabelecemos fronteiras entre gupos sociais – Ingleses (roast beef) versus Franceses (frogs) – Coreanos(cachorros) EUA( cachorro é pet) • Constituímo-nos como diferentes categorias de pessoas – Carnívoros, veganos, vegetarianos, flexitários, velhos, jovens, homens e mulheres • Construímos diferentes tipos de corpos, de hierarquias sociais e morais: – Gordos e magros: fatismo, right to be fat, orgulho gordo – Vegetarianos e veganos Teorias nutricionais “nativas” • A comestibilidade dos diferentes sistemas alimentares são justificados no interior de teorias nutricionais nativas : alimento , comportamentos, doenças, saúde, corpos e temperamento – – • Graham /carne vermelha ; carne vermelha/violência Idade Média, Yang e Yin, Aryuveda, Dieta Mediterrânea – Brasil: comida pesada, remosa, comida de gente, comida de passarinho, comida de mulher (feminilização da alimentação contemporânea) Não existem regras alimentares e prescrições dietéticas isoladas de ideais sociais e morais. – “Existe mais simplicidade em um homem que come caviar por impulso do que no homem que come cereais por princípio”! (G.K. Chesterton) A gramática contemporânea: reaprendendo a comer • • O que significa “comer correto”? – Comer saudável, limpo, natural, orgânico, agro ecológico, ético, consciente, etc. Não é só uma questão nutricional mas também de justiça social e ambiental – Não ingerimos só o alimento , mas a cadeia produtiva, o meio ambiente e as relações de produção • Ex: Mindful Eating • Comida se tornou um instrumento de transformação social • Desconstrução e inversão hierarquica A gramática contemporânea: a desconstrução da trilogia sagrada Leite: de alimento perfeito a anti evolutivo e secreção glandular ➢ lactose Trigo: de símbolo da divindade e da abundância à doença celíaca ➢ gluten Carne: de símbolo de poder e status à destruição ambiental, sofrimento animal e inferioridade moral A gramática contemporânea: inversões hierarquicas • O retorno de Hipócrates – Comida e remédio • Reposicionamento da: – Relação da sociedade com a natureza – Cozinha e do cozinhar – Ingredientes – Atores sociais Em que direção vamos? • Em busca dio prato perfeito? • Qual a moralidade subjacente? • Quais os corpos desejados? • O que esta verdadeiramente em jogo?