UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DO AMAZONAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL MESTRADO EM DOENÇAS TROPICAIS E INFECCIOSAS CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR DO VÍRUS DA HEPATITE B (VHB) EM PORTADORES DE ÁREA ENDÊMICA NA AMAZÔNIA OCIDENTAL BRASILEIRA ÁDILA LILIANE BARROS DIAS MANAUS 2009 i ÁDILA LILIANE BARROS DIAS CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR DO VÍRUS DA HEPATITE B (VHB) EM PORTADORES DE ÁREA ENDÊMICA NA AMAZÔNIA OCIDENTAL BRASILEIRA Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas em Convênio com a Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, para obtenção do grau de Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas. Orientador: Prof. Dr Wornei Silva Miranda Braga Co-Orientadora: Profa. Dra. Cintia Mara Costa de Oliveira MANAUS 2009 FICHA CATALOGRÁFICA Dias, Ádila Liliane Barros Dias Caracterização molecular do vírus da Hepatite B (VHB) em portadores de área endêmica na Amazônia Ocidental Brasileira. Ádila Liliane Barros Dias. Manaus, 2009. ix, 53f. Dissertação de Mestrado – Universidade do Estado do Amazonas. Fundação de Medicina Tropical. Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical. Título em inglês: Characterization of the hepatitis B Virus in patients from an endemic area of the West Brazilian Amazon. 1. VHB. 2. Genótipos. 3. Epidemiologia. 4. Amazônia. 5. Brasil. ii FOLHA DE JULGAMENTO CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR DO VHB EM AMOSTRAS DE PORTADORES DO MUNICÍPIO DE LÁBREA ÁDILA LILIANE BARROS DIAS “Esta Dissertação foi julgada adequada para obtenção do Título de Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas, aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas em convênio com a Fundação de Medicina Tropical do Amazonas”. Banca Julgadora: _______________________________ Prof. Wornei Silva Miranda Braga, Dr Presidente ________________________________ Profª. Maria Paula Gomes Mourão, Dra Membro _____________________________ Prof. Cristóvão Alves da Costa, Dr Membro iii AGRADECIMENTOS A Deus por ter me dado forças para conseguir chegar até o final. Ao meu esposo, Vanderson Sampaio, pelo apoio incondicional, pela compreensão e pelo companheirismo. Ao meu filho, Gabriel Sampaio, que mesmo pequeno e sem ter conhecimento me motivou e me vivificou com cada sorriso. Aos meus pais, Lacy Dias e José Antônio Dias que puderam me proporcionar uma base educacional, necessária para ter chegado aqui. As minhas irmãs, Luanna Dias e Letícia Dias, pelo incentivo mesmo a distância. Ao meu orientador, Dr. Wornei Braga, pela oportunidade e confiança dada a minha pessoa me proporcionando a chance de poder realizar este trabalho. A Márcia Castilho e a Dra. Cintia Mara, por terem me ensinado e me ajudado com as técnicas de Biologia Molecular, pela amizade e pelo apoio. Ao Dr. Henrique que me auxiliou nos momentos de dúvidas e desesperos. Aos colegas de laboratório pela ajuda, amizade e pelos momentos de descontração. Aos meus amigos de mestrado, em especial, Belisa Magalhães, Gisely Cardoso, Laylah Magalhães, Suzane Prestes e Marly Marques, pela amizade, carinho, companheirismo e pelo apoio. Aos professores e a equipe da coordenação do Curso de Mestrado em Doenças Tropicais e Infecciosas, da Universidade do Estado do Amazonas e Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, uma pós-graduação que a cada ano vem se aprimorando. As instituições de fomento, CNPq e FAPEAM, as quais proporcionaram a realização deste trabalho. iv RESUMO A infecção pelo vírus da hepatite B (VHB) é um importante problema de saúde pública no mundo. O VHB é classificado em oito genótipos diferentes, A-H, com distinta distribuição geográfica. No Brasil os genótipos mais freqüentes são o A, D e F. Objetivo deste estudo foi caracterizar os genótipos do VHB em região endêmica de infecção pelos vírus das hepatites B e Delta na Amazônia Ocidental Brasileira. Foram analisadas 86 amostras soro reativas para o HBsAg de indivíduos indígenas e não-indígenas, obtidas de inquéritos sorológicos realizados no município de Lábrea, Estado do Amazonas. Das 86 amostras soro reativas 39 foram VHB-DNA positivas pela semi-“nested” PCR. Os genótipos foram estabelecidos pelo seqüenciamento da região do gene S amplificado. Foram obtidas 20 seqüências, classificada em três genótipos A, D e F. Sendo o genótipo A o mais freqüente (60%), seguido do D (35%) e F(5%). O perfil de distribuição dos genótipos encontrados reflete o padrão de ocupação histórica da região. Palavra-chave: VHB, genótipos, epidemiologia, Amazônia, Brasil. v ABSTRACT Hepatitis B virus (HBV) infection is an important public health problem in the world. HBV is classified into eight genotypes, varying from A to H, with distinct geographical distribution. In Brazil, the most frequent genotypes are A, D and F. The purpose of this study, was to characterize the genotypes of HBV in a hepatitis B and Delta endemic area in the Western Brazilian Amazon. We analyzed 86 serum samples reactive for HBsAg of indigenous and non-indigenous, obtained from serological surveys conducted in the Lábrea municipality, Western State of Amazonas. From the 86 reactive serum samples, 39 were HBV-DNA positive by semi-nested PCR. Genotypes were established by sequencing the S gene region amplified. We obtained 20 sequences, classified into three genotypes A, D and F. The genotype A was the most frequent (60%), followed by D (35%) and F (5%). The distribution profile of the genotypes found reflect the pattern of historical occupation of the region. Keyword: HBV genotypes, epidemiology, Amazon, Brazil. vi LISTA DE FIGURAS Figura 1: Prevalência da VHB no mundo......................................................... 2 Figura 2: Mapa mostrando a distribuição da hepatite B no Brasil.................... 2 Figura 3: Partículas virais do VHB................................................................... 5 Figura 4: Desenho esquemático do genoma do VHB...................................... 6 Figura 5: Esquema da replicação do vírus da hepatite nos hepatócitos......... 9 Figura 6: Esquema da replicação do vírus da hepatite nos hepatócitos......... 10 Figura 7: Figura 5: Mapa do município de Lábrea........................................... 13 Figura 1: Mapa da área de estudo................................................................... 23 Figura 2: Árvore filogenética............................................................................ 26 vii LISTA DE ABREVIATURAS, SÍMBOLOS E UNIDADES DE MEDIDA µl – Micro litros AgAu – Antígeno Austrália AgHBe – Antígeno e AgHBs - Antígeno de superfície da hepatite B Anti- HAV – Anticorpos totais contra vírus da hepatite A Anti- HD – Anticorpos totais contra vírus da hepatite D Anti-HBc – Anticorpo contra antígeno do core do vírus Anti-HBe – Anticorpo contra antígeno e Anti-HBs – Anticorpo contra o antígeno de superfície da hepatite B Anti-HCV – Anticorpo contra o vírus da hepatite C cccDNA – Ácido desoxirribonucléico circular covalente fechado DNA - Ácido desoxirribonucléico dNTP – Desoxirribonucléico Trifosfato ELISA – Enzyme Linked Immunosorbente Assay FMTAM – Fundação de Medicina Tropical do Amazonas HBx – Proteína X IgG – Imuniglobulina G IgM – Imuniglobulina M mM – Mil imolar Nm - Nanômetro Nt - Nucleotídeos ºC – Graus Celsius OMS - Organização mundial de saúde pb – Pares de base PCR – Reação em cadeia de polimerase Pmol – pico moles Primer F – Iniciador senso Primer R – Iniciador anti-senso RNA – Ácido ribonucléico Rpm – Rotações por minuto TBE – Tampão Tris HCL, EDTA, e ácido bórico UI/μl – unidade internacional por micro litros UV – Raios ultra violeta VHB - Vírus da hepatite B VHC – Vírus da hepatite C VHD – Vírus da hepatite Delta viii SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 1 1.1 Considerações gerais.......................................................................................... 1.2 Hepatite B na Amazonia ..................................................................................... 1.3 Vírus da Hepatite B (VHB)................................................................................... 1.3.1 Replicação do VHB........................................................................................... 1.3.2 Marcadores sorológicos................................................................................... 1.3.3 Subtipos do VHB............................................................................................... 1.3.4 Genótipos do VHB............................................................................................ 1 3 4 7 7 8 9 2 OBJETIVO.............................................................................................................. 12 2.1 Objetivo Geral...................................................................................................... 2.2 Objetivo Especifico.............................................................................................. 12 12 3 MATERIAL E MÉTODOS...................................................................................... 13 3.1 Modelo de estudo................................................................................................ 3.2 Local de estudo.................................................................................................... 3.4 Amostras.............................................................................................................. 3.5 Extração de DNA................................................................................................. 3.6 Amplificação do gene S por PCR........................................................................ 3.7 Eletroforese dos produtos de PCR...................................................................... 3.8 Purificação dos produtos de PCR........................................................................ 3.8.1 Determinação do genótipo VHB....................................................................... 3.8.1.1 Reação de seqüenciamento.......................................................................... 3.8.2 Analise dos questionários................................................................................. 3.8.3 Análise prévia das seqüências......................................................................... 3.8.4 Edição e alinhamento das amostras................................................................ 3.8.5 Análise filogenética.......................................................................................... 13 13 14 15 15 16 17 17 17 18 19 19 19 4 RESULTADOS....................................................................................................... 20 5 CONCLUSÃO......................................................................................................... 33 6 REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA........................................................................... 34 7 ANEXO................................................................................................................... 38 7.1 Certificado de Aprovação no Comitê de Ética e Pesquisa.................................. 7.1.1 Hepatites virais no município de Lábrea: O impacto na saúde pública............ 7.1.2 Febre Negra de Lábrea: O papel das populações indígenas na epidemiologia da hepatite B e Delta.......................................................................... 7.2 Termo de consentimento livre esclarecido.......................................................... 7.3 Questionários...................................................................................................... 7.3.1 Questionário de investigação epidemiológica de doença icterohemorrágica em populações indígenas........................................................................................ 38 38 39 40 41 41 ix 7.3.2 Questionário do projeto “Hepatites virais no município de Lábrea: “O impacto na Saúde Pública”........................................................................................ 43 1 1 INTRODUÇÃO 1.1 Considerações gerais A hepatite viral aguda é uma doença antiga, porém acredita-se que o primeiro surto de hepatite B tenha ocorrido a cerca de 100 anos, na Alemanha (Cruz et al.,2000). É definida como uma infecção hepática causada por um grupo de vírus hepatotrópicos que são denominados A, B, C, D e E (Cruz et al., 2000; Acosta, 2000). A hepatite B representa uma das infecções mais presentes no mundo, considerando que muitos indivíduos infectados são assintomáticos e que as infecções sintomáticas são insuficientemente notificadas, a freqüência da hepatite B é, certamente, ainda subestimada. Dados epidemiológicos da Organização Mundial de Saúde (OMS) demonstram que cerca de dois bilhões de pessoas possuem evidências sorológicas de infecção pelo vírus da hepatite B (VHB), apesar de já existir uma vacina eficaz há cerca de vinte anos. Destes, cerca de 350 milhões são portadores crônicos, que apresentam grande risco de morte por cirrose ou hepatocarcinoma e constituem um reservatório de indivíduos infectados (Sharma et al., 2005) por serem portadores do vírus em replicação (Ganem & Prince, 2004). No mundo, o índice de prevalência de infecção pelo VHB divide as áreas geográficas em três categorias distintas: alta endemicidade (> 8%); média endemicidade (2 – 8%) e baixa endemicidade (< 2%) (Figura 1). Nas áreas que correspondem à região de alta endemicidade o índice de portadores do VHB alcança 5% a 20%, e na maioria dessas áreas a aquisição da infecção ocorre, sobretudo na fase precoce da vida, muitas vezes por transmissão vertical. Nas áreas de média endemicidade o índice de portadores varia de 1% – 5% e nas áreas de baixa endemicidade encontra-se abaixo de 0,1%. Nessas áreas a transmissão sexual assume uma importância significativa (Silva, 2004). No Brasil, o Ministério da Saúde estima que pelo menos 15% da população já foi contaminada com VHB, sendo que os casos crônicos correspondem a cerca de 1% da população brasileira (Ministerio da Saude 2002). Alguns estudos do final da 2 década de 80 e início de 90 sugeriram uma tendência crescente do VHB em direção à região Norte. Assim, considerava-se que ocorriam três padrões de distribuição da hepatite B: alta endemicidade, com prevalência superior a 7%, presente na região Amazônica, alguns locais do Espírito Santo e oeste de Santa Catarina; endemicidade intermediária, com prevalência entre 2 e 7%, nas regiões Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste e baixa endemicidade, com prevalência abaixo de 2% na região Sul do país (Ministério da Saúde, 2007; Souto et al., 1999) (Figura 2). Figura 1: Prevalência do vírus da hepatite B no mundo. Fonte: http://www.cdc.gov/search. do?q=hepatitis+b Figura 2: Mapa mostrando a distribuição da hepatite B no Brasil (Souto et al., 1999) 3 De modo geral, a taxa de letalidade dos pacientes hospitalizados é de 0,8 a 2%, podendo aumentar nos indivíduos com mais de 40 anos de idade e ser maior nos casos associados ao vírus da hepatite D. No Brasil, a taxa de mortalidade por hepatite B é de 0,6 por 100 000 habitantes (Dutra e Haas, 1999). O VHB é o mais versátil dos vírus hepatotrópicos e pode causar: hepatite aguda; hepatite crônica; cirrose hepática; hepatite fulminante com necrose hepática e portadores assintomáticos. E ainda desempenha um papel importante no desenvolvimento do carcinoma hepatocelular (Acosta, 2000). O risco de desenvolver doença aguda ictérica aumenta com a idade do paciente, inversamente à possibilidade de cronificação. Quando os recém-nascidos entram em contato com os vírus B há 90% de chance de se tornarem cronicamente infectados; quando a infecção ocorre aos cinco anos, a possibilidade cai para 30-50%, sendo a taxa reduzida para 5-10% se a infecção ocorre em adultos (Gust e Crowe, 1986 ;CDC, 1991). 1.2 Hepatite B na Amazônia A prevalência do VHB no Brasil varia principalmente de acordo com as características demográficas e sócio-econômicas da população, sendo a região Norte a que apresenta maior endemicidade. A Amazônia Ocidental brasileira é considera uma região de alta prevalência para o VHB. Nessa região, os grupos de risco para VHB serão definidos, fundamentalmente, pelo comportamento individual e social: profissionais da área da saúde, homossexuais masculinos, usuários de drogas intravenosas, prostitutas, pacientes em hemodiálise. Uma grande parte da população é infectada ainda nos primeiros meses de vida ou durante a infância (Ferreira e Silveira, 2004). Estudo realizado no Brasil mostrou que 21,4% da população de uma comunidade do Amazonas possui anticorpos anti-HBc, mostrando uma alta taxa de prevalência do VHB nesta região (Clements et al., 2000). Braga e colaboradores (2005) em estudo de soroprevelência da infeccção pelo VHB e pelo plasmódio em Lábrea mostraram que 49,9% da população em estudo apresentou contado com 4 VHB (anti- HBc total isolado) e Aquino et. al., (2008) identificaram em seu estudo, no Estado do Pará, uma prevalência de 37,7% para anti-HBc na amostra estudada . Algumas comunidades indígenas do estado do Amazonas também apresentam alta prevalência dos marcadores sorológicos do VHB, sendo que essa prevalência geralmente varia de acordo com fatores que incluem condições econômicas e o isolamento geográfico do grupo (Bensabath et al., 1987). Braga et.al.,(2001) estudando o VHB em grupos indígenas encontraram um taxa de prevalência de infecção passada, indivíduos anti-HBc total reativo, de 54,5%, variando entre os grupos e aldeias visitadas, de 19,7% entre os Jamamadi a 78,6% entre os Kanamari. A taxa de portadores do AgHBs encontrada (9,7%) confirma o caráter endêmico da infecção pelo VHB na população estudada. Um estudo realizado na Amazônia ocidental brasileira revelou uma significativa correlação entre anti-HBc e o nível de atividade sexual (de Paula, 2001). Em outro estudo, o uso medicação injetável foi identificado como o principal fator de exposição prévia ao VHB (Cabezas et al., 1994). Contudo os principais mecanismos de propagação da hepatite B na Amazônia ainda não foram totalmente identificados e podem envolver fatores que são altamente específicos para a região (Leon et al., 1999). 1.3 Vírus da Hepatite B (VHB) A pedra fundamental para a história da hepatite B foi a descoberta acidental do antígeno Austrália (AgAu) por Blumerg e colaboradores em 1965. A partir deste achado novos estudos foram realizados a fim de elucidar tal partícula. No inicio acreditava-se que AgAu tinha uma relação com a leucemia, mas em 1967, Blumerg e colaboradores, sugeriram pela primeira vez que a alta freqüência do AgAu no soro de pacientes com hepatite aguda poderia estar relacionada com um suposto “vírus” introduzido entre humanos por transfusões de sangue (Fonseca, 2006). O VHB é um vírus resistente, capaz de suportar extremos de temperatura e umidade (Chisari, 2000) sobrevive até uma semana fora do corpo humano, no plasma, a vida média do VHB varia de um a três dias, enquanto nos hepatócitos a 5 vida média varia de 10 a 100 dias (Fonseca, 2007). O sangue e os líquidos corporais são os principais veículos de transmissão, podendo transmitir o vírus por transfusão de sangue e hemoderivados, transplantes de órgãos e hemodiálise. O vírus também pode ser disseminado pelo contato com secreções do corpo, como sêmen, saliva, suor, lágrima e leite de mama (CDC, 2007). O VHB pertence à família Hepadnaviridae, uma família de vírus de DNA que causa hepatite em múltiplas espécies de animais, e ao gênero Orthohepadnavirus. Os hepadnavirus infectam preferencialmente os hepatócitos. O VHB completo, também chamado de partícula de Dane, é formado por uma partícula de DNA, é envelopado e com 42 nm de diâmetro (Figura 3) (Moreno et al., 2004; Pinho, 1995). Além da partícula Dane, existem dois outros tipos de partículas virais não infecciosas, que podem ser encontradas na circulação. Umas esféricas de pequeno diâmetro (20 nm) e outras de forma tubulares (22 nm de largura e 150 nm de comprimento), ambas constituídas exclusivamente pelo antígeno de superfície (Figura 3) (Carneiro de Moura, 1997). Figura 3: Partículas virais do VHB. Fonte:http://pathmicro.med.sc.edu/virol/hepatitisvirus.htm 6 O genoma do VHB é uma cadeia circular incompleta de DNA de dupla hélice, que possui 3.200 nucleotídeos (Figura 4). Apresenta quatro regiões abertas para leitura: S, C, P e X. O gene S, incluindo a região pré-S1, pré-S2 e a região S, codifica proteínas do antígeno de superfície encontradas no envelope viral. O Gene C, constituído pela região pré-C, é responsável por codificar os polipeptídios que constituem o nucleocapsídeo viral, antígeno core da hepatite B (AgHBc) e o antígeno e (AgHBe). O Gene P codifica a polimerase viral e o gene X codifica a proteína X (HBx), que é um potente ativador de transcrição (Moreno et al., 2004; Silva, 2004). A proteína X é imprescindível para replicação e disseminação in vivo do VHB, ela atua como um transativador transcricional dos genes virais e uma variedade de genes do hospedeiro. A modulação pela HBx de transcrição gênica afeta a replicação viral e a função dos pontos de verificação do ciclo celular do hepatócito. A HBx está relacionada com a patogenia do hepatocarcinoma em pacientes infectados com VHB (Chisari, 2000). Figura 4: Desenho esquemático do genoma do VHB. (Beck & Nassal, 2007) 7 1.3.1 Replicação do VHB Embora não se conheça com exatidão os mecanismos deste processo, a replicação começa com a união do vírus a membrana do hepatócito através da proteína Pré-S1. O Envelope da partícula viral se funde com a membrana celular e é liberado no citoplasma o nucleocapsídeo (core), que se dirige ao núcleo (Figura 5). Dentro do núcleo da célula se completa a síntese da cadeia positiva (incompleta) do DNA viral, de tal forma que o genoma do VHB se converte em uma cadeia fechada de DNA com ligações covalentes superespiraladas (cccDNA). Este cccDNA servi como base para transcrição do RNA viral (Ganem et al, 2001). O RNA viral (pré-genômico), por sua vez, constitui o molde para a síntese de uma das cadeias da molécula de DNA (cadeia -) pela atividade enzimática da transcriptase reversa (polimerase do vírus), a qual ao mesmo tempo em que copia o RNA em DNA, o vai removendo através da atividade RNAse H que também possui. A digestão do RNA não é completa e o oligoribonucleótido terminal, que inclui a seqüência repetida DR1 é translocado e emparelhado com a região DH2 perto do terminal 5’ da mesma cadeia negativa (-) onde atua como iniciador da síntese da cadeia positiva (+). Quando parte (50 a 70%) desta cadeia está sintetizada, presume-se que uma alteração alostérica do complexo tenha lugar e que esta determine a posição do invólucro do antígeno de superfície e a exportação da partícula para o exterior da célula (Raney e Mclachlan,1991). Posteriormente, as progênies virais adquirem o envoltório, a partir das membranas intracelulares (retículo endoplasmático e o complexo de Golgi), quando então os virions podem retornar ao núcleo celular para continuar o processo de replicação genômica ou podem ser secretados (Huovila et al., 1992). 1.3.2 Marcadores sorológicos Na investigação da hepatite B podem ser utilizados os seguintes marcadores : 8 • O HBsAg aparece antes do início dos sintomas. Chega ao máximo durante doença franca e a seguir declina para níveis indetectáveis em 3 a 6 meses; • O HBeAg, VHB-DNA e DNA polimerase aparecem no soro logo depois do HBsAg, e todos significam replicação viral ativa; • A IgM anti-HBc torna-se detectável no soro um pouco antes do início dos sintomas, concomitante ao início da elevação das aminotransferases séricas. Ao correr dos meses, o anticorpo IgM é substituído por IgG antiHBc; • O anti-HBe é detectável logo depois do desaparecimento do HBeAg, significando que a infecção aguda chegou ao máximo e a doença está regredindo; • A IgG anti-HBs não se eleva até que a doença aguda tenha acabado e em geral não é detectável durante algumas semanas a vários meses depois do desaparecimento de HBsAg. O anti-HBS pode persistir por toda vida, conferindo proteção (Veronesi, 2005). 1.3.3 Subtipos do VHB Através de análises sorológicas, as cepas de VHB foram divididas em nove subtipos baseados nos antígenos de superfície apresentados, (HBsAg) designados da seguinte forma: ayw1, ayw2, ayw3, ayw4, ayr, adw2, adw4q-, adrq+ e adrq(Bancroft, 1972; Okamoto et al., 1988). As variações d/y e w/r, que garantem a variabilidade entre os subtipos, apresentam sua base molecular em substituições do tipo Lys/Arg nos resíduos 122 e 160 no gene S, respectivamente (Okamoto, 1987). Atualmente, a classificação em subtipos tem caído em desuso, sendo utilizada a classificação em genótipos (Kidd-Ljunggren, 2002). 9 Figura 5: Esquema da replicação do VHB nos hepatócitos. https://www1.qiagen.com/Geneglobe/PathwayView.aspx? pathwayID=217 Fonte: 1.3.4 Genótipos do VHB Tomando-se como base diferenças genéticas, o VHB foi classificado em oito genótipos distintos que variam de A a H. Uma análise do genoma completo de um grupo em relação a outro demonstra diferenças de até 8%. É notável ainda que os oito grupos de genótipos demonstram um padrão de dispersão geográfica ao redor do mundo (Norder et al, 1993 e 1994). O genótipo A encontra-se disperso pelo mundo, sendo o predominante na Europa, América do Norte, África e Índia. Os genótipos B e C predominam no Leste e Sudeste da Ásia e Austrália. O genótipo D é principalmente encontrado no Oriente Médio e países do Mediterrâneo. O genótipo E parece ser predominante no oeste africano, enquanto o genótipo G foi caracterizado nos Estados Unidos, México e França e os genótipos F e H são encontrados exclusivamente nas Américas Central e do Sul (Campos et al, 2005 e Weber, 2006). 10 Alguns genótipos foram subdivididos em subclasses: sub-genótipos com origens geográficas diferentes. O genótipo A, por exemplo, é subdividido em três grupos: Sub-genótipos A1, A2 e A3, com origens em África/Ásia, Europa/América do Norte e Camarões, respectivamente (Bowyer et al, 1997 e Kurbanov et al, 2005). No Brasil, já foi relatada a existência de variabilidade de prevalência em diferentes regiões. Na região amazônica brasileira, representada pela região norte e parte da região nordeste, por exemplo, nota-se uma taxa de infecção endêmica, contrastando com a baixa prevalência encontrada na região sul (Figura 6). Tal distribuição é diferente da encontrada nos demais países da América Latina, com maior prevalência dos genótipos A, D e F entre os portadores (Gaspar et al, 1987; Souto, 1999; Mello et al., 2007). Figura 6: Mapa da distribuição dos genótipos no Brasil (Mello et al., 2007). Algumas alterações na estrutura genética dos genótipos do VHB podem resultar em diferentes níveis de patogenicidade, sendo relacionadas com maior ou 11 menor risco de desenvolvimento de hepatocarcinoma ou cirrose no fígado. Além das diferenças citadas, a heterogeneidade dos genótipos da hepatite B parece estar relacionada com diferenças na evolução clínica da infecção e na resposta ao tratamento antiviral (Roncato et al, 2008). 12 2 OBJETIVO 2.1 Geral Seqüenciar e analisar o gene S do vírus da hepatite B (VHB) e identificar os diferentes genótipos obtidos de indivíduos procedentes do município de Lábrea do Estado do Amazonas. 2.2 Especifico • Obter a seqüência parcial do gene S, que expressa o antígeno de superfície, de diferentes amostras de indivíduos infectados pelo VHB; • Caracterizar os genótipos do VHB obtidos; • Identificar o genótipo predominante em indivíduos indígenas e não indígenas; 13 3 MATERIAL E MÉTODOS 3.1 Modelo de estudo Estudo descritivo com caracterização da biologia molecular do VHB em indivíduos positivos para o antígeno HBsAg da região Amazônica Ocidental Brasileira. 3.2 Local de estudo O município de Lábrea (Figura 7) está localizado na região sudoeste do Estado do Amazonas, no vale do Rio Purus é uma área hiper endêmica do VHB e VHD. É uma região ainda quase que despovoada sendo sua densidade demográfica de 0,4 habitantes por quilômetro quadrado. Figura 7: Mapa do Estado do Amazonas em destaque o município de Lábrea Fonte: http://www.manausonline.com/ municípios_detalha. asp?id_mun=35) 3.3 Obtenção de amostras O presente projeto está associado a dois projetos de maior amplitude designados: “Hepatites virais no município de Lábrea: O impacto na saúde pública”, (aprovado pelo comitê de ética da FMTAM – processo Nº 2957/2003-FMTAM) (Anexo 6.4.1), que tem como objetivo geral, determinar a prevalência de marcadores sorológicos de infecção presente e passada do vírus da hepatite B (VHB), vírus da hepatite C (VHC), vírus da hepatite Delta (VHD) e vírus da hepatite A, na zona rural do município de Lábrea (rio Purus), quatorze anos após a introdução da vacina 14 contra hepatite B na região; “Febre Negra de Lábrea: O papel das populações indígenas na epidemiologia da hepatite B e Delta” (aprovado pelo comitê de ética da FMTAM – processo Nº 2090/2005-FMTAM) (Anexo 6.4.2), que tem como objetivo geral estudar a biologia molecular dos vírus das hepatites B e Delta, em populações indígenas do município de Lábrea, Amazônia ocidental brasileira. As pessoas, ao serem visitadas, foram convidadas a participar do estudo em questão. Ao concordarem participar do estudo, foram lhes esclarecidos os objetivos do trabalho, riscos associados ao estudo, benefícios e confidencialidade dos registros. Em seguida o participante assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo 6.2), e com ajuda do pesquisador responsável, foi preenchido um questionário individual (Anexo 6.3). De cada paciente foi colhido, à vácuo, dois frascos de sangue total com EDTA (2 x 5 ml - Vacutainer BD / Becton Dickinson UK Ltda.) e posteriormente centrifugados a 2.000 rpm. O plasma foi separado e as amostras foram identificadas com o número de registro , e imediatamente armazenadas a temperatura de -20ºC. O transporte para Manaus foi realizado por via aérea, em containeres acondicionados em recipiente térmicos, mantidos a baixa temperatura. 3.4 Amostras As amostras selecionadas para realização deste trabalho foram coletadas durante a realização de inquéritos sorológicos realizado no município de Lábrea/AM entre fevereiro 2006 e julho 2008. Tais amostras foram submetidas testadas marcadores sorológicos de infecção pelo VHB (HBsAg, anti-HBc total, anti- HBc IgM, HBeAg, anti-HBe), anticorpos contra o vírus da hepatite A (anti-HAV total), da hepatite C (anti-HCV), da hepatite Delta (anti-HD total). Tais experimentos foram feitos utilizando-se testes imunoenzimáticos em fase sólida (ELISA) (BIOMÉRIEUX/ORGANO TÉCNICA DIASORIN PROCESSO AUTOMATIZADO ETMAX 33), de acordo com o manual do fabricante. De 1500 amostras obtidas nos inquéritos e submetidas à análise citada, 86, foram positivas para o marcador HBsAg e são objeto de análise do presente estudo. Desta amostra (86), 31 pertencem a indígenas e 55 a não indígenas. 15 3.5 Extração de DNA Foram utilizadas algumas estratégias de extração, a fim de se obter o melhor resultado da técnica. Primeiramente o DNA viral foi extraído a partir das amostras de soro utilizando o Qiamp DNA Blood Mini Kit (Qiagen Sciences, Maryland, USA), de acordo com os procedimentos recomendados pelo fabricante. Utilizando-se o mesmo Kit, Qiamp DNA Blood Mini Kit (Qiagen Sciences, Maryland, USA), foi realizado um gradiente de extração. Utilizou-se duas amostras, as quais foram colocadas em proteínase K e tampão AL por 30 minutos, 1 hora e 1 hora e 30 minutos, a fim de se verificar o melhor tempo de digestão. As amostras de DNA extraídas foram mantidas a temperatura de -70ºC até o momento de sua utilização. 3.6 Amplificação do gene S por PCR Para a amplificação do gene S do VHB, utilizou-se a técnica semi-“nested” PCR, utilizando na primeira reação os primers 783 e 2821 (Oliveira, 2007) (Tabela 1), que originou um produto de 1200pb. Nesta primeira reação foi utilizado um mix de PCR de volume de 50 µl descritos a seguir: - 5,0 µl de tampão 10x PCR - 1,0 µl de amostra, 2,0 µl de mix dNTP (10mM) - 2,0 µl de MgCl 2 (50mM) - 2,0 µl de iniciador senso (783) (10pmol) - 2,0 µl de iniciador anti-senso (2821) (10pmol) - 0,4 µl de Platinum taq DNA polimerase (5U/µl) - 36 µl de água MiliQ Na reação de semi-“nested” foi utilizado os primers 783 e P1 (Oliveira et al., 2008), originando um produto de 680 pb. O volume final da reação de semi-“nested” também foi de 50 µl, nesta reação foi utilizado 1,0 µl do produto amplificado na primeira reação e o volume do restante dos reagentes foi similar ao da primeira. 16 Tabela 1. Seqüência dos primers utilizados nas reações de PCR Nome Seqüência Quantidade 2821 783 P1 5’-GGG TCA CCA TAT TCT TGG GAA CA-3’ 5’-CTC ACG ATG CTG TAC AGA CTT-3’ 5’-GC CTC TCA CAT CTC GTC AAT-3’ 23nt 21nt 20nt Posição no genoma do VHB 2821-2150 783-762 104-123 Em todas as reações foram utilizadas uma amostra controle positivo de DNA VHB (plasma humano com carga viral a 1.000.000.000 UI/μl de VHB) e uma de controle negativo, na qual havia todos os reagentes com água MiliQ no lugar da amostra. As amplificações foram realizadas em termociclador Eppendorfe Mastercycler Gradiente. Para ambas as amplificações foi utilizado 35 ciclos com a seguinte programação. 94°C--------------------por 5 minutos 94°C--------------------por 30 segundos 35 ciclos 52,6°C-----------------por 2 minutos 72°C--------------------por 30 segundos 72°C--------------------por 7 minutos 4°C---------------------∞ 3.7 Eletroforese dos produtos de PCR Os produtos da amplificação da segunda reação foram visualizados em gel de agarose a 1,5% corados em brometo de etídeo (1,0 µl/ml). Foram aplicados no gel 5,0 µl de produto de PCR misturados com 3,0 µl de tampão de amostra TBE 5X. Como padrão de peso molecular utilizou-se o padrão Ladder de 100pb (Fermentas Life Sciences). Para migração das amostras em gel, na cuba de eletroforese, foi aplicada uma voltagem de 80 volts por 40 a 50 minutos. Após a migração eletroforética as amostras foram analisadas em transiluminador UV 302 nm Bio Agency e fotografadas utilizando o equipamento Canon Powershot S315. 17 3.8 Purificação dos produtos de PCR Após a revelação do gel as amostras que apresentaram a quantidade de pares de bases esperados na reação de semi -“nested” (680 pb), foram purificadas para serem seqüenciadas. Para purificação das amostras utilizou-se o Kit Wizard SV Gel and PCR CleanUp System (Promega), conforme as instruções do fabricante para purificação de produto de PCR. Foi utilizado 40 µl de produto de PCR que foram eluídos 25 µl de água MiliQ. Após a purificação misturou-se 2,0 µl de produto de PCR purificado com 2,0 µl de tampão de amostra TBE 5X e 2,0 µl de mass ladder com 2,0 µl de tampão TBE 5X. Dessa mistura aplicou-se 2,0 µl em gel de agarose 1,5%. 3.8.1 Determinação do genótipo VHB 3.8.1.1 Reação de seqüenciamento As reações de seqüenciamento foram realizadas em placas de 96 poços. Foi realizado seqüenciamento apenas das amostras que amplificaram na reação de semi-“nested”. O Kit utilizado para o seqüenciamento foi o “Big Dye Terminator 3.1 Cycle Sequencing Kit” . Foram realizadas duas reações de seqüenciamento para cada amostra, uma para o primer forward e outra para o reverse. Na reação de seqüenciamento foi utilizado um mix de volume de 20 µl, para cada primer, descritos a seguir: - 5,0 µl Mix de Big Dye - 2,5 µl de primer F ou R (5pmol/µl) - 0,5 a 3,0 µl de produto de PCR purificado - Água miliQ para completar o volume da reação 18 A reação de seqüenciamento foi processada em 30 ciclos nas condições a seguir: 96°C--------------------por 1 minuto 96°C--------------------por 20 segundos 55°C--------------------por 20 segundos 60°C--------------------por 3 minutos 4°C---------------------∞ 3.8.1.2 Precipitação do produto da reação de sequenciamento Foi adicionado aos 20 μl de produto da reação de seqüenciamento 80 μl de Isopropanol 75%, a placa foi selada e incubada a temperatura ambiente por 15 minutos. Após a incubação a placa foi centrifugada por 45 minutos a 4000rpm, descartou-se o sobrenadante e adicionou-se em cada amostra 200μl de etanol 70%, a placa foi selada e centrifugada por 10 minutos a 4000rpm. O sobrenadante foi descartado e adicionaram-se novamente 200μl de etanol 70%, a placa foi selada e centrifugada por 10 minutos a 4000rpm. Deixou-se secar o pellet a temperatura ambiente e protegido de luz. Adicionou-se em cada amostra 10 μl de Formamida HiDi, a placa foi selada e vortexada, posteriormente foi dado um pulso na centrifuga. A placa foi aplicada no termociclador a 95°C por 3 minutos para desnaturação, posteriormente a placa foi colocada em banho de gelo por 2 minutos e foi aplicado na placa um pulso, para eliminação das bolhas. Por fim as amostras fora submetidas a seqüenciamento, utilizado o seqüenciador automático 3130 XL Genetic Analyzer Applied Biosystems. 3.8.2 Analise dos questionários Os dados dos questionários foram consolidados e armazenados em um banco de dados no programa Excel 2007 (Microsoft Office). Destes dados foram analisados aspectos socioeconômicos e epidemiológicos da população estudada. 19 3.8.3 Análise prévia das seqüências As seqüência obtidas neste trabalho foram submetidas a analise pela ferramenta BLAST do GenBank, banco de dados internacional, para confirmação do tipo viral. 3.8.4 Edição e alinhamento das amostras Para confirmação do tipo viral, as seqüência obtidas foram submetidas a análise pela ferramenta BLAST do GenBank. Posteriormente as seqüências foram analisadas no programa BioEdit versão 7.0.9.0 (06/27/07) (Hall, 1999), aonde foram alinhadas e editadas quando necessário. Para o alinhamento foram utilizadas 30 seqüências armazenadas no GenBank, que continham os oito genótipos. 3.8.5 Análise filogenética Para identificação dos genótipos, foi realizada uma análise filogenética comparando os diferentes genótipos do VHB obtidos com os já conhecidos e depositados no GenBank. As análises filogenéticas e de evolução molecular foram realizadas utilizando o programa MEGA versão 4.0.2 (Tamura, 2007). Na construção das árvores filogenética aplicou-se o modelo de NeighborJoining (NJ). O nível de confiança foi obtido usando o método não paramétrico bootstrap baseado em 1000 réplicas (uma réplica é igual a uma comparação). A classificação genotípica foi realizada mediante análise de similaridade das sequencias obtidas no estudo e sequencias correspondentes aos genótipos de A a H obtidas no GenBank. As sequencias externas estão classificasa com seus respctivos números de acesso no banco de genes seguido da classificação genotípica de cada um. 20 4 RESULTADOS Os resultados serão apresentados na forma de artigo, que será enviado para revista Acta Tropica. Caracterização molecular do vírus da hepatite B em população autóctone e população endógena do município de Lábrea, na Amazônia ocidental brasileira Dias ALBa, Oliveira CMCb, Castilho MCb, Silva MSPc, Braga WSMb a. Universidade do Estado do Amazonas b. Gerência de Virologia, Fundação de Medicina Tropical do Amazonas. Manaus, AM, Brasil c. Secretaria Municipal da Saúde de Lábrea. Resumo A infecção pelo vírus da hepatite B (VHB) é um importante problema de saúde pública no mundo. O VHB é classificado em oito genótipos diferentes, A-H, com distinta distribuição geográfica. No Brasil os genótipos mais freqüentes são o A, D e F. Objetivo deste estudo foi caracterizar os genótipos do VHB em região endêmica de infecção pelos vírus das hepatites B e Delta na Amazônia Ocidental Brasileira. Foram analisadas 86 amostras soro reativas para o HBsAg de indivíduos indígenas e não-indígenas, obtidas de inquéritos sorológicos realizados no município de Lábrea, Estado do Amazonas. Das 86 amostras soro reativas 39 foram VHB-DNA positivas pela semi-“nested” PCR. Os genótipos foram estabelecidos pelo seqüenciamento da região do gene S amplificado. Foram obtidas 20 seqüências, classificada em três genótipos A, D e F. Sendo o genótipo A o mais freqüente (60%), seguido do D (35%) e F(5%). O perfil de distribuição dos genótipos encontrados reflete o padrão de ocupação histórica da região. Palavras-chave: VHB, genótipos, epidemiologia, Amazônia, Brasil. 21 1 Introdução A hepatite B representa uma das infecções virais mais prevalentes no mundo. Estima-se que cerca de dois bilhões de pessoas possuem evidências sorológicas de infecção pelo vírus da hepatite B (VHB). Destes, 350 milhões são portadores crônicos, que apresentam risco elevado de morte por cirrose ou carcinoma hepatocelular (Sharma et al. 2005). O VHB pertence à família Hepadnaviridae, gênero Orthohepadnavirus, é formado por uma partícula de DNA de dupla hélice circular, onde a fita de polaridade negativa é completa e a de polaridade positiva é incompleta na extremidade 5’. É envelopado, com 42 nm de diâmetro e 3.200 nucleotídeos (Okamoto et al, 1988, Schaefer, 2005). Pode ser classificado quanto ao fenótipo em quatro diferentes subtipos, que podem ser subdivididos mais tarde de acordo com o determinante antigênico do antígeno de superfície (HBsAg) em adw (adw2 e adw4), ayw (ayw1-4), adr (adrq+ e -) e ayr (Bancroft, 1972; Okamoto et al., 1988). E quanto ao genótipo em oito cepas, que variam de A a H (Kidd-Ljunggren, 2002), suas diferenças estruturais e funcionais estão associadas a gravidade clinica, falhas no tratamento e possivelmente interferem na resposta vacinal contra o vírus. Estes genótipos podem apresentar uma variação de até 8% no seu genoma completo (Norder et al, 2004). Os diversos genótipos estão distribuídos de forma distinta, o genótipo A apresenta dispersão universal, sendo o predominante na Europa, América do Norte, África e Índia. Os genótipos B e C predominam no Leste e Sudeste da Ásia e Austrália. O genótipo D é principalmente encontrado no Oriente Médio e países do Mediterrâneo. O genótipo E parece ser predominante no oeste africano, enquanto o genótipo G foi caracterizado nos Estados Unidos, México e França, o genótipos F é encontrado principalmente nas Américas Central, do Sul e Alaska, já o genótipo H é 22 exclusivo das Américas Central e Estados Unidos (Norder et al., 2004; Campos et al, 2005 e Weber et al, 2006). A região Amazônica é caracterizada como uma das regiões do mundo de maior ocorrência da doença e suas seqüelas (Braga et al., 2001). No Estado do Amazonas, as calhas dos rios Juruá, Purus e médio Solimões são consideradas as regiões de maior endemicidade para os vírus das hepatites B (VHB) e Delta (VHD) (Bensabath & Leão, 2003; Braga et al., 2005). Entre populações indígenas, da Amazônia ocidental estudos soro epidemiológicos, relatam taxas superiores a 20% de prevalência de portadores crônicos (Braga et al., 2001; Braga, 2004). No Brasil, bem como na Amazônia brasileira o genótipo A tem se mostrado o mais comumente encontrado seguido dos genótipos D e F (Mello et al., 2007). Já em comunidades indígenas isoladas o genótipo F tem se mostrado o mais prevalente (Blitz et al., 1998). Este estudo teve como objetivo caracterizar por análise filogenética os genótipos do VHB isolados de indivíduos HBsAg reativos de uma área endêmica da Amazônia Ocidental brasileira. A analise foi obtida a partir de seqüências nucleotidicas do gene S. 2- Material e métodos Foi realizado um estudo de epidemiologia molecular com caracterização genotípica do VHB em indivíduos positivos para o antígeno HBsAg da zona urbana, rural e comunidades indígenas do município de Lábrea no Estado do Amazonas (Figura 1). 23 As amostras selecionadas foram coletadas durante a realização de inquéritos sorológicos para hepatites virais na zona urbana e rural, do município de Lábrea entre fevereiro de 2006 e julho de 2008. De 1510 amostras analisadas, 86 foram positivas para o marcador HBsAg e são objeto de análise do presente estudo. Das 86 amostras, 31 pertencem a indivíduos de comunidades indígenas e 55 a não-indígenas. Estes estudos foram aprovados pelo comitê de ética da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas (FMTAM) processo Nº 2957/2003-FMTAM e 2090/2005FMTAM. Figura 6: Mapa da área de estudo. 2.1 Extração de DNA O DNA viral foi extraído a partir das amostras de soro utilizando o Qiamp DNA Blood Mini Kit (Qiagen Sciences, Maryland, USA), de acordo com os procedimentos recomendados pelo fabricante, porém o tempo de digestão com proteinase K e tampão AL foi de 4 horas. 24 2.2 PCR A região S do gene de superfície foi amplificada pela semi-“nested” PCR, na a primeira reação utilizou-se os primers 783 (5’-CTC ACG ATG CTG TAC AGA CTT3’), nt 783-762, e 2821(5’-GGG TCA CCA TAT TCT TGG GAA CA-3’), nt 2821-2150 (Oliveira, 2007). Na segunda reação com os primers 783 e P1 (Oliveira et al., 2008), originando um produto de 1200 e 680 pb respectivamente. Para a amplificação do DNA foi adicionado 5,0 μl de amostra para primeira reação e 1,0 μl de produto de PCR para a segunda reação a uma mistura contendo: 5,0 µl de tampão 10x PCR; 2,0 µl de mix dNTP (10mM); 2,0 µl de MgCl 2 (50mM); 2,0 µl de cada primer; 0,4 µl de Platinum taq DNA polimerase (5U/µl) (Invitrogen, San Diego, CA); para um volume final de 50 µl. As condições do ciclo utilizado foram: inicialmente 94°C por 5 minutos para desnaturação, seguidos de 35 ciclos de 94°C por 30 segundos, 52,6°C por 2 minutos, 72°C por 30 segundos, e uma extensão final de 72°C por 7 minutos, em termociclador Eppendorff Mastercycler Gradient. 2.3 Seqüenciamento As amostras purificadas com Kit Wizard SV Gel and PCR Clean-Up System (Promega), seqüenciadas com os primers Foroward e reverse utilizando “Big Dye Terminator 3.1 Cycle Sequencing Kit”, de acordo com o manual do fabricante. As reações foram realizadas no Genetic Analyzer 3130 XL (Applied Biosystems). 2.3 Analise das seqüências Para confirmação do tipo viral, as seqüência obtidas foram submetidas a análise pela ferramenta BLAST do GenBank. Posteriormente as seqüências foram editadas e alinhadas no programa BioEdit versão 7.0.9.0 (Hall, 1999). No alinhamento foram utilizadas 30 seqüências obtidas do GenBank, correspondentes aos que continham os oito genótipos do VHB. 25 2.4 Identificação dos genótipos Foi realizada uma análise filogenética comparando os diferentes genótipos do VHB obtidos com 8 seqüências do GenBank. As análises filogenéticas e de evolução molecular foram realizadas utilizando o programa MEGA versão 4.0.2. (Tamura, 2007) Na construção das árvores filogenética aplicou-se o modelo de NeighborJoining (NJ). O nível de confiança foi obtido usando o método não paramétrico bootstrap baseado em 1000 réplicas. A classificação genotípica foi realizada mediante análise de similaridade das seqüências obtidas no estudo e seqüencias correspondentes aos genótipos de A a H obtidas no GenBank. O grupo externo utilizado foi o VHB de primatas não humano (número de acesso do GenBank AF046996). 3 Resultados O estudo incluiu amostras de 86 indivíduos, 54 (62,80%) do sexo masculino e 32 (37,20%) do sexo feminino, tendo estes uma idade média de 30 anos (1–87). A análise qualitativa para o VHB-DNA, pela semi-nested PCR, foi positiva em 45,3% (39/86), e 37,5% (21/86) de amostras de portadores co-infectadas pelo VHD. Durante o procedimento de purificação houve perda de produto de PCR de 17/39 amostras. Sendo 22 amostras submetidas ao seqüenciamento do gene S. Destas, 20 seqüências foram de boa qualidade, as quais foram comparadas com 8 seqüências obtidas do GenBank. O genótipo mais freqüentemente foi o genótipo A, encontrado em 60% (12/20) das seqüências obtidas, seguido do genótipo D 35% (7/20), o genótipo F foi encontrado em apenas uma amostra 5% (1/20) (Figura 2). 26 Entre as amostras de indígenas, 44,4% (4/9) apresentaram o genótipo A e 55,6% (5/9) o genótipo D. Enquanto que nas amostras de não-indígenas o genótipo mais freqüente o A com 72,72% (8/11), seguido do genótipo D com 18,18% (2/11) e genótipo F com 9,1% (1/11). Figura 2: Arvore filogenética do tipo Neighbor-joining VHB-DNA (Gene S) representando os genótipos encontrados. As seqüencias do estudo referentes a indígenas estão marcadas com e as de não indígenas com . As seqüencias do genbank estão com seus respectivos números de acesso. 27 4 Discussão Os resultados deste estudo contribuem com informações a respeito da distribuição dos genótipos do VHB no estado do Amazonas, uma vez que estudos de epidemiologia molecular do VHB na região ainda são raros. Como a distribuição geográfica dos genótipos do VHB é muito diversificada (Norder et al, 2004), sua caracterização molecular em uma determinada região pode revelar aspectos da natureza da origem do vírus na população estudada. As amostras avaliadas neste estudo revelam uma predominância do genótipo A e D, enquanto o genótipo F foi encontrado em apenas uma amostra. Estudos sobre a distribuição dos genótipos do VHB no Brasil e na Amazônia também mostram que na região Norte do país o genótipo A é mais freqüente, seguido do D e F (Mello, 2007; Ferreira et al., 2006; Moraes et al., 1999; Carrilho et al., 2004). Entretanto, outros estudos realizados na Amazônia brasileira, mostram o genótipo F como o segundo mais freqüente (Viana et al., 2005; Victoria et al., 2008; Conde et al., 2004). Acreditamos que essa diferença deva estar associada ao tipo de amostras avaliadas que geralmente são oriundas de pacientes com doença crônica estabelecida ou de pacientes com hepatite fulminante (Paraná et al, 2008; Victoria et al., 2008), enquanto que as amostras por nós analisadas são de estudo de prevalência de base populacional que avalia indivíduos assintomáticos. O estudo de Viana e colaboradores (2005) embora também avaliem uma amostra de base populacional, foi realizado em região do estado do Acre sabidamente endêmica do VHB, onde a presença marcante do genótipo F também está caracterizada como importante. O genótipo F, na última década foi identificado com maior freqüência em ameríndios (Blitz et al., 1998), Bertolini e colaboradores (2000) mostra que tal 28 genótipo é freqüente em tribos isoladas da Amazônia que não mantém contato com brancos. Neste mesmo estudo foi mostrado que o contato de índios com não indígenas favoreceu a introdução do genótipo A nestas comunidades. Os primeiros contatos das populações nativas da região do estudo com outros povos do ocidente e oriente deram-se durante a chamada coleta das “drogas do sertão” e no final do século 19 durante a exploração de seus extensos seringais nativos (Ribeiro, 2009; Amazonas, 2009; Schröder, 2002; Schiel, 2005 ). O que pode justificar a maior freqüência dos genótipos A e D na população indígena estudada. Moraes e colaboradores (1999), analisando amostras caracterizadas anteriormente pela técnica de anticorpos monoclonais com primers específicos para o genótipo F, identificaram o genótipo A como mais freqüente seguidos do D e F, sugerindo que em outros estudos houve uma super-estimativa do genótipo F, uma vez que usavam anticorpos monoclonais para identificação de sorotipos. . O Instituto Oswaldo Cruz (IOC), pioneiro em classificar os genótipos do VHB que circulam no Brasil, identificou que cerca de 50% dos vírus encontrados no país são do genótipo A, subtipo africano, possivelmente relacionado à introdução dos africanos no Brasil pelo comércio escravo (Teles et al., 1999). Além da influência afro-descendente, a influência da colonização européia e da presença de mascates de origem libaneses na região Amazônica durante o período da exploração da borracha (Bastani, 1949 apud Campos, 1987, p.67), justificam a presença marcante dos genótipos A e D encontrados em nossas amostras. Embora tenhamos encontrado uma positividade de 45,34% (39/86) do DNA viral em nossa amostra diferentemente de outros estudos que mostram índices de positividade superiores como de 76% em estudos realizados por Carrilho et al (2004) e Chu et al (2003), nossos resultados possivelmente estejam relacionados a elevada 29 presença de indivíduos co-infectados com o VHD (65,11%), o que reprime espontaneamente o VHB (Kiesslich et al., 2009; Rizzetto, 2009), como também devido a baixa carga viral em indivíduos co-infectados (Kiesslich et al., 2009), que compuseram a totalidade de nossa amostragem, bem como a problemas no manuseio das amostras em trabalho de campo em situações precárias como na zona rural do município de Lábrea. É sabido que as formas clínicas da infecção pelo VHB tem estreita relação com os genótipos. Em áreas endêmicas o genótipo A está associado com hepatite aguda, o genótipo D está envolvido em sua grande maioria com desenvolvimento de cirrose hepática e câncer (Thakur et.al., 2002) e o genótipo F nas hepatites fulminantes (Nakano et al., 2001), podendo este estar também relacionado com resistência a medicamentos utilizados no tratamento desta infecção. Por isso, estudos como este são de grande importância para ajudar a estabelecer um perfil genotípico do VHB na região, mostrando que mesmo em comunidades isoladas da Amazônia refletem o mesmo padrão de cepas encontrados na Europa, África e Oriente médio, por meio da ocupação histórica desta região. Agradecimentos: A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) pelo suporte financeiro. A Fundação Nacional de Saúde, Distrito Sanitário Indígena do Médio Purus, pelo apoio na investigação junto as populações indígenas e as populações das comunidades da zona urbana e rural do Município de Lábrea pela participação nesse estudo. 30 5 REFERÊNCIAS Amazonas. Biblioteca virtualBV, 2009. Disponivel em: <www. Bv.am.gov.br/portal/conteúdo /municípios/labrea.php> acessado em 23 de setembro de 2009. Bancroft WH, Mundon FK, Russell PK. Detection of additional antigenic determinants of hepatitis B antigen. J. Immunol. 1972; 109:842-848. BASTANI, Jorge. CAMPOS Mintaha Aleuri, Turco pobre, sírio remediado, libanês rico: a trajetória do imigrante libanês no Espírito Santo. Vitória: Instituto Jones Santos,1987. p.67. Bensabath G, Leão RNQ. Epidemiologia na Amazônia brasileira. In: Focaccia R, organizador. Tratado de hepatites virais. São Paulo: Editora Atheneu; 2003. p. 1-26. Bertolini DA, Moreira RC, Soares M, Bensabalh G, Lemos MF, Mello IMVGC, Pinho JRR. 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J Med Virol; 2006, 78 Suppl 1:S59-65. 33 5 CONCLUSÃO Os resultados obtidos no presente estudo nos permitiram fazer as seguintes conclusões: • A análise filogenética mostrou que 20∕86 das amostras analisadas pertencem aos genótipos A, D e F; • O genótipo A foi o mais freqüente 60% seguido dos genótipos D 35% e F 5%; • Em indígenas o genótipo D foi o mais freqüente 55,6% seguido do genótipo A 44,6%, não encontrados o genótipo F entre as amostras de indígenas avaliadas; • O perfil de distribuição dos genótipos encontrados reflete o padrão de ocupação histórica da região. 34 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Acosta CR. Actualización sobre hepatitis viral: etiología, patogenia, diagnóstico microbiológico y prevención. Rev Cubana Med Gen Integr 2000; 16 (6): 574-85. Aquino JA, Pegado KA, Barros LP, Machado LFA. Soroprevalência de infecções por vírus da hepatite B e vírus da hepatite C em indivíduos do Estado do Pará. Revista Sociedae Brasileira de Medicina Tropical 2008; .41(4) July-Aug. 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J Med Virol; 2006, 78 Suppl 1:S59-65. 38 7 ANEXOS 7.1 Certificado de Aprovação no Comitê de Ética e Pesquisa 7.1.1 Hepatites virais no município de Lábrea: O impacto na saúde pública 39 7.1.2 Febre Negra de Lábrea: O papel das populações indígenas na epidemiologia da hepatite B e Delta 40 7.2 Termo de consentimento livre esclarecido TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E INFORMADO 41 Instituição: Fundação de Medicina Tropical do Amazonas – FMTAM. Orientadores Responsáveis/ Coordenadores: Prof. Dr. Wornei S. M. Braga Investigadora responsável: Prof. Dr. Wornei S. M. Braga Compromisso Assumido O (A) Sr (a)_________________________________________________, aqui denominado(a), participante de investigação da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas - FMTAM, está sendo convidado e concorda livremente em participar como voluntário(a) em um estudo com o objetivo de estudar os aspectos clínicos e a biologia do vírus da hepatite B e Delta em populações indígenas do município de Lábrea – Amazonas. Podendo afastar-se do estudo a qualquer momento, sem que este fato lhe venha causar problemas. Os exames e o atendimento médico para o estudo serão gratuitos. O Sr (a) receberá todos os cuidados necessários durante o exame médico e na coleta do sangue. O sangue será unicamente utilizado para este estudo e não será guardado nem servirá para outros fins e/ou outros projetos de pesquisa. O problema de saúde A hepatite B é uma doença muito comum em muitas partes do mundo. A região amazônica é conhecida como uma das regiões de maior ocorrência de hepatite B e Delta, e suas conseqüências, no mundo. No Estado do Amazonas, a região do rio Purus é tida como uma das de maior ocorrência dessa doença, inclusive com uma forma grave, descrita desde o final dos anos sessenta, conhecida como Febre Negra de Lábrea. Como o Sr(a), está sendo convidado a participar deste projeto de pesquisa, antes de assinar este TERMO, deve tirar todas as duvidas, informando-se adequadamente, podendo realizar quaisquer perguntas para seu esclarecimento. Objetivo da Investigação Estudar os aspectos clínicos e a biologia do vírus da hepatite B e Delta em populações indígenas do município de Lábrea – Amazonas, calha do rio Purus. Benefícios A participação é voluntária, e o Sr(a) está sendo convidado a colaborar, no entanto, estará, com certeza contribuindo para o avanço da medicina e conhecimento da hepatite B e Delta, bem como será beneficiado com tratamento clínico caso seja encontrado a presença de doença. Riscos Potenciais Os procedimentos do projeto não colocaram a pessoa que participar em nenhum risco, exceto o desconforto da furada da agulha para a retirada do sangue. O procedimento será realizado com sistema de coleta á vácuo, e a pessoa responsável seguirá todos os procedimentos padrões de segurança evitando acidentes que coloquem em risco de contaminação o voluntário e o membro de nossa equipe. Sigilo dos Dados confidenciais Foi informado do conteúdo deste TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E INFORMADO, e resolvi participar voluntariamente, depois de ter formulado perguntas e de ter recebido respostas sobre elas. Declaro dar meu consentimento que permanecerá guardado de uma forma confidencial, para proteger minha identidade. Ressarcimento/Indenização: Ao Participar desse projeto, o Sr(a) será assistido, pela Instituição patrocinadora caso ocorra algo referente aos procedimentos do projeto que estará participando. ________________________________ Assinatura do Voluntário ou responsável _____________________________________ Assinatura do Investigador 7.3 Questionários ____________________________ Assinatura da Testemunha Data: ____/____/____ 42 7.3.1 QUESTIONÁRIO DE INVESTIGAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DE DOENÇA ICTEROHEMORRÁGICA EM POPULAÇÕES INDÍGENAS. Número de identificação_________________ ______________________________________________________________ I- IDENTIFICAÇÃO ______________________________________________________________ 1-Nome________________________________________________________ 2-Sexo mas[ ] fem[ ] 3-Qual é a sua data de nascimento? ___/___/___ ou, se não souber, qual a sua idade aproximada? ____anos. 4-Etnia__________________ 5 – Que língua você fala normalmente? ____________________________ 6 -Tem mulher ou marido ? [ ]sim [ ] não 7 - Veio de outra aldeia ? [ ] sim [ ] não, se sim local______________ 8 - Tempo que vive neste local__________________________________ 9 - Razões para mudança__________________________________________ _______________________________________________________________ II-FATORES DE RISCO. ______________________________________________________________ 1-Com que idade arrumou mulher ou marido pela 1ª vez ?____anos, quantas vezes_____ 2-Presença de lesões de pele Sim [ ] Não [ ] Se Sim Tipo de lesão ? [ ] ferimento [ ] ferimentos infectados [ ] picada de inseto [ ] escabiose [ ] micose superficiais [ ] outros, especificar________________________________________ ___________________________________________________________ 3-Tatuagem,escarificações Sim[ ] Não[ ] Se Sim, que material utilizou____________________________ outras pessoas usaram o mesmo material Sim [ ] Não [ ] 4- Orelha furada Sim[ ] Não[ ] Se Sim, que material utilizou___________________________ outras pessoas usara o mesmo material Sim [ ] Não [ ] 5-Alguém na sua família teve hepatite nos últimos 6 meses Sim[ ] Não[ ]. Se sim, quem? [ ]Mãe [ ] Pai [ ] Irmão/ã [ ] Companheiro/a [ ] Filho/a 6-Dorme junto com outras pessoas Sim [ ] Não [ ] [ ] Outros 43 7-Utiliza plantas quando está doente? Sim[ ] Não[ ] Se sim, em que formas as usa mais frequentemente ? [ ] Chá [ ] Emplasto [ ] Emulsão [ ] outros, especifique_____________________________________ 8-Passado de ictericia? Sim[ ] Não[ ] 9-Passado de urina escura? Sim[ ] Não[ ] 10-Teve hepatite? Sim[ ] Não[ ]. 11 História de vacina contra hepatite B ? [ ] SIM [ ] NÃO 12- Número de doses: [ ] UMA Data da 1ª DOSE ____/_____/_____ [ ] DUAS Data da 2ª DOSE ____/_____/_____ [ ] TRÊS Data da 3ª DOSE _____/_____/_____ 13- Teve Malária? ( ) SIM ( ) NÃO Se sim, quantas vezes? ___________________ 14 – Teve Tuberculose? ( ) SIM ( ) NÃO 15 – Já foi operado ou tomou sangue? ( ) SIM ( ) NÃO Se sim, especificar ______________________________ Quando? ______________________________________ 16 – Bebe? ( ) SIM ( ) NÃO Se sim, que tipo de bebida? ________________________________ Qual quantidade e freqüência? ______________________________ 17 – Fuma? ( ) SIM ( ) NÃO Se sim, quantos cigarros por dia? ___________________________ 18 – Usa algum outro tipo droga? ( ) ( ) Se sim, especificar ______________________________________ III – CRIANÇAS MENORES DE 5 ANOS. 1 – Nasceu de parto normal? ( ) SIM ( ) NÃO 2 – Nasceu no hospital ou na aldeia? ________________________________ 3 – Quanto pesou? _________ Se não foi pesado, aparentava ser normal ou muito pequeno e magro? __________________ 4 – Mamou no peito? ( ) SIM ( ) NÃO Se sim, quanto tempo? ______________ 5 – Falou com quantos anos? ____________ 6 – Andou com quantos anos? ____________ Observação____________________________________________________ ______________________________________________________________ 44 ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ DATA DA ENTREVISTA ___/___/___ 7.3.2 Questionário do projeto “Hepatites virais no município de Lábrea: O impacto na Saúde Pública” FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DO AMAZONAS GERÊNCIA DE VIROLOGIA Questionário Projeto: Hepatites virais no município de Lábrea: O impacto na Saúde Pública Nº da Amostra: ____________ Família: ____________________ IDENTIFICAÇÃO 1 – Nome:_____________________________________________________________________ 2 – Parentesco com o responsável pela família: [ ]Esposa(o) [ ]Filho(a) [ ]Pai/Mãe [ ]Irmão(ã) [ ]Enteado(a) [ ]Sobrinho(a) [ ]Neto(a) [ ]Agregado [ ] outro: ____________________ 2 – Endereço: _______________________ Localidade: _________________________________ 3 – Idade: __________________ anos 4 – Data do nascimento:______/_____ /______5 Sexo: [ ] Masculino [ ] Feminino 6 – Procedência:_________________________ 7 – Tempo em que vive neste local:_____________________________________ 8- Razões para mudança:_________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ASPECTOS SOCIO-ECONÔMICOS 1 – Já freqüentou ou freqüenta escola? [ ] SIM [ ] NÃO Se sim, quantos anos? _____________ 2 – Ocupação principal: _______________________ 3 – No momento você está: [ ] Casado [ ] Junto [ ] Separado/divorciado [ ] Viúvo [ ] Solteiro 4– Com que idade você se casou pela primeira vez? ________ anos. 5- Quantas vezes? _________ 6 – Renda familiar: R$ ________________________ 7 – Quantos cômodos tem a sua casa? _______ cômodos. 8 - Quantos quartos? ____________quartos. 9 - Quantas pessoas vivem na casa?_______ pessoas. 10 - Qual o número de pessoas por quarto?________ pessoas. ______________________________________________________________________________ FATORES DE RISCO ABASTECIMENTO DE ÁGUA TRATAMENTO DA ÁGUA – 45 [ [ [ [ [ ] Rio ] Poço ] Chuva ] Serv. Público ] Outros____________ [ ] Filtrada [ ] Fervida [ ] Clorada [ ] Não tratada [ ] Outros____________ DESTINO DO LIXO [ ] Coleta Pública [ ] Queimado [ ] Enterrado [ ] Mata [ ] Rio [ ] Outros__________ DESTINO DOS DEJETOS [ ] Fossa negra [ ] Mata [ ] Rio [ ] Esgoto público [ ] Outros____________ INSTALAÇÃO DO SANITÁRIO [ ] Dentro da casa [ ] Fora da casa [ ] Outros____________ 1-Fez cirurgia? [ ] SIM [ ] NÃO Se sim, que tipo?____________________________ Onde?____________________ Por quê? _____________________Quando?_____/_____/_____ 2- Recebeu transfusão de sangue? [ ]SIM [ ]NÃO Se, sim, onde?___________________ Quando? _____/_____/_____ 3-Compartilha escova de dente com outras pessoas? [ ] SIM [ ] NÃO 4- Compartilha lâmina de barbear? [ ] SIM [ ] NÃO 5-Tem tatuagem? [ ] SIM [ ] NÃO Se sim, há quanto tempo ?__________ anos. 6-Tem orelha furada? [ ] SIM [ ] NÃO Se sim, há quanto tempo ?__________ anos. 7-Quantos anos você tinha quando manteve a sua primeira relação sexual? ________ anos. [ ]Criança [ ]Não quis responder 8- Você teve alguma doença abaixo: [ ]Gonorréia [ ]Sífilis [ ]Verrugas genitais [ ]Corrimento genital [ ]Bolhas genitais [ ]Câncro [ ]Outras, Especificar__________________________________________ 9- Você trabalha em serviço de saúde? [ ] SIM [ ] NÃO 10- Bebe bebida alcoólica? [ ] SIM [ ] NÃO Se sim: [ ] Todos os dias [ ] Fins de semana [ ] Eventualmente 11- Você fuma? [ ] SIM [ ] NÃO Se, sim. Fuma, por dia: [ ] de 1 a 10 [ ] de 11 a 20 [ ] mais de 20 cigarros 12- Uso de drogas injetáveis? [ ] SIM [ ] NÃO 13- Uso de drogas fumadas? [ ] SIM [ ] NÃO 14- Uso de drogas cheiradas? [ ] SIM [ ] NÃO 15- Alguém na sua casa teve: • Hepatite? [ ] SIM [ ] NÃO • Icterícia (olho amarelado)? [ ] SIM [ ] NÃO • Colúria (urina cor de guaraná)? [ ] SIM [ ] NÃO • Se sim, quem? [ ]Mãe [ ]Pai [ ]Irmão(ã) [ ]Companheiro(a) [ ]Filho(a) [ ]Outros: _________________ • Passado de icterícia (olho amarelado)? [ ] SIM [ ] NÃO 16-Passado de colúria (urina cor de guaraná)? [ ] SIM [ ] NÃO 17-Você já teve hepatite? [ ] SIM [ ] NÃO Se sim, quando? ____/_____/_____ 18- História de vacina contra hepatite B ? [ ] SIM [ ] NÃO 19-Número de doses: [ ] UMA Data da 1ª DOSE : ____/____/____ [ ] DUAS Data da 2ª DOSE : ____/____/____ [ ] TRÊS Data da 3ª DOSE : ____/____/____ 20-Passado de malária? [ ] SIM [ ] NÃO DATA: ____/_____/_____ _____________________________ ENTREVISTADOR