Congresso de Inovação, Ciência e Tecnologia do IFSP - 2016 EXPOSIÇÃO A FATORES AGRAVANTES DOS SINTOMAS DE RINITE ALERGICA EM CRIANÇAS ATENDIDAS EM AMBULATÓRIO ESPECIALIZADO JULIANA C. TEIXEIRA1, PATRÍCIA L. B. SANTOS2, MARIANA R. C. OLIVEIRA3, ROSA A. F. PARREIRA, MD 4 1 Graduando em Medicina, Centro Universitário Barão de Mauá, Ribeirão Preto - SP, [email protected] Graduando em Medicina, Centro Universitário Barão de Mauá, Ribeirão Preto – SP, [email protected] 3 Graduando em Medicina, Centro Universitário Barão de Mauá, Ribeirão Preto – SP, [email protected] 4 Médica Pediatra, Alergologista e Imunologia, Centro Universitário Barão de Mauá, Ribeirão Preto-SP, [email protected] Área de conhecimento : Alergologia e Imunologia Clínica - 4.01.01.03-7 2 Apresentado no 7° Congresso de Iniciação Científica e Tecnológica do IFSP 29 de novembro a 02 de dezembro de 2016 - Matão-SP, Brasil RESUMO: A prevalência e morbidade das doenças alérgicas aumentaram de forma expressiva nas últimas décadas. . O ponto importante na avaliação clínica do paciente é o conhecimento do ambiente para um manejo terapêutico eficaz. Foram objetivos do presente estudo, avaliar entre crianças com rinite alérgica e em seguimento em ambulatório especializado, a presença de exposição a fatores agravantes dos sintomas e a interferência da doença nas atividades diárias através da analise de prontuários. Doença de caráter intermitente foi referida por 89,8 % e de caráter persistente por 10,2% dos pacientes. Os fatores mais prevalentes que desencadeiam a piora dos sintomas foram as mudanças do clima (71,2%) e o pó domestico (54,6%). 71% dos pacientes referiram melhora dos sintomas nas consultas de retorno com o tratamento prescrito pelo médico para sua alergia nasal. 74,2 % tiveram ao menos uma falta por mês devido à rinite alérgica, com prejuízo do desempenho escolar referido por 33,3%. A despeito das orientações realizadas aos pacientes, o controle ambiental ainda deixa de ser um ponto considerado no tratamento pelos mesmos. A profilaxia ambiental adequada, associada ao tratamento farmacológico apropriado, podem aliviar sintomas e consequentemente melhorar a qualidade de vida dos pacientes com rinite alérgica. PALAVRAS-CHAVE: Alergia, prurido nasal, corticóide nasal, profilaxia ambiental, poluentes. STATEMENT OF THE FACTORS AGGRAVATING ALLERGIC RHINITIS SYMPTOMS ANSWERED IN CHILDREN IN SPECIALIZED OUTPATIENT ABSTRACT: The prevalence and morbidity of allergic diseases increased significantly in recent decades. . The important point in the clinical evaluation of the patient's knowledge of the environment for effective therapeutic management. Were objectives of this study was to evaluate in children with allergic rhinitis and follow-up in specialized clinics, the presence of exposure to aggravating factors of the symptoms and the interference of the disease on daily activities through medical records analysis. intermittent nature of the disease was reported by 89.8% and persistent character by 10.2% of patients. The most prevalent factors that trigger the worsening of symptoms were climate changes (71.2%) and the household dust (54.6%). 71% of patients reported improvement of symptoms in return visits to the treatment prescribed by the doctor for your nasal allergy. 74.2% had at least one missing a month due to allergic rhinitis, a loss of school performance reported by 33.3%. Despite the instructions given to patients, the environmental control still leaves to be a point considered in the treatment for the same. The appropriate environmental prophylaxis, associated with suitable pharmacological treatment, may alleviate symptoms and consequently improve the quality of life of patients with allergic rhinitis. KEYWORDS: Allergy, nasal itching, nasal corticosteroids, environmental prophylaxis, pollutants INTRODUÇÃO A prevalência e morbidade das doenças alérgicas aumentaram de forma expressiva nas últimas décadas. Este fenômeno pode ser atribuído a diversos fatores, como melhor reconhecimento da doença; maior reatividade imunológica; maior exposição ambiental; mudanças no estilo de vida, com maior permanência em ambientes fechados e modificações dos hábitos alimentares; contribuição de fatores infecciosos e socioeconômicos e concentração exacerbada de poluentes externos.1,4 Os dados epidemiológicos da rinite alérgica no Brasil obtidos através do estudo ISAAC (Internacional Study on Asthma and Allergies in Childhood) demonstraram que a presença de rinite alérgica em crianças foi de 27,8% sendo os ácaros do pó domiciliar o principal fator desencadeante. O ponto importante na avaliação clínica do paciente é o conhecimento do ambiente para um manejo terapêutico eficaz. A rinite alérgica interfere na qualidade de vida com prejuízos no sono, no rendimento escolar e limitação das atividades de lazer e esportivas. 1,6 Foram objetivos do presente estudo, avaliar entre crianças com rinite alérgica e em seguimento em ambulatório especializado, a presença de exposição a fatores agravantes dos sintomas e a interferência da doença nas atividades diárias. Dentre as doenças respiratórias crônicas, a rinite alérgica pode ser considerada a de maior prevalência, apresentando-se como um problema de saúde pública, pois afeta a qualidade de vida dos pacientes além de dificultar o controle de outras doenças que frequentemente estão associadas como a asma.2,5 MATERIAL E MÉTODOS Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisas do Centro Universitário Barão de Mauá sob o número 124747/2015. Trata-se de um estudo transversal descritivo, no qual foram analisados prontuários de pacientes com diagnóstico médico de Rinite Alérgica e que faziam seguimento clínico no Ambulatório de Alergia e Imunologia do Centro Universitário Barão de Mauá no período de setembro de 2009 a setembro de 2015. Foram obtidos além dos dados pessoais, dados a respeito da duração e os sintomas mais prevalentes, tratamento prescrito, exposição à alérgenos, rendimento escolar e evolução. Os dados obtidos foram apresentados sob a forma de porcentagem de resposta afirmativas. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram analisados os prontuários de 108 pacientes (50% de cada gênero) com diagnóstico clínico de rinite alérgica e em seguimento no ambulatório de Alergia e Imunologia do Centro Universitário Barão de Mauá de Ribeirão Preto, com idades variando entre 4 anos e 2 meses a 16 anos e 3 meses (média de 8 anos). Doença de caráter intermitente (sintomas presentes por menos de 4 dias /semana ou menos de 4 semanas) foi referida por 89,8 % e de caráter persistente (sintomas presentes por mais de 4 dias /semana ou mais de 4 semanas ) por 10,2% dos pacientes. Isoladamente a predominância significativa das formas intermitentes em um serviço especializado se contrapõe às expectativas de uma frequência maior de formas persistentes de rinite alérgica, mas ao avaliarmos a presença de comorbidades associadas, observamos que 44,2% dos pacientes apresentam asma concomitante justificando esse índice. O diagnóstico de rinite alérgica inclui a historia clínica, familiar, exame físico e exames complementares, porém é basicamente clínico, baseado nos sintomas apresentado. Neste estudo, os pacientes receberam o diagnóstico clínico e 42,5% foram submetidos ao prick test para complementação diagnóstica. Os sintomas referidos com maior frequência pelos pacientes durante as consultas foram: prurido nasal, espirros em salvas, coriza hialina e congestão nasal, sintomas clássicos utilizados para o diagnóstico clínico da doença (Tabela 1), à semelhança de outros estudos. 1,4. Segundo os dados, destacamos a presença de rinite alérgica em um membro da família (pai, mãe ou irmão) em 34,2% e em dois membros da família em 12,9%. Chamou-nos a atenção, a presença de sintomas oculares em 56,4% dos pacientes, o que se assemelha aos dados já publicados em estudos realizados com escolares e adolescentes brasileiros, onde metade dos identificados com rinite alérgica apresentam sintomas oculares. 5 Tabela 1 - Sintomas mais prevalentes referidos pelos paciente durante as consultas (n=108) Sintoma N % Prurido nasal 93 86,1 Espirros em salvas 92 85,2 Coriza hialina 91 84,2 Congestão nasal 90 83,3 Lacrimejamento 61 56,4 Olheira 58 53,7 Cefaléia 51 47,2 Embora não existam estudos que comprovem a eficácia do controle ambiental, os consensos de rinite alérgica e asma orientam o afastamento de alérgenos como parte do tratamento. Porém ao analisarmos os dados referidos pelos pacientes, apenas 26,6% referiram possuir capa no colchão e travesseiro, e 14,8% capa apenas no colchão. Entre os pacientes analisados, 37% possuem contato com fumantes dentro do domicílio. Outro fator de exposição encontrado foi o contato com animais: 40,7% possuem cachorro, 11,1% gato e 12% outros animais como pássaros. Analisando a exposição a outras fontes de alérgenos como objetos no quarto (Tabela 2) que podem ser fonte de acúmulo de alérgenos, 37,9% possuem pelúcia e 20% livros no quarto. Tabela 2 - Presença de objetos no quarto fonte de alérgenos (n=108) Objetos no quarto N Pelúcia 41 Livros 20 Tapete 19 Cortina 17 % 37,9 18,5 17,9 15,7 Os fatores de piora demonstrados neste estudo (Tabela 3), as mudanças do clima se mostraram mais prevalentes. Porém o estudos prévios identificaram outro perfil entre os pacientes com rinite alérgica, com pó domestico (71%), mudança do clima (55%), produtos químicos (23%), poluição (17%), perfume (17%). 3 Tabela 3 – Exposição a fatores de piora em pacientes com rinite alérgica (n=108) Fatores de piora N % Mudança do clima 77 71,2 Pó doméstico 59 54,6 Perfumes 41 37,9 Poluentes externos 28 25,9 Outros (inseticidas, roupas) 16 14,8 A principal linha de tratamento farmacológico, desde a década de 90, aos pacientes com rinite alérgica principalmente nas formas persistentes é o corticosteróide tópico nasal com doses diárias. Os dados coletados mostraram que apenas 54,6% dos pacientes fizeram uso isolado deste fármaco, sendo que em 37% dos casos houve necessidade de associação a um anti-histamínico. 43,5% fizeram uso isolado de anti-histamínico, que se mostra menos eficaz para o controle da obstrução nasal em comparação ao corticosteroide tópico nasal, e 26,8% usaram cromoglicato de sódio sob a apresentação spray nasal. O baixo índice do uso de cromoglicato de sódio, um establilizador de mastócitos, deve-se a sua modesta eficácia e posologia que dificulta a adesão ao tratamento apesar de apresentar mínimos efeitos colaterais. De um modo geral, 71% dos pacientes referiram melhora dos sintomas nas consultas de retorno com o tratamento prescrito pelo médico para sua alergia nasal (Gráfico 1). O índice de complicações, como sinusite foi de 16,6%. Gráfico 1 – Avaliação dos sintomas em consultas de retorno Ao analisarmos os alunos matriculados em escola (70,3%), 74,2 % tiveram ao menos uma falta por mês devido à rinite alérgica, com prejuízo do desempenho escolar em referido 33,3%. Estudo prévio documentou que aproximadamente 40% dos pacientes referiram interferência sobre a frequência às aulas diferindo de forma significativa com os resultados aqui observados que apontam níveis elevados.6 Ainda há dados de outro estudo que documentou ser a rinite alérgica responsável pela perda de aproximadamente 2 milhões de dias na escola, sendo que independente do dia, cerca de 10.000 crianças faltam devido aos sintomas.3 CONCLUSÕES A rinite alérgica mostra-se com elevada prevalência entre crianças e adolescentes apresentando-se em sua maioria em forma intermitente o que gera um abandono do tratamento medicamentoso e não medicamentoso e sendo subestimada pelos pacientes. Os sintomas quando presentes causam prejuízo na qualidade de vida de seus portadores, com diminuição do rendimento escolar. A despeito das orientações realizadas aos pacientes, o controle ambiental ainda deixa de ser um ponto considerado no tratamento pelos mesmos. A profilaxia ambiental adequada, associada ao tratamento farmacológico apropriado, pode aliviar sintomas e consequentemente melhorar a qualidade de vida dos pacientes com rinite alérgica. REFERÊNCIAS 1. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ALERGIA E IMUNOLOGIA; ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO FACIAL. III Consenso Brasileiro sobre Rinites – 2012. São Paulo: Consenso sobre Rinite - 2012 São Paulo : Brazilian Journal of Otorhinolaryngology, 2012. 41 p. 2. BOUSQUET, J; KHALTEV N; CRUZ, A. A; DENBURG. J; FOKKENS, W.J; TOGIAS, A, et al. Allergic rhinitis and its impact on asthma ( ARIA) 2008 update. Allergy 2008; 63 (Suppl 86): 8-160. 3. NEFFEN, H; MELLO, J.F.J; SOLE, D; NASPITZ, C. K; DODERO, A. E; GARZA, H.L, et al. Nasal allergies in the Latin Amercan population: results from the Allergies in the America survey. Allergy Asthma Proc 2010; 31 ( Suppl 1): S9-27. 4. SOARES, F.A.A.; SEGUNDO, R.A.; YNOUE, L. H.; RESENDE, R.O; SHUNG, J.S.; TAKETOMI,E.A. Perfil de sensibilização a alérgenos domicilares em pacientes ambulatoriais. Rev Assoc Med Bras 2007; 53(1): 25-8 5. SOLÉ D, CAMELO-NUNES I.C; WANDALESEN, G. F; ROSÁRIO, N. A; NASPITZ, C. K; Brazilian shcoolchildren: ISAAC phase 3 results. Rhinology 2007; 45(2):122-8. 6. Worldwide variation in prevalence of symptoms of asthma, allergic rhinoconjunctivitis, and atopic eczema: ISAAC. The International Study of Asthma and Allergies in Childhood (ISAAC) Steering Committee. Lancet. 1998;351(9111):1225-32.