SUPERINTENDÊNCIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE Gerência de Vigilância Epidemiológica das Doenças Transmissíveis Coordenação de Controle das Doenças Hídricas e Alimentares INFORME TÉCNICO Nº 03/2014 Assunto: Ações de prevenção e controle da Toxoplasmose A toxoplasmose é uma doença de distribuição universal que acomete milhões de pessoas no mundo, causada pelo protozoário Toxoplasma gondii. Em seres humanos, pode ser assintomática (90%) ou manifestar-se causando cegueira ou retardo mental, nos casos de transmissão congênita, e pode ser letal em indivíduos imunocomprometidos (Carmo et. al, 2011; Mitsuka-Breganó et.al, 2010). A soroprevalência mundial dessa infecção em humanos é relativamente alta, podendo alcançar taxa de até 90% em algumas regiões. No Brasil, a toxoplasmose nas suas diferentes formas é uma infecção bastante freqüente, com soroprevalência acima de 70% (Carmo et. al, 2010). O homem adquire a infecção pelo T. gondii, principalmente, por meio da ingestão de formas infectantes, como os oocistos, que são eliminados nas fezes dos felídeos. O gato é um importante elo na cadeia epidemiológica da doença, porém o principal mecanismo de transmissão para o homem é o hábito de comer carne crua ou mal passada, além da ingestão de legumes, frutas, leite e água contaminados contendo cistos teciduais do parasito. Entre outros mecanismos, além da forma congênita, alguns autores consideram a possibilidade da inalação de oocistos contaminados (Carmo et. al, 2010). O período de incubação varia de 10 a 23 dias após a ingestão de carne mal cozida, e de 5 a 20 dias após ingestão de oocistos. Não se transmite diretamente de uma pessoa a outra, com exceção das infecções intra-uterinas. Os oocistos expulsos por felídeos esporulam e se tornam infectantes depois de 1 a 5 dias, podendo conservar essa condição por 1 ano (Ministério da Saúde, 2010). A maioria dos casos de toxoplasmose em indivíduos imunocompetentes é assintomática. As manifestações clínicas mais comuns são a linfadenopatia (mais comumente, um único nódulo cervical posterior aumentado) que pode vir acompanhada de febre, e a retinocoroidite (12 a 15% das pessoas infectadas irão desenvolver a lesão ocular em algum momento da vida) (Mitsuka-Breganó et.al, 2010). Não está na lista de Doenças de Notificação Compulsória na ocorrência de casos isolados, mas é de Notificação Obrigatória em caso de surto (Portaria nº 1271/2014 MS). Possui grande importância para a saúde pública, devido a sua prevalência, apresentação em pacientes com AIDS e gravidade dos casos congênitos. Definição de Surto: Ocorrência de, no mínimo, dois casos com quadro clínico suspeito de toxoplasmose após ingestão do mesmo alimento ou água da mesma origem. Estratégias de controle Evitar o consumo de carnes cruas e/ou mal passadas (caprinos e bovinos); Ingerir embutidos frescais bem cozidos ou salgados; Lavar cuidadosamente as tábuas de carne, superfície de pias e outros utensílios que entraram em contato com a carne crua, verduras e/ou frutas com água e sabão; Lavar as frutas e verduras utilizando água tratada corrente; Evitar alimentos expostos às moscas, baratas, formigas e outros insetos; Pasteurizar o leite; Manter as caixas d’água tampadas e lavadas a cada seis meses; Eliminar as fezes dos gatos infectados em lixo seguro; Proteger as caixas de areia, para que os gatos não as utilizem; Realizar os exames para detecção de toxoplasmose no início da gestação; Mulheres não devem engravidar até seis meses após soroconversão devido à possibilidade de parasitemia durante o período de, aproximadamente, três meses; As grávidas devem evitar o contato direto com as fezes do gato, além de adotar as medidas já citadas. Lavar bem as mãos e unhas após manusear areia (jardins, hortas, etc) e das crianças após brincarem em parques e em caixas de areias; Proteger a areia dos parques para que os gatos não defequem nela; Notificar imediatamente a suspeita de surto por ingestão de alimentos; Alimentar os gatos com ração ou outros produtos comerciais de qualidade; Em casos em que os gatos comem carne, utilizar somente se for bem cozida; Manter seus gatos dentro de casa e coletar suas fezes diariamente; Ter cuidado ao manusear as fezes de gatos e dar destino adequado às mesmas (usar luvas, pás e lavar as mãos após a manipulação): gestantes devem evitar; Evitar acesso dos gatos à rua porque podem adquirir o parasita; Isolar os animais domésticos das áreas de preparação de alimentos; A todas as gestantes é disponibilizada, de forma gratuita, a realização do exame para detecção da doença, a partir da vigésima oitava semana de gestação, no Teste da Mamãe. Qualquer alteração verificada no pré-natal é passível de tratamento, controle ou melhoria da qualidade de vida ou sobrevida, especialmente se detectada no início da gravidez; Orientações feitas pessoalmente pelos profissionais de saúde são mais eficazes. Referências Bibliográficas Carmo et al. Surto de toxoplasmose humana no Distrito de Monte Dourado, Município de Almeirim, Pará, Brasil. Instituto Evandro Chagas. Seção de Parasitologia, Laboratório de Toxoplasmose. Ver Pan-Amaz Saude - 2010. Mitsuka-Breganó, Regina; Lopes-Mori, Fabiana Maria Ruiz; Navarro, Italmar Teodorico, organizadores. Toxoplasmose adquirida na gestação e congênita: vigilância em saúde, diagnóstico, tratamento e condutas – Londrina : Eduel, 2010. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância em Saúde Epidemiológica. Doenças infecciosas e parasitárias: guia de bolso/ Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica. – 8. Ed. Ver. – Brasília: Ministério da Saúde, 2010. Goiânia, 30 de outubro de 2014