INFECÇÃO ORAL E GENGIVITE POR PSEUDOMONAS AERUGINOSA EM PACIENTE COM DOENÇA RENAL CRÔNICA - RELATO DE CASO Cláudia Maria Coêlho Alves; Luana Carneiro Da Silva Diniz; Eider Guimarães Bastos; Fernanda Ferreira Lopes. INTRODUÇÃO A doença renal crônica (DRC) consiste em uma lesão renal, com perda progressiva e irreversível da função dos rins (glomerular, tubular e endócrina) (Romão JR, 2004). Uma grande porcentagem dos pacientes renais sofre de um estado inflamatório crônico e assumem uma função imunológica comprometida (Miyamoto et al., 2011). Muitos pacientes pediátricos desenvolvem doença renal crônica secundária às anormalidades congênitas no sistema urinário. Além disso, há evidências de que casos de lesão renal aguda podem levar à doença renal crônica (Murugan, Kellum, 2011). Assim a terapia renal substitutiva (TRS) pode tornar-se indicada, através da hemodiálise, diálise peritonial ou transplante renal (Romão JR, 2004). A Pseudomonas aeruginosa é um bacilo gram-negativo frequentemente associado a infecções hospitalares, acometendo, principalmente, pacientes imunossuprimidos. Esta espécie bacteriana tem sido considerada um patógeno oportunista, uma vez que, raramente, está associada a infecções em indivíduos imunocompetentes (Lyczak et al., 2000). Outras infecções hospitalares frequentemente causadas por P. aeruginosa são as do trato urinário, peritonites em pacientes submetidos à diálise peritoneal, bacteremias e infecções de cirurgias. As bacteremias e as septicemias, principalmente em pacientes com neoplasias, renais crônicos, diabéticos e com distúrbios cardiopulmonares, resultam em alta taxa de mortalidade (Gomez et al., 1998; Kiska E Gillian, 2003) A cavidade bucal pode ser um reservatório de Pseudomonas aeruginosa, e em casos de infecções oportunistas, pode comprometer pacientes debilitados, como idosos e imunossuprimidos (Santos et al., 2002; Bact et al., 2006). OBJETIVOS O objetivo deste estudo foi relatar o caso de uma criança com doença renal crônica em tratamento dialítico peritonial, que apresentou graves lesões bucais causadas por infecção por Pseudomonas aeruginosa. DESCRIÇÃO DO CASO Paciente de seis anos de idade, sexo feminino, portadora de doença renal crônica (rim único), em Diálise peritonial pelo Hospital Universitário Presidente Dutra (HUUFMA) em São Luís-MA há 2 anos. *Paciente foi internada na UTI pediátrica da Unidade Materno Infantil com quadro de pneumonia, alterações e dores gengivais, neutropenia febril e hipoalbuminemia. *Exames sorológicos – todos negativos *Após alguns dias de internação, toda a extensão da gengiva marginal e inserida, faces vestibular e palatina, da paciente mostrava-se coberta por uma placa de cor branca, de aspecto endurecido e fortemente aderida *Fragmento da placa foi removido para exame de cultura - presença exclusivamente de Pseudomonas aeruginosa *Exames de cultura do sangue e da secreção nasal Pseudomonas aeruginosa (choque séptico por Pseudomonas) Tratamento foi composto por antibioticoterapia sistêmica (Vancomicina, Ampicilina-Sulbactan, Amicacina, Piperacilina-Tazobactan, Polimixina B), baseada nos exames de cultura realizados, e raspagem supragengival com aplicação de clorexidina a 0,12% durante o período em que a paciente esteve na UTI. Após paciente receber alta da UTI, realizou-se biópsia do tecido gengival Gengivite hiperplásica inflamatória Biópsia do tecido endurecido - tecido ósseo Exame de cultura do tecido ósseo - Pseudomonas aeruginosa Antibioticoterapia foi estabelecida novamente, por mais quinze dias Lesões ósseas removidas por meio de cirurgia (em centro cirúrgico, com anestesia geral), com profilaxia antibiótica (ciprofloxacino) e continuidade da antibioticoterapia no pós-operatório por sete dias. *Exame histopatológico - processo inflamatório crônico (Osteomielite) em meio a tecido necrótico *Exame de cultura – não mais foi detectada a presença de Pseudomonas aeruginosa Após esse período de tratamento foi detectada a presença do vírus HIV “janela imunológica” DISCUSSÃO Na maioria das infecções causadas por Pseudomonas aeruginosa, os sinais e sintomas são inespecíficos e relacionados com o órgão afetado. Este patógeno penetra na pele afetada ou mucosa, invade-os localmente e produz infecção sistêmica (Moraes et al., 2008). Barasch et al., (2003) relataram a presença de lesões necrosantes focais na mucosa oral de pacientes HIV-positivos, distintas dos padrões de doenças periodontais e associadas a presença da Pseudomonas aeruginosa. Sendo observada a cura das lesões após tratamento com antibioticoterapia sistêmica para gram-negativos, com concomitante desaparecimento da Pseudomonas aeruginosa nos exames de cultura posteriores. Supõe-se que a paciente adquiriu o vírus em alguma das transfusões sanguíneas a que já havia sido submetida antes deste quadro bucal apresentado, pois os pais são soronegativos. A presença desse vírus explica a grande baixa de imunidade, e o elevado grau de destruição óssea da maxila e mandíbula apresentada pela paciente. CONCLUSÃO Desenvolvimento de osteomielite da maxila e mandíbula, sem que a causa fosse infecções dentárias, mas sim devido a uma sepse por Pseudomonas aeruginosa. Devido às condições da paciente, renal crônica e portadora do vírus HIV, exibiu um quadro de grande queda do sistema imunológico, favorecendo a ação desta bactéria. O relato é extremamente importante para informar aos dentistas que a cavidade bucal pode estar afetada por esse patógeno ou servir de sítio de colonização do mesmo.