FACULDADES INTEGRADAS CAMPOS SALLES CURSO DE GRADUAÇÃO DISCIPLINA: SUSTENTABILIDADE, RESPONSABILIDADE SOCIA E ÉTICA Professor: Paulo S. Ribeiro Aula 02 UNIDADE 1: Formação da moral ocidental. Sofistas – relativismo Sócrates – Racionalismo Mas antes de iniciarmos uma breve compreensão do legado de Sócrates para a Filosofia Moral, é preciso situálo na história do pensamento grego, pensamento este que se inicia com o pensamento mitológico. Os mitos eram narrativas e histórias que serviam de explicação para a realidade do mundo, das coisas, da vida humana. Contudo, graças ao questionamento das concepções míticas temos a passagem do mito para o logos, ocorrendo um desenvolvimento do pensamento crítico, nascendo a Filosofia. Começa um novo esforço para compreensão do mundo e do homem pela RAZÃO. Surgem os pensadores chamados PRÉ-SOCRÁTICOS (tomando-se Sócrates como um marco da Filosofia). Os pré-socráticos tinham uma preocupação em compreender a essência das coisas, o princípio das coisas. Outro grupo de pensadores é chamado de SOFISTAS: rejeitam a tradição mítica ao admitir que os princípios morais resultam de convenções humanas – isto é são RELATIVISTAS. Diziam que os valores morais não eram ditados pelos Deuses (como se dizia nos mitos), mas sim criados pela conveniência humana. SÓCRATES: contrapõe-se aos sofistas ao buscar aqueles princípios na natureza humana, e não nas convenções. Questionava o conjunto de valores morais disponíveis – provocando as pessoas à deixarem de lamber suas feridas para jogar sal nelas. – questionamento da religião cívica O que há de semelhança na postura entre os Sofistas e Sócrates é a concepção de que a virtude resulta do trabalho reflexivo, da sabedoria, do questionamento dos mitos. COM SÓCRATES COMEÇA UMA VALORIZAÇÃO DA RACIONALIDADE, DA RAZÃO. SOFISTAS: São os primeiros filósofos do período socrático (final do século V e todo o século IV a.C). Começam uma valorização de um enfoque antropológico das preocupações filosóficas que abrange a moral e a política. Podemos citar alguns nomes como Protágoras e Górgias. Eram sábios e professores que vendiam seu conhecimento aos jovens. Suas posições foram criticadas pela tradição filosófica, considerandoos como oportunistas e sem compromisso com a verdade, apenas preocupando em convencer o interlocutor. Os sofistas favoreceram o surgimento de concepções filosóficas relativistas sobre as coisas. Segundo essas concepções, não haveria uma verdade única, absoluta. Tudo seria relativo ao homem, ao momento, a um conjunto de fatores e circunstancias (COTRIM, G. Fundamentos da Filosofia. São Paulo Ed. Saraiva, 1995, p. 101). Assim, os Sofistas podem ser chamados de RELATIVISTAS. Considerando a importância da política neste contexto, os sofistas ensinavam aos jovens como serem bons de retórica e argumentação no debate político, valorizando sobretudo a lógica. Contudo, embora os discursos fossem lógicos, não estavam preocupados com a moral da mesma forma como se veria mais a frente, mas produziam discursos vazios. Seus críticos diziam que os sofistas corrompiam os jovens, pois faziam o ERRO e a MENTIRA valer tanto quanto a verdade. Mesmo assim, é possível fazer algumas observações quantos às contribuições dos sofistas, a exemplo da contribuição à democracia e da valorização da idéia do homem como capaz de produzir um discurso lógico através do exercício da razão. Sócrates: É considerado um marco do pensamento filosófico (469 a 399 a. C). Por isso, os pensadores que o precedem são chamados de pré-socráticos e os que vêm em seguida de pós-socrático. Vai afirmar que cabe ao homem conhecer-se a si mesmo. (CONHECETE A TI MESMO). Suas principais idéias foram divulgadas por seu discípulo mais ilustre, Platão (o qual estudaremos na sequência). A partir do pressuposto “só sei que nada sei”, que consiste justamente na sabedoria de reconhecer a própria ignorância, inicia a busca pelo saber. Pelo método de desenvolver diálogos críticos com seus interlocutores, Sócrates questionava-os quanto às suas verdades, quanto à suas próprias certezas, colocando-as em “xeque”. Assim, considerava-se um verdadeiro “parteiro de almas” ao ajudar no nascimento de novas idéias, libertando indivíduos presos à uma visão deturpada da realidade. Podemos dizer que Sócrates era à favor da depuração do pensamento, buscando a definição do conceito. Ele busca algo UNIVERSAL, isto é, que possa valer enquanto verdade para todos. Assim, ele questionava: o que é o bem? O que é o belo? O que é a piedade? Para que a riqueza? Ele provocava o questionamento pela ironia e conduzia os alunos a construírem suas respostas pela maiêutica. Tentou unir o saber ao fazer, a consciência intelectual à consciência prática ou moral. (COTRIM, G. Fundamentos da Filosofia. São Paulo Ed. Saraiva, 1995, p. 103). Nasce o intelectualismo moral, o homem sabendo o que é o “bem”, ele poderá agir corretamente. Essa postura questionadora de Sócrates com relação às verdades de seu tempo contribui para que se tornasse inimigo de pessoas poderosas, as quais o condenariam à morte por corromper a juventude com suas idéias. Ainda podemos dizer que Sócrates privilegia as questões morais, buscando compreender o que é a coragem, a covardia, a justiça, etc. Sócrates desejava compreender o que é o “logos” (a razão que se dá algo) das coisas, isto é, o conceito de algo. Ao pedir o logos da justiça, ele quer saber a definição de justiça. Assim, Sócrates pode ser visto como RACIONALISTA. Um pouco sobre o mito da caverna: Platão (428-347 a.C) viveu em Atenas, onde fundou uma escola denominada Academia. Foi Discípulo de Sócrates, sendo responsável pela transcrição e divulgação dos pensamentos socráticos. O mito da caverna (parte da obra de Platão chamada A República) trata-se de uma história contada para exemplificar como se dá a falta de conhecimento do homem sobre a “verdadeira” realidade. Na caverna o homem estaria sob uma obscuridade, preso por preconceitos e longe da verdade sobre as coisas. O que é a caverna? O mundo das aparências em que vivemos. O que são as sombras projetadas no fundo? As coisas que percebemos. Que são os grilhões e as correntes? Nossos preconceitos e opiniões, nossa crença de que estamos percebendo a realidade. Quem é o prisioneiro que se liberta e sai da caverna? O filósofo. O que é a luz do Sol? A luz da verdade. O que é o mundo iluminado pelo sol da verdade? A realidade. Qual o instrumento que liberta o prisioneiro rebelde e com o qual ele deseja libertar os outros prisioneiros? A filosofia. (CHAUÍ, 2008, pg. 12). Dessa forma, podemos perceber que, em linhas gerais, esta é a mesma crítica ao pensamento vigente que se poderia ver em Sócrates. A análise do mito pode assim ser feita sob dois aspectos: um epistemológico (relativo ao conhecimento) e outro político (relativo ao poder). Platão - o dualismo material x espiritual (racional) Antes de vermos Platão, é preciso retomar a idéia de que para Sócrates, a filosofia esta voltada para a definição das virtudes morais, (do indivíduo) e das virtudes políticas (do cidadão), tendo como objeto central suas investigações a moral e a política, isto é, as idéias e práticas que norteiam os comportamentos dos seres humanos tanto como indivíduos como cidadãos. Caberia assim à filosofia encontrar a essência da virtude para a vida individual e cidadã. Assim, podemos dizer que Sócrates era um moralista, preocupado em encontrar o homem interior, a verdadeira sabedoria e o tema da virtude O que é mais marcante é o discurso moralista que estaria velado na fala de Sócrates, pois não se trata do questionar por questionar, mas sim de “puxar a orelha”, corrigir. Há autores que dizem que Sócrates penetrou na verdade da moralidade. Pela metodologia dos diálogos críticos, Sócrates desejava alcançar a alma; Pontos importantes de seu pensamento socrático: o o homem interior/a alma – este “bem interior” é alcançado apenas pela incerteza das coisas da vida. Logo, as certezas da cidade grega não traziam a verdadeira felicidade; O homem deve buscar o bem da alma. Contudo, este bem não está na inconstância da fortuna, na incerteza do futuro ou na precariedade do sucesso. o verdadeira sabedoria- tomar conhecimento de sua ignorância. devemos buscar o conhecimento de si mesmo. Assim, a noção de ignorância levaria ao alcance o o tema da virtude. Alcançada pela razão. A doutrina da virtude-ciência trata-se do intelectualismo moral de Sócrates. A questão está em se saber como devemos viver. “O homem sábio é necessariamente bom, o homem malvado é necessariamente ignorante, o sábio nunca faz o mal voluntariamente e somente o homem virtuoso é verdadeiramente feliz.” Assim, inaugura-se um pensamento ético: o uso da razão para a prática da virtude. Considerando-se que Platão difundiu Sócrates, dá-se início à uma ética SOCRÁTICO –PLATÔNICA. A essência deste pensamento é investigar no logos como devemos viver. O pensamento ético de Platão perpassa a idéia de ORDEM. Esta ORDEM permite a unificação da ética, da política e da cosmologia, assegurando a justa medida da ARETE (virtude) ao indivíduo e à cidade, na construção de um todo harmonioso. A idéia da ORDEM significa a existência de uma ligação entre a alma (indivíduo) e a cidade (sociedade). Essa ORDEM rege a sociedade. Há uma solidariedade entre o Bem (mundo das idéias) com o Ser (mundo dos fenômenos). A ética de Platão parte do pressuposto socrático da unidade entre virtude e razão. Porém, isso pressupõe o problema da conciliação entre liberdade e necessidade: a liberdade como essencial à virtude e a necessidade como predicado da razão. A liberdade é uma idéia muito presente na vida do homem grego. Ninguém é virtuoso sem ser livre e ninguém é virtuoso sem ser sábio (ver pág. 99, Lima Vaz) Segue a questão: como o virtuoso, ou homem bom e justo, sendo sábio pode ser livre? A ética de Platão tenta uma primeira resposta, como se afirma no diálogo República. Este livro será um documento fundamental para ética ocidental. A resposta estaria na idéia diretriz da ORDEM que rege a REALIDADE TOTAL – o domínio do Ser – na qual se insere a PRAXIS humana e seus predicados éticos da liberdade e sabedoria. Segundo Platão deveria haver uma proporção (analogia) entre LIBERDADE E SABEDORIA. Essa idéia de ORDEM e de BEM estão juntas. O conhecimento da Ordem implica o conhecimento do Bem. A Ordem irá assegurar assim a unidade das partes na constituição do todo, onde cada parte deve cumprir sua função. No todo ordenado reflete a presença do Bem, e da própria justiça. Assim, a experiência mostra que a JUSTIÇA está na práxis individual e social. Assim, no todo individual e social devidamente ordenado resplandecerá o bem, obedecendo à regência da justiça, ordenadora por definição. Para tratar disso, Platão tem três tarefas teóricas: a) Definir a filosofia política, descrevendo uma polis perfeita, ideal, na qual a ordem possa reinar e a Arete (virtude) política possa fluir; b) Pensar como se reflete na alma individual a ordem da cidade justa, considerando que este cidadão tenha como norma para sua vida a virtude da justiça; c) A terceira tarefa dividi-se em duas partes: definir qual o fundamento da justiça e como percorrer o caminho que leva à ideal do Bem. Assim, Platão tem como preocupação compreender a práxis política com vistas ao Bem (individual e na sociedade). A práxis virtuosa é uma práxis livre, e dessa forma, a filosofia da práxis do ponto de vista ético é uma filosofia da liberdade. Para tratar de sua idéia acerca da ética (ciência do bem), Platão vai usar duas noções: a) a noção de modelo; b) a noção de ordem lógica do discurso. O modelo aparece como a concretização de determinado momento lógico. Assim, o modelo do Guardião é exigido pela lógica da ordem na cidade; e o modelo do Filósofo, pela necessidade de conhecer o fundamento da ordem e, portanto da justiça (ver pág. 103, Lima Vaz). Essa noção de “modelo ético” (como o rei – filósofo) está em perfeita concordância com a forma de Platão compreender a realidade, isto é, admitindo o mundo dos fenômenos e o mundo das idéias. Para Platão a vida ética não é um dom da natureza, mas fruto de um doloroso processo educativo. Platão tenta demonstrar que somente ao Filósofo cabe governar a cidade ordenada segundo o modelo ideal. Se a cidade justa é uma imitação da cidade ideal (do mundo das idéias) o melhor governante só pode ser aquele que conhece o mundo das idéias: o filósofo. A originalidade de Platão manifesta-se aqui na introdução do conceito de justiça interior (sendo a psyché, depois da polis, o lugar procurado da morada da justiça), que, sob a forma da harmonia, concórdia e paz interiores do homem justo, ficará igualmente integrada na vertente antropológica da ética. Platão terá a preocupação em propor uma metafísica do Bem, isto é, em compreender o absoluto do Bem humano. Por isso o Bem é o objeto mais alto da Filosofia. A idéia do Bem mostra-se como fonte de toda inteligibilidade e bondade e, por conseguinte, razão mesma da liberdade em sua verdade, com atributo intríseco ao ser racional. Logo, Platão em sua obra República esboça as linhas gerais da ética ocidental. Aristóteles - conceito de virtude O que se sugere para estudar a Aristóteles é se debruçar sobre a ÉTICA NICOMAQUÉIA. A diferença primordial da teoria Platônica para a Aristotélica é a questão da definição do objeto e do método. Para Aristóteles, o homem é dotado de logos (razão e linguagem) bem como de inclinações (paixões). “Aristóteles especifica as ciências segundo o uso nelas feito das faculdades do logos, de acordo com o objeto que se aplica”. Na ciência da práxis ou ciência prática, o fim é a perfeição do agente pelo conhecimento da natureza e das condições que tornam melhor e excelente o seu agir (práxis). O homem deve ser senhor de suas ações e controlar suas paixões. A práxis é objeto de um saber – da ética – que expõe a natureza e as condições deste operar, segundo o critério do agir bem, agir melhor, isto é, pela RAZÃO. Pela mediação da práxis que se sabe agir, o sujeito pode realizar-se em sua perfeição de ser racional Aristóteles monta uma verdadeira estrutura do saber prático : política, ética. 1. Política (práxis social) 2. Ética (práxis individual) Essa ciência da práxis requer um conhecimento prévio que só vem ao indivíduo o longo de sua vida, que só a idade pode dar experiência de vida. O fim maior desta ciência da práxis é o BEM - o Bem é o fim a que todo ser aspira [deseja alcançar]...pg.128. Para ser dotado de razão o BEM precisa ter os predicados que possam ser justificados pela razão. Sua posse causa no ser racional, pela mediação da Arete ou virtude, o estado de auto-realização ou auto-satisfação que Aristóteles designa com o termo EUDAIMONIA. Esta produção de Aristóteles era a apresentação do método a ser seguido na ciência prática. Investigação sobre o bem supremo, ao qual todos os outros se ordenam A hierarquia dos saberes corresponde a uma hierarquia dos BENS. E sendo a Política e a ética os principais saberes (da Arete), logo são responsáveis pelo principal BEM. Mas tem-se a questão: qual seria o verdadeiro bem? Aristóteles – vida de BEM: prazer, vida política e contemplação. Depois que se tenha definido o que seria o verdadeiro bem, é preciso ver em que gênero de vida (dos gregos) e de que modo o bem se realiza plenamente. Tal é o programa do curso de Ética (ou sobre o bem da vida humana) de Aristóteles Aristóteles tem sempre uma preocupação com a FINALIDADE das ações humanas. Assim, sempre existirá um fim ou um propósito para tudo, como por exemplo: o fim da medicina é a saúde; da economia é a riqueza, etc. Mas, afirma Aristóteles, todos concordam que o fim último que desejamos alcançar, por meio desses fins praticados diariamente, é a FELICIDADE. Porém, ela não será encontrada no prazer, que é efêmero, nem nas riquezas, que são meios para fins, mas não são fins, nem na honra (reconhecimento público), pois [a felicidade] é sempre externa a mim e depende mais de quem a concede do que de quem a recebe. A felicidade será encontrada no exercício ativo das virtudes, pois aí terá o homem uma vida reta e comedida. “Com efeito, a pragmatéia ética de Aristóteles procede da definição do bem e da determinação do bem próprio do homem à investigação sobre o modo mais excelente de realização [desse] bem que é a VIRTUDE, sobre as condições dessa realização e sobre as formas de eudaimonia (auto-realização do indivíduo) que dela resultam”. (VAZ, 2002, p. 120). A ética deverá responder a pergunta: quais os verdadeiros bens da vida humana e como classificá-los hierarquicamente? Para Aristóteles a finalidade maior da ética, sua natureza prática, não é pensar o que é a virtude em si, mas como nos tornamos bons ou eudaimones ,praticando-a. A ética tem assim seu roteiro definido: ela será uma investigação sobre a virtude, como atividade fonte da eudaimonia. Na conclusão de Lima Vaz, (2002, p. 126) ele afirma que, para Aristóteles, os problemas que influem imediatamente de nossa natureza como seres racionais e livres são: problemas do agir, do bem, das excelências e dos fins da vida humana, em suma os problemas postos pela simples questão socrática – como convém viver? – da qual nasceu a Ética. Para Aristóteles há uma parte da alma que não obedece à regra (irracional) e uma parte da alma que sim, que de fato obedece a uma regra (racional); Essa parte racional refere-se a VIRTUDE (o agir correto buscando o bem) Teríamos duas virtudes: 1. dianoéticas (do entendimento, intelectual) essa pelo ensinamento. 2. ética (do caráter) essa pela prática A maior das virtudes seria a justiça. O pensamento de Aristóteles tinha como pano de fundo a perda da independência política da Grécia para a hegemonia macedônica. Leitura: VAZ, H. C. Lima. Escritos de filosofia IV: introdução à ética filosófica. 2.ed. São Paulo: Loyola, 2002. p. 93 – 126. CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2008. p.11 à 24 (ler ao menos sobre o mito da caverna) leitura complementar.