Color profile: Generic CMYK printer profile Composite Default screen Questão 1 Se utilizássemos, numa conversa com homens medievais, a expressão “Idade Média”, eles não teriam ideia do que isso poderia significar. Eles, como todos os homens de todos os períodos históricos, se viam vivendo na época contemporânea. De fato, falarmos em Idade Antiga ou Média representa uma rotulação posterior, uma satisfação da necessidade de se dar nome aos momentos passados. No caso do que chamamos de Idade Média, foi o século XVI que elaborou tal conceito. Ou melhor, tal preconceito, pois o termo expressava um desprezo indisfarçado pelos séculos localizados entre a Antiguidade Clássica e o próprio século XVI. Na medida do possível, o historiador pode tentar fugir a anacronismos, evitando a transferência de valores do presente para julgar o passado. A partir do estudo de documentos da época e dos condicionamentos históricos em que estes emergiram, bem como de seus autores, é possível se aproximar da realidade da época, permitindo, para o caso da Idade Média, um conhecimento que não privilegie julgamentos de valor, negativos ou positivos. Questão 2 Observe a imagem e leia o texto a seguir. Hilário Franco Júnior, A Idade Média. Nascimento do Ocidente. 3ª ed. São Paulo: Brasiliense, s.d. [1986]. p.17. Adaptado. A partir desse trecho, responda: a) Em que termos a expressão “Idade Média” pode carregar consigo um valor depreciativo? b) Como o período comumente abarcado pela expressão “Idade Média” poderia ser analisado de outra maneira, isto é, sem um julgamento de valor? Resposta a) A expressão “Idade Média” foi cunhada no contexto do Renascimento para designar o período entre o final da Antiguidade – e, por consequência, dos valores greco-romanos relacionados à racionalidade – e o momento em que tais valores estariam renascendo (daí “Renascimento”). Esse período de cerca de mil anos seria marcado, segundo o homem renascentista, pelo predomínio dos valores religiosos imputados pela Igreja, atitudes místicas e discussões teológicas inúteis, entre outros aspectos. Em outros momentos da história, caracterizados também pela valorização da razão, como é o caso do Iluminismo, igualmente se fez um juízo de valor negativo em relação à Época Medieval, contribuindo, assim, para a consolidação do senso comum que entende ter sido aquele momento uma “Idade das Trevas”. b) O período comumente abarcado pela expressão “Idade Média” pode ser analisado historicamente, como pretende o próprio autor no texto. 2fuv10h.prn F:\Vestibular-2011\Fuvest\2“ fase\2“ prova\2fuv11h\2fuv10h.vp ter a-feira, 11 de janeiro de 2011 23:16:51 Fonte: Michelangelo, A criação de Adão, detalhe do teto da Capela Sistina, Vaticano (c. 1511). www.rastel.com. Michelangelo começou cedo na arte de dissecar cadáveres. Tinha apenas 13 anos quando participou das primeiras sessões. A ligação do artista com a medicina foi reflexo da efervescência cultural e científica do Renascimento. A prática da dissecação, que se encontrava dormente havia 1.400 anos, foi retomada e exerceu influência decisiva sobre a arte que então se produzia. Clayton Levy, “Pesquisadores dissecam lição de anatomia de Michelangelo”, Jornal da Unicamp, nº 256, junho de 2004, http://www.unicamp.br/ unicamp/unicamp_hoje/ju/junho2004/ ju256pag1.html. Acessado em 11/06/2010. a) Explique a relação, mencionada no texto, entre artes plásticas e dissecação de cadáveres, no contexto do Renascimento. b) Identifique, na imagem acima, duas características da arte renascentista. Color profile: Generic CMYK printer profile Composite Default screen história 2 Resposta Resposta a) Denominamos Renascimento ou Renascença ao período de transição entre o Período Medieval e a Idade Moderna, no qual o Ocidente europeu vivenciou a retomada dos valores artísticos e culturais das civilizações clássicas – Grécia e Roma. Partindo de uma crítica à visão religiosa do teocentrismo medieval, os pensadores e artistas renascentistas buscavam colocar a razão e a experiência como meios para se alcançar a verdade, ao mesmo tempo em que revalorizavam a materialidade terrena, como a natureza e o ser humano. Nesse sentido, a prática da dissecação de cadáveres era cara aos artistas desse período, uma vez que se prestava à investigação empírica da morfologia humana e auxiliava na retratação mais precisa dos temas em questão. b) Identificamos na imagem o antropocentrismo (valorização das formas e figura humanas, além da humanização das temáticas religiosas) e o naturalismo (representação realista da natureza humana). a) Nas primeiras décadas do século XX, a hegemonia nacional da elite cafeeira paulista refletiu-se num esforço deliberado de autolegitimação histórica, na celebração de uma memória regional que conectasse a grandeza do presente com um passado glorioso, que exaltasse as velhas linhagens e seu patrimônio. Como não poderia deixar de ser, foi um processo repleto de contradições, agravadas com os acontecimentos dos anos 1930 – e cuja expressão maior se deu com a Revolução de 1932, intensamente celebrada como expressão da identidade paulista (assim como a Farroupilha pelos gaúchos, por exemplo), visível nas avenidas e monumentos da capital (23 de maio, 9 de julho, Obelisco do Ibirapuera). Um rápido exame dos cartazes de propaganda da rebelião paulista revela o ícone representativo dessa identidade: o bandeirante. Figura (ainda hoje) onipresente, de palácio do governo, a emissora de TV, foi escolhido como elemento da tradição apologética da elite de São Paulo por aquilo que se tornou conhecido como "historiografia paulística". Mas como esse personagem foi retratado? As esculturas do Museu Paulista, produzidas nesse mesmo período (sob a direção do "paulístico" Afonso Taunay no – sugestivamente chamado – Museu Paulista) são bastante claras ao talhá-los como heróis; pelos trajes, pelo olhar absorto e lúcido, pelo porte, pelo recurso a um estilo clássico/acadêmico, os bandeirantes do museu são os desbravadores dos sertões, os conquistadores das fronteiras dilatadas, os descobridores do ouro e dos diamantes. Suas armas caracterizam-nos como guerreiros, vencedores do índio bravio, construtores da grandeza da colônia e da nação. Os caminhos que abriram converteram-se nas rodovias por onde circulam (tanto hoje como ontem) as riquezas nacionais. Seu espírito indômito e empreendedor seria a matriz do moderno paulista, locomotiva da nação. O bandeirante se tornava o nosso herói fundador, misto de cruzado e cowboy. b) O mito do bandeirante oculta, entretanto, muito mais do que revela; a começar por uma visão romantizada de seu cotidiano. As jornadas sertão adentro eram feitas a pé, em toscos gibões de couro, com as flechas predominando sobre os mosquetes. Esses homens rústicos, mamelucos de fala tupi-guarani, em nada poderiam lembrar um ideal cavalheiresco de qualquer tipo. Todavia, as maiores omissões se dão no plano (digamos) moral; os desbravadores dos sertões eram também os inimigos do indígena e do jesuíta, que semearam a destruição enquanto buscavam sôfregos os metais e pedras preciosas. Suas armas voltavam-se contra o nativo bravio, que se recusava à escravização (ou ao extermínio), e não só; predadores de índios, também o eram de escra- Questão 3 Observe a seguinte foto. Fonte: Imagens das estátuas de Antônio Raposo Tavares [esq.] e Fernão Dias Pais [dir.], existentes no salão de entrada do Museu Paulista, São Paulo. Essas duas estátuas representam bandeirantes paulistas do século XVII e trazem conteúdos de uma mitologia criada em torno desses personagens históricos. a) Caracterize a mitologia construída em torno dos bandeirantes paulistas. b) Indique dois aspectos da atuação dos bandeirantes que, em geral, são omitidos por essa mitologia. 2fuv10h.prn F:\Vestibular-2011\Fuvest\2“ fase\2“ prova\2fuv11h\2fuv10h.vp ter a-feira, 11 de janeiro de 2011 23:16:52 Color profile: Generic CMYK printer profile Composite Default screen história 3 vos fugidos – suas tropas, verdadeiras forças paramilitares, serviram como capitães do mato nas "bandeiras de contrato" (como a que destruiu o Quilombo dos Palmares), empreendedores porque pobres, levaram gerações para construir fortuna. Omissões compreensíveis em vista dos fins pretendidos; apenas desses esquecimentos costumam surgir os heróis... b) A Guerra do Paraguai foi antecedida por vários conflitos na região do Rio da Prata, que coincidiram e se relacionaram com o processo de construção dos Estados nacionais na região. Indique um desses conflitos, relacionando-o com tal processo. Resposta Questão 4 Observe os dois quadros a seguir. Fonte: Victor Meirelles de Lima, Combate naval do Riachuelo, 2ª versão, 1882 / 1883. Fonte: Juan Manuel Blanes, A destruição causada pela guerra, 1880. Essas duas pinturas se referem à chamada Guerra da Tríplice Aliança (ou Guerra do Paraguai), ocorrida na América do Sul entre 1864 e 1870. a) Esses quadros foram pintados cerca de dez anos depois de terminada a Guerra do Paraguai, o da esquerda, por um brasileiro, o da direita, por um uruguaio. Analise como cada um desses quadros procura construir uma determinada visão do conflito. 2fuv10h.prn F:\Vestibular-2011\Fuvest\2“ fase\2“ prova\2fuv11h\2fuv10h.vp ter a-feira, 11 de janeiro de 2011 23:16:52 a) O quadro de Victor Meirelles, pintado anos depois do fim do conflito com o Paraguai, retrata a Batalha do Riachuelo (11.06.1865), travada no rio Paraná, em território argentino. A batalha foi fundamental no conjunto da vitória da Tríplice Aliança. O quadro exalta de uma forma heroica o feito, destacando a figura do almirante Barroso no comando da frota brasileira, e também, de certa forma, exalta o governo monárquico como o grande vitorioso da guerra. O quadro A destruição causada pela guerra do pintor Juan Manuel Blanes, retrata de forma árida a desolação, a miséria causada pelo conflito e a situação humana. Talvez o maior contraste entre os dois quadros esteja na condição sub-humana causada pela guerra em oposição à condição heroica propiciada pela mesma. Essa oposição é enfatizada pela própria diferença de perspectiva – militar, no quadro de Meirelles, e civil, na obra de Blanes – da apoteose da vitória ao desamparo dos sobreviventes. b) Entre os conflitos na região do rio da Prata, podemos citar: • Guerra da Cisplatina (1825-1828) – Durante o governo joanino no Brasil, o Uruguai foi incorporado aos domínios de Portugal, com o nome de Província Cisplatina. A oposição do governo argentino e o movimento nacionalista uruguaio resultaram na guerra entre Brasil e Argentina e a consequente independência do Uruguai (1828). • Campanha contra Oribe (1851) – O Brasil interferia nas disputas políticas internas do Uruguai entre os partidos Blanco e Colorado, este último contando com o apoio brasileiro. Os Blancos, liderados por Manuel Oribe, recebiam apoio do ditador argentino Juan Manuel Rosas. Um acordo foi selado entre os Colorados, os opositores de Rosas na Argentina e o governo brasileiro, visando eliminar politicamente Oribe. • Campanha contra Rosas (1852) – Após a derrotas dos Blancos no Uruguai, tropas brasileiras apoiadas pelos presidentes das províncias argentinas de Corrientes e Entre Rios (opositores de Rosas) o depõem em 1852, em Monte Caseros. • Campanha contra Aguirre (1864) – Em 1864, o presidente do Uruguai era Atanásio Aguirre, do partido Blanco, que estabeleceu aliança defensiva-ofensiva com o ditador paraguaio Solano López. Sob pretexto de violação de fronteira, o governo Color profile: Generic CMYK printer profile Composite Default screen história 4 brasileiro apresenta ultimato a Aguirre. Em seguida, o governo brasileiro estabelece aliança com os Colorados, visando depor Aguirre do poder. Após o conflito, Aguirre foi substituído por Venâncio Flores na presidência uruguaia. Nesse momento, o Brasil contava com o apoio de Bartolomeu Mitre. Questão 5 Este livro não pretende ser um libelo nem uma confissão, e menos ainda uma aventura, pois a morte não é uma aventura para aqueles que se deparam face a face com ela. Apenas procura mostrar o que foi uma geração de homens que, mesmo tendo escapado às granadas, foram destruídos pela guerra. Erich Maria Remarque, Nada de novo no front. São Paulo: Abril, 1974 [1929], p.9. Publicado originalmente em 1929, logo transformado em best seller mundial, o livro de Remarque é, em boa parte, autobiográfico, já que seu autor foi combatente do exército alemão na Primeira Guerra Mundial, ocorrida entre 1914 e 1918. Discuta a ideia transmitida por “uma geração de homens que, mesmo tendo escapado às granadas, foram destruídos pela guerra”, considerando: a) As formas tradicionais de realização de guerras internacionais, vigentes até 1914 e, a partir daí, modificadas. b) A relação da guerra com a economia mundial, entre as últimas décadas do século XIX e as primeiras do século XX. Resposta a) A Primeira Guerra (1914-1918) apresenta algumas características que vão romper e, em alguns casos, ampliar elementos presentes até o seu desenrolar. Depois das Guerras Napoleônicas, no início do século XIX, as guerras europeias foram limitadas na sua amplitude de tempo e no número de países envolvidos. A Guerra da Crimeia (1854-1856) foi a única a envolver mais de três grandes potências. A Guerra Franco-Prussiana (1870-1871), envolveu diretamente a França, a Prússia e as regiões alemãs sob sua influência. Fora da Europa, merecem destaque, pela sua duração e pelo número de mortos, a Guerra Civil Americana (1861-1865) e, pelo número de países envolvidos, extensão e mortos, a Guerra do Paraguai (1864-1870). A Primeira Grande Guerra vai se notabilizar pela sua amplitude no tempo e no 2fuv10h.prn F:\Vestibular-2011\Fuvest\2“ fase\2“ prova\2fuv11h\2fuv10h.vp ter a-feira, 11 de janeiro de 2011 23:16:53 abrangente espaço territorial; iniciada na Europa, a guerra vai se expandir aos demais continentes e, além de apresentar batalhas fora do território europeu, soldados vindos das regiões coloniais irão lutar nos exércitos de suas metrópoles. A guerra vai se caracterizar por ser uma guerra total, a superioridade de um país vai se dar não apenas pela sua capacidade de mobilizar soldados, mas também, e principalmente, pelo seu desenvolvimento tecnológico: armas de repetição (metralhadoras), tanques, aviões, navios, submarinos de guerra e armas químicas. A guerra vai se caracterizar, ainda, pelas trincheiras, pelo grande número de mortos entre a população civil e pelo recrutamento nacional. As guerras posteriores a 1914 vão se notabilizar pela presença de grandes arsenais militares e pelo bombardeio de cidades abertas, com o terrível aprimoramento do uso da força aérea, destacando-se nesse sentido a Segunda Grande Guerra (1939-1945). Nesse mesmo conflito haverá destaque para o aspecto ideológico presente nos conflitos militares e no decorrer da Guerra Fria (1945-1990). Assim, depois de 1914, entre outros aspectos, as guerras vão se destacar pela amplitude, pelo recrutamento nacional, pelo emprego dos avanços tecnológicos para a produção de armas de destruição em massa, justificando o fato de que “uma geração de homens que, mesmo tendo escapado às granadas, foram destruídos pela guerra”. b) A segunda metade do século XIX vai se caracterizar pela Segunda Revolução Industrial. Trata-se do momento em que a industrialização vai atingir outros países na Europa Ocidental, além de Estados Unidos e Japão, fora da Europa. Entre as grandes potências, amplia-se a rivalidade por áreas de influência, onde pudessem adquirir fontes de matérias-primas, mercados consumidores e regiões para investir capitais excedentes. Antes da eclosão do conflito, os países europeus vão se envolver em uma corrida aos armamentos e aos sistemas de alianças, conhecida como Paz Armada. Formam-se dois blocos de aliança fortemente antagônicos. A Tríplice Entente, com a presença da França, Rússia e Inglaterra, e, do outro lado, a Tríplice Aliança, com Alemanha, Itália e Áustria-Hungria. A presença da Inglaterra ao lado da França, tradicionais inimigas ao longo da história, teria relação com as rivalidades entre ingleses e alemães (principalmente após a saída de Bismarck da chancelaria alemã), quando o novo imperador, Guilherme II, busca transformar a Alemanha em grande potência mundial, entrando em rota de colisão com o Império Britânico. Assim, poderia justificar-se a clássica interpretação de Lênin, de que a Primeira Guerra (1914-1918) foi resultado dos embates entre potências imperialistas. Color profile: Generic CMYK printer profile Composite Default screen história 5 Questão 6 Considere as seguintes charges. Fonte: Augusto Bandeira, Correio da Manhã, 14/07/1963 (esq.) e Biganti, O Estado de S. Paulo. 09/02/1964 (dir.). Imagens extraídas de: Rodrigo Patto Motta, Jango e o golpe de 1964 na caricatura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006, p.98 e 165. Essas charges foram publicadas durante a presidência de João Goulart (1961-1964). a) Cada charge apresenta uma crítica a um determinado aspecto do governo de Goulart. Identifique esses dois aspectos. b) Analise como esses dois aspectos contribuíram para a justificativa do golpe militar de 1964. Resposta a) A primeira charge faz alusão ao processo inflacionário que atingiu altos índices, de tal maneira que corroía significativamente o poder aquisitivo da moeda, prejudicando, sobretudo, os assalariados. A segunda charge faz alusão à orientação de política externa do governo, que envolvia uma aproximação com países do bloco socialista em uma época de recrudescimento dos conflitos da Guerra Fria. b) Há que se observar, em primeiro lugar, que Goulart exercia a Presidência da República na qualidade de vice-presidente, que assumira o governo em face à renúncia do titular Jânio Quadros (25.08.1961) e que, em certo sentido, herdara de 2fuv10h.prn F:\Vestibular-2011\Fuvest\2“ fase\2“ prova\2fuv11h\2fuv10h.vp ter a-feira, 11 de janeiro de 2011 23:16:53 governos anteriores uma orientação de política econômica e externa às quais, dadas as circunstâncias, não fora capaz de imprimir uma mudança de rumos. A inflação vinha em um processo ascendente desde a administração Juscelino Kubitscheck (1956-1961), com a política econômica desenvolvimentista – crescimento econômico acelerado, sem rigorosos controles. A orientação de política externa, por sua vez, era consequência e continuidade da “Política Externa Independente” inaugurada por Jânio Quadros por intermédio de seu ministro das Relações Exteriores, Afonso Arinos de Mello Franco. Tratava-se, entre outros aspectos, de não aceitar um alinhamento político automático com os Estados Unidos, bem como diversificar os parceiros do Brasil no comércio internacional, o que por sua vez envolvia uma aproximação com os países do bloco socialista. No caso específico da charge, trata-se do processo de estabelecimento de relações diplomáticas com a República Popular da China. No conjunto, uma situação estrutural de concentração social, regional e setorial da renda, uma intensificação de tensões e conflitos sociais associado a uma crise de autoridade do governo Goulart. No plano internacional, a existência de um acirramento dos conflitos da Guerra Fria – Revolução Cubana em 1959 e seu caráter socialista a partir de 1961 – servem de pano de fundo para o golpe de Estado executado pelos militares em 31.03.1964, que resultou na deposição de Goulart e na implantação do regime militar (1964-1985). Ao tomar o poder, os militares procuraram legitimar e justificar o golpe de Estado alegando que Goulart pretendia fundar uma “república sindicalista” e que os comunistas estavam prestes a tomar o poder, bem como, por intermédio de medidas de saneamento econômico-financeiro – controle rígido de gastos e salários – afirmavam que iriam reverter o processo inflacionário. Assim, as duas charges adquirem seu pleno sentido na crise econômico-social e político-militar de meados dos anos 1960 no Brasil, que conferia aos militares um papel salvacionista para o país, como combatentes da inflação, da corrupção e da subversão.