A INFLUÊNCIA DO ROCK NO COMPORTAMENTO E NA CONCEPÇÃO MUSICAL DE BANDAS DE BAILE DO NORTE DO PARANÁ Anderson Sávio Ferreira1 O presente artigo tem como objetivo apontar resultados parciais de uma pesquisa ainda em andamento sobre o papel central do gênero Rock no comportamento e concepção musical de algumas das chamadas bandas de baile, na região Norte do Estado do Paraná. Por concepção e comportamento, entende- se aqui a forma pela qual os músicos pensam e trabalham com a música. Mesmo sendo bandas ecléticas, que buscam ser extremamente comerciais, que “tocam de tudo”, percebeu-se através da observação participante, que até então durou 1 ano e 3 meses na função de contrabaixista de uma banda baile, a grande importância do Rock em relação à outros gêneros. Tal importância é destacada não apenas no extenso repertório de Rock e na postura de palco, sobre as quais o trabalho irá discorrer, mas também na apropriação de elementos musicais provenientes do Rock como guitarra elétrica de 7 cordas com distorção, pedal duplo de bateria, baixo com pegada forte, citações de rifes e temas roqueiros em outros gêneros, como na música sertaneja, dance e axé entre outras, demonstrando o que Michel de Certeau chama de “bricolagem” e Jaques ao trabalhar com o cenário de bandas do Rock Alternativo de Florianópolis chama de apropriação: “Com apropriação, me refiro á forma particular com que os músicos assimilam determinada característica musical” (Jaques 2007 p 10). Além disso, percebeu-se que o Rock prevalece no gosto musical de muitos profissionais de banda de baile (músicos, bailarinos, donos de banda, técnicos de som e equipe técnica) no espaço geográfico estudado que é considerado um grande pólo de bandas de baile no Brasil. 1 [email protected] Para contextualizar, serão expostos dois panoramas históricos: o primeiro trata do recorte geográfico, através de uma superficial revisão bibliográfica e o segundo, trata do surgimento dos primeiros grupos que são identificados pelo termo “Banda de Baile” no recorte geográfico e de grupos que apesar de fora desse espaço geográfico, influenciaram na concepção musical hoje adotada em tais bandas. Esse trabalho vai procurar mostrar as diferentes concepções de Banda de Baile (como: banda show, banda de marchinhas, banda de música gaúcha, banda de forró, banda de show, etc...). Para tanto, tratarei de expor dados sobre os diferentes tipos de formação, relação com o público e com os gêneros musicais que algumas das bandas demonstram, citando também algumas das diversas situações pelas quais as performances são realizadas, trazendo um aprofundamento maior na banda pela qual o contato do pesquisador é mais intenso e onde o Rock é identificado como diferencial não só pela própria banda e seus músicos, mas também por outras bandas do gênero e boa parte do público. O Norte do Paraná Com uma colonização agenciada principalmente pela Companhia de Melhoramentos Norte do Paraná, decorrente de uma missão inglesa na região, as principais cidades do Norte do Paraná da atualidade surgem principalmente devido ao ciclo do café na terceira década do século XX, já que o solo desse espaço foi identificado como motivador para o cultivo, intensificando cada vez o processo de migração para a região (Passos, 2012, p 184). No quadro geral do Norte do Parana, em especial no Norte Novo e Norte Novissimo, verificamos a mais rapida ocupacao humana da historia do Brasil devido a expansao da lavoura cafeeira, em particular a partir do final da decada de 1940. E, conforme constatou Nicholls (1971, p. 36) (apud, Passos, 2012, p 189), os milhares de imigrantes que para aí se dirigiram, provenientes, sobretudo dos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Rio de Janeiro, em poucas décadas ransformaram o Norte do Paraná, de uma área desabitada, na mais próspera região do Estado. (Passos, 2012, p 189, grifos meus). . Percebe- se na citação acima, que o cultivo do café trouxe prosperidade econômica muito significativa para a região que até os anos 70 era a líder na economia paranaense (Moura, 2004, 35). Porém a partir dessa década, o processo de mecanização agrícola implantado no Brasil que traz a liberação da mão de obra dos cultivadores, bem como a substituição do cultivo do café pelo milho e soja que também necessitam alta mecanização e menos contingente de mão de obra, além do “surto industrial” impulsionaram um intenso êxodo rural da população que passa a migrar cada vez mais para os principais centros urbanos da região, aumentando rapidamente a população das duas maiores cidades: Maringá e Londrina. Cidades como Apucarana, Arapongas, Cianorte e Umuarama também crescem muito nessa época. A formação das primeiras Bandas de Baile, o Rock e o Norte do Paraná Segundo as fontes orais de Sérgio Poppi de Maringá e Gerson Küster de Guarapuava, ambos músicos e formadores de “conjuntos musicais” profissionais, (como eram chamados na época no Paraná) as primeiras Bandas de Baile (como concebemos tal tipo de conjunto, bandas que possuem um vasto repertório eclético que animam festas e bailes) de que essa pesquisa teve notícia, surgiram na década de 60. Jaques em sua dissertação de mestrado, ao falar do surgimento das primeiras bandas de Rock de Florianópolis, destaca também o surgimento das chamadas “bandas de baile” como mostra a citação abaixo. As primeiras informações sobre bandas de rock em Florianópolis que obtive datam do início dos 1960. Segundo Ronaldo de Sousa Maciel (informação verbal)37, músico que atuou na cidade durante os 1960 e 1970, nessa época, surgiu a banda instrumental The Eagles, que definia seu trabalho a partir da banda americana de surf music The Ventures. Também surgiram as “bandas de baile”, formadas especialmente para animar festas. Elas possuíam um vasto repertório, incluindo o rock, e realizavam suas apresentações nos clubes da cidade, principalmente Clube Doze de Agosto, Lira Tênis Clube e Clube Seis de Janeiro. Dentre as primeiras destas estão: The Snakes, de 1963 (Sanson, 2004), que tocava apenas Beatles, Os Mugnatas38 e Milionários. No final dos 1960 e início dos 1970, destacaram-se: The Saints, Os Binos, Folk, Aventureiros e The Jatson.(Jaques, 2012, p 40) Nos anos 60, com a popularização da televisão, o Brasil passa a importar e assimilar cada vez mais ritmos e gêneros musicais internacionais (Jaques, 2012, p 32). A explosão do The Beatles em todo o mundo e movimentos como a Jovem Guarda no Brasil fizeram com que o Rock fosse cada vez mais popular no país. Assim, muitos músicos passam a formar grupos que tocavam apenas Rock, mas que acabavam se tornando mais ecléticos para agradar o público em festas e bailes. Essa era uma forma de esses músicos se profissionalizarem com a música no sul do Brasil como nos mostra Volney em seu trabalho sobre o Rock no Rio Grande do Sul. Muitas dessas bandas de baile dos anos 60... praticamente deram início ao profissionalismo musical no Estado. Foi um modo que músicos dessa época acharam para viver de sua arte e fazer dela uma profissão. Hoje, as chamadas bandas de baile de pequeno e grande porte, algumas até registradas como empresa que contratam músicos, assinam suas carteiras de trabalho e oferecem benefícios, tornando – se assim, de certa maneira, um dos exemplos das ramificações extensas do movimento da Jovem Guarda com vasta oportunidade de crescimento financeiro e que ainda são pouco conhecidas. (Volney, 2011, p 20). Gerson Küster de Guarapuava, Pr, através de entrevista à mim concedida, relata sua experiência como músico de baile do final dos anos 60 e toda década de 70: Formamos vários grupos nessa época em sociedade com músicos, agente tocava muito na região de Guarapuava e ás vezes em Santa Catarina e também no interior de São Paulo. Começávamos tocando Rock N´Rol principalmente "baladas", para o povo dançar agarradinho e ritmos da Jovem Guarda como o "Twist".Ae tínhamos que tirar mais músicas de outros ritmos como bolero, samba e música gauchesca para o povo dançar, mas gostávamos muito de tocar Beatles, Led Zeppelin, Deep Purple, Casa das Máquinas entre outras. Esses sons, deixávamos para as 2 horas finais dos bailes que duravam de 4 a 5 horas. Apesar de ter a região norte como um celeiro muito importante de bandas de baile desde final dos anos 60, (época que a região era a economicamente mais forte do Estado como citado acima) até hoje, não encontrei nenhum trabalho acadêmico que envolvesse tal manifestação musical no Estado do Paraná. Dessa forma, a fonte verbal de músicos me serviu como meio de localizar-me no objeto pesquisado. Sérgio Poppi (60), proprietário da banda “Metrópole by Poppi” que começou suas atividades em 1984 e que está na ativa até hoje, além de fundador das bandas BR6 (1970), Novo Testamento (1975) e Sociedade Anônima (1980), me serviu como fonte principal não só sobre a contextualização histórica das bandas de baile, mas também como o fazer música numa “Banda de show”, termo que esse que o artigo ainda vai tratar. Ao falar sobre a trajetória das principais bandas de baile formadoras de opinião do final dos anos 60, o entrevistado destaca as bandas do interior de São Paulo postulando: “Os primeiros conjuntos musicais eram bem roqueiros, no final dos anos 60 haviam as bandas paulistanas Macribel, Yarassus, Edinho Santa Cruz e Sombras que tinham ótimos músicos, muito influenciados por Rock.” Segundo o entrevistado, essas bandas foram importantíssimas para a concepção musical das principais bandas de baile em Maringá e do Norte do Paraná no anos 70. “Eu morei, nessa época, em Ourinhos, onde assistia os ensaios e acompanhava essas bandas nas apresentações aprendendo as ‘manhas’ de como esses músicos tocavam”. A influência da concepção das bandas de baile paulistas é destacada pelo informante como fator crucial para a concepção musical da grande cena que irá se formar nos anos 70 no Norte do Paraná. Tal influência, remete nos á proximidade não só geográfica e comercial, mas também cultural do Norte do Paraná com o interior de São Paulo como visto no item anterior e também como nos mostra Padis, 1981. Sobre as bandas do Norte do Paraná, Sérgio Poppi comenta: “Havia ‘uma renca’ de bandas de baile que tinham um repertório eclético que tocavam de tudo mas eram muito roqueiras nos anos 70." Sérgio comenta que as principais em Maringá eram: "Os Jacarés, Brasas 5, Os Lábaros, Os Scorpiões, Os Cometas, S4. e Os Atuais" Também ressalta que foram importantes na época "The Singers de Arapongas e Appolus Band de Apucarana", essa última existe até hoje, mas migrou para a cidade de Cafelândia e segundo o informante tal banda “mudou muito sua concepção musical depois que seu fundador ‘Serjão’ morreu, abrindo mão da 'pegada Rock N' Roll', que tinha anteriormente.” Essas informações nos mostram uma relação muito grande do gênero Rock como papel central na das primeiras bandas de baile e também no repertório por essas executados. Dessa forma, percebemos a importante influência do gênero Rock na formação do gênero Banda de Baile. Banda de Baile e seus diferentes estilos: para uma conceptualização de subgêneros de um gênero Os trabalhos que envolvem manifestações musicais vêm trazendo cada vez mais novos assuntos, novos campos e novas abordagens no Brasil como nos mostra Castanha (2008), porém com relação à bandas de baile, apenas algumas citações são feitas, como as citadas nesse artigo, para contextualizar outro objeto de pesquisa. Com relação ao termo "banda de baile", subentende- se que o mesmo é empregado por que tais bandas animam tais tipos de situações, os bailes, porém antes mesmo de ingressar na banda Metrópole by Poppi na função de baixista, seu proprietário, ao descrever como era sua banda, destacou que apesar de tocar em bailes, a mesma não era uma "banda show". Desde então eu, que apesar de ser músico da noite desde 2005 comecei a me perguntar qual seria a diferença entre uma coisa e outra. Assim pretendo iniciar aqui uma conceptualização de subgêneros que abarcam o universo do termo "banda de baile". Quando ingressei na banda, em 2012, perguntei ao vocalista Geraldo Toczek, o porquê da banda não ser considerada uma “banda show”, já que para mim não tinha diferença o termo "banda de baile" do termo "banda show". O interlocutor me responde: "na verdade a Banda Metropole é uma banda de baile, é banda show também, mas não tão banda show como o Santa Esmeralda, Fruto Proibido e a Lex Luthor, essas bandas são mais teatrais, investem mais na produção visual que nós, a Metrópole é mais Rock N' Roll, mais energia, investe mais no som mesmo." Perguntei à outros integrantes da mesma banda entre músicos, bailarinos e membros da equipe técnica sobre a diferenciação sobre o assunto e percebi que tal conceptualização não tinha uma definição estabelecida. Porém, ao conversar com o outro vocalista da banda na época, que já tinha passado pela banda Poeirão e Lex Luthor sobre o assunto, ele afirma: "A Banda Metropole não é uma banda show, é uma banda que faz alguns bailes durante o ano, mas é uma ‘Banda De Show’, porque é nos shows de rua que a banda se destaca pela pegada Rock' Roll que as outras bandas de baile não têm." Um ano após meu ingresso na banda, ao informar ao proprietário Sérgio Poppi sobre este trabalho, pergunto a ele sobre a relação do Rock, as bandas de baile e sua banda. O mesmo me responde: “É importante ficar claro que nem todas as bandas da atualidade têm essa concepção Rock N’ Roll que nós temos. Para citar nossas maiores concorrentes, a Banda Brasil 2000, a Santa Monica, a Fruto Proibido e a Santa Esmeralda são ‘Banda Show’, se preocupam com uma coisa mais teatral, visual mas não têm a nossa pegada. Há também bandas da região como a Aqua, a Madri e a Fonte luminosa que são voltadas mais para eventos sociais. A maior marca da fórmula da Banda Metropole by Poppi é saber usar essa coisa gostosa que é a energia do Rock, adaptando o efeito do Rock na música comercial.” Destaco também a experiência no dia do meu teste na banda. Tratava – se de um teste ao vivo num jantar de formatura, no qual eu dei uma “canja” para o proprietário da banda, (que já tinha me visto tocar em um vídeo com minha banda de rock autoral) ver como eu me saíria. Pois bem, fui tocar a primeira sequência de músicas do baile, um bloco de música sertaneja atual: Michel Teló, Munhoz e Mariano e Fernando e Sorocaba. Como não conhecia ainda os músicos e era um jantar de formatura em que todo o público estava vestido de social, inclusive eu, me portei como um músico de apoio, ou seja, praticamente parado ao lado do amplificador de baixo, atrás dos vocalistas. Ao terminar esse bloco que durou 3 músicas, Sérgio me disse: “Anderson eu não quero que você seja um músico de apoio, na minha banda os músicos são artistas, precisam agitar, pular, “descer a lenha”, soltar o cabelo na cara, quando for show de rua colocar umas correntes, que diferenciem você do público, tem que ter atitude!” Assim, fui chamado para dar outra canja, dessa vez, após ver a banda tocar o restante do baile. Tratava – se de um medley de Pop Rock nacional que durou cerca de 12 minutos, com versões de músicas que eu já tocava anteriormente em outras bandas: Jota Quest, Cazuza, Legião Urbana e Skank. Dessa vez como tinha recebido o aval do dono da banda para “agitar” e também tratava – se de um repertório que eu dominava mais em como me portar, procurei seguir as recomendações do dono da banda balançando o cabelo, utilizando a técnica de thumb no baixo, pulando, me movendo constantemente e procurando interagir com os demais membros da banda. Depois dessa performance, o proprietário disse que a vaga para ingressar na banda era minha. Apesar de a maioria das bandas de baile tocarem em diversas situações como bailes sociais, shows de rua, e eventos em geral, podemos perceber partir desses relatos, 3 diferenciações entre subgêneros que o gênero Banda de Baile pode abarcar a partir das pesquisas feitas: -Banda de show: Fazem todos os tipos de baile mas são especializadas em shows de rua como aniversários de cidades, festas de padroeiras e feiras, têm uma relação de maior interação direta com o público nas suas apresentações, o músico, assim como o intérprete também é um artista. Em muitas das músicas do repertório não se procura tocar como a versão original, arranjos próprios são feitos. Ex.: Banda Metropole By Poppi , Banda Metrô, ambas de Maringá e Inox de Apucarana (deixo a nomenclatura do sub gênero em itálico por ser uma proposta nova, que merece revisão e talvez correção); -Banda Show: Também fazem shows de rua, e outros tipos de bailes, mas têm uma temática mais teatral, investem em espetáculos com grande produção visual, o músico é um acompanhante, não tem uma performance dinâmica como nas Bandas de Show, pois o investimento de performance visual é calcado primariamente nos bailarinos e intérpretes. Ex.: Santa Esmeralda de Chavantes, SP, Fruto Proibido de Apucarana, Brasil 2000 e Santa Monica de Maringá; -Banda de Baile Social: Dificilmente fazem shows de rua, são especializadas em eventos sociais em geral como casamentos, cerimônias, bodas e confraternizações. O músico serve de apoio ao intérprete e tem uma postura mais discreta. Geralmente os donos das bandas exigem que a música seja tirada e executada como na original, sem muito espaço para a criação. Ex.: Madry in Concert de Londrina, Aqua e Fonte Luminosa de Maringá. Além desses subgêneros de bandas de baile citados acima, podemos destacar também outros que menos ecléticos, trabalham com ritmos ou gêneros específicos, mas também são conhecidos como bandas de baile e também contratam músicos formalmente como as Bandas de “Forró”, encontradas principalmente na região Nordeste e Sudeste do país, Bandas gauchescas situadas principalmente no sul do Paraná e no Rio Grande do Sul, as bandas de marchinha alemã situadas principalmente em Santa Catarina e as bandas country, situadas principalmente no Norte do Paraná e Interior de São Paulo. Rock infiltrado em outro gêneros e na performance e o Repertório Rock Quando fui convidado à fazer teste para a função de baixista da banda Metropole by Poppi, o vocalista Geraldo Toczek, me chamou atenção de que, mesmo se tratando de uma banda de baile, a banda precisava de um baixista que tivesse a pegada do Rock para tocar “de tudo”, pois esse era o diferencial da banda, o que me fez estranhar muito, pois sabia que uma banda de baile podia até tocar alguns temas de Rock em suas apresentações, mas não imaginei que esse poderia ser o gênero “carro chefe”, diferenciador. Ao ouvir algumas gravações de apresentações ao vivo da banda, o que me chamou mais atenção do que o repertório de Rock da banda, era a forma de como esse gênero era adaptado em outros gêneros nas versões da banda. Um exemplo disso a inserção do refrão de “Du hast” da banda de “Metal Industrial” alemã Rammstein no Rap/Cumbia/Dance “I know you want me”, do cantor americano Pitbull. Esse tipo de adaptação criativa me chamou atenção para realizar esse estudo apresentado nesse artigo, pois remeteu ao que CERTEAU (1994) chama de “Bricolagem” uma reinvenção, uma adaptação proposta sobre o imposto – nesse caso a música comercial. Dessa forma, percebi que além do repertório de Rock, eu e os outros integrantes, que têm o Rock como seu ritmo musical favorito, podíamos dar sugestões de mudanças nas músicas, através de citações de temas roqueiros em alguns trechos de músicas popularescas como nesses exemplos: inserção do rife de baixo da introdução de “For whom the bell tolls” do Metallica no meio da música “Kuduro” de Kaddy Kal com Latino; inserção do tema “Take on me” do A- Ha (na versão da banda de Heavy Metal melódico italiana Vision Divine) na música “Vida de empregue-te” das Empreguetes;, guitarra de sete cordas distorcida e pedal duplo em quase toda a música “Gangnam Style” do sul- coreano Psy; solo de bateria de “Territory” do Sepultura na introdução de “Eu quero tchu, eu quero tcha” de João Lucas e Marcelo; tema de teclado adaptado ao baixo elétrico de “Close to me” do The Cure em “Ai se eu te pego” de Michel Teló; tema de “Tom Sawyer” do Rush em “Flor” de Jorge e Matheus, entre tantos outros. Além dessas adaptações, a banda apresenta um repertório de Rock, que para os músicos é a hora mais esperada do evento. Cito abaixo algumas das músicas que a banda executa: Back in Black e You Shook me all night long de ACDC, Rock and Roll All Night do Kiss, Smoke on the water, Black Night e Perfect Strangers do Deep Purple, Rock and Roll e Kashmir do Led Zeppelin, Don´t stop me now e I want to break free do Queen, Chop Suey do System of a Down, Otherside do Red hot Chilli Pepers, Psycho Killer do Talking Heads, Alive do Pearl Jam, Come as you are e Smells like teen spirit do Nirvana, Sweet child O’ mine e I used to love here do Guns N’ Roses, Wasting Love do Iron Maiden, Carry on my wayward son do Kansas, Man in the box do Alice in chains, My mistake do Pholhas, Sultans of swing do Dire Straits, Paradise do Coldplay, I ve seen all good people do Yes (essa é a música de despedida de todos os shows e bailes que a banda realiza) Rock around the clock, Tutti Fruti de Elvis Presley, Mulher de fases e Me lambe dos Raimundos, entre tantos outros. Apesar de deixar inúmeras lacunas, para um trabalho mais minucioso, através desse artigo, levantam- se hipóteses para uma conceptualização do gênero “bandas de baile” e seus subgêneros, apontando a importante influência e poder que o Rock possuiu no surgimento das bandas, bem como o papel central que nelas, ele pode exercer ainda hoje, não só através do repertório de Rock, mas também na adaptação à outros estilos e ritmos musicais. Referências ADORNO, Theodor; HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, v. 45, p. 53-112, 1985. BAKHTIN, M. El problema de los géneros discursivos. In: Estética de la creación verbal. México, D.F.: Siglo Veintiuno, 1989. BLACKING, J. Venda children's songs: a study in ethnomusicological analysis. CAMPOS, Wolney Leite. A arte de viver da música: um estudo de caso com músicos atuantes no cenário rock/pop gaúcho. 2011. CASTAGNA, Paulo Augusto. Avanços e Perspectivas na Musicologia Histórica Brasileira. 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