Radioterapia no Tratamento do Cancro Sequelas e efeitos secundários Rui P Rodrigues Unidade de Radioterapia - Hospital CUF Descobertas http://rt.no.sapo.pt Radioterapia externa Volumes e tolerâncias ? Órgãos de tolerância • Medula, Cristalino, Esófago, Coração, Pulmão, Figado, Intestino, Rim ... • Uso de múltiplos campos (dose vs. volume) • Qualidade do feixe de radiação (RX, e- ) ? Planeamento • • • • O menor volume possível Imobilização dedicada Controlo da mobilidade dos órgãos internos Verificações no início e durante o tratamento Radioterapia externa Efeitos secundários ? Agudos imediatos (durante o tratamento) • Início entre a 2ª e 3ª semanas de tratamento • Relacionados com a dose, volume e fracionamento • Intensidade variável com o uso de quimioterapia ? Agudos tardios (até 1-3 meses após RT) • Radiopneumonite, proctite, gastrite ? Tardios (> 3 meses após RT) • Dependencia do fracionamento e dose total • Fibrose tardia, insuf. cardiaca progressiva, mielite, enterite Radioterapia externa Efeitos secundários ? Agudos imediatos (durante o tratamento) • Início entre a 2ª e 3ª semanas de tratamento • Relacionados com a dose, volume e fracionamento • Intensidade variável com o uso de quimioterapia ? Agudos tardios (até 1-3 meses após RT) • Radiopneumonite, proctite, gastrite ? Tardios (> 3 meses após RT) • Dependencia do fracionamento e dose total • Fibrose tardia, insuf. cardiaca progressiva, mielite, enterite Efeitos secundários Agudos imediatos ? Devidos a alterações nas células de replicação rápida (epitélios) ? Inevitáveis e por regra toleráveis ? Limitados no tempo ? Desde o início do tratamento (2ª-3ª semana) até cerca de três meses após a sua conclusão ? Com frequência apenas necessária medicação sintomática e algumas medidas locais ? Intensidade e duração relacionados com o volume de tecido irradiado e dose por fracção Efeitos secundários agudos Efeitos sistémicos ? (quase) Sem relação com o local irradiado, ? Libertação de produtos da lise tumoral - grandes massas tumorais ou tumores com elevada sensibilidade ? Doses elevadas por fracção (p.e. flash hemostático) ? Prurido generalizado (anti-histamínicos) ? Sensação de mal estar, náuseas e vómitos (metoclopramida) ? Elevação da concentração de ácido úrico no sangue ? Risco de insuficiência renal aguda (uricosúricos) Efeitos secundários agudos Pele ? Órgão comum a todas as localizações ? Responde da mesma forma independentemente do local ? Factores locais/gerais modulam intensidade/duração dos efeitos ? Início: ligeiro eritema + sensação de calor ou prurido ? Evolução: eritema mais intenso com descamação, sem exsudação e com exacerbação dos sintomas ? A maior parte dos casos não sofre agravamento ? Raramente: dermite grave: exsudação + ulceração obriga à interrupção da radioterapia Efeitos secundários agudos Pele Cuidados locais ? tópicos emolientes: pantenol, vaselina, hidratantes ? corticoides: com precaução (mecanismos de cicatrização) ? violeta de genciana: (zonas intertriginosas) eficaz na prevenção de infecções secundárias ? antibióticos: apenas se se comprovar a presença de infecção. ? tópicos contendo óxido de zinco: efeito de bólus (PERIGO) Efeitos secundários agudos Pele Medidas preventivas ? Os efeitos secundários agudos são função de um binómio agressão/recuperação ? Constituem agressões para a pele factores que: – favoreçam a sua fragilização, – sejam uma agressão propriamente dita – interajam com as radiações potenciando a sua acção. Efeitos secundários agudos Pele Factores favoreçendo a fragilização ? zonas intertriginosas: a humidade local e atrito constante ? locais sujeitos a atrito ou traumatismos mais ou menos evidentes, de uma forma rotineira ? pele da face, sujeita ao barbear diário, nos homens, e aos elementos exteriores (radiação solar, frio, calor, humidade, etc.) Efeitos secundários agudos Pele Factores de agressão ? traumatismos: mecânico, térmico ou químico ? intervenção cirúrgica ? processo infeccioso Interacção com a radiação ? tópicos com metais/minerais (óxido de zinco) ? efeito de bólus Efeitos secundários agudos Pele Tópicos com elementos que interagem com a radiação – metais como o zinco aumentam a dose absorvida na pele – tem um efeito de bolus, devendo ser retirados antes da irradiação Fotões de alta energia: efeito poupador da pele – Os folículos pilosos não beneficiam do efeito de build-up – > 3000cGy em 3 semanas -» epilação temporária – > 6000cGy em 6 semanas -» epilação permanente. Efeitos secundários agudos Cabeça e pescoço mucosas das vias aéreas e digestivas superiores - glândulas salivares papilas gustativas - aparelho fonador ? as mucosas orais reagem de forma semelhante à pele ? temporalmente manifestam-se mais cedo ? menor número de camadas no epitélio estratificado ? acção de desgaste constante ? acção mecânica dos alimentos, ? potencial traumático dos dentes ? acção de outros elementos (tabaco, álcool) Efeitos secundários agudos Cabeça e pescoço ? Cordas vocais: edema -» disfonia (corticoides) ? Papilas gustativas -» ageusia progressiva – contribui para um agravamento do estado nutricional – após conclusão da terapia esta alteração é habitualmente revertida ? Glândulas salivares: alterações progressivas, raramente reversíveis – primeira semana: alterações qualitativas na saliva (mais espessa alteração relativa dos componentes mucoso e viscoso) – continuação do tratamento: diminuição progressiva do fluxo salivar – cessação quase total após cinco a seis semanas de tratamento – grande variação individual: hipertrofia das glândulas não irradiadas Efeitos secundários agudos Cabeça e pescoço Xerostomia progressiva ? sintoma difícil de suportar, ? dificulta a mastigação e deglutição ? favorece a fragilização das mucosas locais. ? principal factor de morbilidade tardia da cavidade oral. ? redução da quantidade de flúor que chega aos dentes ? degradação do esmalte -» aumento do risco de cáries ? instituição precoce da aplicação tópica de flúor (moldes) ? gel de flúor tópico, 5-10 minutos, ao fim do dia Efeitos secundários agudos Tórax Esófago ? ardor pré-esternal desde a segunda semana de tratamento ? Antiácidos, protectores da mucosa (sucralfate) analgésicos ? retirar da dieta potenciais agressores (quente, frio, ácido, álcool). Traqueia ? sinais e sintomas de traqueite ? nunca é muito evidente, ? inalação de vapor de água e/ou anti-inflamatórios. Efeitos secundários agudos Tórax Radiopneumonite ? tumores da mama: risco de sobreposição de campos no pulmão ? por regra assintomática, ? persistência de zona de fibrose assintomática – visível em RX tórax em muitas doentes submetidas ao tratamento, mesmo não tendo revelado a pneumonite aguda Pneumonite aguda (rara): ? pode ocorrer 1-3 meses após conclusão da radioterapia (agudo-tardio) ? antibióticos e corticóides em doses elevadas. Efeitos secundários agudos Abdómen e pelve ? Vísceras ocas: sensibilidade extrema às radiações, dificultando o tratamento de tumores intra-abdominais. ? Sintomas mal tolerados (náuseas, vómitos, diarreia, tenesmo) ? Órgãos móveis estão menos sujeitos a evidenciar essas lesões ? Pontos de fixação: • • • • • Estômago Duodeno Cego Cólon ascendente e descendente Recto Efeitos secundários agudos Abdómen e pelve Náuseas e vómitos iniciais ? efeito irritativo sobre o plexo mioentérico dos produtos decorrentes da lise celular a nível da parede intestinal ? os procinéticos do tipo da metoclopramida são bastante eficazes Diarreia ? reabsorção incompleta dos sais biliares pela mucosa do íleo distal ? diarreia por aumento da motilidade (ef. catártico no cólon) ? dieta pobre em gordura e loperamida (Imodium) Tenesmo rectal ? dieta pobre em resíduo ? enemas com corticoide Efeitos secundários agudos Abdómen e pelve Cistite ? sinais e sintomas sobreponíveis à cistite infecciosa ? lesão no urotélio idêntica à devida a sobrepopulação bacteriana ? a administração de antibióticos é eficaz no alivio desta situação, apesar de a análise de urina não demosntrar infecção !? ? Hipótese: descida relativa do patamar infeccioso (105 bactérias/mm3) ? hidratação e eventual acidificação da urina (vitamina C) Efeitos secundários agudos Sangue ? É, em conjunto com a pele, o órgão mais frequentemente incluído nos campos de tratamento (medula óssea, rede vascular) ? Leucócitos: mecanismo de resposta às radiações quase imediato ? Leucopenia, sem alterações na fórmula ? As séries plaquetária e vermelha, não são particularmente sensíveis ? Alterações mais graves quando a radioterapia é efectuada após ou em simultâneo com a administração de citostáticos ? Factores de crescimento hematopoiético (G-CSF, rh-EPO) Efeitos secundários agudos SNC ? Cefaleias, náuseas, alterações do equilíbrio por aparecimento ou agravamento de edema cerebral ? Sobreposição com sintomas devidos à doença de base ? A maior parte dos doentes estão medicados com corticosteroides (6 mg de dexametasona/dia) ? Não é aconselhável a redução da dose de corticoide durante a radioterapia ? Instituição de corticoterapia desde o início da radioterapia vs. aguardar pelo início dos sintomas Radioterapia externa Efeitos secundários ? Agudos imediatos (durante o tratamento) • Início entre a 2ª e 3ª semanas de tratamento • Relacionados com a dose, volume e fracionamento • Intensidade variável com o uso de quimioterapia ? Agudos tardios (até 1-3 meses após RT) • Radiopneumonite, proctite, gastrite ? Tardios (> 3 meses após RT) • Dependencia do fracionamento e dose total • Fibrose tardia, insuf. cardiaca progressiva, mielite, enterite Efeitos secundários Tardios ? Início 4 a 6 meses após a o fim da radioterapia (até 18-24 meses) ? Evolução no sentido da sua resolução parcial ou agravamento ? Independentes dos efeitos agudos (vigilância) ? Alterações no genoma que não impedem as funções vegetativas da célula, mas comprometem a sua capacidade de replicação ? Levam a alterações no tecido conjuntivo e na microvascularização, clinicamente evidentes como fibrose e telangiectasias Efeitos secundários Tardios ? A perda de eficiência da rede microvascular e a alteração qualitativa e quantitativa dos fibroblastos contribuem para a fragilização dos tecidos, tornando-os susceptíveis a pequenos traumatismos ? Algumas destas complicações não se evidenciam espontaneamente, mas apenas se ocorrer algum traumatismo ? O factor mais importante para o seu aparecimento é a dose por fracção, para doses totais biologicamente equivalentes. Efeitos secundários tardios Cavidade oral Dentes: risco de cáries pela redução do fluxo salivar (< fluor) Mucosa oral ? atrofia, por alteração no tecido vascular-conjuntivo ? exposição de zonas dos dentes não recobertas de esmalte Tecido ósseo: ? raramente demonstra de uma forma evidente as lesões rádicas ? osteoclastos e osteoblastos mantêm actividade vegetativa inalterada ? ocorre um processo, lento mas constante, de rarefacção óssea Efeitos secundários tardios Cavidade oral Perigos potenciais ? infecção da mucosa oral com extensão ao osso ? degradação de uma peça dentária necessitando extracção ? criam a necessidade de replicação de osteoblastos Osteorradionecrose ? claudicação dos mecanismos de cicatrização ? formação de sequestros ósseos ? sintomatologia álgica que requer, por vezes, a remoção cirúrgica. Efeitos secundários tardios Osteonecrose Medidas preventivas ? gerais: – boa higiene oral – aplicação local de flúor ? antes do início da radioterapia: – extracção de peças dentárias em mau estado e raparação das restantes ? após a radioterapia: – corrigir rapidamente qualquer alteração local, cárie ou infecção periodontal – nas extracções devem ser usadas técnicas atraumáticas.