III SIMPÓSIO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS Data: 23 a 25 DE OUTUBRO DE 2014 ASPECTOS ESTRUTURAIS E FARMACOLÓGICOS DA COCAÍNA 1 2 3 4 5 SILVA, Íris ; BRUNO, Bárbara ; IRENO, Cláudia ; FERNANDES, Juliana ; GUTIERREZ, Thatiane ; 6 MASUNARI, Andrea . 1 Discente do Curso de Farmácia do Centro Universitário São Camilo, São Paulo – SP, [email protected] 2-5 Discentes do Curso de Farmácia do Centro Universitário São Camilo, São Paulo – SP. 6 Docente do Curso de Farmácia do Centro Universitário São Camilo, São Paulo – SP. Introdução Drogas de abuso são substâncias químicas administradas com o objetivo de obter um efeito psicoativo recreativo, sem qualquer indicação terapêutica ou orientação médica a ponto de causar dependência física ou psicológica e/ou redução da capacidade de viver enquanto um membro produtivo da sociedade.A cocaína constitui o mais importante alcalóide natural extraído das folhas do arbusto Erythroxylum coca. É uma droga de alto potencial dependógeno e produz uma gama de sintomas psiquiátricos, que incluem agitação, paranoia, alucinações, delírios, violência, assim como pensamentos suicidas e de homicídio. Esses sintomas podem ser diretamente causados pela droga ou exacerbação de transtornos psiquiátricos. Os alcalóides representam um grupo de produtos naturais que sempre influenciou muito a história econômica, médica, política e social da humanidade. Muitos desses agentes exercem potentes efeitos fisiológicos sobre o organismo e os sistemas dos mamíferos, constituindo importantes agentes terapêuticos. Atropina, morfina, quinina e vincristina são representantes de uma infinidade de agentes usados para tratar uma gama de doenças que vão desde a malária até o câncer. Os alcalóides tropânicos são produzidos por um grande número de plantas da família Erythroxylaceae e apresentam uma estrutura bicíclica em comum, denominada 8metil-8azabiciclo[3,2,1]octano. Palavras-chave: Anestésicos. Alcalóides. Cocaína. Objetivo O objetivo deste trabalho é explanar sucintamente os aspectos gerais da cocaína como droga de abuso e seu potencial hipnoanalgésico; serão discutidos alguns aspectos estruturais da cocaína que implicam em sua atividade biológica. Metodologia Realizou-se um levantamento de dados acerca da cocaína como droga de abuso, assim como seus aspectos farmacológicos. Para a pesquisa, utilizou-se base de dados online como Bireme, PubMed e SciELO. Com o tema delimitado, foram feitas pesquisas mais específicas na área de Química Farmacêutica, enfocando aspectos estruturais da cocaína que se relacionavam com sua gama de efeitos farmacológicos. Resultados e discussão A cocaína é um anestésico local que bloqueia a despolarização de canais de sódio dependentes de voltagem e por consequência a propagação do impulso nervoso (estímulo doloroso). Provoca vasoconstrição por inibição local da recaptação de noradrenalina. Entretanto, sua alta toxicidade e potencial dependenógeno estão associados ao bloqueio da recaptação de catecolaminas (dopamina e noradrenalina) e serotonina nos sistemas nervoso periférico e central. Seus efeitos euforizantes estão relacionados principalmente ao bloqueio da recaptação de dopamina no Sistema Nervoso Central. A estrutura da cocaína pode ser dividida em grupo aromático, que possui propriedades lipofílicas; extremidade aminoterminal, que apresenta propriedade hidrossolúvel e o éster que é facilmente hidrolisado durante o seu metabolismo e excreção no organismo (figura 1). Na extremidade aminoterminal encontra-se o nitrogênio e o denominado núcleo tropânico. A estrutura da cocaína é considerada um alcaloide tropânico. Realização III SIMPÓSIO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS Data: 23 a 25 DE OUTUBRO DE 2014 Figura 1. Fórmula estrutural da cocaína O poder anestésico da cocaína está relacionado ao núcleo ecgonina e um ácido tropanolcarboxílico; do átomo de nitrogênio, que quando na forma de cátion e combinado a receptores de membrana, bloqueia a condução de íons sódio e potássio, impedindo a geração e a propagação do impulso nervoso; e ao bloqueio de receptores de dopamina que é responsável pelo aumento desta na fenda sináptica, responsável pela estimulação do Sistema Nervoso Central e Sistema Cardiovascular. As estratégias empregadas com maior frequência para alívio da abstinência são reduzir a dose aos poucos e/ou usar uma droga de ação prolongada da mesma classe. Por exemplo, uso de metadona no tratamento de vício em heroína ou cocaína. A metadona é um opióide de ação prolongada, administrado na forma de comprimido oral e que, portanto, tem absorção muito mais lenta que a heroína. A associação do início lento à longa meia-vida plasmática faz com que os níveis plasmáticos de metadona permaneçam bastante constantes, e a droga pode ser reduzida aos poucos, evitando efeitos agudos da abstinência de opióides. Dessa forma, observa-se três moléculas que possuem semelhanças estruturais entre si, e que estão intrinsecamente relacionadas. Morfina (fármaco narcótico de alto poder analgésico), metadona (semelhante à morfina com menor efeito sedativo; longa duração (tempo de meia-vida maior que 24 horas); menor dependência; síndrome de abstinência menos severa) e cocaína. O que caracteriza a potência de cada droga nesse caso é a lipossolubilidade, já que, quanto maior a hidrofobicidade, maior a potência, e consequentemente, maior a toxicidade. Seguindo essa linha, observa-se que a metadona é menos lipossolúvel, menos tóxica, e consequentemente, menos potente se comparada à morfina. A cocaína se mostra mais potente pela sua lipofilicidade, que é exacerbada pela adição de adulterantes ainda menos polares. Uma alternativa seria introduzir grupamentos polares na estrutura da cocaína (p.e. OH) para que se diminuísse sua lipofilicidade, e portanto, sua potência e toxicidade. Conclusão É de conhecimento popular o uso de cocaína como droga de abuso, por isso a sua utilização é vista com censura. Contudo, a partir de estudos mais específicos, pode-se notar que por ser um derivado da morfina que tem grande potencial farmacológico, essa substância apresenta a mesma característica, mas que não é abordada com frequência pela consequência de seu uso abusivo. A diferença estrutural entre a cocaína e os derivados de morfina resulta na forma de atuação de cada um, justificando o uso de drogas de mesma classe no alívio da abstinência. Pequenas mudanças estruturais causam diferença no mecanismo de ação dessas substâncias, ou seja, a modificação em partes específicas da estrutura da cocaína pode resultar em um fármaco com ação tão potente quanto o seu precursor e seu potencial hipnoanalgésico poderia ser direcionado à utilização terapêutica sem causar tantos efeitos danosos ao organismo. Referências Bibliográficas BOTELHO, E.D. Desenvolvimento de uma nova metodologia analítica para identificação e quantificação de truxilinas em amostras de cocaína baseada em cromatografia líquida de alta eficiência acoplada à espectrometria de massas (CLAE-EM). Dissertação de mestrado – Universidade de Brasília. Brasília/DF, 2011; Realização III SIMPÓSIO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS Data: 23 a 25 DE OUTUBRO DE 2014 GOLAN, D.E.; TASHJIAN, A.H.; ARMSTRONG, E.J.; ARMSTRONG A.W. Farmacologia da dependência e abuso de drogas. In: Princípios da Farmacologia – A Base Fisiopatológica da Farmacoterapia. 2ªed. 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