ATENÇÃO Caso o seu veículo publique – parcialmente ou na íntegra – esta matéria de serviço, envie-nos uma cópia da edição. O endereço é o SCN Quadra 5 Bloco “A” Torre Norte, sala 417, Edifício Brasília Shopping, Brasília (DF). CEP: 70715-900. Obrigado. O SUS que Dá Certo A partir desta semana, começamos a enviar reportagens da série O SUS que dá Certo. O objetivo é mostrar experiências bem-sucedidas dentro do Sistema Único de Saúde (SUS) com reflexos visíveis para a atenção à saúde do brasileiro. A primeira reportagem enfoca o trabalho de humanização desenvolvido no Hospital Regional da Ceilândia (HRC), no Distrito Federal, com destaque para o atendimento maternoinfantil. Crédito da foto: Karenina Moss Legenda da foto: A Política Nacional de Humanização do SUS mudou o atendimento no Hospital Regional da Ceilândia e beneficiou principalmente a atenção materno-infantil Humanização melhora condições de saúde de mães e bebês Acompanhamento do bebê até um ano de idade e atendimento diferenciado à gestante na emergência são exemplos de como a atenção humanizada contribui para o bom desenvolvimento dos nascidos no Hospital Regional da Ceilândia Longas filas de espera, angústia e nervosismo. Há poucos anos, essa era a realidade das mães e crianças que procuravam a emergência do Hospital Regional da Ceilândia (HRC), cidade-satélite localizada a 24 quilômetros de Brasília. A partir de 2003, esse quadro começou a sofrer uma mudança significativa. Foi implementada a Política Nacional de Humanização (PNH) do Sistema Único de Saúde (SUS) no Hospital, desenvolvida pelo Ministério da Saúde em parceria com estados, municípios e o Distrito Federal. A PNH tem como finalidade melhorar o atendimento nos hospitais e postos de saúde e fazer com que os pacientes se sintam realmente acolhidos. Ceilândia tem cerca de 500 mil habitantes, o que corresponde a 25% da população do Distrito Federal. Aproximadamente 62.000 pacientes são atendidos todos os meses no Hospital Regional. Dessas pessoas, 30.000 procuram a emergência. Segundo o diretor do Hospital, Elidimar Bento, as mudanças no atendimento a gestantes e bebês começaram após a criação do bloco maternoinfantil, em 1998. As demandas cresceram e as preocupações com a qualidade e a humanização no atendimento também. Por esse motivo, no HRC os cuidados se concentram na emergência e também estão presentes durante as internações e consultas. Desde a implementação da política de humanização no HRC, os funcionários estão preparados para dar mais assistência aos pacientes. Estabeleceu-se como prioridade a redução de filas (com urgência para as pessoas com maior necessidade de atendimento) e do tempo de espera para exames, consultas e cirurgias e a garantia do direito do paciente e de seus familiares à informação sobre a saúde e sobre quem presta o atendimento. Todas essas diretrizes estão de acordo com a Política Nacional de Humanização. Irani da Costa, de 36 anos, desempregada, deu à luz, por parto normal, a pequena Maria Clara. Após os primeiros exames detectou-se uma infecção no bebê. Por esse motivo, a recém-nascida e sua mãe permaneceram internadas no HRC durante 20 dias. “Eu não imaginava que a Maria Clara nasceria com algum problema”, recorda a mãe. Ela conta que, tão importante quanto a detecção desse problema e o tratamento eficaz, tranqüilizou-a o fato de os profissionais de saúde a manterem informada sobre o caso. “Eles estavam sempre disponíveis, muito próximos de mim e de minha filha. Tiravam todas as dúvidas e procuravam me manter o tempo inteiro a par de tudo”, conta. “Também era importante o fato de eu saber o nome das pessoas que estavam cuidando da gente. Aumentava a minha confiança. Fiquei muito satisfeita com a atenção que dispensam aqui aos pacientes”, diz Irani. Um dos resultados da humanização no HRC é o atendimento de emergência individualizado às gestantes. “Antes, as mulheres chegavam em trabalho de parto e precisavam disputar os primeiros socorros com os outros pacientes, como doentes terminais e vítimas de acidentes graves”, explica o diretor. Em média, ocorrem 25 partos todos os dias no HRC. O atendimento nãoindividualizado trazia angústia e insegurança para as gestantes. A nova ala evita mais transtornos, já que é muito importante manter a calma durante o trabalho de parto. No HRC As crianças também são atendidas separadamente. Elas precisam de atenção diferenciada pelo fato de serem mais vulneráveis às doenças e infecções. Existem no Hospital 58 leitos para internação de crianças de até 12 anos. Durante o tratamento, a mãe ou outro responsável tem o direito de permanecer junto ao paciente. A presença de um acompanhante com o paciente é uma das bases da Política Nacional de Humanização. Brinquedoteca – Além das acomodações para os responsáveis, a ala infantil do HRC dispõe de uma área de estudo, uma brinquedoteca e uma biblioteca. “As crianças que permanecem internadas por períodos longos não param de estudar. Diariamente elas se dirigem à sala de estudo e recebem o acompanhamento de uma professora e de uma terapeuta ocupacional que nos foram cedidas pela Secretaria de Educação”, informa Bento. No berçário, 104 leitos fazem parte da Unidade Neonatal do Hospital. O alojamento conjunto recebe mães e bebês nascidos de parto normal e que geralmente permanecem internados de 24 a 48 horas. Já as crianças nascidas de cesáreas ou prematuras podem permanecer mais tempo na unidade de neonatologia em unidades de alto, médio ou baixo risco, dependendo de cada caso. Os bebês de alto risco ficam ligados a um monitor que permite verificar sua respiração, oxigenação do sangue e os batimentos cardíacos. Diariamente, os bebês com icterícia (cor amarela da pele e do branco dos olhos causada pelo excesso do pigmento bilirrubina, gerado pelo metabolismo das células vermelhas do sangue) são submetidos à fototerapia, tratamento equivalente ao banho de sol feito por meio de luzes ligadas às incubadoras. A Unidade realiza cerca de 600 partos mensais. Em média, 15% dos recém-nascidos vão parar na UTI neonatal, por serem prematuros ou por outro problema de saúde. Após o período necessário para o ganho de peso, os bebês prematuros voltam a conviver com as mães nos alojamentos conjuntos e se iniciam terapias como a Mãe Canguru (quando a criança é mantida próxima ao corpo da mãe em um contato pele-a-pele, na posição vertical) e os dez passos para o aleitamento materno (veja abaixo). “O atendimento no HRC é ótimo. As enfermeiras estão o tempo todo por perto. A recuperação da minha filha está sendo muito rápida. Não vejo a hora de poder levá-la para casa”, diz Sheyla da Conceição, “mãe-canguru” de Tainá, que nasceu precocemente após cinco meses de gestação e há pouco completou dois meses de vida. A Auxiliar de limpeza Tereza Jesus da Silva, de 38 anos, recorda com alegria o nascimento de seu terceiro filho, ocorrido no Hospital Regional da Ceilândia, no último dia 28 de agosto, às 14h. Submetida a uma cesárea, Tereza viu seu filho Caio Venicius nascer saudável, sem nenhuma complicação no parto. Na opinião da auxiliar de limpeza, o tratamento humanizado dispensado pela equipe do HRC contribuiu bastante para que ela se sentisse mais segura. “O Caio é o meu terceiro filho e o seu parto foi o mais tranqüilo, pois contei com todo o apoio dos profissionais”, afirma. Tereza elogia o trabalho desenvolvido junto às mães sobre os 10 passos para o aleitamento. “Mesmo já tendo dois filhos antes do Caio, ainda enfrentei um pouco de dificuldade para amamentá-lo. Ele não conseguia sugar o leite com facilidade. As enfermeiras foram essenciais nesse momento e me ajudaram muito”, lembra. Segundo relatos da equipe do bloco materno-infantil, em caso de bebês muito prematuros ou que precisam de cuidados especiais, o fato de a mãe não estar presente no período de internação e de não sentir o bebê provocava uma insegurança no retorno para casa. Com esses métodos, permite-se à mãe permanecer o máximo de tempo possível junto ao bebê para que os laços entre ambos sejam recuperados. Recentemente, o Hospital Regional da Ceilândia (HRC) recebeu do Ministério da Saúde e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) o título de Amigo da Criança por essas iniciativas. O prêmio mostra o sucesso da ação da Política Nacional de Humanização do Ministério da Saúde, que prioriza, acima de tudo, saúde e bem-estar à população. O projeto Mãe Canguru também acompanha o desenvolvimento e a saúde dos bebês até que eles completem um ano. Outra característica do Mãe Canguru, que vai além das fronteiras da saúde, é a formação de uma rede social de apoio a mães e filhos. Essa rede é essencial para evitar o abandono de bebês, pois cria um suporte para os pais. Comissão capacita profissionais Para a implantação de um atendimento mais humanizado no Hospital Regional da Ceilândia foi criado, em 2003, um novo setor chamado Comissão de Humanização. A Comissão capacita os profissionais em cursos e oficinas. A idéia desse setor é criar um atendimento mais pessoal, não apenas do ponto de vista técnico, mas humano. Para a Coordenadora do Programa de Humanização do Hospital, Edite Pereira, “saber se o funcionário está em condições de atender aos pacientes faz com que eles se sintam motivados e melhora o convívio dentro das equipes de trabalho”. Essas ações se refletem na rápida recuperação dos pacientes. “Um olhar e um gesto de carinho podem tranqüilizar e até diminuir o tempo de permanência dos pacientes no Hospital”, afirma Edite Pereira. Os 10 passos para o aleitamento materno bem-sucedido: 1. Ter uma norma escrita sobre aleitamento materno, que deve ser rotineiramente transmitida a toda equipe. 2. Treinar toda a equipe, capacitando-a para implementar esta norma. 3. Informar todas as gestantes atendidas sobre as vantagens e o manejo da amamentação. 4. Ajudar as mães a iniciar a amamentação na primeira meia hora após o parto. 5. Mostrar às mães como amamentar e manter a lactação, mesmo se vierem a ser separadas de seus filhos. 6. Não dar ao recém-nascido nenhum outro alimento ou bebida além do leite materno, a não ser que haja indicação clínica. 7. Praticar o alojamento conjunto, permitir que mães e bebês permaneçam juntos 24 horas por dia. 8. Encorajar a amamentação sob livre demanda. 9. Não dar bicos artificiais ou chupetas a crianças amamentadas. 10. Encorajar o estabelecimento de grupos de apoio à amamentação, para onde as mães devem ser encaminhadas após a alta hospitalar.