ARTIGO Câncer de esôfago O câncer de esôfago é uma neoplasia gravíssima de incidência crescente, com altos índices de mortalidade. Além disso, o tratamento dessa patologia é de alta morbi-mortalidade com importante comprometimento da qualidade de vida. O diagnóstico é, na grande maioria dos casos, extremamente tardio uma vez que o sintoma mais frequente, a disfagia, só surge quando a lesão primária cresce a ponto de causar a obstrução esofágica. A sobrevida em 5 anos é de aproximadamente 10%. No Brasil, a estimativa para 2016 segundo o INCA, é de mais de 10 mil casos novos, com mortalidade de cerca de 8.000 pacientes / ano. É o sexto tipo de câncer mais frequente em homens e o 13º mais frequente em mulheres. Os principais tipos histológicos do câncer de esôfago são o carcinoma espinocelular ( CEC ) e o adenocarcinoma, sendo os fatores de risco mais importantes o tabagismo, etilismo, doença do refluxo gastroesofágico e obesidade, com os dois últimos relacionados ao tipo adenocarcinoma. Outros fatores de risco para o carcinoma de esôfago são : acalásia, uso crônico de bebidas quentes, lesões cáusticas e desnutrição crônica. A disfagia é a manifestação clínica mais comum, inicialmente para alimentos sólidos com progressão para líquidos e disfagia total (inclusive saliva). Os outros sintomas são: perda de peso, dor, hemorragia digestiva, rouquidão e tosse persistente. Os sintomas respiratórios podem significar aspiração em virtude da obstrução tumoral ou fístula para árvore traqueobrônquica. O exame físico, geralmente, demostra apenas o emagrecimento. A pesquisa de linfonodomegalia cervical pode revelar doença metastática linfonodal. O diagnóstico é feito através da endoscopia digestiva alta com biópsia e o estadiamento da doença com tomografia computadorizada de tórax e abdome. A ecoendoscopia e o PET-CT (Tomografia com emissão de pósitrons) estão indicados para casos com possibilidade de cirurgia curativa (pacientes sem metástases na apresentação inicial). Aproximadamente, 75% dos pacientes apresentam metástases nos exames de estadiamento sendo os locais mais frequentes, linfonodos, pulmão e fígado. Figura 2: PET CT demonstrando lesão hipercaptante no esôfago torácico O tratamento do câncer de esôfago varia de acordo com a classificação histológica e o estadiamento. Tumores iniciais (raríssimos em nosso meio), após detalhado pesquisa da profundidade da lesão e de metástases a distância através de ecoendoscopia e PET - CT podem ser tratados com ressecção endoscópica ou esofagectomia como tratamento inicial. O tratamento de escolha para a grande maioria dos pacientes candidatos à cirurgia, ou seja, sem nenhuma evidência de metástases a distância nos exames de estadiamento, é a terapia multi-modal: Quimioterapia + Radioterapia seguidas de cirurgia. Importante salientar que apenas 15% dos pacientes que se apresentam com câncer de esôfago têm indicação ou condições clínicas para esse tipo de tratamento. A cirurgia de escolha é a esofagectomia em 3 campos : cervical, torácico e abdominal com acesso por vídeo toraco/laparoscopia. Como órgão substituto do esôfago, o tubo gástrico com a grande curvatura do estômago é a primeira opção. No caso de impossibilidade técnica para o uso do tubo gástrico, é usado o cólon transverso. Figura 3 - Esquema da esofagectomia com uso do estômago como substituto do esôfago Para pacientes com lesões de esôfago cervical, está indicado o tratamento quimio/radioterápico exclusivo em virtude da altíssima morbi-mortalidade da cirurgia neste grupo. A grande maioria dos pacientes se apresenta com lesões avançadas, com sinais de invasão de órgãos adjacentes e/ou lesões a distância nos exames de estadiamento. Além disso, muito frequentemente, com condições clínicas e até sócio-econômicas muito precárias. Para esse grupo de pacientes está indicado o tratamento quimio radioterápico exclusivo, sem cirurgia. Para todos os pacientes, é essencial o estabelecimento de via de acesso nutricional durante o tratamento neoadjuvante, como por exemplo, sonda nasoenteral ou jejunostomia. A prevenção do câncer de esôfago, tema de extrema importância para grande número de especialidades médicas, consiste na cessação do tabagismo, etilismo, combate à obesidade e ao refluxo gastroesofágico. Para os pacientes de alto risco, é mandatória a endoscopia digestiva alta. O esôfago de Barrett é uma condição associada ao refluxo gastroesofágico de longa evolução que consiste na substituição do tecido esofágico normal (escamoso) por epitélio colunar metaplásico no esôfago distal. O tecido metaplásico por sua vez, pode evoluir para a displasia e nos casos graves sem tratamento e seguimento, para a neoplasia. É importante fator de risco, como citamos acima para o adenocarcinoma de esôfago. O Barrett acomete de 2-8% dos pacientes com DRGE. Dos pacientes com esôfago de Barrett o risco de desenvolvimento de lesões malignas é de cerca de 1%. O acompanhamento endoscópico destes pacientes é obrigatório e em lesões pré-malignas está indicado o tratamento endoscópico. 10 APM - Regional Piracicaba - Fevereiro 2016