Tamponantes na dieta de vacas leiteiras A ocorrência de acidose rumenal, frequentemente observada em animais de alta produção, é uma consequência do novo modelo de alimentação. A busca por vacas com uma produtividade cada vez maior fez com que a densidade de nutrientes fornecida pela dieta e o consumo total de alimentos aumentasse, visando suprir a demanda nutricional ditada pela genética. O pH rumenal varia em função das taxas de produção e de absorção de ácidos graxos voláteis (AGV) e em função da concentração de íons hidrogênio no rúmen (descrita pelo pH), que é determinada pelo equilíbrio entre a produção de ácidos pela fermentação e a remoção de íons hidrogênio por absorção, neutralização, tamponamento e passagem. A grande maioria dos AGV é constituída por ácido acético (aprox. 70%), ácido propiônico (aprox. 20 %) e butírico (aprox. 8%). Em ruminantes, a secreção de tampões fosfato e bicarbonato pela saliva é um processo importante para a manutenção do pH do fluido rumenal dentro de limites fisiológicos compatíveis com a manutenção da fermentação e a saúde de vacas leiteiras. Outro mecanismo importante para manutenção do pH rumenal é a remoção de íons hidrogênio via absorção pela parede rumenal. O aumento da produção de AGV faz com que ocorra uma queda no pH rumenal, podendo chegar a 5,4. Essa acidificação provoca, inicialmente, a morte dos protozoários e de parte das bactérias gram negativas da microbiota rumenal. Além disso, há uma diminuição da atividade das bactérias lácticas, que transformam o ácido láctico em ácido propiônico. Essa acidificação também está associada à grande presença de alimento favorável ao desenvolvimento de bactérias do gênero Streptococcus bovis, que apresentam alta capacidade de converter o amido e a glicose em ácido láctico. O pH abaixo de 4,8 favorece a multiplicação de Lactobacillus spp, que também forma ácido láctico como produto final da fermentação. O ácido láctico normalmente não ultrapassa a concentração de 1mMol/L no líquido rumenal de animais sadios, enquanto que em um animal com acidose láctica, esses níveis podem atingem valores superiores a 120 mMol/L. Em certos manejos alimentares ou formulações dietéticas, capazes de causar acidificação excessiva do ambiente ruminal, a suplementação de tamponantes pela dieta pode apresentar resposta positiva ao desempenho animal. Algumas condições acidogênicas merecem ser citadas: dietas com alta proporção de alimentos concentrados; oferta de forragens finamente moídas, especialmente silagem de milho; alimentos de alta fermentabilidade no rúmen, como silagem de grão úmido de milho, em uma proporção significativa da dieta; fornecimento da alimentação concentrada sem volumoso, em baixa frequência diária; e a utilização de dietas excessivamente úmidas, deprimindo o fluxo de tamponantes da saliva para o rúmen. Os tampões promovem elevação na produtividade e evitam problemas metabólicos por neutralizar o excesso de ácidos produzidos no rúmen em situações onde os sistemas tamponantes do próprio animal, principalmente o fluxo salivar, são inadequados. Seu uso propicia elevação do consumo de matéria seca, digestibilidade da fibra, maior síntese de proteína microbiana e elevação na taxa de acetato:propionato. O uso de tamponantes isolados ou associados tem promovido elevação na taxa de passagem da fase líquida do rúmen, aumento no volume rumenal e maior taxa de desaparecimento de matéria seca no rúmen. Os tampões neutralizantes previnem o aumento na acidez (redução no pH) mas não aumentam o pH acima de um determinado valor. Os mais utilizados na bovinocultura são o bicarbonato de sódio, bicarbonato de potássio, óxido de magnésio e carbonato de cálcio. Tamponantes podem ter efeito positivo mais pronunciado em animais concomitantemente sujeitos a stress calórico e a manejos alimentares caracterizados pelo fornecimento de forragem separadamente dos concentrados. Nestes casos, o calor e a umidade ambientais podem deprimir a ingestão de forragem em relação à de concentrados, reduzindo o teor de fibra fisicamente efetiva na dieta e a produção natural de tampões salivares. Também podem ser interessantes quando animais são transferidos de dietas com alto teor de forragem para dietas com alto teor de concentrados. É atrativo o uso de tamponantes no período peri-parto, porém os mesmos não deveriam ser oferecidos antes do parto por serem fontes de cátions, ocorrendo o efeito inverso a um sal aniônico, podendo aumentar a incidência de vacas com hipocalcemia clínica e subclínica no rebanho. Outros motivos justificam a não necessidade de tamponantes no pré-parto: o pH ruminal não é ácido nos dias que antecedem o parto, pois neste período a ingestão de matéria orgânica fermentável no rúmen é fisiologicamente baixa, e dietas de transição têm teor de forragem adequado para não causar acidose ruminal (normalmente em torno de 60% da matéria seca). Caso se almeje o uso de tamponantes no período de transição, a suplementação poderia ser iniciada logo após o parto. Os tampões rumenais devem ter alta solubilidade em água e possuir um ponto de equivalência (pKa) próximo ao valor do pH fisiológico do rúmen, isto é, entre 5,5 a 7,0. Quando sais tamponantes são adicionados na dieta, a taxa de diluição líquida aumenta mais que 50%, a taxa de produção de acetato se eleva em torno de 28% e a taxa de produção de ácido propiônico diminui por volta de 50%. O bicarbonato de sódio é considerado tampão verdadeiro pelo seu pKa de 6,25, ou seja, apresenta constante de dissociação ácida próxima ao pH normal do rúmen, por isso, tem grande capacidade tamponante. Possui alta solubilidade no rúmen, o que permite rápida diluição no líquido e maior efetividade de ação. Além disso, tende a manter mais estável o balanço ácido-base rumenal. O bicarbonato de sódio apenas age tamponando o pH rumenal nos níveis ideais para que a microbiota do rúmen possa atuar de forma constante e natural. Além disso, estimula o aumento de ingestão de água e, consequentemente, a taxa de diluição do fluido rumenal, elevando o fluxo de amido não degradável e diminuindo a produção de propionato rumenal. É bem utilizada inclusões de bicarbonato à dieta variando de 0,8 a 1,0% da matéria seca, correspondente a um consumo diário entre 150 e 250 gramas por animal. Quando da definição do uso de tamponantes, considera-se que a resposta mais acentuada à suplementação ocorrerá em rebanhos adotando dietas ou manejos alimentares potencialmente acidogênicos, e ocorrerá mais nitidamente naqueles apresentando baixo teor de gordura no leite. Diversas medidas podem ser aplicadas na dieta a fim de diminuir os casos de acidose, entre elas a utilização de dieta total, onde o concentrado é oferecido juntamente com o alimento fibroso, ofertada ao menos duas vezes ao dia. O uso de aditivos tamponantes ou alcalinizantes é recomendado quando não é possível proporcionar uma fermentação rumenal adequada somente com o manejo adequado da alimentação animal, sendo mais uma ferramenta que auxiliará o produtor a conquistar melhores resultados produtivos. Referências bibliográficas: FROTA, H. N.; FARIA, B. N. Quais tamponantes usar na dieta dos animais? Publicado em: 01/03/2011. Disponível em: <http://www.rehagro.com.br> Acessado em: 15/09/2014 ORTOLAN, J. H. Efeito de aditivos no metabolismo ruminal e parâmetros sanguíneos em bovinos. 2010, 67 p. Dissertação (Doutorado em Zootecnia). Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo, 2010. PEREIRA, M. N. Uso de tamponantes em dietas para vacas leiteiras. Publicado em: 08/03/2005. Disponível em: <http://www.milkpoint.com.br/radar-tecnico/nutricao> Acessado em: 15/09/2014.