UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES – URI ERECHIM DEPARTAMENTO DE LINGUÍSTICA, LETRAS E ARTES CURSO DE LETRAS FABIANE CORTINA VIEIRA O USO DA VÍRGULA NO PERÍODO SIMPLES ERECHIM 2012 FABIANE CORTINA VIEIRA O USO DA VÍRGULA NO PERÍODO SIMPLES Trabalho de conclusão de curso, apresentado ao Curso de Letras, Departamento de Linguística, Letras e Artes da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus de Erechim. Prof: Paulo Marçal Mescka. ERECHIM 2012 2 AGRADECIMENTOS A Deus, em primeiro lugar, pois tenho a certeza que me acompanhou durante esta longa e cansativa jornada. À minha família, à mãe Iraci e ao pai Egídio, meu irmão André e minha irmã Catiane a meu sogro Valdir, minha sogra Nelci, meus cunhados Vagner, Cassiano, Ederson, meu tio Lírio e ao meu sobrinho Kauã Eduardo, que tanto me incentivaram a ingressar e concluir o Curso de Letras. A meu Orientador, Professor e Mestre Paulo Marçal Mescka, que teve tanta paciência e dedicação para a realização desse trabalho. Ao Erli, esposo e amigo que sempre compreendeu as minhas crises e sugeriu novos caminhos. Aos Professores do Curso de Letras da URI- Erechim, que sempre estiveram dispostos a me ajudar e incentivaram a minha caminhada. As minhas amigas queridas Fernanda, Regina e Cristiane que mesmo na distância sempre estiveram presente. Enfim, a todos aqueles que colaboraram de uma maneira ou outra, a cada um de vocês que com sua compreensão e seu carinho me ajudaram a chegar até aqui, pois com certeza vocês foram o alicerce de toda essa caminhada e nada mais nobre do que agradecer sinceramente por todo o apoio. Muito obrigado!!! 3 RESUMO Análise de diversos órgãos educacionais frente a educação brasileira revela a grande decadência do ensino de Língua Portuguesa e evidencia a urgente necessidade de mudança a fim de promover uma educação de qualidade. Para minimizar tais dificuldades, principalmente a que concerne à recepção e produção de textos, objetiva-se um ensino com base na reflexão dos fatos da língua, o que culmina com este trabalho, em que se apresenta uma proposta didático-metodológica com base na gramática reflexiva – pesquisa bibliográfica de caráter descritivo. Com esta proposta, sugerir um trabalho que parta da comunicação (texto), perpasse caminhos linguísticos utilizados na produção, possibilite e instigue observação, análise, reflexão e conclusão sobre as normas da língua e promova a capacidade de novos usos de um conhecimento construído tornam-se relevantes e justificam esta proposta de atividades aplicadas. Palavras-chave: Ensino. Gramática reflexiva. Proposta didático-metodológica. 4 SUMÁRIO INTRODUÇÃO.............................................................................................................06 1.A FUNÇÃO DO ENSINO DA GRAMÁTICA.............................................................08 1.2Educação linguística............................................................................................13 2. GRAMÁTICA TRADICIONAL.................................................................................16 2.1 Gramática e ideologia..........................................................................................19 3. GRAMÁTICA REFLEXIVA..................................................................................................24 4. PROPOSTO DIDÁTICO METODOLÓGICO ..........................................................30 4.1 Procedimentos indutivos no ensino da gramática...........................................31 CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................38 REFERÊNCIAS...........................................................................................................40 5 INTRODUÇÃO Visto que a educação brasileira, no que concerne ao ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa, vem sendo alvo de pesquisas que apontam sua falta de objetivos e inovação o que resulta em alunos com sérias dificuldades de leitura, escrita, interpretação, expressão, entre várias outras que não se objetiva desenvolver. Frente ao quadro de resultados negativos em que está exposto o ensino, precisa-se reverter a situação como tentativa de encontrar uma solução, procurou-se desenvolver um estudo sobre a gramática reflexiva, a qual ainda o campo é pouco explorado, mas que devemos trilhar por este caminho para encontrar resultados positivos. A gramática reflexiva tem como ponto central fazer o aluno refletir sobre os recursos linguísticos, desmitificando o ensino que é imposto em muitas escolas de apresentar conteúdos prontos e descontextualizado do livro didático. Como professores de língua materna, deve-se ter consciência de que nossa função é formar sujeitos capacitados linguisticamente para enfrentar e se posicionar frente ao mundo que nos cerca. Porém, pesquisas revelam que os alunos estão saindo das escolas deficientes em matéria de conhecimento, visto que os professores não levam em conta a realidade em que estão inseridos, e que, muitas vezes, vão para a escola, não para formar os estudantes e sim para lidar com um aluno idealizado com grande acesso a bens e informações e autoestima em ascensão. No entanto, para minimizar essa realidade, escolheu-se desenvolver um trabalho com a gramática reflexiva, o qual está composto por duas seções. A primeira trata-se da função do ensino da gramática, o posicionamento de alguns estudiosos, e a importância em que consiste. Faz-se também um comentário sobre a educação linguística – sua importância para qualidade de vida e a forma como vem sendo realizada nas escolas. A segunda seção focaliza a gramática reflexiva como uma tentativa de remodelar o ensino, desenvolvendo as capacidades linguísticas e comunicativas dos alunos, sendo que é apresentada uma proposta didáticometodológica, aonde são apresentadas atividades enfocadas na gramática reflexiva. Tais atividades devem auxiliar, descobrir, descrever e verificar as regras da Língua Portuguesa referente ao uso da vírgula em cada caso proposto do período simples. 6 Acredita-se ser esta uma proposta que contribuirá com as competências linguísticas dos estudantes, integrando-os na sociedade, a fim de que se tornem seres linguisticamente competentes para ler o mundo e se posicionar frente a ele. 7 1. A FUNÇÃO DO ENSINO DA GRAMÁTICA No mundo atual, ainda impera e, cada vez com mais frequência, a distinção e preconceito de cor, classe, raça e até podemos dizer de linguagem. São privilegiadas as pessoas que possuem uma classe média alta, e sabem falar e escrever corretamente, denominadas pessoas cultas. Desde há muito tempo, a gramática é vista como um “conjunto de regras que ensina os usuários a falar e escrever corretamente”, pois quem não possui tais habilidades é considerado inferior, discriminado. No entanto, diz-se que quem deseja falar e escrever certo deve segui-la. Parafraseando Marquardt, (...) nas escolas, a gramática é o objeto de um ensino conservador, que objetiva aos alunos a “decoreba” de conceitos e regras os quais na maioria das vezes são equivocados, falsos e não atualizados, decorrendo uma aprendizagem propícia ao esquecimento e utilizada incorretamente em situações concretas de comunicação. Tem-se verificado que este ensino deixa lacunas consideráveis, entre elas, o não desenvolvimento da competência comunicativa, tão necessária à vida em sociedade. Apenas memorizando conceitos e não sabendo aplicá-los, pode-se dizer que de pouco ou nada a gramática auxilia. Aonde reside o erro linguístico para este ensino estar tão defasado e ineficaz? São os professores que não estão propiciando um ensino de qualidade? Ou são as gramáticas que não estão inovadas e não atendem às demandas do mundo moderno? Ou até mesmo o pressuposto de que a gramática não deve ser ensinada? Alguns linguistas e pensadores posicionam-se frente à polêmica que gera a gramática: Marquardt (1986 et al.p.12) afirma que “deve-se obrigatoriamente optar pela exclusão da gramática de nossos programas de ensino de língua portuguesa, por falta de objetivo”, ou seja, passa-se uma vida inteira ensinando teoria gramatical, ou por uma exigência da escola, ou porque se deve seguir o livro didático sem levar em conta um objetivo para o que se está ensinando e o que se espera desenvolver no aluno. Para Spencer (apud Luft 1985, p.52) “a gramática é a última coisa que se devia ensinar”, visto que, parafraseando o autor, a gramática é uma filosofia do idioma e um menino não aprende a língua materna pela 8 definição do objetivo, substantivo, pronome, como não aprendemos a respirar estudando gravuras de pulmões. Travaglia (2004, p.78) recomenda que “o ensino sobre a língua e a teoria gramatical seja posta em segundo plano em termos de importância e de tempo gasto”. Passa-se a vida inteira ensinando regras e teorias gramaticais que de pouco contribuem para a formação do aluno e esquece-se de trabalhar a compreensão de produção de textos tão útil para o desenvolvimento da chamada competência comunicativa. Bagno (http://www. Marcosbagno.com.br/art_ensinar_portugues.htm) argumenta que “não se deve ensinar gramática tradicional nem teorias mais recentes e sim desenvolver a prática da leitura e da escrita da releitura e reescrita” como o exposto acima, Bagno é outro adepto de um ensino metodologicamente voltado para textos que englobem diferentes gêneros em que propicie ao aluno o desenvolvimento das capacidades interpretativa e produtiva. Expondo a realidade do ensino hoje, Antunes (2007, p.32) afirma que: È tal a ênfase nessa disciplina de uns anos para cá, até mereceu uma carga horária especial, separada das aulas de redação e de literatura, como se dirigir um texto ou ler literatura fosse coisa que se pudesse fazer sem gramática; ou como se saber gramática tivesse alguma serventia fora das atividades de comunicação. O fato mais certo não é a questão de que se deve ou não ensinar gramática, e sim, que não se deve colocá-la em primeiro plano nas aulas de Línguas e nem optar pela exclusão. Ela deve servir apenas como material auxiliar. Antunes (2007, p. 51) argumenta que “a gramática, sozinha é incapaz de preencher as necessidades interacionais de quem fala, escuta, lê ou escreve textos”, por isso que em lugar de destaque devem ocupar as atividades em que se trabalhe produção, compreensão e interpretação de textos, porque o objetivo maior é desenvolver a competência comunicativa de fato adquirida, através destes diversificados textos que circulam diariamente. 9 Possenti (1996, p.32-33, apud Antunes 2007, p.37) ressalta ainda mais essa questão dizendo que: No dia em que escolas se derem conta de que estão ensinando aos alunos o que eles já sabem, e que é em grande parte por isso que falta tempo para ensinar o que eles não sabem, poderia ocorrer uma verdadeira revolução. Para verificar os quantos ensinam coisas que os alunos já sabem poderíamos fazer o seguinte teste: ouvir o que os alunos do primeiro ano dizem nos recreios (ou durante nossas aulas), para verificar se já sabem ou não fazer frases completas (então não precisaríamos fazer exercícios de completar), se já dizem ou não períodos compostos (e não precisaríamos mais imaginar que temos que começar a ensiná-los a ler apenas com frases curtas e idiotas), se eles sabem brincar na língua do “pé” (talvez então não seja necessário fazer tantos exercícios de divisão silábica), se já fazem perguntas, afirmações, negações e exclamações (então, não precisaríamos ensinar isso a eles) e assim quase ao infinito. Sobrariam apenas coisas inteligentes para fazer na aula como ler e escrever, discutir e reescrever, reler e reescrever mais, para escrever e ler de forma sempre mais sofisticada etc. Pelo visto, a gramática normativa não está sendo um bom suporte para o ensino e não ensina ninguém a falar, ler e escrever melhor, portanto, faz-se necessário repensar a prática pedagógica e criar um ensino de qualidade. Para viver em sociedade, é preciso comunicar-se e o veículo que leva a isso é a linguagem. A linguagem domina o mundo, e, além de permitir a comunicação, permite o acesso à informação, à defesa de pontos de vista, às diferentes visões de mundo. E hoje, percebe-se que os alunos não são motivados, os professores não possibilitam a eles o contato com diferentes textos a fim de desenvolver a competência comunicativa. Isso se torna preocupante, pois estão saindo das escolas sem saber expressar-se oralmente, nem por escrito, não conseguem formular ideias, e posicionar-se frente a determinados assuntos. Para isso, os PCN’s (1998, p.19) propõem que: 10 Considerando os diferentes níveis de conhecimento prévio, cabe à escola promover sua ampliação de forma que, progressivamente durante os oito anos do Ensino Fundamental, cada aluno se torna capaz de interpretar diferentes textos que circulam socialmente, de assumir a palavra e, como cidadão de produzir textos eficazes nas mais variadas situações. Por conseguinte, é essencial que o professor de língua priorize um ensino reflexivo, textual, aonde as regras são discutidas em cima de textos para facilitar a sua aquisição e que parta dos conhecimentos prévios dos alunos para a construção de conceitos gramaticais. Sintetizando o que foi exposto até aqui, a função da gramática no ensino da Língua Portuguesa é ampliar a capacidade do aluno a usar a sua língua desenvolvendo a competência comunicativa por meio de atividades com textos utilizados nas diferentes situações de interação comunicativa. Para elaborar e desenvolver qualquer atividade em sala de aula, deve-se ter formulado uma fundamentação que irão nortear a prática teórica e objetiva desenvolvida. No que concerne às aulas de língua, o professor deve elaborá-las partindo dos objetivos que se deve ter para o ensino da língua materna. Para Travaglia (1998, p. 17), o primeiro objetivo da língua é desenvolver a competência comunicativa dos usuários, ou seja, fazer com que este usuário seja capaz de empregar adequadamente a língua nas diversas situações de comunicação. Esta competência envolve duas outras: a gramatical ou linguística e a textual. A competência gramatical ou linguística é a capacidade que o usuário da língua tem de elaborar infinitas frases sequenciais, com base nas regras da língua. A competência textual corresponde em desenvolver no aluno a habilidade para produzir textos, valendo-se de capacidades básicas essenciais que são: a capacidade formativa, ou seja, possibilitar aos alunos um número ilimitado de textos para que possam compreender, produzir e avaliar sua boa ou má estruturação; a capacidade transformativa, que permite modificar o texto, isto é, reformular, parafrasear, resumir, etc; a capacidade qualitativa que permite ao usuário dizer a que tipo pertence um dado texto, se uma crônica, romance, carta, narração, artigo, reportagem. Para realização deste objetivo, o professor deve propiciar o contato do aluno com uma quantidade significativa de diferentes tipos de textos (narrativas, crônicas, 11 etc) para que se torne eficiente em analisar, interagir e adequá-lo à sua situação comunicativa. Na realidade, os professores tiveram uma formação conservadora onde não se permitia inovar, e hoje, estão tão acostumados a isso que nas aulas se preocupam apenas em ensinar a norma culta oral e escrita. Este é considerado um segundo objetivo, porém, o professor deve levar em conta que o aluno já domina a língua coloquial de seu meio e que não deve desprestigiá-la, pois cada povo, região ou estado fala de uma maneira, por isso existem as variedades linguísticas. O terceiro objetivo é “levar o aluno ao conhecimento da instituição linguística, da instituição social que a língua é ao conhecimento de como ela está constituída e de como funciona (sua forma e função)”. O quarto e o ultimo objetivo é ensinar o aluno a desenvolver seu raciocínio lógico, seu pensar, refletir e compreender as regras da língua( TRAVAGLIA, 1998 P.20). Em meados do século XIX, o conteúdo gramatical ganha a denominação de Português, e em 1871, foi criado, no país, por decreto imperial, o cargo de “professor de Português (Magda Soares, www.unb.br). Mas ainda existem dúvidas quanto ao que ensinar nesta disciplina, se língua ou gramática. Sirio Possenti (1996, p.54) afirma que: Se ficar claro que conhecer uma língua é uma coisa e conhecer sua gramática é outra. Que saber uma língua é uma coisa e saber analisá-la é outra. Que saber usar suas regras é uma coisa e saber explicitamente quais são as regras é outra. Que se pode falar e escrever numa língua sem saber nada “sobre” ela, por um lado, e que, por outro lado, é perfeitamente saber muito “sobre” uma língua sem saber dizer uma frase nessa língua em situações reais. Com essa afirmação, o autor não está se colocando contra a gramática, e sim que é preciso distinguir o seu papel do papel da escola. A língua existia muito antes das gramáticas, um exemplo, são as crianças que nos primeiros anos já balbuciam 12 palavras e, com o tempo, já conseguem formar frase, tudo isso sem conhecer a gramática. Muito se discute acerca do ensino da língua, na qual algumas pregam que a gramática deve ser extinta, mas logo se levantam questionamentos do tipo: gramática não é importante saber?Como irei ser aprovada em vestibulares ou concursos se não souber a gramática? É óbvio que a gramática é importante saber, mas não da forma como está sendo ensinada nas escolas, como objeto de memorização do início ao fim, e sim deve servir apenas de suporte e ser trabalhada a partir de textos, pois o que se verifica são alunos saindo do 2°grau sem saber nada de gramática e com o pensamento voltado que a língua portuguesa é muito difícil. Através desse pressuposto, pode-se refletir como andam as aulas de Língua Portuguesa. No entanto, cabe ao professor, urgentemente, se conscientizar de que a mudança é necessária, assim como a busca de propostas inovadoras para se ter um ensino eficiente. Para isso, verificamos que a importância da gramática está na competência do professor ao trabalhá-la em sala de aula, não priorizando conceitos e nomenclaturas para que o aluno possa ter liberdade de pensamento e de expressão verbal. 1.2 EDUCAÇAO LINGUÍSTICA Estamos inseridos em um mundo que avança constantemente, originando frequentes inovações tecnológicas, avanços em diversos campos, como a ciência e a informática. Para estarmos em sintonia com este mundo, precisamos nos adequar a ele, nos atualizando contiguamente para poder avançar junto e continuamente. Os grandes avanços nos meios de comunicação nos permitem estar cada vez mais entrosados com o mundo e o veículo que nos leva a isso é a linguagem. A liberdade que temos em expressar nossos pensamentos, ideias e emoções é o que difere um ser humano de um ser animal. 13 Existe um ditado que diz que a linguagem domina o mundo, ou seja, ela é o recurso que todos possuem (em alguns mais, outros menos desenvolvidos) e que permite a interação comunicativa, onde o sujeito é capaz de avaliar, analisar, criticar e se posicionar frente o mundo que o cerca. Após esta breve apresentação, Travaglia (2004, p.26) ressalta então o que é educação linguística: A educação linguística deve ser entendida como conjunto de atividades de ensino/aprendizagem, formais ou informais, que levam uma pessoa a conhecer o maior número de recursos da sua língua e a ser capaz de usar tais recursos de maneira adequada para produzir textos a serem usados em situações específicas de interação comunicativa para produzir textos a serem usados em situações especificas de interação comunicativa para produzir efeito(s) de sentido pretendido(s). Todavia, a educação linguística é a capacidade que o usuário tem de construir textos ou enunciados para a situação comunicativa em que possa compreender e ser compreendido. Esta educação deve começar pela família, em que a criança vai adquirir a língua de acordo com seu meio, então seria eficaz proporcionar desde cedo o contato com diferentes situações comunicativas. Depois, a escola é a responsável pela parte linguística formal. Saber a língua é ser reconhecido socialmente, a educação linguística prepara o cidadão para a vida, para enfrentar o mundo, pois a interação e a expressão são requisitos necessários para a vida em sociedade, e quem sabe comunicar-se tem vez e voz no meio social em que convive além de permitir uma boa relação com os outros. Segundo Travaglia (2004, p.29), a educação linguística não pode descuidar do aspecto das variedades linguísticas o ensino não pode julgar apenas uma língua como válida, e sim, alertar para existência das variedades, suas características, e quando é adequado o seu uso.Também a educação linguística formal é a 14 responsável, quase sempre, pela aquisição da variedade escrita da língua, que é uma variedade de modo, em oposição a variedade falada, é preciso mostrar as diferenças da língua falada e da língua escrita. Deve-se em toda vida escolar do aluno promover a educação linguística, e este, deve ser competente ao utilizar sua língua, adquirindo sempre novos recursos para que se torne um exímio emissor e também receptor, possuidor de um desenvolvimento linguístico eficaz para sua vida em sociedade. Tem-se verificado na prática, alunos que possuem um vocabulário pobre, a falta de habilidade interpretativa, crítica e compreensiva, porque não tiveram o contato com materiais, instrumentos que permitissem o seu desenvolvimento, falta a atuação do professor, é sua tarefa preparar um cidadão munido de linguagens necessárias à sua vida e capaz de sobressair-se frente aos obstáculos que a sociedade impõe. Antunes (2007,p.43) diz que, de fato, um vocabulário mais amplo constitui uma via de acesso a muitas informações ou a matéria-prima com que se cria e se expressa todo o complexo de nossa atividade verbal. Espera-se ter evidenciado que entre os muitos desafios que a escola tem de enfrentar na formação do homem para que ele possa se adaptar e viver bem em um mundo em constante mutação, num processo de mudança que se torna vez mais rápido ganha especial relevo a questão de comunicação, já que somente através dela o homem pode interagir com o outro e compreende-lo também receber e acumular conhecimento e até mesmo ter condições para fazer com que o conhecimento e até mesmo ter condições para fazer com que o conhecimento avance na descoberta de fatos desconhecidos. Mais uma vez, destaca-se o papel da comunicação. Para interagir com segurança, desde cedo, o aluno tem que praticá-la, tanto oralmente quanto por escrito, porque é objetivo primordial o desenvolvimento da competência comunicativa e que com esta estaremos formando um sujeito letrado capaz de responder a qualquer exigência que pode oferecer o seu mundo social. 15 2. GRAMÁTICA TRADICIONAL Voltando o olhar para o ensino da língua portuguesa em escolas de 1°e 2°graus, percebe-se a falta de objetivos com que este é ministrado. Sendo a gramática tradicional o suporte, a base do ensino desde muito tempo, ela se tornou um manual com dogmas irrefutáveis. Primeiramente, cabe expor o conceito de gramática tradicional segundo Bagno (2001, p.15), É uma doutrina, composta de dogmas a serem aceitáveis e não de leis empiricamente testáveis, sujeitas a comprovação ou a refutação.Seu corpo de definições preceitos e prescrições apenas aparentemente servem para um estudo da língua. Este conjunto de preceitos está engessado no tempo e no espaço, sendo negado qualquer tipo de discordância a seu respeito. A gramática tradicional remonta aos tempos da Idade Média, trazendo consigo saberes e verdades incontestáveis. Pelo fato de proceder à muitos anos, seus conceitos já estão ultrapassados e equivocados, por Bagno(...) enfatiza que: Deve-se bater contra os usos e abusos perpetrados por aqueles que, arrancando a gramática tradicional do lugar que legitimamente é o seu o da reflexão filosófica, o de ferramenta de investigação dos processos cognitivos que permitem ao ser humano fazer uso da linguagem, impuseram-lhe o papel de doutrina canônica, de conjuntos de dogmas irrefutáveis, de verdades eternas. Esta gramática consiste em ensinar o bom uso da língua, pregada como padrão ou seja, a linguagem culta utilizada apenas pelas pessoas de uma classe social elevada.Os alunos, no entanto, são expostos a esta linguagem e convidados a segui16 la.Desconsidera-se qualquer outra variedade da língua, denominando como erro ou desvio linguístico. Considera-se a gramática tradicional um manual capaz de sanar qualquer dúvida que um indivíduo possa ter da língua, bastando apenas consultá-la.Para este equivoco, Antunes (2007,p.113) afirma que “nenhum manual de gramática pode ser completo.A língua é grande demais, seus usos são deveras complexos e plurais para caberem em algumas poucas centenas de páginas. Nenhum manual de gramática pode ser exato”. Este manual é ensinado no ensino do início ao fim.Os professores apresentam o conceito proposto,os alunos memorizam para conseguir aprender, após são expostos ás regras gramaticais e, em sequência, devem responder a exercícios da própria gramática que conhecimento o aluno está adquirindo nestas aulas de língua?”Questionamento “que reflete na fala de muitos indivíduos em que “Português é muito difícil” ou” Eu não sei Português”. Para ilustrar esta falta de metodologia com que é ministrado o ensino, cabe expor as sábias palavras de LUFT (1985, p.48) em relação ao papel do professor. O professor tradicional não se dá conta de que todo falante nativo “sabe” sua língua, apenas precisa desenvolver, crescer praticar em outros níveis e situacões. Nunca ouvio falar em gramática “internalizada”. Falta-lhe em geral uma formação linguística mais séria;ou leu e não acreditou nas novas teorias ou é mais cômodo restringir-se a currículos impostos e livros didáticos adotados,adaptar-se a opiniões generalizadas e estabelecidas.(...)sair da rotina da tradição é inquietante:para si, para os colegas, para as autoridades, para o sistema. É de fato, válido apresentar uma situação concreta da realidade do ensino, através de uma pesquisa realizada por Neves (1990, p.10-28), com seis grupos de professores de 1º e 2º graus de escolas de quatro cidades do estado de São Paulo. Fez-se um levantamento de questões tais como: “Para que do ensino de gramática”; “O que é ensinado”; “O como no ensino da gramática”; “O difícil no ensino 17 da gramática”; “O papel dos manuais de gramática” e “”O livro didático”. Apresentando apenas dados relevantes de algumas destas questões verificouse que apenas 50% dos professores ensinam gramática a fim de os alunos terem um bom desempenho em melhor expressividade, melhor comunicação e melhor compreensão. 30% se referem à preocupação, à normatividade: maior correção, conhecimento de regras e de normas e conhecimento de padrão culto.20%teriam uma finalidade teórica :aquisição das estruturas da língua |melhor conhecimento da língua |conhecimento sistemático da língua \apreensão dos padrões da língua \ sistematização da do conhecimento da língua. Além disso, todos os professores pesquisadores declararam dar exercícios gramaticais a seus alunos, o que significa que essa atividade está presente em 100% das salas de aula que a pesquisa abrange, e os conteúdos mais trabalhados são: classes de palavras, morfologia e sintaxe. Uma das preocupações dos professores, ao responder às questões dos procedimentos no ensino da gramática é afirmar a opção pelos textos como ponto de partida da exercitação gramatical. Foram mais de 5% dos professores que declararam partir de textos de frases, de exemplos. Cerca de 40% declararam partir da teoria e cerca de 5% afirmaram privilegiar a exercitação como ponto de partida das lições. Esse “partir do texto” representa retirar de textos unidades (frases ou palavras) para análise e catalogação, Neves (1990p. 18). Concluída a pesquisa, comprova-se que as aulas de gramática não tem um objetivo definido senão cumprir o programa da escola. Os professores seguem a risca o livro didático trabalhando com uma língua distante da realidade social do aluno. O fato de a gramática tradicional ser o alicerce do ensino de português tem se tornado um objeto de preocupação, pois se verifica que os alunos estão saindo da escola sem saber expressar-se oralmente, nem por escrito, não conseguem formular ideias, não conseguem posicionar-se frente a determinados assuntos, entre outros fatores, o que nos faz acreditar que a gramática não está satisfazendo as necessidades dos alunos. Por isso, Bagno sugere que o ensino de gramática não 18 pode ser o ponto de partida, e sim, o ponto de chegada da prática pedagógica. Possenti (1997, p.95, apud Bagno 2001 p. 83) acredita que o ideal é: Fazer com que o ensino de português deixe de ser visto como a transmissão de conteúdos prontos e passe a ser uma tarefa de construção de conhecimentos por parte dos alunos, uma tarefa em que o professor deixe de ser a única fonte autorizada de informações, motivações e sanções. O ensino à aprendizagem. Faz-se necessário atualizar o ensino, buscar novas e dinâmicas maneiras de apresentar o conhecimento da língua, basta enveredar por um caminho que propicie o desenvolvimento pleno do aluno. 2.1 Gramática e ideologia A gramática é um conjunto de ideias criado por um grupo letrado de nossa sociedade e que preserva os traços e conhecimentos do passado, tendo estes como verdades eternas. Admite apenas uma língua chamada esta de culta, falada apenas pelas pessoas que possuem prestígio social. Qualquer outra variedade é considerada erro linguístico, sendo assim, na maioria das vezes, as pessoas de classe elevada falam corretamente, pois estas tiveram maior acesso ao conhecimento. “Desse pressuposto, resulta a crença de que “Brasileiro não sabe português”, as pessoas sem instrução falam tudo errado”. Este sentimento de inferioridade e sua aceitação como algo natural são provas de ideologia dominante: Uma prova de que ninguém é ideologicamente falando, um todo completo. É o fato de que as pessoas ditas inferiores devem realmente aprender a sê-lo. Não é suficiente para uma mulher ou um colono, como uma forma de vida 19 inferior: é preciso ensinar-lhes afetivamente essa definição, e alguns deles revelam-se brilhantes bacharéis nesse processo. É surpreendentes quão hábeis, engenhosos, e perspicazes podem ser os homens e as mulheres em provar para si mesmos que são incivilizados e burros (Eagleton, 1997, p. 14, apud Bagno). Todo o ser humano erra, tem suas imperfeições, portanto não se deve deixar abater pelo preconceito de que alguns são melhores que outros, cada um deve provar o seu valor dentro da sociedade. Fiorin (apud BAGNO 2001 p.32) adverte que “a ideologia é constituída pela realidade e constituinte da realidade”. Não é um conjunto de ideias que surge do nada ou da mente privilegiada de alguns pensadores. Chauí (1984, p.26) afirma que “a ideologia é produzida pelos sábios que recolhem as opiniões correntes, organizam e sistematizam tais opiniões e, sobretudo, as corrigem, eliminando todo elemento religioso ou metafísico que porventura nelas existem.” Então, as ideias são selecionadas e preconizadas como verdades impassíveis de conexão. Mais especificadamente conceituado: A ideologia é um conjunto lógico, sistemático e coeretne de representações (ideias e valores) e de normas ou regras (de conduta) que indicam e prescrevem aos membros da sociedade o que devem pensar e como devem pensar o que devem valorizar e como devem valorizar o que devem sentir e como devem sentir o que devem fazer e como devem fazer. Ela é, portanto, um corpo explicativo (representações) e prático ( normas, regras e preceitos) de caráter prescritivo, normativo regulador (Bagno 2001, p.35). Este conceito pode ser aplicado ipsis litteris à gramática tradicional devido ao fato de seu conteúdo ser extremamente impositivo ao usuário. 20 A gramática tradicional é uma ideologia porque privilegia um discurso totalmente voltado ao passado e este passado constitui “a grande verdade” e a recusa a mudança por este motivo também é que não é considerada uma ciência. Na verdade, a gramática passou a ser um mecanismo de poder das classes dominantes sobre as demais. Segundo Antunes ( 2007, p.33): Optar por uma gramática é, sempre optar por determinada visão da língua as gramáticas também (é bom lembrar) são produtos intelectuais, são livros escritos por seres humanos, sujeitos, portanto a falhas, imprecisões, esquecimentos além, é claro, de vinculados a crenças e ideologias. Por isso, não faz sentido reverenciar as gramáticas como se nela estivesse uma espécie de verdade absoluta e eterna sobre a língua – são produtos humanos como outros quais quer. Assim como atualmente já foram criadas diversas gramáticas, todas possuem a sua determinada visão da língua, a sua ideologia. Portanto, deve-se desfazer a crença de que a gramática tradicional que opta pela língua culta é considerada a correta e o exemplo a ser seguido. E imprescindível desmistificar o dogma de que ao aluno acha que não sabe português e fazê-lo acreditar que este é apenas um preconceito linguístico e transformá-lo em um perpetuador e reprodutor do círculo vicioso desse preconceito Bagno (2001, p.43). É relevante apontar alguns mitos ideológicos que acompanham o ensino da gramática da Língua Portuguesa apresentados por Bagno ( 2001,p.49). O primeiro mito diz respeito ao “mito da língua única”, ou seja, afirma-se que a língua portuguesa é invariável. Isso implica em desconhecer as variedades que a língua apresenta ( de raça, etnia, religião, estado...) , tendo como “única” a língua culta. 21 O segundo mito, “o mito da língua estropiada” comenta a situação preconceituosa de que o brasileiro não sabe português visto que quem não possui uma linguagem culta é considerado inferior, fala errado, feio. Segue-se “o mito da inferioridade da língua falada” onde se ouve mito brasileiro comentar que a língua portuguesa é muito difícil. Porém o falante da língua deve ter em mente que domina bem o idioma no seu cotidiano e pode verificar que compreende e que é compreendido. Perini (apud BAGNO 2011, p.66) afirma que: Qualquer falante de Português possui um conhecimento implícito altamente elaborado da língua, muito embora não seja capaz de explicitar esse conhecimento. E [...] esse conhecimento não é fruto de instrução recebida na escola, mas foi adquirido de maneira tão natural e espontânea quanto á nossa habilidade de andar. Mesmo pessoas que nunca estudaram gramática chagam a um conhecimento implícito perfeito adequado da língua. São como pessoas que não conhecem a anatomia e a fisiologia das pernas, mas que andam, dançam, nadam e pedalam sem problemas. O quarto mito, “o mito da necessidade da gramática normativa”, já traz no título o pressuposto de se ter a gramática normativa como adequada e privilegiada para as e nas aulas de língua. Esta visão exclui as outras formas de abordagem da língua e preconiza as regras normativas elaboradas a milhares de anos atrás, é anti à inovação. “O último mito “o mito da ascensão social” refere-se à noção que muitas pessoas têm de que a língua culta ensinada nas escolas permite ao aluno “ subir na vida “, “progredir”, “ ter sucesso”. Soares (apud BAGNO 2001,p.93) mostra que só haverá realmente sucesso e “ascensão social” para aqueles que já chegaram à bolsa de valores que é a escola dotada de um capital socioeconômico, capaz de lhes garantir um bom lote de ações na disputa pelo mercado linguístico. Verificou-se através dos mitos, de que forma esta pautado o ensino da língua, através de ideias errôneas a seu respeito. Estas ideias preconceituosas excluem qualquer falante que não esteja submetido à linguagem culta. Indutivamente fica 22 complexo ensinar a língua para pessoas que não estão desvencilhadas dessas ideias. 23 3. GRAMÁTICA REFLEXIVA A frequência com se tem visto a ineficiência dos alunos em geral, frente ao aspecto de produção e compreensão de textos cria-se acirradas polêmicas. Como antes mencionado, as aulas de Língua Portuguesa são tradicionalmente ministradas dando ênfase ao ensino gramaticalista, tendo como orientador deste processo o livro didático, o qual não propicia ao aluno o gosto, o desejo de apresentar a língua, sendo esta ensinada fora de um contexto que nada tem a ver com a situação vivenciada na prática pelo aluno. Como consequência, tem-se verificado resultados extremamente negativos comprovados nas baixíssimas notas decorrentes de provas e concursos que realizam, pois saem do ensino médio com dificuldades para formular ideias e até mesmo interpretar um texto. Para iniciar um ensino de qualidade deve-se optar por sua reformulação. Elaborar uma maneira inteligente e concreta de promovê-lo, inserindo o aluno num ambiente em que haja primordialmente interação e motivação. Por isso, o professor deve usar de uma metodologia criativa, dinâmica e eficaz. Primeiramente, deve-se ter claro que, como aborda Travaglia (1997p. 107) Aprender a língua, seja de forma natural no convívio social, seja de forma sistemática em uma sala de aula, implica sempre reflexão obre a linguagem, formulação de hipóteses e a verificação do acerto ou não dessas hipóteses sobre a constituição e funcionamento da língua. Quando nos envolvemos em situações de interação a sempre reflexão sobre a língua, pois temos de fazer corresponder nossas palavras às do outro para nos fazer entender o outro. O autor acima propõe o trabalho com uma gramática reflexiva, sendo esta um caminho para a reflexão acerca da linguagem. 24 Conceituando gramática reflexiva temos “A gramática reflexiva é uma gramática em explicitação que surge da reflexão com base no conhecimento intuitivo dos mecanismos da língua e será usada para o domínio consciente de uma língua que o aluno já domina inconscientemente.” (Soares 1979, cap. 9 apud TRAVAGLIA 1997, p. 142). Esta gramática prioriza os conhecimentos que o aluno já possui interiorizado, e busca aperfeiçoá-los, procurando desenvolver seu raciocínio lógico fazendo - o refletir sobre os fatos da língua e aplicá-los sobre as suas situações comunicativas. Os exercícios propostos são baseados em textos para que visualizando uma situação concreta da língua, se torne mais prático e fácil à aquisição do conhecimento. Parafraseando Marquardt (...), quanto mais variedade de textos o professor levar a sala de aula, mais o aluno será capaz de “ler” o mundo, o seu mundo, com discernimento clareza e aumentar sua condição de bem estar nesse mundo. A leitura permite a ampliação do que o aluno já domina e desenvolve a capacidade de compreender, interpretar, analisar a língua, além de se tornar um cidadão crítico, conhecedor e dominante em termos de pluralidade de discurso. O que passa a ter prioridade é criar oportunidades (oportunidades diárias) para o aluno construir, analisar, discutir, levantar hipóteses, a partir da leitura de diferentes textos de gêneros – única instancia em que o aluno pode chegar a compreender como, de fato, a língua que ele fala funciona. (MARQUARDT, 2001 p.35) A língua é o recurso que dá forma ao nosso pensamento e satisfaz nossa necessidade de comunicação, portanto, Travaglia (2004, p.44) diz que. Antes de qualquer coisa é preciso acreditar que o homem se comunica através de textos assim comunicar-se significa de alguma forma ( lingüística 25 ou não) produzir um efeito de sentido entre o(s) produtor(es) de um texto e o(s) receptor(es) desse mesmo texto. Esse efeito de sentido é que faz com que algo seja um texto. Este é um recurso bastante rico também pra ampliar e desenvolver novas habilidades linguísticas como a leitura, escrita, escuta, fala, análise, interpretação, criticidade, entre muitas outras. Por isso é que os PCN’s (1998, p.27) apontam: [...] o texto literário esta livre para romper os limites fonológicos, lexicais, sintáticos e semânticos traçados pela língua: esta está se torna matéria prima (mais que instrumentos de comunicação, expressão) de outro plano semiótico – da exploração da sonoridade e do ritmo na criação e recomposição das palavras na reinvenção e descoberta de estruturas sintáticas singulares, na abertura intencional a múltiplas leitura pela ambiguidade, pela indeterminação e pelo jogo de imagens e de figuras[...]. Como foi visto, o texto permite expandir o horizonte de expectativa do aluno. Com ele também não só podem como devem ser trabalhados conteúdos gramaticais, pois se torna mais acessível ao aluno partir de um contexto em que lhe seja conhecido do que lhe transmitir infinidades de regras e conceitos prontos através de frases soltas. Por conseguinte, Antunes (2003, p.110) coloca como dar-se o ensino das unidades e estruturas gramaticais, quando o ponto de partida é o texto: [...] primeiro se estuda se analisa se tenta compreender o texto (no todo e em cada uma de suas partes – sempre em função do todo) e, para que se cheque a essa compreensão, vão se ativando as noções, os saberes gramaticais e lexicais que são necessários. Ou seja, o texto é que vai conduzindo nossa analise e em função dele é que vamos recorrendo as 26 determinações gramaticais, ao sentido das palavras, ao conhecimento da experiência, enfim,[...] assim, o estudo do texto, da sua sequência e da sua organização sintática – semântica conduzirá forçosamente o professor a explorar categorias gramaticais conforme cada texto em análise sem perder de vista, no entanto, que não é a categoria em si que vale,mas a função que ela desempenha para o sentido do texto. Ou seja, mesmo quando se está fazendo a análise lingüística de categorias gramaticais o objeto de estudo é o texto. Reafirmando a utilidade do texto, Antunes (2007p. 138) argumenta que. Em última instância a proposta é que o texto (não a gramática) seja o centro do programa. O eixo. Ele é que comanda. A gramática vem como mediação. Na verdade, só no convívio com a análise de textos é possível a descoberta do quanto a gramática é importante. Evidentemente tudo pode ser visto nos textos. Lá é que todo tipo de fenômeno ocorre. Fazendo um paralelo com o ensino tradicional da língua, apontamos diferenças que nos levam a visualizar a ampliação e o enriquecimento de um ensino reflexivo. Privilegia bastante a interação no processo de ensino, fazendo com que o aluno se torne um sujeito ativo no processo e não um mero receptor. Um dos fatores que se deve levar em conta é o fato de a gramática reflexiva não denominar com o existente apenas uma língua correta e sim privilegiar as variedades linguísticas. A língua, a todo o momento, está se modificando. Ela, como objeto histórico, está sujeita a variações linguísticas e sofre mudanças tanto na escrita como na fala. No momento em que se criam novas palavras, outras tendem a desaparecer segundo o desuso. (WWW. Webartigos.com/qual-o-papel-da-gramatica-no-ensino-dalingua-portuguesa). Por isso, a importância de não levar em consideração apenas a linguagem culta como correta. 27 Travaglia propõe dois tipos de trabalho com a gramática reflexiva (1997, p.143) o primeiro deles diz respeito as atividades que levam o aluno a explicitar em fatos da estrutura e do funcionamento da língua. Em vez, por exemplo, de dar teoria pronta para os alunos, é preferível, construir atividades que o levem a redescobrir fatos já estabelecidos pelos linguistas em seus estudos. Seria, portanto, uma reflexão mais voltada para a explicitação de elementos de natureza predominantemente estrutural da língua. O segundo tipo de trabalho envolve atividades que focalizam essencialmente os efeitos de sentido que os elementos linguísticos podem produzir de interlocução já que se objetiva desenvolver a capacidade de compreensão e expressão. Tais atividades permitiram ao aluno: [...] pensar na razão. [...] utilizar com mais segurança e precisão os recursos da língua ao produzir seus textos e tenha sua capacidade de leitura bastante ampliada e aperfeiçoada para julgar o quer dizer o produto de um texto ao usar certos recursos determinados da língua e não outros. [...] Exemplos destas e outras atividades serão expostas na próxima seção deste trabalho. Para um encaminhamento final, vale ressaltar o papel do ensino da gramática. O que se quer realmente com o ensino é reunir os alunos de um instrumento de luta para inserir-se de modo mais efetivo e eficaz na sociedade: o uso da linguagem adequado às mais diversas situações comunicativas em que eles estiverem inseridos que vão além das situações escolares e se entendem para quaisquer situações de sua vivencia no meio social (WWW. Webartigos.com/qual-o-papel-da-gramatica-no-ensino-da-lingua-portuguesa). 28 O ensino reflexivo ainda é um terreno novo, aos poucos descoberto, mas que tem demonstrado um bom aproveitamento e eficácia as aulas de língua. De acordo com o site de pesquisa da internet (WWW. Webartigos.com/qual-o-papel-dagramatica-no-ensino-da-lingua-portuguesa) [...] a importância da Língua Portuguesa esta na competência do professor ao trabalhá-la em sala de aula, não priorizando conceitos, regras e nomenclaturas para que o aluno possa ter liberdade de pensamento e expressão verbal. Cabe ao professor protagonizar um aprendizado em Língua Portuguesa de maneira espontânea. É no próprio professor que se vê começar a mudança de atitude, que irá gerar um ensino de língua mais eficaz e reflexivo. Para completar, Antunes (2003,p.108) fala que o professor precisa ser visto como alguém que, com os alunos, pesquisa, observa, levanta hipóteses, analisa, descobre, aprende, reaprende. Então para uma melhoria no ensino, o professor precisa desempenhar-se em desenvolver uma metodologia criativa e reflexiva; também deve conscientizar-se de que as questões levantadas pela gramática reflexiva abrem caminhos para uma prática que procura satisfazer as necessidades de um ensino defasado. 29 2. PROPOSTA DIDÁTICO- METODOLÓGICA O objetivo da proposta é desenvolver a competência comunicativa dos educandos, assim como promover a educação linguística dos mesmos, ou seja, fazer com que estes dominem e utilizem adequadamente a sua língua nas mais variadas situações de comunicação, atendendo melhor o que lêem,ouvem,escrevem e falam, por meio de atividades da gramática reflexiva, usando o texto como tema para criar situações de observação análise, reflexão e conclusão sobre os mecanismos de uso da língua. Neste caso, o uso da vírgula, no período simples. Copa do Mundo; Vai rolar! O treinador entrou com a camisola da selecção brasileira. Sapatilhas verdes ofuscantes. Casaco de malha verde e amarelo. "É Brasiuuuuu...", anunciou ele à entrada da porta velha enferrujada. E hoje o entusiasmo exalta-se (será mesmo possível o pleonasmo?). Às 14h30 as empresas param. Às 15h, o quiosque do "seu Santos" desce as janelas de aço para encobrir uma caixa de metal encerrada aos olhos de quem passa, bem ali no Itaim. E será que alguém vai passar, àquela hora sagrada? Na altura em que a cidade se transforma num templo "ecuménico" de futebol multicolor. O moço de pele escura vende bandeiras no semáforo. Tecidos A4 esvoaçantes amontoam-se na mão. Tarde demais! Os carros que passam ostentam bandeiras bem maiores. Bem mais vistosas! Não há compras de última hora nos semáforos. Só na esquina aqui do lado. As "Lojas Americanas" são hoje, uma espécie de feira, sem regateio. O cenário: dezenas de pessoas saem com sacos nas mãos. Lá dentro avista-se duas cores preponderantes: verde e amarelo. Está claro! Às 15h a Pinacoteca do Estado fecha. "Não há visitas depois dessa hora. É por causa da copa", explica, a rir". O sentimento espalha-se por outros locais públicos. Mais tarde sabemos que as sessões de cinema só acontecem depois das 18h. O 30 atendimento ao público, nos bancos, encerrou. (Fecharam ao meio-dia). É a capital econômica da América Latina a meio gás pela Copa do Mundo. Só os taxistas estão hoje rezingões. "Falta clientes. Pára tudo. E lá se vai o negócio", há quem o diga ressabiado. Há já, a esta hora (13h10), 55 km de engarrafamento na cidade. E ainda faltam 3 horas. Corrida para a TV, telões, imagem do grande jogo!!!! Mais: a publicidade é a agressão mais forte da mensagem do Mundial. Nada escapa. "Este outdoor torce pelo Brasil". Depois, há também um sentimento de exacerbada certeza na vitória. Vedetismo. E há, igualmente, os mais recatados. Cautos nos comentários. Certo ou não é que o Brasil está em festa! Em contagem decrescente para a grande estreia. É a copa do mundo. E vai rolar! Publicada por Vanessa Rodrigues em 4:37 PM http://cronicalunasamba.blogspot.com.br/2006/06/copa-do-mundo-vai-rolar.html Ao se trabalhar com texto, o primeiro passo será a leitura expressiva, o estudo do vocabulário, a compreensão e a interpretação. Salienta-se que o objetivo maior da gramática reflexiva, neste trabalho, é fazer uso da terminologia da gramática tradicional, para assim promover generalizações a partir da observação de fatos linguísticos. 2.1 Procedimentos indutivos no ensino da gramática - Exemplos de estratégias. Com a finalidade de mostrar que é possível um comportamento inteligente dentro de sala de aula, quando a matéria de ensino é gramática, apresentam-se,a seguir, procedimentos indutivos para promover a generalização, a partir da observação de conjuntos de fatos linguísticos. Objetivo: Elaborar o conceito sobre os casos obrigatórios do uso da vírgula no período simples. 31 Conteúdo: O uso da vírgula no período simples. Contexto: Copa do Mundo. Procedimentos: a) Introdução: O professor apresenta o problema. Quando se usa a vírgula? b) Desenvolvimento: O professor pede para os alunos observarem um conjunto de frases e identifiquem o que elas têm em comum e para que serve a vírgula: 1. Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Brasília, Recife são sedes brasileiras. 2. A seleção brasileira, italiana, alemã, argentina e uruguaia são as com mais títulos. 3. As lojas, os quiosques, os bares se transformam durante os jogos. 4. Os homens, as mulheres e as crianças param em frente à televisão nos dias de jogo. A professora questiona: o que há de comum entre as palavras negritadas nas frases? Os alunos deverão observar e responder que há em cada frase uma sequência de substantivos com a mesma função sintática: sujeitos. Para que é utilizada a vírgula? 32 Os alunos deverão concluir que a vírgula separa substantivos com mesma função nas frases, sujeitos. A professora propõe para a observação um novo grupo de frases: 1. O técnico brasileiro convocou Lucas, Tiago Silva, Oscar, e Pato. 2. Os estádios abrigarão os jogadores, comissão técnica torcedores, turistas, repórteres e autoridades. 3. Os turistas compraram presentes, livros e mapas dos pontos turísticos. O que há de comum entre as palavras negritadas nas frases? Os alunos deverão observar que há, em cada frase, uma sequência de substantivos desempenhando a mesma função sintática, o objeto direto. Para que a vírgula é utilizada? Os alunos deverão concluir que a vírgula separa substantivos de uma mesma função sintática, objetos diretos. A professora propõe para a observação dos alunos um novo grupo de frases com o mesmo objetivo anteriormente proposto. 1. Neymar é habilidoso, perspicaz, inteligente, um excelente jogador. 2. O técnico do Brasil está calmo, tranquilo, feliz com os resultados. 3. A comissão técnica é competente, experiente, segura e exigente. 33 4. Os torcedores estão ansiosos, preocupados, curiosos com a copa no Brasil. O que há de comum entre as palavras negritadas nas frases? Os alunos deverão observar que em todas as frases há uma sequencial de adjetivos, desempenhando a mesma função sintática, o predicativo do sujeito. Para que a vírgula é utilizada? Os alunos deverão concluir que a vírgula é utilizada para separar os adjetivos que desempenham a função de predicativo do sujeito. A seguir, a professora apresenta mais um conjunto de frases, com o mesmo objetivo anteriormente proposto. 1. Mano Menezes, técnico da seleção brasileira, é o substituto de Dunga no comando da equipe canarinho. 2. Neymar, jogador do Santos, recebeu várias propostas de clubes Europeus. 3. Thiago Emiliano da Silva, zagueiro do Milan, participará da Copa do Mundo no Brasil. 4. A seleção brasileira, cinco vezes campeã, irá em busca do hexacampeonato. O que há de comum entre as expressões negritadas nas frases? 34 Os alunos deverão analisar e concluir que em todas as frases, há aposto, ou termos intercalados, separados por vírgulas. Para que a vírgula é utilizada? Os alunos deverão concluir que a vírgula é utilizada para separar o aposto. O professor apresenta um novo grupo de frases: 1. Depois de muitos amistosos, a seleção brasileira está pronta. 2. Os jogadores, durante a copa, ficaram concentrados. 3. Diariamente, os jornais informam sobre os resultados da copa. 4. Em meados de Julho, os turistasdesfrutarão do frio e da beleza do Sul do Brasil. O que há de comum nas frases? Os alunos deverão perceber que as frases possuem locuções adverbiais ou advérbios deslocados. Para que a vírgula é utilizada? Os alunos deverão concluir que a vírgula é utilizada para separar locuções adverbiais ou advérbios deslocados na frase. 35 Em continuidade, a professora apresenta um novo grupo de orações, com o mesmo objetivo inicialmente proposto. 1. Damião, a seleção precisa de transpiração. 2. Meus amigos, não se esqueçam do jogo da seleção brasileira. 3. Os jogos, estimados colegas, serão totalmente deslumbrantes. 4. Preparem seu grito de gol, torcedores! O que há de comum entre os termos em negrito nas orações? Em todas as orações há um chamamento, um vocativo. Para que a vírgula é utilizada? Os alunos deverão perceber que a vírgula é interligada para separar o vocativo do substantivo da oração: A partir do exposto, a professora pergunta aos alunos: O que aprendemos quanto ao uso da vírgula? A professora recapitula com os alunos o que observaram nos diferentes grupos de frases. Utiliza-se a vírgula no período simples: 36 a) Para separar termos da mesma função, sujeito, objeto direto, predicativo do sujeito. b) Para separar termos intercalados; c) Para separar termos deslocados= adjunto adverbial, ou advérbios. d) Para separar aposto; e) Para separar vocativo. Esse processo de observação, análise, reflexão e conclusão pode ser aplicado a qualquer outro tema gramatical. 37 CONSIDERAÇÕES FINAIS Após a realização de várias pesquisas bibliográficas acerca da gramática reflexiva, pode-se perceber o quão eficaz ela pode se tornar para o ensino de língua materna. Esta proposta inovadora visa desmistificar o dogma de que somente a gramática tradicional é correta e permite inserir o aluno em um ambiente que se deseja formar um sujeito participativo no meio social. O ensino conservador da língua até hoje difundido por muito professores nos fez enxergar a quantidade de equívocos existentes e a falta de objetivo com que é ministrado. Não é possível fechar os olhos frente às dificuldades que vem enfrentando a educação brasileira, cabe a nós, professores, tentar reverter esta situação buscando caminhos que satisfaçam as necessidades dos alunos e promovam a educação linguística para desenvolver a tão importante competência comunicativa. A gramática é importante, mas da maneira com está sendo difundida nas escolas está deixando a desejar, refletindo na incapacidade dos alunos em dominar conteúdos, tais como o uso da vírgula no período simples. A gramática reflexiva vem como suporte objetivando o ensino-aprendizagem a partir dos conhecimentos que o aluno já possui internalizado e buscando aperfeiçoá-los através de uma metodologia que o faça observar e concluir sobre os fatos. No entanto, a realização deste trabalho como primeiro passo de uma caminhada em busca das melhorias do ensino, em que é preciso conscientizar professores que é possível, basta querer, propiciar um ensino enraizado com questões textuais, reflexivas que desenvolvam um sujeito critico, leitor da entrelinhas e capacitado para enfrentar os desafios do mundo. 38 Portanto, espera-se que através, deste método de ensino, os alunos consigam chegar a conclusões próprias, construindo seu conhecimento gramatical e tornandoo concreto e eficaz nas situações em que é exigido. 39 REFERÊNCIAS ANTUNES, Irandé Costa. Muito além da gramática: Por um ensino sem pedras no caminho. 1ª Edição. Belo Horizonte: Ed. Parábola, 2007. ANTUNES, Irandé Costa. Muito além da gramática: por um ensino de línguas sem pedras no caminho. 3. ed. São Paulo: Parábola, 2008. 165 p. BAGNO, Marcos. Preconceito lingüístico: O que é, como se faz. São Paulo: Ed. Loyola, 2001. CHAUÍ, Marilena de Sousa. O que é ideologia. 14. ed. São Paulo: Brasiliense, 1984. 125 p. FIORIN, José Luiz. Linguagem e ideologia. 5. ed. São Paulo: Ática, 1997. 87 p. MARQUARDT, Lia Lourdes. Revista Letras de Hoje. Porto Alegre: PUCRS, v.21, n.3, p.735. MEC/SEF (1998). Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa Terceiro e Quarto Ciclos do Ensino Fundamental, Brasília MEC/SEF. NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática na escola. São Paulo: Contexto, 1990. 71p POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas, SP: Mercado de Letras, 1996. TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no1º e no 2º graus. São Paulo: Cortez, 1998. __________. Gramática: ensino plural. São Paulo: Cortez, 2004. http://pt.wikipedia.org/wiki/Gram%C3%A1tica (WWW. Webartigos.com/qual-o-papel-da-gramatica-no-ensino-da-lingua-portuguesa) 40 41