Técnico em Logística Economia Internacional Larissa Martins Maia 2014 Presidenta da República Dilma Vana Rousseff Governador do Estado de Pernambuco João Soares Lyra Neto Vice-presidente da República Michel Temer Secretário de Educação e Esportes de Pernambuco José Ricardo Wanderley Dantas de Oliveira Ministro da Educação José Henrique Paim Fernandes Secretário Executivo de Educação Profissional Paulo Fernando de Vasconcelos Dutra Secretário de Educação Profissional e Tecnológica Aléssio Trindade de Barros Gerente Geral de Educação Profissional Luciane Alves Santos Pulça Diretor de Integração das Redes Marcelo Machado Feres Coordenador de Educação a Distância George Bento Catunda Coordenação Geral de Fortalecimento Carlos Artur de Carvalho Arêas Coordenador Rede e-Tec Brasil Cleanto César Gonçalves Coordenação do Curso Maria Helena Cavalcanti Coordenação de Design Instrucional Diogo Galvão Revisão de Língua Portuguesa Eliane Azevedo Diagramação Roberta Cursino Sumário INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 3 1. COMPETÊNCIA 01 | CONHECER OS FUNDAMENTOS DE MACROECONOMIA (CONCEITO DE JUROS, INFLAÇÃO, MOEDA, CÂMBIO ETC) ........................................... 8 1.1 Medidas da Atividade Econômica .................................................... 13 1.1.1 Fluxo Circular da Renda................................................................. 13 1.1.2 Renda (RN) e Produto (PN) ........................................................... 16 1.1.3 Valor Adicionado (VA) ................................................................... 17 1.1.4 O Conceito de Despesa Nacional (DN) .......................................... 19 1.1.5 Formação de Capital: Poupança (S) e Investimento (I) ................ 19 1.1.6 Outras Medidas Agregadas ........................................................... 21 1.2 O Cálculo do Produto Interno Bruto (PIB) ou Renda Nacional (RN) 24 1.2.1 Os Elementos do PIB (Renda Nacional) ........................................ 28 1.3 Sistema Monetário (Moeda) ............................................................ 33 1.3.1 Considerações ........................................................................... 33 1.3.2 Características da Moeda .............................................................. 36 1.3.3 Funções da Moeda ........................................................................ 36 1.3.4 Tipos de Moeda ............................................................................. 38 1.3.5 Os Motivos da Demanda por Moeda ............................................ 38 1.3.6 Intermediários Financeiros ........................................................... 39 1.3.6.1 Intermediários Bancários ........................................................... 39 1.3.6.2 Intermediários não Bancários .................................................... 40 1.3.6.3 Banco Central ............................................................................. 40 1.3.7 Política Monetária ......................................................................... 41 1.3.7.1 Como a Política Monetária Influencia a Demanda Agregada (PIB) ................................................................................................................ 43 1.3.8 Os Agregados Monetários no Brasil .............................................. 45 1.3.9 Política Fiscal ................................................................................. 46 1.3.10 Política Cambial ........................................................................... 48 1.4 Inflação ............................................................................................. 50 1.4.1 Distorções Provocadas por Altas Taxas de Inflação ...................... 50 1.4.1.1 Efeito sobre a Distribuição de Renda ......................................... 50 1.4.1.2 Efeito sobre o Balanço de Pagamentos ..................................... 51 1.4.1.3 Efeito sobre o Mercado de Capitais ........................................... 51 1.4.2 Causas Clássicas de Inflação .......................................................... 52 1.5 Mercado de Trabalho ....................................................................... 58 1.5.1 Taxa Natural de Desemprego........................................................ 62 1.5.2 Tipos de Desemprego ................................................................... 63 2. COMPETÊNCIA 02 | ENTENDER A TEORIA E A PRÁTICA EM OPERAÇÕES CAMBIAIS ..................................................................................................................................... 65 2.1 Mercado Cambial ............................................................................. 67 2.1.1 A Importância da Taxa de Câmbio na Economia e os Regimes Cambiais ................................................................................................. 68 2.2 Monopólio de Câmbio...................................................................... 71 2.3 Mercado Cambial do Brasil .............................................................. 72 2.3.1 Composição do Mercado de Câmbio ............................................ 73 2.3.1.1 Produtos do Mercado de Câmbio .............................................. 74 2.3.1.2 Condições para a Realização das Transações ............................ 75 2.3.2 Setor Público: Principais Atores .................................................... 75 2.3.3 Agentes do Mercado de Câmbio ................................................... 76 2.3.3.1 Agentes Autorizados .................................................................. 76 2.3.3.2 Outros......................................................................................... 77 2.4 Funcionamento ................................................................................ 77 2.4.1 Cotações ........................................................................................ 78 2.4.2 Posição .......................................................................................... 78 2.4.3 Contrato de Câmbio ...................................................................... 79 2.4.4 Registro no Sistema Câmbio ......................................................... 83 2.4.5 Operações Destinadas a Atender Gastos Pessoais em Viagens Internacionais ......................................................................................... 86 2.4.6 Cartões de Uso Internacional ........................................................ 87 2.4.7 Operações no Mercado de Câmbio Relativas às Exportações de Mercadorias e de Serviços ..................................................................... 88 3. COMPETÊNCIA 03 | CONHECER E INTERPRETAR O BALANÇO DE PAGAMENTOS (BP) ............................................................................................................................ 108 3.1 Conceito ......................................................................................... 108 3.2 Estrutura ......................................................................................... 109 3.2.1 Transações Correntes.................................................................. 112 3.2.1.1 Balança Comercial .................................................................... 112 3.2.1.2 Balança de Serviços (Serviços) ................................................. 117 3.2.1.3 Balança de Rendas (Rendas) .................................................... 118 3.2.1.4 Transferências Unilaterais Correntes....................................... 119 3.2.2 Conta Capital ............................................................................... 119 3.2.3 Conta Financeira ......................................................................... 121 3.2.4 Erros e Omissões ......................................................................... 125 3.2.5 Saldos Déficits (-) ou Superávits (+) ............................................ 125 3.3 Contabilidade Nacional .................................................................. 126 3.4 Transações Autônomas e Compensatórias .................................... 127 3.5 Solução para os Déficits ................................................................. 128 3.5.1 Solução para os Déficits Conjunturais ........................................ 128 3.5.2 Solução para os Déficits Estruturais ............................................ 128 3.6 Reservas Cambiais .......................................................................... 129 3.6.1 Nível Ideal de Reservas ............................................................... 131 REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 134 INTRODUÇÃO Caríssimo aluno, trataremos aqui tema interessantíssimo para o entendimento das notícias econômicas que correm o mundo a fora na atualidade. Então vocês devem estar se perguntando de que trata a Economia Internacional? Isso será fácil descobrir porque nossa disciplina trará a teoria e a prática das relações entre nações. Sempre que possível traremos exemplos práticos para um melhor entendimento. Primeiro pensemos um pouco sobre o que vem a ser Economia. Não podemos avançar para o assunto Economia Internacional sem falar do que trata, propriamente, a Ciência Econômica. Você deve ouvir muito este tema em jornais, revistas, noticiários, conversações etc. Buscando na literatura (digo, pesquisando em livros sobre o assunto), o autor Vasconcellos (2007) define economia como sendo a ciência social que estuda como o indivíduo e a sociedade decidem utilizar recursos produtivos escassos, na produção de bens e serviços, de modo a distribui-los entre as várias pessoas e grupos da sociedade, com a finalidade de satisfazer às necessidades humanas. Etimologicamente falando, a palavra economia vem do grego oikos (casa) e nomos (norma, lei), seria "administração da casa", generalizando, "administração da coisa pública". Na prática, é fazer com que os recursos encontrados na natureza, a matéria prima (material em estado natural e bruto, utilizado para o processo de fabricação de bens industriais e semiindustriais), que não está em abundância, totalmente livre na natureza, seja extraída e transformada em produtos; estes produtos, por sua vez, irão atender ao mercado consumidor. São exemplos de materiais brutos o aço (utilizado na fabricação de máquinas, equipamentos em geral), o petróleo (combustíveis e tantos outros produtos, muitos produtos que usamos são derivados do petróleo), a madeira (móveis, artesanato, etc.), a sílica (para a produção do vidro), os grãos (ração, massas para macarrão, bolos, pães) etc. 3 Economia Internacional Segundo Jayme Maia (2004), o ser humano precisa satisfazer algumas necessidades para sobreviver, sem isso atendido ele morreria. Precisa de alimentos, agasalho para se proteger do frio, lugar para se abrigar. Então vemos aqui as três necessidades básicas (primárias) de um ser humano: alimentos, vestuário e habitação. Mas à medida que evoluímos, outras necessidades começam a surgir como: a educação, o lazer, conforto etc. E para atender a todas essas necessidades, são precisos diversos fatores, são os chamados Fatores de Produção ou Fatores Produtivos (Souza, 2007). São eles: i) terra ou recursos naturais, incluindo água, minerais, madeiras, peixes, solos para as fábricas e terra fértil para a agricultura; ii) trabalho ou recursos humanos, são os trabalhadores qualificados e não qualificados, pessoal administrativo, técnicos, engenheiros, gerentes e administradores; iii) capital, isto é, conjunto de bens e serviços como máquinas, equipamentos, prédios, ferramentas e dinheiro, necessários para a produção destes e de outros bens e serviços; iv) capacidade empresarial, quem assume os riscos de perder seu capital ou o capital tomado emprestado, ao empreender um negócio; e mais recentemente a v) capacidade tecnológica. De forma mais simples, são os fatores produtivos e as relações necessárias para que um Negócio* possa existir. Explicando melhor, seria a terra (local para a implantação do negócio), trabalho (são os funcionários), capital (as máquinas, o prédio para fabricação e/ou armazenagem, equipamentos, ferramentas e dinheiro), capacidade empresarial (alguém que queira se arriscar a investir para abrir o negócio) e capacidade tecnológica (a tecnologia a ser utilizada nesse empreendimento). Vimos aqui dois grandes fatos econômicos, o consumo e a produção, ou seja, as pessoas que consomem, que compram produtos e serviços, e as pessoas que produzem esses produtos e serviços. Em algum momento, um determinado indivíduo produzia um só tipo de objeto, em quantidade para atender às suas necessidades, o que excedia/sobrava, ele trocava com outros grupos, pegava o que precisava e entregava o que não iria mais necessitar. Em épocas pré-históricas era isso que acontecia entre pessoas de uma mesma tribo. Com o desenvolvimento das relações humanas, essas trocas passaram a serem feitas entre cidades, 4 Técnico em Logística nações e, por fim, mundo. O ser humano percebeu que era difícil produzir tudo o que precisava, de forma rápida e com qualidade, havia um crescente aumento das necessidades de consumo. Surge então a divisão do trabalho, que gerou não apenas o aumento da produtividade, mas também a melhoria da qualidade do produto. Então era melhor confeccionar dez objetos iguais, por exemplo, do que sete diferentes. O estudo da Economia Internacional envolve todos os aspectos ligados a essas atividades econômicas entre as nações; suas regras de funcionamento, aspectos legais, trocas monetárias, fluxos de mercadorias, serviços etc. Com o fenômeno da globalização, cada vez mais a interação e interdependência entre as nações torna urgente o perfeito funcionamento destas relações e, neste sentido, a solução comumente adotada, é a criação de organismos internacionais que intercedam para equilibrar estas relações e promover o desenvolvimento de todos os participantes, todos os envolvidos. Jayme Maia (2004) menciona ainda que não só o comércio se tornou internacional, mas também outros atos humanos relacionados às atividades econômicas. Estas atividades não respeitaram mais as fronteiras nacionais, formando assim, o conjunto de atividades que constituem a Economia Internacional. Para ele, a Economia Internacional abrange e engloba importação e exportação, serviços, transferências de rendas, transferências unilaterais, movimentos de capitais. E todas essas atividades econômicas se desenvolveram mais e melhor com o progresso dos meios de comunicação e dos meios de transportes, transformando o mundo de hoje numa “Aldeia Global”. De acordo com Paul Krugman (2004), a Economia Internacional utiliza os mesmos fundamentos de análise que outras áreas de estudo da economia. Por exemplo: um queijo francês será distribuído para dois países, Itália e Portugal. A sequência de eventos que leva esse queijo até esses dois países não é diferente de se levar uma massa italiana aos restaurantes suíços, por 5 Economia Internacional exemplo, o que muda apenas são as distâncias percorridas. Em relação ao Comércio Internacional, o que poderá alterar essas relações entre países, será se qualquer um desses governos resolver proteger seu produto (nacional) impondo algum tipo de alíquota (imposto) ou limites/barreiras à importação de um produto estrangeiro. Exemplo de uma limitação: o governo de um desses países decide aumentar o imposto de importação de produtos e o mesmo se torna mais caro em relação ao nacional. Então passa a ser menos vantajoso comprar o produto importado. Percebe a manobra do governo? Ele aumentou o imposto do produto estrangeiro que, ficando mais caro, gera a preferência pelo produto nacional. Com isso as pessoas e empresas passam a consumir mais o produto nacional. É uma manobra de proteção que cada país faz para que seu produto seja mais comprado e, desta forma, os governos conseguem dinamizar a indústria local e, por conseguinte, a economia. Na Macroeconomia observa-se o comportamento da economia como um todo. As variáveis-chaves estudadas representam o produto total da economia como: a renda e o produto nacional, o nível de preços, o emprego e o desemprego, as taxas de juros, as taxas salariais, as taxas de câmbio e os investimentos externos (estrangeiros). É a parte da economia voltada às políticas econômicas, como essas variáveis macroeconômicas são afetadas pelas políticas governamentais, citadas no parágrafo anterior, e como essa questão afeta as decisões dos investidores estrangeiros. Você poderá conhecer alguns fundamentos e conceitos mais gerais na prática, bem como as políticas governamentais visando fazer com que um país cresça e se desenvolva de forma mais sustentável. Vamos tratar essas variáveis com maior generalidade e simplicidade no decorrer de nossa disciplina e, ao final da Competência sobre Macroeconomia, o aluno estará apto a entender os princípios, fundamentos e mecanismos usados pelos governos para controlar taxas de juros, câmbio, inflação, investimento, consumo, poupança etc. (Richard Froyen, 2001). 6 Técnico em Logística Cada país possui sua moeda própria, com valores diferentes, necessitando de um local para os compradores e vendedores negociarem suas trocas. Esse ponto de encontro é chamado de Mercado Cambial. As transações seriam desnecessárias se todos os países adotassem uma moeda única, o que seria muito difícil porque cada país possui características e ritmos próprios em termos de economia. A União Europeia, bloco econômico formado por 28 países, por exemplo, enfrenta muita dificuldade pela diversidade dos problemas econômicos. Esse bloco possui uma moeda única, o Euro. Você poderá entender como essas trocas funcionam, quem as coordena e regula no Mercado de Câmbio. Saiba mais sobre a União Europeia: http://europa.eu/in dex_pt.htm À medida que o Comércio Internacional começou a se desenvolver mais e mais, os países envolvidos começaram a sentir a necessidade de registrá-lo, de medir as transações realizadas entre si. Desta forma nasceram os primeiros registros que hoje chamamos de Balanço de Pagamentos. Assemelha-se a um balanço patrimonial (balanço contábil), onde são apresentados os Ativos (bens e direitos) e Passivos (exigibilidades e obrigações) de uma empresa. O primeiro país a inventariar (relacionar, enumerar) seu comércio internacional foi a Inglaterra, e o primeiro registro remonta ao ano de 1355. Nessa parte de nossa disciplina, entenderemos como se dá esse registro, sua estrutura, quem o padronizou e regula (Jayme Maia, 2004). Esperamos que, com essa abordagem mais simples e prática, você aluno, possa compreender mais a fundo as relações econômicas entre países e analisar, com mais clareza e juízo de valor, assuntos concernentes à Macroeconomia e a alguns dos seus fundamentos e conceitos mais gerais, a teoria e a prática das operações cambiais e interpretar um Balanço de Pagamentos. 7 Economia Internacional Competência 01 1. COMPETÊNCIA 01 | CONHECER OS FUNDAMENTOS DE MACROECONOMIA (CONCEITO DE JUROS, INFLAÇÃO, MOEDA, CÂMBIO ETC) O estudo da economia internacional é dividido em dois vastos segmentos: a análise do comércio internacional e da moeda internacional. O primeiro segmento estuda, principalmente, as transações reais da economia internacional, ou seja, as operações que envolvem o movimento físico de bens e serviços ou um compromisso tangível dos recursos econômicos (a promessa de compra e venda, a garantia de fornecimento de bens e serviços regido por acordos mútuos).O segundo segmento acima mencionado trata das transações financeiras, como compras estrangeiras de dólares norteamericanos. Na verdade não há uma divisão entre os dois segmentos, porque a maior parte do comércio internacional envolve as transações monetárias e muitos eventos monetários que, por sua vez, geram consequências importantes para o comércio. Então você pode perguntar, aluno, por que os países fazem comércio e quais os benefícios disso? Bem, comércio internacional promove um crescimento na produção mundial, permitindo a cada país especializar-se na produção do bem no qual apresenta vantagens comparativas. Um país tem vantagens na produção de um determinado bem, se o custo de oportunidade da produção deste produto, em termos comparativos a outros bens, é mais baixo que em outro país. Ou seja, o comércio entre dois países pode beneficiar a ambos, se cada um produzir os bens nos quais possui vantagens competitivas. Exemplos de vantagens comparativas: o Japão não tem terras aráveis, ou seja, para plantio (é um país muito pequeno, um arquipélago), mas produz tecnologias avançadas com o seu capital intelectual (esta é a vantagem comparativa dele); Brasil possui vastas terras para a produção agrícola (vantagem comparativa do Brasil); Estados Unidos produz computadores em larga escala, etc. (Paul Krugman, 2004). Na economia, tudo deve ser contabilizado e registrado de acordo com as relações já existentes e as possíveis de se realizarem. Ocorre que há um termo 8 Técnico em Logística Competência 01 chamado de custo de oportunidade que é representado pelo valor das oportunidades sacrificadas (não escolhidas), é o que se pode perder deixando de fazer algo, para fazer outra coisa. Exemplos de Custo de Oportunidade Custo de Oportunidade do Capital: Um empresário investe R$ 100 mil em um negócio que tem um lucro anual de R$ 5 mil. Se o empresário tivesse escolhido a alternativa de fazer uma aplicação bancária poderia ganhar algo em torno de 8% ao ano, ou seja, R$ 8 mil, esse, portanto, é o custo de oportunidade do capital. É abrir mão de fazer algo, para fazer outra coisa também vantajosa. Atualmente um dos grandes problemas do comércio internacional, são os subsídios (ajuda) que os governos fornecem aos seus produtos, visando protegê-los no mercado. Isso acontece muito, aluno! E o que pode parecer ajuda também pode ser muito prejudicial! Essa proteção provoca (gera) uma vantagem econômica diante dos produtos de países que não recebem também subsídios, que perdem em termos de competitividade nos mercados externos. Temos como exemplo a China, os produtores chineses de tecidos e roupas contam com 27 tipos de apoio diferentes, concedidos pelos governos federal, provinciais e municipais. A partir dos anos 2000, a China se tornou no principal parceiro comercial do Brasil, porém, além de comprar as commodities brasileiras, passou a vender mais para o nosso país. Esse cenário comercial entre China e Brasil começou a preocupar a indústria brasileira. A invasão de produtos importados foi iniciada após o lançamento do Plano Real em meados dos anos 1990, e intensificada nos anos 2000. A China é um país que produz com baixos custos tributários, e com baixo nível de barreiras comerciais em comparação ao Brasil. Com essa invasão dos produtos baratos da China, nos anos 2000, diversas empresas nacionais fecharam a partir do crescimento dessas importações chinesas. Não sei se era da época de você, mas nessa época havia lojas chamadas de R$ 1,99, ou seja, qualquer produto da loja era vendido por R$ 1,99 (um real e noventa e nove centavos de real), 9 Economia Internacional Competência 01 todos, sem exceção, produtos chineses. A falência da indústria nacional atingiu empresas de diferentes setores: peças, tecidos, brinquedos, ferramentas, eletroeletrônico e até de escovas de dente (higiene pessoal). E a falência de uma fábrica, gera perda de postos de trabalhos para técnicos e especialistas. Para alguns economistas dessa época pode ter havido um processo de desindustrialização. A compra de um produto chinês, por exemplo, gera emprego na China e não no Brasil. Mas esta escolha é determinada pelo preço do produto importado em detrimento (comparação) ao do nacional. Os Estados Unidos também realizam essa manobra em sua produção agrícola por meio de lei específica de subsídios à agricultura, por exemplo, além de outros subsídios. Ainda segundo Krugman (2004), a Macroeconomia é o ramo da teoria econômica que trata da evolução da economia como um todo, analisando como se determina e como se comportam os grandes agregados, isto é, renda e produtos nacionais, investimento, poupança, e consumo agregado (parte da renda destinada à aquisição de bens e serviços para a satisfação de necessidades imediatas), nível geral de preços, emprego e desemprego, estoque de moeda e taxas de juros, balanço de pagamentos e taxa de câmbio. Enquanto a Microeconomia estuda e analisa, em profundidade, o comportamento das unidades econômicas individuais, tais como famílias (indivíduos) e empresas/firmas (os agentes econômicos interagindo entre si), a fixação de preços nos mercados específicos, os efeitos de oligopólios em mercados individuais etc., a Macroeconomia trata os mercados de forma global. Ela (Macroeconomia) estuda, por exemplo, a oferta e a demanda por mão de obra, com a determinação de salários e o nível de emprego, mas não considera a qualificação, o sexo, a idade e a origem da força de trabalho (do empregado) etc.; quando estuda o nível da taxa de juros, não leva em consideração os vários tipos de aplicações financeiras existentes no mercado. Essa abstração tem, de certa forma um custo, pois os pormenores (as pequenas coisas) omitidos seriam muitas vezes importantes, se fossem 10 Técnico em Logística Competência 01 também analisados. Mas a vantagem é o estabelecimento das relações entre os grandes agregados para uma melhor compreensão de algumas interações mais relevantes da economia. Os agentes econômicos na economia são representados pelas famílias, empresas, governo e resto do mundo (países estrangeiros). As famílias compram produtos das empresas, e estas, por sua vez, ofertam seus produtos e também compram de outras empresas; as famílias ofertam (oferecem) sua mão de obra (seu trabalho) às empresas em troca de salários e, com essas rendas, compram às empresas bens e serviços; os governos também compram às empresas e também contratam mão de obra das famílias (indivíduos), ofertam (fornecem) serviços às famílias e empresas e recebem pagamento (renda) por essas atividades; o resto do mundo também negocia, no mercado internacional, bens, serviços e mão de obra, dos quais também auferem (recebem) rendas por essa movimentação. Quando a economia se diz fechada (quase não existe na atualidade), ele não negocia com o resto do mundo (o exterior); portanto, o agente econômico “resto do mundo”, só existe nas economias abertas (aquelas que realizam exportações e importações). Toda esta movimentação de rendas e de fatores produtivos é chamada de “Fluxo Circular de Renda”. O que veremos mais à frente. Segundo o Manual de Professores da USP (2011), oligopólio é uma estrutura de mercado que hoje prevalece no mundo ocidental (inclusive no Brasil), na indústria e no transporte aéreo e rodoviário, nos setores químico e siderúrgico e outros; caracterizase pela existência de reduzido número de produtores e vendedores fabricando bens que são substitutos próximos entre si. A teoria macroeconômica, propriamente dita, preocupa-se mais com as questões conjunturais de curto prazo. São considerados questões de curto prazo, o desemprego e a inflação, por exemplo. São consideradas questões estruturais, problemas como desenvolvimento econômico, distribuição de renda, globalização, progresso tecnológico, cujas análises extrapolam as questões meramente econômicas, envolvendo também questões políticas, históricas etc., que não são resolvidas no curto prazo (Vasconcellos, 2007). A palavra Macroeconomia vemdo grego “μακρύ-ς/ma΄kri-s” = grande, amplo, largo e “οικονομία /ikono΄mia” = lei ou administração do lar (Fonte: Wikipédia). 11 Economia Internacional Competência 01 A Teoria Macroeconômica ganhou impulso a partir da década de 30, com um economista britânico John Maynard Keynes, cujos ideais serviram de influência para a macroeconomia moderna, tanto na teoria quanto na prática. Ele defendeu uma política econômica de Estado intervencionista, através da qual os governos usariam medidas fiscais e monetárias para mitigar (reduzir) os efeitos adversos dos ciclos econômicos. Os economistas anteriores a ele acreditavam que as economias de mercado tinham a capacidade de, sem a interferência do governo, utilizarem de maneira eficiente todos os recursos disponíveis, isto é, produzirem em nível de pleno emprego desses recursos. No entanto, havia um grau de insatisfação com esses resultados que a macroeconomia oferecia, a existência de uma tendência automática ao pleno emprego e, consequentemente, inexistência de desemprego dos trabalhadores. Mas as evidências empíricas mostravam pessoas buscando emprego sem terem sucesso. O objetivo do keynesianismo era manter o crescimento da demanda em paridade com o aumento da capacidade produtiva da economia (a capacidade da oferta), de forma suficiente para garantir o pleno emprego, mas sem excesso, pois isto provocaria um aumento da inflação (muitagenteempregada e com renda para gastar, termina por consumir mais, podendo provocar uma pressão de aumento dos preços). Na década de 1970 o keynesianismo (Escola Keynesiana) sofreu severas críticas por parte de uma nova doutrina econômica: o monetarismo. Em quase todos os países industrializados o pleno emprego e o nível de vida crescente alcançados nos 25 anos posteriores à II Guerra Mundial foram seguidos pela inflação. Os keynesianos admitiram que seria difícil conciliar o pleno emprego e o controle da inflação, considerando, sobretudo, as negociações dos sindicatos com os empresários por aumentos salariais. Por esta razão, foram tomadas medidas que evitassem o crescimento dos salários e preços, mas a partir da década de 1960 os índices de inflação foram acelerarados de forma alarmante. Numa economia em pleno emprego há um equilíbrio no mercado de trabalho, refere-se ao pleno emprego de trabalhadores. É uma situação em que existe emprego para todos aqueles que queiram trabalhar e que aceitem o salário ofertado, situação ideal de emprego, onde a quantidade de postos de trabalho ofertados é igual à quantidade de trabalhadores que desejam trabalhar. Na vida real não é o que acontece, pois há também trabalhadores que só aceitam trabalhar por um salário mais alto que o de equilíbrio. Em linhas gerais, a situação de pleno emprego causaria inflação, pois supõe-se que, estando todos trabalhando e ganhando seus salários, ou seja, toda a 12 Técnico em Logística Competência 01 população em plena condição/disposição para comprar produtos e serviços; eles vão ao mercado à procura desses bens e serviços; com a constante demanda (procura) por bens e serviços, as empresas não teriam o tempo necessário para ajustar a sua produção (aumentar a fabricação de bens); e para aumentar produção, elas precisam melhorar seus euquipamentos, aumentar o espaço físico e contratar mais mão de obra, e isso representa aumento no custo da produção; esse aumento de custo produtivo pode ser repassado ao preço dos produtos/serviços, provocando a tão temida inflação; a inflação nada mais é do que o aumento generalizado dos preços. Keynes então mostrou que contrariamente aos resultados apontados, as economias capitalistas não tinham a capacidade de promover automaticamente o pleno emprego. Mas não vamos aqui falar de todas as teorias da macroeconomia, nossa proposta é tratá-la mais no âmbito internacional, falando de forma mais atual, simples e prática (Froyen, 2001). 1.1 Medidas da Atividade Econômica Quando se fala do conceito de Macroeconomia visamos o estudo dos agregados econômicos, de seus comportamentos e das relações que guardam entre si. Os agregados que têm recebido maior atenção dos estudiosos são o produto nacional (PN), que é o valor monetário de todos os bens finais produzidos na economia, num dado período de tempo, o nível de emprego e a taxa de crescimento dos preços. A Macroeconomia difere da Microeconomia no que diz respeito à pequena importância que dá às ocorrências internas desses agregados. Keynesianismo ou Escola Keynesiana é a teoria econômica consolidada pelo economista inglês John Mauard Keynes, que consiste numa ornanização político-econômica, oposta às concepções liberais, fundamentada na afirmação do Estado como agente indispensável de controle da economia, com objetivo de conduzir a um sistema de pleno emprego. 1.1.1 Fluxo Circular da Renda Podemos medir o desempenho de uma economia pelo produto nacional (PN), consumo de energia, pelo número de empresas que pediram falências e concordatas etc.; no entanto estes indicadores são muito utilizados como 13 Economia Internacional Competência 01 instrumentos auxiliares nessa medição. Há uma preferência por medir a economia pelo produto nacional (PN), pois é considerado mais completo, uma vez que podese contabilizar o valor total das transações realizadas com bens finais (produto que não sofre mais nenhuma alteração). Exemplo: o tecido, os botões e a linha, na fabricação de uma calça, vestido, saia etc., são considerados bens intermediários, o próprio produto já acabado (a calça, vestido e saia) é o bem final. É importante falar brevemente o que são bens em economia. Numa definição rápida, pode ser tudo aquilo capaz de atender a uma necessidade humana; são ativos reais utilizados na satisfação das necessidades humanas; são produzidos através da combinação dos fatores produtivos Terra (terras cultiváveis, florestas, minas, terrenos e edificações); Trabalho (mãodeobra); Capital (máquinas, equipamentos, instalações etc.); Capacidade Tecnológica (conhecimento e habilidades); Capacidade Empresarial (disposição do empresariado em investir). Sobre estes fatores, explicaremos melhor no decorrer da Competência 3 (Professores da USP, 2011). Os bens podem ser classificados conforme figura abaixo: Figura 1.1 - Os Bens em Economia Fonte: Professores da USP, 2011. Elaboração própria. 14 Técnico em Logística Competência 01 Para facilitar o entendimento, existe um modelo simplificado de economia, sem as transações com o governo e o exterior. Nesse modelo são utilizadas apenas as operações entre as empresas e as famílias (os indivíduos). É o que chamamos Fluxo Circular de Renda. As figuras 1.1 e 1.2 ilustram bem essas transações. A segunda figura tem a representação de um mercado mais completo, com a inclusão do governo e as transações com o exterior (resto do mundo). Se apenas existisse o fluxo circular de renda simpes, teríamos uma economia básica de apenas dois mercados, sendo o primeiro o mercado de bens e serviços, onde empresas vendem produtos e as famílias (indivíduos) compram com sua renda, observem as setas de despesas das famílias com a compra de bens e serviços; e o segundo mercado de fatores de produção, onde as famílias vendem sua mão de obra e recebem o pagamento em forma de salários, conforme a Figura 1.2. Nesse mercado de fatores produtivos, as empresas são as compradoras (adquirem a mão de obra). Figura 1.2 - Diagrama do Fluxo Circular de Renda (economia básica) Fonte: Mankiu, 2001. Elaboração própria. 15 Economia Internacional Competência 01 A figura acima representa o diagrama de um fluxo simplificado porque não estão inseridas as transações com o governo (G) e a interação com os países estrangeiros (EL). Representa também, um fluxo de uma economia fechada (que não fazem importações e exportações). No entanto, o mais comum é a relação das famílias, empresas e resto do mundo. O governo entra no fluxo real, quando as famílias, empresas e os países estrangeiros pagam impostos e tributos ao governo e este deve fornecer, em contrapartida, serviços públicos e ou serviço terceirizado contratando empresas privadas. Note, aluno, que as linhas brancas representam a circulação de rendas/moeda (salários, alugueis e lucros) e as linhas azuis, o fluxo de bens e serviços (Figura 1.2). Figura 1.3 - Fluxo Circular de Renda de uma economia aberta Fonte:https://www.google.com.br/search?q=fluxo+circular+de+renda&es_sm=122&source=lnms &tbm=isch&sa=X&ei=6TNQU91H6m_sQS4uYG4Dg&ved=0CAgQ_AUoAQ&biw=1280&bih=619#facrc=_&imgdii=_&imgrc=5AigeYbY5hdkM%253A%3BS1txyxQkd0hY_M%3Bhttp%253A%252F%252F3.bp.blogspot.com%25 2F-4aO0SJhxw1I%252FUEpjzMeb-uI%252FAAAAAAAAAFA%252Fru9RM5Rrnk%252Fs640%252F2.jpg%3Bhttp%253A%252F%252Fmarceloleiteprof.blogspot.com%252F201 2_09_01_archive.html%3B640%3B392) 1.1.2 Renda (RN) e Produto (PN) Já dissemos que produto nacional (PN) é o valor monetário de todos os bens finais produzidos na economia em dado período (geralmente um ano). Chama-se renda nacional (RN) o total de pagamentos feitos aos fatores de 16 Técnico em Logística Competência 01 produção que foram utilizados para a obtenção desse produto. Imaginemos comoexemplo uma economia composta de uma única empresa X. Para produzir, ela necessitará dos fatores trabalho, local para a sua instalação, máquinas, equipamentos, e capital de giro. Medindo essa economia, o resultado seria a soma de todos os gastos que nossa empresa X teve para produzir. Entretanto, nessa economia, não está incorporado um fenômeno fundamental do mundo real, o uso de insumos, intermediários no processo de produção. Um processo de produção de trigo e soja, por exemplo, exige o uso de sementes, fertilizantes, defensivos agrícolas etc. À medida que esses insumos não sejam contabilizados nem no mercado de bens finais e nem no mercado de fatores de produção, então não serão incluídos nos cálculos da renda e nem do produto nacional (PN). Resumindo: Renda Nacional (RN) é a soma dos rendimentos pagos às famílias, que são proprietárias dos fatores de produção, pela utilização de seus serviços produtivos. RN = salários (w) + juros (j) + aluguéis (a) + lucros (l) Produto Nacional (PN) é o valor de todos os bens e serviços finais produzidos em determinado período de tempo, não se considerando os bens e serviços intermediários (o PN pode ser medido por mês e ano). 1.1.3 Valor Adicionado (VA) Da necessidade de se excluir essas transações intermediárias da contabilidade do produto e renda, surge então o conceito de valor adicionado. Em termos macroeconômicos, é o valor dos bens produzidos por uma economia, depois de deduzidos os custos dos insumos adquiridos de terceiros (matérias-primas, serviços, bens intermediários), utilizados na produção. As transações intermediárias são retiradas porque no preço dos produtos finais já está incluído o que foi utilizado na sua fabricação. Se fôssemos registrar os bens 17 Economia Internacional Competência 01 finais mais os bens intermediários, haveria uma dupla contabilização (as matérias-primas entrariam no cáculo do produto duas vezes). Valor adicionadop = vendasp ou produção – custo das matérias-primas produzidasp Sendo: P= no período Você deve estar se perguntando para que serve essa variável! De acordo com o artigo da USP, entitulado “A Eficácia Informativa da Demonstração do Valor Adicionado”, publicado na Revista Contabilidade & Finanças (2003), o valor adicionado é uma demonstração contábil-financeira e tem sua importância para a aplicação em estudos macroeconômicos, é uma excelente fonte de informações sobre a geração e distribuição da renda das empresas. Tem sua importância também como um bom instrumento de análise para a tomada de decisão e é usado para o cálculo da renda nacional (RN) e do PIB (Produto Interno Bruto). Apesar de o valor adicionado (VA) ser um tema que já se encontra relativamente maduro na literatura contábil-financeira, ainda não se despertou para a sua utilidade como fonte de informação para o processo de análise econômica, finaceira e social das entidades; entretanto, vem crescendo o interesse para a explicação econômica e financeira a partir das informações contidas nessa demonstração, tanto por parte dos contadores como dos analistas financeiros e economistas. VALOR ADICIONADO: Consiste no cálculo do que cada ramo da atividade adicionou ao valor do produto final, em cada etapa do processo produtivo. VA = VBP - consumo de produtos intermediários; Sendo VBP = valor bruto de produção 18 Técnico em Logística Competência 01 1.1.4 O Conceito de Despesa Nacional (DN) Despesa Nacional é o gasto dos agentes econômicos com o Produto Nacional. Esse dado mostra quais são os setores compradores do produto nacional. Apresenta o mesmo valor do produto nacional, só que medido agora pelo lado de quem compra o produto, e não de quem vende. Produto Nacional (PN) = Renda Nacional (RN) = Despesa Nacional (DN) Dizemos que são iguais porque quando algum produto é fabricado, este tem um valor, paga-se pela sua compra (o comprador) e o vendedor recebe. A Despesa Nacional (DN) é dada pela despesa com a venda do produto final, que são os bens de consumo. É o valor das despesas dos vários agentes na compra de bens e serviços finais. Se adicionarmos as despesas com os bens de capital, os gastos do setor público e as despesas líquidas do setor externo (exportações – importações), teremos: Despesa Nacional = Despesa de Consumo (despesas das famílias com bens de consumo) + Despesa de bens de Capital (despesas com investimentos das empresas) + Despesa de Governo (gastos do governo) + Despesas líquidas do setor externo (gastos do setor externo) 1.1.5 Formação de Capital: Poupança (S) e Investimento (I) Levemos em consideração agora, que as famílias não gastam toda sua renda em bens de consumo (elas também poupam para o futuro), e as empresa não produzem apenas bens de consumo, mas também bens de capital, que elevarão a capacidade produtiva da economia. Então devemos passar a estudar também os conceitos de três variáveis: a poupança (S), investimentos (I) e depreciação (todos agregados). 19 Economia Internacional Competência 01 POUPANÇA (S): É a parcela da RN não consumida no período, isto é, da renda gerada (salários, juros, aluguéis, lucros), onde parte não é gasta em bens de consumo, ou seja, de toda a renda que as famílias (indivíduos) não gastam consumindo, é considerado poupança agregada (não importa o que elas farão com esse dinheiro não gasto). Poupança é o ato de não consumir no presente (no período analisado), deixando para consumir no futuro (depois). Poupança agregada (S) (S de saving em inglês) É a parcela da Renda Nacional (RN) que não é consumida no período: S = RN – C Onde C = consumo agregado S = poupança agregada RN = Renda Nacional Investimento agregado(I) É o gasto com bens que foram produzidos, mas não foram consumidos no período, que aumenta a capacidade produtiva da economia para períodos seguintes. É chamado também de Taxa de Acumulação de Capital e é composto por investimento em bens de capital (máqinas e imóveis) e pela variação de estoques de produtos que não são consumidos. Os bens de capital são chamados, nas Contas Nacionais, de Formação Bruta de Capital Fixo. Investimento (I) = Investimento em Bens de Capital + Variação de Estoques IMPORTANTE, aluno, não confundir como Investimento, bens de capital com “investimento em ações”, por exemplo. Quando uma empresa faz a opção de Investir em ações, essa transação não é considerada um investimento no 20 Técnico em Logística Competência 01 sentido econômico. Este investimento em ações é apenas uma transferência financeira, não aumenta a capacidade produtiva da empresa. Mas (ATENÇÃO), quando a empresa passa a utilizar parte desse investimento para a compra de equipamentos, por exemplo, aí sim temos um investimento no sentido macroeconômico (trata-se aqui da compra do equipamento e não da transação na bolsa). Observação: O investimento em ativos (máquinas, equipamentos, imóveis) de segunda mão (usados), não entra no cálculo do investimento agregado porque esses bens já foram computados no passado. IMPORTANTE, não se pode falar de “desinvestimento” na contabilização dessa variável macroeconômica. INVESTIMENTO (I): É o gasto em bens que representam aumento da capacidade produtiva da economia, isto é, da capacidade de gerar rendas futuras; é o gasto em bens produzidos, que não foram consumidos no próprio período e que serão utilizados para consumo futuro. 1.1.6 Outras Medidas Agregadas Existe ainda uma série de outras medidas derivadas dos mesmos conceitos, que já vimos e que também são muito utilizadas. Uma delas é o produto nacional bruto (PNB). Então você pode querer me perguntar “qual é a diferença entre o produto nacional bruto e o produto nacional líquido”? Precisamos olhar agora a questão da depreciação. De um total de bens finais produzidos pela economia, num determinado período, parte desses bens refere-se a máquinas e equipamentos produzidos, e que vão incorporar-se ao estoque de capital da economia. Só que parte desses equipamentos irá repor a parcela de equipamentos desgatada no período anterior ao processo produtivo. O valor dessa parcela de equipamentos e máquinas desgatada pelo processo de produção no período anterior é chamado de depreciação. Então 21 Economia Internacional Competência 01 devemos contabilizar o total geral de bens e serviços produzidos numa economia, dado um período de tempo, abatendo a depreciação. Desta forma o produto nacional bruto considera o total geral de bens e serviços finais produzidos pela economia, menos os equipamentos e máquinas de reposição para os já desgastados após o processo produtivo. Então temos: PNB = PNL + Depreciaçãoou PNL = PNB – depreciação DEPRECIAÇÃO: É o desgaste de capital físico por um período determinado, ou seja, é o custo dos equipamentos (capital fisico) quando é utilizado na produção das empresas. Os bens móveis, imóveis e semoventes (bovinos, ovinos, suínos, caprinos, equinos, etc., que constituem patrimônio), estão sujeitos à depreciação, conforme a expectativa de vida útil de cada bem. Exemplo simples: Uma empresa compra uma empilhadeira por R$ 50 mil. Se a taxa de depreciação é de 10 % ao ano, qual o valor do custo de depreciação e em quanto tempo ele deverá trocar esse equipamento? Resposta: 10% de R$ 50 mil é R$ 5 mil/ano (por ano), então em 10 anos o valor contábil da empilhadeira (deste bem) é 0 (zero). Falemos também do produto interno, que é diferente do produto nacional. Alguns fatores de produção utilizados no processo são de propriedade de residentes no exterior, da mesma forma alguns residentes no país têm fatores de produção sendo utilizados em outros países. Como levar esse fato em consideração nas medidas de renda e de produto? A solução é abrir mais uma conta de produto (produto interno), na qual apenas se considera o pagamento a fatores de produção de residentes. Então temos: 22 Técnico em Logística Competência 01 PI (porduto interno) = PN + Renda líquida enviada ao exterior (é igual renda enviada para pagamento de fatores de propriedade de não residentes menos a renda recebida do exterior para pagamento de fatores de produção de residentes) Em outras palavras, o produto nacional mais a renda enviada para pagamento de fatores de propriedade de não residentes, menos a renda recebida do exterior para pagamento de fatores de produção de residentes, será igual ao produto interno. Em termos de produto bruto temos: PIB (Produto Interno Bruto) = PNB + Renda líquida enviada ao exterior Outra medida é o produto nacional a preços de mercado ou o produto nacional a custos dos fatores de produção. Nas diversas etapas de comecialização há cobrança de diversos impostos indiretos (IPI e ICMS), tanto dos produtos intermediários como dos produtos finais. O governo permite que a cada etapa da produção ocorram abatimentos relativos aos impostos indiretos pagos sobre as matérias-primas utilizadas. Por esta razão, quanto chegamos aos produtos finais, seus preços serão não apenas o valor adicionado nos diversos estágios de produção, mas também o total de impostos indiretos pagos e diretos não abatidos até a obtenção desse produto. Portando, para calcular o produto nacional a preços de fatores, é preciso incluir os impostos pagos em cada estágio do proceso produtivo. Podemos definir o produto nacional a custos de mercado como sendo o produto nacional a custo de fatores acrescido dos impostos indiretos. PNpm (produto nacional a preço de mercado) = PNcf (produto nacional a custo dos fatores) + impostos indiretos 23 Economia Internacional Competência 01 Observação¹: PN a custo de fatores (PNcf): é o PN medido a partir dos valores que refletem os custos de produção, o que se gasta com os fatores, a remuneração aos fatores. Observação²: PN a preços de mercado (PNpm): é o PN medido a partir dos valores transacionados no mercado (ou seja, mede o preço pago pelo consumidor final). Uma última medida de larga utilização em economia é a da Renda Disponível do Setor Privado. É o resultado da renda nacional, deduzidas as contribuições compulsórias que o Setor Público faz do Setor Privado (os impostos diretos como: o Imposto de renda de pessoas físicas, contribuições para o INSS etc) e acrescidas de todas as transferências que o Setor Público faz para o Setor Privado (pagamentos de aposentadorias, subsídios, etc.). Essa medida mostra quanto o Setor Privado tem a seu dispor, para consumo e poupança, como resultado da atividade econômica do período analisado (Equipe de Professores da USP, 2011). 1.2 O Cálculo do Produto Interno Bruto (PIB) ou Renda Nacional (RN) Se fôssemos julgar o sucesso de uma pessoa, observaríamos em primeiro lugar sua renda. Pessoas com uma renda mais elevada desfrutam de um padrão de vida mais alto, possui boa moradia, melhor cuidado com a saúde, possui carros luxuosos, férias mais opulentas e outros benefícios a mais. A mesma lógica se aplica à economia nacional, ao julgarmos o sucesso de uma economia, é natural observarmos a renda total gerada. Essa é a natureza principal do Produto Interno Bruto (PIB) de uma nação, esse é um dos motivos de estudarmos esta variável macroeconômica. O PIB mede duas coisas simultaneamente: a renda total gerada e a despesa total com os bens e serviços produzidos na economia. A razão pela qual o PIB pode medir as duas variáveis ao mesmo tempo é que as duas contas são iguais, como já foi dito antes. Para a economia como um todo, a renda deve 24 Técnico em Logística Competência 01 ser igual à despesa (estamos tratando de uma igualdade). A renda ser igual à despesa só é possivel porque sempre temos duas partes nas transações comerciais: um comprador e um vendedor. Digamos que João é contratado para lavar os bancos dos carros de uma residência. Esse serviço custa R$ 1.000,00, então João é o vendedor do serviço e a residência é a compradora dos serviços do João. O Diagrama do Fluxo Circular da Renda demonstra bem essa questão porque quando a renda está saindo para pagamento de algum fator de produção, ela ao mesmo tempo está entrando em algum lugar. Então uma despesa em certo momento da transação corresponde a uma renda para a outra parte. Mostramos o significado do PIB, agora daremos uma definição: “Produto Interno Bruto (PIB) é o valor de mercado de todos os bens e serviços finais produzidos em um país em dado período” (Mankiw, 2001). Parece simples definição, mas há detalhes sutis, a saber: você já deve ter ouvido o adágio (provérbio popular com uma mensagem de teor moral) que diz: “não se somam maçãs com laranjas”. Mas o PIB faz exatamente isso, soma vários tipos de bens diferentes em uma única medida de valor da atividade econômica. Medem o valor que as pessoas estão dispostas a gastar de suas rendas através do preço do mercado. Então quando se diz “valor de mercado de todos os bens”, na definição significa exatamente isso. Portanto se o valor de uma maçã for o dobro do valor da laranja, a contribuição de uma maçã para o PIB será sempre, também, o dobro da contribuição da laranja. O PIB também iclui itens produzidos na economia e vendidos legalmente no mercado. Ele mede o valor de mercado de todos os produtos de uma economia: não só laranjas e maçãs, mas bananas, abacaxis, livros, mensalidades escolares, serviços de saúde, seguros, serviços de restaurantes, etc. O governo inclui alugueis e até imóveis próprios, estimando o valor do aluguel dos mesmos (partem do princípio de que o proprietário, que mora e 25 Economia Internacional Competência 01 não paga aluguel, paga esse aluguel a si próprio). Mas há alguns produtos que são excluídos do PIB porque sua medição é extremamente difícil. São os itens produzidos e vendidos ilicitamente, fazem parte as drogas ilegais e produtos contrabandeados, por exemplo. Excluem-se também os itens produzidos e consumidos nos lares, agricultura de subsistência, que não entram no mercado de consumo. Exemplo: as frutas e verduras compradas nos mercadinhos entram no PIB, mas as plantadas em um pomar e/ou horta domésticas, não entram. Algumas exclusões podem levar a resultados confusos, paradoxais porque, por exemplo, se um eletricista formalizado é contratado por uma dona de casa, e ela o paga pelos seus serviços, esse valor entra no cálculo do PIB, mas se a dona de casa se casa com esse profissional e não paga mais pelos serviços dele, esse valor já não entra mais no PIB (não está mais sendo vendido no mercado). O PIB inclui tanto os bens tangíveis (alimentos, móveis, carros, eletrônicos, etc.) quanto os serviços, que são intangíveis (faxinas, corte de cabelo, consultas médicas, etc.). Quando se compra um DVD (bem tangível) de um cantor, o valor pago entra no PIB, assim como o valor do ingresso para assistir ao show (bem intangível) do mesmo cantor, também. Quando a Ondunorte (fábrica de papel sediada em Recife) produz o papel para caixas de embalagens dos fornecedores de supermercados, por exemplo, o papel é um bem intermediário e a caixa é um bem final. O PIB só inclui os bens finais, a razão é que a riqueza dos bens intermediários já está incluída/registrada no valor dos bens finais. Se somássemos o valor do papel mais o valor da caixa, haveria uma dupla contagem e levaria a um cálculo incorreto. No entanto, quando um bem que é qualificado como intermediário, mas for produzido para ser vendido futuramente, ou seja, se ele for considerado estoque hoje, então o valor referente ao investimento desse estoque entra no PIB e depois quando esse estoque é usado/vendido pela empresa, o valor será negativo no calculo do PIB. 26 Técnico em Logística Competência 01 O PIB inclui bens e serviços produzidos no presente, não inclui itens produzidos no passado, então quando a FIAT, por exemplo, vende um carro novo (0 km), o valor desse carro entra no PIB, mas a venda dele depois como carro usado, não entra. Outra característica do cálculo do PIB é que mede os valores da produção gerada dentro dos limites de um país. Então, por exemplo, quando um cidadão italiano trabalha temporariamente no Canadá, sua produção é parte do PIB do Canadá. Portanto, todo item produzido internamente, é incluído no PIB dessa nação, sem considerar a nacionalidade do produtor. O PIB mede o valor da produção em um intervalo de tempo específico, geralmente de um ano ou de um trimestre, que vai medir o fluxo de renda e de despesa da economia durante esses intervalos, dessa forma, é possível perceber que a economia produz mais bens e serviços em algumas épocas do ano do que em outras. Abaixo podemos ver uma tabela real, atualizada, do PIB dos estados brasileiros e sua participação percentual no PIB Nacional (quanto cada valor representa no PIB brasileiro). O PIB mais recente foi calculado em 2011, podemos encontrar dados mais recentes, porém são apenas estimados (baseado em aproximações). Figura 1.4 - PIB dos estados preços de mercado e sua participação (%) 27 Economia Internacional Competência 01 A partir dessa tabela podemos obter os valores do PIB de cada estado e o quanto ele representa no PIB brasileiro. Por exemplo, o PIB de Pernambuco representa 2,5% do PIB nacional. A maior participação percentual (%) é a do estado de São Paulo, 32,6% de toda riqueza (PIB) do Brasil. 1.2.1 Os Elementos do PIB (Renda Nacional) Para entender como a economia está usando seus recursos escassos, os economistas em geral se interessam em estudar a composição do PIB, segundo os vários tipos de despesas. Chamaremos o PIB de Y, e está dividido em quatro componentes: consumo (C), investimento (I), aquisições do governo (G) e exportações líquidas (EL). Assim temos: Y = C + I + G + EL Onde:EL = Exportações – Importações Portanto: Y = C + I + G + (X – M) Consumo (C) é a despesa das famílias com bens e serviços; investimento (I) é a aquisição de capital, estoques e construção; aquisições do governo (G) são as compras de bens e serviços dos governos federal, estadual e local (Ex.: compra do submarino e dos caças Gripen NG, pela presidente Dilma Rousseff); as exportações líquidas (EL) são iguais às compras por parte de estrangeiros de bens produzidos internamente (exportação) menos as compras internas. As importações (M) representam saídas de capitais (divisas) do país, compras de bens e serviços estrangeiros, por este motivo entram no cáculo do PIB com sinal negativo. Então teremos sempre: Y = C + I + G + ELquanso X > M ou Y = C + I + G – ELquando X < M 28 Técnico em Logística Competência 01 I. O Consumo Nacional de Equilíbrio (C) De acordo com o Manual de Economia de Professores da USP (2011), imaginemos uma economia bem simples, na qual se consome tudo o que é produzido (Y = C). Não existe investimento (I), neste caso não há formação de estoque, portanto o capital produzido é indepreciável, não existe nem governo (G) e nem comércio exterior (que são as exportações e importções). Podemos acreditar então que o resultado dessa economia está apenas na decisão das famílias de consumirem ou não. Portanto a renda de equilíbrio somente será obtida se as depesas de consumo programadas, por parte das famílias, coincidirem com o valor da produção programada pelos empresários. Então o que determinará o consumo será a renda das famílias. De forma genérica, a função consumo então pode ser assim escrita: C = C(y) onde C é consumo e y é a renda das famílas. O consumo (C) está em função da renda (y) C = C (y renda das famílias) onde consumo (C) estará em função da renda (y) das famílias Ex.: Maria decide comprar um tablet e tem para gastar nessa compra apenas R$ 2.000,00 (y). Então:Se C = C (y) II. C (consumo) = C (2.000) (a renda disponível para gastar) O Investimento (I) Antes de introduzirmos a repercussão do segundo componente do PIB, o investimento (I), vamos definir a poupança da coletividade. Como já falamos em item anterior, a poupança nacional é a parcela da renda nacional não gasta em bens e serviços de consumo produzidos na economia. Por força dessa definição, da mesma forma que o consumo, a renda é o fator que, 29 Economia Internacional Competência 01 isoladamente, tem maior influência na determinação do nível de poupança da coletividade. Portanto a função poupança pode ser obtida por meio da renda menos a função consumo: S = y – C (as pessoas poupam a parte da renda que não usam para consumir, por este motivo a igualdade) Pensemos um pouco: digamos agora aluno, que o nível de renda gerado na economia seja y, o consumo desejado C e o fluxo de renda não gasta em consumo, ou seja, a poupança programada pela coletividade seja igual a S. Se apenas parte da produção for consumida, isto siginifica que a diferença não consumida será estocada. Como os empresários já possuem mesmo os custos com essa produção, já assumiram esses custos no momento de decidir produzir, terão perdas e para que honrem seus compromissos financeiros, deverão, então, recorrer aos empréstimos, no valor correspondente ao volume da poupança realizada pela coletividade, ou seja, o que a coletividade deixa de consumir para poder poupar é exatamente o valor do estoque do produto que deixou de ser vendido pelos empresários. Se o empresário usa esse valor das poupanças tomado como empréstimos, podemos dizer então que o investimento (I) realizado pelos empresários na economia é igual à poupança (S). Se os empresários, por sua vez, desejarem reduzir o investimento em estoque, até o nível de renda em que as pessoas irão consumir, haverá queda da produção, e com a redução dos níveis de produção, a renda e o emprego da economia se contraem (pág. 346 Manual de Economia, 2011). Com essa conclusão, podemos dizer que o nível de investimento (I) depende da quantidade da renda poupada das famílias. A parte poupada equivale à parcela da produção (do investimento) que deixou de ser realizado, logo: S=I 30 Técnico em Logística Competência 01 Se o nível de renda (Y) depende das varíaveis C + I + G + EL, logo, se qualquer dessas variáveis forem alteradas, haverá mudança na renda (Y). Claro que essa igualdade (S = I) poderia não ocorrer, basta que os investidores desejem fazer um investimento menor, então o nível de equilíbrio estável da renda nacional somente aconteceria quando os valores programados fossem iguais aos realizados. Nas economias modernas a probabilidade de haver uma coincidência de programações é bem reduzida, pois os agentes econômicos que poupam (indivíduos) são diferentes dos que investem (empresas), mesmo levando em consideração o fato de serem bastante expressivas as poupanças realizadas pelas empresas na forma de lucros não distribuídos. A título de informação, existe um coeficiente (número) associado à variação dos investimentos que determina a magnitude de variação no nível da renda nacional (Y). É chamado de Multiplicador de Investimentos (k) e equivale à expressão: Podemos verificar que, quanto maior a PMgC (propensão marginal a consumir) ou menor a PMgS (propensão marginal a poupar), maior será o multiplicador. Essas propensões indicam a disposição das famílias em consumir (PMgC) ou a poupar (PMgS). Ex.: Uma empresa resolve investir (I) $ 100.000,00 na fabricação de 10 contêiners para cargas de grande porte. O multiplicador serve para calcular o impacto de um investimento de valor ‘X’ (neste exemplo é $ 100.000,00), em uma economia. Considerando que os recebedores de renda adicional possuam uma PMgC = 0,8, veremos que estes primeiros fornecedores gastarão 80% dos $ 100.000,00 ($ 80.000,00) em bens de consumo (lâminas 31 Economia Internacional Competência 01 de ferro, solda, etc.). Os $ 80.000,00 recebidos por outros fornecedores, também gastarão, por sua vez, na mesma propensão, 80% dos $ 80.000,00. Desses $ 80.000,00, 80% ($ 64.000,00) também serão gastos no mercado com compra de materiais para a execução do trabalho e assim por diante. Então o investimento de $ 100.000,00 gerou $ 500.000,00 nessa economia (efeito multiplicador): III. Os Gastos do Governo As despesas de investimentos do governo como: construir estradas, portos, esgotos, irrigação, parques, ruas, bibliotecas públicas, entre outros, constituem-se no terceiro elemento da renda nacional (PIB). Acréscimos nestes gastos governamentais possuem o mesmo efeito multiplicador dos investimentos privados, expandindo o nível de renda nacional. Entretando os gastos do governo (G) são, predominantemente, financiados pela arrecadação de tributos (T). A partir de agora os indíduos da coletividade farão suas parcelas de consumo baseados somente no montante de renda que lhes chega às mãos, ou seja, sua renda após o pagamento dos tributos governamentais (T). Teremos então: C = C (y – T) IV. A Demanda de Exportação (X) e de Importação (I) Ao abrirmos a nossa economia para o comércio exterior, o modelo macroeconômico de curto prazo se completa, bastando incorporarmos à demanda agregada as despesas com a exportação (X) e a importação (M) de bens e serviços. Não podemos esquecer que as operações de importação têm um efeito negativo sobre a renda de um país. Essas movimentações 32 Técnico em Logística Competência 01 (exportação e importação) com o resto do mundo (os países estrangeiros) são registradas na conta de Transações Correntes / Balança Comercial do Balanço de Pagamentos. Fenômeno contrário se verifica quando exportamos produtos ao exterior, pois o efeito multiplicador provoca impactos muito positivos para a economia. 1.3 Sistema Monetário (Moeda) Fontes: http://veja4.abrilm.com.br/assets/images/2010/7/12081/dolares-saida-cortada-size-598.jpg http://toquenobrasil-uploads.s3.amazonaws.com/wp-content/uploads/2011/07/ESCAMBO_SELO_CINZA4e2db576013b6.jpg https://encryptedtbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQbWrKtKAqWXyvwy5PGQYlWbt1NY6BVhLCzEHw5jOvbcKAjTgAU 1.3.1 Considerações Em uma Economia que dependia do escambo (prática ancestral de se realizar uma troca comercial sem o envolvimento de moeda ou objeto que se passe por esta, e sem equivalência de valor), havia muita dificuldade para alocar (distribuir) eficientemente seus recursos escassos; diz-se então que o comércio teria que exigir a dupla coincidência de desejos, mas à medida que o dinheiro flui de pessoa para pessoa numa economia, ocorre a facilitação da produção e do comércio, permitindo assim que cada pessoa se especialize naquilo que tem mais aptidão, aumentando o padrão de vida de toda a coletividade. Demanda Agregada são as despesas da coletividade (das famílias) em bens e serviços de consumo (C), investimento (I), despesas governamentais (G) e exportações (X). Para obter o resultado, é necessário subtrair o montante total das importações (M). A demanda agregada depende da quantidade de moeda em poder dos agentes econômicos (famílias, empresas, governo e resto do mundo), das despesas e impostos a que estão sujeitos e de outras variáveis. Conceito de Moeda É o conjunto de ativos ou dinheiro de uma economia, que as pessoas usam em geral para comprar bens e serviços de outras pessoas. 33 Economia Internacional Competência 01 Origens e Conceito de Moeda É difícil imaginar o funcionamento de um sistema econômico sem instrumentos monetários. Os nômades sobreviviam sob padrões muito simples de atividade econômica. Estes grupos não haviam conhecido a moeda e recorriam a trocas diretas de mercadorias (escambo). Satisfaziam apenas às necessidades básicas de alimentação e proteção (através da exploração da natureza), isso explica o nomadismo. A alimentação era a caça, a pesca, a coleta de frutos selvagens; para a proteção utilizavam cavernas e peles de animais selvagens, tanto para se protegerem dos animais quanto das hostilidades do tempo e do clima; desenvolveram primitivo processo de conservação dos produtos extraídos da natureza – acumulavam excedente para a garantia de suprimento – e o que sobrava, faziam as trocas, primeiramente com o próprio grupo e, depois, em grupos com os quais passavam a manter contato. Fontes: https://setimodia.files.wordpress.com/2012/02/homem-das-cavernas.jpg https://encryptedtbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTN6ANPBnAR1nLpViBoqpisThjCRGfucv6oeLfQiEDt3OkGVeDY http://2.bp.blogspot.com/-Qc7JXSgk8Bs/T4s9L5zyHAI/AAAAAAAAArI/a8MEbJZq2s/s400/HOMEM+PRIMITIVO.jpg http://2.bp.blogspot.com/_VdVhcxzW91s/TU8AcnbDVoI/AAAAAAAAAEg/jmMS_-Pzws4/s400/neander.jpg Dada à pequena diversidade dos produtos disponíveis, era mais fácil ocorrer à dupla coincidência de desejos e às trocas (escambo); era uma característica típica de sociedades primitivas, sem intervenção de instrumentos monetários. Esse relacionamento econômico primitivo ruiu com a primeira revolução agrícola, quando alguns grupos se fixaram em determinadas áreas: os deltas do rio Nilo, Tigre e Eufrates. Esses grupos começaram a praticar a agricultura organizada e a domesticação de animais. 34 Técnico em Logística Competência 01 Mas aí a vida social começou a ficar mais complexa com o surgimento de outras atividades e a diversificação da produção. Novas funções passaram a ser definidas com a criação de novos instrumentos de trabalho e utensílios exigidos pelas novas formas de produção. Começou a surgir a especialização e divisão do trabalho (ainda em estágio primitivo), e as novas funções como: guerreiros, agricultores, pastores, artesãos, sacerdotes. Fontes: https://encryptedtbn3.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQUeMZ9S7_EEh6DeLB8B12_ohb4w8nPboazsWR8nN5Fp49bMsA6 http://www.midiagospel.com.br/http://www.midiagospel.com.br/images/stories/geral/biblicos/davi/davie-as-ovelhas.jpg http://www2.uol.com.br/historiaviva/noticias/img/castelo_medieval_maior.jpg http://www.aascj.org.br/home/wp-content/uploads/2013/06/Escola_Medieval.jpg O processo de divisão do trabalho provocou grandes mudanças na vida econômica: a atividade econômica tornou-se mais complexa; o número de bens e serviços, agora exigidos para a satisfação das necessidades, aumentou; a dupla coincidência de desejos, agora, torna-se mais difícil e as trocas passam a ser de fundamental importância para a sobrevivência; o escambo foi tendo que dar lugar a um processo indireto de pagamento; a aceitação de determinados produtos como pagamento das transações econômicas, dia a dia foi ficando mais intensa, configurando a origem da moeda; os demais bens, a partir daí, passam a ser medidos com relação aos produtos-padrão; esses produtos passam de aceitação geral no ambiente social (são as primitivas expressões monetárias). Um produto só se converte em um ativo monetário se os membros do grupo o aceitarem em pagamento nas transações que se efetivam. 35 Economia Internacional Competência 01 1.3.2 Características da Moeda a. Indestrutibilidade e Inalterabilidade: a moeda deve ser suficientemente durável, no sentido de que não se destrua ou se deteriore, à medida que os agentes econômicos a manuseiem na intermediação de troca; b. Homogeneidade: duas unidades monetárias distintas, de igual valor, devem ser, rigorosamente, iguais para que a moeda possa exercer suas funções essenciais; c. Divisibilidade: a moeda deve possuir múltiplos e submúltiplos em quantidade e variedade, que tanto as transações de grande porte quanto as de pequena possam realizar-se sem dificuldades (devem existir cédulas e moedas de diversos valores); d. Transferibilidade: diz respeito à facilidade com que deve processar-se sua transferência de um possuidor a outro; Exemplo: A marca feita no gado nas fazendas, depois de certo tempo, torna as transações com essa moeda-mercadoria complicadas, pois o gado fica com muitas marcas (marca de cada fazenda), dificultando a identificação do proprietário. e. Facilidade de manuseio e transporte: o manuseio e o transporte da moeda não podem prejudicar nem dificultar a sua utilização. 1.3.3 Funções da Moeda a. A Moeda como meio (instrumento) de trocas: permite a superação da economia de escambo e a passagem à economia monetária. A descoberta e a aceitação generalizada de um instrumento de trocas facilita o processo da produção e distribuição: 36 Técnico em Logística Competência 01 I. Torna possível um maior grau de especialização e de divisão social do trabalho; II. Possibilita sensível redução do tempo empregado em transações; III. Eliminam-se os inconvenientes decorrentes da necessidade da dupla coincidência de desejos exigida nas economias de escambo. b. A Moeda como unidade de conta (medida de valor): serve para comparar o valor de diversas mercadorias; instrumento que as pessoas usam para anunciar preços e registrar débitos: I. Racionaliza e aumenta o número de informações econômicas via sistema de preços; II. Torna possível a contabilização da atividade econômica e a administração racional das unidades de produção; III. Permite a construção de sistemas de contabilidade social para cálculo dos valores agregados da produção. c. A Moeda como reserva de valor: representa um direito que seu possuidor tem sobre as mercadorias; seu possuidor não precisa gastá-la imediatamente, podendo guardá-la para uso posterior. A moeda é a liquidez por excelência (ela é a própria liquidez). As duas principais razões que levam as pessoas a preferirem moeda como reserva de valor: I. Sua pronta e imediata aceitação quando da decisão em convertê-la em outros ativos, financeiros ou reais; 37 Economia Internacional Competência 01 II. A imprevisibilidade do valor futuro de outros ativos, sobretudo os não financeiros. Ex. Automóveis e Imóveis. d. A Moeda como poder liberatório (função liberatória): é o poder de saldar dívidas, de liquidar débitos. Livra seu detentor de uma situação passiva. Há um forte vínculo entre a função liberatória da moeda e o grau em que esta é aceita pela sociedade. e. A Moeda como padrão de pagamentos diferidos (adiados): capacidade de facilitar a distribuição de pagamentos ao longo do tempo (para a concessão de crédito ou de diferentes formas de adiantamentos). f. A Moeda como instrumento de poder: instrumento de poder político, econômico e social. É uma função um tanto perniciosa, que não pode ser negligenciada. Ela existe à medida que se admite a moeda como um título de crédito. 1.3.4 Tipos de Moeda a. Moeda-mercadoria: toma a forma de um bem com valor intrínseco. Ex.: O ouro, o gado, etc. Quando uma economia usa o ouro como moeda (ou usa papel-moeda que pode ser convertido em ouro), diz-se que opera no padrão-ouro. b. Moeda de curso forçado: moeda sem valor intrínseco, que é usado como moeda por determinação do governo. 1.3.5 Os Motivos da Demanda por Moeda a. Demanda para transações: como os recebimentos e pagamentos são sincronizados, as pessoas precisam reter moeda para pagar suas despesas. 38 Técnico em Logística Competência 01 b. Demanda por precaução: refere-se àquela parte da renda das pessoas retida para fazer frente a imprevistos. c. Demanda para especulação: ocorre quando aquela parcela da renda das pessoas que poderia ser aplicada em títulos fica retida pelo fato de a taxa de juros está baixa para comprar títulos. As notas emitidas pelo governo podem ser usadas porque é o próprio governo quem a decreta, é o governo que determina sua utilização como meio liberatório para todas as dívidas públicas e privadas. 1.3.6 Intermediários Financeiros Todo empreendimento tem momentos deficitários (despesas maiores do que as receitas) e superavitários (receitas maiores que as despesas), isso decorre do seu ciclo de produção, sazonalidade, maturação de investimentos, etc. Seus responsáveis podem usar apenas seus próprios recursos, no entanto seu crescimento ficará restrito à sua capacidade de acumular e de proteger-se dos riscos. Podem também recorrer a recursos de terceiros, como também transferir riscos. Isso acarreta uma série de vantagens, mas demanda tempo de pesquisa, conhecimento e custo. O setor financeiro realiza essa atividade por meio de seus intermediários financeiros. As operações são realizadas com uma variedade de instrumentos financeiros. Esses intermediários financeiros são divididos em bancários (que criam moeda) e não bancários. 1.3.6.1 Intermediários Bancários Os intermediários bancários mais importantes no Brasil são os bancos comerciais (Bradesco, Banco do Brasil, Itaú, Santander, Caixa Econômica Federal, etc.) e múltiplos (Bradesco é tanto comercial como múltiplo). 39 Economia Internacional Competência 01 1.3.6.2 Intermediários não Bancários Diferenciam-se dos bancos porque não captam recursos por meio de depósitos à vista. São todas as instituições financeiras com exceção dos bancos. Os principais intermediários financeiros não bancários brasileiros são: I. II. III. IV. V. Bancos de investimentos; Sociedades de crédito, financiamento e investimento (financeiras); Sociedades de créditos imobiliários; Sociedades de arrendamento mercantil – firmas de leasing; Sociedades corretoras e distribuidoras. Existem ainda instituições oficiais como Banco do Brasil, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e bancos de desenvolvimento. 1.3.6.3 Banco Central Fonte: https://encryptedtbn2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcR8skq5fj0wtz1iwI86niHLAsUXB6 WIIqI5d0B9pgxkS8pbQFxW A estrutura administrativa e jurídica dos diversos bancos centrais varia muito entre países. No Reino Unido, o Banco Central é o Banco da Inglaterra, que originariamente era privado. Nos Estados Unidos, encontramos o Sistema Federal de Reserva. No Brasil,as funções do Banco Central são desempenhadas pelo Banco Central do Brasil e pelo Conselho Monetário. Suas funções são: banco dos bancos, ele recebe depósitos dos bancos comerciais e transfere fundos de um banco para outro; empresta dinheiro aos bancos comerciais (redesconto); 40 Técnico em Logística Competência 01 banco do governo, é onde grande parte dos fundos do governo é depositado; é por meio dele que o governo vende títulos de sua própria emissão ao público; é o agente financeiro do governo; executor da política monetária, é responsável pelo controle da oferta da moeda por vários instrumentos. 1.3.7 Política Monetária Uma das principais funções do poder público no Brasil é zelar pelo bem comum; no entanto, para realizar essa função, o governo, enquanto agente econômico do sistema, precisa intervir sobre determinadas variáveis no intuito de prover condições favoráveis à população. Nesse contexto, a política econômica brasileira é formada pelas ações do governo que busca atingir esses objetivos através de instrumentos econômicos, divididos entre as políticas monetária, fiscal e cambial. Os governos federal, estadual e municipal atuam em conjunto para a consolidação das políticas econômicas adotadas no país. A política monetária controla a quantidade de moeda em circulação no país, a política cambial regula as operações de exportação e importação e a política fiscal determina as fontes de arrecadação e os gastos públicos brasileiros. Esse conjunto de medidas econômicas adotadas pelo governo visa adequar os meios de pagamentos disponíveis às necessidades da economia do país. Você me pergunta: “como?”. Já sabemos que é o Banco Central o executor da política monetária, e também sabemos que ele se utiliza de vários instrumentos tais como: controle da taxa de juros, imposição aos bancos o sistema de reservas obrigatórias (depósitos compulsórios), limita prazos para empréstimos, etc. 41 Economia Internacional Competência 01 Em outras palavras, a Política Monetária age diretamente sobre o controle da quantidade de dinheiro em circulação, esta medida visa defender o poder de compra da moeda. Tal prática pode ser expansionista ou restritiva. Em uma política monetária restritiva, o governo diminui a quantidade de dinheiro em circulação, ou mantém estável, com o objetivo de desaquecer a economia e evitar o aumento dos preços (inflação); na política monetária expansionista, a quantidade de dinheiro em circulação é aumentada, com o objetivo de aquecer a demanda e incentivar o consumo e, por conseguinte, o crescimento econômico. Cabe ressaltar que a política monetária expansionista visa criar condições para o crescimento econômico, porém não o determina propriamente. Vamos falar um pouco mais apenas sobre três desses instrumentos da política monetária: Reservas obrigatórias: os bancos comerciais guardam uma parcela dos depósitos como reservas, a finalidade é atender o movimento de caixa (atender as solicitações de recursos por parte dos bancos comerciais, etc.). Em geral, os bancos centrais forçam os bancos comerciais a guardarem reservas superiores às que seriam recomendáveis. Essa medida retira moeda (dinheiro) da economia, à medida que os bancos comerciais ficam com menos dinheiro para emprestar. Operações de mercado aberto: este é outro instrumento para o controle da oferta de moeda, operações de mercado aberto. Consiste em operações de compra e venda por parte do Banco Central de títulos governamentais no mercado de capitais. Qual o efeito dessas compras e vendas sobre a oferta de moeda? A compra de títulos pelo Banco Central aumenta os depósitos nos bancos comerciais que ficam com mais dinheiro para emprestar, aumentando assim a circulação de dinheiro. Quando o Banco Central compra títulos, ele está colocando dinheiro na economia; na venda, ele está fazendo com que as pessoas e empresas, no lugar de consumir, poupem/invistam. 42 Técnico em Logística Competência 01 Política de redesconto: outra importante forma de controlar a oferta de moeda, e a mais usada nas economias modernas, é o redesconto. Quando o Banco Central adota uma política expansionista, oferece empréstimos mais abundantes e a juros (taxa de redesconto) baixos. Como banco dos bancos, o Banco Central fornece aos bancos comerciais uma fonte acessível de empréstimos e, portanto, estes bancos comerciais fornecem também aos seus clientes. Caso o Banco Central queira limitar a oferta de moeda (dinheiro) na economia, ele pode diminuir a quantidade de operações de redesconto ou elevar suas taxas. Consequentemente, tomar emprestado se torna mais dispendioso. A oferta de moeda pode se dar de duas formas: 1. Pelo Banco Central, como executor da política monetária; 2. Pelos bancos comerciais, por meio dos depósitos à vista. Esse assunto é muitíssimo rico, mas não poderemos nos aprofundar mais, o tempo é curto e trata-se de curso técnico. O que você deve saber, aluno, é que a equipe econômica do governo pode promover, sempre que precisar, influência na macroeconomia, utilizando-se dessas diversas políticas e operações, injetando ou retirando moeda no mercado. 1.3.7.1 Como a Política Monetária Influencia a Demanda Agregada (PIB) A curva de demanda agregada mostra a quantidade de bens e serviços demandada a cada nível de preço. Pelo efeito riqueza – imagine o dinheiro que você guarda em sua carteira e em sua conta bancária. O valor nominal deste dinheiro é fixo, mas seu valo real não, pois quando os preços caem, esses reais se tornam mais valiosos 43 Economia Internacional Competência 01 porque podem comprar mais bens e serviços. Assim, uma redução no nível de preços faz com que os consumidores se tornem mais ricos (riqueza real*). Pelo efeito taxa de juros – à medida que os agentes econômicos tentam converter seu dinheiro em ativos que rendem juros (desejam poupar), o Banco Central tende a diminuir a taxa básica de juros da economia (Selic, essa é a taxa que regula a demanda e oferta da economia e, por conseguinte, a inflação) para estimular o consumo. Com menor taxa há um estímulo à tomada de empréstimos por parte de empresas e investidores que desejam ampliar a produção, assim como famílias desejam investir em novas moradias, etc. No entanto, não pode haver excesso de demanda para que a inflação não receba pressão de alta, então o Banco Central volta a elevar a taxa básica de juros para conter o consumo. * Riqueza real = poder de compra do salário. Para evitar uma continuidade no aumento dos preços (contenção da inflação), o Banco Central atualmente defende que a política monetária “deve se manter vigilante” e agir com a “devida tempestividade” (que acontece no momento exato; oportuno). Foi quando o Copom (Comitê de Política Monetária) resolveu promover novo aumento da taxa básica de juros da economia (abril deste ano, 2014), de 10,75% para 11% ao ano (acredita-se não ser o último aumento deste ano). (Fonte: Boletim Focus do Banco Central, abr. 2014). O Comitê de Política Monetária (Copom) é um órgão criado pelo Banco Central do Brasil. Foi instituído em 20 de junho de 1996, com o objetivo de estabelecer as diretrizes da política monetária e de definir a taxa de juros. A criação do Comitê buscou proporcionar maior transparência e ritual adequado ao processo decisório, a exemplo do que já era adotado pelo Federal Open Market Committee (FOMC) do banco central dos Estados Unidos e pelo Central Bank Council, do Banco Central da Alemanha. Em junho de 1998, o Banco da Inglaterra também instituiu o seu Monetary Policy Committee (MPC), assim como o Banco Central Europeu, desde a criação da moeda única em janeiro de 1999. Atualmente, uma vasta gama de autoridades monetárias 44 Técnico em Logística Competência 01 em todo o mundo adota prática semelhante, facilitando o processo decisório, a transparência e a comunicação com o público em geral. O Copom é formado pelo presidente e os diretores do Banco Central, que se reúnem a cada 45 dias para fixar a taxa básica de juros, a Selic. Objetivos do Copom: O objetivo das mudanças nos juros é manter a inflação sob controle, ou seja, cumprir a meta de inflação para o ano. A decisão do BACEN sobre os juros é soberana e não precisa de aprovação do presidente da República nem do ministro da Fazenda. Já a meta de inflação é fixada pelo governo. Destaca-se a adoção, pelo Decreto 3.088, em 21 de junho de 1999, da sistemática de metas para a inflação como diretriz de política monetária (sobre a inflação trataremos mais à frente). Desde então, as decisões do Copom passaram a ter como objetivo cumprir as metas para a inflação definidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Segundo o mesmo decreto, se as metas não forem atingidas, cabe ao presidente do Banco Central divulgar, em Carta Aberta ao Ministro da Fazenda, os motivos do descumprimento, bem como as providências e prazo para o retorno da taxa de inflação aos limites estabelecidos. 1.3.8 Os Agregados Monetários no Brasil Existem muitos ativos (depósitos a prazo, bônus do Banco Central, caderneta de poupança, entre outros) de grande liquidez na economia, e costumam ser chamados de quase-moedas. Apesar de esse tipo de moeda não ser aceito normalmente em troca de bens e serviços, pode ser rapidamente convertido em moeda. É chamado de agregado monetário ou meios de pagamento, o total de moeda de um país, que pode ou não incluir as quase-moedas. Cada país classifica os 45 Economia Internacional Competência 01 seus agregados monetários por ondem de liquidez (refere-se à velocidade e facilidade com a qual um ativo pode ser convertido em dinheiro). No Brasil existem 5 agregados monetários: M0, M1, M2, M3 e M4. O Banco Central faz muita referência a esses códigos, em seus relatórios, para informar a posição do Brasil em relação ao estoque de moeda. Por este motivo, aluno, é bom apenas saber do que se trata cada código. O objetivo de estudar estas questões (termos e enunciados mais específicos), que não temos tanto contato no nosso dia a dia, é para que, ao nos depararmos com determinados assuntos, possamos discorrer melhor sobre eles. Em economia, base monetária se refere ao volume de dinheiro criado pelo Banco Central, ou seja, moeda (em papel ou metálica) e reservas bancárias em poder das entidades financeiras ou depositadas no Banco Central. Quadro 1.1 Agregados Monetários (meios de pagamento) M0 = moeda em poder do público (papel-moeda e moedas metálicas MI = M0 + depósitos à vista nos bancos comerciais M2 = M1 + depósitos para investimentos + depósitos de poupança + títulos emitidos por instituições depositárias M3 = M2 + quotas de fundos de renda fixa + operações compromissadas com títulos federais M4 = M3 + títulos federais registrados no Selic Fonte: Professores da USP, 2011. 1.3.9 Política Fiscal Compreende as escolhas do governo em relação ao nível geral das suas aquisições (compras) ou dos impostos (cobrança). O governo pode aumentar ou diminuir gastos, impostos e tributos. Assim, se a economia apresenta tendência para a queda no nível de atividade, o governo pode estimulá-la, diminuindo a cobrança de impostos e tributos ou elevando gastos. As medidas de consumo do governo também podem causar um efeito multiplicador, à medida que têm despesas comprando no mercado. Cada real gasto com compras causa um impacto maior ou menor na economia. Quando os governos diminuem ou aumentam impostos/tributos, também estão promovendo expansão ou retração da atividade econômica, uma vez que está colocando ou retirando dos agentes econômicos, poder de compra. 46 Técnico em Logística Competência 01 Dado um nível de renda, quanto maiores os impostos e tributos, menor será a renda disponível das famílias e, portanto, menor o consumo. Os gastos são diretamente um elemento de demanda; dessa forma, quanto maior o gasto público (do governo), maior a demanda por bens e serviços. É uma forma de estimular a atividade econômica. No entanto, um grande aumento nas aquisições do governo também pode provocar um aumento na taxa de juros, tendendo a reprimir a demanda por bens e serviços. Ocorre da seguinte forma: o aumento nas aquisições do governo eleva a renda dos trabalhadores e proprietários de empresas porque injeta dinheiro na economia, eleva também a renda de outras empresas (dado o efeito multiplicador, a cada real investido, dependendo da propensão dos agentes financeiros, pode gerar um impacto duas, quatro, dez ou mais vezes maior); com uma renda maior (dinheiro disponível), as famílias planejam comprar mais bens e serviços e também decidem ficar com uma parte líquida (moeda); como o BACEN não altera sua oferta de moeda, ele aumenta a taxa de juros para manter em equilíbrio a demanda e a oferta (equilíbrio da atividade econômica); como tomar empréstimo então fica mais caro, por causa da alta de juros, a demanda por investimento em imóveis e empresas cai; então por um lado as aquisições do governo aumenta a demanda por bens e serviços e por outro, expulsa investimentos. Conclusão: o impacto inicial do aumento das aquisições do governo é aumentar a demanda agregada, propiciando mais empregos e lucros, porém apenas até o efeito expulsão se instalar, veremos a seguir. Outro importante instrumento de política fiscal é o nível de tributação. Quando o governo reduz os impostos, ele aumenta a renda disponível das famílias. De forma análoga, um aumento de impostos deprime as despesas de consumo das famílias. Assim como ocorre na política monetária, na política fiscal também ocorrem dois efeitos: quando o governo corta impostos, sobra renda para as famílias e empresas, provocando aumento de empregos e lucros, que rebate em outras empresas e assim por diante, este é o efeito 47 Economia Internacional Competência 01 multiplicador. E quando o governo aumenta os impostos, ele reduz a capacidade de consumo das famílias e empresas. Basicamente, a forma de articular uma política fiscal dá-se através da efetiva arrecadação de impostos, aplicando seus recursos da forma mais racional e eficaz possível. Isso equivale a uma interferência também no setor tributário, modificando as despesas do setor privado. Uma maior arrecadação de impostos irá influenciar diretamente a disponibilidade de moeda no mercado, provocando uma redução de recursos que particulares poderão destinar ao consumo e à poupança. Assim, quanto maior a carga de impostos e tributos ditada pela política fiscal do governo, haverá menor renda disponível para a população em geral, inibindo o consumo. Esta é uma das armas disponíveis dos governos para controlarem a taxa de inflação, pois tem como objetivo atingir a demanda. 1.3.10 Política Cambial Fontes: http://cdn.mundodastribos.com/wp-admin/uploads/2010/07/dolar-300x245.jpg http://2.bp.blogspot.com/_fhq9vm46EZQ/Su8WO1EB4OI/AAAAAAAAAUo/d5Mx1UWoxkQ/s400/c asa_de_cambio1.jpg http://blogs.diariodonordeste.com.br/andarilho/wp-content/uploads/2011/06/moeda1.jpg Política cambial é o conjunto de ações e orientações destinadas a equilibrar o funcionamento da economia através de alterações das taxas de câmbio e do controle das operações cambiais. É o conjunto de ações governamentais diretamente relacionadas ao comportamento do mercado de câmbio, inclusive no que se refere à estabilidade relativa das taxas de câmbio e do equilíbrio no balanço de pagamentos. O Banco Central executa a política cambial definida pelo Conselho Monetário Nacional. Para tanto, regulamenta o mercado de câmbio e autoriza as instituições que nele operam. Também 48 Técnico em Logística Competência 01 compete ao Banco Central fiscalizar o referido mercado, podendo punir dirigentes e instituições mediante multas, suspensões e outras sanções previstas em lei. Além disso, o Banco Central pode atuar diretamente no mercado, comprando e vendendo moeda estrangeira de forma ocasional e limitada, com o objetivo de conter movimentos desordenados da taxa de câmbio (Fonte: BACEN, 2014). O regime cambial adotado no Brasil atualmente é o de câmbio flutuante. Ou seja, quanto mais dólar tiver em circulação no Brasil (por meio de investidores/investimentos estrangeiros, turistas/turismo de fora do país, etc.) menor a cotação do dólar. Quando há saída de dólares, a cotação sobe. O Banco Central muitas vezes compra muito dólar, o motivo é que, com muito dólar circulando no Brasil e muitos investidores chegando (também trazendo a moeda), o BC precisa comprar para não deixar haver um excesso de dólar, pois se isso ocorre, a taxa cairá muito, ficando bem abaixo do recomendável. Isso provoca uma supervalorização do real e prejudica as exportações de produtos brasileiros. Também provoca aumento das importações porque o produto estrangeiro ficará mais barato. Sem querer ser redundante, vale dizer que a principal virtude do regime de câmbio flutuante é sua flexibilidade. Estamos diante de um contexto internacional atual em que se observa um alto grau de incerteza associado à alta volatilidade de variáveis financeiras e de preços de commodities, a flexibilidade cambial permite a absorção de choques externos que poderiam, de outro modo, ter um forte impacto na economia doméstica. Por exemplo, as mudanças bruscas nos preços relativos, quando não absorvidas rapidamente pela taxa de câmbio, podem gerar pressões inflacionárias e assim sobrecarregar a política monetária. Portanto, diante do atual contexto internacional, a institucionalização de um regime de câmbio com alguma taxa de referência (meta, bandas cambiais ou zona alvo) pode gerar desequilíbrios macroeconômicos importantes. Se por um lado algum 49 Economia Internacional Competência 01 grau de flexibilidade é bem-vindo, por outro, o excesso de flexibilidade pode levar a distorções de diversas naturezas. 1.4 Inflação Inflação pode ser conceituada como um aumento contínuo e generalizado no nível de preços, ou seja, os movimentos inflacionários representam elevações em todos os bens produzidos pela economia e não meramente o aumento de um determinado preço. Para o conceito, essa elevação deve ser contínua e não esporádica. A moeda perde o seu poder de compra, é por este motivo que a inflação é considerada um fenômeno monetário. Podemos de início interpretar que a inflação representa um conflito distributivo existente na economia mal administrada, ou seja, há uma disputa dos diversos agentes econômicos pela distribuição da renda. Dada à diversidade de agentes econômicos existentes, o processo inflacionário pode estar ligado a inúmeras facetas. No caso da economia brasileira um dos conflitos mais importantes refere-se às relações entre salários e preços. Neste caso o conflito estaria centrado numa disputa pelo produto entre trabalhadores e empresários. 1.4.1 Distorções Provocadas por Altas Taxas de Inflação 1.4.1.1 Efeito sobre a Distribuição de Renda A distorção mais séria provocada pela inflação diz respeito à redução relativa do poder aquisitivo das classes que dependem de salários (rendimentos) fixos. São os assalariados, que vão ficando com os salários cada vez mais reduzidos, até acontecer novo reajuste anual. Os trabalhadores de baixa renda são os que mais sofrem com a inflação, porque não têm como se defender fazendo aplicações financeiras (eles consomem quase a totalidade do que ganham). 50 Técnico em Logística Competência 01 1.4.1.2 Efeito sobre o Balanço de Pagamentos Elevadas taxas de inflação, em níveis superiores ao aumento de preços internacionais, encarecem o produto nacional relativamente ao produto estrangeiro. Esse fato estimula as importações em detrimento das exportações. O problema, aluno, é que quando os produtos estão muito caros no Brasil, as pessoas correm para comprar fora (importados), torna-se mais vantajoso porque a inflação eleva o preço dos produtos locais. 1.4.1.3 Efeito sobre o Mercado de Capitais Num processo inflacionário intenso, o valor da moeda se deteriora rapidamente, então ocorre um desestímulo à aplicação no mercado de capitais financeiros. No Brasil essa distorção foi bastante minimizada pelo mecanismo da correção monetária; esses títulos passaram a ser reajustados (ou indexados) por índices que refletiam exatamente o crescimento da inflação. Consideramos quatro tipos principais de inflação: a. Inflação - É a categoria predominante de variação do valor da moeda. Trata-se de um fenômeno universal, comum a praticamente todos os países. Corresponde a uma alta generalizada dos preços dos bens e serviços, expressos pelo padrão monetário corrente; b. Desinflação – É a volta à linha de estabilidade dos preços. Os índices, por unidade de tempo, recuam seguidamente de patamares altos para mais baixos. Geralmente são induzidos por congelamento de preços ou prefixações de altas; c. Deflação – traduz-se pela queda generalizada dos preços, para níveis inferiores aos que vinham sendo correntemente praticados. A deflação geralmente é associada à estagnação econômica; 51 Economia Internacional Competência 01 d. Reflação – É a volta à estabilidade da economia como um todo, após períodos deflacionários. Recuperam-se os níveis de ociosidade, pela expansão dos dispêndios de investimento e de consumo. Os preços voltam para a linha de estabilidade. Níveis de ociosidade é a diferença entre o volume efetivo de produção e o que seria possível produzir com a capacidade instalada (máquinas, funcionários, equipamento, matérias-primas, etc.). Deste modo, a capacidade ociosa representa o quanto esta empresa poderia estar produzindo a mais para atingir sua capacidade de produção. Exemplo: digamos que uma empresa de computadores tenha a capacidade de produzir 500 mil tablets/mês, mas só produz 250 mil (metade / 50%), isso quer dizer que essa empresa está com uma capacidade ociosa de 50%. O que pode estar acontecendo é que não existe demanda. Ela só irá produzir mais se, de repente, a demanda por esse produto aumentar. 1.4.2 Causas Clássicas de Inflação a. Inflação de demanda: refere-se ao excesso de demanda agregada em relação à produção disponível de bens e serviços na economia. É causada pelo crescimento dos meios de pagamento, que não é acompanhado pelo crescimento da produção. Ocorre apenas quando a economia está próxima do pleno-emprego, ou seja, não pode aumentar substancialmente a oferta de bens e serviços em curto prazo. b. Inflação de custos: tem suas causas nas condições de oferta de bens e serviços na economia. O nível da demanda permanece o mesmo, mas os custos de certos fatores importantes aumentam, levando à retração da oferta e provocando um aumento dos preços de mercado. c. Inflação inercial: é a aquela em que a inflação presente é uma função da inflação passada. Deve-se à inércia inflacionária, que é a resistência que os preços de uma economia oferecem às políticas de estabilização 52 Técnico em Logística Competência 01 que atacam as causas primárias da inflação. Seu grande vilão é a "indexação", o reajuste do valor das parcelas de contratos pela inflação do período passado. Em resumo, refere-se à ideia de memória inflacionária, onde o índice atual é a inflação passada mais a expectativa futura. d. Inflação estrutural: a corrente estruturalista supunha que a inflação em países em vias de desenvolvimento é essencialmente causada por pressões de custos, derivados de questões estruturais como a agrícola e a de comércio internacional. A Inflação no Brasil é medida por meio de vários índices, no entanto os mais importantes são: I. INPC - Índice Nacional de Preços ao Consumidor: calculado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, São Paulo, Belém, Fortaleza, Salvador e Curitiba, além do Distrito Federal e do município de Goiânia. Mede a variação nos preços de produtos e serviços consumidos pelas famílias com rendas entre 1 e 8 salários mínimos. O período de coleta de preços vai do primeiro ao último dia do mês corrente e é divulgado aproximadamente após o período de oito dias úteis. Gráfico 1.1 - Evolução mensal do INPC 2013 Fonte: Elaboração própria. IBGE, 2014 53 Economia Internacional Competência 01 II. IPCA - Índice de Preço ao Consumidor Amplo (ampliado): calculado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mede a variação dos preços para as famílias com renda entre 1 e 40 salários mínimos, logo este índice é caracterizado como a inflação pura. No IPCA é verificado o aumento do nível de preços nos seguintes setores: alimentação e bebidas, habitação, artigos de residência, vestuário, transportes, comunicação, saúde e cuidados pessoais, despesas pessoais, educação, etc. Abaixo está um gráfico com a evolução do IPCA mês a mês em 2013. Gráfico 1.2 - Evolução mensal do IPCA 2013 Fonte: Elaboração própria. IBGE, 2014 Quadro 1.2 Índices de Inflação Índices (%) - 2014 Meses INPC IPCA Jan 5,26 5,59 Fev 5,39 5,68 Mar 5,62 6,15 Fonte: Elaboração própria. IBGE, 2014 III. INCC - Índice Nacional do Custo da Construção Civil: calculado pela FGV, mede a variação de preços de uma cesta de produtos e serviços atualizados pelo setor de construção civil. Este índice é calculado para três intervalos diferentes, e compõem os demais índices calculados pela FGV. Participa com 10% do IGP-M. Foi concebido com a finalidade de aferir a evolução dos custos de construções habitacionais, configurouse como o primeiro índice oficial de custo da construção civil no país. Foi divulgado pela primeira vez em 1950, mas sua série histórica 54 Técnico em Logística Competência 01 retroage a janeiro de 1944. De início, o índice cobria apenas a cidade do Rio de Janeiro, então capital federal e sua sigla era ICC. Nas décadas seguintes, a atividade econômica descentralizou-se e o IBRE passou a acompanhar os custos da construção em outras localidades. Além disso, em vista das inovações introduzidas nos estilos, gabaritos e técnicas de construção, o ICC teve que incorporar novos produtos e especialidades de mão de obra. Em fevereiro de 1985, para efeito de cálculo do IGP, o ICC deu lugar ao INCC, índice formado a partir de preços levantados em oito capitais estaduais. No processo de ampliação de cobertura, o INCC chegou a pesquisar preços em 20 capitais. Atualmente a coleta é feita em 7 capitais: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Porto Alegre e Brasília (FGV, 2014). IV. IGP-M - Índice Geral de Preços de Mercado: calculado pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), os preços do atacado têm maior participação na composição do índice: i. ii. iii. iv. IPA – Índice de Preço de Atacado,participa com 60% do IGP-M IPC – Índice Geral de Preço ao Consumidor, participa com 30% do IGP-M INCC – Índice de Preço da Construção Civil, participa com 10% do IGP-M INPC Em outras palavras, esse índice é formado por percentuais de outros índices (60% do IPA + 30% do IPC + 10% do INCC). 55 Economia Internacional Competência 01 Quadro 1.3 - Índices de Inflação (utilização) Fonte: Mankiw, 2001 56 Técnico em Logística Competência 01 Segundo o boletim Focus, relatório divulgado pelo Banco Central (o mais recente foi divulgado em 04.04.2014), a expectativa para o IPCA deste ano prevê mais inflação e menos crescimento econômico. Esse levantamento do Banco Central, feito com mais de 100 bancos, mostra que a previsão para o IPCA (considerado a "inflação oficial" do país) de 2014 passou de 6,3% para 6,35%. Foi a quinta elevação consecutiva deste indicador e, com esse aumento, o resultado se aproxima ainda mais do teto de 6,5%, vigente no sistema de metas. Nos últimos quatro anos, a inflação tem oscilado ao redor de 6%. Em 2010, somou 5,91%, passando para 6,50% em 2011, para 5,84% em 2012 e para 5,91% no último ano (2013). O que é o Sistema de Metas? Segundo a Revista Econômica Contemporânea (Rio de Janeiro, 2012)* é um padrão de conduta da política monetária que passou a ser utilizado por vários países a partir da década de 1990. O Brasil adotou esse modelo em 1999, após uma crise cambial. Tem como principal característica o anúncio prévio de uma meta numérica para a inflação, este regime passou a ser adotado por países que buscavam alcançar a estabilidade de seus preços. É este sistema que vigora no Brasil, e é o Banco Central quem deve calibrar os juros para atingir as metas, tendo por base o IPCA. Para 2014 e 2015, a inflação deverá ficar em 4,5%, com um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Desse modo, o IPCA pode oscilar entre 2,5% e 6,5%, sem que a meta seja formalmente descumprida. Para conter o avanço da inflação, o Banco Central realiza a elevação da taxa básica da economia (Selic). Esse aumento vem avançando desde abril do ano passado (2013) para conter pressões inflacionárias. Veja abaixoa tabela de metas para a inflação brasileira, disponibilizada pelo Banco Central atualmente em seu site: *A Revista de Economia Contemporânea (REC) destina-se à publicação de trabalhos científicos originais nas áreas de Teoria Econômica, Economia Aplicada, História Econômica, História do Pensamento Econômico, Metodologia Econômica e em áreas afins, cujos temas sejam relevantes para a economia. Foi criada no segundo semestre de 1997, pelo Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. 57 Economia Internacional Competência 01 Figura 1.5 - Tabela de Metas de Inflação – Banco Central Fonte: https://www.bcb.gov.br/Pec/metas/TabelaMetaseResultados.pdf 1.5 Mercado de Trabalho Com o surgimento do sistema capitalista de produção e, consequente, utilização do trabalho assalariado em larga escala, surge o mercado de trabalho como uma instituição fundamental ao funcionamento da economia. Pode-se entender esse mercado como sendo trabalhadores vendendo/ofertando (recebendo salários) sua mão de obra e empresas comprando/demandando (pagando) por essa mão de obra. É chamado mercado formal de trabalho, o qual contempla as relações contratuais de trabalho. Em contraposição, existe o chamado mercado informal de trabalho, onde prevalecem regras de funcionamento com um mínimo de interferência governamental. Do ponto de vista macroeconômico, esse mercado contribui para a determinação do nível de demanda agregada, do produto e do emprego, que tem um papel fundamental ao lado dos mercados de bens e 58 Técnico em Logística Competência 01 serviços, monetário e também de títulos. Ao lado desse mercado formam-se inúmeras variáveis a respeito do cotidiano dos trabalhadores, tais como: salários, desemprego, rotatividade, produtividade, etc. O emprego cresce porque se ampliam as oportunidades de trabalho, seja pelo surgimento de novas ocupações, seja pelo aumento de novas vagas em firmas já instaladas (Professores da USP, 2011). O mercado de trabalho é cíclico, com períodos de expansão e de recessão no curto prazo. Quando analisamos seu resultado, podemos avaliar se a economia está em boa fase ou não. Portanto,outrobom determinante do padrão de vida de uma sociedade pode ser observado através do nível de desemprego, frequentemente encontrado em um país. Pessoas que estariam dispostas a trabalhar, mas que não encontram emprego, não contribuem para a produção de bens e serviços da economia, concorda? Para entender o mercado de trabalho é necessário então, inicialmente, classificar a população segundo a atividade econômica que cada um exerce. A partir do total da população residente em um país, podemos definir a chamada População em Idade Ativa – PIA, esta se divide entre: I. II. População Economicamente Ativa – PEA = Força de trabalho: é o conjunto de elementos empregados (E) e desempregados (D), num certo momento; População Ativa não Integrada ao Mercado de Trabalho: - Capacitados para o trabalho: a. trabalhadores desalentados (dispostos a trabalhar, mas desestimulados a buscar emprego): Ex. pessoas dedicando-se a afazeres domésticos, estudantes, aposentados, pensionistas, rentistas e outros; b. inativos (não buscam trabalho nem desejam trabalhar); - Incapacitados para o trabalho: a. inválidos física e mentalmente; b. idosos, réus e outros. 59 Economia Internacional Competência 01 Podemos obter dados sobre emprego e desemprego a partir da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED). É um levantamento domiciliar contínuo, realizado mensalmente, desde 1984, na Região Metropolitana de São Paulo, em convênio entre o DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos) e a Fundação Seade. O reconhecimento da importância da PED como instrumento de análise da realidade socioeconômica concretizou-se com solicitações da implantação da Pesquisa em outras regiões do país, a partir de 1987. As atividades de assessoria e acompanhamento das PEDs regionais por parte da Fundação Seade e do DIEESE têm se dado de forma contínua, em convênio com diversas instituições. Atualmente, a PED é realizada no Distrito Federal e nas Regiões Metropolitanas de São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador, Recife e mais recentemente Fortaleza, constituindo o Sistema PED. O apoio financeiro e o reconhecimento institucional da PED como parte integrante do Sistema Público de Emprego, por parte do Fundo de Amparo do Trabalhador (FAT) e do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), foram inestimáveis na consolidação deste novo sistema de produção estatística. Então se quisermos fazer uma pesquisa desse indicador, ao entrarmos no site, vemos essas telas, onde encontraremos dados mensais, anuais, mulheres, etc. Figura 1.6 - Página de pesquisa site Dieese Fonte: http://www.dieese.org.br/analiseped/ped.html 60 Técnico em Logística Competência 01 Entrando em resultados mensais, por exemplo, temos: Figura 1.7 - Página de pesquisa site Dieese Fonte: Dieese, 2014. Clicando em PED - Região Metropolitana do Recife: Figura 1.8 - Página de pesquisa site Dieese Fonte: Dieese, 2014. 61 Economia Internacional Competência 01 No Brasil, é considerado desempregado todo aquele maior de 10 anos (em outros países a idade mínima é 15 anos) que procura emprego, mas não o encontra. As estatísticas relativas a emprego e desemprego e outras relacionadas são de responsabilidade do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, e são divulgadas no Anuário Estatístico do Brasil. O IBGE calcula as referidas taxas nas Regiões Metropolitanas de Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. É o Dieese/Seade que calcula a taxa de emprego e desemprego nas principais Regiões Metropolitanas do país. 1.5.1 Taxa Natural de Desemprego A taxa de desemprego é definida como sendo a relação entre o número de desempregados (D - força de trabalho que não está empregada) e a população economicamente ativa – PEA (força de trabalho): Taxa de desemprego (TD) = D / PEA |É a força de trabalho (D) dividida pela população economicamente ativa (PEA)| Outra relação importante é a taxa de participação da força de trabalho ou a taxa de atividade, que vem a ser a relação entre a população economicamente ativa e a população em idade ativa: Taxa de atividade: PEA/PIA Taxa natural de desemprego da economia refere-se ao nível de desemprego que a economia registra normalmente, ocorre devido ao desemprego friccional e estrutural, não sendo devida ao ciclo de negócios. 62 Técnico em Logística Competência 01 Quadro 1.4 - População total no Mercado de Trabalho Fonte: Mankiw, 2001. 1.5.2 Tipos de Desemprego I. II. III. O desemprego cíclico ou conjuntural refere-se às flutuações (variações) que se verificam de ano para ano em torno da taxa natural e está estritamente relacionado aos altos e baixos da atividade econômica no curto prazo; O desemprego friccional é aquele decorrente do tempo necessário para que o mercado de trabalho se ajuste: resulta da mobilidade da mão de obra; ocorre quando um ou mais indivíduos se desempregam de um trabalho para procurar outro. Também poderá ocorrer quando se atravessa um período de transição, de um trabalho para outro, dentro da mesma área (exemplo: construção civil). O desemprego estrutural é aquele decorrente de mudanças estruturais em certos setores da economia que eliminam empregos, sem que haja ao mesmo tempo a criação de novos empregos em outros setores. Exemplo: Desemprego causado pelas novas tecnologias como a robótica e a informática, o desemprego ocorre em função da grande mecanização das 63 Economia Internacional Competência 01 indústrias, reduzindo os postos de trabalho. Existem duas causas para este tipo de Desemprego: insuficiência da procura de bens e de serviços e insuficiência de investimento em torno da combinação de fatores produtivos desfavoráveis. São esses e outros os motivos que levam os governos aimplementarem políticas econômicas diversas, no sentido de promoverem o desenvolvimento econômico de um país. Tentam minimizar os efeitos nocivos advindos das políticas implementadas por países estrangeiros, que visam concorrerem no mercado internacional. Com a globalização e o crescente desenvolvimento dos meios de comunicação, qualquer movimentação de uma nação, interfere na economia global. Por isso a importância de se entender, verificar e medir as informações da economia internacional. Muitas vezes basta uma pequena mudança em uma das variáveis macroeconômicas, para causar um efeito devastador ou um fenômeno agregador em uma economia. Mas na verdade, o grande objetivo de todas as nações no mundo é promover desenvolvimento socioeconômico e, portanto, bem estar ao seu povo. 64 Técnico em Logística Competência 02 2. COMPETÊNCIA 02 | ENTENDER A TEORIA E A PRÁTICA EM OPERAÇÕES CAMBIAIS Fonte:http://static.assimsefaz.com.br/images/3/71/994/400745/2/ taxa-de-ca_1355839229096.jpg O Mercado de Câmbio é o ambiente onde se realizam as operações de câmbio entre os agentes autorizados pelo Banco Central e seus clientes, diretamente ou por meio de correspondentes. Câmbio, como o próprio nome diz, é a operação de troca de moeda de um país pela moeda de outro país. Quando vamos viajar para o exterior, precisamos de moeda estrangeira, o agente autorizado pelo Banco Central a operar no mercado de câmbiorecebe nosso dinheiro (real) moeda nacional, e nos entrega (vende) a moeda estrangeira. Quando um turista estrangeiro quer converter moeda estrangeira em reais, o agente autorizado compra a moeda estrangeira do turista, entregando-lhe os reais correspondentes. Como já dissemos, esse mercado é regulamentado e fiscalizado pelo Banco Central, que coordena as seguintes operações: de compra e de venda; as operações em moeda nacional entre residentes domiciliados com sede no país e residentes domiciliados com sede no exterior; as operações com ouro-instrumento cambial realizadas por intermédio das instituições autorizadas, ou direto pelo Banco Central. O ouro-instrumento cambial é aquele constante da posição de câmbio das instituições autorizadas a operarem no mercado de câmbio integrantes do Sistema Financeiro Nacional. Uma vez incorporado à posição de câmbio da instituição, o ouro somente pode ser negociado com outra instituição integrante do sistema financeiro autorizada a operar no mercado de câmbio. Correspondente bancário é qualquer pessoa jurídica, ou seja, qualquer empresa que entre suas atividades atue também como agente intermediário entre os bancos e instituições financeiras autorizadas a operarem pelo Banco Central e seus clientes finais (SEBRAE/SP)(http:// www.sebraesp.com .br/). 65 Economia Internacional Competência 02 Taxa cambial: a taxa de câmbio é o valor de uma moeda estrangeira em relação à nacional, ou seja, é o valor que uma moeda correspondente tem em relação à outra. Exemplo: O dólar hoje (15/04/2014) está a R$ 2,23, quer dizer que US$ 1 = R$ 2,23 ou vice e versa, R$ 2,23 equivale a US$ 1. A cotação do dólar foi pesquisada no site do Banco Central, conforme imagens abaixo. Figura 2.1 - Site do BACEN para consulta da cotação 66 Técnico em Logística Competência 02 Você deve estar se perguntando: quais os tipos de operações que podemos realizar no mercado de câmbio? O Banco Central, órgão que regulamenta e fiscaliza essas operações, responde: podem ser realizados quaisquer pagamentos ou recebimentos em moeda estrangeira, inclusive as transferências para fins de constituição de disponibilidades no exterior e seu retorno ao País e aplicações no mercado financeiro. As pessoas físicas e as pessoas jurídicas podem comprar e vender moeda estrangeira ou realizar transferências internacionais em reais, de qualquer natureza, sem limitação de valor, observada a legalidade da transação, tendo como base a fundamentação econômica e as responsabilidades definidas na respectiva documentação. Embora do ponto de vista cambial não exista restrição para a movimentação de recursos, os agentes do mercado e seus clientes devem observar eventuais restrições legais ou regulamentares existentes para determinados tipos de operação. Como exemplo, relativamente à colocação de seguros no exterior, devem ser observadas as disposições dos órgãos e entidades responsáveis pela regulação do segmento segurador. 2.1 Mercado Cambial Fonte:http://economia.culturamix.com/blog/wpcontent/uploads/2010/03/mercado-de-cambio-no-brasil-3.jpg Como cada país possui sua moeda própria, com seus respectivos valores, há a necessidade de um ponto para a troca dessas moedas (compradores e vendedores). Esse local é chamado de Mercado Cambial. No mercado de câmbio são realizados três tipos de operações: a compra (entrega da moeda nacional em troca da moeda estrangeira); a venda (entrega da moeda 67 Economia Internacional Competência 02 estrangeira em troca da nacional) e a arbitragem (entrega da moeda estrangeira por outra moeda estrangeira). 2.1.1 A Importância da Taxa de Câmbio na Economia e os Regimes Cambiais Taxa de câmbio é o valor que uma moeda nacional possui em termos de outra moeda nacional; é a taxa pela qual duas moedas de países diferentes podem ser trocadas (cambiadas). Exemplo: A taxa de câmbio do real (moeda nacional brasileira) em relação ao dólar norte-americano (moeda nacional dos EUA) era, em junho de 2006, de aproximadamente 2.30R$/U$, ou seja, cada 1 dólar valia 2.30 reais. Por meio das taxas de câmbio torna-se possível realizar as transações entre os países. As taxas de câmbio são determinadas pelo mercado cambial. Nesse mercado, existem ofertas e demandas pelas várias moedas. O equilíbrio entre a oferta e a demanda das diferentes moedas estabelece as taxas de câmbio, isto é, os preços relativos entre as moedas nacionais, assim como as quantidades de moedas nacionais transacionadas com o resto do mundo. Como exemplo, um aumento dos investimentos norte-americanos no Brasil significam aumento na oferta de dólares e também um aumento na demanda de reais. Esses aumentos fazem com que a taxa de câmbio se modifique, valorizando o real e desvalorizando o dólar (com o excesso de dólares na economia, o preço tende a cair). Ou seja, o preço do real em relação ao dólar deve crescer, e a quantidade de reais que se compra com um dólar deve ser menor. Assim, define-se uma valorização da moeda nacional, quando o poder de compra desta em relação às demais cresce, e uma desvalorização, quando seu poder de compra cai. Existem diferentes regimes cambiais. Entende-se por regime ou sistema cambial o conjunto de regras, acordos e instituições por meio dos quais são feitos os pagamentos internacionais e, portanto, pelos quais se regula e acaba funcionando o mercado cambial. Assim, para efeito de transações internacionais, uma moeda nacional pode ser conversível, quando é 68 Técnico em Logística Competência 02 livremente trocada por outras moedas estrangeiras (ou antigamente por ouro), ou inconversível, quando não tem aceitação fora de seu país, não tendo conversibilidade garantida em outra moeda nacional (ou ouro). De modo geral, há dois grandes tipos de regime cambial, o de taxas fixas e o de taxas flexíveis: os regimes de taxas de câmbio fixas, no qual, como o próprio nome sugere, a taxa de câmbio do país (ou o valor da moeda do país em relação às outras divisas) é fixa, e o que se ajusta no mercado é apenas a quantidade demandada e ofertada àquele valor. Na verdade, nesse regime, o governo, geralmente por meio de seu Banco Central, intervém, de modo a equilibrar a oferta e a demanda de divisas no nível da taxa de câmbio estabelecida. Quando, no mercado, em relação à dada taxa de câmbio, há excesso de oferta de divisas, o governo entra no mercado adquirindo divisas pela taxa de câmbio fixada. Desse modo, no regime de câmbio fixo, as oscilações nas demandas e ofertas de divisas não repercutem sobre a taxa de câmbio, mas apenas sobre o volume de reservas internacionais do país e também sobre a oferta de moeda primária nesse país, pois a oferta de moeda dentro do país aumenta quando o governo compra divisas e diminui quando há venda de divisas, as trocas por moeda nacional, colocando tal moeda em circulação; e quando as vende, recebe em troca moeda nacional, que, assim, é retirada de circulação. O regime de taxas de câmbio flutuante, em que háum regime de liberdade do mercado cambial e o governo intervém apenas como ofertante e demandante de divisas em função de suas necessidades, do mesmo modo que o setor privado. Dessa forma, as alterações na oferta e na demanda de divisas têm efeito sobre a taxa de câmbio, que deverá valorizar-se ou desvalorizar-se em função de tais alterações. Nesse regime, porém o mercado cambial não afeta diretamente o nível de reservas de divisas possuídas pelo país. Esse assunto (câmbio) em economia é muito debatido. Preço fundamental para regular as transações de uma nação com o resto do mundo, o tema taxa 69 Economia Internacional Competência 02 de câmbio é recorrente nas mesas de discussão mundo afora, sendo discutido, criticado, negociado, etc. Para começar, há que se admitir que os regimes cambiais dividem-se basicamente em fixos e flexíveis, e que não é possível usufruir simultaneamente das vantagens dos dois. Entre a adoção de uma moeda estrangeira (o extremo da rigidez) e as flutuações totalmente desimpedidas da taxa de câmbio (o máximo da flexibilidade), existem soluções intermediárias, como a chamada “flutuação suja”, em que há intervenções discricionárias das autoridades econômicas. Mas, caro aluno, mesmo considerando as variantes, há um claro conflito entre os regimes de câmbio fundamentalmente flexíveis e aqueles basicamente administrados. A constatação de que o câmbio flutuante é o mais indicado para o Brasil, e aí todos ficam comentando: “o problema é que a moeda flutua”, está longe de esgotar a discussão no país. Os defensores de um real mais desvalorizado costumam passar por cima de todas essas considerações formais e de fundamentos (conhecimento básico) para alegar, simplesmente, que “o câmbio está errado”. Por este raciocínio, o governo deveria tomar quaisquer atitudes necessárias a colocar o real no seu devido lugar, seja comprando dólares maciçamente, ou através da queda drástica na taxa de juro, ou ainda controlando a entrada de capitais. Dizemos controlando a taxa básica de juros do país porque, quando o governo aumenta essa taxa, por exemplo, termina provocando aumento de investimento estrangeiro e isso causa aumento de divisas estrangeiras (dólar) na economia. A taxa de câmbio é uma variável importante dentro de uma economia, pois pode influenciar o nível de produção e de inflação dessa economia, além do próprio comércio externo e dos movimentos de capital relacionados a esse país, e de vários outros aspectos de sua economia. Quando os residentes de dois países comercializam entre si, uma das partes normalmente usa o mercado de câmbio para trocar a moeda de um país pela moeda do outro. Nesse mercado, os ofertantes de uma moeda interagem com seus demandantes uma taxa de câmbio - o preço de uma moeda em termos de troca. Na prática, a moeda de cada país é negociada em diversos mercados ao redor do mundo. As taxas cambiais são determinadas por uma conjunção de 70 Técnico em Logística Competência 02 fatores intrínsecos ao país, principalmente a política econômica vigente. No caso brasileiro, a rede bancária liderada pelo Banco do Brasil é intermediária nas transações cambiais. Os exportadores, ao receberem moeda estrangeira vendem-na aos Bancos; e os Bancos revendem essa moeda aos importadores para que paguem as mercadorias compradas. E essas transações são sempre reguladas pelo governo, que fixa os preços de compra e venda das moedas estrangeiras (MANOLESCU, 2006). 2.2 Monopólio de Câmbio Em alguns países, o mercado também é monopólio do governo, além de ser controlado, funcionando da seguinte forma: Entradas de divisas (exportações, entradas de capitais, etc.): recebe a divisa (dinheiro) e pode fechar câmbio (promover contrato troca das moedas) em qualquer banco autorizado. Esse banco, no entanto, repassa ao Banco Central a moeda estrangeira recebida, ficam em poder do governo todas as divisas. Saídas de divisas (importação, retorno de capitais, etc.): o importador e o investidor também podem fechar câmbio para as operações permitidas pelo governo, em qualquer banco autorizado a operar no mercado cambial desde que solicite ao Banco Central cobertura para as divisas vendidas, ou seja, os importadores e investidores precisam comunicar antecipadamente a quantidade de moeda necessária para sua importação. O Artigo 4º da Lei 4.595/64 fala sobre as atribuições ao Conselho Monetário Nacional (CMN), que compete outorgar (conceder) ao Banco Central do Brasil (BC) o monopólio das operações de câmbio quando ocorrer grave desequilíbrio no Balanço de Pagamentos (BP) ou houver sérias razões para prever a iminência de tal situação. São de competência do CMN as atribuições de caráter normativo da legislação cambial vigente e de responsabilidade do 71 Economia Internacional Competência 02 BC as atribuições executivas. O CMN escreve a lei cambial e o BC fiscaliza a execução desta lei. 2.3 Mercado Cambial do Brasil As economias de pequeno porte sofrem muito com oscilações no mercado de câmbio, a considerar um país do tamanho do Brasil que,apesar de uma economia em desenvolvimento, tem sido atingido diretamente pelas fortes mudanças cambiais advindas do mercado internacional. A relação do Brasil com o comércio exterior está protegida também pelas legislações que tratam do direito público internacional. Atualmente, essa relação permanece comsua estrutura legalista num estágio avançado, no que diz respeito ao seu controle, mas ainda frágil e suscetível a crises econômicas mundiais. Também podemos destacar que o mundo está mais voltado pra um gerenciamento eficaz no que tange ao controle de sua moeda nacional, dadas as coordenadas que os organismos internacionais impõem em respeito ao próprio controle básico e de regulação cambial. Essa regulação entre mercados de câmbio, suprimento por capitais estrangeiros, a valorização/desvalorização da moeda nacional, perfazem um conjunto de normas e instituições que se referem à dinâmica das relações internacionais no campo "econômico". Tais atributos são fiscalizados por entidades internacionais a exemplo da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE); do Fundo Monetário Internacional (FMI); do Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), entes mundiais que monitoram a transparência do comércio exterior em suas diversas operações e formas de atuação. 72 Técnico em Logística Competência 02 Podemos usar como exemplo o governo brasileiro que deve ser cobrado por uma política cambial moderada, apesar das oscilações e incertezas do mercado de câmbio, protegendo a nossa moeda nacional de possíveis crises mundiais, perfazendo um conjunto de variáveis que possa oferecer melhores condições no mercado de commodities no país. Considerando que a produção é crescente, mas muitos dos insumos são atrelados ao dólar americano, daí que os segmentos agrícolas sofrem com essa volatilidade cambial, sobretudo pelos flexíveis modelos adotados pelos países que buscam no mercado internacional uma saída para melhores ganhos com a importação e exportação de seus produtos. Sendo assim, à vista dessas diferenciações econômicas e de mercado, o poder público e o setor privado, fugindo às generalizações, são forçados ao estudo mais detalhado das condições locais de se operar uma taxa de câmbio coerente, em busca de soluções mais corretas para a economia local. Por fim, esse fracionamento das verbas cambiais em múltiplas e pequenas oscilações, muitas vezes sem base em estudos e sem classificação prioritária, resulta na dispersão dos esforços, na deficiência da fiscalização e no desperdício e perda pelas flutuações da valoração da moeda nacional. 2.3.1 Composição do Mercado de Câmbio Incluem-se no mercado de câmbio brasileiro as operações relativas aos recebimentos, pagamentos e transferências do e para o exterior mediante a utilização de cartões de uso internacional, bem como as operações referentes às transferências financeiras postais internacionais, inclusive vales postais e reembolsos postais internacionais. Como já foi dito anteriormente, existe um segmento do mercado cambial denominado mercado paralelo realizado por pessoas não autorizadas. 73 Economia Internacional Competência 02 Curiosamente, há transações em espécie e em saques, mas é importante destacar que é mercado ilegal o câmbio paralelo, bem como a posse de moeda estrangeira oriunda de atividades ilícitas. 2.3.1.1 Produtos do Mercado de Câmbio Figura: https://encryptedtbn2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTJIMEGxildupLeMoussJ vHuFfRzIIzQGc1bgHjKyXqYH0NC2Xb - Operações de compra e venda de moeda estrangeira ou de títulos que a represente (conversíveis e inconversíveis) - Cartões de crédito e de débito de uso internacional - Transferências financeiras postais internacionais - Conta em moeda estrangeira no país - Operações em moeda nacional entre residentes no país e residentes no exterior - Operações com ouro-instrumento cambial O ouro é classificado como instrumento cambial por instituições autorizadas a operar no mercado de câmbio integrantes do Sistema Financeiro Nacional. O ouro-instrumento cambial é decorrente das operações: - de compra de ouro-ativo financeiro da própria instituição; - de compra ou de venda de ouro do Banco Central do Brasil com essa finalidade; - de compra ou de venda de ouro-instrumento cambial entre as instituições autorizadas a operarem no mercado de câmbio integrantes do Sistema Financeiro Nacional; ou 74 Técnico em Logística Competência 02 - de arbitragem com outra instituição integrante do Sistema Financeiro Nacional ou com instituição do exterior, na forma da regulamentação cambial. Uma vez incorporado à posição de câmbio da instituição, o ouro somente pode ser negociado com outra instituição integrante do sistema financeiro autorizada a operar no mercado de câmbio, com instituição externa ou com o Banco Central do Brasil, observadas as mesmas condições estabelecidas para a negociação de moeda estrangeira. As disposições normativas relativas às operações com ouro-instrumento cambial são as mesmas das operações de compra e de venda de moeda estrangeira, inclusive no tocante à composição e aos limites de posição de câmbio e à possibilidade de operações de arbitragem. 2.3.1.2 Condições para a Realização das Transações - Ser uma transação legal - Ter fundamentação econômica - Estar amparada em documentação 2.3.2 Setor Público: Principais Atores - CMN: Conselho Monetário Nacional - MF: Ministério da Fazenda - MP: Ministério do Planejamento - BCB ou Bacen: Banco Central do Brasil - MDIC: Ministério do Desenvolvimento, indústria e Comércio Exterior - MRE: Ministério das Relações Exteriores - MS: Ministério da Saúde - SRF: Secretaria da Receita Federal No glossário do Banco Central: chama-se “Posição de câmbio” a posição (saldo) que cada banco autorizado a operar em câmbio mantém, em moeda estrangeira, apurada após todas as negociações efetuadas pela instituição (exportações, importações, remessas e ingressos financeiros). A posição de uma instituição pode assumir os seguintes resultados: a. nivelada: quando o total de compras é igual ao total de vendas; b. comprada: quando o total de compras é maior que o total de vendas; c. vendida: quando o total de compras é menor que o total de vendas. 75 Economia Internacional Competência 02 2.3.3 Agentes do Mercado de Câmbio 2.3.3.1 Agentes Autorizados I. Integrantes do Sistema Financeiros Nacional: - Bancos: Comerciais/Múltiplos/Desenvolvimento. Exceto os bancos de desenvolvimento, os demais bancos podem realizar todas as operações previstas no regulamento. Os bancos de desenvolvimento só podem realizar operações específicas autorizadas. - Caixas Econômicas (podem realizar operações específicas autorizadas). II. Demais integrantes do Sistema Financeiro Nacional (SFN): - Sociedades de Crédito Financiamento e Investimento - Corretoras de câmbio ou de títulos e valores mobiliários - Distribuidoras de títulos e valores mobiliários Podem realizar compra e venda de moeda estrangeira: - em cheques vinculados a transferências unilaterais - em espécie, cheques e cheques de viagem relativos a viagens internacionais - natureza financeira sem registro no BC de até US$ 10 mil - câmbio simplificado de exportação e importação - em operações interbancárias e arbitragens no país - arbitragens externas, por meio de bancos Arbitragem cambial: é uma operação de compra e venda de uma moeda em duas praças financeiras diferentes, com o objetivo de obter lucro derivado da diferença de preços que possa existir durante pequenos intervalos de tempo. Por exemplo: se o preço das ações de uma empresa é de US$ 20 no Bovespa e de US$ 21 nos Estados Unidos, há uma oportunidade de comprar aqui, efetuar a conversão e vender lá no mesmo momento, embolsando a diferença. Para 76 Técnico em Logística Competência 02 isso, é preciso que o papel tenha uma boa liquidez, para que o negócio se concretize no tempo correto, o que é crucial para este tipo de operação. 2.3.3.2 Outros - Agências de Turismo: realizam operações de compra e venda de moeda estrangeira em espécie, cheques e cheques de viagem relativos a viagens internacionais. - Meios de Hospedagem de Turismo: realizam compra de residentes no exterior de moeda estrangeira em espécie, cheques ou cheques de viagem relativos a turismo no país. Excetuados os meios de hospedagem de turismo, os demais agentes podem abrir postos para realizar operações de câmbio manual. “Câmbio manual” são as operações de compra e venda de moedas estrangeiras para entregarem espécie: o mercado inclui nessa modalidade também as operações para entrega em traveler’s cheques, embora conceitualmente essas sejam de câmbio sacado. Como exemplo, pode-se citar a venda ou a compra de moeda para aqueles que vão deixar o país ou estão retornando de suas viagens. "Câmbio sacado" são as operações de câmbio liquidadas por débito ou crédito nas contas em moedas estrangeiras mantidas no exterior pelos bancos vendedores ou compradores, por meio de ordens de pagamento, cheques, autorizações de crédito e de débito, etc. Obviamente, a grande maioria das operações de valor expressivo são de “câmbio sacado”. 2.4 Funcionamento Devido à existência de fusos horários diferentes, o Mercado Cambial funciona 24 horas por dia. Assim, quando um grande mercado está fechando, outro está abrindo. Podemos citar alguns mercados com fusos horários bem diferentes: Tóquio, Londres, Nova York e San Francisco. 77 Economia Internacional Competência 02 2.4.1 Cotações Quando o mercado abre, os bancos cotam as taxas de compra e de venda. No momento que alguém vende moeda estrangeira a um banco, a taxa é de compra (conhecida internacionalmente por bid rate). Já quando alguém compra moeda de um banco, a taxa é a de venda (conhecida internacionalmente por offer rate). A denominação é dada pela posição do banco e não a do cliente. A diferença entre a taxa de venda e a de compra equivale ao lucro do banco. Sendo um agente financeiro autorizado e constituindo pessoa jurídica, onde necessita de lucro, faturamento oriundo da diferença existente nessa transação de compra e venda. Essa diferença é chamada de spread. Em um mercado livre, essas taxas variam a todo momento. A formação de taxa, veremos mais à frente. 2.4.2 Posição Os bancos podem ter posição comprada, vendida ou nivelada. i. ii. iii. Posição comprada: durante o dia um banco comprou de vários clientes um montante de US$ 8 milhões, mas também vendeu, nesse mesmo momento, US$ 5 milhões. Partindo do princípio de que ele iniciou o dia sem nenhum dólar, terminou o expediente com US$ 3 milhões em caixa. Posição vendida: o mesmo banco, na manhã seguinte, compra US$ 6 milhões e vende US$ 12 milhões. Como ele já tinha em caixa US$ 3 milhões (saldo do dia anterior), com essa nova compra ficou com US$ 9 milhões. Vendendo US$ 12 milhões, fica com um furo de caixa de US$ 3 milhões. É o que chamamos de posição vendida. Posição nivelada: ele reabre no terceiro dia com posição vendida de US$ 3 milhões, durante o expediente ele vende US$ 1 milhão e compra US$ 4 milhões. Seu saldo fica zerado. É o que denominamos posição nivelada. 78 Técnico em Logística Competência 02 A posição acima é global e não por moeda. Temos a posição por moeda: quando um banco tem uma posição comprada em euros e vendida em dólares, esse fato não cria empecilho para honrar uma ordem de pagamento em dólares por exemplo. O banco transforma o euro em dólares, por meio da operação chamada de arbitragem (entrega da moeda estrangeira por outra moeda estrangeira). 2.4.3 Contrato de Câmbio Contrato de câmbio é o instrumento específico firmado entre o vendedor e o comprador de moeda estrangeira, no qual são estabelecidas as características e as condições sob as quais se realiza a operação de câmbio. Essas operações de câmbio são formalizadas por meio de contrato (existe um modelo na Circular nº 3.691, de 16 de dezembro de 2013) e seus dados devem ser registrados no Sistema Câmbio. A data do registro deve corresponder ao dia da celebração do referido contrato. Alguns detalhes importantes relativos à assinatura dos contratos de câmbio: I - o Banco Central somente reconhece como válida a assinatura digital dos contratos de câmbio por meio de utilização de certificados digitais; II - no caso de assinatura manual, esta é colocada só após a impressão do contrato de câmbio, em pelo menos duas vias originais, destinadas ao comprador e ao vendedor da moeda estrangeira. Para a certificação digital (emitidos no âmbito da Infraestrutura de Chaves Públicas – ICP Brasil), a instituição autorizada a operar no mercado de câmbio, negociadora da moeda estrangeira, deve: 79 Economia Internacional Competência 02 - utilizar aplicativo para a assinatura digital de acordo com padrão divulgado pelo Departamento de Tecnologia da Informação (Deinf) do Banco Central do Brasil; - estar apto a tornar disponível, de forma imediata, ao Banco Central do Brasil, pelo prazo de cinco anos, contados do término do exercício em que ocorra a contratação ou, se houver a liquidação, o cancelamento ou a baixa, a impressão do contrato de câmbio e dele fazer constar a expressão “contrato de câmbio assinado digitalmente”; - manter pelo mesmo prazo, em meio eletrônico, o arquivo original do contrato de câmbio, das assinaturas digitais e dos respectivos certificados digitais. Observação: existe assinatura manual de contrato de câmbio. Fonte: https://www.google.com.br/search?q=fluxo+circular+de+rend a&es_sm=122&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei=6TNQU91H6m_sQS4uYG4Dg&ved=0CAgQ_AUoAQ&biw=1280&bih=61 9#q=icp+brasil&tbm=isch&facrc=_&imgdii=_&imgrc=Tb3ofrCQ 8Ybl1M%253A%3BUeYR6WQ0ntS77M%3Bhttp%253A%252F% 252Fwww2.unifap.br%252Fnti%252Ffiles%252F2014%252F03 %252Ficpbrasil.jpeg%3Bhttp%253A%252F%252Fwww2.unifap.br%252F nti%252F2014%252F03%252F26%252Ficp-brasil-cotec-sereune-em-brasilia%252F%3B230%3B226 São os seguintes os tipos de contratos de câmbio e suas aplicações: - compra: destinado às operações de compra de moeda estrangeira realizadas pelas instituições autorizadas a operarem no mercado de câmbio; - venda: destinado às operações de venda de moeda estrangeira realizadas pelas instituições autorizadas a operarem no mercado de câmbio. 80 Técnico em Logística Competência 02 Observação: cláusulas ajustadas entre as partes devem ser inseridas nos contratos de câmbio e somente devem ser informadas ao Banco Central do Brasil quando solicitadas. Liquidação, alteração, cancelamento ou baixa de contrato de câmbio A liquidação (a operação propriamente dita) de contrato de câmbio ocorre quando da entrega de ambas as moedas, nacional e estrangeira, objeto da contratação ou de títulos que as representem. Liquidação é o processo por meio do qual a transação é completada pela transferência definitiva (incondicional) dos títulos do vendedor para o comprador (entrega) e a transferência definitiva de fundos do comprador para o vendedor (pagamento). (Relatório do Comitê de Sistemas de Pagamento e de Liquidação (CSPL) dos bancos centrais dos países do Grupo dos Dez. Basiléia, set. 1992). As operações de câmbio contratadas para liquidação pronta devem ser liquidadas em até 2 dias úteis da data da contratação, excluídos os dias não úteis nas praças das moedas envolvidas. A operação de câmbio (compra ou venda) para liquidação futura é a operação a ser liquidada em prazo maior que 2 dias. A liquidação no mesmo dia da contratação de câmbio é obrigatóriapara a compra ou venda de moeda estrangeira em espécie, em cheques de viagem ou para carregamento ou descarregamento de cartões pré-pagos. As operações de câmbio abaixo indicadas podem ser contratadas para liquidação futura, devendo a liquidação ocorrer em até: 81 Economia Internacional Competência 02 a. 1.500 dias, no caso de operações interbancárias e de arbitragem, bem como nas operações de natureza financeira em que o cliente seja a Secretaria do Tesouro Nacional; b. 360 no caso de operações de câmbio de importação e de natureza financeira, com ou sem registro no Banco Central. Observação: Na exportação o contrato de câmbio pode ser celebrado para liquidação pronta ou futura, prévia ou posteriormente ao embarque da mercadoria ou da prestação do serviço, observado o prazo máximo de 750 dias entre a contratação e a liquidação, bem como o seguinte: - no caso de contratação prévia, o prazo máximo entre a contratação de câmbio e o embarque da mercadoria ou da prestação do serviço é de 360 dias; - o prazo máximo para liquidação do contrato de câmbio é o último dia útil do 12º mês subsequente ao do embarque da mercadoria ou da prestação do serviço. O prazo mínimo para liquidação das operações de venda de moeda estrangeira realizadas a título de doações de valor igual ou superior a R$100.000,00 (cem mil reais) é de 1 dia útil. As operações de câmbio interbancárias podem ser contratadas para liquidação a termo em até 1.500 (mil e quinhentos) dias. As operações com prazo de liquidação superior a 2 dias são conhecidas por câmbio a termo. No jargão bancário é câmbio futuro e no mercado internacional forward exchance. O câmbio é negociado e fechado hoje e deve ser liquidado em “x” dias (geralmente 30, 60, 90, 180 ou 360 dias). Exemplo: fechamento de câmbio de uma exportação a prazo, ou seja, o exportador Existem operações à vista e a termo. À vista são operações conhecidas por câmbio pronto, internacionalmente chamadas de spot exchange. Devem ser liquidadas em até 2 dias úteis e contra pagamento. Exemplo de compra à vista: entrada de capital; e venda à vista é o retorno desse capital. 82 Técnico em Logística Competência 02 fechou o câmbio hoje, mas sua liquidação ocorrerá somente no vencimento do saque, que poderá ser em 30, 60 ou 90 dias. IMPORTANTE ALUNO: No contrato de câmbio não são suscetíveis de alteração o comprador, o vendedor, o valor em moeda estrangeira, o valor em moeda nacional, o código da moeda estrangeira e a taxa de câmbio. O cancelamento de contrato de câmbio ocorre mediante consenso das partes e é formalizado por meio de novo contrato, no qual as partes declaram o desfazimento da relação jurídica anterior, com a observância aos princípios de ordem legal e regulamentar, aplicáveis. Observação: nos casos em que não houver consenso para o cancelamento, podem os bancos autorizados a operar em câmbio proceder à baixa do contrato de câmbio de sua posição cambial, observadas as exigências e os procedimentos regulamentares aplicáveis a cada tipo de operação.A baixa na posição de câmbio representa operação contábil bancária e não implica rescisão unilateral do contrato nem alteração da relação contratual existente entre as partes. 2.4.4 Registro no Sistema Câmbio As instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionarem pelo Banco Central, autorizadas a operarem no mercado de câmbio, devem observar grade horária de utilização do Sistema Câmbio (pelo horário de Brasília): I - grade padrão; II - grade de exceção; III - operações negociadas após o fechamento da grade. 83 Economia Internacional Competência 02 Figura 2.2 - Consulta de posição de câmbio no site do Bacen Fonte: Bacen, 2014. Observação: contratação de cancelamento de operação de câmbio é efetuada mediante o consenso das partes e observância aos princípios de ordem legal e regulamentar, aplicáveis. Sobre posição de câmbio (comprada, vendida, nivelada), aluno, vimos no item anterior. São registradas no Sistema Câmbio e dispensadas da formalização do contrato de câmbio: a. As operações de câmbio relativas a arbitragens celebradas com instituições bancárias no exterior ou com o Banco Central do Brasil; b. As operações de câmbio em que o próprio banco seja o comprador e o vendedor da moeda estrangeira; c. Os cancelamentos de saldos de contratos de câmbio cujo valor seja igual ou inferior a US$5.000,00 (cinco mil dólares dos Estados Unidos) ou seu equivalente em outras moedas; d. As operações cursadas no mercado interbancário e com instituições financeiras do exterior; e. Operações de compra e de venda de moeda estrangeira de até US$3.000,00 (três mil dólares dos Estados Unidos) ou do seu equivalente em outras moedas. As instituições autorizadas a operarem em câmbio devem manter a base de dados de suas operações de câmbio atualizada e disponível ao Banco Central 84 Técnico em Logística Competência 02 do Brasil, observado que a referida base de dados substitui, para todos os fins e efeitos, o documento Registro Geral de Operações de Câmbio (RGO). As agências de turismo que ainda detenham autorização para operar no mercado de câmbio pelo Banco Central do Brasil devem registrar, a cada dia útil, no Sisbacen, até às 12h, horário de Brasília, as informações referentes às suas operações realizadas no dia útil anterior ou, caso não as tenham realizado, a indicação expressa de tal inocorrência. Fonte: https://www.google.com/search?hl=ptBR&site=imghp&tbm=isch&source=hp&biw=1280&bih=576&q=Fluxo+Circular+ de+Renda+de+uma+economia+aberta&oq=Fluxo+Circular+de+Renda+de+uma+ economia+aberta&gs_l=img.3...1671.1671.0.2531.1.1.0.0.0.0.216.216.21.1.0....0...1ac.1.41.img..1.0.0.VbTNkrJV_28#hl=ptBR&q=c%C3%A2mbio+nas+ag%C3%AAncias+de+turismo&tbm=isch&facrc=_&i mgdii=_&imgrc=myDu9BH5uO_dwM%253A%3BBgh8vchLtPgHBM%3Bhttp%253 A%252F%252Fmorumbishopping.com.br%252Fportal%252Fwpcontent%252Fuploads%252Fimage-store%252Fvip-turismo%252Fimage1.jpg%3Bhttp%253A%252F%252Fmorumbishopping.com.br%252Fportal%252Fl ojas%252F%253Fl%253Dvip-turismo%3B510%3B294) As autorizações para operar no mercado de câmbio por agências de turismo e meios de hospedagem de turismo expiraram em 31.12.2009. Apenas as agências que apresentaram o pedido de autorização ao Banco Central nessa data, podem operar no mercado cambial atualmente até segunda ordem. Você pode encontrar este assunto completo na Circular de número 003527 do BACEN, no Capítulo II (Agentesdo Mercado), item 5 (de 3 de março de 2011). 85 Economia Internacional Competência 02 2.4.5 Operações Destinadas a Atender Gastos Pessoais em Viagens Internacionais Fonte: https://www.google.com/search?hl=ptBR&site=imghp&tbm=isch&source=hp&biw=1280&bih=576&q=Fluxo+Circul ar+de+Renda+de+uma+economia+aberta&oq=Fluxo+Circular+de+Renda+de +uma+economia+aberta&gs_l=img.3...1671.1671.0.2531.1.1.0.0.0.0.216.21 6.2-1.1.0....0...1ac.1.41.img..1.0.0.VbTNkrJV_28#hl=ptBR&q=c%C3%A2mbio+nas+ag%C3%AAncias+de+turismo&tbm=isch&facrc=_ &imgdii=_&imgrc=fHQAgQQ5h4rRM%253A%3BaB9v2zS9RxV1bM%3Bhttp%253A%252F%252Fcambio.levyca m.com.br%252Fimg%252Fcambio_img.jpg%3Bhttp%253A%252F%252Fcam bio.levycam.com.br%252Fcambio_turismo.php%3B569%3B243) Tomando como exemplo, um estrangeiro que retorna ao seu país, quando da saída do território nacional, é permitida a ele a aquisição da moeda estrangeira com a moeda (real) não utilizada, não gasta. Quando os valores são superiores a R$10.000,00 (dez mil reais), é exigida a apresentação: I. Da declaração prestada à RFB quando do ingresso no País; ou II. Do comprovante de venda anterior de moeda estrangeira, feita pelo cliente, à instituição autorizada a operar no mercado de câmbio. Aos residentes e domiciliados no exterior, transitoriamente no País, e aos brasileiros residentes ou domiciliados no exterior é permitido o recebimento de moeda estrangeira, em espécie ou em cheques de viagem, referentes a ordens de pagamento a seu favor ou decorrente de utilização de cartão de uso internacional, devendo tais operações ser realizadas sem a formalização de contrato de câmbio. 86 Técnico em Logística Competência 02 2.4.6 Cartões de Uso Internacional Fonte: https://www.google.com/search?hl=ptBR&site=imghp&tbm=isch&source=hp&biw=1280&bih=576&q=Fluxo+Circul ar+de+Renda+de+uma+economia+aberta&oq=Fluxo+Circular+de+Renda+de +uma+economia+aberta&gs_l=img.3...1671.1671.0.2531.1.1.0.0.0.0.216.21 6.2-1.1.0....0...1ac.1.41.img..1.0.0.VbTNkrJV_28#hl=ptBR&q=cart%C3%B5es+de+cr%C3%A9dito+internacionais&tbm=isch&facrc=_ &imgdii=_&imgrc=kEcqfi1HNZ2j4M%253A%3BXkqLaj34880aFM%3Bhttp%25 3A%252F%252Fwww.educacao.cc%252Fwpcontent%252Fuploads%252F2011%252F10%252Fcartoes-de-creditonacionalinternacional.jpg%3Bhttp%253A%252F%252Fwww.educacao.cc%252Ffinanc eira%252Ftipos-de-cartoes-de-credito-nacional-einternacional%252F%3B630%3B198 É permitida a utilização de cartão de uso internacional, no Brasil ou no exterior, para saque e para aquisição de bens e serviços, bem como para pagamento/recebimento ao/do exterior. Com relação à utilização de cartão de uso internacional emitido no Brasil, a administradora do cartão transmite ao Banco Central do Brasil, até o dia 10 de cada mês, via internet ou via sistema Connect, as operações efetuadas no mês anterior por titular de cartão, os dados relativos a saques e aquisições de bens e serviços, indicando o CNPJ ou o CPF do titular do cartão, identificados o proprietário do esquema de pagamento (bandeira) e o valor por beneficiário. No caso de cartão de crédito, a fatura dos gastos deve ser emitida em reais, discriminando o subtotal relativo aos saques e o subtotal referente às aquisições de bens e serviços, informando ao cliente: 87 Economia Internacional Competência 02 I. II. Gastos em moeda estrangeira: a moeda em que foi realizado cada gasto, devendo a fatura ser paga pelo valor equivalente em reais do dia do pagamento; Gastos em reais: a discriminação de cada gasto, sendo proibida indexação a qualquer moeda estrangeira. Quanto à utilização de cartão de uso internacional emitido no exterior: a. pode ser aceito por estabelecimento credenciado a aceitar referido instrumento por empresa credenciadora ou proprietária do esquema de pagamento domiciliada no Brasil; b. também pode ser aceito por banco múltiplo com carteira comercial ou de crédito imobiliário, banco comercial e a Caixa Econômica Federal. A aquisição no exterior de bens e serviços por meio de empresas facilitadoras de pagamentos internacionais é permitida somente mediante o uso de cartão de crédito de uso internacional. 2.4.7 Operações no Mercado de Câmbio Relativas às Exportações de Mercadorias e de Serviços O exportador de mercadorias ou de serviços pode manter, no exterior, a integralidade dos recursos relativos ao recebimento de suas exportações. O ingresso, no País, dos valores de exportação pode se dar em moeda nacional ou estrangeira, independentemente da moeda constante da documentação que ampara a exportação, prévia ou posteriormente ao embarque da mercadoria ou à prestação dos serviços, e os contratos de câmbio podem ser celebrados para liquidação pronta ou futura, observada a regulamentação em vigor. Os contratos de câmbio de exportação são liquidados mediante a entrega da moeda estrangeira ou do documento que a represente ao banco com o qual 88 Técnico em Logística Competência 02 tenham sido celebrados. Quer dizer, as operações estarão finalizadas com sucesso quando a moeda referente à transação efetuada está nas mãos do exportador. O recebimento do valor decorrente de exportação deve ocorrer: a. mediante crédito do correspondente valor em conta no exterior mantida em banco pelo próprio exportador; b. a critério do exportador e do importador, mediante crédito em conta mantida no exterior por banco autorizado a operar no mercado de câmbio no País, na forma da regulamentação em vigor; ou c. por meio de transferência internacional em reais, aí incluídas as ordens de pagamento oriundas do exterior em moeda nacional, na forma da regulamentação em vigor. O recebimento da receita de exportação pode ocorrer em qualquer moeda, inclusive em reais, independentemente da moeda constante da documentação que amparou o embarque (compra do produto) ou a prestação do serviço. A regularização de contrato de câmbio de exportação ocorre mediante prorrogação, liquidação, cancelamento ou baixa, observados os prazos e demais condições estabelecidos na regulamentação. O contrato de câmbio e o registro de transferência internacional em reais referentes a receitas de exportação podem ser realizados por pessoa diferente do exportador nos casos de: I. II. fusão, cisão ou incorporação de empresas e em outros casos de sucessão previstos em lei; decisão judicial; 89 Economia Internacional Competência 02 III. outras situações em que fique documentalmente comprovado que o beneficiário dos recursos possui a prerrogativa, considerando os aspectos de legalidade e fundamentação econômica, de ser o recebedor das receitas de exportação. O contrato de câmbio de exportação pode ser celebrado para liquidação pronta ou futura, já vimos anteriormente o que é liquidação pronta e futura, antes ou depois do embarque da mercadoria ou da prestação do serviço, observado o prazo máximo de 750 (setecentos e cinquenta) dias entre a contratação e a liquidação, bem como o seguinte: a. no caso de contratação prévia, o prazo máximo entre a contratação de câmbio e o embarque da mercadoria ou da prestação do serviço é de 360 (trezentos e sessenta) dias; b. o prazo máximo para liquidação do contrato de câmbio é o último dia útil do 12º mês subsequente ao do embarque da mercadoria ou da prestação do serviço. No caso de já ter ocorrido o embarque da mercadoria ou a prestação do serviço, o cancelamento ou a baixa do contrato de câmbio de exportação deve ser efetuado até o último dia útil do 12º mês subsequente ao do embarque da mercadoria ou da prestação do serviço. Observação: Ocorrendo o recebimento da exportação, o contrato de câmbio baixado deve ser restabelecido e liquidado. Bem, aluno, o Mercado de Câmbio é bastante complexo e extremamente vasto, com muitas expressões e termos diferentes, é preciso ler sempre e com bastante atenção. Aprendemos até o momento sua principal estrutura e algumas particularidades do seu funcionamento. São várias as operações de câmbio e há muito detalhe até a sua finalização com sucesso. Mas vamos imaginar uma operação cambial, vamos aprender a perceber o que é mais importante atentar. Tomemos como exemplo uma compra ou venda no 90 Técnico em Logística Competência 02 Comércio Exterior, essa atividade como qualquer outra, deve ser muito bem planejada. Por ser atividade de características peculiares, é correto afirmar que tal atividade deve ser precedida de um rigorosíssimo planejamento. Mas, devido a circunstâncias diversas, muitas empresas brasileiras, por vezes, simplesmente "atiram-se" ao Comércio Exterior sem refletir sobre possíveis problemas no mercado doméstico, resultantes de planos e "pacotes" econômicos, possível retração da economia nacional, especulação (pessoas desejam obter lucros provenientes da variabilidade ou instabilidade do mercado), ágio. São fatos inerentes à vontade do empresário. Muitas vezes o empresário pequeno e médio, principalmente, não é alertado para os riscos decorrentes das operações de comércio exterior, das suas particularidades, da sua complexidade. Não observa que comprar ou vender no mercado externo é muito diferente de praticar comércio em território brasileiro. Quando se compra ou se vende a outras nações, convive-se com “distâncias” (diferenças) muitas vezes incalculáveis: geográficas, culturais, comerciais, éticas e de costumes, regulamentares. O empresário também pode ser surpreendido com questões de natureza política, como embargos econômicos, moratórias e, até mesmo, por restrições de natureza religiosa. Tudo isso deve ser observado bem antes de realizar esse tipo de operação. Ágio - Os ganhos (lucros) recebidos pelos cambistas e/ou por banqueiros ao trocarem moedas (nacionais por estrangeiras). Juro acima do normal, cobrado por empréstimos feitos em dinheiro; usura. A realidade, no entanto, é que, com a globalização da economia, o comércio exterior passou a ser uma atividade necessária e indispensável para muitas empresas. Para outras, uma questão de sobrevivência. Além do que, a participação no mercado internacional é de fundamental importância para o crescimento empresarial, particularmente no que tange à incorporação e ao desenvolvimento de novas tecnologias. Produtividade e qualidade são palavras de ordem. É imperativo ser competente, competir! E não se tornar competente por acaso. E mais: é necessário entender o planejamento como sendo a administração de um processo, portanto, um procedimento dinâmico. 91 Economia Internacional Competência 02 É de importância capital que todo empresário que se disponha a comerciar com o exterior busque junto aos órgãos governamentais e empresas especializadas, informações mínimas que lhe permitam conhecer as peculiaridades do negócio comercial que pretende realizar. I. O primeiro passo para um futuro exportador, por exemplo, é fazer uma análise competitiva da inserção de seus produtos no mercado internacional. Em seguida, é necessário selecionar os mercados (países) que tenham carência do produto a ser exportado ou para os quais seu produto apresente um diferencial competitivo em função de aspectos tributários, econômicos, políticos, culturais, logísticos, entre outros. Exemplo: Uma indústria brasileira produtora de petróleo e gás natural, que pretende entrar no mercado da Noruega, deve considerar que, além de encontrar dificuldades logísticas, devido à localização geográfica dos países nórdicos, terá uma forte concorrência com a Rússia vizinha, forte produtora de gás natural. II. O segundo passo é verificar se o produto a ser exportado não tem nenhum tipo de restrição para comercialização internacional, ou seja, checar se a legislação brasileira e a legislação vigente no país de destino permitem a comercialização do produto em questão. Exemplo: De acordo com a legislação vigente nos EUA, para exportar produtos do segmento alimentício, farmacêutico e cosmético, é necessário que o exportador efetue um cadastro tanto do produto, quanto da empresa, junto ao F.D.A. –Food and Drug Administration (Administração de Comidas e Remédios - em português). http://www.fda.gov/. FDA é um órgão do governo dos Estados Unidos, criado em 1862, com a função de controlar os alimentos e medicamentos, através de diversos testes e pesquisas. O objetivo do FDA é ter o controle dos alimentos e medicamentos, que podem ser de humanos e animais, suplementos alimentares, cosméticos, 92 Técnico em Logística Competência 02 equipamentos médicos e materiais biológicos. Cada novo produto, antes de ser lançado, tem que ser testado e aprovado pelo órgão, senão não tem sua comercialização liberada, e caso a empresa insista, pode ser autuada e, inclusive ter de pagar uma multa. Essa verificação pode ser realizada junto à Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e junto à Secretaria da Receita Federal, órgão responsável pelo gerenciamento de todas as alfândegas nacionais. As Câmaras de Comércio Bilaterais, como por exemplo, a Câmara de Comércio e Indústria Brasil - Alemanha ou a Câmara Americana de Comércio fornecem informações sobre certificados e documentos exigidos para importação em seus respectivos países. No link (http://www.exporta.sp.gov.br/2004/pages/ccomint.asp) você pode visualizar os contatos de todas as Câmaras Bilaterais de Comércio sediadas no Estado de São Paulo. Exemplos de Leis (Resoluções): Comércio de produtos Farmacêuticos e Farmoquímicos dentro do MERCOSUL - De acordo com a Resolução GMC nº 27/98 - Tratado de Asunción, publicada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, somente poderão exportar e importar produtos Farmacêuticos e Farmoquímicos dentro dos Mercados do Cone Sul, as empresas munidas dos formulários e prazos de validade das autorizações de exportação ou importação e do certificado de não-objeção de entorpecentes e substâncias psicotrópicas (ANVISA) Exemplos de Certificados que podem ser exigidos pelo importador: 93 Economia Internacional Competência 02 a. Certificado de Fitosanidade - documento oficial emitido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, através do Serviço de Vigilância Agropecuária Internacional (Vigiagro), por exigência do importador. É um atestado que produtos de origem vegetal ou animal estão isentos de quaisquer doenças parasitárias ou infectológicas e foram manipulados em condições higiênicas, sob controle de autoridades federais ([email protected]). b. Certificado de Origem - O Certificado de Origem é o documento que comprova a origem da mercadoria para fins de obtenção de tratamento preferencial (conforme Acordos Comerciais Internacionais), ou apenas para o cumprimento de exigência estabelecida através da legislação do país importador (Certificado de Origem Comum). De acordo com informações da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, o Certificado de Origem é emitido em 24 horas, sendo necessário, apenas, a apresentação da Fatura Comercial. III. O terceiro passo será analisar o mercado para avaliar a viabilidade da exportação. Uma vez identificado o mercado e não havendo restrições legais, a empresa deve efetuar uma análise com relação a preços praticados no país, diferenças cambiais, nível de demanda, sazonalidade, embalagens, exigências técnicas e sanitárias, custo de transporte, entre outras. Ou seja, aprofundar a análise realizada no primeiro passo, focando cada um dos países pré-selecionados, visando à captação de importadores. Existem sites que fornecem informações úteis à análise da viabilidade das transações: - BrazilTradeNet – www.braziltradenet.gov.br; - Aliceweb – http://aliceweb.desenvolvimento.gov.br; - Vitrine do Exportador – www.exportadoresbrasileiros.gov.br; - Rede de Negócios – www.redenegocios.rs.gov.br. 94 Técnico em Logística Competência 02 Outra forma de identificar importadores e estabelecer contato com eles, é participar de feiras internacionais, rodadas de negócios e missões comerciais. O SEBRAE/SP por exemplo (www.sebraesp.com.br) disponibiliza um calendário de rodadas de negócios e missões comerciais que serão organizadas pelo SEBRAE, além de oferecer um serviço de consultoria em comércio exterior e questões jurídicas e tributárias totalmente gratuito. No site da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo é possível consultar o calendário de feiras internacionais e nacionais, rodadas de negócios e missões comerciais. APEX – www.apexbrasil.com.br IV. Quarto passo é efetuar o primeiro contato com o importador. Identificado o cliente, é imprescindível que seja enviado a ele o maior número de informações possíveis sobre o produto. Para tanto, pode-se utilizar catálogos, lista de preços e amostras. O exportador deverá sempre se colocar à disposição do cliente (importador) para esclarecimentos técnicos e comerciais sobre o produto. V. O quinto passo é efetuar o credenciamento como exportador. Para obter plena habilitação para exportar, o interessado deverá efetuar credenciamento no Registro de Exportadores e Importadores (R.E.I.), no Sistema Integrado de Comércio Exterior (SISCOMEX) e também no Registro e Rastreamento da Atuação dos Intervenientes Aduaneiros (RADAR). O REI é um cadastro regido pela Secretaria da Receita Federal para identificar os exportadores e importadores brasileiros. O SISCOMEX é um instrumento que integra as atividades de registro, acompanhamento e controle das operações de comércio exterior, através de um único fluxo computadorizado de informações. O sistema é administrado pela Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), pela 95 Economia Internacional Competência 02 Secretaria da Receita Federal (SRF) e pelo Banco Central (BACEN), órgãos gestores no comércio exterior. O RADAR é um sistema que visa agilizar as informações sobre operações efetuadas por exportadores e importadoresquando exigido por algum fiscal em um posto aduaneiro. Como efetuar credenciamento no R.E.I./SISCOMEX/RADAR? Para efetuar o credenciamento em ambos os sistemas/cadastros, é necessário que a pessoa que responda pelo CNPJ da empresa compareça à Unidade da Secretaria da Receita Federal de seu domicílio fiscal. Clicando no link a seguir é possível visualizar a relação de domicílios fiscais (jurisdição) e municípios jurisdicionados no Estado de São Paulo: http://www.receita.fazenda.gov.br Observação: Antes de se dirigir a uma Unidade da Secretaria da Receita Federal acesse as orientações ao contribuinte disponibilizadas no link http://www.receita.fazenda.gov.br. Os procedimentos e modalidades estão regidos pela Instrução Normativa SRF nº 650, de 12 de maio de 2006, http://www.receita.fazenda.gov.br. VI. O próximo passo (6º) é analisar aspectos tributários, nacionais e internacionais. Informações referentes à tributação para exportação sobre qualquer produto podem ser fornecidas pela Secretaria da Receita Federal (www.receita.fazenda.gov.br). As exportações brasileiras são beneficiadas por incentivos fiscais e tributários oferecidos pelo Governo, tais como: a. Não-incidência de IPI e ICMS - O exportador tem imunidade de pagamento do Imposto de Produtos Industrializados (IPI) e a nãoincidência do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). 96 Técnico em Logística Competência 02 b. Manutenção de créditos fiscais de IPI e ICMS - O exportador estará apto a realizar manutenção dos créditos fiscais de IPI e ICMS, relativos à compra de matérias-primas, produtos intermediários, materiais de embalagem, entre outros, que são efetivamente utilizados no processo produtivo de bens destinados à exportação. c. Isenção do COFINS e PIS - O exportador é isento do pagamento da Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (COFINS) e da Contribuição para o Programa de Integração Social (PIS). d. Crédito presumido do IPI - O exportador poderá receber crédito presumido do IPI quando produzir e exportar mercadorias que utilizem insumos nacionais, que sofreram incidência de PIS e COFINS. e. Redução da alíquota do Imposto de Renda - Remessas de divisas para o exterior, destinadas exclusivamente ao pagamento de despesas relacionadas com pesquisa de mercado para produtos brasileiros de exportação, bem como aquelas decorrentes de participação em exposições, feiras e eventos semelhantes são dedutíveis do Imposto de Renda. Despesas com aluguéis e arrendamentos de estandes e locais de exposição, vinculadas à promoção de produtos brasileiros, bem como propagandas realizadas no âmbito desses eventos, também possuem este benefício. f. Drawback (Reembolso de Direitos Aduaneiros) - O exportador poderá utilizar-se também do regime aduaneiro especial de Drawback, que pode ser definido como um instrumento de estímulo às exportações, permitindo às empresas brasileiras o aperfeiçoamento e a modernização de seus produtos. Caracterizado como incentivo, compreende a suspensão ou isenção do recolhimento de taxas e impostos, incidentes sobre a importação de mercadorias utilizadas na industrialização, ou acondicionamento de produtos exportados ou a exportar. 97 Economia Internacional Competência 02 VII. O sétimo passo: selecionar Canal de Distribuição. O exportador deve definir um canal de distribuição. As exportações podem ser cursadas: diretamente, indiretamente ou por intermédio de Trading Companies. a. Exportação direta A venda de produtos diretamente ao consumidor no exterior possibilita a eliminação de intermediários. O contato entre exportador e importador é direto, o exportador fatura a mercadoria em nome do importador, providencia todos os trâmites necessários para a exportação e recebe o pagamento diretamente do importador, eliminando a atuação de Comerciais Exportadoras ou Trading Companies. b. Exportação indireta São as exportações realizadas por meio de intermediários, conforme segue: i. Empresa comercial exclusivamente exportadora; ii. Empresa comercial de atividade mista (que opera tanto nas atividades de mercado interno como da importação e exportação); iii. Cooperativas ou consórcios de fabricantes ou exportadores; iv. Indústria cuja atividade comercial de exportação seja desenvolvida com produtos fabricados por terceiros. c. Exportações por intermédio de Trading Companies Trading Company é a empresa que compra mercadoria em um mercado para revendê-la em outro. VIII. Definir Vias de Embarque, Condição de Venda (INCOTERMS) e Modalidade de Pagamento. Após a aceitação do produto por parte do cliente (importador), é preciso negociar três pontos fundamentais para 98 Técnico em Logística Competência 02 concretizar a exportação. A condição de venda (INCOTERMS), a via de embarque e a modalidade de pagamento. IX. Formas e Vias de Embarque: o transporte internacional pode ser realizado pelos meios aéreo, marítimo e terrestre, ou pela combinação dos mesmos em uma mesma remessa que denominamos Multimodalidade. Definidas as condições de transporte com o cliente (importador), o exportador deve providenciar, com antecedência, a reserva de praça (local) para a carga no meio de transporte selecionado. Fatores a serem analisados: Pontos de embarque e desembarque; Urgência na entrega; Características da carga: peso, volume, formato, dimensão, periculosidade, cuidados especiais, refrigeração, etc.; Possibilidade do uso dos meios de transporte, tais como disponibilidade, frequência, adequação, exigências legais. Multimodalidade - A opção vincula o percurso da carga a um único documento de transporte, designado Documento ou Conhecimento de Transporte Multimodal, independente das diferentes combinações de meios de transportes, como por exemplo, terrestre e aéreo. A lei nº. 9.611/98, 20.02.1998, mais conhecida como Lei do OTM, disciplina a utilização dos serviços de transporte multimodal. 99 Economia Internacional Competência 02 Fonte: https://www.google.com.br/search?q=fluxo+circular+de+renda&es_s m=122&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei=6TNQU91H6m_sQS4uYG4Dg&ved=0CAgQ_AUoAQ&biw=1280&bih=619#q=exp ortador&tbm=isch&facrc=_&imgdii=_&imgrc=QiTCgUuumF1SVM%253 A%3BWuLqmzxnHHiRZM%3Bhttp%253A%252F%252Fcomercioexterior descomplicado.files.wordpress.com%252F2013%252F06%252Fexporta c3a7c3b5esbrasileiras.jpg%3Bhttp%253A%252F%252Fcomercioexteriordescomplic ado.wordpress.com%252F2013%252F07%252F03%252Fbrasil-saopaulo-foi-o-maior-exportador-do-pais-em-maio%252F%3B800%3B600 Como você já sabe, ou acredito saber, em função de outras disciplinas já vistas, os modais (meios de transportes) podem ser: aéreo; ferroviário; marítimo e terrestre/rodoviário. Condição de Venda – INCOTERMS - Os INCOTERMS (InternationalCommercialTerms - Condições Internacionais de Comércio) definem os direitos e obrigações mínimas do vendedor (exportador) e do comprador (importador), no que diz respeito a fretes, seguros, movimentações em terminais, liberações em alfândegas, pagamento de direitos aduaneiros e obtenção de documentos de um contrato internacional de venda de mercadorias. As regras estabelecidas internacionalmente são uniformes e imparciais, servindo de base para negociações entre países. Modalidades de Pagamento - as principais modalidades de pagamento no comércio exterior são: - Pagamento antecipado (AdvancedPayment); - Remessa direta ou sem saque (Clean Collection); - Cobrança documentária (Sight Draft / Term Draft); - Carta de crédito (L/C –LetterofCredit). 100 Técnico em Logística Competência 02 i. Pagamento Antecipado É realizado antes do embarque da mercadoria e é caracterizado como uma garantia contra o cancelamento do pedido. Geralmente é parcial, ou seja, um percentual sobre o valor total da transação. ii. Remessa Direta ou Remessa sem Saque O exportador embarca a mercadoria e envia diretamente ao importador todos os documentos da operação. O importador, ao receber os documentos, promove o desembaraço da mercadoria na alfândega e posteriormente, providencia a remessa das divisas para o pagamento da operação. iii. Cobrança Documentária O exportador, após o embarque da mercadoria, emite uma Letra de Câmbio, também denominada “saque” ou “cambial”, que será enviada a um banco no país do importador, juntamente com os documentos de embarque. O pagamento poderá ser à vista ou a prazo, conforme acordado entre as partes. No caso da cobrança a prazo, o importador só poderá retirar os documentos do banco para desembaraço da mercadoria se aceitar (assinar, manifestando concordância) a cambial, que lhe será apresentada para pagamento no prazo oportuno. Observação: A Câmara de Comércio Internacional (CCI) estabeleceu regras e usos uniformes para a cobrança documentária, chamada Publicação nº 522, que define as responsabilidades das partes nesse processo. A publicação é adotada pela maioria dos bancos que prestam esse serviço. iv. Carta de Crédito 101 Economia Internacional Competência 02 A carta de crédito, também conhecida por “crédito documentário”, é a modalidade de pagamento mais praticada pelos comerciantes internacionais, porque oferece maiores garantias tanto ao exportador quanto ao importador. Podemos defini-la como uma ordem de pagamento condicional, emitida por um banco, a pedido de seu cliente importador, em favor de um exportador, que somente faz jus ao recebimento se cumprir todas as exigências por ela estipulada. O exportador tem garantia de pagamento de dois ou mais bancos, e o importador, a certeza de que só haverá pagamento se suas exigências forem cumpridas. A carta de crédito pode ser emitida para pagamento à vista ou a prazo e por se constituir em uma garantia bancária, acarreta custos adicionais para o importador, que paga taxas e comissões para a abertura do crédito, além de contra-garantias exigidas pelo banco emissor. A carta de crédito pode sofrer alterações, chamadas de “emendas”, que somente terão validade se forem aceitas por todas as partes intervenientes no crédito, a saber: banco emissor, banco confirmador, tomador do crédito e beneficiário. Observação: A Câmara de Comércio Internacional (CCI) estabeleceu normas para a emissão e utilização de créditos documentários, amparados pela publicação nº 500 - “Regras e Usos Uniformes para Créditos Documentários”, aceitas internacionalmente. X. Formalizar a negociação. Confirmado o fechamento do negócio, o exportador deve formalizar a negociação enviando uma fatura próforma. Esta fatura é um pré-contrato, semelhante a um pedido de compra, contendo o logotipo da empresa, informações sobre o importador e o exportador, descrição da mercadoria, peso líquido e bruto, quantidade, preço unitário e total, condição de venda, 102 Técnico em Logística Competência 02 modalidade de pagamento, meio de transporte e tipo de embalagem. A fatura pró-forma garante as informações necessárias para a emissão da Carta de Crédito e para o fechamento de câmbio no caso de pagamento antecipado. Não existe nenhum padrão de pró-forma, cada exportador pode montar o seu, desde que contenha todas as informações descritas acima. XI. Preparar a mercadoria para embarque. Caso não haja mercadoria em estoque, o exportador deve agilizar a produção e informar previsão de entrega ao cliente, para que o mesmo possa tomar as providências necessárias quanto ao pagamento e iniciar os processos aduaneiros cabíveis de acordo com a legislação vigente no país. XII. Solicitar a autorização de embarque. Concluída a produção da mercadoria, o exportador deverá confirmar com o importador se o pagamento ou a abertura da L/C (LetterofCredit = carta de crédito) já foi efetuado(a) e solicitar autorização para proceder com o embarque. XIII. Providenciar a documentação para embarque. De posse da autorização de embarque do importador, é necessário iniciar a emissão da documentação que irá amparar a mercadoria. Esta documentação é composta por: a. Romaneio ou PackingList - Documento que indica os volumes e respectivos conteúdos do embarque. Este documento é necessário para o desembaraço da mercadoria, tanto na saída promovida pelo exportador como também para orientar o importador, quando da chegada da mercadoria no país de destino. b. Registro de Exportação - RE - De posse do romaneio torna-se possível o preenchimento do RE, no SISCOMEX. c. Nota Fiscal - Preparado o RE, o passo seguinte é a emissão da Nota Fiscal que acompanhará a mercadoria desde a saída do estabelecimento até a efetiva liberação para o exterior. 103 Economia Internacional Competência 02 d. Conhecimento de Embarque - Este documento é emitido pelo agente de carga ou transportador internacional da mercadoria. e. Certificados - Dependendo da mercadoria que se esteja embarcando para o exterior, poderá ser exigido algum certificado que ateste a qualidade, a origem ou certas especificações do produto. Exemplo: Certificado de Origem, Certificado Fitosanitário, Certificado de Registro Genealógico, Certificado de Inspeção, etc. Solicitar a autorização de embarque. Concluída a produção da mercadoria, o exportador deverá confirmar com o importador se o pagamento ou a abertura da L/C já foi efetuada e solicitar autorização para proceder com o embarque. XIV. Embarque da mercadoria e despacho aduaneiro. Após a emissão da documentação, deverá ser efetuado o embarque da mercadoria e desembaraço na aduana (alfândega). O despacho de embarques aéreos ou marítimos é efetuado por agentes aduaneiros mediante o pagamento da taxa de capatazia. O embarque rodoviário é efetuado no próprio estabelecimento do produtor, ou em local pré-estabelecido pelo importador. A liberação da mercadoria para embarque é feita mediante a verificação física e da documentação realizadas por agentes da Receita Federal nos terminais aduaneiros. Todas as etapas do despacho aduaneiro são feitas através do SISCOMEX, pelos despachantes devidamente credenciados. Informações referentes a despachos e regimes aduaneiros podem ser obtidas junto ao SINDASP - Sindicato dos Despachantes Aduaneiros de São Paulo. XV. Preparar a documentação pós-embarque. Embarcada a mercadoria para o exterior, inicia-se uma nova fase, que é a preparação dos documentos necessários para o recebimento dos recursos provenientes da exportação junto ao banco. 104 Técnico em Logística Competência 02 Documentos exigidos junto aos Bancos: a. Fatura Comercial - Documento contendo todos os elementos básicos da operação como: descrição da mercadoria, logotipo da empresa, informações sobre o importador e o exportador, peso líquido e bruto, quantidade, preço unitário e total, condição de venda, modalidade de pagamento, meio de transporte, tipo de embalagem. b. Registro de Exportação (RE) - O Registro de Exportação deve seguir com o conjunto de documentos para o banco no exterior. c. Solicitação de Despacho (SD) - Documento emitido no SISCOMEX, que reúne um conjunto de informações referentes ao procedimento fiscal de liberação da mercadoria junto à alfândega. d. Saque ou Cambial - Também denominado de Draft, representa o título de crédito da operação, deve ser enviado ao banco correspondente do importador no exterior. e. Certificado ou Apólice de Seguro - É necessária sua apresentação nas operações conduzidas sob a modalidade Custo Seguro e Frete (CIF). O certificado de seguro é emitido pela seguradora contratada pelo exportador. f. Fatura e/ou Visto Consular - É necessária quando o país de destino da mercadoria impuser este documento. A Fatura e/ou Visto Consular é validada em um consulado do país do importador no Brasil. g. Conhecimento de Embarque - Seus originais são documentos básicos para a negociação, uma vez que o importador os utilizará para o desembaraço da mercadoria no destino. h. Carta de Crédito - Nas operações conduzidas sob esta condição de pagamento, o original deste documento é imprescindível para que o exportador possa concretizar a entrega e o recebimento de seu valor junto ao banco. 105 Economia Internacional Competência 02 i. Certificados - Tanto aqueles certificados porventura exigidos para o embarque da mercadoria para o exterior como também aqueles que atestam a origem do produto exportado. j. Carta de Entrega - Consiste em uma carta na qual são relacionados todos os documentos que estão sendo negociados (entregues ao banco). A cópia desta carta, devidamente protocolada pelo banco, representa a prova de que o exportador cumpriu o compromisso de negociar os documentos, exigidos pelo Banco Central do Brasil. Obs.: Para negociação amparada pela modalidade de pagamento antecipado, esses documentos devem ser providenciados juntamente com os documentos de embarque. XVI. Efetuar a Contratação de Operação de Câmbio. Para efetuar a operação de câmbio, é necessário negociar com uma instituição financeira autorizada ou uma corretora de câmbio o pagamento, em reais ou a conversão da moeda estrangeira, recebida pela aquisição das mercadorias exportadas. Esta operação é formalizada mediante um contrato de câmbio. Após a confirmação da transferência para o banco do exportador deverá ser feita a liquidação do câmbio conforme as condições descritas no contrato de câmbio. O recebimento deverá ser em reais. Mecanismo de proteção cambial As corretoras de mercadorias da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) podem oferecer um apoio importante às empresas nacionais que se dedicam à comercialização externa de seus produtos, inclusive para aquelas de pequeno e médio porte, que buscam ingressar no universo do comércio exterior ou firmar uma posição competitiva nos mercados globais. As corretoras que têm experiência e tradição na 106 Técnico em Logística Competência 02 realização de operações de câmbio representam inestimável suporte para o exportador, seja pelo apurado expertise que detêm no negócio de intermediação de divisas, seja pelo aconselhamento técnico especializado que podem prestar à empresa exportadora, orientando-a no caminho frequentemente intrincado que conduz ao comércio internacional de bens e serviços. As corretoras da BM&F também podem ajudar o exportador apresentando alternativas de operações de hedge (operações de proteção de preço realizadas nos mercados de derivativos da Bolsa), por intermédio das quais o exportador pode minimizar os riscos de variação cambial adversa ou de uma flutuação,não prevista, das taxas de juros, a que ele está normalmente exposto no seu cotidiano de negócios. Simulador BM&F O Simulador BM&F é um programa educativo gratuito on-line direcionado a todos aqueles que gostariam de conhecer ou aprofundar seus conhecimentos sobre os mecanismos de proteção cambial e de preço da BM&F. Você mesmo, via internet, faz simulações de negociações de minicontratos futuros de boi, café, dólar e Ibovespa e aprende como operações de proteção com esses minicontratos podem minimizar os riscos que afetam os ganhos do seu negócio. 107 Economia Internacional Competência 03 3. COMPETÊNCIA 03 | CONHECER E INTERPRETAR O BALANÇO DE PAGAMENTOS (BP) 3.1 Conceito Atualmente adota-se a definição do FMI (Fundo Monetário Internacional, 2004): Balanço de Pagamentos é o registro sistemático de todas as transações econômicas realizadas entre os residentes em determinado país e os residentes no resto do mundo, durante certo período, geralmente de um ano. Um economista chamado P. T. Ellsworth fornece a seguinte definição: “O Balanço de Pagamentos Internacionais de um país é um balancete resumido, ou conta corrente, de todas as transações de seus residentes com os residentes do resto do mundo". (Jayme Maia, p. 249, 2004) Quando se fala em agentes econômicos, estão inseridas também nesse rol, as pessoas (alguns autores chamam indivíduos) e empresas (alguns autores chamam firmas) domiciliadas ou não no país. Dadas essas definições, pode-se dizer que Balanço de Pagamentos (BP) é o levantamento, por critérios contábeis, de todas as transações econômicas, reais e financeiras, realizadas durante determinado período de tempo, entre os agentes econômicos residentes no país e os não residentes, domiciliados ou estabelecidos em outros países (Rossetti, 2003). Para saber qual o papel do FMI na estrutura do BP, faz-se necessário que o aluno leia o Texto Complementar sobre esse organismo internacional. Ademais, o BP possui alguns termos e conceitos um pouco mais específicos, que serão minuciosamente tratados mais à frente. Lembrando que agentes econômicos são todos os entes que interagem no mercado (famílias/firmas, empresas/, governo e resto do mundo). 108 Técnico em Logística Competência 03 3.2 Estrutura A estrutura de um BP é definida pela natureza das transações, em duas grandes categorias (dois grupos de contas que registram os fluxos entre um determinado país e o exterior): as Transações Correntes e os Movimentos de Capitais. O primeiro concentra o comércio de bens e serviços e todas as transações não financeiras, o segundo são registradas as movimentações financeiras. É importante saber que no Brasil, o BP é elaborado pelo Banco Central – BACEN, que usa como base a metodologia definida no Manual do Balanço de Pagamentos do Fundo Monetário Internacional (FMI). Como já dito, as transações são quantificadas na forma de registros contábeis, que destacam os direitos (créditos) e as obrigações (débitos) entre as nações (Nascimento e Souza, 2007). Na prática, aluno, quando uma pessoa ou empresa compra algum produto fora do país ou exporta (vende) algum produto ou serviço, essas transações são registradas nesse tipo de documento (no BP). Quando se remete dinheiro para alguém que estuda fora do país, contrata um seguro estrangeiro ou um empréstimo em um banco estrangeiro, estas e muitas outras operações são registradas também no BP. Veremos a seguir a subdivisão dessas contas. A tabela seguinte mostra como estão distribuídas as contas em um BP. O resultado final das entradas e saídas foi positivo, o que representa um superávit no BP. Nesse caso, as entradas (receitas) no país foram maiores do que as saídas (despesas fora do país). Veremos adiante o que significa cada conta relacionada. 109 Economia Internacional Competência 03 US$ milhões Quadro 3.1 Balanço de Pagamentos - Estrutura 1. Transações Correntes 1.1 Balança Comercial Exportação Importação 1.2 Balança de Serviços Viagens Transportes Seguros Financeiros Computação e Informações Royalties e Licenças Aluguel de equipamentos Serviços Governamentais Outros Serviços 1.3 Balança de Rendas Salários e Ordenados Rendas de Investimentos (Juros, Lucros e Dividendos) 1.4 Transferências Unilaterais Correntes Donativos Manutenção de residentes no país 60.362 -46.000 -5.038 -500 -720 -1.000 -1.020 -240 -135 -600 -700 -123 -19.191 -8.191 -11.000 2.390 1.800 590 2. Conta Capital Transferência de patrimônio 4. Erros e Omissões 5. Saldo = déficit (-) ou superávit (+) 450 450 8.563 8.563 -813 -813 723 450 3. Conta Financeira Investimentos Diretos Investimentos em Carteira Derivativos Outros Investimentos -7.477 14.362 2.000 1.185 2.300 3.078 Nota: Dados fictícios/Elaboração própria A seguir temos um quadro real divulgado pelo Banco Central do Brasil do Balanço de Pagamentos, onde o público poderá ter acesso pela internet aos resultados mais atualizados de todas as contas e seus registros. Na tabela real existem poucas diferenças em relação à tabela fictícia acima, uma delas está nas Contas de Capital e Financeira, na tabela real essas contas estão registradas conjuntamente. A tabela do BACEN (Banco Central) apresenta uma comparação do mês de fevereiro de 2013 em relação ao mesmo período de 2014. O último dado anual divulgado é 2013, ou seja, a defasagem é de apenas um ano. 110 Técnico em Logística Competência 03 Quadro 3.2 Balanço de Pagamentos atual Quadro I – Balanço de pagamentos US $ m ilhõ e s D is c rim ina ç ã o 2 0 13 * 2 0 14 * F ev B alança co mercial (FOB ) J a n- f e v A no F ev J a n- f e v - 1279 - 5 319 2 558 - 2 125 - 6 183 Expo rtaçõ es 15 549 31516 242 179 15 934 31960 Impo rtaçõ es 16 828 36 835 239 621 18 059 38 143 Serviço s - 3 132 - 6 788 - 47 523 - 3 480 - 6 839 Rendas - 2 667 - 6 511 - 39 772 - 1954 - 6 299 502 692 3 364 114 Transferências unilaterais co rrentes (líquido ) T ra ns a ç õ e s c o rre nt e s C o nt a c a pit a l e f ina nc e ira Co nta capital Co nta financeira Investimento direto (líquido ) No exterio r P articipação no capital Empréstimo s interco mpanhias 286 - 6 576 - 17 9 2 6 - 81 374 - 7 445 - 19 0 3 6 8 023 2 1 2 15 7 4 6 14 7 627 21 563 52 171 1194 49 136 7 971 21043 73 420 7 578 21427 3 000 6 410 67 541 4 714 9 686 - 814 - 1107 3 496 582 456 - 968 - 1657 - 14 760 - 723 - 4 805 155 550 18 256 1305 5 261 3 814 7 517 64 045 4 132 9 230 P articipação no capital 2 291 4 997 41644 3 264 6 796 Empréstimo s interco mpanhias 1523 2 520 22 401 868 2 434 1597 4 353 25 691 2 250 6 188 - 263 - 1195 - 8 974 85 1314 - 50 - 79 - 1462 101 15 - 213 - 1116 - 7 512 - 17 1299 P assivo s 1860 5 548 34 664 2 166 4 874 A çõ es 1600 5 244 11636 - 393 - 984 260 304 23 028 2 559 5 858 No país Investimento s em carteira A tivo s A çõ es Título s de renda fixa Título s de renda fixa Derivativo s A tivo s P assivo s Outro s investimento s 1/ A tivo s P assivo s Erro s e o missõ es V a ria ç ã o de re s e rv a s ( - = a um e nt o ) - 10 4 110 42 56 22 40 382 439 457 - 31 - 36 - 271 - 396 - 402 3 383 10 276 - 19 922 572 5 498 - 4 049 1325 - 39 558 - 2 227 352 7 432 8 950 19 636 2 799 5 146 417 - 49 833 41 587 - 1 865 - 3 240 5 926 - 222 - 3 114 1 865 3 240 - 5 926 222 3 114 M emo : R e s ult a do glo ba l do ba la nç o Transaçõ es co rrentes/P IB (%) - - 5,15 - 3,62 - - 5,45 IED/P IB (%) - 2,16 2,85 - 2,64 1/ Registra créditos comerciais, empréstimos, moeda e depósitos, e outros ativos e passivos. * Dados preliminares. Fonte: Banco Central do Brasil, 2014 Acesso: https://www.bcb.gov.br/?ECOIM PEXT Nota: FOB (Free on Board ): designa uma modalidade de repartição de responsabilidades, direitos e custos entre comprador e vendedor, no comércio de mercadorias. O termo é incluído na listagem dos Incoterm (International Commercial Terms ). 111 Economia Internacional Competência 03 3.2.1 Transações Correntes O Balanço de Pagamentos em Transações Correntes corresponde aos registros da Balança Comercial, da Balança de Serviços (ou simplesmente Serviços), Balança de Rendas (ou Rendas) e das Transferências Unilaterais Correntes. Assim temos: TC = BC + BS + BR + TUC TC = Saldo do BP em Transações Correntes BC = Saldo da Balança Comercial BS = Saldo da Balança de Serviços BR = Saldo da Balança de Rendas TUC = Saldo de Transferências Unilaterais Correntes 3.2.1.1 Balança Comercial Esta é a primeira conta das Transações Correntes. É o local onde são registradas as exportações, contabilizadas como receitas (+), são as vendas realizadas para as nações estrangeiras; e importações, compras realizadas por pessoas e empresas fora do país, contabilizadas como despesas (-). Segundo Rossetti (2003), a Balança Comercial é o resultado líquido das operações de exportação (+) e importação (-) de mercadorias, é a única conta do BP onde as movimentações são visíveis, físicas, entre as fronteiras nacionais. São elas: a compra e venda de produtos primários, semiacabados ou de utilização final, destinados ao consumo e à formação de capital fixo (consiste no capital físico que não é consumido durante um ciclo de produção. São os edifícios, máquinas e equipamentos, corresponde ao ativo fixo de uma empresa). Esta é a conta internacional de maior expressão, que tem o maior peso no BP, e termina por influenciar nas demais contas. Quando as importações (despesas) são maiores que as exportações (receitas), ocorre um déficit e os países tentam equalizar esse resultado por meio das demais contas, é quando 112 Técnico em Logística Competência 03 os governos dos países tentam reverter a situação por meio da abertura para investimentos estrangeiros ou ainda via tomada de empréstimos e financiamentos no exterior. Entretanto, quando os governos decidem tomar empréstimos e financiamentos de outros países, terminam se endividando externamente (é o que chamamos hoje dívida externa brasileira). Portanto o saldo da Balança Comercial é a diferença entre a exportação (+) e a importação (-) de bens e serviços: BC = Xb – Mb Onde: BC = Saldo da Balança Comercial Xb = Exportação de bens Mb = Importação de bens É importante saber que as mercadorias são classificadas, na balança comercial, por códigos numéricos, é dada uma nomenclatura. No Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), podemos encontrar uma explicação sobre essa nomenclatura: Nomenclatura é uma "linguagem" criada pelo homem para a identificação de mercadorias no comércio internacional. Essa linguagem foi criada porque se tornou necessária a existência de um sistema que pudesse facilitar o processo de troca comercial entre as nações, independentemente de diferenças linguísticas ou culturais. Em decorrência dessa necessidade, foi elaborado um sistema para harmonizar a Designação e a Codificação de Mercadorias, conhecido como "Sistema Harmonizado", ou simplesmente SH. Com o advento do Mercosul, foi criada a Nomenclatura Comum do Mercosul - NCM, composta de 8 dígitos e baseada no Sistema Harmonizado... 113 Economia Internacional Competência 03 Em outras palavras, aluno, são códigos criados para identificar com mais rapidez e segurança os produtos que estão sendo comercializados em todo o mundo. Sendo assim, uma importadora da Nova Zelândia operacionaliza madeira em um contêiner, o mesmo código é usado por uma empresa exportadora de madeira brasileira. As mercadorias são identificadas por um conjunto de números, em ordem crescente, de acordo com o seu grau de elaboração, ou seja, quanto maior a complexidade do processo produtivo do produto, maior é seu número no Sistema Harmonizado. Dessa forma, as mercadorias estão ordenadas de forma progressiva, iniciando com animais vivos e terminando com as obras de arte, passando por matérias-primas e produtos semielaborados. Quanto maior a participação do homem na elaboração da mercadoria, mais elevado é o número do capítulo em que ela será classificada. (Fonte: MDIC, 2014) http://www.mdic.gov.br/sistemas_web/aprendex/defau lt/index/conteudo/id/20 As figuras 3.3 e 3.4 são exemplos de tabelas de nomenclaturas (NCM): Figura 3.3 - Visualização de tela Fonte: http://www.brasilglobalnet.gov.br/classificacaoncm/pesquisa/frmpesqncm.aspx 114 Técnico em Logística Competência 03 Figura 3.4 - Visualização de tela Fonte: http://www.brasilglobalnet.gov.br/classificacaoncm/pesquisa/frmpesqncm.aspx A figura abaixo é uma página extraída do site do MDIC, onde vemos uma notícia recente sobre o resultado de nossa Balança Comercial, observe. No entanto, a sugestão é que você dê uma navegada no próprio site (www.mdic.gov.br) para conhecer. Inicia-se a pesquisa na aba ‘COMÉRCIO EXTERIOR’ e depois no menu à esquerda “Estatísticas de comércio exterior – DEAEX”. Lá você encontrará diversos dados das estatísticas dessa conta do BP. O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC é um órgão integrante da estrutura da administração pública federal direta. Sua missão é formular, executar e avaliar políticas públicas para a promoção da competitividade, do comércio exterior, do investimento e da inovação nas empresas e do bem-estar do consumidor. Figura 3.5 - Página site do MDIC 115 Economia Internacional Competência 03 Figura 3.6 - Capa da Balança Comercial - MDIC Fonte: MDIC: http://www.mdic.gov.br//arquivos/dwnl_1394635352.pdf É no site do MDIC que obtemos todas as Balanças Comerciais brasileiras. A periodicidade das informação é: semanal, mensal, dados consolidados (ano a ano); e de cooperativas, por países e blocos econômicos, por município, Unidade da Federação (Estado). Podemos encontrar dados estatísticos, empresas brasileiras importadoras e exportadoras, etc.A Figura 4, acima, refere-se à capa da Balança Comercial Brasileira, divulgada pelo MDIC, onde podemos verificar os dados consolidados de 2013. Ele é apresentado em três idiomas: português, espanhol e inglês. As mercadorias que compõem as importações e exportações do Brasil são: Quadro 3.3 Exportações e Importações Desempenho das Importações Desempenho das Exportações Valor (US$ milhões) Part % Valor (US$ milhões) Part % Total 242.179 100% Básicos (produtos primários) Total 239.620 100% 113.023 46,7% Bens Intermediários 106.502 44,4% Manufaturados Semimanufaturados 93.090 38,4% Bens de Capital 51.653 21,6% 30.526 12,6% Bens de Consumo 40.963 17,1% Petróleo e Combustíveis 40.502 16,9% Fonte: MDIC, 2014 116 Técnico em Logística Competência 03 3.2.1.2 Balança de Serviços (Serviços) Chama-se Balança de Serviços ou simplesmente Serviços, a conta das Transações Correntes do BP que registra as receitas e despesas cambiais com seis categorias de transações: i. as viagens internacionais, que registra os gastos líquidos (receitas menos despesas com as viagens) de residentes em viagens ao exterior e dos não residentes em viagem dentro do país; Vamos ao exemplo: João é brasileiro e deseja viajar ao Japão, levará moeda estrangeira, quase sempre dólar; esse valor transportado será registrado nesta conta Serviços como despesa porque João não gastará no Brasil e sim no Japão; digamos agora que Jennifer, americana, vem para o Brasil e gasta seus dólares aqui, essa quantia entra como receita porque ela gastará dentro do Brasil. ii. transportes (fretes), registro dos gastos de não residentes com a utilização de equipamentos de bandeira nacional, para a movimentação de pessoas e cargas, e registro dos gastos de residentes com a utilização de equipamentos de bandeira estrangeira; iii. além dos seguros relacionados à movimentação de pessoas e cargas (os seguros de saúde feitos para que as pessoas viagem, seguro de equipamentos e máquinas, de bagagens, etc.), registra também o saldo líquido de repasses internacionais referentes aos seguros dos residentes contratados de empresas seguradoras externas, e os seguros de não residentes, contratados nas seguradoras estabelecidas no país; iv. serviços governamentais, são registrados os saldos líquidos gastos com representação diplomática ou de efetivos militares no exterior, também as contribuições nacionais para fundos e organizações multilaterais; 117 Economia Internacional Competência 03 v. outros serviços, registram-se os saldos líquidos de um heterogêneo conjunto de transações, direitos autorais, telecomunicações, patentes industriais (Rossetti, 2003). Portanto o saldo da Balança de Serviços é a diferença entre as receitas e as despesas decorrentes das operações de venda e compra de serviços. BS = X – M Onde: BS = Saldo da Balança de Serviços X = Receita de exportação de serviços M = Despesa de importação de serviços 3.2.1.3 Balança de Rendas (Rendas) São relacionadas nessa conta as seguintes rendas: i. ii. iii. iv. v. vi. os salários e ordenados pagos; os lucros e dividendos de Investimentos Diretos (Investimentos Externos Diretos – IED, são os investimentos dos estrangeiros); juros de empréstimos; juros e dividendos* de investimentos em carteira, estes últimos podem ser: ações, fundos, títulos públicos, debentures, aplicações imobiliárias, entre outros; juros de títulos da dívida (renda fixa); e rendas de outros investimentos. Na estrutura anterior a que usamos atualmente, as rendas de investimentos (lucros) eram registradas na conta Serviços. Esses lucros são as remessas feitas por empresas internacionais, com operação no país, decorrentes de dividendos pagos a seus acionistas não residentes (Jayme Maia, 2004). 118 Técnico em Logística Competência 03 3.2.1.4 Transferências Unilaterais Correntes São também denominadas transferências não retribuídas, é o resultado líquido de doações de fontes privadas, de governos ou de instituições multilaterais, sem a contrapartida prévia ou futura. Na prática, são as transferências onde não há retorno, ela segue unilateralmente (para uma única direção ou para um favorecido). São exemplos dessas transferências unilaterais: i. ii. iii. iv. v. vi. vii. os donativos; as operações das ONGs* (organizações não governamentais); auxílios a instituições beneficentes e religiosas; reparações de guerra; as ajudas dos países de Primeiro Mundo aos do Terceiro Mundo; remessas internacionais entre unidades familiares (destinado à manutenção de residentes que se encontram no exterior), um filho que estuda fora do país, por exemplo; remessas provindas de trabalhadores temporariamente emigrados (que estão fora do país), que tendem a enviar parte de seus ganhos no exterior para o seu país de origem. Estas contas não criam contrapartidas de obrigações, ou seja, o país que recebe a quantia enviada, não precisa efetuar nenhum retorno, diferentemente do que ocorre com a importação (-) e exportação (+). 3.2.2 Conta Capital Conforme Jayme Maia (2004), essa conta só foi criada com essa metodologia na quinta edição do Manual de Balanço de Pagamentos do FMI, ela não existia na antiga estrutura. Ela registra as transferências unilaterais de patrimônio 119 Economia Internacional Competência 03 (aquisição/alienação de bens não financeiros não produzidos, tais como cessão de patentes e marcas). As marcas e patentes não poderiam ser produzidas, pois são bens imateriais, intangíveis, nelas estão impressas/inseridas atividades intelectual e de criação. Então você pode me perguntar: professora, “por que unilateral?”. Porque não tem que haver uma contrapartida de mesmo valor. Rossetti (p. 887, 2003) afirma: Os movimentos de capitais são representados por entradas e saídas de ativos financeiros de três categorias básicas: movimentos autônomos de risco, atraídos pelas oportunidades de investimentos e de reinvestimentos nos setores real e financeiro do país receptor; os financiamentos concedidos por bancos e fornecedores estrangeiros para transações correntes, preponderantemente exportações e importações; e os empréstimos de curto e de longo prazo tomados junto a organismos internacionais, agências governamentais e instituições financeiras privadas de outros países. Rossetti (2003) ainda cita outra categoria de fluxo financeiro, que expressa as amortizações de dívidas externas contraídas. O que quer dizer isso? Existem países que são credores (emprestam) de outros que tomam esses empréstimos e financiamentos, os juros a pagar são registrados na conta Rendas e as amortizações do capital (da dívida, do principal) são registradas nesta Conta Capital. É uma única operação com registro em contas distintas/diferentes. Vamos pensar um pouco... Digamos que você, aluno, contraia uma dívida. Você terá que pagar o valor da dívida mais os juros, sendo este registrado em uma conta (Conta Renda) e a amortização em outra conta (a Conta Capital). Lembre-se que a amortização é um processo de extinção de uma dívida através de pagamentos periódicos, que são realizados em função de um planejamento, de modo que cada prestação corresponde à soma do reembolso do capital ou do pagamento dos juros do saldo devedor, 120 Técnico em Logística Competência 03 podendo ser o reembolso de ambos, sendo que os juros são sempre calculados sobre o saldo devedor (Fonte: Wikipédia). Vejamos o exemplo de outra forma: Um empréstimo é tomado (feito), e o tomador (devedor) pagará o valor acrescido de juros. O parcelamento da dívida é feito dividindo-se o valor desejado (principal) pela quantidade de parcelas a serem pagas, e cada parcela é composta de valor principal dividido em parcelas + juros em cada parcela. Quando o tomador vai pagando as parcelas, a dívida vai se extinguindo (diminuindo até a sua completa quitação), é o que ocorre, as amortizações (redução) do capital emprestado no período contratado. 3.2.3 Conta Financeira Essa conta registra os fluxos das seguintes transações financeiras (subcontas): i. ii. iii. iv. investimentos diretos; investimentos em carteira; derivativos; outros investimentos. Explicando com mais detalhe, temos: i. Investimentos diretos: registra a aplicação e o retorno dos investimentos diretos de brasileiros no exterior, de estrangeiros no Brasil e empréstimos intercompanhias (de brasileiros para o exterior e de estrangeiros para o Brasil). Empréstimos intercompanhias são os créditos enviados das matrizes de empresas para as suas filiais, também os créditos de filiais, brasileiras ou estrangeiras, às suas matrizes. ii. Investimentos em carteira: registra a entrada e saída de divisas relativas à negociação de títulos de crédito comumente negociados em 121 Economia Internacional Competência 03 mercados secundários de papeis. Você deve estar se perguntando “O que são esses títulos de crédito?”. Assaf Neto (2003) descreve, em seu livro ‘Mercado Financeiro’ que, quando o governo decide retirar moeda da economia (reduz a oferta monetária da economia – promove a política monetária), na tentativa de controlar a demanda por bens e serviços e, portando, conter a inflação, ele negocia seus títulos (vendendo - é uma espécie de título de crédito), no Mercado Aberto. Desta forma, como já vimos na Competência sobre a Macroeconomia, o governo retira das famílias (indivíduos) e das empresas (agentes econômicos) o poder de compra (moeda/dinheiro) de bens e serviços, à medida que torna mais atrativo investir nesses títulos. As Ofertas públicas (leilões) são realizadas semanalmente pelo Tesouro Nacional e operacionalizadas pelo Banco Central. Este efetua sua venda no mercado primário (venda primária/leilão primário), as instituições financeiras emitem propostas de compra por meio de seus dealers (instituições escolhidas como representantes do BACEN no mercado); essas instituições financeiras que adquirem os títulos podem renegociálas no mercado secundário de papeis. Mercado Aberto é o Mercado no qual o banco central de cada país opera de modo a regular o fluxo de moeda, comprando e vendendo seus títulos. O open opera com grande flexibilidade e sem limitações. As transações geralmente são feitas por telefone ou por meios eletrônicos. Também conhecido por mercado secundário, é onde são negociados títulos públicos já emitidos (Fonte: Wikipédia). Quando ocorrem aplicações brasileiras em títulos estrangeiros, negociados no país ou no exterior, ou quando ocorrem aplicações estrangeiras em títulos brasileiros, negociados no país e no exterior, esses registros são feitos nesta conta Financeira. Observação¹: Os investimentos em ações, quando negociadas no país, são feitos pelas Bolsas de Valores Brasileiras, as ações negociadas no exterior são representadas pelas DR (Depositary Receipts). DRs (Depositary Receipts) são recibos de depósitos lastreados em ações ordinárias. São títulos negociáveis no mercado e lastreados na existência de ações de uma sociedade instalada em outro país. Lastreado quer dizer que são títulos financeiros vinculados a uma commodity como ouro, soja ou gado, garantindo um valor mínimo ao papel. A ação constitui na menor parcela (fração) do capital social de uma sociedade anônima; parcela de capital que se toma de uma sociedade, título 122 Técnico em Logística Competência 03 que representa os direitos de um associado de comprar ou vender ações. As ações podem ser: i) nominativas, a transferência é feita mediante assinatura do termo; ii) à ordem, a transferência é feita por endosso; iii) ao portador, a transferência se faz pela própria tradição do título; iv) preferencial, possui direitos preferenciais sobre outras categorias de ações emitidas pela sociedade. Na prática, quando um agente financeiro (pessoa ou empresa) adquire ações de uma determinada empresa, a depender do tipo, ele está ganhando direitos de votar as decisões da empresa e/ou receber dividendos (ver significado de dividendos no glossário). Ações podem ser classificadas de acordo com a natureza dos direitos e vantagens que conferem a seus titulares. São três espécies: ordinárias, preferenciais e de fruição ou gozo. As citadas acima, as ordinárias, apresentam como principal característica o direito de voto, seu possuidor (acionista dono dessas ações) pode influir nas diversas decisões da empresa (Assaf Neto, 2003). Observação2: Não esquecer que os juros de investimentos em carteira, são registrados na Conta Rendas (Transações Correntes), a Conta Financeira registra apenas a aplicação e o retorno dos investimentos diretos (investimentos em carteira). iii. Derivativos: essa subconta registra as entradas e saídas de capitais decorrentes de swaps, opções e futuros, registra também os prêmios de opções. Foi incluída recentemente na metodologia do FMI para registrar, em separado, as receitas e despesas associadas a instrumentos financeiros cujo valor depende do valor de outros instrumentos financeiros, e sobre o qual não há pagamento de juros nem adiantamento ou repagamento de capital. São contratos financeiros cujo valor deriva do preço de outros ativos ou índices, como por exemplo, contratos de dólar futuro, opções de compra de ações e swaps de taxa de juro. Por sua vez swaps em finanças, (em português, "permuta") é uma operação em que há troca de posições quanto ao risco e à rentabilidade, entre investidores. O contrato de troca pode ter Commodity é um termo de língua inglesa que significa, literalmente, “mercadoria”. É utilizado para designar bens. Seu plural é commodities. Uma commodity é um bem fungível, ou seja, é equivalente e trocável por outra igual, independentement e de quem a produz, como por exemplo, o petróleo, a resma de papel, o leite, o cobre e os imóveis. Fungibilidade é o atributo pertencente aos bens móveis que podem ser substituídos por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade. O dinheiro é o bem fungível por excelência, dado que quando se empresta uma quantia a alguém, não se está exigindo de volta aquelas mesmas cédulas, mas sim um valor, que pode ser pago com quaisquer notas de Real (moeda). (Fonte: Wikipédia) 123 Economia Internacional Competência 03 como objeto moedas, commodities ou ativos financeiros. As swaps mais comuns no mercado brasileiro são: a) swap de taxa de juros, que é a troca da taxa de juros prefixados por juros pós-fixados, ou o inverso, para quem quer evitar o risco de uma futura alta nos juros; b) swap cambial, troca de taxa de variação cambial (variação do preço do dólar americano) por taxa de juros pós-fixados. iv. Outros investimentos: é uma conta residual que registra todos os fluxos de capitais que não se enquadram em nenhuma das definições anteriores. Contabiliza os fluxos de empréstimos, moedas e depósitos e outros ativos, e outros passivos. Ativo é um termo básico utilizado para expressar o conjunto de bens, valores, créditos, direitos e assemelhados que forma o patrimônio de uma pessoa, singular ou coletiva, num determinado momento, avaliado pelos respectivos custos. - Estão incluídos os empréstimos e financiamentos brasileiros (curto e longo prazo) cedidos a beneficiários do exterior e empréstimos obtidos no exterior por beneficiários brasileiros. Não estão incluídos aqui os empréstimos intercompanhias, que já estão sendo contabilizados na subconta Investimentos diretos (ver item i desta sessão). - Moedas e Depósitos estão incluídas as disponibilidades monetárias de não residentes no país e de residentes no exterior, como moeda em espécie e depósitos bancários. - Outros Ativos e Outros Passivos. De acordo com informações do Banco Central estão contabilizados neste tópico os fluxos de participação do Brasil no capital de organismos internacionais, depósitos de cauções de longo prazo, depósitos de margens de garantia relacionados a operações de derivativos, cauções judiciais realizadas por não residentes no país com prazo superior a um ano, variação do saldo devedor do Convênio de Crédito Recíproco (CCR), depósitos de margem de garantia relativos às operações em bolsa de mercadorias no país. Observação: Não esquecer que os juros de empréstimos já estão sendo registrados na Conta Rendas das Transações Correntes. 124 Técnico em Logística Competência 03 Caro aluno, não se preocupe com esse assunto de Mercado Financeiro, porque para entendê-lo bem, faz-se mesmo necessário se aprofundar e estudar bastante. As informações adicionais que colocamos neste caderno, foram apenas para que entenda melhor o conceito dos termos relativos aos lançamentos da Conta Capital. Reforçando, é meramente informativo, mas que você precisará entender um pouco para que possa compreender e analisar melhor um Balanço de Pagamentos. 3.2.4 Erros e Omissões Registram-se nesta conta as discrepâncias (divergências) entre fluxos de entrada e saída de recursos e as variações nos estoques de reservas cambiais do país. Um exemplo de registro nessa conta é quando um turista retorna ao seu país de origem com moedas / divisas adquiridas no mercado interno de câmbio (moeda nacional/local/Real). Quando eles não realizam a operação inversa, isto é, não vendem ou não “devolvem” a nossa moeda, essa diferença é registrada aqui nesta conta. 3.2.5 Saldos Déficits (-) ou Superávits (+) O resultado final do Balanço de Pagamentos revela a posição do país em suas transações externas. As situações de déficit revelam saídas de reservas cambiais superiores às entradas, implicando quase sempre queda das reservas cambiais do país; superávit indica o contrário, ingresso/aumento desses ativos externos no país. Ocorrendo uma situação de superávit persistente, por longo tempo, pode implicar numa acumulação de haveres financeiros externos. Quando esta acumulação de reservas cambiais se transforma em fator de expansão da base monetária (aumento de dinheiro nas mãos dos agentes financeiros) geralmente ocorrem consequências internas muito prejudiciais de conteúdo inflacionário. É por este motivo, como já vimos em Macroeconomia, que os governos controlam a circulação não apenas da oferta de moeda local (nacional) como também a oferta da moeda 125 Economia Internacional Competência 03 estrangeira. Já os déficits levam o país à perda de sua liquidez internacional (não conseguem obter dinheiro para honrar suas dívidas e compromissos internacionais), e então terão que recorrer a empréstimos compensatórios, aumentando seu endividamento externo. Diante do exposto, qualquer desequilíbrio para mais (superávit) ou para menos (déficit) no Balanço de Pagamentos, pode ocasionar sérios danos à solvência (cumprir com suas obrigações) das relações financeiras internacionais de um país (Rossetti 2003). 3.3 Contabilidade Nacional O Balanço de Pagamentos fornece subsídios à Contabilidade Nacional que funciona de acordo com o princípio das partidas dobradas, ou seja, para cada débito, há um crédito de igual valor. Vamos supor uma situação com os seguintes lançamentos: i. ii. iii. iv. v. Importação de US$ 150 milhões; Exportação de US$ 300 milhões; Prestação de serviços a outros países: US$ 45 milhões; Recebimento de serviços de outros países: US$ 75 milhões; Recebimento de donativos de outros países: US$ 60 milhões. US$ milhões Quadro 3.4 Contabilidade do Balanço de Pagamentos Débitos Créditos 1. Importação 150 1a. Redução de saldos bancários no exterior 150 2a. Aumento de saldos bancários no exterior 300 2. Exportações 300 3a. Idem 45 3. Serviços pretados 45 4. Serviços recebidos 75 4a. Redução de saldos bancários no exterior 75 5a. Aumento de saldos bancários no exterior 60 5. Donativos recebidos 60 Total 630 Total 630 Nota: Dados hipotéticos 126 Técnico em Logística Competência 03 Análise: Para todo lançamento de crédito, há uma contrapartida de débito de igual valor. Por exemplo, no item (1.) ocorre a Importação de um bem, então uma empresa estrangeira que está comprando um produto brasileiro (importando), terá que pagar pela compra (débito - redução de saldos bancários no exterior, ou seja, a nação estrangeira paga (debita de seu saldo) e recebe a mercadoria, o Brasil recebe o pagamento (crédito) referente ao produto vendido. Então para toda Importação, há uma exportação de igual valor. Uma nação paga (debita seu saldo) e outra recebe (credita); uma está comprando e a outra vendendo (Jayme Maia, 2004). 3.4 Transações Autônomas e Compensatórias O BP registra operações tanto autônomas quanto, eventualmente, compensatórias. É muito simples aluno, ora se contabiliza as operações usuais relativas à Economia Internacional (importação, exportação, serviços, rendas, transferências unilaterais e movimento de capitais), são as Autônomas, ora as eventuais/Compensatórias, quando os governos precisam realizar operações especiais para saldar déficits do BP. Os saldos das operações autônomas podem ser: a) Nivelado: quando o total dos débitos e créditos das transações autônomas for igual (é a situação ideal porque não afeta a oferta monetária, a oferta de moeda, e nem as reservas cambiais). b) Superavitário: quando o total de créditos das operações autônomas (entradas) for maior do que o total dos débitos (saídas) dessas operações, é simples. Esse superávit pode ser conjuntural (ligado a uma situação momentânea), é aquele que ocorre eventualmente em determinado período e depois não se repete. Exemplo: o aumento das exportações para países arrasados por catástrofes naturais; e superávit 127 Economia Internacional Competência 03 estrutural, aquele que se torna constante, que não decorre de fato acidental. c) Deficitário: quando o total de débitos das transações autônomas (saídas de divisas) for superior ao total de créditos dessas transações (entradas de divisas). O déficit também pode ser de natureza conjuntural ou estrutural. 3.5 Solução para os Déficits Jayme Maia (2004) menciona que o déficit é um sintoma e não um problema básico, então ele seria o efeito e não a causa, é um alerta de que alguma coisa precisa ser modificada na política econômica do país, ou seja, quando uma economia apresenta uma recorrência de déficit, os governos necessitam agir para reverter esse resultado. 3.5.1 Solução para os Déficits Conjunturais Neste caso a causa desaparece espontaneamente nos próximos exercícios e podem ser solucionados das seguintes formas: i. ii. iii. O país pode pagar o déficit com suas divisas disponíveis no exterior; O país não possui saldos bancários no exterior, mas possui ouro, então ele poderá trocar o metal por divisas ou entregar diretamente o ouro; O país não possui reservas cambiais e nem ouro, neste caso poderá solicitar um empréstimo a um banqueiro no exterior para saldar (pagar) o déficit (é o chamado empréstimo compensatório). 3.5.2 Solução para os Déficits Estruturais Aqui a situação é bem diferente porque exige mudanças mais profundas diretamente na estrutura da economia. Precisa-se de alterações também nas questões sociais do país. Exemplo: se grande parte do déficit decorre da 128 Técnico em Logística Competência 03 importação de algum produto, é necessário que se mudem hábitos para que a dependência por ele diminua. Há a necessidade de se criar produtos e ou serviços alternativos para que o país saia de sua dependência. Se a causa do déficit estrutural é a inflação, o governo pode influenciar para que haja reajuste na taxa cambial, porque a moeda local (Real) muito valorizada, vai impactar diretamente nas exportações e no turismo, ou seja, fica mais caro para o turista do exterior viajar para o Brasil. Enquanto o país tiver boa quantidade de reservas cambiais ou reservas em ouro, ou tiver a confiança para obter créditos compensatórios, será mais fácil para os governos liquidarem os débitos do BP. Se não mais dispuser desses recursos, ele deverá: desvalorizar a moeda nacional para gerar entrada de divisa (dólar); ou deixar de pagar seus compromissos externos, declarando moratória unilateral. Esta última medida pode gerar sérias consequências para o país. Exemplo de moratória foi quando a Argentina se negou a negociar com seus credores. “O governo argentino informou que não negociará com os 24% de credores que recusaram sua oferta de troca da dívida pública, em moratória desde 2001”. Esse acontecimento ficou conhecido como “Tango sem fim” (Fonte: Folha de São Paulo, 2005). Divisa: Qualquer valor comercial sobre o estrangeiro que permita a efetuação de pagamentos na forma de compensação. Moratória em termos econômicos pode ser de dois sentidos: um sentido pode estar relacionado ao direito tributário, e o outro, ao direito internacional público, que consiste no ato unilateral de um Estado declarar a suspensão do pagamento dos serviços da sua dívida externa. 3.6 Reservas Cambiais Um Balanço de Pagamentos superavitário cria reservas que permitem a uma nação enfrentar dificuldades. Da mesma forma que as famílias (indivíduos) e as empresas necessitam de um fundo de reservas, os países precisam de um saldo de divisas para enfrentar problemas cambiais. Os cuidados aumentaram com o progresso dos meios de comunicação e a popularização do uso dos computadores, pois os mercados financeiros podem sofrer mudanças repentinas, em apenas alguns minutos pode haver saques de valores elevadíssimos. 129 Economia Internacional Competência 03 As reservas, geralmente, são compostas por divisas em ouro e DES (Direitos Especiais de Saques). Estes direitos foram idealizados em 1967, entretanto, somente em 1969 foi formalizada a sua criação. No ano seguinte (1970) teve início a primeira distribuição desses direitos. Nessa ocasião o dólar, que era a moeda-chave da economia mundial, passava por uma crise de confiança muito grande, foi nesse momento que se pensou em criar uma moeda que o substituísse. O DES guarda muita semelhança com a ideia de Keynes, de criar uma moeda internacional, o Bancor, que seria gerida por um organismo internacional. De acordo com dados do Banco Central, as reservas cambiais estão em US$ 377.203 milhões, posição em 04 de abril de 2014. Temos um confortável nível, o país nunca teve um volume tão significativo de reservas em toda a sua história. Diferentemente da nossa vizinha Argentina, que tem visto suas reservas minguarem mês após mês. O cenário desse país é calamitoso, contrasta com a situação brasileira. Podemos ver claramente por que estamos longe de uma crise cambial. O Banco Central publica, diariamente, dados sobre as reservas cambiais brasileiras, abaixo estão umas figuras da página que mostra esses resultados: Figura 3.7 - Site com a consulta das reservas Fonte: https://www.bcb.gov.br/?RESERVAS 130 Técnico em Logística Competência 03 Figura 3.8 - Site com a consulta das reservas Fonte: https://www.bcb.gov.br/?RESERVAS 3.6.1 Nível Ideal de Reservas De acordo com o FMI, os países precisam ter reservas de segurança. Visa fazer face à: Cobrir, no mínimo, três meses de importação; ou Pelo menos dois terços dos déficits dos pagamentos externos em conta corrente. Jayme Maia (2004) ainda concorda que, para o caso brasileiro, as reservas deveriam ser maiores do que o proposto pelo FMI: Para poder corrigir algum desequilíbrio cambial, o governo precisa tomar algumas medidas cujo efeito nem sempre é instantâneo; Uma parte de nossas reservas foi formada por capitais estrangeiros aplicados, a curto prazo, que poderão retornar ao exterior a qualquer momento. Atualmente no site do Banco Central a composição das reservas cambiais é a que se segue na figura seguinte: 131 Economia Internacional Competência 03 Figura 3.9 Fonte: https://www.bcb.gov.br/pec/sdds/port/templ1p.shtm 132 Técnico em Logística GLOSSÁRIO 1 - Sinônimos de “Negócio” é Empreendimento, empresa (privada, pública e de economia mista), sociedade comercial. 2 - Dividendos - Uma parcela do lucro apurado por uma sociedade anônima, distribuída aos acionistas por ocasião do encerramento do exercício social, de acordo, no Brasil, com o § 2º do art. 202 da Lei das Sociedades Anônimas (Lei no 6.404, de 15 de dezembro de 1976). 3 - ONG - Significa um grupo social organizado, sem fins lucrativos, constituído formal e autonomamente, caracterizado por ações de solidariedade no campo das políticas públicas e pelo legítimo exercício de pressões políticas em proveito de populações excluídas das condições da cidadania. 4 - Commodity é um termo de língua inglesa que significa, literalmente, mercadoria. É utilizado para designar bens. Seu plural é commodities. Uma commodity é um bem fungível, ou seja, é equivalente e trocável por outra igual independentemente de quem a produz, como por exemplo, o petróleo, a resma de papel, o leite, o cobre e os imóveis. Fungibilidade é o atributo pertencente aos bens móveis que podem ser substituídos por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade. O dinheiro é o bem fungível por excelência, dado que quando se empresta uma quantia a alguém (por exemplo, R$100,00), não se está exigindo de volta aquelas mesmas cédulas, mas sim um valor, que pode ser pago com quaisquer notas de Real (moeda). (Wikipédia). SIGLAS BP- Balanço de Pagamentos MDIC - Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior FMI - Fundo Monetário Internacional BACEN – Banco Central do Brasil DR – Depositary Receipts 133 Economia Internacional REFERÊNCIAS ASSAF NETO, Alexandre. Mercado Financeiro. 5.ed. São Paulo: Atlas, 2003. CARRARA, Aniela Fagundes; CORREAB, André Luiz. O regime de metas de inflação no Brasil: uma análise empírica do IPCA. Revista Econômica Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 16, n. 3, p. 441-462, set-dez/2012. Disponível:<http://www.ie.ufrj.br/images/blog/REC_16.3_04_Regime-demetas.pdf> Acesso em: 12 abr. 2014. COSENZA, José Paulo. A eficácia informativa da demonstração do valor adicionado. Revista Contabilidade & Finanças - USP, São Paulo, Edição Comemorativa, p. 7 - 29, out./2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rcf/v14nspe/v14nspea01.pdf> Acesso em: 05 abr. 2014. EQUIPE DE PROFESSORES DA USP. Manual de Economia. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. FROYEN, Richard T. Microeconomia. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2001. KRUGMAN, Paul R. ; OBSTFELD, Maurice. Economia Internacional – Teoria e Política. 5. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2001. MAIA, Jayme de Mariz. Economia Internacional e Comércio Exterior. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2004. MANKIW, N. Gregory. Introdução à Economia: princípios de micro e macro. 2 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2001. 134 Técnico em Logística MANOLESCU, F. M.K.; OLIVEIRA, A. A. dos Santos; SILVA, R. C. F da. A importância da taxa de câmbio na economia. São José dos Campos, 2006. Disponível em: <http://www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2006/inic/inic/06/INIC000006.ok.pdf. Acesso em 15.04.2014. NASCIMENTO, Ronaldo Edson. SOUZA, André Fábio de. Uma Breve Análise da Evolução do Balanço de Pagamentos no Brasil. Brasília, 2012. Disponível em: <http://alice.desenvolvimento.gov.br/arquivos/dwnl_1196954731.pdf> Acesso em: 07 abr. 2014. ROSSETTI, José Paschoal. Introdução à Economia. 20. ed. São Paulo: Atlas, 2003. ROSSI, Pedro. Política Cambial no Brasil: um esquema analítico. São Paulo, 2012. Disponível em: http://eesp.fgv.br/sites/eesp.fgv.br/files/file/Pedro%20Rossi%20%20Politica%20Cambial.pdf Acesso em: 14 abr. 2014. SOUZA, Nali de Jesus de. Economia Básica. São Paulo: Atlas, 2007. VANCONCELLOS, Marco Antônio Sandoval de. 4. ed. 3. Reimpr. São Paulo: Atlas, 2007. 135 Economia Internacional MINICURRÍCULO DA PROFESSORA PESQUISADORA CONTEUDISTA: LARISSA MAIA Graduação (2005) em Ciências Econômicas (laureada) pela Faculdade Boa Viagem (FBV) em Recife; Mestre (2010) em Gestão Empresarial também pela mesma faculdade (FBV). Trabalhou por sete anos (2005 a 2012) como Assessora Econômica da Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (AD Diper), na área de Inteligência Comercial (atraindo investimentos nacionais e estrangeiros para o Estado de Pernambuco); na ocasião recebeu treinamento do Banco Mundial durante dois anos e meio para essa atividade. Foi compor uma equipe de economistas para também assessorar um Ministro de Estado de Angola/África em assuntos econômicos e criação de um Centro de Iniciação Científica, numa das maiores Universidades de Angola, a IMETRO (Instituto Politécnico Metropolitano de Angola); ministraria aulas também na mesma faculdade (Disciplina de Finanças Internacionais). De 2010 a 2012 ministrou aulas nos cursos de Direito (Disciplina de Introdução à Economia) e Turismo com ênfase em Gastronomia (Economia do Turismo) na FBV e Faculdade Santa Helena (FSH). Mais recentemente (2013) trabalhou como Gestora da Unidade de Produtos e Serviços (UPS) da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (FIEPE), onde concebia eventos de capacitação para o empresariado industrial e estudantes. 136 Técnico em Logística