O Espantoso Caso de Phineas Gage

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O Espantoso Caso de
Phineas Gage
Phineas Gage era um jovem supervisor de construção de
ferrovias da Rutland e Burland Railroad, em Vermont, EUA.
Em 1848 de setembro, enquanto estava preparando uma
carga de pólvora para explodir uma pedra, ele socou uma
barra de aço inadvertidamente no buraco. A explosão
resultante projetou a barra, com 2.5 cm de diâmetro e mais de um
metro de comprimento contra o seu crânio, a alta velocidade. A barra
entrou pela bochecha esquerda, destruiu o olho, atravessou a parte
frontal do cérebro, e saiu pelo topo do crânio, do outro lado. Gage
perdeu a consciência imediatamente e começou a ter convulsões.
Porém, ele recuperou a consciência momentos depois, e foi levado a
médico local, Jonh Harlow que o socorreu. Incrivelmente, ele estava
falando e podia caminhar. Ele perdeu muito sangue, mas depois de
alguns problemas de infecção, ele não só sobreviveu à horrenda
lesãol, como também se recuperou bem, fisicamente.
Porém, pouco tempo depois Phineas começou a ter mudanças
surpreendentes na personalidade e no humor. Ele tornou-se
extravagante e anti-social, praguejador e mentiroso, com péssimas maneiras, e já não
conseguia manter-se em um trabalho por muito tempo ou planejar o futuro. "Gage já não era
Gage", disseram seus amigos. Ele morreu em 1861, treze anos depois do acidente, sem
dinheiro e epiléptico, sem que uma autópsia fosse realizada em seu cérebro. O médico que o
atendeu, John Harlow, entrevistou amigos de parentes, e escreveu dois artigos sobre a história
médica reconstruída de Gage, um em 1948, intitulado "Passagem de uma Barra de Ferro Pela
Cabeça ", e outro em 1868, intitulado "Recuperação da
Passagem de uma Barra de
Ferro Pela Cabeça ".
Phineas Gage tornou-se um
caso clássico nos livros de
ensino de neurologia. A parte
do cérebro que ele tinha
perdido, os lobos frontais,
passou a ser associada às
funções mentais e emocionais que ficaram alteradas. Harlow
acreditava que, "o equilíbrio entre as faculdades intelectuais e as
propensões animais parecem ter sido destruídas.
O crânio dele foi recuperado e preservado no Warren Medical
Museu da Universidade de Harvard. Mais recentemente, dois
neurobiologistas portuguêses, Hanna e Antônio Damásio da
Universidade de Iowa, utilizaram computação gráfica e técnicas de tomografia cerebral para
calcular a provável trajetória da barra de aço pelo cérebro de Gage, e publicaram os resultados
em Science, em 1994. Eles descobriram que a maior parte do dano deve ter sido feito à região
ventromedial dos lobos frontais em ambos os lados. A parte dos lobos frontais responsável pela
fala e funções motores foi aparentemente poupada. Assim eles concluíram que as mudanças
nocomportamento social observado em Phineas Gage provavelmente foram devidos a esta
lesão, porque os Damasios observaram o mesmo tipo de mudança em outros pacientes com
lesões semelhantes, causando déficits característicos nos processos de decisão racional e de
controle da emoção.
"Gage foi o início histórico dos estudos das bases biológicas do comportamento", disse Antônio
Damasio.
Para Saber Mais
Damásio H., Grabowski T. R Frank., Galaburda AM., Damasio AR. The
return of Phineas Gage: clues about the brain from the skull of a famous patient..
Science, 264 (5162):1102-5, 1994.
Veja também o livro de Antonio Damásio "O Erro de Descarte: Emoção, Razão e o
Cérebro Humano", Avon Hearst, Nova Iorque, 1995, no qual expõe material fascinante
sobre as relações entre cérebro, mente e emoção (veja as revisões on-line no servidor
Serendip, e também no Times Literary Supplement)
Macmillan, M. A Contribuição de Phineas Gage para a Cirurgia do Cérebro. Australian
Journal of the History of Neurosciences 5(2), 1995.
O Que Aconteceu a Phineas?, Discover Magazine, janeiro de 1995.
Para um caso moderno interessante, semelhante ao de Phinas Gage, mas causado por
ferimento à bala, veja: Uma Bala para a Mente, por Franck Vertosick Jr. Discover
Magazine, outubro de 1996.
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