caracterização dos casos de beribéri notificados entre

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CARACTERIZAÇÃO DOS CASOS DE BERIBÉRI NOTIFICADOS
ENTRE INDÍGENAS DO DISTRITO LESTE DE RORAIMA
CHARACTERISTICS OF BERIBÉRI ADVISED OF CASES AMONG THE
INDIGENOUS RORAIMA EAST DISTRICT
RESUMO
O beribéri é uma doença nutricional causada pela falta de vitamina B1 (tiamina) no
organismo, resultando em fraqueza muscular, problemas gastrointestinais, problemas
respiratórios e problemas cardiovasculares. Pode-se adquirir esta doença através de
monotonia alimentar associada ao trabalho “pesado”, alimentação rica em açúcares, alto
consumo de bebidas alcoólicas e contato excessivo com agrotóxico. A sintomatologia é
variável, podendo ir de câimbras musculares, dores nos membros inferiores, pressão arterial
divergente, ingurgitamento jugular à diplopia, paralisação do nervo óptico, perda de
movimentos de forma ascendente em membros inferiores e membros superiores e perda de
memória passada. Desta forma, o objetivo do estudo foi caracterizar os casos de beribéri
notificados de 2008-2014 entre indígenas do Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dsei)
Leste Roraima. Trata-se de um estudo descritivo e retrospectivo que foi desenvolvido junto
ao banco de dados do Sistema de Informação de Atenção à Saúde Indígena - SIASI do Dsei
Leste de Roraima. Os dados coletados na pesquisa foram tratados por meio da estatística
descritiva, de acordo com SIEGEL, utilizando-se a planilha Microsoft Excel de 2010 for
Windows®, como instrumento para a realização das análises e interpretação dos dados.
Dentre os resultados foram notificados no período estudado 709 casos do referido agravo,
onde os polo-base Willimon, Caracarana, Caraparu I e Pedra Branca representam
aproximadamente 78% dos casos registrados, uma característica relevante destas regiões é a
dificuldade de acesso a cidades. Não foram registrados óbitos no período por beribéri. Entre
os fatores relacionados destacam-se o hábito de consumir álcool, apontado como uma
características cultural da população indígena, e ainda baixa renda e ocupação com atividade
pesada. Os homens são os que representaram o maior número de casos gerais. A faixa etária
que registrou maior números de casos foi de 20 a 59 anos. Dentre as considerações finais
destaca-se que como a maioria das doenças nutricionais, grande parte dos surtos de beribéri
associa-se a condições de pobreza e fome, consumo de alimentação monótona baseada em
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arroz polido, elevado teor de carboidratos simples e também a alguns grupos de risco
específicos, como aqueles engajados em atividade física pesada, sendo assim é pertinente que
estudos sobre seu ressurgimento do beribéri no país sejam aprofundados especialmente na
região do município do Uiramuta, tendo em vista que além destas características citadas, o
município durante muitos anos abrigou garimpeiros ilegais que por muitos anos contribuíram
para contaminação do solo e água.
Palavras – Chave: Beribéri; Deficiência de Tiamina; Indígenas;
Abstract
The beriberi is a nutritional disorder caused by lack of vitamin B1 (thiamine) in the body,
resulting in muscle weakness, gastrointestinal disorders, cardiovascular disorders and
respiratory problems. One can acquire this disease through food monotony associated with
the work "heavy" diet rich in sugars, high alcohol consumption and excessive contact with
pesticides. The symptoms are variable, ranging from muscle cramps, pain in the lower limbs,
divergent blood pressure, jugular engorgement of diplopia, paralysis of the optic nerve, loss
of ascending movements in the lower limbs and upper limbs and loss of past memory. Thus,
the aim of this study was to characterize the cases of beriberi notified of 2008-2014 between
indigenous Special Indigenous Health Districts (DSEI) East Roraima. It is a descriptive and
retrospective study was developed by the database system of the Indigenous Health Care
Information - SIASI the DSEI Eastern Roraima. The data collected in the survey were treated
by means of descriptive statistics, according to Siegel, using the Microsoft Excel spreadsheet
2010 for Windows® as an instrument for carrying out the analysis and interpretation of data.
Among the results were reported during the study period 709 cases of that offense, where
polo-based Willimon, Caracaranã, Caraparu I and Pedra Branca represent approximately 78%
of reported cases, a relevant feature of these areas is the difficulty of access to cities. There
were no deaths during the period of beriberi. Among the related factors stand out from the
habit of consuming alcohol, appointed as a cultural characteristics of the indigenous
population, and even low-income and occupation with heavy activity. Men are representing
the most general case. The age group that recorded the highest number of cases was 20-59
years. Among the conclusion it shows that like most nutritional diseases, most of beriberi
outbreaks is associated with poverty and hunger, monotonous power consumption based on
polished rice, high simple carbohydrate content and also some groups specific risk, such as
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those engaged in heavy physical activity, so it is pertinent that studies on its revival of
beriberi in the country are especially thorough in Uiramutã the city region, given that apart
from these mentioned features, the county for many years housed illegal miners who for
many years have contributed to contamination of soil and water.
Key - words: beriberi; Thiamine deficiency; indigenous;
INTRODUÇÃO
O termo beribéri significa “Eu não posso, eu não posso” e provém do cingalês, língua
originária da Índia e atualmente uma das línguas oficiais do Ceilão (Siri Lanka). Trata-se de
uma doença de natureza carencial, causada por deficiência de tiamina, que, apesar de
facilmente tratável, pode levar a óbito. A tiamina é uma vitamina hidrossolúvel do complexo
B (B1), da qual o organismo humano não consegue manter reservas duradouras, e, se não
houver ingestão diária, a saturação tecidual tem duração de, no máximo, dois a três meses.
(MINICUCCI, 2004)
O indivíduo pode adquirir através de monotonia alimentar relacionada com o trabalho
“pesado”, alimentação rica em açúcares, alto consumo de bebidas alcoólicas e contato
excessivo com agrotóxico. A sintomatologia é variável, podendo ir de câimbras musculares,
dores nos MMII, pressão arterial divergente, ingurgitamento jugular à diplopia, paralisação
do nervo óptico, perda de movimentos de forma ascendente em membros inferiores e
membros superiores e perda de memória passada. (MINICUCCI, 2004)
Durante os últimos três séculos, surtos da doença têm sido descritos em diferentes regiões do
mundo, principalmente relacionados a hábitos alimentares e situações de insegurança
alimentar, restrição e/ou privação. Nas últimas décadas, há relatos de ocorrência em Gâmbia;
Cuba; Colômbia; Costa do Marfim e Tailândia, sempre associada à alimentação deficiente
e/ou restrita. (BRASIL, 2012)
No Brasil, registros de epidemia de beribéri datam do final do século XVII. Há pelo menos
80 anos não se tinha referência de surtos de beribéri no país, tendo o último ocorrido em um
asilo, entre o final do século XIX e início do século XX. No entanto, casos recentes têm sido
notificados a partir de 2006 nos estados do Maranhão, Tocantins e Roraima, com hipóteses
diagnósticas iniciais de doença de etiologia desconhecida, intoxicação por agrotóxicos ou por
bebida alcoólica e síndrome de Guillain-Barré. (LIRA, 2008)
No Dsei Leste de Roraima os primeiros casos foram identificados de maneira “acidental” em
abril de 2008, durante uma ação de vacinação nas comunidades indígenas do município de
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Uiramutã, área de assistência do Distrito observou casos suspeitos de Beribéri. Ao realizar
investigação, verificou em oito comunidades sete casos e três óbitos, que posteriormente
foram descartados, desta rara doença carencial. Desde então, este Distrito vem atuando na
investigação, diagnóstico, tratamento e capacitação de profissionais para atuar no Combate ao
Beribéri.
Sabe-se que concepção de saúde e doença para os povos indígenas envolve padrões culturais
diferentes, possuem características místicas e simbólicas, para tanto se faz necessária uma
assistência particularizada. Salvo lembrar que uma assistência de qualidade tente a melhorar
os índices de agravos e principalmente de complicações decorrentes das intervenções a saúde
indígena (FUNASA, 2008).
Neste contexto e diante da rápida evolução da doença e das características das comunidades
indígenas sentiu-se a necessidade de avaliar o perfil dos acometidos, este estudo descreve
características epidemiológicas dos casos de beribéri notificados entre indígenas do DSEI
Leste Roraima no período de 2008 a 2014.
Tiamina (Vitamina B1)
A tiamina, vitamina hidrossolúvel, é absorvida por difusão e transporte ativo no jejuno-íleo e
se fosforila na parede intestinal em pirofosfato de tiamina (TPP), forma ativa e cofator de
importantes complexos enzimáticos. Atua como coenzima no metabolismo dos carboidratos e
aminoácidos, sendo essencial nas reações que produzem energia da glicose e que convertem a
glicose em gordura para armazenamento nos tecidos. A tiamina também exerce um papel na
condução dos impulsos elétricos dos nervos periféricos, embora as reações químicas exatas
que fundamentam esse processo sejam desconhecidas. Um aspecto a ser considerado é a
existência de substâncias com atividade antitiamina, as quais podem estar presentes em folhas
fermentadas e extratos de folhas de chá, nozes de certos tipos de árvores, peixe cru, mariscos
e café (cafeínado e descafeínado). A deficiência de tiamina causa degeneração de nervos
periféricos. Em algumas ocasiões, neurônios da medula espinhal, especialmente da coluna
posterior, além de raízes nervosas anteriores e posteriores, podem degenerar-se. A deficiência
grave resulta em lesões cerebrais, sendo a lesão neurológica irreversível no beribéri. Quando
ocorre degeneração mielínica os sintomas podem regredir com o tratamento, mas geralmente
retornam algum tempo depois, pois a administração de tiamina não cura a lesão já
estabelecida, apenas evita que ocorra mais desmielinização. (NAUTIYAL, 2004)
Absorção
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A tiamina é absorvida no intestino delgado, com absorção máxima no jejuno e íleo. Possui
uma meia vida plasmática de 10–20 dias. A dose diária recomendada em adultos é de 0,5 mg
para cada 1000 Kcal ingeridas. Os estoques duram de 3–6 semanas em adultos com ingestão
oral isocalórica. É encontrada em fermento, legumes, carne de porco, aves, cereais de grão
inteiro e nozes. O polimento do arroz integral para produzir arroz branco retira o farelo rico
em tiamina. Ela é instável em luz e calor. (Gollobin, 2011)
O pirofosfato de tiamina, forma ativa da vitamina B1, é utilizado no metabolismo de
carboidratos como catalisador da conversão de piruvato em acetilcoenzima A, uma reação de
decarboxilação mediada pela piruvato desidrogenase. Seus níveis séricos podem reduzir após
a ingestão oral ou infusão venosa de glicose. A tiamina também tem a função de iniciar a
propagação do impulso nervoso, que é independente de sua função de coenzima. (Gollobin,
2011)
Necessidades Humanas
A necessidade diária de tiamina é de 1,1 e 1,2mg/dia para adolescentes e adultos do sexo
feminino e masculino, respectivamente e de 1,4 e 1,5mg/dia para gestantes e nutrizes,
respectivamente. (BRASIL, 2012)
Carência
A carência da tiamina pode levar de dois a três meses para manifestar os sinais e sintomas
que inicialmente são leves como insônia, nervosismo, irritação, fadiga, perda de apetite e
energia e evoluem para quadros mais graves como parestesia, edema de membros inferiores,
dificuldade respiratória e cardiopatia. (BRASIL, 2012)
Beribéri
O beribéri é uma doença causada pela deficiência de tiamina (vitamina B1), substância
importante para o metabolismo dos carboidratos e aminoácidos, essencial nas reações que
produzem energia. Essa vitamina normalmente é encontrada em cereais, grãos, legumes,
leveduras, nozes e carnes (especialmente vísceras, carne de porco e de vaca). A deficiência de
tiamina está normalmente associada a populações que têm como principal componente da
dieta a mandioca ou farinha de mandioca, o arroz polido ou moído, e/ou a farinha de trigo, ou
seja, alimentos pobres em tiamina. A tiamina é bastante instável, podendo ser danificada com
o modo de preparo e cozimento dos alimentos. Por ser hidrossolúvel e termolábil, a maior
parte dessa vitamina é perdida, por exemplo, quando o arroz é lavado antes do cozimento, no
próprio processo de cozimento e quando a água de cozimento é descartada. (Magalhaes,
2014. BRASIL, 2012)
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Indivíduos em situação de desnutrição estão mais vulneráveis a desenvolver o beribéri, em
especial os alcoolistas crônicos em função da diminuição do autocuidado e,
consequentemente, da baixa ingestão de alimentos. Além disso, o álcool aumenta a demanda
de vitaminas do complexo B, pode interferir no processo de Guia de Consulta para Vigilância
Epidemiológica, Assistência e Atenção Nutricional dos casos de Beribéri Guia de Consulta
para Vigilância Epidemiológica, Assistência e Atenção Nutricional dos casos de Beribéri
Guia de Consulta para Vigilância Epidemiológica, Assistência e Atenção Nutricional dos
casos de Beribéri11 absorção gastrointestinal de tiamina e alterar seu metabolismo
intermediário. (Magalhaes, 2014. BRASIL, 2012)
Quadro Clinico
As manifestações clínicas da deficiência da tiamina incluem envolvimento dos sistemas
nervoso, cardiovascular e gastrointestinal. Inicialmente são relatadas anorexia, mal estar
geral,
constipação
intestinal,
desconforto
abdominal,
plenitude
pós-prandial
(“empachamento”), irritabilidade, “fraqueza” nos membros inferiores (frequentemente
associada a parestesias), podendo ocorrer discreto edema e palpitações. O quadro clínico
pode persistir no estado crônico ou evoluir, a qualquer tempo, para uma condição aguda
caracterizada por sintomas cardiovasculares (com edema instalado), ou por sintomas
relacionados à neuropatia periférica. Formas intermediárias entre esses dois extremos
também são observadas. Alguns indivíduos evoluem subitamente com formas graves, seja
apresentando insuficiência cardíaca fulminante (beribéri shoshin), associada a choque e a
acidose lática, seja com manifestações do sistema nervoso central (encefalopatia de
Wernicke), que geralmente ocorre em indivíduos alcoolistas. Nesse último caso, quando há
perda irreversível de memória e psicose confabulatória associadas, a síndrome é conhecida
como Wernicke-Korsakof (GOLLOBIN, 2011)
Tipos de beribéri
BERIBÉRI SECO
Caracteriza-se por neuropatia sensitivo-motora bilateral e simétrica, com distribuição em bota
e luva. Afeta predominantemente os membros inferiores, iniciando-se com parestesias e
sensação de queimação nos pés (especialmente à noite), câimbras musculares nas
panturrilhas, dores nas pernas, disestesias plantares, marcha lenta e vacilante, dificuldade
para levantar-se da posição agachada, exacerbação dos reflexos tendinosos e sensibilidade
vibratória diminuída nos dedos dos pés. Evolui com perda de reflexos, fraqueza muscular,
com paresia ou paralisia dos membros inferiores (“pé em gota” e “dedos em gota” – dedos e
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pés pendem flacidamente e não podem ser levantados). Se a deficiência continua, a
polineuropatia piora e pode afetar os membros superiores. Pode ocorrer disfonia por paralisia
dos músculos laríngeos. Tem como diagnóstico diferencial: outras causas de polineuropatia,
como Diabetes mellitus, abuso de álcool, deficiência de vitamina B12, envenenamento por
metais pesados, mononeuropatia (ciática), distúrbios metabólicos (hipomagnesemia) e
Síndrome de Guillain – Barré. (GOLLOBIN, 2011; BRASIL, 2012)
BERIBÉRI ÚMIDO
Essa forma clínica é caracterizada por insuficiência cardíaca de alto débito devido à retenção
de sódio e água, vasodilatação periférica e insuficiência biventricular (circulação
hiperdinâmica e hipertrofia miocárdica). Podem ser encontrados os seguintes sinais clínicos:
Agitação,
Pele quente à palpação,
Aumento da pressão sistólica e queda da pressão
diastólica (exemplo: PA 140 x 40 mmHg), Pulso em martelo d’água ou pulso célere: a
palpação o pulso é mais forte e em saltos, Leve pressão nas unhas torna-as brancas e mostra
pulsação no leito ungueal, O pulso venoso jugular é aumentado com ondas pulsáteis
pronunciadas , O ictus cordis é deslocado para a esquerda, assim pode ser pesquisado na axila
e é facilmente sentido, Taquicardia sinusal, Sopro sistólico, Ritmo de galope que é acentuado
quando o paciente deita em decúbito lateral esquerdo e inspira, À ausculta, os pulmões estão
limpos, embora possa apresentar dispneia, Ausência de cianose
e como diagnóstico
diferencial encontram-se outras causas de insuficiência cardíaca de alto débito, como anemia
grave, hipertireoidismo, gravidez, doença hepática crônica, estrongiloidíase, Doença de
Paget; e outras causas de edema, como desnutrição do tipo kwashiokor, nefrite, síndrome
nefrótica, insuficiência renal, insuficiência venosa periférica, hipotireoidismo, intoxicação
(metais pesados, glicoletileno, entre outros). (GOLLOBIN, 2011; BRASIL, 2012)
BERIBÉRI SHOSHIN
A palavra “Shoshin” deriva do japonês, em que “sho” significa “dano agudo” e “shin”,
significa “coração”. Refere-se à insuficiência cardíaca fulminante, de início súbito, com
acidose lática e insuficiência biventricular. Podem ser encontrados os seguintes sinais
clínicos: Aumento da área cardíaca, Queda da pressão diastólica, Taquicardia, Hiperfonese
de bulhas e discreto sopro, Congestão pulmonar, Dispneia, Hepatomegalia, Náuseas e
vômitos, Cianose, Choque, Morte súbita e como diagnóstico diferencial tem-se a miocardite
aguda viral ou chagásica, febre reumática, miocardiopatia alcoólica, intoxicação.
(GOLLOBIN, 2011; BRASIL, 2012)
SÍNDROME DE WERNICKE- KORSAKOFF
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Essa síndrome combina a encefalopatia de Wernicke com a amnésia de Korsakoff.
caracteriza-se por lesões da base do cérebro, hipotálamo, tálamo e corpos mamilares, com
proliferação glial, dilatação capilar e hemorragia perivascular. A encefalopatia de Wernicke é
observada principalmente em alcoolistas e se manifesta frequentemente por confusão mental,
desorientação, oftalmoplegia (paralisia dos músculos oculares), nistagmo (oscilação rítmica
dos globos oculares), diplopia (visão dupla), ataxia (insegurança nos movimentos de mãos e
pés). Pode ocorrer paralisia do nervo causando estrabismo convergente. A síndrome de
Korsakoff é um distúrbio neuropsiquiátrico em que a memória para fatos recentes está afetada
de forma desproporcional às demais funções cognitivas. O paciente apresenta-se apático, sem
iniciativa e, como regra, não tem queixas em relação à doença. A confabulação é outro
aspecto característico. Pode ocorrer também progressão para confusão mental e delírio.
Diagnóstico diferencial: encefalite viral, tumor cerebral. Em alcoolistas, a encefalopatia de
Wernicke é frequentemente precipitada ao se infundir glicose sem administração prévia de
tiamina. (GOLLOBIN, 2011; BRASIL, 2012)
BERIBÉRI INFANTIL (MENORES DE 12 MESES)
De acordo com Brasil, 2012 algumas manifestações clínicas podem ser observadas
especificamente em lactentes alimentados com leite materno, cujas mães têm deficiência de
tiamina, mas não são necessariamente sintomáticas. Essas formas clínicas são descritas na
literatura como beribéri infantil (até 12 meses de idade) e podem ser encontradas
isoladamente ou associadas. São elas:
Beribéri Infantil Cardíaco Agudo
A maior prevalência ocorre em lactentes com sobrepeso, de 1 a 3 meses de idade. Os
primeiros sintomas são cólicas, agitação, anorexia e vômitos, com progressão para edema
generalizado, cianose e dispneia, incluindo sinais de insuficiência cardíaca. Sem tratamento,
evoluem em poucos dias após o início dos sintomas para morte. A insuficiência cardíaca
congestiva pode ter início súbito e a morte ocorrer dentro de 2 a 4 horas – forma perniciosa
ou cardiológica pura. Responde rapidamente à reposição intravenosa de tiamina (dentro de
duas horas). Diagnóstico diferencial: septicemia e insuficiência cardíaca por outras causas.
Beribéri Infantil Afônico
O maior número de casos ocorre em lactentes de 4 a 6 meses de idade. Manifesta-se com
paresia ou paralisia das cordas vocais devido à neurite. A voz da criança se altera e o choro
vai se tornando cada vez mais rouco, até nenhum som ser produzido. Sem tratamento, os
casos evoluem em dias para agitação, edema, dispneia e morte.
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Beribéri Infantil Encefalítico ou Pseudomeningítico
Ocorre em lactentes de 7 a 9 meses de idade e é equivalente a encefalopatia de Wernicke,
apresentando: Nistagmo, Contratura muscular, Rigidez de nuca, Abaulamento de fontanela
Convulsões e Perda de consciência
METODOLOGIA
Este estudo descritivo e retrospectivo foi desenvolvido junto ao banco de dados do Sistema
de Informação de Atenção à Saúde Indígena - SIASI do Dsei Leste de Roraima,
especificamente do modulo morbidade, para caracterizar os casos de beribéri notificados de
2008-2014.
O DSEI-Leste de Roraima conta atualmente com uma população estimada em 43.032
indígenas, pertencentes às etnias Macuxi, Wapixana, Taurepang, Ingaricó, Patamona, WaiWai
e Sapara que estão distribuídos para fins administrativos em nove regiões administrativas,
sendo elas: Serras, Surumu, Raposa, Baixo Cotingo, São Marcos, Taiano, Serra da Lua,
Amajari e WaiWai, baseada em fatores geopolíticos, sociais, étnicos e ideológicos, sendo
cada um deles divididos em polos-base, totalizando 34 (trinta e quatro), o que compreende
uma extensão territorial de 3.250.256 há distribuídos em 10 municípios.
Foram também utilizados: livros; artigos disponíveis na base Bireme (publicações dos
últimos oito anos e descritor “Beribéri; Deficiência de Tiamina; Indígenas”); teses e
dissertações de portais das Universidades Federais e Estaduais; portarias, resoluções e fontes
não publicadas, oriundas da FUNASA e Ministério da Saúde.
Os dados coletados na pesquisa foram tratados por meio da estatística descritiva, de acordo
com SIEGEL, utilizando-se a planilha Microsoft Excel de 2010 for Windows®, como
instrumento para a realização das análises e interpretação dos dados. Ademais utilizou-se
como instrumento de pesquisa bibliográfica a Rede Mundial de Computadores,
principalmente, o Sistema de Uso de Bibliotecas da UFRR, filiada à Comissão Brasileira de
Bibliotecas Universitárias (CBBU), bem como as coleções bibliográficas da Rede SIELO e
do Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior do
Ministério da Educação (CAPES/MEC), especializadas em fornecerem informações
científicas e forneceu o suporte necessário ao desenvolvimento da pesquisa.
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Por se tratar de investigação com base em dados secundários, na qual os sujeitos da pesquisa
não foram abordados, logo o presente trabalho não foi encaminhado ao Comitê de Ética em
Pesquisa, no entanto seguindo as normas exigidas pela Resolução nº. 466/12, obteve-se
autorização do Dsei Leste Roraima para utilização do banco de dados e realização das
análises efetuadas. Além disso, este estudo foi realizado sem recursos financeiros
institucionais e/ou privados.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A deficiência de vitamina B1 esta normalmente associada a populações que tem como
principal componente da dieta a mandioca, o arroz polido ou moído e/ou a farinha de trigo,
ou seja alimentos pobres em Tiamina.
Destaca-se que indivíduos em situação de desnutrição estão mais vulneráveis a desenvolver o
beribéri, em especial os alcoolistas crônicos, em função da diminuição do autocuidado e
consequentemente da baixa ingestão de alimentos, características estas que estão diretamente
associadas ao padrão cultural dos indígenas do DSEI Leste. (ALBERT, 2000)
No período de 2008 a 2014 foram notificados 709 casos de beribéri entre indígenas do
Distrito Leste de Roraima e nenhum óbito, conforme pode ser visto na Tabela 1, com média
de 101,28 casos por ano analisado, mediana de 147 casos, sendo um estudo amodal.
Tabela 1. Casos confirmados de beribéri por sexo e ano de atendimento no Distrito Leste de
Roraima
Local
Dsei Leste de
Roraima
TOTAL
Ano de
atendimento
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
497
Nº de
Caso/Sexo
F
3
49
94
106
153
73
19
212
Nº Total de Casos
M
3
13
57
41
47
39
12
6
62
151
147
200
112
31
709
Quanto ao acometimento separado por sexo nota-se que com exceção do ano de 2008 a
prevalência se deu em indivíduos do sexo masculino, sob um percentual de acometimento
entre os homens é de 70,09% e de mulheres de 29,91%, tal evento se deve ao fato de que
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atrelados a deficiência na dieta os homens indígenas tem como característica o uso continuo
de bebidas alcoólicas. E sabe-se que o álcool aumenta o consumo de vitaminas do complexo
B, o que pode interferir no processo de absorção gastrintestinal de tiamina e alterar seu
metabolismo intermediário. (LIRA,2008)
Outra característica dos homens indígenas é o esforço físico associado a baixa ingesta de
alimentos, os indígenas não possuem o habito das três refeições diárias é comum terem
apenas um ou duas refeições.
Tendo em vista que o beribéri acomete majoritariamente os homens e adultos jovens, tem-se
na Tabela 2 os casos confirmados separados por faixa etária, onde se constata que o maior
número de casos se deu entre homens, na faixa etária de 20 a 59 anos, com um total de 406
casos, perfazendo um percentual de 57,26% sobre o número de casos total no período e
81,69% dos casos entre homens. Em todas as faixas etárias, com exceção da de 0 a 4 anos
observou-se maior prevalência entre os homens.
Tabela 2. Casos confirmados de beribéri por sexo, faixa etária e ano de atendimento no
Distrito Leste de Roraima
Dsei
Ano 0-4
5-9
de Ano Ano
Ate
s
s
ndi
men
F
M
to 200
8
200
1
9
Lest 201
e de
0
Ror 201
aim
1
a 201
1
2
201
3
201
4
• T
1
1
0
O
T
A
1019
Ano
s
F
-
20-59
> 60
Anos
Anos
TOTAL
M
-
F
1
M
-
F
2
M
3
F
-
M
-
6
-
1
1
6
9
40
2
2
62
-
-
7
7
44
72
6
15
151
-
2
4
11
32
81
5
12
147
-
1
2
6
42
129
3
16
200
-
-
2
3
30
66
7
4
112
-
-
-
3
12
15
-
1
31
4
17
36
171
406
23
60
709
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L
A criação do DSEI Leste de Roraima foi aprovada pelo Congresso Nacional no ano de 1999.
No dia 05 de fevereiro de 1999 o presidente da Fundação Nacional de Saúde emitiu a Portaria
nº 110 criando oficialmente e em caráter pioneiro o DSEI Leste de Roraima, abrangendo as
etnias Macuxi, Wapichana, Taurepang, Ingaricó, Patamona e Wai-Wai, e dando início às
gestões para a sua plena e efetiva implantação. Atualmente o Dsei atende mais de 32.000
indígenas pertencentes a nove regiões administrativas e 34 polos-base (figura 1).
Figura 1. Mapa de regiões administrativas do Dsei Leste Roraima
Fonte: Ministério da Saúde – Dsei Leste Tabela 3. Distribuição de polos base por regiões
administrativas e municípios
REGIÃO
1. Serras
PÓLO-BASE
1. Maturuca
2. Morro
3. Pedra Branca
4. Willimon
5. Caracanã
6. Caraparú I
7. Pedra Preta
8. Campo Formoso
9. Serra do Sol
Sub - Total
MUNICÍPIO
Uiramutã
Uiramutã
Uiramutã
Uiramutã
Uiramutã
Uiramutã
Uiramutã
Pacaraima
Uiramutã
COMUNIDADE
11
12
10
16
13
12
10
6
6
98
Endereço para correspondecia: rua anicó n 121, Paraviana, Boa Vista – RR CEP: 69307-100
2. Surumu
3.Baixo
Contigo
4. Raposa
5. Amajarí
6. Taiano
7. São Marcos
8. Serra da Lua
9. Wai - Wai
10. Cantagalo
11. São Camilo
12. Pedreira
Sub - Total
13. Câmara
14. Santa Maria
15. Constantino
16. São Francisco
Sub - Total
17. Raposa I
18. Bismark
19. Matiri
20. Santa Cruz
Sub - Total
21. Ponta da Serra
22. Araçá
23. Santa Inês
Sub -Total
24. Pium
25. Boqueirão
26. Serra do Truarú
Sub - Total
27. Vista Alegre
28. Milho
29. Roça
30. Sorocaima II
Sub - Total
31. Malacacheta
32. Manoá
33. Jacamim
Sub - Total
34. Jatapuzinho
Sub - Total
TOTAL
Fonte: Ministério da Saúde – Dsei Leste Roraima
Pacaraima
Pacaraima
Pacaraima
Normandia
Normandia
Normandia
Normandia
Normandia
Normandia
Normandia
Normandia
Amajarí
Amajarí
Amajarí
Alto Alegre
Alto Alegre
Boa Vista
Boa Vista
Boa Vista
Pacaraima
Pacaraima
Cantá
Bonfim
Bonfim
Caroebe
10
7
8
25
10
3
11
10
34
14
16
5
6
41
8
7
2
17
6
6
4
16
6
4
5
18
33
6
8
4
18
8
8
290
Dos 15 polos base que registraram casos se observa um destaque para o polo Willimon, com
155 registros ao longo dos anos, como pode ser observado na Tabela 4. Uma característica
interessante relacionada a localização dos casos é que dos 15 polos, nove pertencem ao
município de Uiramutã, um ao município de Normandia um ao Município de Caroebe e um
ao Município do Canta, um ao município de Boa Vista e do município de Pacaraima (Tabela
4). É valido ressaltar que o Município de Uiramuta é o mais distante da capital de Roraima e
o município com maior população indígena, com mais de 12.000 indígenas, o que pode ser
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fator condicionante da propagação dos casos, tendo em vista a dificuldade de acesso e ainda a
presença de uma cultura menos fragmentada nos levando a acreditar que o consumo da
mandioca, beju, caxiri (bebida alcoólica a base de mandioca), que são os alimentos mais
frequentes na base alimentar entre os indígenas do Dsei Leste, ainda é intenso. Porquanto, o
acesso a outros alimentos torna-se limitado, haja vista que Uiramutã é uma região de lavrado
e não possui fauna abundante para a prática da caça e pesca, bem como a diversificação no
plantio não é característica destas comunidades.
Tabela 4. Casos confirmados de beribéri por ano de atendimento e por polo base no Distrito
Leste de Roraima
DSEI
POLOBASE
Araçá
Campo
Formoso
Cantagalo
Caraná
LEST
Caraparu I
E DE Jatapuzinho
RORA Malacacheta
IMA
Maturuca
Milho
Morro
Pedra Branca
Pedra Preta
Serra do Sol
Sorocaima II
Willimon
TOTAL
2008 2009
1
2010 2011
2012 2013
2
2
1
2
40
4
46
40
9
4
2
2
11
16
1
3
56
14
1
26
62
14
151
1
5
1
10
5
6
30
3
1
16
147
31
52
7
1
18
3
22
6
4
53
200
2014
TOTAL
1
6
1
14
25
4
11
2
17
4
11
1
1
2
38
112
1
3
5
3
31
2
141
133
7
13
74
1
10
122
29
22
3
155
709
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entre os fatores relacionados destacam-se o hábito de consumir álcool, apontado como uma
característica cultural da população indígena, e ainda baixa renda e ocupação com atividade
pesada. Os homens são os que representaram o maior número de casos gerais. A faixa etária
que registrou maior números de casos foi de 20 a 59 anos.
Um grupo de risco são os alcoolistas tendo em vista que além do fato das bebidas alcoólicas
serem altamente energéticas, no abuso de álcool a deficiência de tiamina está associada à
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baixa ingestão de comida, à baixa absorção de tiamina e a uma alteração no metabolismo
intermediário da tiamina.
Outro grupo de risco é o lactente alimentado com leite materno, cuja mãe tem deficiência de
tiamina (mas não necessariamente sintomática), no entanto não se observaram casos nessa
faixa etária.
Como a maioria das doenças nutricionais, grande parte dos surtos de beribéri associa-se a
condições de pobreza e fome, consumo de alimentação monótona baseada em arroz polido,
elevado teor de carboidratos simples e também a alguns grupos de risco específicos, como
aqueles engajados em atividade física pesada.
Dessa forma, apesar do elevado percentual de incompletude das informações, a faixa etária
de maior acometimento foi de 20 a 59 anos e o maior registro entre os homens. Essas
condições, aliadas à baixa escolaridade dos indivíduos acometidos, que dificulta a inserção
em trabalhos mais qualificados, ajudam a entender a alimentação deficiente e monótona
como provável etiologia do beribéri. Diante disso, as ações de enfrentamento do beribéri
exigem intervenção intersetorial para o seu equacionamento, não podendo ficar restritas às
ações de saúde.
No entanto é sabido que entre os indígenas a alimentação monótona e o trabalho “pesado”
sempre esteve presente, fato que não justificaria o elevado número de registros de casos entre
os indígenas da região do Uiramutã, sendo assim os resultados do presente estudo indicam
que existem características peculiares aos indígenas daquele município, haja vista que dos
nove polos base, todos tiveram registros de casos em larga escala ao longo dos anos. Um dos
pontos que destacamos como provável indicador seria uma possível contaminação no solo
e/ou agua, sendo que aquela região por muitos anos abrigou garimpos ilegais, onde
possivelmente se utilizou de metais pesados sem o menor controle e inspeção.
Logo, reitera-se a preocupação de estudiosos do problema na região, no que se refere à
necessidade de se buscarem mais informações da epidemia na suas dimensões social,
ambiental e econômica, as quais comprometem o acesso aos alimentos e à qualidade de vida
dessa população.
Considera-se pertinente que estudos sobre a determinação do processo de adoecer e morrer
em decorrência de beribéri e seu ressurgimento no país sejam aprofundados, tendo em vista
que casos continuam a ser notificados no Dsei Leste de Roraima e em outros estados das
regiões Norte e Nordeste.
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