UNIÃO SOCIAL CAMILIANA FACULDADE DE ENFERMAGEM LUIZA DE MARILLAC CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENFERMAGEM EM CENTRO CIRÚRGICO CRISTINA ROCHA AMARAL SAGGIORO INFECÇÃO EM FERIDA OPERATÓRIA: uma revisão de literatura JUIZ DE FORA – MG 1 NOVEMBRO/08 Cristina Rocha Amaral Saggioro INFECÇÃO EM FERIDA OPERATÓRIA: uma revisão de literatura Monografia apresentada à Faculdade Luiza de Marillac para a obtenção do título de Especialista em Enfermagem em Centro Cirúrgico. Orientador: Juiz de Fora – MG Novembro/08 2 Professor Dr. de Almeida Filho Antônio José SAGGIORO, Cristina Rocha Amaral. Infecção em ferida operatória. Juiz de Fora – São Camilo, 2008. 76p. Orientador: Prof. Dr. Antônio José Almeida Filho Monografia de Pós-Graduação. Centro de Pós-Graduação São Camilo. Curso de Enfermagem em Centro Cirúrgico, 2008. 1- Enfermagem. 2- Ferida. 3- Prevenção COD: 610.7698 3 “Dedico esse trabalho aos meus pais Avimar Fonseca Amaral e Sueli Rocha Amaral, ao meu esposo Victor Sylvio Saggioro, à milha filha Clara Rocha Amaral Saggioro, que participaram ativamente do meu sonho e ajudaram a torná-lo realidade.” “Dedico também a todos os meus colegas profissionais que se dedicam ao cuidado do cliente cirúrgico, proporcionando um ambiente acolhedor e livre de infecção.” 4 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, por me possibilitar um maior crescimento profissional, e manter-se sempre presente em todos os momentos da minha vida. Agradeço ao meu esposo Victor pelo amor e por sempre me apoiar, a minha filha que foi gerada no decorrer do curso, aos meus pais e irmãos pelo carinho e admiração. E a todos que, direta ou indiretamente me apoiaram durante meu curso e na elaboração desse trabalho. Agradeço ao Orientador Professor Doutor José Antônio Almeida Filho, pela capacidade e apoio dispensado, aos coordenadores do curso em Juiz de Fora, Adriana e Antônio pelo apoio durante meu período de licença à maternidade e a todos os professores pela colaboração e enriquecimento profissional. 5 RESUMO O presente estudo aborda a infecção em ferida operatória e o seu controle, enfocando inicialmente a inserção da enfermagem nesse contexto como indispensável e relevante. Mas, não apenas a enfermagem tem o seu papel, como também toda a equipe multidisciplinar, que está em constante contato com o cliente, nesse caso, com o cliente cirúrgico. Utiliza a metodologia de pesquisa bibliográfica, optamos por trabalhar com fontes primárias de investigação, ou seja, artigos, livros, teses, monografias, etc. No decorrer do estudo foi realizado um confronto teórico com a prática atual quanto ao controle da infecção em ferida operatória, desde a sua evolução histórica até hoje, tendo como objetivos conhecer os elementos que contribuem para o controle da infecção e/ou o seu tratamento, analisar as práticas incoerentes com esse processo. Finalizando, ressalta-se que o enfermeiro, mais que qualquer outro profissional, está envolvido nesse cuidado de forma consciente e a não disseminação da infecção pós operatória, mesmo diante das dificuldades. Palavras-chaves: enfermagem, infecção, controle. 6 ABSTRACT This study addresses the surgical wound infection, and its control, initially focusing on the integration of nursing in this context as an essential and important. But not only is the nursing role, but also the entire multidisciplinary team, which is in constant contact with the customer, in this case, the surgical client. Uses the methodology of literature search, we chose to work with primary sources for research, ie, articles, books, theses, monographs, etc.. In the course of the study was a theoretical comparison with the current practice regarding the control of infection in surgical wound, from its historical development to date, with the objective to know the elements that contribute to the control of infection and / or its treatment, examine the practices inconsistent with this process. Finally, he emphasizes that the nurse, more than any other profession, is involved in so conscious and careful not spread the infection after surgery, despite the difficulties. Keywords: nursing, infection, control. 7 SUMÁRIO Capítulo I INTRODUÇÃO................................................................................................. 9 Capítulo II REVISAO BIBLIOGRÁFICA............................................................................... 11 2.12.2- História da infecção hospitalar.......................................................... 11 Conceitos, critérios e diagnóstico das infecções hospitalares.........................................................................................25 2.3- Formas de transmissão de microorganismos...................................... 28 2.4- Métodos de controle eprevenção das infecções.................................. 29 2.4-1. Equipamentos de proteção individual (epis)............................ 31 2.4-2. Luvas....................................................................................... 31 2.4-3. Óculos de proteção................................................................. 33 2.4-4. Aventais................................................................................ 33 2.4-5. Máscaras................................................................................ 34 2.5- Sistemas de precaução e isolamento.................................................. 35 2.6- Indicações das precauções respiratórias e de contato..........................41 2.7- Indicações das precauções de acordo com o tipo de microorganismo, infecção ou condição clínica............................................................... 43 2.8- A importância da atuação do enfermeiro no controle de infecção hospitalar........................................................................................... 54 2.9- Revisão dos critérios utilizados para avaliação da infecção do sítio cirúrgico............................................................................................. 56 2.10- Feridas operatórias............................................................................ 61 Capítulo III 3.1- Metodologia.......................................................................................... 65 3.2- Análise e discussão temática..................................................................66 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................... 67 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................................69 8 CAPÍTULO I INTRODUÇÃO Por que a equipe médica acha que depende apenas da equipe de enfermagem; ou que os casos de infecção hospitalar pós-operatória vêm das mãos da enfermagem; não vêem que outros profissionais podem estar disseminando a infecção? No entanto, no decorrer do curso tivemos a oportunidade de ter um conhecimento teórico-prático maior e vencer muitos desafios. Com isso, concordo fielmente com Jung quando nos diz que o “conhecimento liberta o homem” (Alves, 199:86), e, mesmo que esse conhecimento ainda seja restrito, saber um pouco é melhor do que saber nada e nos dá a possibilidade de fazermos críticas ao invés de vivermos o preconceito. Além da oportunidade de ter um conhecimento maior, infelizmente, também tive a oportunidade de ver e ouvir, atitudes e palavras, que despertaram em mim o interesse de estar desenvolvendo minha monografia de conclusão do curso de pós graduação em Enfermagem em Centro Cirúrgico, Central de Material Esterilizado e Recuperação Pós Anestésica sobre: Infecção em Ferida Operatória. Por um lado foi frustrante, pois num ambiente de trabalho, pude ver um caso de infecção pós-cirúrgica de mamoplastia. Ao acompanhar o cirurgião no curativo da mesma, presenciei e comprovei que o mesmo não utilizava sequer luvas para fazêlo. Com as mãos desprotegidas drenava secreção de uma mama, e sem lavá-las tocava na outra mama também operada sem qualquer precaução para si e para a cliente. Causando estresse, e afetando custo e imagem corporal. Fiquei perplexa e decidi: vou falar sobre isso: por que essa frieza? Somos humanos! Onde está o cuidado? Onde está a precaução, e os E.P.I.S? Um momento tão melindroso, que requer pelo menos o mínimo de cuidado ao fazê- 9 lo, se tornou tão desprezível... não pode ser assim. Daí então surgiu o meu tema e sua relevância. A partir disso os objetivos do presente estudo são: descrever a trajetória da infecção hospitalar; descrever as medidas de prevenção padrão; descrever os principais agravos aos profissionais da saúde, decorrentes da infecção hospitalar, e propor junto as equipes, educação continuada referente a infecção. Com os objetivos propostos, as equipes estarão conscientes para diminuir a infecção, os custos, colaborar com o cliente na construção e preservação de sua imagem, pois ele é o produto final de todo o nosso trabalho. O que me levou a enxergar que a enfermagem está empenhada no cuidado para a realização do seu trabalho mais que qualquer outro profissional, de forma consciente à não disseminação da infecção pós operatória, apesar de todas as dificuldades. Cumpre ressaltar, que jamais a técnica pode torna-se mais importante do que as pessoas nela envolvidas. Assim estaremos desenvolvendo um cuidado holístico e ético, que como afirma Waldow (1993) “o cuidado com uma prática ética é a essência da enfermagem”. 10 CAPÍTULO II REVISÃO BIBLIOGRÁFICA: 2.1. A história da Infecção Hospitalar Segundo Cavalcanti (2002), os microrganismos, causadores das infecções, existem e convivem no meio ambiente muito antes do surgimento do ser humano. A relação entre microrganismo e o homem deve ser equilibrada, porém, quando isso não ocorre, surgem as doenças infecciosas dos microrganismos oportunistas que se proliferam e causam sérios danos aos tecidos, órgãos e sistemas dos homens, alterando seu funcionamento normal. Rodrigues (1997) relata que “O impacto das doenças infecciosas, na evolução da espécie humana, é de difícil avaliação, tanto pela sua complexidade em si, como pela escassez de dados controversos, prejudicando as conclusões do paleontologista”. Para ser tratar uma doença, na Medicina Primitiva, baseava-se principalmente na crença do sobrenatural, no poder da magia exercidos por magos, bruxos e feiticeiros. Fernandes (2000) revela que a utilização de máscara foi relatada no século I, onde os romanos observaram que várias enfermidades eram mais comuns nos escravos e nos mineiros, que trabalhavam em condições sub humanas em locais alagados ou inalando pós tóxicos, causando várias moléstias ocupacionais. Gaius Plinius Secundus, relata que os mineiros utilizavam–se de máscaras feitas com a bexiga de animais para proteger contra a inalação de poeiras, mas não foi adotada na saúde porque achavam que não havia necessidade. 11 Desde que existem os hospitais, existem as infecções hospitalares (IH), ou seja, as infecções adquiridas no hospital (MARTINS, 2001). Segundo CAVALCANTI (2002), aproximadamente em 330 d.C. foi construído o primeiro hospital urbano do Império Romano, no entanto, as condições de higiene não eram as mais apropriadas e as cirurgias, na grande maioria eram letais graças a infecções hospitalares (IHs). Em 1460, Heinvich Vom Pfolspeumolt percebeu que as mãos eram um grande meio de transmissão das infecções, por isso, passou a recomendar a limpeza do material de curativo e a lavagem das mãos ao manipular o paciente, e obteve bons resultados, diminuindo o índice de infecções hospitalares. No séc XIX, grandes acontecimentos estavam reservados para a área médica, que caminhava para a medicina hospitalar; as cidades inchavam pela migração à procura de trabalho nas grandes indústrias; ao mesmo tempo, as medidas para adequar as condições sanitárias e de higiene dessa crescente população, não conseguiam vir em tempo hábil para acompanhar as mudanças. Junto ao trabalho escravo, inclusive de crianças, às condições insalubres e aos salários baixos vieram as grandes epidemias de cólera (1832, 1849, 1886) e tuberculose, também chamada de Peste Branca. Calcula-se que 1/3 dos pacientes internados nos hospitais em Paris eram tuberculosos (RODRIGUES, 1997). Existem relatos do uso de avental no início do século XIX, em um dos mais avançados centros cirúrgicos, localizado em Massachusetts, onde a sala de cirurgia ficava no alto do edifício para receber luz natural e para impedir que os pacientes internados ouvissem os gritos de dor dos pacientes operados. A cadeira operatória localizava-se no centro de uma arena, rodeada de uma arquibancada onde ficavam os estagiários e os curiosos. O cirurgião principal 12 despia sua sobrecasaca na sala e vestia um avental todo sujo de sangue e pus, decorrentes de procedimentos anteriores, de cujo bolso pendiam alguns cordéis que serviam para suturar (CAVALCANTI, 2002). Rodrigues (1997) diz que “dentre dos inumeráveis acontecimentos do século XIX, um dos mais importantes, angustiante e polêmico, até os nossos dias, refere-se à origem, causa e conseqüência da febre puerperal, que é geral e não especificamente definida como uma forma de sépsis, uma infecção originária na cavidade uterina que acaba por invadir a corrente sangüínea, que se inicia após 24 horas até o 11º dia após o parto”. Alguns textos de Hipócrates indicavam que a febre puerperal era rara, mas não completamente desconhecida na Grécia antiga. Foi no século XVIII que a tragédia rara passou a ser freqüente, bem conhecida e epidêmica, tendo sua causa definida como o desenvolvimento de profissionais com novas concepções médicas obstétricas e a criação dos hospitais urbanos, onde a gestante se internava antes, durante e após o parto. Os primeiros a sugerir que a febre puerperal era um processo contagioso foram John Burton (1697-1771) e John Leake (1729-1792). Alexander Gordon (1752-1799) e Charles White (1728-1813) indicavam que os médicos poderiam transmitir a febre puerperal de paciente a paciente. Brilhante cavalheiro americano, poeta e médico, Oliver Wendell Holmes (1809-1894) foi uma grande figura na batalha contra a febre puerperal. “O relato de um caso de febre puerperal, apresentado em uma reunião da Sociedade Médica de Boston, despertou o interesse de Holmes para a doença. O médico que realizou a necrópsia do caso morreu de ”piemia dos patologistas” (septicemia), após uma semana. Antes do seu falecimento, ele atendeu algumas mulheres; todas tiveram febre puerperal. Esta seqüência de eventos sugeriu à Holmes que a 13 febre puerperal era contagiosa e que poderia ser transmitida de uma paciente à outra através do atendimento médico” (RODRIGUES, 1997). Em 1843 publicou magnífico trabalho sobre a febre puerperal, que apesar de claro, lúcido, com argumentos lógicos sobre a transmissão e prevenção da febre puerperal, foi recebido com indiferença e hostilidade pela classe médica. Os grandes nomes da obstetrícia americana rejeitaram a doutrina da contagiosidade da febre puerperal. Holmes, além de insistir em sua doutrina, com relatos de casos evidenciando a origem contagiosa da febre puerperal, propôs várias medidas de prevenção aos obstetras: lavar a mãos, trocar toda a roupa após a necrópsia, aguardar 24 horas para atender uma gestante em trabalho de parto e, se possível, evitar participação em necropsias. Ignaz Philipp Semmelweis (1818-1865), médico nascido na Hungria e formado em Viena, recebeu muita influência de grandes lideranças médicas que abordavam novos enfoques à investigação clínica e patológica (REZENDE, 1982). Em 1846, tornou-se assistente do Dr. Johann Klein, diretor da primeira Clínica Obstétrica do Hospital Geral de Viena, inaugurado em 1784. A enfermaria da maternidade era dividida em duas clínicas: o ensino para os estudantes de medicina era realizado na primeira clínica, enquanto que a segunda clínica, supervisionada por parteiras, era destinada à formação de obstetrizes. As puérperas que ficavam doentes eram transferidas para o hospital geral. Entre 1841 e 1846, a taxa de mortalidade materna na primeira clínica (estudantes de medicina) girava em torno de 9,92% (1.869 mortes em 20.042 partos), enquanto na segunda clínica (parteiras), rondava 3,38% (691 mortes em 17.791 partos). Duas dramáticas epidemias 14 ocorreram em outubro de 1842, quando 29,3% das parturientes morreram de febre puerperal, na clínica freqüentada pelos estudantes de medicina. Na mesma época a clínica das parteiras mantinha uma taxa de mortalidade em torno de 2-3%. Segundo Fernandes (2000), durante os primeiros meses como assistente da clínica, Semmelweis começou a notar que as Infecções não ocorriam de maneira uniforme, sendo que nas enfermarias onde trabalhavam as parteiras, o índice de contaminação era bem menor (3%) do que nas enfermarias onde os estudantes de medicina atuavam (18%). Ele observou que, na primeira clínica, as gestantes eram examinadas por cinco ou mais estudantes, que circulavam livremente entre a sala de autópsia e a enfermaria (RODRIGUES, 1997). Semmelweis reuniu evidências de que a contaminação ocorria predominantemente nas parturientes que eram examinadas por professores e estudantes de medicina com as mãos carregadas de material cadavérico proveniente das salas de autopsia. Após vários experimentos, foi escolhido o hipoclorito de cálcio como desinfetante capaz de remover o “veneno dos cadáveres”. Em maio de 1847, Ignaz Semmelweis tornou compulsório a lavagem das mãos com água clorada, sendo esta técnica obrigatória a todos que entrassem na sala de parto. Com essa medida, observou-se que em apenas 7 meses diminuiu de (18% para 3%) o índice de infecção puerperal, preconizou-se também que entre os cuidados prestados entre uma parturiente e outra, as mãos deveriam ser lavadas obrigatoriamente, desta forma, a incidência de complicações infecciosas reduziu ainda mais (FERNANDES, 2000). 15 “Na segunda metade do século XIX, a deplorável condição dos hospitais, a miséria do paciente hospitalizado e o crescimento pernicioso e imoral da miséria junto com a industrialização, somados ao aumento dramático do número de cirurgias realizadas, formavam um quadro, onde a infecções hospitalares podiam ser vistas de todos os ângulos” (RODRIGUES, 1987) Florence Nightingale (1820-1910), enfermeira, considerada uma pessoa que não foi da sua época, mas sim um daqueles raros e talentosos seres que transcendem o período de sua própria existência. Em 1854 foi atuar no Hospital de base de Scutari, durante a Guerra da Criméia 1854. Florence e mais 38 enfermeiras eram responsáveis por 1500 pacientes. As condições do hospital eram péssimas: sanitários praticamente não existiam nas enfermarias; as camas eram insuficientes, muitos pacientes no chão; poucos lençóis e roupas hospitalares; sem bacias, sabão, toalhas; pouca comida e de péssima qualidade; não existia enfermagem durante a noite. A taxa de mortalidade era de 42%. Florence começou abrindo cinco cozinhas com dietas, instalou lavanderia, melhorou as condições sanitárias, instituiu a limpeza e desinfecção e a separação dos doentes. Durante a noite, costumava fazer suas rondas, com um lampião, levando assistência e conforto aos doentes, tendo sido imortalizada com o título de “A Dama do Lampião”. Segundo Fernandes (2000), Florence não conhecia o conceito de contato por microorganismos, uma vez que este ainda não tinha sido descoberto, porém já acreditava em um meticuloso cuidado quanto à limpeza do ambiente e pessoal, ar fresco e boa iluminação, calor adequado, boa nutrição e repouso, com manutenção do vigor do paciente para a cura. 16 Após a implantação das medidas descritas mais acima, a taxa de mortalidade que era de 42%, em fevereiro de 1855, foi reduzida a 2,2%, em junho de 1855 (RODRIGUES, 1997). Na Inglaterra, em 1865, o cirurgião Joseph Lister (1827-1912), aplicou os conhecimentos de Louis Pasteur (1822-1895), para eliminar os microrganismos vivos em feridas e incisões cirúrgicas. Em 1871, o próprio Pasteur obrigou os médicos dos hospitais militares a ferver o instrumental e as bandagens que seriam utilizados nos procedimentos médicos. Pasteur expôs a "teoria germinal das enfermidades infecciosas", segundo a qual toda enfermidade infecciosa tem sua causa (etiologia) num micróbio com capacidade de propagarse entre as pessoas. Deve-se buscar o micróbio responsável por cada enfermidade para se determinar um modo de combatê-lo (RODRIGUES, 1997). As primeiras recomendações públicas em literatura médica nos Estados Unidos sobre isolamentos, datam de 1877, onde recomendavam a colocação dos pacientes com doenças infecciosas em “cabanas de isolamento” (LEÃO e GRINBAUM, 1997). Fernandes (2000) relata que em 1882, Neuber propôs a utilização do avental cirúrgico branco, que deveria ser trocado e limpo a cada procedimento. Em 1896, Von Mikulicz e Raduki, propuseram a utilização de máscara cirúrgica para evitar contaminação nasal e oral, enquanto as mãos continuavam sendo mergulhadas em soluções fenólicas, que provocavam intenso eczema nas mãos dos profissionais que as utilizavam. Em 1889, Guilherme Steward Halsted, encomendou a Goodyear a confecção de luvas finas de borracha, que protegiam as mãos e não atrapalhavam sua movimentação. Ele fez isso 17 para proteger as mãos de sua amada que era enfermeira em um hospital, e lavava as mãos constantemente com soluções tóxicas. Rodrigues (1997), relata que na primeira metade do século XX, até os anos 40, na era pré-penicilina, as IHs eram causadas, predominantemente, por Streptococcus pyogenes e pneumoniae. Em 1910 surgiram as “barreiras de enfermagem”, que mantinham os pacientes em enfermarias de múltiplos leitos, com a utilização de aventais diferentes identificando que tinham infecção, lavagem de mãos com soluções anti-sépticas e desinfecção dos materiais contaminados entre um paciente e outro (FERNANDES, 2000). Segundo Martins (2001), em 22 de setembro de 1928, o médico e bacteriologista escocês Alexander Fleming (1881-1955) descobre a penicilina, a base dos antibióticos. Desenvolvida como agente terapêutico, a penicilina provocou redução significativa das infecções estreptocócicas nos pacientes hospitalizados. Com o surgimento de cepas de Staphylococcus resistentes à penicilina em 1950, ocorre um aumento da incidência de IH, causando surtos de infecções nos berçários, com altas taxas de mortalidade. Em 1950, cria-se a primeira Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), na Inglaterra. Em 1958, são recomendados à vigilância de IH e o estabelecimento de comissões de controle de infecção pela American Hospital Association – AHA (American Association -Associação Americana de Hospitais). 18 hospital Com o uso indiscriminado de antibióticos penicilina-resistentes e de largo espectro, por volta de 1960 ocorre o aparecimento de Pseudomonas e Enterobacteriaceae resistente a estes antimicrobianos, caracterizando o fenômeno da resistência bacteriana. Em 1965, nos Estados Unidos, pela primeira vez, um hospital foi obrigado a pagar indenização a um cliente pelos danos sofridos em conseqüência de uma infecção hospitalar. Nessa mesma época, são criados as Comissões de Infecção, anteriormente recomendadas pela AHA. A partir daí, intensificam-se os estudos sobre as IHs, com a finalidade de testarem métodos efetivos de vigilância nos hospitais e, baseando-se nesses estudos, o CDC – Centers for Disease Control and Prevention (Centro de Controle e de Prevenção de Doenças) dos Estados Unidos da América recomenda a prática da vigilância epidemiológica das IHs de forma rotineira e sistemática em todos os hospitais. Em 1969, para avaliar verdadeira situação dos Estados Unidos em relação às infecções hospitalares e sua magnitude, o CDC propõe a criação de um estudo multicêntrico, o NNIS – National Nosocomial Infections Study (Estudo Nacional das Infecções Hospitalares), onde seriam analisados dados obtidos dos hospitais que fariam parte desse estudo. Na década de 70, ocorre a implantação do NNIS e a 1ª Conferência sobre Infecções Hospitalares (1970). Ainda em 1970, o CDC recomenda a necessidade de se estabelecer a figura do enfermeiro e do epidemiologista hospitalar (RODRIGUES, 1997) e publica o manual de isolamento para hospitais (ANDRIOLI et al, 1999). Segundo Martins (2001), em 1974 inicia-se nos Estados Unidos um dos mais importantes estudos já realizados com a finalidade de avaliar a efetividade dos programas 19 efetivos de controle de infecção, O SENIC – Study on the Efficacy of Nosocomial Infection Control (Estudo da Eficácia do Controle de Infecção). “Os resultados dos 81 hospitais americanos que participaram desse estudo evidenciaram uma redução de 32% das IHs nos Hospitais com programas efetivos de controle de infecção e um aumento de 9% a 31% naqueles que não realizavam nenhum tipo de controle. “(MARTINS, 2001:pág 5) O Joint Commission on Accreditation of Hospitals – JCAH, uma organização privada Americana criada para avaliar e acreditar instituições de saúde, estabelece como critério para o licenciamento dos hospitais, a implatação de programas de controle de infecção (1976). Na década de 80, é recomendado pelo CDC, um enfermeiro em tempo integral para cada 250 leitos no hospital, para atuar no controle de infecção. Surge a infecção pelo HIV – Human Immunodeficiency virus (Vírus da Imunodeficiência Humana) e a hospitalização dos casos infectados, gera grandes progressos na prevenção e controle das IHs, principalmente relacionados à biossegurança. À medida que os modos de transmissão do vírus são descobertos, novas orientações de prevenção são introduzidas, contribuindo também, para impedir a transmissão de infecções por outros microrganismos. Segundo Fernandes (2000), é em 1987 que o CDC publica os critérios gerais e específicos de definições de Infecções Hospitalares. Ao longo da década de 90, o CDC modifica em seu manual de isolamento, a terminologia “precauções com sangue e secreções” para “precauções universais” – que implicam o uso de EPI (equipamento de proteção individual) na assistência a todo e qualquer paciente, independente do seu estado infeccioso – e finalmente, altera o termo para “precauções básicas ou padrões”, vigente até hoje e que mantém o mesmo significado da terminologia anterior (MARTINS, 2001). Martins (2001) refere que durante essa década de 2000, apesar dos avanços significativos na prevenção e controle das IHs como a melhoria dos métodos de vigilância epidemiológica, 20 das técnicas de assepsia, desinfecção, esterilização e modernização da arquitetura hospitalar, observa-se um aumento na ocorrência das infecções hospitalares. 2.1.2- Aspectos históricos das infecções hospitalares no Brasil “As informações sobre a situação da arte de curar e das doenças, na época da descoberta do Brasil, 1500, são carentes de relatos. Entre os índios brasileiros, a missão, a arte de curar, cabia ao pajé ou “caraíba” ou “piaga”, que reunia as funções de feiticeiro, adivinho, sacerdote e curador” (RODRIGUES, 1997). Segundo descrições do século XVI, as doenças eram a bouba – doença tropical contagiosa causada pelo espiroqueta Treponema pertenue, caracterizada por lesões cutâneas seguidas de erupção granulomatosa generalizada e, por vezes, lesões destrutivas tardias da pele e dos ossos - o bócio endêmico, febres de origens não-estabelecidas, ferimentos de lutas e guerras e picadas de animais venenosos. Quanto à sífilis e à malária, existem controvérsias, parecem não ter ocorrência antes da chegada dos colonizadores. O sarampo, a febre amarela e a varíola foram trazidos pelos conquistadores e negros. No mesmo século XVI, surgiu a assistência hospitalar, com as Irmandades de Misericórdia, as Santas Casas. A primeira Santa Casa de Misericórdia foi a de Santos, fundada por Brás Cubas, em 1543. Os lazaretos, para os pacientes com hanseníase, e os hospitais de isolamentos, para quarentena, surgiram no século VXIII e se localizavam respectivamente nas grandes cidades e nos portos de grande movimentação. 21 Segundo Fernandes (2000), devido à epidemia de varíola na cidade de São Paulo em 1875, é inaugurado o primeiro hospital de isolamento, hoje o Instituto Emílio Ribas, destinado ao atendimento de epidemias. Os primeiro relato de IH, apesar de não ter sido utilizado o termo “infecção hospitalar”, parece surgir em 1956 com tema sobre esterilização do material hospitalar, na “Revista Paulista de Hospitais” (RODRIGUES, 1997). Segundo Martins (2001), em 1963, no Hospital Ernesto Dorneles (Rio Grande do Sul) é criada a primeira Comissão de Infecção Hospitalar. Lacerda (2002) relata que na década de 70, em plena ditadura militar, período em que ocorre a expansão econômica, crescimento da industrialização e conseqüente urbanização resultando em acesso crescente à assistência à saúde, o governo cria o INPS – Instituto Nacional da Previdência Social – centralizando benefícios relativos à questão previdenciária, adotando o modelo predominante curativo. “Essa centralização levou a conseqüências como a expansão da assistência à parcelas da população antes não atendidas (população rural, empregadas domésticas e autônomos), embora não assegurando a qualidade da assistência à saúde prestada “ (SANTOS, 2000). Durante a década de 70, vários hospitais universitários, como o Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (MG) e o Hospital Sarah Kubischek (MG), criam suas Comissões de Controle de Infecção Hospitalar (CCIHs). 22 Entre 1972 e 1976 foram instituídas portarias determinando a criação e organização de CCIHs nos hospitais do Instituto Nacional da Previdência Social. Rodrigues (1997) refere que o primeiro evento voltado para infecção hospitalar foi em 1972, no Hospital de Ipanema e na ABEN – Associação Brasileira de Enfermagem – no Estado do Rio de Janeiro, com a denominação “Curso de Epidemiologia e Profilaxia das Infecções Hospitalares”. Em 1975 são iniciados estudos nos hospitais brasileiros indicando que o número de pacientes que podiam ter adquirido IH em 1971 oscilava entre 283.000 e 911.000 pacientes, enquanto o número de óbitos associados variava entre 48.000 e 156.000. No início da década de 80, a Infecção Hospitalar aparece na mídia brasileira em tons catastróficos. O jornal Folha de São Paulo (1980) anuncia: “Infecção é a quarta causa de mortes no País, diz médico”; O Jornal do Brasil (1981) declara: “Pesquisador diz que infecção hospitalar mata 150 mil por ano” (LACERDA, 2002). Vários setores da sociedade, como usuários, profissionais de saúde e donos de hospitais, acusam e constatam a gravidade do problema. Justificativas apresentam-se como defesa, reduzindo o problema a um “fenômeno universal”, uma vez que existe em todos os hospitais do mundo ou colocando a IH como uma conseqüência indesejável da evolução do modelo clínico adotado; alguns reconhecem a prevalência da infecção hospitalar relacionada à péssima qualidade de assistência prestadas pelos hospitais. 23 Segundo Martins (2001), em 1982, é publicado o “Manual de Controle de Infecção em Cirurgia” por Edmundo Machado Ferraz, do Hospital das Clínicas, em Recife. Prestando grande contribuição ao estudo das infecções cirúrgicas. O Ministério da Saúde (MS), em 24 de junho de 1983, publica a portaria nº 196, constituindo um dos marcos históricos no Brasil, em relação ao controle das infecções hospitalares: “todo hospital, independentemente da entidade mantenedora, porte ou especialidade, deverá constituir comissão de controle de infecção”. Às Secretarias de Saúde dos Estados competia promover a implantação e fiscalização dessas comissões. “A portaria 196/83 representou um avanço, entretanto, apesar desta determinação regulatória, o Ministério da Saúde não disponibilizou os recursos necessários a sua efetivação e muito menos a sua fiscalização” (SILVA E SOUZA et al, 2002). A implantação e funcionamento das CCIH ficaram então a mercê do interesse institucional e, em muitos casos, ocorreram graças à iniciativa e empenho dos profissionais destas instituições. Martins (2001) relata que em 1985, com o impacto da morte do recém-eleito Presidente da República Tancredo Neves – morte essa provavelmente associada a uma infecção hospitalar – o MS inicia o programa de treinamento de recursos humanos com a criação dos Centros de Treinamento. Tais centros, geralmente ligados às universidades, deveriam capacitar profissionais da área da saúde com a finalidade de atuarem no controle da infecção hospitalar. 24 Ainda em 1985, é publicado o “Manual de Controle de Infecção Hospitalar”, com a finalidade de delinear as medidas básicas da prevenção e controle das IHs. Nesse mesmo ano, realiza-se o Primeiro Curso de Introdução e Controle de Infecção Hospitalar, para treinamento de profissionais de nível superior, por todo o território brasileiro (RODRIGUES,1997). Segundo Martins (2001), em 8 de abril de 1987, é criada a Comissão Nacional de Controle de Infecção Hospitalar, pela Portaria 140 do Ministério da Saúde. Pela Portaria 323, de abril de 1988, é Instituído um Programa Nacional de Controle de Infecção ligado à Secretaria Nacional de Programas Especiais. Para Rodrigues (1997), o grande desenvolvimento no conhecimento das IHs obtido com a vigilância, prevenção, controle, formação de uma nova especialidade e mesmo constituição de um novo mercado de trabalho, culminou com a realização do 1º Congresso Brasileiro sobre IH, realizado em 1989, em São Paulo, pela Associação Paulista de Estudo e Controle de Infecção Hospitalar (APECIH), contando com aproximadamente 1000 participantes e vários convidados estrangeiros de renome internacional. Na década de 90, atendendo à política de descentralização dos serviços de saúde, os centros de treinamento de controle de IH desvinculam-se do Ministério da Saúde, ficando ligados diretamente às secretarias de estado (MARTINS, 2001). Segundo Lacerda (2002), somente na década de 90 é reconhecida a importância de estudos de procedimentos técnicos como uma das principais alternativas para o controle da IH. Vê-se que a ênfase na vigilância epidemiológica e na realização de indicadores epidemiológicos, além das inúmeras tentativas de destruir microrganismos e utilizar barreiras microbiológicas, não se mostram suficientes para controlar a IH. 25 Martins (2001) relata que em 27 de agosto de 1992, o MS revoga a portaria 196/1983 e edita a atual e vigente Portaria de n° 930, determinando que “Todos os hospitais do País, além das Comissões, deveriam constituir Serviços de Controle de Infecção”, com isso, a Portaria estabeleceu critérios para o diagnóstico, métodos de vigilância epidemiológica e normas para limpeza, desinfecção, esterilização e anti-sepsia. A Lei Federal nº 9.431, em 6 de janeiro de 1997, institui a obrigatoriedade da manutenção de um Programa de Controle de Infecção Hospitalar (PCIH) em todos os hospitais brasileiros, sob a responsabilidade de um CCIH. Em 12 de maio de 1998, o MS revoga a portaria 930 e publica a portaria de nº 2.616, regulamentando o PCIH no País. Já em 2000, apesar da grande quantidade de portarias publicadas, o número de hospitais que possui uma comissão ou serviço de controle de infecção funcionando de maneira efetiva ainda é bem reduzido. 2.2- Conceitos, critérios e diagnósticos das infecções hospitalares Para Machado (2001), a infecção é o resultado da interação entre o agente infeccioso e o hospedeiro, formando a cadeia de infecção: agente-transmissão-hospedeiro. Os agentes infecciosos mais prevalentes são as bactérias seguidas pelos fungos, os vírus e parasitas, sendo o paciente visitante e o profissional de saúde, os representantes do hospedeiro. 26 Segundo a Portaria 2.616, de 12 de Maio de 1.998, as infecções podem ser classificadas em comunitárias e hospitalares (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005). Fernandes (2000) explica que “infecção comunitária (IC) é aquela constatada ou em incubação no ato de admissão do paciente, desde que não relacionada com internação anterior no mesmo hospital. São também comunitárias: a infecção que está associada com complicação ou extensão da infecção já presente na admissão, a menos que haja troca de microrganismos com sinais ou sintomas fortemente sugestivos da aquisição de nova infecção; a infecção em recém-nascido, cuja aquisição por via transplacentária é conhecida ou foi comprovada e que tornou-se evidente logo após o nascimento (exemplo: herpes simples, toxoplasmose, rubéola, citomegalovirose, sífilis e AIDS); as infecções de recém-nascidos associadas com bolsa superior e 24 (vinte e quatro) horas. Infecção hospitalar é aquela adquirida após a admissão do paciente e que se manifeste durante a internação ou após a alta, quando puder ser relacionada com a internação ou procedimentos hospitalares. A Portaria 2.616, de 12 de maio de 1998, define, ainda, os critérios para diagnóstico de infecção hospitalar que seguem os seguintes princípios: 27 A) O diagnóstico das infecções hospitalares deverá valorizar informações colhidas através de: evidência clínica, derivada da observação direta do paciente ou da análise de seu prontuário; resultados de exames de laboratório, ressaltando-se os exames microbiológicos, a pesquisa de antígenos, anticorpos e métodos de visualização realizados; evidências de estudos com métodos de imagem; endoscopia; biópsia e outros. B) Critérios gerais: quando, na mesma topografia em que foi diagnosticada infecção comunitária, foi isolado um germe diferente, seguido do agravamento das condições clínicas do paciente, o caso deverá ser considerado como infecção hospitalar; quando se desconhecer o período de incubação do microrganismo e não houver evidência clínica e/ou dado laboratorial de infecção no momento da internação, 28 convenciona-se infecção hospitalar toda manifestação clínica de infecção que se apresentar a partir de 72 (setenta e duas) horas após a admissão; são também convencionadas infecções hospitalares aquelas manifestadas antes de 72 (setenta e duas) horas da internação, quando associadas a procedimentos diagnósticos e/ou terapêuticos, realizados durante este período; as infecções recém-nascido são hospitalares, com exceção das transmitidas de forma transplacentária e aquelas associadas a bolsa rota superior a 24 (vinte e quatro) horas; os pacientes provenientes de outro hospital que se internam com infecção, são considerados portadores de infecção hospitalar do hospital de origem infecção hospitalar. Nestes casos, a Coordenação Estadual, Distrital, Municipal e/ou o hospital de origem deverão ser informados para computar o episódio como infecção hospitalar naquele hospital (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005). 2.3- Formas de transmissão dos microrganismos Segundo Couto e Gomes (1999), os microrganismos existentes no meio hospitalar podem ser transmitidos por alguns meios ou modos. 29 Para Andriolli et al (1999), os microrganismos são transmitidos tanto diretamente pela exposição ao sangue e outros líquidos corpóreos, por contato ou por via aérea, quanto indiretamente, através de um vetor ou veículo inanimado como roupas e utensílios. No ambiente hospitalar, os principais modos de transmissão são: por contato, por via aérea ou respiratória e transmissão por exposição a sangue e outros líquidos corpóreos. A transmissão por contato, é quando um microrganismo pode ser transmitido de uma pessoa para outra através de mucosa ou mesmo da pele. A transmissão por contato é dividida em duas categorias, transmissão por contato direto e transmissão por contato indireto: - contato direto: quando um microrganismo é transmitido de uma pessoa para outra através do contato direto da pele, sem a participação de um veículo inanimado. Herpes Simples, Herpes Zoster, feridas com secreção abundante não protegida pelo curativo, diarréia infecciosa de pacientes com higiene precária, são exemplos dessa forma de transmissão, que no meio intrahospitalar são evitadas através da lavagem das mãos e o uso de barreiras, como avental e luvas. -contato indireto: envolve contato de um hospedeiro suscetível com objetos contaminados, tais como: instrumentos, roupas ou luvas contaminadas (ANDRIOLLI et al ,1999). A transmissão por via aérea ou respiratória é dividida em transmissão por gotículas e transmissão por aerossóis, devido ao tamanho da partícula expelida pelo paciente. transmissão por gotículas: ocorre através do contato próximo ao paciente, gotículas eliminadas na fala, tosse, espirros ou até mesmo em procedimentos como aspiração, são lançadas ao meio ambiente. As gotículas têm um tamanho considerado grande 30 (maior que 5), atingem até um metro de distância e rapidamente se depositam no chão. Coqueluche, caxumba, rubéola, doença meningocócica são exemplos de doenças transmitidas por gotículas (BATISTA et al,2003). transmissão por aerossóis: difere-se da transmissão por gotículas pelo tamanho de suas partículas. Os aerossóis são partículas menores que 5 eliminadas durante a respiração ou até mesmo durante a fala, tosse ou espirros. Devido ao seu tamanho, os aerossóis podem permanecer suspensos no ar por horas e atingir ambientes diferentes como quartos adjacentes, sendo carreados pelo ar. Micobacterium tuberculosis, vírus do Sarampo e vírus da Varicela Zoster são exemplos de microrganismos transmitidos por aerossóis (ANDRIOLLI et al ,1999). A transmissão através do sangue e de outros líquidos corpóreos contendo agentes infectantes ocorre pela exposição da pele não íntegra ou de mucosa a essas substâncias. Podemos citar o vírus da imunodeficiência humana (HIV) e os vírus das hepatites B e C como exemplos de microrganismos transmitidos através da exposição a sangue e líquidos corpóreos (ANDRIOLLI et al ,1999). 2.4- Métodos de controle e prevenção das infecções Segundo Silva e Souza et al (2002), “aqueles que, apesar de todas as dificuldades, conseguem estruturar um serviço de controle de infecção hospitalar, esbarram em outros problemas, exigindo atenção especial como é o caso da evolução dos microrganismos que 31 apresentam resistências cada vez mais importantes, determinadas pelo uso indiscriminado dos antimicrobianos, dentre outros. Algumas medidas precisam ser adotadas no sentido de minimizar o crescimento e essa capacidade de mutação dos microrganismos, dentre elas, a indicação consciente e fundamentada dos antibióticos, a vigilância e o isolamento de pacientes com cepas multirresistentes que têm demonstrado eficácia”. Andriolli et al (1999) relatam que durante a década de 80 vários modelos foram lançados para prevenir ou minimizar o risco da infecção hospitalar (comentados no capítulo 1). Em 1996, o CDC e o HICPAC (Hospital Infection Control Practices Advisory Committee) propuseram um novo sistema de precauções e isolamento que é o mais adotado nos hospitais brasileiros. Este sistema tem como objetivo básico, a prevenção da transmissão de um microrganismo de um paciente portador são ou doente, para outro, tanto de forma direta como indireta. Esta prevenção abrange não somente pacientes, mas também profissionais da saúde e visitantes, que podem servir como veículos de transmissão. Leão; Grinbaum (1997) relatam que “esse sistema é mais sintético e prático do que os anteriores, embora adaptações possam ser necessárias para aplicação em situações específicas”. 32 2.4-1. Equipamentos de proteção individual (EPIs) Segundo Carmagnini (2002), para aplicar o sistema de precauções e isolamento é necessário a utilização dos EPIs. Entende-se por Equipamento de Proteção Individual, um conjunto de dispositivos associados, utilizados contra um ou mais riscos que possam ocorrer simultaneamente e ameaçam a segurança e a saúde no ambiente de trabalho. O objetivo do uso dos EPI’s não é só a proteção dos profissionais de saúde, mas também a redução do risco de transmissão de microrganismos. Seu emprego baseia-se no potencial de risco que oferece, em função do contato com excretas, fluidos corpóreos, sangue, secreções, lesões de pele e mucosas. Sendo então selecionado especificamente de acordo com o procedimento a ser realizado. Devemos ter cuidado, pois esses equipamentos quando utilizados irregularmente podem oferecer mais riscos do que benefícios. São eles: 2.4.2. Luvas Lisboa; Torres (2001) relatam que as luvas servem como uma proteção contra o risco potencial a fluidos corpóreos. Essa proteção não elimina totalmente o risco de infecção, simplesmente atenua. As luvas devem ser sempre de uso único, individual e serem descartáveis após a utilização, mesmo estando aparentemente limpas. Segundo Medeiros (1993), as luvas cirúrgicas são freqüentemente mais utilizadas e dentre elas podemos optar pelas luvas estéreis ou de procedimento, que serão determinadas dependendo do procedimento a ser realizado. Podem ser confeccionadas de látex ou materiais sintéticos e devem ser bem resistentes. 33 A luva estéril serve para realizar procedimentos invasivos, ou seja, quando o indivíduo irá penetrar no organismo humano, como em uma aspiração traqueal, por exemplo, já que esta é isenta de microrganismos que possam contaminar o paciente infectando-o. O contato com sítios estéreis, como lesões de pele e mucosas, também deve ser preservado de contaminação. Já as luvas não estéreis (chamadas de luvas de procedimento) são utilizadas em procedimentos não invasivos e em pele íntegra, ou seja, não oferecem risco de contaminação direta para o paciente. As luvas deverão ser calçadas no início do procedimento e removidas logo após o término do mesmo. Devem ser trocadas a cada atendimento, ainda que o próximo procedimento seja realizado no mesmo paciente e elas estejam aparentemente limpas. Fonte:Alguns erros na clinica odontológica www.fop.unicamp.br/ biosseguranca Figura 1: Luvas estéreis 2.4.3. Óculos de proteção No relato de Lisboa; Torres (2001), os óculos devem ser utilizados todas as vezes que o procedimento oferecer risco de contaminação aos olhos. 34 Fonte: Rosa Minas- produtos de proteção www.rosaminas.com.br Figura 2 : Óculos de proteção 2.4.4. Aventais Para LEÃO; GRINBAUM (1997), o avental tem como função proteger as roupas de contaminações que se dão através de sangue e outros fluídos corpóreos. Devem, de preferência, cobrir o corpo todo, serem fechados nas costas, de mangas longas e de uso descartável. Fonte:Sossy- Produtos médico-hospitalares www.sossy.com.br/prod.htm 35 Figura 3 : Avental 2.4.5. Máscaras Leão; Grinbaum (1997) relatam que as máscaras oferecem proteção de face, devendo ser utilizadas ao realizar procedimentos onde o risco de contaminação por doenças respiratórias seja evidente, assim como no atendimento de pacientes imunodeprimidos. As máscaras do tipo cirúrgicas não são tão eficazes para todos os tipos de doenças respiratórias, pois elas não têm grande capacidade de filtração das partículas existentes. As máscaras do tipo N 95 possuem maior teor de filtração onde a letra N caracteriza a máscara projetada para uso em ambientes sem partículas de óleo (não resistentes ao óleo) e o número 95, o nível de eficácia (em percentual) na filtração de partículas em suspensão com 0,3µm de diâmetro. São de uso individual e podem ser reutilizadas pelo mesmo profissional por períodos longos, desde que se mantenham íntegras (não amassadas ou rasgadas), secas e limpas (LEÃO; GRINBAUM, 1997). Fonte:Hospital Medical Equipamentos e Matéria Médico Hospitalarl www.hospitecata.com.br/ m_fluid.htm 36 Figura 4: Máscara 2.5- Sistema de Precaução e Isolamento Para Andriolli et al (1999),o objetivo básico de um sistema de precauções e isolamento é a prevenção da transmissão de um microrganismo de um paciente, seja ele são ou doente, para outro indivíduo, tanto de forma direta, como indireta. Para isso, são adotadas medidas de prevenção em relação ao paciente e aos profissionais de saúde, que podem servir de veículo de transmissão destes microrganismos. O outro objetivo do sistema de precauções e isolamento é a prevenção da transmissão de microrganismos para o profissional de saúde. Segue abaixo as medidas de precauções padrão, de contato, respiratórias para gotículas e precauções respiratórias para aerossóis, lembrando que, dependendo do tipo de patógeno/meio de transmissão, pode ser necessária a utilização de mais de um tipo de precaução. Precauções Padrão Couto; Gomes (1999) relatam que as precauções padrão visam prevenir a transmissão hospitalar de microorganismos, inclusive quando sua fonte é desconhecida. Devem ser aplicadas em todas as situações de atendimento a pacientes, independente da suspeita de doença transmissível. 37 Quadro 1: Precauções Padrão PRECAUÇÕES PADRÃO Lavagem das mãos Antes e após o contato com o paciente. Entre dois procedimentos realizados no mesmo paciente. Imediatamente após a retirada das luvas. Luvas Usar quando houver risco de contato com sangue ou outros fluidos corpóreos. Trocar as luvas entre procedimentos no mesmo paciente se houver contato com material infectado. Calçar luvas limpas antes de manipular mucosas ou pele não íntegra. Retirar as luvas imediatamente após o uso; e lavar as mãos. Avental Usar sempre que houver risco de contato da pele ou roupa do profissional com sangue, fluidos ou secreções corpóreas potencialmente infectantes. 38 Máscaras, óculos, protetor facial Usar sempre que houver exposição da face do profissional a respingos de sangue, fluidos ou secreções. Prevenção de acidentes com pérfuro-contantes Reencape de agulha é proibido. Nunca desconectar a agulha da seringa. Atenção para as caixas de descarte: devem estar dispostas em locais visíveis e de fácil acesso. Fonte:Precauções e Isolamento - APECIH ANDRIOLLI et al (1999) Lavagem das mãos Couto; Gomes (1999) relatam que a lavagem das mãos é a principal medida na prevenção das infecções hospitalares. Segundo Armond (2001), a mão do profissional de saúde é o maior veículo de transmissão de agentes infecciosos em um ambiente hospitalar. 39 A lavagem das mãos tem como objetivos remover sujidade, suor e oleosidade; remover a microbiota transitória presente na camada mais superficial da pele, com a finalidade de evitar infecção cruzada. Algumas indicações da lavagem das mãos: sempre que houver sujeira visível nas mãos; antes e após o contato com qualquer paciente; entre diferentes procedimentos em um mesmo paciente (ex: aspirar secreção traqueal e fazer um curativo); após retirar as luvas; após manipulação de materiais e equipamentos; antes e após realização de atos pessoais (ex: alimentar-se, assoar o nariz, pentear os cabelos, ir ao toalete). Para lavagem correta das mãos, o indivíduo deve seguir toda uma seqüência para que não seja esquecida nenhuma parte das mãos (ARMOND, 2001). Precauções de contato Silva (2000) relata que a precauções de contato destinam-se às situações de suspeita ou confirmação de doença ou colonização por microorganismos transmitidos pelo contato. Quadro 2: Precauções de contato PRECAUÇÕES DE CONTATO Quarto privativo Individual ou comum para pacientes portadores do mesmo microorganismo. Luvas É obrigatório o uso de luvas para qualquer contato com o paciente. 40 Trocar as luvas entre dois procedimentos diferentes no mesmo paciente. Descartar as luvas no próprio quarto e lavar as mãos imediatamente com anti-séptico degermante. Avental Usar sempre que houver possibilidade de contato das roupas do profissional como o paciente, com seu leito ou com material infectante. Se o paciente apresentar diarréia, ileostomia, colostomia ou ferida com secreção não contida por curativo, o avental passa a ser obrigatório ao entrar no quarto. Transporte do paciente Deve ser evitado. Quando for necessário o transporte, o profissional deverá seguir as precauções de contato durante todo o trajeto, para qualquer contato com o paciente. Artigos e equipamentos São todos de uso exclusivo para o paciente, incluindo termômetro, estetoscópio e esfigmomanômetro. Devem ser limpos e desinfetados (ou esterilizados) após a alta. Fonte:Precauções e Isolamento - APECIH ANDRIOLLI et al (1999) Precauções respiratórias As infecções de transmissão respiratória podem exigir precauções com gotículas ou com aerossóis, a depender do patógeno em questão (ANDRIOLLI, 1999). Precauções respiratórias para gotículas 41 Para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) (BRASIL, 2000), a transmissão por gotículas ocorre quando estas são eliminadas através do contato próximo ao paciente. A transmissão pode se dar através da fala, tosse, espirro e até mesmo na realização de procedimentos como a aspiração de secreções. Quadro 3: Precauções respiratórias para gotículas PRECAUÇÕES RESPIRATÓRIAS PARA GOTÍCULAS Quarto privativo Obrigatório. Individual ou comum para pacientes com o mesmo microorganismo. Máscara É obrigatório o uso da máscara comum (tipo cirúrgica) para todas as pessoas que entrarem no quarto. Deve ser desprezada à saída do quarto. Transporte do paciente Deve ser evitado. Quando for necessário, o paciente deverá sair do quarto utilizando máscara comum (tipo cirúrgica). Fonte:Precauções e Isolamento – APECIH ANDRIOLLI et al (1999) 42 Precauções respiratórias para aerossóis Segundo Silva (2000), a transmissão por aerossóis é diferente da transmissão por gotículas. Algumas partículas (as menores que 5μ) eliminadas durante a respiração, fala ou tosse se ressecam e ficam suspensas no ar, podendo permanecer durante horas e atingir ambientes diferentes, inclusive quartos adjacentes (são carreados por corrente de ar). Poucos microorganismos são capazes de sobreviver nestas partículas, podendo ser citadas como exemplo: M. tuberculosis, vírus do sarampo e vírus varicela-zoster. Quadro 4: Precauções respiratórias para aerossóis PRECAUÇÕES RESPIRATÓRIAS PARA AEROSSÓIS Quarto privativo Obrigatório, com porta fechada. Preferencialmente deverá dispor de sistema de ventilação com pressão negativa e filtro de alta eficácia. Máscara É obrigatório o uso de máscara tipo N95 por todo profissional que prestar assistência ao paciente (ex: médico, enfermeiro, auxiliar de enfermagem, laboratório, copa, limpeza). Deva ser colocada antes de entrar no quarto e retirada somente após a saída, podendo ser reaproveitada pelo mesmo profissional enquanto não estiver danificada. Transporte do paciente Deve ser evitado. Quando for necessário, o paciente deverá sair do quarto utilizando máscara 43 comum (tipo cirúrgica). Fonte:Precauções e Isolamento - APECIH ANDRIOLLI et al (1999) 2.6- Indicações das precauções respiratórias e de contato Tipo de precaução Condição clínica Possibilidade diagnóstica •exantema vesicular* Varicela •exantema maculopapular com febre e coriza Rubéola, Sarampo Precauções p/ Aerossóis •tosse, febre, infiltrado pulmonar em paciente Tuberculose infectado pelo HIV •meningite Doença meningocócica Precauções p/ Gotículas 44 •exantema petequial e febre Doença meningocócica •tosse persistente paroxística ou severa durante Coqueluche períodos de ocorrência •diarréia aguda e provavelmente infecciosa em Bactérias entéricas/vírus Precauções de paciente incontinente ou em uso de fralda Contato •diarréia em adulto com história de uso recente Clostridium difficile de antimicrobiano •exantema vesicular* •infecção Varicela respiratória (principalmente Vírus bronquiolite) em lactentes e crianças Respiratório Sincicial ou Vírus Parainfluenzae •história de colonização ou infecção por bactéria Bactéria multi-resistente multi-resistente •infecção de pele, ferida ou trato urinário em Bactéria multi-resistente paciente com internação recente em hospital onde bactérias multi-resistentes são prevalentes •abcessos ou feridas com drenagem de secreção Staphylococcus/ 45 Streptococcus não contida pelo curativo *condição que exige duas categorias de isolamento (aerossóis e contato) Atenção: Utilizar as precauções inclusive na suspeita da doença Fonte:Precauções e Isolamento - APECIH ANDRIOLLI et al (1999) 2.7- Indicações das precauções de acordo com o tipo de microorganismo, infecção ou condição clínica Microorganismo/Infecção/Condição Tipo de Período precaução ABSCESSO DRENANTE •drenagem não contida pelo curativo Contato •drenagem contida pelo curativo Padrão Durante a doença AIDS (ver HIV) ACTINOMICOSE Padrão ADENOVÍRUS Gotículas •lactente e pré-escolar Contato 46 + Durante a doença AMEBÍASE Padrão ANGINA DE VICENT Padrão ANTRAX: cutâneo ou pulmonar Padrão ASCARIDÍASE Padrão ASPERGILOSE Padrão BACTÉRIAS MULTI-RESISTENTES Contato Preferencialmente até a alta BABESIOSE Padrão BLASTOMICOSE SULAMERICANA Padrão (P. brasiliensis: pulmonar ou cutânea) BOTULISMO Padrão Durante a doença BRONQUIOLITE/ INFECÇÃO Contato RESPIRATÓRIA Vírus sincicial respiratório/vírus Parainfluenzae 47 •lactente e pré-escolar BRUCELOSE Padrão CAXUMBA Gotículas Até 9 dias após o início da tumefação CISTICERCOSE Padrão CITOMEGALOVIROSE Padrão Clostridium botulinum (botulismo) Padrão Clostridium difficile (colite associada Contato Durante a doença antibiótico) Clostridium perfringens: Gangrena gasosa ou intoxicação alimentar Padrão Clostridium tetanii (tétano) Padrão CÓLERA Contato Durante a doença COLITE ASSOCIADA A ANTIBIÓTICO Contato Durante a doença Padrão Durante a doença CONJUTIVITE •bacteriana, gonocócica e Chlamydia trachomatis •viral aguda (hemorrágica) Contato COQUELUCHE Gotículas CREUTZFELDT-JACOB, Doença de Padrão CRIPTOCOCOSE Padrão DENGUE Padrão DERMATOFITOSE/MICOSE DE Padrão 48 Terap. Eficaz 5 dias PELE/TINEA DIARRÉIA:ver gastroenterocolite DIFTERIA Terapêutica eficaz + 2 •cutânea Contato culturas negativas em dias •faringea Gotículas diferentes DOENÇA MÃO, PÉ E BOCA: ver enterovirose DONOVANOSE (granuloma inguinal) Padrão ENCEFALITE: ver agente especifico ENDOMETRITE PUERPERAL Padrão ENTEROBÍASE Padrão ENTEROCOLITE NECROTIZANTE Padrão ENTEROCOLITE por Clostridium difficile Contato ENTEROVIROSE (Coxackie e Echovírus) •adulto Padrão •lactente e pré-escolar Contato Durante a doença Gotículas Terap. Eficaz 24 h ESCABIOSE Contato Terap. Eficaz 24 h ESPOROTRICOSE Padrão ESQUISTOSSOMOSE Padrão EPIGLOTITE (Haemophyllus influenzae) ERITEMA INFECCIOSO: ver Parvovírus B19 ENCEFALITE: ver agente especifico 49 ENDOMETRITE PUERPERAL Padrão ENTEROBÍASE Padrão ENTEROCOLITE NECROTIZANTE Padrão ENTEROCOLITE por Clostridium difficile Contato ENTEROVIROSE (Coxackie e Echovírus) •adulto Padrão •lactente e pré-escolar Contato Durante a doença Gotículas Terap. Eficaz 24 h ESCABIOSE Contato Terap. Eficaz 24 h ESPOROTRICOSE Padrão ESQUISTOSSOMOSE Padrão EPIGLOTITE (Haemophyllus influenzae) ERITEMA INFECCIOSO: ver Parvovírus B19 ESTAFILOCOCCIA •pele, ferida e queimadura: com secreção não contida Contato com secreção contida Padrão •enterocolite Padrão (1) •síndrome da pele escaldada Padrão •síndrome do choque tóxico Padrão FEBRE AMARELA Padrão FEBRE POR MORDEDURA DE RATO Padrão 50 Durante a doença FEBRE RECORRENTE Padrão FEBRE REUMATICA Padrão FEBRE TIFÓIDE: ver gastroenterite S. typhi FURUNCULOSE ESTAFILOCÓCICA •lactentes e pré-escolares Contato Durante a doença Criptosporidium Contato Durante a doença Contato Durante a doença GASTROENTERITE •Campylobacter, Cholera, spp •Clostridium difficile Padrão (1) •Escherichia coli Padrão •Giardia lamblia Padrão •Yersinia enterocolitica Padrão (1) •Salmonella spp (inclusive S. typhi) Padrão (1) •Shigella spp Padrão •Vibrio parahaemolyticus Contato Durante a doença •Rotavirus e outros v[írus em paciente incontinente ou em uso de fraldas GAGRENA GASOSA Padrão HERPANGINA: ver enterovirose HERPES SEIMPLES: •encefalite Padrão •neonatal Contato (4) Durante a doença •mucocutâneo disseminado ou primário grave Contato Durante a doença 51 •mucocutâneo recorrente (pele, oral ou genital) Padrão HERPES ZOSTER •em imunossuprimido, ou disseminado Contato aerossóis •em imunocompetente + Até todas as tornarem-se crostas Padrão HIDATIDOSE Padrão HISTOPLASMOSE Padrão HIV Padrão IMPETIGO Contato INFECÇÃO DE CAVIDADE FECHADA Padrão INFECÇÃO DE CAVIDADE CIRÚRGICA: •com secreção contida Padrão •com secreção não contida Contato INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO Padrão INFLUENZA: A, B C Gotículas INTOXICAÇÃO ALIMENTAR POR: C. botulium; C. perfringens; C. welchii; Padrão Staphylococcus KAWASAKI, Síndrome de Padrão MALÁRIA Padrão MELIOIDOSE Padrão MENINGITE 52 Durante a doença Durante a doença lesões •bacteriana gram (-) entéricos, em neonatos Padrão •fúngica, viral Padrão •Haemophilus influenzae (suspeita ou Gotículas (9) confirmada) Padrão •listeria monocytogenes •Neisseria Terap. Eficaz 24h Gotículas (9) meningitidis (suspeita Terap. Eficaz 24 h ou Padrão confirmada) Padrão (5) •pneumocócica Padrão •tuberculosa •outras bactérias MENINGOCOCCEMIA MICOBACTÉRIOSE Padrão ATÍPICA (ñ M. tuberculosis): Padrão Pulmonar ou cutânea MOLUSCO CONTAGIOSO Padrão MONONUCLEOSE INFECCIOSA Padrão MUCORMICOSE Padrão OXIUROS Padrão PARVOVÍRUS B19: Padrão •doença crônica em imunossuprimido Gotículas Durante a internação •crise aplástica transitória ou de células Gotículas Durante 7 dias Contato Terap. Eficaz 24 h vermelhas PEDICULOSE 53 PESTE •bubônica Padrão •pneumônica Contato Terap. Eficaz 3 dias PNEUMONIA •adenovírus Contato gotículas + Durante a doença •Burkholdria cepacia em fibrose cística (incluindo colonização respiratória) Padrão (6) •Clamydia, Legionela spp, S. aureus Padrão •fúngica Padrão •Haemophilus influenzae adultos Padrão crianças de qualquer idade Gotículas Terap. Eficaz 24 h •meningocócica Gotículas Terap. Eficaz 24 h •mycoplasma (pneumonia atípica) Gotículas Durante a doença •outras bactérias não listadas, incluindo gram Padrão (-) •pneumocócica Padrão •Pneumocystis carinii Padrão (7) •Streptococcus, grupo A Padrão adultos Gotículas lactentes e pré-escolares •viral Padrão 54 Terap. Eficaz 24 h adultos Contato Durante a doença lactentes e pré-escolares PSITACOSE (ORNITOSE) Padrão RAIVA Padrão REYE Padrão RIQUETSIOSE Padrão ROTAVIRUS: ver gastroenterite RUBÉOLA: •congênita Contato (8) Até um ano de idade •adquirida Gotículas Até 7 dias do início do rash SALMONELOSE: ver gastroenterite SARAMPO Aerossóis SHIGELOSE: ver gastroenterite SÍFILIS (qualquer forma) Padrão TENÍASE Padrão TÉTANO Padrão TINEA Padrão TOXOPLASMOSE Padrão TRACOMA AGUDO Padrão TRICOMONÍASE Padrão 55 Durante a doença TRICURÍASE Padrão TUBERCULOSE •pulmonar (suspeita ou confirmada) Aerossóis Terapia eficaz 15 dias + 3 •laríngea (suspeita ou confirmada) Aerossóis pesquisas BAAR negativas •extra-pulmonar, não laríngea Padrão TULAREMIA: lesão drenando ou pulmonar Padrão TIFO:endêmico e epidêmico (ñ é salmonella ssp) Padrão VARICELA Aerossóis + Até todas lesões tornarem- contato VÍRUS SINCICIAL RESPIRATÓRIO: ver bronquiolite VÍRUS PARAINFLUENZAE: ver bronquiolite ZIGOMICOSE Padrão Fonte:Precauções e Isolamento – APECIH ANDRIOLLI et al (1999) 56 se crostas 1= Usar precauções de contato para crianças em uso de fraldas ou incontinente (menor que 6 anos) durante a doença. 2= Há relatos de que o hantavírus possa ser transmitido por aerossóis ou gotículas. 3= Manter precauções de contato em menores de 3 anos durante toda a hospitalização em maiores de 3 anos até duas semanas do início dos sintomas. 4= Para RNs por via vaginal ou cesareana, de mãe com infecção ativa e ruptura de membranas por mais de 4 a 6 horas. 5= Investigar tuberculose pulmonar ativa. 6= Evitar que esse paciente entre em contato com outros pacientes com fibrose cística que não sejam colonizados ou infectados por Burkholderia cepacia. 7= Evitar colocar no mesmo quarto com paciente imunossuprimido. 8= Manter precauções até 1 ano de idade (a menos que cultura viral de urina e nasofaringe sejam negativos após 3 meses de idade). 9= Não é necessário completar o esquema profilático do acompanhante de paciente pediátrico com meningite antes de suspender o isolamento. 2.8- A importância da atuação do enfermeiro no controle da infecção hospitalar Fernandes; Fernandes, (2000: pág 1667) Relatam que “O hospital que tem filosofia voltada para a valorização dos Recursos Humanos buscando introduzir, alterar e aprimorar 57 comportamentos e atitudes, está mais próximo de atingir o grau de excelência de seu atendimento.” Um dos pilares do controle de infecção hospitalar é o aprimoramento contínuo de todos os profissionais de uma instituição. A importância da atuação do Enfermeiro no controle de IH foi mostrada pelo estudo americano feito em 1974, com a finalidade de avaliar a efetividade dos programas efetivos de controle de infecção, O SENIC – Study on the Efficacy of Nosocomial Infection Control (Estudo da Eficácia do Controle de Infecção) (GARNER, 1986). Pereira (1993) fala da importância da atuação do Enfermeiro na CCHI que além de coletar dados e tabulá-los, muitas vezes manualmente, o Enfermeiro precisa dedicar seu tempo na implantação de medidas de controle e treinamento de pessoas em vários níveis. Relata ainda que o êxito das medidas preventivas e de controle vai depender da assimilação e aplicação dos seus princípios e normas por TODOS OS PROFISSIONAIS no exercício de suas atividades. Santos, (1997) em sua dissertação “O Enfermeiro e a Infecção Hospitalar: um estudo sobre sua formação e atuação” mostra a importância da atuação do Enfermeiro no Controle de Infecção Hospitalar e, com o resultado de sua pesquisa, mostra o seu despreparo para atuar. A pesquisa realizada com 63 enfermeiros da cidade de Marília revelou que conteúdos oferecidos nos cursos de graduação sobre infecção hospitalar, segundo os entrevistados, não 58 foram suficientes para que possibilitassem uma atuação efetiva na prevenção e controle de infecção hospitalar. Esses resultados demonstraram a necessidade de se repensar o currículo de enfermagem, pois as disciplinas que ensinam a assistência de enfermagem aos pacientes com risco de adquirir ou desenvolver Infecção Hospitalar, não estão abordando o tema de forma que prepare o aluno para atuar na prevenção da IH. Os resultados mostram também a necessidade de aprimorar os programas de educação continuada, bem como a introjeção de uma política institucional voltada para a prevenção e controle de infecção hospitalar” (SANTOS, 1997). 2.9- Revisão dos critérios utilizados para avaliação da infecção do sítio cirúrgico Os índices de Infecção do Sítio Cirúrgico podem ser usados como indicadores de qualidade em instituições de saúde, no entanto comparação entre instituições só é válida se forem usados critérios padronizados para a coleta de dados.Os quatro principais itens a serem lembrados com relação aos critérios utilizados são: 1. ser validado 2. ser de fácil interpretação 59 3. ser confiável 4. ser compatível com as definições usadas por outros serviços Este estudo avalia a confiabilidade e validade das definições e metodologias utilizadas para identificação de Infecção do Sítio Cirúrgico, através de pesquisa realizada em publicações da língua inglesa compreendidas entre 1993 e 1999, realizadas em cinco bases de dados CINAHL, medline, The Cochrane Library e Heath STAR. O estudo foi realizado com base em 2.490 trabalhos dos quais apenas 90 de 20 países diferentes, foram analisados. A pesquisa avaliou evidências na validade da definição e monitorização de IFO, os quais foram examinados por dois avaliadores diferentes. A validade compreende conteúdo, critérios e construção, observando-se se uma definição correlaciona-se com outra usada e aceita como padrão outro na mesma população para o mesmo evento. Foram avaliados nos estudos detalhes do procedimento cirúrgico, definição de IFO, detalhes da avaliação da FO, escala usada, validade e reprodutibilidade, praticidade e aceitabilidade da definição do método. Foram encontradas 41 definições diferentes, sendo o componente encontrado com maior freqüência a presença de secreção purulenta. Dos 41, 8 estudos aceitavam como critério se houvesse cultura positiva, e 12 consideravam mesmo na ausência de cultura. Eritema foi aceito por 8 estudos dos quais 3 determinavam valores para sua extensão. Cinco definições padrão foram aceitas, três publicadas por especialistas britânicos (Public Heath Laboratory 60 Service - PHLS, The Surgical Infection Society Study Group - SISG e National Prevalence Survey Study Group - NPS), e duas pelos Estados Unidos CDC 1988 e 1992. A definição do PHLS formulada por Glenister et al (1992) define como critérios de infecção: secreção purulenta ou exudação da ferida, ou avaliação direta da ferida. SISG e NPS, incluem dados adicionais como: febre, dor, edema e margem extensa de eritema. O NPS considera ainda que drenagem clara de uma ferida não indica infecção de ferida operatória, a menos que exista celulite. O CDC considera infecção de ferida operatória se presentes: secreção purulenta na superfície da FO. Cultura positiva para tecidos ou fluidos coletados de forma asséptica da superfície da FO com mais um dos seguintes: dor ou sensibilidade, edema localizado, rubor ou calor local, ou ferida explorada pelo cirurgião a menos que a cultura seja negativa; Diagnóstico de Infecção de FO feito pelo médico. Durante o estudo foram identificadas 30 escalas para avaliar infecção de sítio cirúrgico sendo a mais aceita delas foi a ASEPSIS, criada em 1986 por Wilson et al. para uniformizar os relatos de infecção de ferida operatória. Os itens observados foram presença de secreção serosa, eritema, exudato purulento, deiscência de sutura, cultura positiva e internação prolongada. Os pontos são atribuídos conforme a porção da ferida que está infectada, no entanto esta técnica requer observação diária da FO por 5-7 dias. O critério mais comumente utilizado, secreção purulenta, requer o julgamento de dois fatores: se há ou não secreção e se esta é ou não purulenta. Conforme alguns estudos utilizarmos como determinante a presença de secreção purulenta como indicativo de infecção, não serão identificadas todas as infecções. 61 A escala de Leigh divide a infecção do sítio cirúrgico em três níveis de gravidade: Grau 1 - diagnóstico clínico com secreção serosa sem avaliação da ferida. Grau 2 - secreção purulenta e análise superficial da ferida. Grau 3 - secreção purulenta com exploração da ferida. Na escala ASEPSIS o escore é dado conforme a porção da ferida que é afetada na infecção. As duas foram comparadas em sensibilidade e especificidade, ainda valores preditivos positivos e negativos foram calculados considerando-se o número de casos que necessitaram de mudança na conduta devido a infecção. A escala do ASEPSIS foi mais sensível e específica do que a escala de Leigh. A segunda validação do estudo foi realizada comparando-se as definições do CDC (1988 e 1992) e NPS com a escala do ASEPSIS, foram analisadas 93 feridas operatórias com escore do ASEPSIS maior que 20 pontos. Destas 22 (24%) ficaram sem diagnóstico quando usados os critérios do CDC e 18 (19%) quando usados critérios do NPS. Segundo Gurevich, cultura positiva deveria ser excluída dos critérios do CDC uma vez que não se sabe em que condições foi colhida a amostra, ainda acredita que os critérios dor e sensibilidade são muito subjetivos e estão sujeitos a idade e estado de consciência do paciente em questão. O CDC é também o único a aceitar diagnóstico clínico como critério único de infecção, mas há evidências de falsos positivos na literatura, foi sugerido que fosse apenas sugestivo da presença de infecção. 62 A presença de secreção purulenta foi verdadeira para apenas 56% dos pacientes categorizados através da escala do ASEPSIS o que denota a dificuldade em se manter a presença de secreção purulenta como critério único de infecção. A definição da escala usada pode ser válida é confiável e no entanto ser trabalhosa e impopular. O uso do critério "presença de secreção purulenta" é rápido e fácil de ser usado, mas pode substimar os verdadeiros índices de infecção pois é pouco sensível quando comparada a outras definições e técnicas. A escala ASEPSIS é sensível e confiável no âmbito hospitalar podendo ter sua eficácia reduzida quando transportada para a auto-avaliação do paciente externo além de ser trabalhosa e impraticável na rotina diária dos profissionais de SCIH. Não há, portanto, padrão ouro no diagnóstico de IFC, pois o julgamento do das condições da ferida é subjetivo e sujeito a variações de acordo com o observador. Vale lembrar que a padronização de uma definição em vários serviços permite a comparação dos índices, no entanto a definição do CDC, atualmente largamente utilizada não foi validade por este estudo. 2.10- Feridas Operatórias O tratamento de feridas é desde há muito uma das principais áreas de intervenção dos enfermeiros. Sendo a presença de ferida um fator que influencia a qualidade de vida dos 63 indivíduos, os enfermeiros têm como objetivo da sua atuação no tratamento de feridas curar a ferida, proporcionando o máximo de qualidade de vida possível ao indivíduo. As finalidades do tratamento de feridas são prevenir a contaminação, facilitar a cicatrização e aliviar a dor. Existem vários tipos de feridas, entre as quais as feridas cirúrgicas. Segundo o Conselho Internacional de Enfermeiros, 2001 “Ferida Cirúrgica é um tipo de Ferida com as seguintes características específicas: corte de tecido produzido por um instrumento cirúrgico cortante, de modo a criar uma abertura num espaço do corpo ou num órgão, produzindo drenagem de soro e sangue, que se espera que seja limpa, isto é, sem mostrar quaisquer sinais de infecção ou pus.”. As feridas são classificadas de acordo com a probabilidade e grau de contaminação da ferida no momento da intervenção cirúrgica: Limpa – Ferida cirúrgica resultante de cirurgia eletiva, não traumática, não infectada em que não houve transgressão da técnica cirúrgica e em que não se penetrou no trato respiratório, digestivo, genito-urinário nem cavidade orofaríngea. Limpa-contaminada – Ferida cirúrgica de intervenções, em que se penetrou no aparelho respiratório, digestivo, genito-urinário, em condições controladas (técnica cirúrgica correta) e sem contaminação. Contaminada – Ferida cirúrgica de intervenções com graves transgressões de técnica cirúrgica, as feridas traumáticas ou aquelas em que se penetrou no aparelho respiratório, digestivo ou genito-urinário, na presença de infecção. 64 Suja ou Infectada – Feridas traumáticas com tecido desvitalizado, corpos estranhos e contaminação fecal ou aquelas em que o tratamento cirúrgico foi tardio. A infecção do local cirúrgico é, conjuntamente com a pneumonia, a infecção urinária e a bacteremia relacionada com os catéteres vasculares centrais, uma das infecções nosocomiais mais freqüentes. Nos inquéritos de prevalência efetuados em Portugal em 1988, 1993 e 2003, a infecção do local cirúrgico representou, respectivamente, 20%, 16% e 13,03% das infecções nosocomiais detectadas, tendo sido o tipo de infecção mais freqüente nos serviços de Cirurgia. Também no sistema de vigilância epidemiológica NNIS nos anos 1986-1992, foi a infecção mais freqüente (37%). De acordo com Altemeier e Wong, a probabilidade de uma infecção ocorrer é diretamente proporcional ao grau de contaminação bacteriana e à virulência do microorganismo, e inversamente proporcional à resistência do hospedeiro. A contaminação da ferida operatória pode ser endógena (bactérias do próprio doente) ou exógena (bactérias estranhas ao doente – da equipa cirúrgica, dos dispositivos médicos, das superfícies, dos equipamentos e do ar). O risco de infecção está relacionado com fatores intrínsecos (do doente e da própria cirurgia), aspectos da preparação pré-operatória e fatores intra e pós operatórios. Nos fatores intrínsecos, há a referir a diabetes, o tabagismo, a terapêutica com esteróides, o estado nutricional e as transfusões de sangue. 2.10.1- Classificação da infecção no local cirúrgico: 65 - Incisional superficial - Incisional profunda - Órgão / Espaço A) Incisional superficial A infecção do local cirúrgico incisional superficial é uma infecção que ocorre nos primeiros 30 dias após a operação, envolve apenas a pele e o tecido celular subcutâneo da incisão e apresenta pelo menos um dos seguintes critérios: Drenagem purulenta da incisão; Microrganismo isolado em cultura de líquido ou tecido da incisão por colheita asséptica; Existência dos sintomas e sinais clássicos de infecção (dor, tumefacção local, rubor e calor). Não se considera infecção incisional superficial a infecção e supuração limitadas ao ponto de penetração da sutura, a infecção de episiotomia ou local de circuncisão em recém-nascido, a infecção de queimadura ou a infecção incisional que se estende para o plano aponevrótico ou muscular. B) Incisional profunda A infecção do local cirúrgico incisional profundo ocorre no prazo de 30 dias após a operação no caso de não ser utilizado nenhum implante ou, no prazo de um ano se for 66 utilizado um implante, envolve os planos profundos da incisão (aponevrose e músculo) e apresenta pelo menos um dos seguintes critérios: Drenagem purulenta da incisão. Deiscência espontânea da incisão ou abertura deliberada da mesma pelo médico no caso de o doente apresentar pelo menos um dos seguintes sintomas ou sinais – febre (>38º), dor localizada ou dor à palpação. Abcesso ou outra evidência de infecção envolvendo a profundidade da incisão detectada no exame clínico, em reoperação, em exame histológico ou estudo radiológico. C) Órgão / Espaço A infecção do local cirúrgico Órgão/Espaço ocorre no prazo de 30 dias após a operação no caso de não ser usado um implante ou, no prazo de um ano se foi utilizado um implante, envolve qualquer local que tenha sido manipulado durante a intervenção com exceção da incisão, e apresenta pelo menos um dos seguintes critérios: Drenagem purulenta por dreno, colocado no Órgão/Espaço Microorganismo isolado mediante colheita asséptica de líquido ou tecido do Órgão/Espaço Existência de abcesso ou outra evidência envolvendo o Órgão/Espaço identificado pelo exame clínico, em reoperação, por exame histológico ou estudo radiológico 67 2.10.2- Cuidados à ferida cirúrgica Proteger a incisão encerrada primariamente com penso estéril e técnica asséptica, durante as primeiras 48 horas - Lavar as mãos antes e após as mudanças de penso ou de qualquer contacto com o local da incisão - Quando for necessário fazer penso, substituir o mesmo com técnica asséptica - Fazer ensino ao doente e família no que respeita aos cuidados apropriados ao local de incisão, sintomas de infecção e à necessidade de comunicar o seu aparecimento (quer ainda no internamento, quer após a alta). CAPÍTULO III 3.1- Metodologia 68 O presente estudo, por fazer referência a um tema relevante considerando as atuais políticas públicas na área de controle de infecção hospitalar, e por ter como objetivo central à realização de um levantamento bibliográfico pertinente ao tema “INFECÇÃO EM FERIDA OPERATÓRIA”, realiza uma breve discussão sobre o que diversos autores trazem como ponto de reflexão e discussão, se configura metodologicamente em um estudo estritamente bibliográfico descritivo. Para Barros (1990) a pesquisa bibliográfica ou documental é um excelente método de investigação quando se deseja conhecer as condições limítrofes entre a formação de novas idéias e concepções ou conceitos. Por este motivo, optamos por esta forma de pesquisar, uma vez que tínhamos como intenção conhecer de forma mais concreta a produção intelectual sobre o tema. Para a realização do referido estudo, optamos por trabalhar com produções intelectuais como fontes primárias de investigação (artigos, manuais, livros, teses, dissertações, monografias), que tivessem sido produzidas nos últimos dez anos. Acreditamos assim, que determinado espaço de tempo de investigação bibliográfica, estaríamos abrangendo uma boa delimitação temporal no sentido de garantir uma margem suficientemente satisfatória da produção ocorrida sobre o tema. O levantamento bibliográfico de assuntos referentes à infecção em ferida operatória foi realizado no período de janeiro de 2008 a outubro de 2008 após esses levantamentos, 69 realizou-se um confronto teórico no qual se buscou saber os elementos básicos para o cuidado da enfermagem no controle da infecção hospitalar, suas ações, responsabilidades e quais as relações a esse atualmente. Dessa maneira, pensamos ter conseguido alcançar o objetivo proposto no estudo e ter reconhecido a linha mínima de produção sobre o tema. 3.2- Análise e discussão temática Considerando o presente estudo como pesquisa documental ou revisão bibliográfica, foram abordados os temas de maior relevância para o que foi proposto, desde a evolução histórica das infecções hospitalares, onde eram considerados como tratamento na medicina preventiva, as crenças no sobrenatural, na magia, bruxaria e feitiçaria. As máscaras utilizadas eram de bexiga de animal, e apenas para proteger contra poeira, acreditavam eles. Até que em 1854, uma grande enfermeira, à frente do seu tempo, Florence Nightingale, começou atuar num Hospital de base, durante a Guerra da Criméia em 1854. Ela não conhecia o conceito de microorganismos, mas já acreditava em um meticuloso cuidado quanto à limpeza do ambiente e pessoal, ar fresco e boa iluminação, calor adequado, boa nutrição e repouso, com manutenção do vigor do paciente para a cura. E muitos outros homens que fizeram histórias e descobertas, que hoje podemos estar tão evoluídos quanto ao cuidado e tratamento da IFC. Apresentamos ainda, os conceitos das infecções hospitalares, infecção em ferida operatória, diagnóstico e tratamento. Sendo abordados os modos de transmissão de microorganismos, métodos de controle e intervenção. Dentre os quais, encontramos os EPIS à disposição dos profissionais, como método de controle e proteção para si e para o cliente. Mas 70 que, mesmo evoluindo, muitos profissionais ignoram a importância de tal mecanismo como forma de cuidado e controle de infecções. Não só a partir daí, sabemos que a atuação do enfermeiro no controle da infecção hospitalar e do sítio cirúrgico, mostra-se como o pilar para o aprimoramento contínuo de todos os profissionais de uma instituição. Fernandes; Fernandes, (2000: pág 1667 ) relatam que “O hospital que tem a filosofia voltada para a valorização dos Recursos Humanos buscando introduzir, alterar e aprimorar comportamentos e atitudes está mais próximo de atingir o grau de excelência de seu atendimento. Isso deveria começar na graduação, repensando o currículo de enfermagem, pois as disciplinas que ensinam a assistência de enfermagem aos pacientes com risco de adquirir ou desenvolver Infecção Hospitalar, não estão abordando o tema de forma que prepare o aluno para atuar na prevenção da IH de forma efetiva na prática do dia a dia, e na conscientização através da educação continuada. CONSIDERAÇÕES FINAIS No decorrer do estudo podemos perceber muitos avanços quando abordamos o controle de infecção hospitalar e em ferida cirúrgica, bem como o papel fundamental e relevante do enfermeiro enquanto coparticipador do processo de prevenção e intervenção. 71 Foi possível observar que os enfermeiros têm como objetivo da sua atuação no tratamento de feridas curar a ferida, proporcionando o máximo de qualidade de vida possível ao indivíduo. As finalidades do tratamento de feridas são prevenir a contaminação, facilitar a cicatrização e aliviar a dor. Cumpre ressaltar que o controle de infecção em ferida operatória ainda não atingiu todos os seus objetivos, mas, progrediu bastante no seu contexto histórico. A enfermagem precisa tanto de conhecimento ético como científico para tomar decisões responsáveis a respeito de suas próprias ações e para facilitar as atividades multidisciplinar no que diz respeito ao cliente e suas necessidades, desde a prevenção até o tratamento e cura. 72 REFERÊNCIAS BIBIBLIOGRÁFICAS ANDRIOLLI, Edivete Regina et al. Histórico e Evolução dos Métodos de Isolamento. In:Precauções e Isolamento. São Paulo: APECIH, 1999. ANDRIOLLI, Edivete Regina et al. Modo de Transmissão de microrganismos. In:Precauções e Isolamento. São Paulo: APECIH, 1999. ANDRIOLLI, Edivete Regina et al. Sistema de Precauções e Isolamento. In:-Precauções e Isolamento. São Paulo: APECIH, 1999. ANDRIOLLI, Edivete Regina et al. Relação das Infecções, condições e microrganismos que exigem a aplicação de precauções de isolamento (supeita ou diagnóstico confirmado). In:Precauções e Isolamento. São Paulo: APECIH, 1999. 73 ANDRIOLLI, Edivete Regina et al. Histórico e Evolução dos Métodos de Isolamento. 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