Cavidade oral MSc. Roberpaulo Anacleto • Condições patológicas da cavidade oral podem ser amplamente divididas em doenças que afetam a mucosa oral, as glândulas salivares e as mandíbulas. • Em seguida, são discutidas as condições mais comuns que afetam esses locais. • Embora comuns, os distúrbios que acometem os dentes e estruturas de apoio não são considerados aqui. Úlceras Aftosas (Aftas) • Essas ulcerações comuns superficiais da mucosa acometem até 40% da população. • Elas são mais comuns nas duas primeiras décadas de vida, extremamente dolorosas e recorrentes. • Embora a causa das úlceras aftosas não seja conhecida, elas realmente tendem a ser mais prevalentes em algumas famílias e podem estar associadas a doença celíaca e doença inflamatória do intestino (DII). • As lesões podem ser solitárias ou múltiplas; tipicamente, são ulcerações rasas, hiperêmicas, cobertas por um exsudato fino e circundadas por uma zona estreita de eritema. Na maioria dos casos, desaparecem espontaneamente em 7-10 dias, mas podem recorrer. Infecções por Vírus Herpes Simples • A maioria das infecções herpéticas orofaciais é causada por vírus herpes simples tipo 1 (HSV-1), sendo que as restantes são causadas por HSV-2 (herpes genital). • Com as práticas sexuais em mudança, o HSV-2 oral é cada vez mais comum. • As infecções primárias geralmente ocorrem em crianças entre 2-4 anos de idade e muitas vezes são assintomáticas. • No entanto, em 10-20% dos casos, a infecção primária manifesta-se como gengivoestomatite herpética aguda, com início abrupto de vesículas e ulcerações por toda a cavidade oral. Infecções por Vírus Herpes Simples • A maioria dos adultos abriga HSV-1 latente, e o vírus pode ser reativado, resultando na chamada “afta” ou estomatite herpética recorrente. • Fatores associados à reativação do HSV incluem traumatismo, alergias, exposição à luz ultravioleta, infecções do trato respiratório superior, gravidez, menstruação, imunodepressão e exposição a condições extremas de temperatura. • Essas lesões recorrentes, que ocorrem no local da inoculação primária ou na mucosa adjacente inervada pelo mesmo gânglio, tipicamente aparecem como grupos de pequenas vesículas (1-3 mm). Infecções por Vírus Herpes Simples • Lábios (herpes labial), orifícios nasais, mucosa bucal, gengiva e palato duro são os locais mais comuns. • Embora as lesões geralmente desapareçam dentro de um período de 7-10 dias, elas podem persistir em pacientes imunocomprometidos, que podem necessitar de terapia antiviral sistêmica. • Morfologicamente, as lesões assemelham-se às do herpes esofágico e herpes genital. • As células infectadas ficam tumefatas e têm grandes inclusões intranucleares eosinofílicas. As células adjacentes comumente fundem-se, formando grandes policárions multinucleados. Candidíase Oral (Sapinho) • A candidíase é a infecção fúngica da cavidade oral mais comum. • A Candida albicans é um componente normal da flora bucal e somente produz doença sob circunstâncias incomuns. Os fatores modificadores incluem: • Imunossupressão • Cepa de C. albicans • Composição da flora microbiana oral (microbiota) Candidíase Oral (Sapinho) • Antibióticos de amplo espectro que alteram a microbiota também podem promover candidíase oral. • As três formas clínicas principais de candidíase oral são: Pseudomembranosas Eritematosas Hiperplásica. • A forma pseudomembranosa é mais comum e é conhecida como sapinho. Candidíase Oral (Sapinho) • Essa condição é caracterizada por uma membrana inflamatória superficial, semelhante ao coalho, cinzenta a branca, composta de microrganismo emaranhados enredados em um exsudado fibrinossupurativo que podem ser prontamente ser raspados revelando uma base eritematosa subjacente. • Em indivíduos levemente imunossuprimidos ou debilitados, como os diabéticos, a infecção geralmente permanece superficial, mas pode se disseminar para locais profundos em associação a imunossupressão mais grave, incluindo a observada em receptores de transplantes de células-tronco hematopoiéticas ou de órgãos, bem como pacientes com neutropenia, imunossupressão induzida por quimioterapia ou AIDS. Sífilis • Cancro duro • Lesão ulcerada, indolor e bordas endurecidas • Secundarismo: pápulas achatadas, simétricas nas comissuras labiais – condilomas planos DOENÇAS DA LÍNGUA Língua geográfica • Glossite migratória benigna • Língua: local mais acometido • Outros locais: mucosa bucal, mucosa labial, palato mole. • Prevalência: 1 – 3% da população Língua fissurada • Língua escrotal; língua plicata • Parece haver hereditariedade (mal formação congênita) • Poligênico ou autossômico dominante • Comum associação com língua geográfica Língua negra pilosa ou vilosa • Benigna e comum • Acúmulo de grande quantidade de queratina • Tabagismo • Má higiene oral • Enxaguatórios bucais oxidantes • Bebidas quentes Glossite média romboidal • Atrofia papilar central • Crianças - alteração embrionária • Adultos - associada a infecção por cândida e tem melhora com antifúngico • Quando acompanhada de infecção palatal na área que entra em contato com a língua, pode ser sinal de imunodeficiência ou HIV Glossite inflamatória • Processo inflamatório que pode ser manifestação de inúmeras doenças: • Anemias • Pelagra • Reações medicamentosas • Infecções • Irritações químicas ou físicas • Língua vermelha e lisa, perda parcial ou total das papilas filiformes Xerostomia • Boca seca • Idosos • Atrofia das glândulas salivares menores • Mucosa tem aparência normal • Efeito colateral de medicamentos (atropínicos, anti-histamínicos, • Antidepressivos, • Antidiabéticos, anti-hipertensivos Patologias benignas do esôfago Anatomia Esôfago • O esôfago desenvolve-se a partir da porção craniana do intestino anterior. • É um tubo muscular altamente distensível oco que se estende da epiglote à junção gastroesofágica, localizado logo acima do diafragma. • Doenças adquiridas do esôfago variam desde cânceres letais até “azia”, com manifestações clínicas que variam de doença crônica e incapacitante até um mero aborrecimento. DOENÇAS OBSTRUTIVAS E VASCULARES Obstrução Mecânica • Atresia, fístulas e duplicações podem ocorrer em qualquer parte do trato gastrointestinal. • Quando envolvem o esôfago, são descobertas logo após o nascimento, geralmente devido a regurgitação durante a alimentação, e devem ser corrigidas imediatamente. • A ausência, ou agenesia, do esôfago é extremamente rara. • A atresia, em que um cordão não canalizado fino substitui um segmento do esôfago, é mais comum. Obstrução Mecânica • A atresia ocorre mais comumente ao nível da bifurcação traqueal ou próximo dela e, geralmente, está associada a uma fístula que liga as bolsas esofágicas inferiores ou superiores a um brônquio ou à traqueia. • Essa conexão anormal pode resultar em aspiração, sufocação, pneumonia ou desequilíbrio hidroeletrolítico grave. • A passagem dos alimentos pode ser impedida por estenose esofágica. • O estreitamento é geralmente causado por espessamento fibroso da submucosa, atrofia da muscular própria e dano epitelial secundário. Obstrução Mecânica • A estenose mais frequentemente é causada por inflamação e formação de cicatrizes, que pode ser causada por refluxo gastroesofágico crônico, irradiação ou lesão cáustica. • A disfagia associada a estenose geralmente é progressiva; a dificuldade para comer sólidos normalmente ocorre muito antes que os problemas com os líquidos. Obstrução Funcional • A distribuição eficiente de alimentos e líquidos para o estômago requer uma onda coordenada de contrações peristálticas. • A dismotilidade esofágica interfere nesse processo e pode assumir diversas formas, sendo que todas são caracterizadas por contração descoordenada ou espasmo musculares. • Pelo fato de aumentar o estresse da parede do esôfago, o espasmo também pode causar formação de pequeno divertículo. Obstrução Funcional • O aumento do esfíncter esofágico inferior (EEI) pode resultar de comprometimento do relaxamento do músculo liso com consequente obstrução funcional do esôfago. • A acalasia é caracterizada pela tríade de relaxamento incompleto do EEI, aumento do tônus do EEI e aperistalse do esôfago. • A acalasia primária é causada por falha de neurônios inibitórios do esôfago distal e é, por definição, idiopática. • As alterações degenerativas na inervação neural, tanto intrínsecas ao esôfago como dentro do nervo vago extraesofágico ou do núcleo motor dorsal do vago, também podem ocorrer. Obstrução Funcional • Acalasia secundária pode surgir na doença de Chagas, em que a infecção por Trypanosoma cruzi causa a destruição do plexo mioentérico, falha de relaxamento do EEI e dilatação do esôfago. • Plexos mioentéricos duodenais, colônicos e uretéricos também podem ser acometidos na doença de Chagas. • Doença semelhante à acalasia pode ser causada por neuropatia autonômica diabética; doenças infiltrativas, como doença maligna, amiloidose ou sarcoidose, e lesões do núcleo motor dorsal, podem ser produzidas por pólio ou ablação cirúrgica. Ectopia • Os tecidos ectópicos (restos de desenvolvimento) são comuns no trato gastrointestinal. • O local mais frequente de mucosa gástrica ectópica é o terço superior do esôfago, onde é chamado de heterotopia gástrica (inlet patch). • Embora a presença desse tecido seja assintomática, o ácido liberado pela mucosa gástrica no interior do esôfago pode resultar em disfagia, esofagite, esôfago de Barrett ou, raramente, adenocarcinoma. • Heterotopia gástrica, pequenas placas de mucosa gástrica ectópica no intestino delgado ou cólon, pode manifestar-se com perda de sangue oculto secundária a úlcera péptica da mucosa adjacente. Varizes Esofágicas • Em vez de retornar diretamente para o coração, o sangue venoso a partir do trato gastrointestinal é distribuído para o fígado através da veia porta antes de atingir a veia cava inferior. • Esse padrão circulatório é responsável pelo efeito de primeira passagem, em que os fármacos e outros materiais absorvidos no intestino são processados pelo fígado antes de entrar na circulação sistêmica. • As doenças que impedem esse fluxo causam hipertensão portal, o que pode levar ao desenvolvimento de varizes esofágicas, causa importante de hemorragia esofágica. Patogenia – Varizes esofágicas • Um dos poucos locais onde as circulações venosas esplâncnicas e sistêmicas podem comunicar-se é o esôfago. • Assim, a hipertensão portal induz o desenvolvimento de canais colaterais que possibilitam que o sangue portal desvie para o sistema caval. • No entanto, essas veias colaterais dilatam os plexos venosos subepitelial e submucoso no interior do esôfago distal. • Esses vasos, chamados de varizes, desenvolvem-se em 90% dos pacientes cirróticos, mais comumente em associação com doença hepática alcoólica. Em todo o mundo, a esquistossomose hepática é a segunda causa mais comum de varizes. ESOFAGITE Lacerações • As lacerações esofágicas mais comuns são as lacerações de Mallory-Weiss, que são frequentemente associadas a náuseas ou vômitos severos, como pode ocorrer com intoxicação alcoólica aguda. • Normalmente, um relaxamento reflexo da musculatura gastroesofágica precede a onda contrátil antiperistáltica associada aos vômitos. • Esse relaxamento é considerado falho durante vômitos prolongados, com o resultado de que o conteúdo gástrico de refluxo sobrecarrega a entrada gástrica e faz com que a parede esofágica distenda-se e rasgue. • Os pacientes frequentemente apresentam hematêmese. Esofagite Química e Infecciosa • A mucosa escamosa estratificada do esôfago pode ser lesionada por uma variedade de substâncias irritantes, como álcool, ácidos ou álcoois corrosivos, líquidos excessivamente quentes e tabagismo. • Comprimidos medicinais podem alojar-se e se dissolver no esôfago, em vez de passarem para o estômago íntegros, resultando em uma condição denominada esofagite induzida por pílula. • A esofagite causada por lesão química geralmente provoca apenas dor autolimitada, particularmente odinofagia (dor com a deglutição). • Esofagite de Refluxo • O epitélio escamoso estratificado do esôfago é resistente à abrasão de alimentos, mas sensível ao ácido. • As glândulas submucosas do esôfago proximal e distal contribuem para a proteção da mucosa pela secreção de mucina e bicarbonato. • O tônus constante da EEI impede o refluxo do conteúdo gástrico ácido, que está sob pressão positiva. • O refluxo do conteúdo gástrico para o esôfago inferior é a causa mais frequente de esofagite, e o diagnóstico gastrointestinal ambulatorial mais comum nos Estados Unidos. • A condição clínica associada é denominada doença do refluxo gastroesofágico (DRGE). Patogenia – Esofagite de Refluxo • O refluxo do suco gástrico é central para o desenvolvimento de lesão da mucosa na DRGE. • Em casos graves, o refluxo biliar do duodeno pode agravar a lesão. • Condições que diminuem o tônus de EEI ou aumentam a pressão abdominal contribuem para DRGE e incluem o uso de álcool e tabaco, obesidade, depressores do sistema nervoso central, gravidez, hérnia hiatal (discutida adiante), esvaziamento gástrico retardado e aumento do volume gástrico. • Em muitos casos, não se identifica ne-nhuma causa definitiva. Características Clínicas • A DRGE é comum em adultos com mais de 40 anos de idade, mas também ocorre em lactentes e crianças. • Os sintomas mais frequentemente relatados são pirose, disfagia e, menos frequentemente, regurgitação visível de conteúdo gástrico de paladar amargo. • O tratamento com inibidores da bomba de prótons reduz a acidez gástrica e, tipicamente, proporciona alívio sintomático. • Embora a gravidade dos sintomas não esteja intimamente relacionada com o grau de dano histológico, este último tende a aumentar com a duração da doença. Características Clínicas • Complicações da esofagite de refluxo incluem ulceração do esôfago, hematêmese, melena, desenvolvimento de estreitamento e esôfago de Barrett. • A hérnia de hiato é caracterizada pela separação da crura diafragmática e protrusão do estômago para o tórax através da abertura resultante. • Hérnias de hiato congênitas são reconhecidas em lactentes e crianças, mas muitas são adquiridas mais tarde na vida. • Hérnia de hiato é assintomática em mais de 90% dos casos adultos. Assim, os sintomas, que são semelhantes à DRGE, estão frequentemente associados a outras causas de incompetência EEI. Esôfago de Barrett • O esôfago de Barrett é uma complicação de DRGE crônica caracterizada por metaplasia intestinal dentro da mucosa escamosa esofágica. A maior preocupação no esôfago de Barrett é que ele confere risco aumentado de adenocarcinoma de esôfago. • Acordo com isso, a displasia epitelial, considerada uma lesão pré- invasiva, desenvolve-se em 0,2-1,0% das pessoas com esôfago de Barrett a cada ano; sua incidência aumenta com a duração dos sintomas e o aumento da idade do paciente. • Embora a grande maioria dos adenocarcinomas esofágicos esteja associada a esôfago de Barrett, deve-se notar que a maioria das pessoas com esôfago de Barrett não desenvolve câncer de esôfago. Morfologia • O esôfago de Barrett é reconhecido por via endoscópica como línguas ou placas de mucosa vermelha aveludada que se estendem para cima a partir da junção gastroesofágica. • Essa mucosa metaplásica alterna com mucosa lisa residual, escamosa, pálida (esofágica) proximalmente e faz interface com mucosa colunar marrom-claro (gástrica) distalmente. • Endoscópios de alta resolução têm aumentado a sensibilidade da detecção do esôfago de Barrett.