Procedimento Operacional Padrão POP/CCIH/010/2016 PROTOCOLO DE PREVENÇÃO DE INFECÇÃO DE CORRENTE SANGUÍNEA Procedimento Operacional Padrão PROTOCOLO DE PREVENÇÃO DE INFECÇÃO DE CORRENTE SANGUÍNEA POP/CCIH/010/2016 PROTOCOLO DE PREVENÇÃO DE INFECÇÃO DE CORRENTE SANGUÍNEA As infecções primárias de corrente sanguínea (IPCS) estão entre as mais comumente relacionadas à assistência à saúde. Estima-se que cerca de 60% das bacteremias nosocomiais sejam associadas a algum dispositivo intravascular. A IPCS associa-se a aumento na taxa de mortalidade, a maior tempo de internação e a incrementos de custos relacionados à saúde. A Infecção Primária de Corrente Sanguínea- IPCS é aquela infecção de consequência sistêmica grave, bacteremia ou sepse, sem sinais de infecção em outro sítio. Já, Infecção Relacionada ao Cateter- IRC é a infecção que ocorre no sítio de inserção do cateter, sem repercussões sistêmicas. Os microrganismos atingem o acesso vascular de diversas maneiras: durante a inserção através da colonização da pele, contaminação das conexões, soluções contaminadas usadas para manter permeável o cateter, via hematogênica de um foco infeccioso à distância ou no caso de monitorização hemodinâmica, pela utilização de transdutores contaminados. A principal fonte de contaminação nos cateteres de curta duração (permanecem até 10 dias) é a microbiota cutânea do paciente, movendo-se por capilaridade através da superfície externa do cateter. Nos cateteres implantáveis ou de longa duração, (permanecem acima de três semanas), geralmente a contaminação se dá a partir do canhão e move-se pela superfície endoluminal do cateter. A flora predominante nesta contaminação é a das mãos da equipe de saúde. Os principais agentes etiológicos envolvidos nas infecções relacionadas ao acesso vascular dependem do tipo de acesso e da fonte de contaminação. Nos cateteres periféricos, os principais agentes são: Staphylococcus coagulase negativo, Staphylococcus aureus e Candida spp. Nos cateteres venosos centrais, além dos agentes citados, temos: enterobactérias, micobactérias e fungos. As principais complicações relacionadas ao acesso vascular são: celulite periorificial, celulite peribolsa do cateter implantável, infecção do túneo subcutâneo, infecção do segmento intravascular, tromboflebite séptica, sepse e infecções metastáticas (pneumonia, endoftalmite e endocardite). Os seguintes dispositivos intravasculares são utilizados no Hospital Universitário Lauro Wanderley: - Cateter central de inserção periférica (PICC): dispositivo inserido em veia periférica que atinge a veia cava superior. - Cateter periférico: são dispositivos com comprimento que costuma ser igual ou inferior a 7,5cm e colocados em veias periféricas. - Cateter venoso central: de curta ou longa permanência. - Cateter de Swan-Ganz. - Cateter umbilical: dispositivo inserido na artéria ou veia umbilical. - Flebotomia: procedimento de dissecção de veia para obtenção de acesso vascular. Os acesso vasculares centrais são dispositivos intravasculares cuja extremidade localiza--‐se no coração ou próximo dele, em um grande vaso. Os grandes vasos incluem as artérias aorta e pulmonar, as veias cava superior e inferior, braquiocefálicas, jugulares internas, subclávias, ilíaca externa, ilíaca comum e femoral; e em recém nascidos a artéria e veia umbilicais. O sítio de inserção ou tipo de dispositivo não definem se o acesso é considerado central. Qualquer dispositivo com extremidade no coração ou próximo dele, qualifica--‐se como acesso vascular central. Sendo assim os acessos femorais, os cateteres centrais de inserção periférica (PICC) e os cateteres arteriais também são considerados acessos vasculares centrais. Considerando que a utilização de todas estas modalidades de dispositivos incorre em risco de desenvolvimento de Infecção Primária de Corrente Sanguínea, as práticas aqui propostas são recomendadas para todos acessos vasculares centrais. MEDIDAS DE PREVENÇÃO As medidas de prevenção de infecção da corrente sanguínea são divididas em dois momentos: durante inserção do dispositivo e durante o cuidado com o dispositivo. 1) Medidas de prevenção durante inserção do dispositivo: 1.1) Higienização adequada das mãos: a lavagem das mãos ou o uso de produtos a base de álcool para higienização são medidas que previnem a contaminação dos sítios e a ocorrência de infecção de corrente sanguínea. No cuidado com acessos vasculares centrais os momentos apropriados para a higienização das mãos incluem: - Antes e após palpar o sítio de inserção (a palpação do sítio não deve ser realizada após a antissepsia, a não ser que seja mantida a técnica asséptica) - Antes e após inserir, reposicionar, acessar, ou realizar o curativo do dispositivo intravascular central - Quando há evidência de sujidade nas mãos ou se há suspeita de contaminação - Antes de calçar e após retirar as luvas 1.2) Precauções máximas de barreira durante inserção de acesso vascular central: Para esta medida devem ser respeitadas as precauções máximas necessárias para o procedimento, incluindo a utilização de gorro (touca), máscara simples, óculos de proteção, avental e luva estéril pelo profissional executor; e cobertura do paciente com campo estéril longo, mantendo apenas a abertura para a inserção do acesso vascular central. Para acessos arteriais pode ser utilizado um campo menor, fenestrado. 1.3) Antissepsia com Clorexidina antes da implantação do acesso vascular central: Para a antissepsia deverá ser respeitado o preparo da pele, no sítio de inserção do acesso vascular central, com clorexidina degermante 2% para a limpeza, soro fisiológico ou água destilada para remoção do resíduo; e clorexidina alcoólica (na concentração mínima de 0,5%). Aplicar a solução de clorexidina com uma fricção por pelo menos 30 segundos. Permitir que a solução antisséptica seque completamente antes de puncionar o sítio (em torno de 2 minutos). Produtos com clorexidina devem ser evitados em crianças com menos de 2 meses de idade, solução de povidine-iodo deve ser utilizado nessa faixa etária. As mesmas medidas devem ser seguidas quando houver troca de acesso vascular central por fio guia. 1.4) Seleção do sítio de inserção: Adultos: O uso do sítio da subclávia está associado ao menor risco infeccioso, porém outros sítios podem ter riscos de complicações mecânicas menores. O requisito do protocolo para a melhor seleção do sítio de inserção sugere que outros fatores sejam considerados na decisão, como potencial de complicações mecânicas, risco de estenose da veia subclávia (em dialíticos e portadores de insuficiência renal), e habilidade do médico, além de evitar o sítio femoral se possível. Pacientes pediátricos: A inserção de cateteres venosos em crianças pode ser mais desafiador que em adultos. Na seleção do sítio de inserção devem ser considerados: o conforto do paciente, os fatores específicos do paciente (como cateteres preexistentes, irregularidades na hemostasia, anomalias anatômicas), risco de complicações (como sangramento ou pneumotórax), risco de infecção, potencial para deambulação, e experiência do médico / operador. Decisão final sobre o sítio de inserção de um cateter venoso central em uma criança deve se basear nas necessidades individuais do paciente, e análise do risco benefício em cada situação clínica específica. A questão se algum sítio está relacionado a menor taxa de infecção na pediatria ainda permanece inconclusiva. Nos adolescentes as considerações na seleção do sítio de inserção podem ser aplicadas de forma semelhante aos pacientes adultos. 2) Medidas de prevenção durante cuidado com o dispositivo: 2.1) Revisão diária do acesso vascular central e da indicação da permanência: A reavaliação diária da necessidade de manutenção do Acesso Vascular Central deverá ser realizada pela Equipe Multidisciplinar. Esta prática deve prevenir atrasos desnecessários na remoção dos acessos que não tenham uma indicação clara no cuidado do paciente. Tanto acessos venosos como arteriais devem ser retirados assim que possível para redução do risco de infecção de corrente sanguínea. 2.2) Acesso asséptico do lúmen: O risco de contaminação deve ser minimizado pela limpeza dos conectores com o antisséptico adequado (clorexidina, povidona--‐iodo, iodofor, ou álcool 70%), e acessar os conectores apenas com dispositivos estéreis. Uma prática de segurança que pode ser associada a esta, é o uso de soluções antissépticas coradas para evitar troca com soluções intravenosas e sua administração equivocada. 2.3) Cuidado ao sítio e ao cateter: Após a fixação do acesso vascular central, nas primeiras 24 horas, recomenda-se a realização de curativo com gaze estéril e, posteriormente, com filme estéril transparente semipermeável. Não devem ser utilizados antibióticos tópicos nos sítios de inserção (cremes ou pomadas), exceto em cateteres de diálise. Coberturas impregnadas com antibióticos podem ser indicadas se as taxas de Infecção de Corrente Sanguínea não apresentarem queda após a implementação das medidas preventivas básicas. Substitua as coberturas se apresentarem frouxidão, umidade ou sujidade visível. As coberturas de cateteres de curta permanência devem ser trocadas a cada 7 dias no caso de coberturas transparentes ou a cada 2 dias no caso de gaze estéril. Luvas estéreis e técnica asséptica devem ser utilizadas nas trocas de cobertura. Pacientes que não estejam recebendo sangue, hemocomponentes ou emulsões lipídicas, todo sistema de administração (equipos, conectores, buretas, etc) deve ser trocado com periodicidade entra 96 horas e 7 dias. Nos pacientes recebendo sangue, hemocomponentes ou emulsões lipídicas, o sistema deve ser substituído 24 horas após o início da infusão. Quando não for possível garantir a técnica asséptica na passagem do acesso (por exemplo cateteres inseridos durante uma emergência clínica), este deve ser substituído o mais breve possível, em até 48 horas. O registro do procedimento de realização do curativo e do aspecto da inserção deve ser realizado no prontuário. O sítio de inserção deve ser inspecionado, diariamente, para detecção precoce de complicações relacionadas ao local de inserção (Ex: sinais de hiperemia, sangramento, infiltração, dor e outros). Remover curativo para exame, se paciente tiver dor local, febre ou suspeita de bacteremia, sem outra causa evidente. Não fazer cultura rotineira do cateter, se não estiver relacionado à IPCS. Só enviar a ponta do cateter venoso central para análise microbiológica (cultura), quando houver suspeita de infecção, caso contrário, acarretar-se-á aumento de custo sem objetividade de informação RECOMENDAÇÕES PARA TROCA DE DISPOSITIVOS CATETER/DISPOSITIVO FREQUÊNCIA DE TROCA Cateter venoso central de curta permanência Não há indicação de troca préprogramada; tempo máximo de 30 dias. Trocar se: 1) Secreção purulenta no local de inserção. 2) Suspeita de IPCS com instabilidade hemodinâmica ou IPCS confirmada. 3) Mau funcionamento. 5 dias Não usar o introdutor como via de acesso. Periférico de poliuretano 96 horas Sem rotina de troca em pacientes com acesso venoso difícil, neonatos e crianças. Periférico de teflon 72 horas Sem rotina de troca em pacientes com acesso venoso difícil, neonatos e crianças. Swan Ganz OBSERVAÇÃO Equipo para infusão: Contínua Intermitente Sangue e hemocomponentes Utilizar equipo único para NPP, 72 a 96 horas hemoderivados ou lípides. 24 horas A cada uso Dânulas (torneirinhas) e extensores 72 a 96 horas A presença de coágulos requer troca imediata. Trocar junto com o sistema. Transdutores de pressão 96 horas Desprezar se houver rachaduras. Cateter semi-implantável Não há indicação de troca préprogramada. Trocar se: 1) Secreção purulenta no túnel ou em sítio de inserção com falha do tratamento sistêmico. 2) IPCS suspeita com instabilidade hemodinâmica ou IPCS confirmada. 3) Mau funcionamento. Cateter totalmente implantado Não há indicação de troca préprogramada. Trocar se: 1) Manisfestações locais infecciosas (punção de pus no reservatório) 2) IPCS com instabilidade hemodinâmica. 3) Mau funcionamento. Cateter Central de Inserção Periférica Não há indicação de troca préprogramada. Trocar se: 1) Secreção purulenta no local de inserção. 2) IPCS suspeita com instabilidade hemodinâmica ou IPCS confirmada. 3) Mau funcionamento. Cateter umbilical Cobertura com gaze MTS (membrana transparente semipermeável) Arterial: 5 dias Retirar se: Venoso: 14 1) Secreção purulenta no local dias de inserção. 2) IPCS suspeita com instabilidade hemodinâmica ou IPCS confirmada. 3) Mau funcionamento. 48 horas 7 dias Deve ser trocada imediatamente se houver suspeita de contaminação, quando o curativo estiver úmido, solto ou sujo. Fonte: BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Infecção de Corrente Sanguínea. Orientações para Prevenção das Infecção Primária de Corrente Sanguínea. Agosto, 2010. MEDIDAS NÃO INDICADAS DE ROTINA COMO PREVENÇÃO DE INFECÇÃO DA CORRENTE SANGUÍNEA - Utilização rotineira de antimicrobiano tópico em sítio de inserção de cateter venoso central, exceto cateter de hemodiálise. - Utilizar antibioticoprofilaxia sistêmica na inserção de cateteres ou enquanto o mesmo estiver in situ. - Substituição rotineira dos cateteres. Referências: BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Infecção de Corrente Sanguínea. Orientações para Prevenção das Infecção Primária de Corrente Sanguínea. Agosto, 2010. Critérios Diagnósticos de Infecção Relacionada à Saúde. Caderno 02. ANVISA, 2013. Compêndio de Estratégias para Prevenção de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde em Hospitais de Cuidados Agudos. Associação Paulista de Epidemiologia e Controle de Infecção Relacionada à Assistência à SaúdeAPECIH. São Paulo, 2011. Manual de Medidas de Prevenção de Infecção Relacionada a Assistência à Saúde. 1º Edição, Caderno 4, capitulo 03. ANVISA, 2013. Protocolo Clínico: Prevenção de Infecção Primária de Corrente Sanguínea Relacionado a Acesso Vascular Central. Programa Brasileiro de Segurança do Paciente. 2º Revisão, 2014. Elaborado por: Aprovação da CCIH: Reconhecido por: Data: ____/____/____ Data: ____/____/____ Francisco de Assis Silva Paiva .