731 higiene oral de pacientes em intubação orotraqueal

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HIGIENE ORAL DE PACIENTES EM INTUBAÇÃO OROTRAQUEAL
INTERNADOS EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA
ORAL HYGIENE OF PATIENTS IN OROTRACHEAL INTUBATION ADMITTED TO
AN INTENSIVE CARE UNIT
Patrícia Maia Caldeira
Enfermeira. Graduada pelo Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – UnilesteMG.
[email protected]
Ricardo Alexandre da Silva Cobucci
Enfermeiro. Especialista em Docência do Ensino Superior. Docente do curso de Enfermagem do
Leste de Minas Gerais – UnilesteMG. [email protected]
RESUMO
A técnica da higiene bucal é um fator significante para a manutenção da saúde e conforto dos
pacientes. Sendo esta uma prática importante na assistência a pacientes em terapia intensiva, em
especial aqueles que se encontram intubados e sob ventilação mecânica, pois a sua realização eficaz
colabora para diminuir os riscos de complicações e o tempo de internação do paciente. A pesquisa
teve como objetivo investigar as condições de higiene oral e a realização da técnica de higiene da
cavidade bucal de pacientes que se encontravam em intubação orotraqueal internados em uma
Unidade de Terapia Intensiva-UTI de um hospital da Região Metropolitana do Vale do Aço. Trata-se
de uma investigação com abordagem qualitativa, cuja coleta de dados se deu através da observação
de 24 procedimentos de higienização da cavidade bucal realizada em 20 pacientes que fizeram parte
da amostra, utilizando-se um roteiro de observação. Foram exploradas a técnica de higiene e a
investigação das condições na cavidade bucal dos pacientes que corrobora para avaliar a qualidade
dessa prática que é de responsabilidade da equipe de enfermagem. Ao término da pesquisa os dados
coletados revelaram comprometimento da técnica uma vez que a freqüência realizada é menor que o
necessário bem como a utilização de substância antisséptica inapropriada, contribuindo para
diminuição da qualidade da higiene bucal dos pacientes internados na UTI. Portanto, falhas na
aplicação da técnica podem causar complicações infecciosas na evolução clinica do paciente
comprometendo a qualidade da assistência prestada.
PALAVRAS-CHAVE: Higiene Bucal. Unidades de Terapia Intensiva. Respiração Artificial.
ABSTRACT
The technique of oral hygiene is a significant factor in maintaining the health and comfort of
patients. Since this is an important practice in the care of patients in intensive care, especially those
who are intubated and mechanically ventilated because its effective implementation helps to reduce
the risks of complications and length of patient hospitalization. The research aimed to investigate the
conditions of hygiene and oral hygiene performance of the technique of the oral cavity of patients who
were hospitalized in tracheal intubation in an Intensive Care Unit-ICU of a hospital in the Metropolitan
Area Steel Valley This an investigation with a qualitative approach which data collection was through
observation of 24 procedures of oral cavity hygiene performed in 20 patients who comprised the
sample, using an observation guide. We explored the technical and hygienic investigation of
conditions in the oral cavity of patients to assess the quality corroborates this practice, which is the
responsibility of the nursing staff. At the end of the research data collected showed involvement of the
technique since the frequency is held less than required and the inappropriate use of antiseptic,
helping to decrease the quality of oral hygiene in the ICU patients. Therefore, failures in the
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application of the technique can cause infectious complications in clinical evolution of compromising
the quality of patient care.
KEY WORDS: Oral Hygiene. Intensive Care Units. Artificial Respiration.
INTRODUÇÃO
A boca sofre contínua colonização apresentando uma vasta microbiota. Nela
se encontra praticamente a metade dos microrganismos presentes no corpo humano
representada por várias espécies de bactérias, fungos e vírus (BRUNETTI, 2004).
De acordo com Toledo e Rossa Junior (1999), existem fortes evidências de que
as doenças bucais sejam fatores de riscos à saúde geral do paciente. A negligência
com a higiene bucal torna o biofilme (placa bacteriana) e a orofaringe um propício
reservatório de microrganismos, inclusive aos que não pertencem à flora oral,
instalando ou agravando infecções à distância.
A cavidade oral contém microrganismos altamente infecciosos, portanto, devese considerar a boca como um ambiente propício para a proliferação microbiana,
principalmente nos pacientes internados e que usualmente necessitem de ventilação
mecânica, ficando impedidos de fechar a boca e em contato com o ar ambiente
(POTTER; PERRY, 2002).
Os pacientes hospitalizados bem como os pacientes internados em Unidades
de Terapia Intensiva (UTI) devem receber cuidados especiais e constantes, não só
para tratar o problema que o levou a internação, mas também para cuidar dos
demais órgãos e sistemas que se encontram funcionantes e nestes evitar que
alguma injúria se desenvolva sendo prejudicial para sua recuperação e bom
prognóstico, bem como na prevenção do desenvolvimento de infecções
oportunistas. Entre estes cuidados, encontram-se, de forma especial, os cuidados
com a higiene corporal e da cavidade oral (POTTER; PERRY, 2002).
De acordo com a Lei n.º 7.498, de 25 junho de 1986, que regulamenta o
exercício de Enfermagem, no ambiente hospitalar, o cuidado cotidiano de higiene e
conforto, incluindo a higiene oral é uma atribuição da equipe de enfermagem com
capacidade técnica, sob orientação e supervisão do Enfermeiro (BRASIL, 1986).
Mediante a importância da higienização oral de pacientes em terapia intensiva
sob ventilação mecânica pretendeu-se investigar como a técnica de higiene oral era
realizada no cotidiano de trabalho da equipe de enfermagem de uma Unidade de
Terapia Intensiva.
A pesquisa se justifica, na medida em que o cuidado com a higiene oral dos
pacientes é fator importante no processo saúde/doença a partir de uma concepção
holística, em prevenir não somente as alterações na cavidade oral como evitar que
esses se tornem agentes complicadores do estado geral do paciente.
A pesquisa teve como foco principal investigar as condições de higiene oral e
a realização da técnica de higiene da cavidade bucal de pacientes que se
encontravam em intubação orotraqueal internados em uma Unidade de Terapia
Intensiva - UTI de um hospital da Região Metropolitana do Vale do Aço.
METODOLOGIA
A pesquisa baseou-se em um estudo descritivo com abordagem qualitativa. Foi
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realizada em uma UTI de um hospital da Região Metropolitana do Vale do Aço, nos
meses de maio e junho de 2010, obedecidas as normas institucionais, respeitando
rotinas e horários determinados pela instituição.
Inicialmente foi apresentado o projeto de pesquisa à Enfermeira responsável
pela instituição hospitalar, obtendo a autorização para realização da pesquisa.
Entrou-se em contato com os responsáveis dos pacientes que compunham a
amostra e foi solicitada a autorização para a pesquisa. Foram previamente
orientados sobre os objetivos da mesma e repassados o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE) para leitura e posterior assinatura, portanto, estes
procedimentos obedeceram a Resolução nº 196 de 10 de outubro de 1996 do
Conselho Nacional de Saúde que regulamenta a pesquisa com seres humanos
(BRASIL, 1996).
O mesmo procedimento foi adotado para os profissionais de enfermagem que
foram observados durante a realização da técnica aos quais também assinaram o
TCLE.
A população do estudo foi de 43 pacientes, porém a amostra foi composta por
20 pacientes que estavam intubados sob ventilação mecânica orotraqueal e
totalmente dependentes de cuidados de enfermagem. O setor pesquisado era
composto por oito leitos, sendo os mesmos ocupados por pacientes adultos.
O instrumento de pesquisa utilizado foi um roteiro de observação, divido em
três etapas: avaliação das condições gerais do paciente e busca ativa nos
prontuários dos pacientes por informações que fossem pertinentes; avaliação das
condições específicas da cavidade oral; e observação da técnica de higienização da
cavidade oral. No primeiro momento foram observadas informações como a data de
admissão, fatores que pudessem comprometer a higienização da cavidade oral e
diagnóstico médico, utilizando para isso, as anotações dos prontuários e
informações da equipe de enfermagem. Em seguida, procedeu-se a análise das
características da cavidade oral dos pacientes, por meio do exame físico, em busca
de sinais que pudessem estar relacionados às condições de higiene da mesma, bem
como a investigação de outros procedimentos associados que pudessem interferir
na higiene. Por último, fez-se a investigação da técnica utilizada tendo como
referência Gama (2008).
Os dados foram apresentados em tabelas e analisados de forma descritiva
cuidando-se para preservar o sigilo e anonimato dos participantes, sendo utilizada a
identificação com a letra P seguida de numeração.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para Faiçal e Mesas (2008), pacientes internados em UTI devem receber
cuidados especiais e constantes, não só para tratar a enfermidade que o levou à
internação, mas também para cuidar dos demais órgãos e sistemas que venham a
implicar na sua recuperação e prognóstico. Nesses cuidados é necessário abranger
o hábito da higiene oral adequada dada à inter-relação entre doenças bucais e
sistêmicas.
Inspecionar as condições da cavidade oral determina a eficácia da escovação.
A mucosa íntegra com várias camadas propicia barreira mecânica aos
microrganismos e quando ocorrem lacerações, traumas, dentes quebrados, são
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fatores que podem alterar os mecanismos de defesa (POTTER, PERRY, 2002).
A existência de cáries dentárias, doenças periodontais (piorreia), falta de
dentes, placa dentária, saburra lingual e o mau hálito indicam pacientes com hábitos
de higiene insatisfatórios. A saliva também atua no papel de diminuir a carga
microbiana e remover partículas que contenham microrganismos (POTTER; PERRY,
2002).
Assim, é importante identificar as condições que possam causar alterações nos
tecidos da cavidade oral, a fim de evitar-se agudização do quadro em que o paciente
se encontra, permitindo uma rápida recuperação e alta do mesmo.
Visando essa inter-relação, estão apresentadas na TAB. 1, as condições
específicas da cavidade oral dos pacientes internados na UTI, a fim de relacionar
tais condições e a qualidade da higiene oral realizada nesses pacientes.
TABELA 1 - Condição específica da cavidade oral dos pacientes internados na UTI. Região
Metropolitana do Vale do Aço, MG, 2010.
CONDIÇÃO ESPECÍFICA
1º DIA DE
ÚLTIMO DIA DE
DA CAVIDADE ORAL
OBSERVAÇÃO
OBSERVAÇÃO
N
%
N
%
Saburra Lingual
17
85
15
75
Xerostomia
13
65
11
55
Biofilme Dental
12
60
10
50
Língua Fissurada
8
40
8
40
Edentulismo
6
30
6
30
Sialorreia
5
25
5
25
Feridas
4
20
3
15
Tártaro
2
10
2
10
Dentes Quebrados
2
10
2
10
Hiperplasia Gengival
0
0
Gengivite
0
0
FONTE: dados da pesquisa
No momento da internação é importante a avaliação da cavidade oral dos
pacientes para que a equipe de enfermagem possa estabelecer as metas e planejar
a assistência. Ao avaliar essas condições específicas citadas na TAB. 1, pôde-se
nortear a situação em que o paciente estava no momento da admissão e no último
dia de observação oferecendo subsídios necessários para comparar se houve
melhora das condições da saúde bucal do paciente. A avaliação das condições
específicas foi realizada durante toda a internação para acompanhar a evolução do
paciente.
Timby (2007) relata que a saliva tende a manter os dentes limpos e inibe o
crescimento de bactérias e que, uma higiene bucal precária, desidratação, e
medicamentos associados à redução do fluxo salivar (xerostomia) podem alterar os
mecanismos de defesa.
Em pacientes edêntulos deve-se verificar também se são realizados os
procedimentos de higiene da gengiva, palato, bochechas e língua com uma escova
macia e solução antisséptica. A escovação estimula a circulação nas gengivas e
remove os resíduos das gengivas e mucosas.
A verificação dessas características específicas presentes, em maior ou menor
grau na cavidade oral dos pacientes internados em UTI favoreceu para a
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determinação dos seguintes parâmetros na avaliação da condição geral da cavidade
oral conforme TAB. 2: boa – presença de uma ou duas características; razoável –
presença de três ou quatro características; ruim – presença de cinco, seis ou sete
características e muito ruim – acima de sete características.
TABELA 2 - Condição geral da cavidade oral dos pacientes internados na UTI. Região Metropolitana
do Vale do Aço, MG, 2010.
CONDIÇÃO GERAL DA CAVIDADE ORAL
Boa
Razoável
Ruim
Muito Ruim
FONTE: dados da pesquisa
Nº
6
10
4
0
%
30
50
20
-
Entende-se que a profilaxia dessas infecções deve-se em grande parte à
equipe que cuida do paciente, em especial a de enfermagem, que responde por
vários mecanismos de prevenção, seja em atividades administrativas, de supervisão
e de treinamento de pessoal, seja nos cuidados prestados aos pacientes admitidos
nas Unidades de Terapia Intensiva (FREIRE; FARIAS; RAMOS, 2006).
A higiene oral em UTI é considerada um procedimento básico de enfermagem,
indispensável cujo objetivo é manter a cavidade do paciente saudável. Tais
procedimentos são necessários para obter e manter limpeza, prevenir infecções,
manter a mucosa oral úmida e promover conforto ao paciente (ARAÚJO et al.,
2009).
A saúde oral é um componente muito importante da sensação física e
psicológica de bem-estar de uma pessoa (SMELTZER et al., 2009). No que se refere
à avaliação da execução do procedimento de higiene oral foi notado que a mesma
era realizada uma vez ao dia, logo após o banho de leito, sendo que o recomendável
seria a realização deste com mais frequência; e levando em consideração que os
pacientes encontram-se intubados, essa técnica deve ser feita com maior rigor.
Yako (2000) afirma que o intervalo entre as técnicas de higiene da cavidade
oral depende da avaliação do profissional de enfermagem, contudo, quando o
paciente estiver intubado o tempo mínimo deve obedecer ao intervalo de quatro
horas.
Para Potter e Perry (2002), pode ser necessário executar os cuidados orais a
cada duas horas em pacientes graves, febris ou com sonda nasogástrica.
A técnica de higiene oral foi observada 24 vezes e as etapas realizadas pelos
profissionais foram demonstradas a seguir na TAB. 3. Das técnicas observadas, em
22 (92%) delas realizou-se a lavagem das mãos antes do procedimento, e em 23
(96%), a lavagem das mãos foi feita após o procedimento, demonstrando zelo por
parte da equipe, sendo este hábito o principal meio de prevenir e reduzir infecções
em serviços de saúde (MARTINEZ; CAMPOS; NOGUEIRA, 2009).
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TABELA 3 - Distribuição dos cuidados prestados durante a técnica de higiene oral. Região
Metropolitana do Vale do Aço, MG, 2010.
PROCEDIMENTOS
SIM
NÃO
N
%
N
%
Leva o material necessário
24
100
0
Lava as mãos antes do procedimento e
22
92
2
8
calça luvas
Coloca o paciente em posição de Fowler
22
92
2
8
Coloca o paciente em decúbito lateral
2
8
22
92
Coloca a toalha sob a cabeça do paciente
12
50
12
50
Adapta a cuba rim ao lado do paciente
1
4
23
96
Umedece a gaze com solução antisséptica
23
96
1
4
e procede a limpeza dos dentes e gengivas
Limpa as bochechas
19
79
5
21
Limpa a língua
22
92
2
8
É realizada a troca das gazes a cada uso
24
100
0
Instila água e aspira secreção oral
2
8
22
92
Lava os lábios e lubrificá-los com óleo
1
4
23
96
Retira material, organizar o ambiente
24
100
0
Tira as luvas e lava as mãos
23
96
1
4
Anota o cuidado prestado no prontuário
24
100
0
do paciente
FONTE: dados da pesquisa
Das técnicas observadas em 22 (92%), foi realizada a limpeza da língua, e em
19 (79%) a limpeza das bochechas dos pacientes. Para Montenegro et al. (2006) a
limpeza da língua particularmente em pacientes acamados se faz como medida
necessária para diminuir a carga bacteriana presente nesta região. Esta é uma
medida extremamente importante, pois, para Mello e Erdmann (2007), o dorso da
língua funciona como um reservatório de diversos microrganismos, os quais vão,
posteriormente, ocupar outros nichos nas superfícies dentárias supra e
subgengivais. Para Potter e Perry (2002), um risco importante relacionado aos
pacientes inconscientes e intubados, é que aspirem secreções para os pulmões,
ricas em bactérias que se encontram na cavidade oral, sendo, portanto, de extrema
relevância que este procedimento ocorra na totalidade das higienizações,
pretendendo evitar a ocorrência de um agravo da saúde dos pacientes.
De acordo com a TAB. 3 o procedimento umedece a gaze com solução
antisséptica e proceder a limpeza dos dentes e gengivas é realizado com o uso da
substância Cloridrato de benzidamina. Para França (2006), esse produto tem sua
atividade farmacológica pautada em ação anti-inflamatória além de permitir um hálito
refrescante. Porém Beraldo e Andrade (2008) apontam para o uso do gluconato de
clorexidina, o qual é um agente antiplaca com atividade antimicrobiana potente (até
12h após sua utilização), é absorvida pelos tecidos ocasionando efeito residual ao
longo do tempo sem causar aumento da resistência de bactérias orais e é eficaz em
baixas concentrações (0,12%).
Quanto ao lavar e lubrificar os lábios dos pacientes como medida de proteção e
conforto, utilizando para isso óleo, vaselinas ou similares, somente em 1 (4%) dos
procedimentos, esta técnica foi observada. Segundo Potter e Perry (2002), essa
medida é realizada com a finalidade de se evitar fissuras e ressecamentos dos
lábios, que podem gerar comprometimento na integridade do epitélio, ocasionando
maior risco de infecções.
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No que diz respeito às anotações dos cuidados prestados, foram registrados de
forma informatizada para todos os pacientes, diariamente após terminar o
atendimento integral dos mesmos. Atenta-se que as anotações referentes a estes
cuidados são tão importantes quanto a realização dos mesmos. Timby (2007)
ressalta que o registro é uma forma de partilhar informações entre os membros da
equipe de saúde, permitindo assim, a continuidade dos cuidados e segurança do
paciente.
Quanto a colocar o paciente em decúbito lateral, somente em 2 (8%) dos
procedimentos, isso aparece como uma prática. Salienta-se que essa posição seja
imprescindível para que a higiene bucal seja executada com eficácia. Para Potter e
Perry (2002), nessa posição o paciente deve ser colocado de lado com a cabeça
levemente mais baixa e uma toalha deve ser colocada sob a cabeça. Em seguida é
conectada a extremidade de uma sonda de aspiração ou de sucção a uma fonte
portátil ou um instrumento a vácuo preso à parede, permitindo assim que todo o
líquido e secreções que possam acumular na faringe sejam sugados pela sonda,
evitando ser aspirado para os pulmões dos pacientes. Adaptar a cuba rim do lado do
paciente se faz necessário já que o reflexo de vômito pode existir ao escovar a
língua, conforme Potter e Perry (2002) e observou-se na pesquisa que em 23 (96%)
das técnicas isso não foi executado.
Realizou-se também a observação da técnica de aspiração durante a pesquisa
e verificou-se que o procedimento foi realizado aproximadamente oito vezes/dia por
paciente, sendo que esse número pode se exceder de acordo com a necessidade
das condições específicas de cada paciente. Quando avaliada a sequência correta
(tubo, nariz e boca), em duas vezes (8%) os profissionais não seguiram os passos
preconizados por alguns autores fazendo o uso da sequência de aspiração tubo,
boca e nariz, sendo este um risco para os pacientes, pois são levados
microrganismos altamente infecciosos provenientes da cavidade oral para o trato
respiratório.
Segundo Morais et al. (2006), a colonização da orofaringe por bactérias Gramnegativas de pacientes intubados ocorre nas primeiras 48 a 72 horas após a sua
entrada na UTI. Posteriormente os microrganismos alcançam os pulmões através
das secreções bucais que “escorrem” pelos lados do balonete do tubo traqueal.
Lembrando que, quanto maior o tempo de internação dos pacientes na UTI, maior a
probabilidade da ocorrência de complicações.
Pensando nisso, foi calculado o tempo médio de internação dos pacientes em
função da qualidade da higienização da cavidade oral, sendo encontrado um tempo
médio de 7 dias. Para Freire, Farias e Ramos (2006), quanto maior esse tempo de
internação, maior o risco dos pacientes gravemente enfermos às complicações,
decorrentes de um desequilíbrio entre seu mecanismo de defesa e sua flora normal.
Foi observado que três dos pacientes internados apresentaram complicações
com surgimento de novos quadros infecciosos, sendo verificado que os mesmos
estavam internados, no mínimo, há cinco dias.
Assim verificou-se que esses mesmos pacientes apresentaram um novo
diagnóstico sendo que em um deles foi constatado infecção pulmonar, um segundo
paciente teve insuficiência respiratória aguda e o terceiro sepse, sendo que os
demais evoluíram sem diagnóstico de infecção durante a internação (TAB. 4).
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TABELA 4 - Diagnóstico médico no ato da internação e o surgimento de infecções no decorrer da
mesma. Região Metropolitana do Vale do Aço, MG, 2010.
PACIENTE
DIAGNÓSTICO MÉDICO NO
DIA DA INTERNAÇAO
P1
P2
P3
P4
P5
P6
P7
IAM
IAM
IAM
AVE hemorrágico
EAP
Politraumatizado
Miocardiopatia, neoplasia
maligna nos brônquios
IRA
EAP, IRpA, miocardiopatia
Pneumonia
Diabetes Mellitus na gravidez
Miocardiopatia dilatada
Politraumatizado
Infarto Cerebral
AVE hemorrágico
Embolia Pulmonar
Síndrome Epilética
Pneumonia, IRpA
ICC, miocardiopatia
Choque Hemorrágico, trauma
P8
P9
P10
P11
P12
P13
P14
P15
P16
P17
P18
P19
P20
FONTE: dados da pesquisa
DIAGNÓSTICO MÉDICO
DE INFECÇÃO DURANTE A
INTERNAÇAO
Sem diagnóstico
Sem diagnóstico
Infecção Pulmonar
Sem diagnóstico
Sem diagnóstico
Sem diagnóstico
IRpA
Sem diagnóstico
Sem diagnóstico
Sem diagnóstico
Sem diagnóstico
Sem diagnóstico
Sem diagnóstico
Sem diagnóstico
Sem diagnóstico
Sepse
Sem diagnóstico
Sem diagnóstico
Sem diagnóstico
Sem diagnóstico
Em relação ao diagnóstico médico informado no prontuário, no momento da
admissão do paciente na UTI, nota-se que em sua maioria os casos estavam
relacionados a comprometimentos do sistema cardiovascular, do sistema
respiratório e do sistema neurológico. (TAB. 4).
É importante ressaltar que os pacientes diagnosticados com infecções
respiratórias durante a internação na UTI, apresentavam diagnóstico médico para
admissão no hospital, patologias do sistema cardiovascular e comprometimento não
infeccioso do sistema respiratório (TAB. 4). No entanto, não foi possível afirmar que
o quadro de infecção se correlaciona com a higiene da cavidade oral, já que a
mesma tem causas multifatoriais.
Segundo Morais et al. (2006) entre as doenças sistêmicas, são as respiratórias
que englobam evidências científicas da sua relação com as periodontais, na qual a
pneumonia nosocomial representa a segunda causa de infecção hospitalar e
compreende um quadro de elevadas taxas de morbidade e mortalidade em
pacientes de várias idades, principalmente aqueles que estão sob ventilação
mecânica, e que 20% a 50% desses pacientes acabam chegando ao óbito.
Em relação à amostra pesquisada, nove (45%) pacientes foram a óbito, sendo
dois destes, pacientes que apresentaram infecção secundária durante a internação,
cinco (25%) tiveram alta da UTI, dois (10%) permaneceram internados durante o
período da pesquisa e quatro (20%) deixaram de fazer uso do ventilador mecânico
antes de completar 48 horas, não sendo possível avaliar a presumível relação do
tempo de permanência na UTI associado à higienização da cavidade oral e o
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surgimento de complicações infecciosas.
CONCLUSÃO
A pesquisa possibilitou identificar as condições da higiene bucal dos pacientes
intubados, totalmente dependentes de cuidados e que estavam sob ventilação
mecânica, além de observar a aplicação da técnica de higiene realizada pela equipe
de enfermagem atingindo os objetivos propostos.
No entanto evidenciou-se em alguns casos que a técnica de higiene bucal não
foi seguida com o rigor necessário, constatou-se a falta de alguns procedimentos
assim como em sua quantidade comprometendo a qualidade final dessa higiene
oral. Ainda como fator contribuinte notou-se a utilização de substância que não
oferece ação antisséptica desejada para a redução da flora microbiana local,
gerando maior probabilidade de complicações infecciosas que possam vir a
comprometer a morbidade e a mortalidade dos pacientes internados na UTI. Quanto
às aspirações de secreções desses pacientes foi notado que essa prática é
realizada sempre quando há necessidade, sendo importante salientar a sequência
correta (tubo-nariz-boca) que, nem sempre foi realizada tomando esse cuidado.
Diante da realidade percebida sugere-se que sejam reavaliadas a frequência e
a aplicação da técnica de higiene bucal pela equipe de enfermagem, bem como a
implantação de um método de avaliação das condições da cavidade bucal no
momento da internação para que se tenham parâmetros de evolução da mesma.
Entende-se, que a implementação de medidas de prevenção corrobora para diminuir
as infecções hospitalares de forma expressiva e sustentada, trazendo segurança e
qualidade na assistência integral do individuo. Propõe-se ainda que novos estudos
sejam realizados com o intuito de avaliar a provável associação entre infecções
hospitalares e a higienização bucal dos pacientes internados em UTI sob ventilação
mecânica.
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