Artigo 05

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Relato de Caso
Abordagem fisioterápica no tratamento do trismo em
carcinoma de orofaringe
Trismus in oropharynx cancer, a physiotherapyc aproch
Resumo
Abstract
Introdução: O tratamento radioterápico em pacientes com
carcinoma de orofaringe pode levar a formação de fibrose
tecidual, espasmos musculares e consequentemente trismo, que
limita a abertura bucal. Relato de caso: Paciente masculino, 42
anos, há 4 meses, apresentando dor local, odinofagia, trismo e
tumoração cervical a esquerda, Ao exame apresentava extensa
lesão vegetante de orofaringe, com extensão para rinofaringe
e hipofaringe, cuja biópsia confirmou carcinoma espinocelular.
Realizou tratamento concomitante com quimioterapia e
radioterapia apresentando resposta completa da lesão, porém
manteve a dificuldade para abrir a boca, falar e alimentar-se,
além de dor na ATM ao mastigar e na abertura máxima, sendo
encaminhado para fisioterapia. Com apenas 7 sessões obtevese significativa melhora da amplitude da ATM durante a abertura
ativa. Discussão: A limitação da abertura bucal em pacientes
com câncer de orofaringe é significativa antes da radioterapia,
devido à invasão tumoral na musculatura mastigatória ou por
espasmo reflexo, e tende ao agravamento de 6 meses a 4 anos
após tratamento radioterápico. O trismo tem um impacto negativo
na vida do paciente, pois compromete a higiene oral, fala,
nutrição e aparência facial, tonando imprescindível a intervenção
fisioterapêutica. Considerações finais: O trismo no caso
descrito resultou da extensão do carcinoma de orofaringe para a
musculatura pterigóidea e tratamento radioterápico. A fisioterapia
objetivou a melhora dos sintomas e funcionalidade na fala e
alimentação, e mostra-se como importante opção terapêutica
para a melhoria da qualidade de vida do paciente.
Descritores: Fisioterapia;
Quimiorradioterapia.
Kezia Barreto da Silva 1
Felipe de Aguilar Pinto Dias 2
Anselmo Messias Ribeiro da Silva Júnior 2
Allyson Almeida Amaral 2
Marcilio Ferreira Marques Filho 3
Carcinoma;
Orofaringe;
Introduction: Radiation therapy in patients with carcinoma of
the oropharynx can lead to formation of tissue fibrosis, muscle
spasms, trismus and consequently limiting the mouth opening.
Case report: Male patient, 42 years, with local pain, odynophagia,
trismus and left cervical tumor. Showed extensive vegetative
lesion of oropharynx, with extension into the nasopharynx and
hypopharynx, whose biopsy confirmed squamous cell carcinoma
. Held concurrent treatment with chemotherapy and radiotherapy
showing complete response of the lesion, but kept the difficulty
opening the mouth, talking and eating, and TMJ pain when chewing
and maximum aperture, and was referred for physiotherapy.
With only seven sessions yielded a significant improvement
of the magnitude of ATM during active opening. Discussion:
The limitation of mouth opening in patients with oropharyngeal
cancer before radiotherapy is significant due to tumor invasion
in masticatory muscle spasm or reflex, and tends to increase
from 6 months to 4 years after radiotherapy. The trismus has a
negative impact on patient’s life because it compromises oral
hygiene, speech, nutrition and facial appearance, being essential
physiotherapy intervention. Conclusion: The case described in
trismus resulted from extension of carcinoma of the oropharynxto
the pterygoid muscles and radiotherapy. Physicaltherapy aimed
at improving symptoms and function inspeech and feeding, and
shows itself as an important therapeutic option for improving the
quality of life of patients.
Key words: Physical Therapy Modalities; Chemoradiotherapy;
Carcinoma; Oropharynx; Trismus.
Trismo;
INTRODUÇÃO
O carcinoma espinocelular é tipo histológico mais
frequente de tumor maligno da orofaringe, presente
em mais de 90% dos casos1. As opções terapêuticas
são: cirurgia, radioterapia e quimioterapia, podendo
ser utilizadas isoladamente ou combinadas. A escolha
terapêutica é determinada pela histopatologia da
neoplasia, localização, estadiamento, condições físicas
e opção do paciente2. A radioterapia, muitas vezes em
concomitância à quimioterapia, mostra-se bastante
eficaz no tratamento desses carcinomas, permitindo bom
controle da doença, mesmo em estágios avançados.
Entretanto, traz consigo efeitos adversos como
1)Fisioterapeuta especialista em fisioterapia hospitalar. Fisioterapeuta do Centro de Excelência em Otorrinolaringologia e Oftalmologia Ltda.
2)Acadêmicos de Medicina da Universidade Estadual de Santa Cruz.
3)Doutor. Professor Adjunto do Departamento de Ciências da Saúde da Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC.
Instituição: Centro de Excelência em Otorrinolaringologia e Oftalmologia - CEO Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC.
Itabuna / BA – Brasil.
Correspondência: Rua Hipólito da Costa 102 - Clinica CEO Alto Mirante - Itabuna / BA – Brasil - CEP: 45603-325 – E-mail:
Artigo recebido em 23/09/2013; aceito para publicação em 31/10/2014; publicado online em 15/07/2015.
Conflito de interesse: não há. Fonte de fomento: não há.
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Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.44, nº 1, p. 18-19, Janeiro / Fevereiro / Março 2015
Abordagem fisioterápica no tratamento do trismo em carcinoma de orofaringe.
Silva et al.
trismo, mucosite, xerostomia, infecções secundárias e
osteorradionecrose2, 3.
A incidência da radiação na musculatura mastigatória
e/ou na articulação temporomandibular (ATM), pode levar
à formação de fibrose tecidual, espasmos musculares e
consequentemente trismo, que limita a abertura bucal1, 3.
Tendo em vista que a limitação de abertura de boca
pode ser significativa antes da radioterapia, devido à
localização e extensão tumoral, e tende ao agravamento
após irradiação, é necessária a intervenção da
fisioterapia para ganho de amplitude e funcionalidade
dando ao paciente melhor qualidade de vida3.
Com apenas 7 sessões, obteve-se significativa melhora
da amplitude da ATM durante abertura ativa como
demonstrado na Tabela 1.
Paciente acompanhado há pouco mais de um ano
e sem sinais de recidiva loco-regional ou metástases a
distancia. Mantem a boa amplitude de abertura da boca
adquirida com tratamento fisioterápico.
DISCUSSÃO
Segundo Ribas, a limitação da abertura bucal em
pacientes com câncer de orofaringe é significativa antes
da radioterapia, devido à invasão tumoral na musculatura
mastigatória ou por espasmo reflexo, e tende ao
agravamento de 6 meses a 4 anos após tratamento
radioterápico. Feixes de radiação que atravessam o
masseter e pterigoideo medial levam à fibrose desses
músculos, podendo gerar trismo em 38% dos pacientes.
O padrão de normalidade para abertura bucal encontrase entre 40-60mm, sendo valores inferiores a 35mm
sugestivos de trismo3, 4. O trismo tem impacto negativo
na vida do paciente, pois compromete a higiene oral,
fala, nutrição e aparência facial, tornando imprescindível
a intervenção fisioterapêutica1.
Descreve-se caso de trismo secundário a carcinoma
de orofaringe, demostrando a importância do tratamento
fisioterápico na reabilitação e qualidade de vida do paciente.
APRESENTAÇÃO DO CASO
Paciente masculino, 42 anos, trabalhador rural,
procurou serviço de otorrinolaringologia, apresentando
dor local, odinofagia, trismo e tumoração cervical. Ao
exame observou-se lesão vegetante em parede lateral
da orofaringe à esquerda estendendo-se por todo palato
mole. A lesão invadia superiormente parede lateral da
rinofaringe até o torus tubário, inferiormente estendiase até valécula e infiltrava prega faringo-epiglótica e
face lingual da cartilagem epiglote. Devido à extensão
da lesão o paciente foi encaminhado para tratamento
concomitante com rádio-quimioterapia. Após tratamento
apresentou resposta completa da lesão, porém manteve
dificuldade para abrir a boca, falar e alimentar-se, além
de dor na ATM (EVA: 5/10) ao mastigar e na abertura
máxima, sendo encaminhado para fisioterapia. Na
avaliação, apresentou respiração oral, precariedade
na higiene bucal, falhas dentárias na arcada inferior e
rebordo alveolar na arcada superior, redução importante
de amplitude na abertura e lateralidade mandibular e
cicatrizes de queimaduras pós-radioterapia na região do
pescoço e mandíbula.
Na biomecânica mandibular cursa com discreto
desvio à direita na abertura e à esquerda no fechamento.
A ausculta das ATM’s não aponta ruídos. Os músculos
masseter, temporal, pterigoideo lateral e medial,
esternocleidomastoideo apresentam hipertonia e dor à
palpação.
Iniciou-se fisioterapia com alongamento e liberação
de masseter e aderências cicatriciais, tração mecânica
contínua com abaixadores de língua, técnica de energia
muscular e mobilização da ATM para ganho de amplitude.
COMENTÁRIOS FINAIS
O trismo no caso descrito resultou da extensão do
carcinoma de orofaringe para a musculatura pterigoidea e
tratamento radioterápico. A fisioterapia objetivou melhora
dos sintomas e funcionalidade na fala e alimentação,
e mostra-se como importante opção terapêutica para
melhoria da qualidade de vida dos pacientes.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
1. Bragante CK, Nascimento DM, Motta NW. Avaliação
dos efeitos agudos da radioterapia sobre os movimentos
mandibulares de pacientes com câncer de cabeça e pescoço.
Rev. bras. fisioter. 2012;16(2):141-147.
2. Lôbo ALG, Martins GB. Consequências da radioterapia na
região de cabeça e pescoço: Uma revisão da literatura. Rev
Port Estomatol Cir Maxilofac. 2009;50(4):251-255.
3. Ribas PF, Savioli C, André M, Dias RB. Avaliação da abertura
bucal em pacientes submetidos à radioterapia de cabeça e
pescoço. Odonto. 2011;19 (38):99-104.
4. Okenson JP. Tratamento das desordens temporomandibulares
e oclusão. 6 ed. Rio de Janeiro (RJ): Elsevier; 2008.
Tabela 1. Resultados após 7 sessões de fisioterapia.
1ª sessão
3ª sessão
5ª sessão
7ª sessão
Mov/ mm
Antes
Depois
Antes
Depois
Antes
Depois
Antes
Depois
ABERTURA
12
18
20
25
22
27
27
32
Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.44, nº 1, p. 18-19, Janeiro / Fevereiro / Março 2015 ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 19
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