MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ Centro Acadêmico de Línguas Estrangeiras Modernas Curso de Especialização em Ensino de Línguas Estrangeiras Modernas Eliane Rocha Francisco A música como um agente facilitador ao aprendizado da língua inglesa CURITIBA 2007 ELIANE ROCHA FRANCISCO A música como um agente facilitador ao aprendizado da língua inglesa Monografia apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Especialista em Ensino de Línguas Estrangeiras Modernas do Curso de Especialização em Ensino de Línguas Estrangeiras Modernas da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Orientadora: Profª MSc. Thais Barbosa Marochi CURITIBA 2007 TERMO DE APROVAÇÃO Eliane Rocha Francisco A música como um agente facilitador ao aprendizado da língua inglesa Monografia aprovada com nota ____ como requisito parcial para obtenção do título de Especialista, pelo curso de Especialização em Ensino de Línguas Estrangeiras Modernas, do Centro Acadêmico de Línguas Estrangeiras Modernas – Universidade Tecnológica Federal do Paraná, pela seguinte banca examinadora: Orientadora: Profª MSc. Thais Barbosa Marochi Faculdade Educacional de Araucária Profª MSc. Maristela Pugsley Werner Universidade Tecnológica Federal do Paraná Profª MSc. Eliane R. Costa Oliveira Universidade Tecnológica Federal do Paraná Coordenadora: Profª MSc. Carla Barsotti Universidade Tecnológica Federal do Paraná CURITIBA 2007 ii Dedicatória Dedico este trabalho especialmente ao meu noivo Ailton, pelo incentivo, compreensão, paciência e carinho. iii Agradecimentos Primeiramente, agradeço a Deus por permitir que eu pudesse expressar meus pensamentos procurando contribuir àqueles que trazem a arte do ensino na alma. À professora e orientadora Thais Barbosa Marochi, pelo acompanhamento e revisão do estudo, bem como todos os colegas e professores do curso de Especialização em Ensino de Línguas Estrangeiras Modernas da UTFPR e aos meus familiares. iv Epígrafe “As paixões são como o vento inflando as velas dos barcos. Podem até fazê-los naufragarem, mas se não fosse ele, não haveria passeios, aventuras e descobertas”. Voltaire v RESUMO O ensino de língua estrangeira (LE) deve possibilitar ao aluno uma visão de mundo mais ampla, na qual ele deve ter a oportunidade de externar seu conhecimento adquirido. Ou seja, os envolvidos no processo pedagógico devem fazer uso da língua que estão aprendendo em situações significativas e relevantes. Para isso, faz-se necessário também o desenvolvimento das outras habilidades (oralidade e compreensão auditiva) além da leitura e escrita, conforme é priorizado pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Pode-se dizer que os estudantes de LE são bem sucedidos quando se comunicam efetivamente na língua-alvo. Porém, é perceptível a impaciência dos alunos quando o professor faz uso apenas do livro didático em sala de aula. Assim, com o objetivo de verificar se a música age como agente facilitador de aprendizagem, oitenta e sete alunos das primeiras séries do ensino médio de um colégio estadual da cidade de Curitiba responderam a um questionário. Logo após, esses mesmos alunos participaram de uma aula de LE envolvendo atividade musicais. Os dados foram tabulados, analisados e verificou-se que houve boa receptividade por parte dos alunos e que o recurso de áudio pode ser utilizado como uma ferramenta de apoio valiosa no aprendizado de uma LE. Além disso, essas atividades podem fazer com que os alunos se tornem mais interessados, apreciem mais suas aulas e participem de seu aprendizado de forma mais intensa. Palavras-Chave: música, língua inglesa, agente facilitador, ensino/aprendizagem vi SUMÁRIO RESUMO .................................................................................................................. vi INTRODUÇÃO …………………………………………………………………………….. 9 1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ....…………………………………………………... 11 1.1 O ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras......................................11 1.2 Do estruturalismo ao comunicativismo..................................................... 16 2. A MÚSICA ............................................................................................................ 25 2.1 A música na sala de aula ......................................................................... 27 2.2 A música como agente facilitador de aprendizagem ............................... 27 2.3 A canção popular e outras canções......................................................... 27 2.4 O uso da canção na escola ..................................................................... 29 3. METODOLOGIA .................................................................................................. 31 3.1 Objetivo geral ............……….……..………………………………………... 31 3.2 Objetivos específicos ...........……...….....………………………………….. 31 3.3 Cenário da pesquisa ................................................................................ 31 3.4 Questionário para levantamento de dados .............................................. 31 3.5 A pesquisa ................................................................................................32 4. ANÁLISE DE DADOS E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ............................. 34 5. CONCLUSÃO ..................................................................................................... 36 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS …………………………………..……………38 ANEXO I – Letra da música TAKE MY BREATH AWAY ...................................... 40 APÊNDICE I – Questionário para levantamento de dados.................................. 41 APÊNDICE II – Atividade Prática............................................................................ 42 9 INTRODUÇÃO O aprendizado de uma ou mais línguas estrangeiras permite ao estudante o descortino de novos horizontes cognitivos, culturais, acadêmicos e profissionais. Mais que a linguagem escrita, para um processo eficiente de socialização é a linguagem falada, fruto de experiência e contato sonoro com o idioma escolhido. É perceptível a impaciência dos alunos quando estes fazem uso do livro didático e, talvez, pelo uso constante deste, a rejeição seja freqüente mesmo sabendo que é importante adquirirem conhecimento de uma segunda língua. Por este motivo é que se propõe o uso de músicas com maior freqüência para enfatizar vocabulário, expressões idiomáticas, gramática, pronúncia de palavras, etc. Todas as crianças aprendem primeiramente a ouvir, a entender, a falar, a ler, a escrever, e finalmente percebem que aquilo que elas ouvem, entendem, falam, lêem e escrevem se encaixa dentro de algumas regras gramaticais, as quais lhes parecem então, fáceis e lógicas. É fato que nossos alunos não se comportam como os de 10, 15 anos atrás. Hoje eles são muito mais agitados. Isso talvez se dê devido à síndrome SPA (síndrome do pensamento acelerado). As crianças hoje são expostas horas a fio diante de TVs e videogame. Esses programas e jogos trazem personagens com diversas índoles (policiais irreverentes, bandidos destemidos, pessoas divertidas). As crianças se reportam para tais situações. Não que em um livro não se possa ter um efeito semelhante, mas a realidade nos mostra que crianças, adolescentes e jovens preferem músicas, filmes, TV, jogos de videogame a um livro. Diante desse impasse, é difícil para o professor reter a atenção do aluno, mesmo que seja por pouco tempo, somente com o livro didático. Esses acontecimentos fizeram surgir a idéia de intensificar o uso da mídia digital (principalmente músicas) como material de apoio para tentar atrair a atenção dos aprendizes e obter maiores resultados no ensino da língua inglesa e com isso propor uma maior desenvoltura aos alunos no que diz respeito à comunicação falada, tendo em vista a importância de saber não só a gramática, mas, também, a habilidade da conversação da língua estudada. Segundo Matos (1996), o ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras deve ser encarado como um componente humanizador extremamente necessário ao 10 currículo escolar, sob a ótica de uma Pedagogia da Positividade. Isso se deriva do reconhecimento de algumas distorções que o ensino de línguas estrangeiras tem apresentado no decorrer de sua história como, por exemplo, o etnocentrismo. Silveira (1999) afirma que na educação nacional o direito à aprendizagem de línguas estrangeiras deve ser assegurado a todos os brasileiros através da sua manutenção nos currículos escolares do ensino fundamental e médio, principalmente nas escolas públicas estaduais e municipais. O fato de dominar uma língua estrangeira, além de propiciar a convivência multicultural, passa a ser um instrumento de grande valia na interação interpessoal e na circulação de informações entre os povos. Entretanto, a cena cotidiana de ensino de línguas no país, além de desigual entre as regiões, é igualmente diversa quando considerado o tipo de escola (se públicas, particulares, regulares ou institutos de línguas) e a realidade de alguns nichos (universitários, empresariais, etc.). Assim, o objetivo deste trabalho é observar se a música pode agir como um facilitador ao aprendizado da língua estrangeira (LE) e está dividido em cinco capítulos. O primeiro capítulo, procura situar o leitor sobre o ensino de língua estrangeira no Brasil. Com base em Almeida Filho (2003), divide-se o percurso da história do ensino de LE em dois macro-períodos: o “ontem” e o “hoje”. São também discutidas as abordagens e os métodos utilizados ao longo dos anos do ensino de LE, como também, as leis, reformas e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). No capítulo dois a música é apresentada como agente facilitador de aprendizagem e no âmbito escolar. A metodologia deste trabalho bem como seus objetivos (geral e específicos) são assuntos do capítulo três. No quarto capítulo os assuntos focados foram análise dos dados e discussão dos resultados. Neste capítulo é feita a análise das respostas de um questionário feito com os alunos da 1ª. série do ensino médio. Por último, encontram-se a conclusão do bibliográficas bem como os anexos utilizados no trabalho. trabalho, as referências 11 1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 1.1 O ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras O ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras acompanha o ser humano desde os primórdios da História, estando presente nas mais antigas civilizações de que se tem notícia até os nossos dias. Isto evidencia a necessidade ininterrupta que todos os povos tiveram, e continuam tendo, de conhecerem outros idiomas, seja para fins de intercâmbio cultural, comercial e científico, seja para fins estratégicos, ligados a interesses político-ideológicos. Para produzir uma síntese histórica do ensino de línguas estrangeiras, Almeida Filho (2003, p. 22) divide o percurso em dois macro-períodos: o “ontem” (colônia, império e início de República até 1930) e o “hoje” (de 1931 até os dias atuais). O autor divide ainda o “ontem” em um ontem longínquo, um ontem próximo e um ontem moderno. O autor explica que no período longínquo, entre 1500 a 1808, o Português se constitui como língua ensinada aos índios para assimilá-los à Igreja e ao Cristianismo. A aprendizagem (e não o ensino) do tupi pelos jesuítas, dominadores por três séculos a restritiva e clássica educação brasileira, pode ser interpretada como uma experiência nova, mas circunscrita aos colégios e aos seminários dos religiosos. Coube aos jesuítas a responsabilidade de evangelizar e de ensinar o latim aos povos que habitavam o território, como exemplo a língua culta. De acordo com Donato (1998), durante a União Ibérica (1581-1640), os jesuítas foram considerados pelos espanhóis os principais incentivadores da resistência dos nativos aldeados nas reduções jesuítas à demarcação dos limites do Tratado de Madri (1750), nas Guerras Guaraníticas. Esse foi um dos fatores que contribuiu para a decisão de expulsar os padres jesuítas dos territórios portugueses na América. Assim, em 1759, o ministro Marquês de Pombal instituiu o sistema de ensino régio no Brasil, por meio do qual cabia ao Estado a responsabilidade de contratar professores não-religiosos. Com isso, as línguas que continuaram a integrar o currículo eram o grego e o latim, línguas clássicas consideradas de suma importância para o desenvolvimento do pensamento e da literatura. Por meio dessas línguas, ensinavam-se o vernáculo, a história e a geografia. 12 Já o período próximo, Almeida Filho (2003) explana que se estende desde a chegada da Família Real portuguesa ao Rio de Janeiro em 1808 até a instauração e vigência da primeira República (1889 e 1930 respectivamente). De acordo com Donato (1998), o ensino das línguas modernas começou a ser valorizado somente depois da chegada da família real portuguesa ao Brasil, em 1808. Em 1809, com a assinatura do decreto de 22 de junho, pelo príncipe regente D. João VI, criaram-se as cadeiras de inglês e francês com o objetivo de melhorar a instrução pública e de atender às demandas advindas da abertura dos portos ao comércio. Em 1837, ocorreu a fundação do Colégio Pedro II, primeiro em nível secundário do Brasil e referência curricular para outras instituições escolares por quase um século. O currículo do Colégio se inspirava nos moldes franceses e, em seu programa, constavam sete anos de francês, cinco de inglês e três de alemão, cadeira esta criada no ano de 1840. O modelo de ensino de línguas instituído por esse Colégio se manteve até 1929. Nele, o francês era o idioma priorizado por representar um ideal de cultura e civilização, seguido do inglês e depois do alemão. A partir de 1929, o italiano passou a compor o currículo até 1931. A Abordagem Tradicional de raízes européias, adotada desde a educação jesuítica, com o ensino dos idiomas clássicos – grego e latim – prevaleceu no ensino das línguas modernas. Nessa abordagem, a língua era concebida como um conjunto de regras e privilegiava a escrita, sob o pressuposto de que o aluno, ao estudar a gramática, teria melhor desempenho tanto na fala quanto na escrita. Nessa perspectiva, Silveira (1999, p. 28) menciona cópia de um questionário traduzido do francês de um manuscrito da Biblioteca de Berna, que data provavelmente do século IX. Nesse questionário pode-se ter uma idéia do que seria gramática e qual a sua importância para o ensino de línguas: Que é Gramática? - Agora, falemos de gramática. O que é a gramática? - É a ciência do bem falar, a origem e o fundamento das artes liberais. - Podemos defini-la de outra forma? - Sim, pelos seus objetivos. 13 - Como assim? - A gramática é a ciência da interpretação dos poetas e dos retóricos, a forma de bem escrever e de bem falar. - De onde vem o nome “gramática”? - De “letras”, pois os gregos chamavam-nas de “grammata”. - Por que ela é chamada de “arte”? - Porque ela consiste numa arte dos preceitos e das regras. - Por que ela é chamada de disciplina? - Por causa da palavra “discere”, aprender. Ninguém sabe se não aprender... Fonte: Reproduzido em Riché, 1979:231 apud Germani, C. 1993:61 – Documento 7 (Tradução do francês) O período moderno, segundo Almeida Filho (2003), inicia a partir de 1930, ano em que se dá a inauguração do ensino de línguas estendendo-se até o final dos anos de 1970 quando um novo modelo de ensino é publicamente anunciado como desejável, marcando o ingresso do Brasil no panorama dos países que contam na produção mundial do conhecimento organizado para o ensino e aprendizagem de outros idiomas. Historicamente, o ensino de línguas em território brasileiro após 1930 deu-se majoritariamente como oferta do currículo escolar regular, mesmo que sob desencontrada legislação e desatenta supervisão das autoridades de ensino. Simbolicamente, o ano de 1978 foi adotado como o divisor de águas por ter assistido ao primeiro evento acadêmico nacional – o Seminário Nacional para o Ensino Comunicativo de Línguas, ocorrido em Florianópolis na UFSC. Foi nesse período moderno que os autores nacionais argumentaram a favor de base científica para os métodos direto e audiolingual. O cenário do ensino de Línguas Estrangeiras no Brasil e a estrutura do currículo escolar sofreram constantes mudanças em decorrência da organização social ao longo da história. Segundo Cook (2003), as propostas curriculares e as metodologias são instigadas a atender às expectativas e demandas sociais contemporâneas e a propiciar às novas gerações a aprendizagem dos conhecimentos historicamente produzidos. Como pode ser observado, quando se fala em ensino de língua estrangeira é fundamental saber alguns conceitos como abordagem, método e técnica. 14 Segundo Anthony (1963), abordagens são distintas teorias sobre a natureza da língua e sobre como as línguas são aprendidas; método implica maneiras distintas de ensinar e, por fim, ele define técnicas como os diferentes métodos que lançam mão de diversos tipos de atividades de sala de aula. A definição de Abordagem sendo uma força que orienta, e, portanto, caracteriza em essência, todo um processo específico de ensino de língua é dada por Almeida Filho (1993). O autor defende que essa força advém das competências implícita (básica), teórica, aplicada e profissional do professor ou de quaisquer outros agentes ativos de ensino tais como autores de livros didáticos, planejadores de cursos, produtores de instrumentos de avaliação, pais, tutores, etc. Almeida Filho defende ainda que a abordagem orienta o processo ou operação global de ensino que se compõe ordenadamente no seu todo das fases do planejamento de cursos, de produção ou adoção via análise dos materiais, das experiências realizadas para aprender, e das avaliações de rendimento efetuadas. Almeida Filho (1997) elaborou um quadro comparativo no qual ele traz posições de Anthony (1963), Richards e Rodgers (1982) e as suas próprias comparações. Quadro comparativo de arcabouços e modelos relacionando abordagem, método e técnicas Categorias e Anthony, 1963 Richards/Rodgers, 1982 Almeida Filho, 1993 Esclarecer a confusão terminológica entre os três termos: abordagem, método e técnica. Um modelo para descrever e comparar métodos que por sua vez facilitarão a compreensão de desenvolvimentos recentes em metodologia. Um modelo para compreendermos a constituição e funcionamento da grande operação de ensinar línguas. Permite análise do processo de ensinar e comparações entre processos. Hierárquico em três níveis: abordagem – método – técnicas Hierárquico em dois níveis: (1) método e (2) abordagem – planejamento – procedimentos Hierárquico em três níveis: (1) abordagem (2) planejamento, materiais, método, avaliação (3) técnicas, recursos, instrumentos de ação. 3. Fases (abrangências) e especificação dos níveis Níveis sem fase (no plano horizontal) Segundo nível: três fases (abordagem; planejamento; procedimentos). Distinção entre quatro fases no segundo nível que constituem a abordagem: planejamento/ materiais/método/avaliação. 4. Dinamismo Precário/arcabouço estático Restrito/arcabouço Descritivo Dinâmico (efeitos marcados: pró-ativo, retro alimentação, ruptura/configuração com outras forças). subcategorias 1. Objetivos das propostas 2. Níveis (hierarquia) 15 5. Foco Terminológico Método de ensino Processo de ensinar considerando outras forças incidentes, principalmente o aprender. 6. Conceito de abordagem Conjunto de pressupostos correlacionados com a natureza da língua e do processo de ensinoaprendizagem. É um ponto, ato de fé, filosofia, algo em que se acredita mas não se pode comprovar necessariamente. Construto axiomático de pressupostos, crenças e teorias de aprender e da linguagem que fundamentam o que o professor faz nas salas em última instância. Força sintética, potencial, proveniente de um conjunto nem sempre harmônico de crenças, pressupostos e princípios, que nos faz atuar de maneira específica em nossas salas de aula. Fonte: ALMEIDA FILHO, J. C. P. A abordagem orientadora da ação do professor. In: ALMEIDA FILHO, J. C. P. (Org) Parâmetros atuais para o ensino de português língua-estrangeira. Campinas; Pontes, 1997, 21. A abordagem de ensinar uma nova língua é um conceito chave tanto para a formação de professores quanto para a pesquisa e ações no concreto do ensino. Abordar ou ocupar-se do ensino de uma nova língua significa, entre outras coisas tratar de enfocar, conceber, dar direção, aproximar-se de, acercar-se de, encaminhar, dar forma e sentido à tarefa de auxiliar profissionalmente àqueles que se candidatam a aprender essa língua-alvo. Além do aspecto dinâmico do currículo e dos métodos, o Estado pode orientar mudanças curriculares que se justificam pela atualização dos debates e produções teórico-metodológicas e político-pedagógicas para a disciplina de Língua Estrangeira. Na relação do aspecto entre as abordagens de ensino, na estrutura do currículo e na sociedade, residem as causas da ascensão e do declínio do prestígio das línguas estrangeiras nas escolas. A indagação que se faz, conforme Almeida Filho (2005), é: aprender uma língua estrangeira para quê? Não satisfaz a resposta que afirma que esse aprender é para ler ou falar nessa língua. A aprendizagem das Línguas Estrangeiras necessita passar por uma consciência étnica e cultural que reforça a própria identidade brasileira antes de avançar rumo à integração aos ideais e valores das culturas estrangeiras e, principalmente, das dominantes. Almeida Filho afirma ainda que é preciso se servir da informação tecno-científico-cultural que circula na língua estrangeira para acrescentar à cultura nacional e por isso tem sido apontada a necessidade de se imprimir um ativo componente de leitura nos nossos planejamentos de língua estrangeira especialmente no nível da Escola Média 16 quando um conhecimento genérico da língua estrangeira (entenda-se, fundado na oralidade) já tenha sido consolidado em quatro anos anteriores de escolarização. Almeida Filho (2005) continua argumentando que a tarefa global de ensino precisa necessariamente ser abordada em quatro fases distintas. Em primeiro lugar, o autor aponta a definição dos objetivos gerais (em que justificam a inclusão dessa experiência educacional lingüística nos currículos) seguida dos objetivos específicos que cada situação de ensino requer no âmbito regional e de cada escola e série para o planejamento de cursos. Em segundo lugar Almeida Filho aponta a fase de escolha ou produção de materiais didáticos seguida da etapa metodológica que busca implementar objetivos e conteúdos através de procedimentos de apresentação e prática lingüísticas com ou sem apoio de recursos. As decisões de caráter avaliativo que devem evidenciar na evolução dos programas a consecução dos objetivos, limitações e maneiras de lidar com elas, estão em quarto lugar. 1.2 Do Estruturalismo ao Comunicativismo Segundo Silveira (1999), no decorrer dos séculos, o ensino/aprendizagem de línguas maternas e estrangeiras tem sido observado como uma disciplina mental, ou até mesmo como um exercício intelectual, gramatical, herdado da tradição clássica greco-latina. Este ensino também foi encarado como uma experiência a ser vivida diretamente, isto é, um aprendizado concreto e “natural”, envolvendo os sentidos. Duas tendências são evidenciadas: a primeira utilizava métodos dedutivos e a segunda, métodos indutivos. Essas duas tendências geraram importantes abordagens e, conseqüentemente, geraram métodos. Devido às insatisfações existentes a respeito dos métodos que giravam em torno do estudo de categorias gramaticais, de exercícios de tradução etc., no século XIX, alguns estudiosos foram levados a procurar alternativas metodológicas para a reformulação do ensino de línguas estrangeiras. Na tentativa de transformar e sistematizar o ensino de língua em um método de ensino surge o Método Direto. Com o surgimento do Método Direto, no século XX, foi oportunizada a tentativa de presenciar a língua como uma capacidade natural compartilhada por todos os homens. Cook (2003, p. 33) menciona o comércio internacional e os 17 movimentos migratórios como ícones que influenciaram a mudança do perfil dos aprendizes de LE. A necessidade do ensino das habilidades orais fez surgir o Método Direto que objetivava a comunicação na língua alvo. O método explicitava que, para que o aprendiz atingisse a referida comunicação, ele (o aprendiz) deveria associar os significados diretamente com a LE, não havendo intervenção da língua materna. O Método Direto se respaldava na teoria associacionista da psicologia que defende que o princípio básico da atividade mental é a associação. Defende também que a gramática deveria ser aprendida através do uso da língua, isto é, de forma indutiva. Sobre o Método Direto, Paiva (2005, p. 128) comenta que apesar de ser muito utilizado, traz frases artificiais e descontextualizadas, além de diálogos surrealistas. Esses diálogos e frases não encontravam correspondência com o dia a dia do aprendiz nas escolas regulares, causando a desmotivação e desinteresse pelo aprendizado. Porém, de acordo com Richards e Rodgers (1993, p. 11), mesmo com a popularidade do Método Direto, há a ausência de uma base metodológica sólida. Por esse motivo, o método não foi aderido por todos. As principais características do Método Direto, conforme Finocchiaro e Brumfit (1983, p. 6), são a não permissão do uso da língua materna do aluno, pois, o método não admite tradução; o professor deve ser nativo ou muito fluente na língua estrangeira; as regras gramaticais são aprendidas indutivamente; os manuais didáticos contêm diálogos e anedotas breves; a leitura é muito estimulada e aparece de forma constante e assistemática, o método entende que o texto é para ser lido, apreciado e, nunca, para ser pretexto para a análise gramatical; a cultura da línguaalvo é valorizada; o professor faz uso de vários recursos para explicar significados como: ações, ilustrações, mímica etc. Com a publicação da obra “Curso de Lingüística Geral” de Ferdinand de Saussure, são lançados os fundamentos do Estruturalismo ou Abordagem Estrutural, que envolve os métodos Audiolingual (ou Áudio-Oral), EstruturalSituacional, Estuturo-Global Audiovisual (SGAV) e o Audiovisual-Lingual. O método Audiolingual, também conhecido como Áudio-oral foi desenvolvido devido à urgência de se ensinar línguas estrangeiras aos soldados americanos durante a Segunda Guerra Mundial. Teve como amparo da psicologia o behaviorismo que defende que a aprendizagem é um comportamento observável, 18 resultado de condicionamento, ou seja, de estímulo e resposta. São utilizados condicionantes e reforçadores arbitrários como: reconhecimento do mestre e dos colegas, prêmios, notas, elogios associados a outros mais distantes como: o diploma, as vantagens da futura profissão, a possibilidade de ascensão social, etc. Essa abordagem consiste em uma combinação e planejamento de condições externas que levam os estudantes a aprender, sendo de responsabilidade de o professor assegurar a aquisição do conhecimento. No método Audiolingual a língua passa a ser vista como um conjunto de regras a serem memorizadas. Em resumo, segundo Totis (1991, p. 24-30), o método Audiolingual reúne as seguintes características: os alunos devem primeiro ouvir, depois falar, em seguida ler e finalmente escrever algo na língua escrita; o método depende da mímica, da memorização, da aprendizagem intensiva através da repetição; há pouca ou nenhuma explicação gramatical, esperando assim que o aluno aprenda a gramática indutivamente; as respostas certas são imediatamente reforçadas; com esse método inaugura, no ensino de línguas, o uso efetivo de gravadores e laboratórios de línguas; pode-se comparar o papel do professor ao de um treinador de animais, como um papagaio, por exemplo. De conformidade a Allen (1983, p. 27, apud Germain, 1993, p. 146), o método Audiolingual nos estágios iniciais tem ótima assimilação, entretanto, nos demais estágios, caso não ocorra adaptações e modificações, as práticas tornam-se ineficazes, repetitivas e entediantes. Rivers (1964) cita outro problema que envolve o método: a questão de transferência, ou seja, o aluno depois de exposto por longo período de treinamento, não transfere o que aprendeu para a prática de uso do idioma na vida real, resultando ao final do curso a emissão de frases estereotipadas e inadequadas ao contexto real. O método Estrutural-Situacional, conforme Germain (1993, p. 191), está compreendido entre 1920 e 1930 e foi legitimado entre as décadas de 50 e 60 como o método oral britânico e que remetem aos lingüistas britânicos Harold Palmer e A.S. Hornby,. A base é estrutural e behaviorista; a gramática também é ensinada de forma indutiva, porém, há diferença do método Audiolingual americano. O método Estrutural-Situacional carrega a influência da tendência antropológica de Malinowski e traz noção de “situação”. Essa tendência antropológica teve reflexos na Lingüística o que levou muitos estudos a se preocuparem com as noções de “situação” e 19 “contexto”. Com esse tipo de método as estruturas só fazem sentido se treinadas e relacionadas às situações em que são utilizadas. Os exercícios utilizados juntamente com esse método são comumente chamados de “drills” ou exercícios estruturais. Segundo Totis (1991) algumas das características importantes do método EstruturalSituacional são o conteúdo programático, organizado em forma de narrativas, e diálogos situacionais, como, por exemplo, “At the Customs”, “The Railway Station” etc. a fim de garantir um contexto significativo para a prática das estruturas lingüísticas. Ou seja, a prática das estruturas é feita através de tabelas com várias substituições a serem exercitadas, procurando-se evitar a prática mecânica e sem sentido. Com o método Estruturo-Global Audiovisual (SGAV) o enfoque é dado às interações cotidianas da língua oral. O desenvolvimento das quatro habilidades é previsto, entretanto, a prioridade é sobre a língua falada. Neste método o aprendiz só começa a prática da leitura de textos e escrita após 60 horas de treinamento oral. Segundo Silveira (1999, p. 67), esse método foi criado após a Segunda Guerra Mundial com o intuito de barrar a dominação da língua inglesa sobre as comunicações internacionais. Àquela época, caso isso ocorresse levaria certa ameaça à continuação da propagação da língua francesa como língua estrangeira. De acordo com Germain (1993, p. 153) o Instituto de Fonética da Universidade de Zagreb, na Iugoslávia, por intermédio de Petar Guberina, nos anos 50, elabora as primeiras formulações teóricas do método SGAV. Foi com a união de Paul Rivenc, da École Normal Supérieur de Saint Cloud na França à Guberina que houve a definição dos princípios de aplicação pedagógica do método estruturoglobal. O surgimento do primeiro curso seguindo a metodologia SGAV acontece em 1962 sob o nome de “Voix et Images de France”, cujos princípios foram aplicados em 1963 em um curso para crianças de oito a onze anos. Posteriormente a metodologia sgaviana foi adotada para cursos de outros idiomas. O método SGAV traz os elementos culturais da LE estudada, apresentados nos temas das lições, nos próprios diálogos em que aparecem o modo de vida e costumes dos falantes nativos. O aprendiz depois de ouvir, repetir, memorizar deve falar sobre os temas abordados. Dessa forma, as atividades propostas envolvem mais o aluno e para isso, o uso criativo dos “filmstrips” ajuda bastante. 20 O desenvolvimento das lições neste método compreende três importantes fases: a apresentação, o reemprego e a fixação. Há também uma gama de práticas de exercícios envolvida neste método. As práticas mais significativas são as dramatizações, nas quais os alunos fazem “sketches” previamente memorizados; as perguntas sobre as imagens onde os alunos se expressam diante dos estímulos visuais; os exercícios estruturais que são apresentados a partir de situações dadas; as conversações dirigidas que partem do “sketch” da lição, e posteriormente os alunos se expressam sobre os temas suscitados; a transposição de narrativas em diálogos nas quais o professor lê uma narrativa e os alunos, em pequenos grupos, transformam a narrativa em diálogo; os diálogos e narrativas interrompidas nas quais os alunos em pequenos grupos dão continuidade e, depois, as alternativas são comparadas, melhoradas etc., e por fim a prática do livre emprego que, a partir de um assunto sugerido pelo professor ou pelos alunos, estes se expressam livremente. Neste método, diferente de outros, a correção dos erros se dá de forma discreta. Segundo Silveira (1999), por conta de insatisfações aos métodos já existentes de base estrutural e influências da teoria gerativo-transformacional houve revisões no ensino de línguas estrangeiras. Ciências como a Psicologia Social, a Etnografia, a Antropologia e a Psicologia Cognitiva contribuíram com subsídios importantes para a Lingüística a partir de 1960. Chomsky defende que a aquisição da língua não se dá pelo condicionamento. Ele acredita que tal processo acontece de forma criativa, numa atividade cognitiva, e não como respostas mecânicas a estímulos externos. Na Abordagem Cognitiva o aluno é exposto a situações que o desafie como jogos, leituras, visitas, excursões, trabalhos em grupo, arte, oficina, teatro, etc. O cognitivismo prioriza a forma sob a qual a aprendizagem é tida, de como é feita a organização do conhecimento, de como o armazenamento das informações e os comportamentos relativos à tomada de decisões são feitos. Os currículos são maleáveis, mesmo tendo a existência dos fixos. O gerador da informação é o professor e é ele quem a disponibiliza. Compete aos alunos, através de reflexão, construir seus conhecimentos e significados. Com o aparecimento da Abordagem Cognitiva surgem quatro tipos de concepção: a de Língua; a de Aprendizagem; a de Ensino e a de Relações Pedagógicas. 21 A Concepção de Língua se dá através da interiorização das regras da língua pelo contato (de forma contínua) e processamento dos elementos lingüísticos ao qual o indivíduo é exposto, conforme Silveira (1999, p. 71). Já a Concepção de Aprendizagem é vista como uma conquista pessoal, onde o conjunto de realização de duas tarefas (as atividades de apelo cognitivo individualizado e as atividades de socialização) resulta à aquisição e à maturidade lingüística. Na Concepção de Ensino o uso de diversos recursos é utilizado no intuito de proporcionar a aquisição da língua significativa pelo aluno, visando as variadas fases seqüenciadas de uma proficiência próxima à de um falante nativo. É desejado que a proficiência seja bilíngüe e bicultural. Entretanto, não se espera a perfeição da pronúncia pelo aluno, contudo, o mesmo é incentivado a melhorá-la sempre. A Concepção das Relações Pedagógicas expõe que os conteúdos gramaticais tanto podem ser ensinados de forma indutiva ou dedutiva, por meio de regras e de exercícios sobre os itens estudados. São diversas as atividades pedagógicas nesta concepção, depende de qual objetivo que se quer alcançar. Utilizam-se recursos audiovisuais, de repetições (se necessárias), e, até mesmo, desde que sejam adequadas para o ensino de tópicos que estão sendo estudados, técnicas tradicionais. Nesta concepção faz parte da aprendizagem o erro, sendo este inevitável, devendo ser tratado de forma construtiva. O silêncio é tratado como item importante e útil, pois, assim, há o processamento das maturações cognitivas. É dada muita importância aos relacionamentos afetivos. A boa relação entre professor e aluno deve ser primordial. Silveira (1999) afirma que devido à escassez de estudos sobre o fenômeno da comunicação humana e das peculiaridades da linguagem oral o esforço desprendido em se ensinar a oralidade, anteriormente à abordagem comunicativa, não ia adiante. Foi então que houve a necessidade da criação de uma nova abordagem para se ensinar língua estrangeira. Chomsky (1957) ressaltava a singularidade do falante, influenciando o surgimento de uma nova abordagem – a abordagem comunicativa. Mesmo sendo Chomsky quem teve o pensamento sobre nossa competência inata lingüística, ou seja, a capacidade de produzir frases através do emprego de regras, Dell Hymes foi quem fundamentou conceitos estruturantes da nova abordagem. Em 1972, Hymes exteriorizou sua reação à noção de competência de Chomsky, criticando-o por não levar em conta os aspectos sociais. Hymes propõe o conceito ampliado de competência comunicativa, que é “o conhecimento (prático e 22 não necessariamente explicitado) das regras psicológicas, culturais e sociais que comandam a utilização da fala num quadro social” (Hymes, 1972). A Abordagem Comunicativa caracteriza-se por focar na interação entre os indivíduos que estão aprendendo uma nova língua. Ela deixa de ser simplesmente a construção de regras gramaticais passando a ser o objetivo real da aprendizagem. A mescla de teorias lingüísticas, filosóficas, pragmáticas sociológicas, etnográficas propiciou o aparecimento de um movimento comunicativo. Este movimento se preocupava mais com o discurso e o uso efetivo da língua do que com o código lingüístico. Um agravante se somou a este movimento para a divulgação da abordagem comunicativa. Nos anos 70 houve um grande período de imigração na Europa. Isso fez com que as pessoas buscassem métodos mais eficazes de aprendizado de LEs que pudessem, de forma efetiva e adequada, leválas à uma comunicação real. Segundo Silveira (1999) foi neste contexto de situações sociais, econômicas e políticas que nasceu a abordagem comunicativa, cuja atribuição era (entre outras) a de suprir às necessidades de aquisição de línguas dos imigrantes e, num âmbito maior, as de adultos em geral que tivessem necessidade em aprender línguas estrangeiras para fins específicos. Nessa abordagem se enfatizam as experiências de aprendizagem correlacionadas com situações de real interesse e/ou necessidade do aluno, de forma a levá-lo a se comunicar com outros falantes-usuários dessa língua. Mesmo sendo voltado para a comunicação, esse tipo de ensino não descarta a possibilidade de proporcionar em sala momentos de explicações das regras e prática cotidianas dos subsistemas gramaticais, como o dos pronomes, as terminações de verbos, etc. (RICHTER apud Almeida Filho, 1993). A Abordagem Comunicativa (Silveira, 1999) defende algumas características fundamentais como: a reflexão sobre os processos de aprendizagem ser estimulada de forma a contribuir para a autonomia dos aprendizes; a sala de aula deve propiciar a aprendizagem colaborativa; o erro deve ser visto como testagem de hipóteses; a competência é construída pelo uso de língua, os aprendizes devem ter contato com amostras de língua autêntica; a função principal da língua é a interação com propósitos comunicativos; a fluência é tão importante quanto à precisão gramatical; deve-se priorizar o ensino da língua e não sobre a língua, a língua deve ser entendida como discurso, ou seja, um sistema para expressar sentido, entre outros. 23 Richards e Rodgers (1993) defendem a idéia de expor os alunos a insumo autêntico como revistas, jornais, filmes, vídeos, programas de TV, canções, mapas, menus, gráficos, além diversos recursos da Internet. A abordagem comunicativa deixaria de ser algo a ser seguido cegamente e tornar-se-ia um dos recursos para a aprendizagem. Nos anos 80 já se tem notícias de manuais didáticos que começam a aparecer dentro da abordagem comunicativa. O Centro de Lingüística Aplicada do Instituto de Idiomas Yázigi, no Brasil, pioneiro na confecção de métodos de bases estruturo-global, audiovisual, cognitiva e ecolingüística no Brasil, lança seu primeiro programa de ensino de inglês utilizando a abordagem comunicativa em 1982 (série “English in Brazil”). Na Abordagem Comunicativa dois métodos são abrangidos: o FuncionalNocional e o Ensino Instrumental de Línguas Estrangeiras. No Funcional-Nocional, Silveira (1999) lista as principais características: os conteúdos são apresentados em forma de funções (atos de fala) acompanhados de seus respectivos expoentes lingüísticos; as funções são apresentadas em português seguidas de suas realizações em inglês; à medida em que as lições vão tomando maiores proporções, aparecem novos expoentes para funções já vistas com variações no grau de formalidade; as lições abrangem as quatro habilidades; a gramática é mais sistematicamente abordada nos exercícios escritos, de forma indutiva, com um tratamento estrutural; a parte de “Speaking” compreende três passos – apresentação, prática e transferência; a parte de leitura contém textos autênticos, desvinculados tematicamente da parte de conversação. O diferencial do programa é o “Active Listening”, que compõe um conjunto de fitas audiocassetes com exercícios graduados para a compreensão oral que consistem em diálogos, narrativas e inúmeras atividades com as quais o aluno desenvolve estratégias de compreensão auditiva de forma muito estimulante. O Ensino Instrumental de Línguas Estrangeiras é mais voltado para cursos de graduação, pós-graduação, etc., devido à necessidade de obtenção de informações tecnológicas e científicas. Souza (1986, p. 11-12) define: “O ensino instrumental, como um desenvolvimento dos últimos vinte anos, apareceu como uma reação contra o ensino global da língua estrangeira levando em conta o 24 ensino para fins profissionais e acadêmicos. Este ensino se caracteriza pelos conteúdos lingüísticos altamente específicos e por sua natureza redutora – redutora porque em vez do ensino indiscriminado das habilidades e conteúdos lingüísticos, o ensino instrumental geralmente se concentra em uma ou duas habilidades específicas e conteúdos morfossintáticos e semânticos bem definidos.” Esse tipo de ensino também era conhecido como inglês técnico abrangendo diversas áreas como a de hotelaria, de aviação, de mecânica, de eletricidade, etc. A organização didática destes manuais didáticos é concernente ao vocabulário técnico da área. As necessidades de uso de uma segunda língua ou de uma língua estrangeira por profissionais, trabalhadores e adultos em geral ocupando as variadas atividades do mundo do trabalho fizeram com que as origens do ensino instrumental fossem levantadas pelo Conselho da Europa, na década de setenta. Este tipo de ensino teve incremento do chamado “General English” que sempre tratou das quatro habilidades (compreensão, fala, leitura e escrita). As insatisfações que envolveram este tipo de ensino recaíram sobre as indefinições quanto às terminalidades dos seus programas. 25 2. A MÚSICA 2.1 A música na sala de aula Historicamente, a música tem sido usada tanto como forma de comunicação e entretenimento, como também de expressão afetiva, cultural, social, política e religiosa. Ela sempre esteve presente em todas as sociedades desde tempos imemoriais, com seu caráter subjetivo, o que filosoficamente a coloca entre as virtuoses do ser humano. (Pinker, 2001, p. 553). Há quem considere desagradável ou feio um ou outro gênero musical. Entretanto, a música enquanto manifestação popular é de natureza estética, ou seja, aquilo que é considerado belo ou interessante nas produções naturais e artísticas. Decidir o que é ou não belo, o que desperta ou não interesse, depende do ponto de vista de cada ser humano em seu contexto. Segundo Shakespeare: “O belo é feio e o feio é belo”. Como se pode constatar pela prática e observação, os professores de LE sempre usaram a música popular como instrumento pedagógico, acreditando que com o uso desta ferramenta a aula fica mais animada, agradável e participativa para o aluno. A música é um mediador que proporciona resultados satisfatórios por envolver o aluno no processo de aprendizagem. Segundo Vygotsky (1984, p.33), a mediação está relacionada ao uso de instrumentos, entendidos como qualquer coisa usada para ajudar a resolver um problema ou atingir uma meta. Entretanto, deve-se observar o sentido duplo que caracteriza o uso de determinado instrumento: o aspecto físico, de atividade prática, material; e o aspecto psicológico, de atividade simbólica. A esta atividade simbólica Vygotsky atribuiu “uma função organizadora específica que invade o processo do uso de instrumento e produz formas fundamentalmente de comportamento”. E seguindo adiante: assim que a fala e o uso de signos são incorporados a qualquer ação, esta se transforma e se organiza ao longo de línguas inteiramente novas. Realiza-se, assim, o uso de instrumentos especificamente humanos, indo além do uso possível de instrumentos, mais limitado, pelos animais superiores (Vygostky, 1984, p. 33). 26 A música, em todas as culturas, tem o poder de estimular o raciocínio fazendo com quem a ouve, construa, através dela, eventos sociais, pessoais e culturais. Ela proporciona segurança em ambientes estranhos além de tópicos para discussões sociais (Lull, 1987, p. 5). A música desperta a motivação e o interesse dos alunos de LE, o que pode ser constatado pela experiência em geral dos professores de LE. No ambiente de sala de aula, uma participação ativa é motivada a um estado motivado, há interesse na matéria. Segundo Williams e Burdens (1997, p. 120), a motivação pode ser definida como: ... um estado de animação cognitivo e emocional: que conduz a uma decisão consciente para agir, e que dá origem a um período de esforço físico e/ou intelectual sistemático a fim de atingir uma meta (ou metas) previamente estabelecidas. (...) O despertar inicial da motivação pode ser provocado por diferentes causas, talvez interiores, como interesse e a curiosidade; frequentemente por influências externas, tais como uma pessoa ou um evento. Mesmo havendo ainda indefinições e paradoxos, os professores de LE continuam fazendo uso de músicas populares e folclóricas, independente do método de ensino que adotam. O fato de os alunos apreciarem o uso de música talvez esteja associado à intuição pura e simples de que estão realmente ouvindo a língua em uso e não sua descrição. Percebem na música um contexto natural, autêntico e relevante. Papa e Iantorno (1986) afirmam que utilizando textos de músicas populares, o professor de LE engaja-se em várias práticas, entre elas estão: • a apresentação de aspectos mais importantes da cultura estrangeira; • revisão de vocabulário conhecido; • práticas de expressões rítmicas; • apresentação de estruturas novas em contextos significativos; • reforço de estruturas que os alunos já conheçam; • construção de vocabulário; • práticas de todas as habilidades lingüísticas. 27 Os professores americanos Warren Everett e Loraine V. Pierce, ambos do estado de Maryland relataram em seus artigos (edições de Abril, 1987, p. 41 e janeiro, 1988, p. 16, respectivamente) publicados pela revista English Teaching Forum dão conta de procedimentos didáticos feito por professores de inglês em diversos países. Periodicamente, são apresentados trabalhos tendo a música popular como foco de sala de aula. Portanto, a música popular, seja ela de que gênero for (funk, new age, tecno, jazz, hip hop, regaee, rap, rock’ n’ roll’, blues, etc), é reconhecida como instrumento valioso de apoio ao professor e aos estudantes de LE. Ela é trazida para a sala de aula através de diversos veículos, tais como CDs, DVs e além de outros veículos que permitem “co-autoria” no momento da difusão, tais como videoclipes, trechos de filmes, videokê e karaokê. O uso de PowerPoint tem sido utilizado amplamente, um aplicativo para o meio digital que permite a inclusão de arquivos de vídeo e de áudio. Segundo Ferreira, (2001, p. 17) “a música é, além da arte de combinar os sons, uma maneira de exprimir-se e interagir com o outro”. 2.2 A música como agente facilitador de aprendizagem A música como artifício para trabalhar um conteúdo gramatical pode ser eficiente, já que envolve o interesse do aluno. Assim, ouvir melodias associadas a palavras na LE pode ser um fator de relaxamento e preparo para a recepção de conteúdos mais ásperos. Intercalar uma canção em meio a um tema que parece “pesado” pode revigorar o ânimo da classe propiciando ao professor um clima mais ameno para continuar sua matéria. Mas, será que fazendo uso de músicas no ensino de uma língua estrangeira seria possível melhorar a assimilação dos conteúdos trabalhados junto aos alunos? Um dos grandes problemas em se tratando de ensino de rede pública, se o número de alunos em sala fosse reduzido (já que a média atual por turma no ensino da rede pública é de 35 a 40 alunos), seria bem provável obter melhoras quanto ao desempenho dos mesmos em relação aos exercícios abrangendo compreensão auditiva (listening). 28 Salienta-se que este número não cria condições favoráveis para trabalhar a prática de “listening” devido à dispersão dos alunos. Além disso, a acústica do aparelho de som também é outro fator que preocupa, pois, não é a adequada já que salas para comportar tamanho número de alunos têm que ser maiores. Entre uma gama de hipóteses, as citadas acima estão entre as mais relevantes levantadas no ensino de uma LEM da rede pública – fato constatado nas semanas pedagógicas (chamadas capacitações) promovida pela Secretaria de Educação do Paraná sempre nos meses de janeiro e julho nas escolas de rede pública. Como a música atrai e agrada a quase todas as idades, introduzir um conteúdo fazendo uso deste recurso é possível. Pois, ao entrar no estudo gramatical propriamente dito, ou seja, o conteúdo apresentado pelo livro didático, os alunos já teriam visto o assunto de antemão de uma maneira mais “amena”, o que o torna mais fácil de ser compreendido. A sugestão de os livros trazerem em seu conteúdo músicas envolvendo o conteúdo trabalhado seria de grande valia e auxílio ao professor, como as coleções Inside Out e English File. Pode-se dizer que a música é uma eficiente ferramenta pedagógica de apoio ao aprendizado de inglês. O público de ensino fundamental e médio geralmente é composto de adolescentes e jovens, por isso a opção de trabalhar com música, já que se observa que a faixa etária referida está muito envolvida com bandas, cantores, clipes musicais etc. Essa metodologia não excluiria, de maneira alguma, o livro didático. O que se propõe é abranger a gramática, vocabulário, expressões idiomáticas, pronúncia das palavras com o uso da mídia reforçando assim o uso dos mesmos. Intercalar uma canção em meio a um tema que parece “pesado” pode revigorar o ânimo da classe propiciando ao professor um clima mais “tranqüilo” para continuar sua matéria. Com letras de música podem ser trabalhados muitos assuntos gramaticais como, por exemplo: Indefinite pronouns, Gerunds, Prepositions, Prefixes re/um e Sufixes ing/tion/ish/less/ly/th/ed/er. 2.3 A canção popular e outras canções Conforme Liberato (2003), a canção por definição é um gênero híbrido, de caráter intrínseco, pois é resultante da conjugação de dois tipos de linguagens, a 29 verbal e a musical. Ela tem tripla competência: a verbal, a musical e a lítero-musical, que é a capacidade de articular as duas linguagens. Como é de uso de uma comunidade, os seus conceitos são muito flexíveis. Às vezes a letra e o ritmo são colocados de lado, e são falados como, por exemplo, o rap. Desta maneira não podemos colocar um rótulo padrão na canção, pois ela não é exclusivamente um texto verbal mas um conjunto dos dois. A oralidade da canção tem uma padronização de vocalidade, pois cada pessoa fala de modo diferenciado com sua gestualidade peculiar o texto falado; a canção estabelece uma determinação do modo de vocalização do texto. Então a canção brasileira se caracteriza pelo malabarismo eficaz que equilibra o canto e a fala. Seguem três tipos de gêneros de canções na mídia brasileira: a canção erudita, a popular e o jazz. A canção erudita é marcada pelo formalismo, pelo apego à partitura, aproxima-se mais do texto escrito formal. Esse tipo de canção separa texto verbal do texto musical, sendo assim uma pessoa faz a música e outra o texto. Já a canção popular faz com que o compositor costume compor diretamente no instrumento, o que não significa que eles dispensem a partitura, mas ela apenas sustenta um perfil melódico e rítmico básico. O jazz é uma peça musical e não uma canção, sem qualquer tipo de condicionamento, começo meio e fim como a canção popular e a canção erudita. 2.4 O uso da canção na escola O interesse pedagógico pela canção deve representar uma consciência cada vez mais crescente da grande importância de nossa produção lítero-musical na construção da identidade e da história de nosso país. O mesmo ocorre com a língua inglesa. Ao usar a canção na escola, o professor deve reconhecer sua integridade enquanto gênero autônomo. Isso implica em correr riscos sendo um deles: transformar a aula mais em um espaço de lazer do que em um espaço de aprendizado. Deve-se ter também claros objetivos do uso com a canção em sala de aula. Deve-se levar o aluno a análise dos vários elementos que uma canção traz: autor – cantor – personagens – melodia – ouvinte genérico – ouvinte individual – 30 entre outros. Devemos (professores) ter em mente que o objetivo maior não é formar cancionistas, mas ouvintes críticos de canções, com direcionamentos à percepção dos efeitos de sentido do texto, melodia, conjunção verbo-melódico; enfim, conhecedores de estilos, discursos, cancioneiros e cancionistas do país. Trabalhando-se com a canção, há vários processos. Um deles é o de registro (gravação e instalação em um suporte – CD, fita cassete, mp3, e outros); tem-se o processo se, solitário ou coletivo; se há ou não, na composição da letra e da melodia a existência de um instrumento musical; se há o chamado “arranjo”; há também o processo de distribuição da canção que é a veiculação, seja ela radiofônica ou televisiva, ou através da música “ao vivo” ou “mecânica” nos bares e restaurantes ou nos seus mais diversos ambientes: apresentação pelos artistas em shows, participação em trilhas sonoras do cinema, novelas televisivas, teatro, etc. O fato é que a canção está por toda parte. A audição musical em sala de aula se revela fundamental no trabalho com a canção. Considerando todo o processo que a canção chega a nossos ouvidos conclui-se que a mesma é uma produção coletiva. É necessário que os alunos sejam estimulados a observar a interação textomelodia e a investigar os meios técnicos que lhes trouxeram a canção, bem como o seu processo de produção. 31 3. METODOLOGIA Este trabalho tem como objetivos: 3.1 Objetivo geral • verificar se o uso de músicas em sala de aula facilita a aprendizagem de LE. 3.2 Objetivos específicos • fazer com que o aluno seja capaz de reconhecer estruturas e de utilizá-las em situações de comunicação oral e escrita; • fazer com que o aluno tenha maior consciência sobre o papel das línguas na sociedade; • despertar o interesse do aluno, desenvolvendo, principalmente, a habilidade de compreensão auditiva (“listening”). Ressalta-se que tais objetivos são suficientemente flexíveis para contemplar as diferenças regionais, mas ainda assim específicos o bastante para apontar um norte comum na seleção de conteúdos específicos. 3.3 Cenário da pesquisa O local onde se deu a pesquisa foi o Colégio Estadual Paulo Leminski com o público das primeiras séries do Ensino Médio. Houve três fases na pesquisa: 1a. fase – aplicação do questionário; 2a. fase aplicação do exercício – envolvendo uma atividade de música; 3ª. fase - tabulação dos dados. 3.4 Questionário para levantamento de dados Foi elaborado um questionário conforme modelo no apêndice I. O número de participantes foi oitenta e sete alunos. 32 Segundo Gil (1999), o questionário é uma técnica de investigação composta por um número mais ou menos elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas, etc. Gil também define os questionários auto-aplicados. São os questionários propostos por escrito aos respondentes. Conforme Gil (1999) apresentou, há várias vantagens no uso de questionário. Algumas delas: - possibilidade de atingir grande número de pessoas, mesmo que estejam dispersas numa área geográfica muito extensa, já que o questionário pode ser enviado pelo correio; - permite que as pessoas o respondam no momento em que julgarem mais conveniente; - não expõe os pesquisados à influência das opiniões e do aspecto pessoal do entrevistado. O questionário solicitado aos alunos para preencherem foi um questionário auto-aplicado constituído de quinze perguntas, sendo quatro abertas e onze fechadas. Foi escolhido o questionário por ser um instrumento de grande alcance e por conter questões específicas relacionadas ao estudo. 3.5 A pesquisa A escola escolhida para desenvolver a pesquisa foi o Colégio Estadual Paulo Leminski com o universo de jovens dos quatro primeiros anos do ensino médio, totalizando oitenta e sete alunos. Conforme mencionado, os alunos inicialmente responderam a um questionário. Logo após, para as turmas A e B do 1º. ano foi apresentada uma atividade com a letra da música Take my breath away, tema do filme Top Gun. Esta música foi escolhida por ter a letra fácil de ser cantada e por ter uma boa aceitação por parte dos alunos, pois a trilha sonora ainda faz sucesso. O assunto escolhido para ser trabalhado foi o Gerúndio. A música foi tocada três vezes. Foi dado um “hand-out” a cada aluno com a letra da música e solicitado para que os alunos primeiramente ouvissem a melodia da mesma. Logo após, foi pedido para que cantassem a música e, num terceiro momento para que atentassem 33 aos verbos com a estrutura do gerúndio. Foi trabalhado também vocabulário através de exercícios de fixação: deu-se a leitura da música e no momento em que ocorria a leitura os alunos eram questionados se compreendiam as estrofes que surgiam. A pronúncia de palavras foi trabalhada da seguinte forma: depois da leitura e explanação do vocabulário de uma forma geral os alunos repetiam as estrofes à medida que a música era tocada. Foi pedido ainda que os alunos colocassem os versos da música em ordem (conforme pode ser visto no apêndice II). A música foi tocada por três vezes para a realização desta tarefa. E como atividade extra os alunos foram estimulados a localizarem os verbos que estavam com a estrutura do gerúndio e retirassem a referida estrutura e os colassem no infinitivo. Como a aula era de 100 minutos (geminada) foi possível trabalhar todo o conteúdo previsto. 34 4. ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS O objetivo da pesquisa foi observar se a música em sala de aula seria um agente facilitador de aprendizagem para LE. Ou seja, se realmente seria mais fácil para o aluno reconhecer uma estrutura trabalhada anteriormente em uma música. Para direcionar a pesquisa foram elaboradas perguntas como “A assimilação de um conteúdo gramatical seria melhor se este conteúdo fosse previamente visto em uma música antes de entrar no livro didático?” Para esta pergunta foram obtidas sessenta e cinco respostas positivas, vinte negativas e duas abstenções. O objetivo dessa pergunta foi levantar elementos que pudessem fundamentar a inserção desse instrumento com maior freqüência nas aulas. Já para a pergunta “Você acha que o uso de música contribuiria para aprender melhor uma LE?” setenta e seis alunos afirmaram que sim, dez disseram que não e houve uma abstenção. Ao serem questionados “Você gosta de escutar música em inglês?” foram surpreendentes as respostas para essa pergunta: oitenta e dois alunos disseram que gostam de ouvir música em inglês e apenas cinco disseram que não. Mesmo havendo rejeição para o aprendizado de LE com os alunos da rede pública para as duas perguntas seguintes as respostas foram igualmente surpreendentes. Ao serem questionados “Acha importante o aprendizado de uma LE?” “sim” foi a resposta de oitenta alunos. Apenas cinco disseram não e houve duas abstenções. E “Se o aprendizado de LE fosse opcional você se inscreveria?”, em resposta a esta pergunta setenta e dois alunos disseram que se inscreveriam e quinze disseram que não. Quando solicitados para apontar uma ordem de importância para o domínio de uma LE, foi obtido o seguinte resultado dos alunos: o trabalho foi apontado setenta e três vezes; a comunicação sessenta; a música teve trinta e duas citações; filmes obtiveram vinte citações e treze para literatura. Neste quesito como as respostas poderiam ser múltiplas, houve maior número de citações. Ao final, ao serem indagados sobre a seqüência da aula, os alunos tiverem uma aceitação quanto ao procedimento da aula quase que 100%. Já com as turmas C e D o sucesso e aceitação não foi muito proveitoso tendo em vista que o conteúdo foi explanado com introdução de gramática pura, ou seja, aula tradicional com 35 anotações no quadro e seqüência de bateria de exercícios sem prévia de qualquer material de mídia. Os conteúdos lingüísticos preferidos dos alunos de acordo com a ordem apresentada nos resultados são os seguintes: a) tradução; b) pronúncia de palavras; c) vocabulário; d) gramática. Além disso, há muitas indicações de preferência para curiosidades lingüísticas e culturais. Os resultados mostram que são diversas as estratégias utilizadas pelos alunos para memorizar as informações que lhes são de interesse. 36 5. CONCLUSÃO Entende-se que o ensino de língua estrangeira deve possibilitar ao aluno uma visão de mundo mais ampla, para que avalie os paradigmas já existentes e crie novas maneiras de construir sentidos do e no mundo, considerando as relações que podem ser estabelecidas entre Língua Estrangeira e a inclusão social; o desenvolvimento da consciência do papel das línguas na sociedade, o reconhecimento da diversidade cultural e o processo de construção das identidades transformadoras. Um dos objetivos da disciplina de Língua Estrangeira é que os envolvidos no processo pedagógico façam uso da língua que estão aprendendo em situações significativas, relevantes; isto é, que não se limitem ao exercício de uma mera prática de formas lingüísticas descontextualizadas. Trata-se da inclusão social do aluno numa sociedade reconhecidamente diversa e complexa, através do comprometimento mútuo. Ou seja, o aluno deve ter oportunidade de externar seu conhecimento adquirido. Diferente do que os PCNs priorizam (ênfase na aprendizagem escrita e leitura), o sucesso do aprendizado de uma LE também se faz pelo domínio da oralidade. E para tanto a prática da compreensão auditiva se faz muito importante. Com o de uso mais intenso de músicas durante as aulas foi notória uma melhora entre os alunos no listening e com isso, na oralidade. Os objetivos deste estudo, entre eles fazer com que o aluno seja capaz de reconhecer estruturas e de utilizá-las em situações de comunicação oral e escrita; e despertar o interesse do aluno, desenvolvendo, principalmente, a habilidade de compreensão auditiva (listening) foram alcançados, já que foram enfatizadas e observadas estas questões em sala de aula. O resultado do estudo foi considerado positivo. A boa recepção por parte dos alunos relacionada à mídia, comprovou que o uso de música tende a facilitar os estudos de uma LE conforme respostas obtidas pelo questionário. O professor, agindo como facilitador, pode ir muito além do que imagina com seus alunos. Resta-lhe usar grande nível de criatividade e elaborar atividades que venham a contribuir com o aprendizado de seus alunos e fazê-los sentir vontade de ir além de seus limites. O papel do professor é buscar também, que seus alunos 37 apreciem suas aulas e participem de seu aprendizado de forma mais intensa. Podemos tornar nossa didática envolvente, transformar nossos alunos em pesquisadores ávidos, permitindo-lhes que alcem vôo para um céu infinito de conhecimentos. Ao conceber a língua como discurso, conhecer e ser capaz de usar uma língua estrangeira, permite-se aos sujeitos perceberem-se como integrantes da sociedade e participantes ativos do mundo. Ao estudar uma LE, o aluno aprende também como construir significados para entender melhor a realidade. A partir do confronto com a cultura do outro, torna-se capaz de delinear um contorno para a própria identidade. Assim, atuará sobre os sentidos possíveis e reconstruirá sua identidade como sujeito. 38 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA FILHO, J. C. P. A abordagem orientadora da ação do professor. In: ALMEIDA FILHO, J. C. P. (Org.). Parâmetros atuais para o ensino de português língua-estrangeira. Campinas. Pontes, 1997. ALMEIDA FILHO, J. C. P. Ontem e hoje no ensino de línguas no Brasil. In: STEVENS, C. M. T.; CUNHA, M. J. C. (Org.). Caminhos e colheita: ensino e pesquisa na área de inglês no Brasil. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2003. ALMEIDA FILHO, J. C. P. Lingüística Aplicada – Ensino de Línguas e Comunicação. Ensino de Línguas e Comunicação. Campinas. Editora Pontes, 2005. ALMEIDA FILHO, J. C. P. Dimensões comunicativas no ensino de línguas. 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Cambridge: Cambridge University Press, 1997. 40 Anexo I Take my breath away Watching every motion In my foolish lover’s game On this endless ocean Finally lovers know no shame Turning and returning to Some secret place inside Watching in slow motion As you turn around and say Take my breath away Take my breath away Watching I keep waiting still Anticipating love Never hesitating to become the fated ones Turning and returning to Some secret place to hide Watching in slow motion As you turn to me and say Take my breath away Through the hourglass I saw you In time you slipped away When the mirror crashed I called you and turned to hear you say If only for today I am unafraid Take my breath away Take my breath away Watching every motion In this foolish lover’s game Haunted by the notion Somewhere there’s a love in flames Turning and returning to Some secret place inside Watching in slow motion As you turn my way and say Take my breath away Take my breath away (Berlin, G. Moroder/T. Whitlock, CBS.) 41 Apêndice I QUESTIONÁRIO Este questionário destina-se para o público-alvo dos alunos da rede pública entre as séries 7ª. do Ensino Fundamental à 1ª. do Ensino Médio. 1. Nome_________________________________ Idade: _____ Sexo: ( ) F ( ) M 2. Poder aquisitivo: ________________________________________ 3. Quantos membros há na casa: ____________________________ 4. Escolaridade do pai: ____________________ da mãe: _____________________ 5. Você acha importante o aprendizado de uma LE ? ( ) Sim ( ) Não 6. Para você a importância do domínio de uma LE seria voltado para: ( ) trabalho ( ) literatura ( ) música ( ) comunicação ( ) filme ( ) outros Especifique: ____________________________________________________ 7. Você acha que o ensino de LE seria mais proveitoso no contra-turno, ou seja, fora do horário de aula normal? ( ) Sim ( ) Não 8. Se o aprendizado de LE fosse opcional, você se inscreveria para o curso? ( ) Sim ( ) Não 9. Você gosta de escutar música em inglês? ( ) Sim ( ) Não 10. Qual estilo musical você gosta? ( ) rock’n’roll ( ) regaee ( ) pop ( ) romântica ( ) clássica ( ) outros ( ) dance Especifique: ____________________________________________________ 11. Você acha que o uso de música contribuiria para aprender melhor uma LE? ( ) Sim ( ) Não 12. Ao ouvir uma música, você a compreenderia melhor se estivesse com a letra da mesma? ( ) Sim ( ) Não 13. A assimilação de um conteúdo gramatical seria melhor se este conteúdo fosse previamente visto em uma música antes de entrar no LD? ( ) Sim ( ) Não 15. De 1 a 4, em que ordem você colocaria o uso de uma música para o aprendizado de uma LE? ( ) gramática ( ) pronúncia de palavras ( ) vocabulário ( ) tradução Lê-se Língua Estrangeira para LE e livro didático para LD. 42 Apêndice II Name .......................................................................... No........ 1ª. ........ ......../......../07 1) LISTEN TO THE MUSIC AND PUT THE SENTENCES IN ORDER: TAKE MY BREATH AWAY – BERLIN ( ( ( ( ( ( ( ( ) FINALLY LOVER’S KNOW NO SHAME ) WATCHING IN SLOW MOTION ) WATCHING EVERY MOTION ) ON THIS ENDLESS OCEAN ) IN MY FOOLISH LOVER’S GAME ) TO SOME SECRET PLACE INSIDE ) AS YOU TURN AROUND AND SAY ) TURNING AND RETURNING TAKE MY BREATH AWAY - TAKE MY BREATH AWAY ( ( ( ( ( ( ( ( ) AS YOU TURN TO ME AND SAY ) WATCHING I KEEP WAITING ) TO BECOME THE FATED ONES ) NEVER HESITATING ) TO SOME SECRET PLACE TO HIDE ) STILL ANTICIPATING LOVE ) WATCHING IN SLOW MOTION ) TURNING AND RETURNING TAKE MY BREATH AWAY - TAKE MY BREATH AWAY ( ( ( ( ( ( ) AND TURNED TO HEAR YOU SAY ) WHEN THE MIRROR CRASHED I CALLED YOU ) I AM UNAFRAID ) THROUGH THE HOURGLASS I SAW YOU ) IN TIME YOU SLIPPED AWAY ) IF ONLY FOR TODAY TAKE MY BREATH AWAY ( ( ( ( ( ( ( ( - ) SOMEWHERE THERE’S A LOVE IN FLAMES ) TO SOME SECRET PLACE INSIDE ) HUNTED BY THE MOTION ) WATCHING EVERY MOTION ) AS YOU TURN MY WAY AND SAY ) TURNING AND RETURNING ) IN THIS FOOLISH LOVER’S GAME ) WATCHING IN SLOW MOTION TAKE MY BREATH AWAY