Os microorganismos do dia a dia São 7:00h da manhã de segunda feira, dia 16/04: toca o despertador. Acordo com um pouco de sono - vou ao banheiro. Será que tem mais alguém comigo aqui? Possivelmente sim. Maçaneta de porta, torneira, vasos sanitário, descarga, chão e a parede devem estar repletos de microorganismos, muitos que eu mesmo deixei aqui anteriormente. Escovo os dentes tranquilamente. Mas pera aí: por que escovar os dentes? Ah, claro, para evitar as cáries. Mas o que são cáries? uma doença causada por bactérias, como Streptococcus mutans. A cárie tem início quando a bactéria se fixa sobre a superfície que protege o dente (o esmalte, formado por proteínas e minerais de cálcio e fosfato) e usa restos de alimentos presentes na boca para obter energia e crescer, formando placas dentárias. Ao usar açucar para crescer a bactéria produz ácido láctico, aumentando a acidez na superfície do dente, levando à desmineralização do esmalte e à formação de pequenas cavidades que são invadidas pelas bactérias. Bom, pela escovação além de tirar as bactérias que causam a cárie, outros microorganismos e restos de alimento ainda há o flúor que fortalece o esmalte do dente. Ok, então vou ao chuveiro tomar banho. Lá, usando o sabonete, retiro o excesso de pele morta e bactérias que vivem na superfície externa do meu corpo, a grande maioria sem provocar nenhum malefício. Saio do banho e passo desodorante. Mas por quê? Bom, nesse dia quente o suor produzido em excesso, se permanecer por muito tempo junto ao corpo, pode sofrer alterações no odor decorrentes da ação de bactérias e fungos sobre os seus componentes. O desodorante evita isso. Certo, vou tomar café: leite, pão e margarina. Será que isso tem alguma coisa a ver com microorganismos? Bom, o leite enquanto fechado está livre de microorganismos pois foi aquecido em uma temperatura muito alta antes de ser embalado. O pão, que antes de cozido era uma massa mole, aumentou de volume devido ao fermento. A maioria dos fermentos são fungos (leveduras) que, na ausência de oxigênio, fermentam produzindo gás carbônico que ocasiona aqueles buraquinhos entre a massa cozida. Preparo meu café e guardo tudo na geladeira. Mas, pera aí, porque botar na geladeira? Todos esses alimentos estão cheios de microorganismos e essa comida pode ser utilizada por eles para crescer, liberando substâncias que não são nada agradáveis ao nosso paladar (apodrecendo a comida). A geladeira mantém os alimentos resfriados e diminui a proliferação das bactérias e fungos, mantendo a comida viável por mais tempo. Dirijo-me ao Lauffer. Chego lá, encontro os alunos e temos uma aula sobre classificação biológica. Saio da Lauffer e pego o ônibus para ir ao trabalho. O ônibus, da Carris, está com os vidros fechados e o ar condicionado ligado: imagina quantos microorganismos que todas as pessoas trazem da rua não se concentram nesse espaço! Mais tarde chega a hora do almoço: carne, salada e feijão. A salada, composta por muitos vegetais, só se desenvolveu porque no solo onde foi colhida diversos microorganismos disponibilizaram nutrientes oriundos da decomposição de outras formas de vida daquele ambiente. Ok, me alimento da salada (e o feijão, que também é um vegetal) e obtenho os nutrientes que os microorganismos disponibilizaram para essas plantas. E a carne? É bem cozida para eliminar possíveis organismos que se concentram nela. Quando mastigo todos esses alimentos minha saliva possui substâncias que auxiliam no controle de bactérias que possivelmente estavam junto do alimento. A comida após passar no estômago acessa o intestino, onde vivem muitas bactérias que ajudam a degradar esse alimento, liberando alguns nutrientes que posso utilizar. Além disso, essas bactérias simbiontes (relação mutuamente benéfica entre dois organismos de espécies diferentes) previnem, por competição, que bactérias infecciosas do alimento proliferem no meu corpo. Ah, quase me esqueço da água que bebi: vinda do guaíba (que é bem sujo e tem esgoto de toda Porto Alegre), ela passou por inúmeros processos no DMAE, entre eles através de diversas bactérias a degradação de matéria orgânica presente no lago. Volto para casa no final da tarde. De noite vou dormir e a temperatura do ambiente está baixa. Acordo pela manhã com uma dor de garganta. Por quê essa dor? A temperatura mais baixa do meu corpo facilita as infecções, inchando minhas amigdalas. Mas o que são amigdalas? são massas de tecido esponjoso linfóide, localizadas na parte de trás da garganta, na entrada das vias respiratórias. Elas agem como filtros, ajudando a prevenir que infecções da garganta, boca e seios da face se espalhem para o resto do corpo. É, parece que meu dia seria muito diferente se os microorganismos não vivessem junto comigo. Muitas atividades que não descrevo aqui também têm microorganismos envolvidos, várias delas eu nem reparo. Minha vida é pautada por muitas coisas que nem enxergo! Parece que eu sou mais dependente deles que eles de mim. E você, já pensou nisso alguma vez?