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Junho 2009
A base química do aroma:
origem e evolução dos
compostos responsáveis pelos
aromas do vinho
Xavier Arioli
Diferentes compostos para
Diferentes perfis aromáticos
A importância de melhor
compreender os fenómenos em jogo
Vinho 3
Caracterizado
por notas de
buxo fresco
Vinho 4
Caracterizado
por notas de
citrinos
Sources: King et al. 2008 extrait du cahier Lallemand n°16 «Sulphur compounds, production and sensory
impact on wine»
Três questões para melhor
compreender este tema:
Quais são os compostos aromáticos dos
vinhos ?
Qual a sua origem e qual a sua
evolução?
Quais são os mecanismos que regulam
a sua percepção pelo provador?
Mais comment procéder pour «ranger»
les composés aromatiques ?
Abordagem em função da
sua natureza química:
álcoois, aldeídos,
ésteres…
Abordagem em função do
seu impacto aromático:
notas de morango, de
baunilha, de rosa…
Abordagem em função da
sua evolução desde a
vindima até ao consumo do
vinho:
Moléculas da uva que
permanecem intactas ou
que sofrem
transformações…
Abordagem em função da
sua origem: compostos
varietais, compostos
fermentativos, compostos
ligados à maturação do
vinho…
Abordagem em função da origem
dos constituintes do aroma
Compostos primários da uva
Compostos secundários da uva
Compostos fermentativos (fermentação
alcoólica e fermentação maloláctica)
Compostos ligados à conservação do
vinho
Parte 1 : os compostos
primários da uva
ou compostos formados no
interior das células da uva
Duas grandes familias de compostos
volátéis da casta
As metoxipirazinas
Os terpenos
Aromas típicos do
Cabernet Sauvignon
Aromas típicos dos
moscatéis e de outras
castas aromáticas
como Gewürstraminer
• IBMP
• IPMP
• 2-metoxi-3-S-butilpirazina
• linalol
• geraniol
A molécula mais conhecida da
familia das pirazinas: a 3-isobutil
-2-metoxipirazina
Fórmula semi-desenvolvida
N
R =CH2CH(CH3)2
N
OCH3
Segundo « Traité d’Œnologie », Dunod T2
IBMP é reponsável por notas herbáceas,
mas também conhecida como indicador
de qualidade
Aroma de pimento verde
Limiar de detecção:
2 a 8 ng/L vinhos brancos
2 a 16 ng/L vinhos tintos
Indicador da maturação das uvas
Os terpenos associados a
aromas florais
Típicos de algumas castas (moscatel de
Alexandria,…)
Várias moléculas envolvidas
Diversas origens possíveis
Possibilidade de modular a
presença de terpenos nos vinhos
Na vinha, através das práticas culturais
Utilizando leveduras que revelem estes
aromas
Utilizando actividades enzimáticas
exógenas
Parte 2 : os compostos
secundários das uvas
ou compostos da uva modificados de
acordo com protocolo de vinificação
Álcoois e aldeídos com 6 átomos de
carbono responsáveis pelas notas
herbáceas
Exemplo : o hexanol
H
H
H
H
H
H
OH
C
C
C
C
C
C
H
H
H
H
H
H
Segundo « Traité d’Œnologie », Dunod T2
H
Os aromas herbáceos
originados pela trituração
Aromas de folhas
triturada, de erva cortada
Compostos responsáveis:
hexanol,…
Limiar de detectção de
apenas algumas µg/L
Conferem igualmente
sensações amargas
Formação dos compostos em
C6 por via enzimática
Lípidos membranares
Acil hydrolase
Ácido linolénico
C18:2 9-LOOH
Lipoxigenase
C18:2 13-LOOH
Ácido linoleico
C18:3 13-LOOH
C18:3 9-LOOH
Enzima de clivagem dos hidroperóxidos
Hexanal
(E)-Hex-2-enal
(Z)-Hex-3-enal
Álcool desidrogenase
Hexanol
CH3-(CH2)4-CH2OH
(E)-Hex-2-ene-1-ol (Z)-Hex-3-ene-1-ol
(Valentin G., 1993)
Papel dos precursores
aromáticos: o exemplo dos
precursores glicosilados
Açúcar
Açúcar
Açúcar
Precursor glicosilado (tipo
terpenos, norisoprenoides em
C13, …) presentes na uva
aglicona
Corte da ligação entre a
aglicona e o(s) açúcar(es)
Molécula
odorífera
Susceptível de contribuir para
o perfil do vinho, consoante o
seu teor
Exemplos de norisoprenóides
Composto
Limiar
Descritor
β-damascenona
50 ng/L
Framboesa
β -ionona
?
Violeta
TDN
20 µg/L
Hidrocarboneto
Importância dos tióis varietais na
expressão do carácter frutado e
vegetal
Composto
Origem
Descritores
Limiar
O
SH
Buxo
Cassis
Xixi de gato
4-methyl-4-mercaptopentan-2-one
SH
0,6 ng/L
(mais baixo
que o TCA)
OH
Fruitos tropicais
Maracujá
Manga
3-mercaptohexanol
SH
60 ng/L
O
O
3-mercaptohexyl acetate
a partir
do 3MH
Vegetal e frutado
(nota
intermediária)
4 ng/L
Parte 3 : os compostos
fermentativos
ou compostos formados pelas leveduras
fermentativas e as bactérias lácticas.
Produção de compostos aromáticos pela levedura apartir de
açúcares, aminoácidos e do metabolismo do enxofre
Glicerol
Açúcares
Diacetilo
Açúcares
Diacetilo
Ácidos
aminés
Glicerol
Etanal
Etanal
Acido
acético
Etanol
Mono
terpenos
Piruvato
α-Acetolactato
Acetil CoA
Ciclo ácidos
tricarboxílicos
Ácido gordo
CoA
Ésteres
Ácido
acético
Aminoácidos
Glico-conjugados
Cisteínaconjugados
Polifenóis
H2S
Proteínas da
levedura
Cetoácidos
Compostos
aromáticos
Aldeídos
Ácidos
gordos
Etanol
Sulfato
Sulfito
Cetoácidos
Alcools
supérieur
s
Aldeídos
Álcoois
superiores
Mono
terpenos
Ácidos
gordos
Ésteres
Ácido
succínico
Segundo Hentie Swiegers
et coll., AWRI 2005
Papel da levedura na formação ou
desenvolvimento de diferentes notas
aromáticas
METABOLISMO
DOS AÇÚCARES
Álcoois superiores
Ácidos gordos
Ésteres
Comp. carbonílicos
Comp. de enxofre
METABOLISMO
DOS
COMPOSTOS
AZOTADOS
Álcoois superiores
Ésteres
H2S
Tióis
Monoterpenos
INTERACÇÃO
COM OS
PRECURSORES
Composés
glicosilados
(monoterpenos e
norisoprenoides)
S-conjugados à
cisteína
Formação de acetato de etilo e de acetato de isoamilo
pelas leveduras fermentativas
Glicólise
Piruvato
Acetaldeído
α-Acetolactato
Acetato
Etanol
Acetato de
etilo
Acetatill-CoA
Coenzima A
Acetato de
isoamilo
Coenzima A
Isoamyl alcool
α-ceto-isovalerato
Coenzima A
Isovaleraldeído
α-ceto-isovalerato
L-leucina
Segundo Hentie Swiegers
et coll., AWRI 2005
Síntese de ésteres pela levedura
Saccharomyces cerevisiae
Acetatos de álcoois
superiores
Acetato de isoamilo
Acetato de hexilo
Acetato de isobutilo
Acetato de feniletilo
Ésteres etílicos de ácidos
gordos
Butirato de etilo
Hexanoato de etilo
Octanoato de etilo
Decanoato de etilo
Responsáveis por notas do tipo « frutado »
Compostos instáveis ao longo do tempo
Biosíntese dos álcoois superiores pela
levedura em vinificação
β-carboxi-βα -carboxi-βhidroxi(NADP+)
hidroxiisocaproato +
isocaproato
CoA
Acetil CoA
Ciclo dos
ATC
Glicólise
valina
COOH
+/-NH3
C=O
COOH
aspartato
α-acetolactato
CH3
pyruvate
+/-NH3
n-propanaldeído
+ CO2
(NAD+)
CH2OH
CH2
CH3
n-propil-álcool
α,β –dihidroxi
isovalerato
leucina
H2C CH3
α-cetoisovalérato
TPP-C2
treonina
COOH
C=O
CH
C=O
homoserina
H3
+/-N
α-acetohidroxibutirato
C=O
COOH
α,β –dihidroxi β
– metil valerato
+/-NH3
CH
CH3
H3C CH3
α-ceto-β-metil
valerato
HOOC NH3
CH2
CH
CH2OH
α-aminobutirato
)
(NAD+
CH3
CH3
(NAD+)
CH2OH
isoleucina
CH2
β–
metilbutiraldeído
+CO2
CH
H2C
CO2 + isovaleraldeído
Álcool
isobutílico
H2C CH3
+/-N
H3
CH3
CH3 α-cetobutirato
CH3
αcetoisocaproato
C=O
CH
CH2
CH
H3C
CH2OH
COOH
CH2
Isobutiraldeído +
CO2
Álcool amílico
activo
CH
H3C
CH3
Álcool
isoamílico
Segundo Hentie Swiegers
et coll., AWRI 2005
Síntese de compostos de enxofre pela
levedura ao longo da FA
Lista de alguns compostos de enxofre « leves » envolvidos nos
aromas de redução
COMPOSTO
Limiar de
percepção
Sulfureto de carbonilo
Descritores
[ ] vinho
normal
µg/L
[ ] vinho
reduzido
µg/L
Ponto de
ebulição
etéreo
0,4
0,7
-50
Sulfureto de
hidrogénio
0,8
Ovos podres
0,3
16,3
-61
Metanotiol
0,3
croupi
0,7
5,1
6
Etanotiol
0,1
cebola
0
10,8
35
Sulfureto de dimetilo
5
marmelo,
trufa
1,4
2
35
Goma
elástica
1,7
2,4
46
.
Dissulfureto de
carbono
D ’après Ribéreau-Gayon et al., 1998
Caso particular do metionol: atenção
aos teores mais elevados
Aromas de couve-flor e
batata
Composto responsável:
3-metiltiopropanol
Limiar de percepção:
1200 µg/L
Responsável, igualmente,
por sensações amargas
Aromas fermentativos do tipo
láctico: moléculas, aromas,
limiares
Diacetilo
Lactato
de etilo
Acetoína
AROMA
Manteiga,
avelã
Leite
azedo
LIMIAR DE
IDENTIFICAÇÃO
(mg/L)
1
150
COMPOSTO
* Dados Intelli’oeno
Butanodiol
Pentanediona
Manteiga,
caramelo
Vegetal
Manteiga,
caramelo
20-200*
500-1000*
1 à >10*
Parte 4 : os compostos ligados à
conservação do vinho
ou compostos ligados às condições e
duração da maturação do vinho
Os compostos extractíveis da madeira
responsáveis por diversas notas aromáticas
whiskylactonas
Cis β-metiloctolactona
Trans β-metiloctolactona
Notas
aromáticas:
Coco
Fenóis
voláteis
Guaiacol
Eugenol
Cresois
2,6-dimetoxifenol
Etc
Notas
aromáticas:
Fumado,
cravinho,…
Compostos
«baunilhados»
Vanilina
Acetovanilina
Vanilato de
metilo
Vanilato de etilo
Notas
aromáticas:
baunilha
Furfuriltiol
Furfuriltiol
Notas
aromáticas:
Café, pão
torrado,
« tostado »
Evolução oxidativa dos vinhos:
um fenómeno inevitável
ACETALDEÍDO
SOTOLON
METIONAL
FENILACETALDEÍDO
AMINOCETOFENONA
Exemplo do sotolon, uma molécula
indicadora da evolução oxidativa
Encontrado em grande quantidade em vinhos elaborados com
leveduras de véu, o sotolon é, por exemplo, encontrado nos velhos
vinhos de Champagne
Odor : caril, noz verde
Limiar de percepção : 20µg/L
Mecanismo de formação :
Metabolismo das leveduras de véu em vinho
jovem, Xerez (leveduras do tipo
Saccharomyces)
Outro exemplo: o fenilacetaldeído
Odor : marmelo, mel, flores mortas,…
Limiar de percepção : 100 µg/L
Mecanismo de formação : a priori oxidação do
fenil-2-etanol (molécula fermentativa bem conhecida
– produzida pelas leveduras criófilas – aroma de rosa
que contribui para a fineza aromática)
Parte 5 : o caso particular das
contaminações, desvios e
poluições
Exemplo da contaminação das uvas:
GMT e ACP
COMPOSTO
o-cresol
(µg/L)
1-octeno-3ona (ng/L)
Geosmina
(ng/L)
MIB (ng/L)
IPMP
(ng/L)
Terroso,
Beterraba
vermelha
Terroso,
bolor
Terroso,
vegetal
30-60**
30**
2
ODOR
iodo
Cogumelo
fresco
LIMITE DE
IDENTIFICAÇÃO
50-500*
20-50*
* Dados Intelli’oeno
** Algumas pessoas são anósmicas
Exemplo de desvio em vinho: os
compostos produzidos pelas leveduras
Brettanomyces
Ácido p-cumárico
Ácido ferrúlico
Ácido caféico
Mas também:
4-vinil-fenol
4-vinil-guaiacol 4-vinil-catecol
4-etil-fenol
4-etil-guaiacol
4-etil-catecol
Ácido acético
Acetato de etilo
Ácidos gordos
de cadeia curta
Exemplo de poluição: os gostos
de plástico
O estireno é conhecido há muito tempo
Novas moléculas impactantes – o 2,6 –
diclorofenol (2,6-DCP) e o 6-cloro-o-cresol
(6CC)
Casos particulares do indol
Parte 6 : mecanismos da
percepção do aroma do vinho
Classificação dos aromas
realmente activos
Compostos da base aromática (tampão)
1.
–
Compostos impacto ou muito activos
2.
–
Que transmitem os seus aromas específicos ou características
a certos vinhos
Familias ou grupos de compostos impacto
3.
–
Podem transmitir as notas características da sua “família”
Compostos ou famílias ditas subtis
4.
–
5.
Percebidos como uma unidade global difícil de romper
Contribuem como seu aroma a para uma nota aromática
Defeitos ou desvios
Segundo Vicente Ferreira, Laboratório de Análise do Aroma e de Enologia
(Departamento de Química Analítica, Universidade de Saragoça)
Reveladores e amplificadores
do perfil frutado dos vinhos
Mistura de
ésteres
frutados
Em água
Em solução
hidroalcoólica
Em vinho
Efeito
0
Aroma de
maçã
+++
Nota
frutada
+
“A
cador
i
f
i
l
p
m
1”
“Amplificador 2”
Efeito
0
“Amplificador 3”
Frutos do
bosque
++
Cereja,
uva passa
++
Frutos do
bosque
++
Seis moléculas têm a capacidade de desempenhar este papel: a βdamascenona, a β-ionona, o DMS, o furaneol, o homofuraneol e o
metional
Segundo Escudero et al, 2007 (J. Agric. Food Chem.)
Parte 6 : Influência dos parâmetros
viticolas e enológicos sobre o perfil
aromático do vinho
Importancia da casta sobre o
perfil aromático
Influência directa devido aos aromas
varietais
Diferenciação varietal através dos
precursores aromáticos
Incidência da composição das uvas em
aminoácidos e ácidos gordos
Variabilidade das quantidades de
precursores aromáticos de acordo com
a casta
Fontes: Hernanez-Orte et coll. 2008. WAC 2008, « Aroma compounsed released from glycosidic precursors present in vine
leaves from spanish cultivars »
Incidência das operações pré-fermentativas
sobre a qualidade olfactiva do vinho
2500
2000
1500
Metionol
(µg/L)
1000
500
0
50
100
150
200
250
Turbidez (NTU)
Segundo V. Lavigne, Faculté d’œnologie de Bordeaux
Condições de síntese dos acetatos e dos
ésteres etílicos de ácidos gordos na levedura
Levedura
Utilização de
estirpes
específicas
Condições de
fermentação
Protocolo
tecnológico
- Anaérobiose
- Manutenção de
uma temperatura
baixa e estável
- Adição moderada
de fosfato de
diamónio
- Escolha da casta
- Boa maturação
- Clarificação
(turbidez < 200 NTU)
- MP
- Cuvaison curta
- Maceração
carbónica
Favorecer a expressão
aromática dos tióis varietais
1. Aumentar a
riqueza dos
precursores nas
uvas
2. Modular a
extracção dos
precursores no
mosto
Notas
típicas
3. Melhorar a
transformação
em aromas ao
longo da FA
4. Preservar a
conservação dos
tióis varietais
Conferir o carácter
«amanteigado» através da
gestão do diacetilo
PROCURA DE NOTAS AMANTEIGADAS (Chardonnay
barrica):
– Estirpe de bactérias citrato +
– Favorecer a multiplicação bacteriana (inoculação tipo
« Champagne », pé-de-cuba)
– FML a baixa temepratura
– Filtração após o final da FML, maturação das borras à parte,
reincorporação final do vinho de borras maturadas (sem as
paredes de levedura - filtação)
PROCURA DE NOTAS FRUTADAS :
–
–
–
–
Estirpe de bactérias citrato FML inoculada com bastante biomassa (directa) e estirpe citrato FML mais rápida (22-23°C)
Estágio sobre borras finas (as borras adsorvem o diacetilo)
Factores que influenciam a riqueza do
vinho em compostos extractíveis da
madeira
Quatro parâmetros particularmente importantes
Origem botânica
Origem geográfica
Tratamentos prévios da madeira
As condições de utilização
Conclusões para as 3 questões
iniciais:
Quais são os compostos aromáticos dos vinhos ?
São bastante numerosos, e novos conhecimentos são
obtidos a cada dia (exemplo: rotundona)
Qual a sua origem e qual a sua evolução?
Origem diversas e evoluções múltiplas. Apesar de tudo, os
avanços sobre este tema são numerosos e permitem já
conhecer numerosos fenómenos.
Quais são os mecanismos que regulam a sua percepção pelo
provador?
Impacto variável das diversas moléculas. Interacções
múltiplas. Compreensão dos fenómenos fisiológicos.
Necessidade de treino regular.
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