1 Título: Recidiva da Sobremordida Profunda/ Deep Bite Relapse

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Título: Recidiva da Sobremordida Profunda/ Deep Bite Relapse
Alexandre Zanesco; Luis Roberto Lima Rodrigues; Paulo Sergio Kozara;
Ricardo Colombo Penteado; Mario Cappellette Jr.
Resumo:
O Tratamento ortodôntico tem por objetivo melhorar o aspecto da face
e dos dentes para determinar uma estabilidade da função oclusal, afim a
conduzir a uma situação satisfatória do equilíbrio funcional, estrutural e
estético. O aumento trespasse vertical dos dentes superiores em relação aos
incisivos inferiores é grande preocupação e também é considerada é um
problema de difícil solução diante do tratamento. Sendo assim, com base nos
dados obtidos na literatura concluiu-se que a recidiva da sobremordida
mostrou-se fortemente relacionada ao fator etiológico. Portanto, os fatores
dentários
mostraram
uma
grande
contribuição
na
recorrência
da
sobremordida profunda em relação aos fatores esqueléticos.
Abstract:
The Orthodontic treatment aims to improve the appearance of the face
and teeth to determine the stability of occlusal function in order to lead to a
satisfactory situation to balance functional, structural and aesthetic. Increased
overbite of the upper teeth in relation to the lower incisors is also great
concern and is considered a difficult problem before the treatment. Therefore,
based on data from the literature concluded that the overbite relapse showed
strongly related to the etiological factor. Therefore, the dental factors showed
2
a large contribution to the recurrence of deep overbite in relation to skeletal
factors.
Descritores: Recidiva, Sobremordida, Estabilidade em Dentadura
INTRODUÇÃO
De acordo com alguns autores1, 2, a Ortodontia tem por objetivo
melhorar o aspecto da face, dos dentes e assegurar uma estabilidade da
função oclusal, a fim conduzir a uma situação satisfatória do equilíbrio
funcional, estrutural e estético.
O aumento do trespasse vertical dos dentes superiores em relação
aos inferiores é considerado uma má oclusão de grande preocupação uma
vez que sua correção é um problema de grande dificuldade diante da terapia
ortodôntica3-5. Esta má oclusão pode desencadear problemas como
recessões gengivais, mobilidade dos dentes, interferência severa nos
movimentos
excursivos
da
mandíbula
e
problemas
de
articulação
temporomandibular6, 7.
A contenção e a estabilidade da oclusão pós-tratamento ortodôntico a
longo prazo sempre ocupou a atenção dos ortodontistas 8. Diante da
sobremordida profunda, a recidiva é amplamente discutida e existe uma
grande divergência quanto aos fatores envolvidos nessa má oclusão. Até
hoje, estudos relacionados com as características nas mudanças prétratamento da sobremordida não são conclusivas9.
3
Desta forma, o objetivo do nosso trabalho bibliográfico, é investigar e
compreender os fatores dentários e esqueléticos entre outros, que podem
estar envolvidos na recidiva da sobremordida profunda.
DISCUSSÃO
A sobremordida profunda é uma característica comum de muitas más
oclusões que pode ser causada pela inclinação lingual dos incisivos,
sobreerupção dos incisivos superiores ou inferiores, ou ainda por uma
combinação de ambos. Uma complexidade de fatores pode estar relacionada
ao desenvolvimento da sobremordida profunda bem como a recidiva dessa
má oclusão.
Um dos grandes desafios na Ortodontia é conseguir a estabilidade da
oclusão a longo prazo após o tratamento ortodôntico8, 10. Entretanto, é visível
um número de casos que apresentam mudanças nos relacionamentos
dentais após a conclusão do tratamento e que não indicam necessariamente
recidivas. Apesar da tendência para que muitas variáveis retornem para sua
dimensão pré-tratamento, uma determinada quantidade de mudança do póstratamento é aceitável e é freqüentemente desejável para permitir a
estabilidade da oclusão e o estabelecimento da relação incisal adequada.
Entretanto a recidiva da sobremordida profunda é um problema que vem
sendo amplamente discutido9, 11.
4
A estabilidade dos incisivos inferiores tem sido por muitos autores
considerado como o responsável pelo sucesso do tratamento ortodôntico9, 1214
.
Tem-se ainda sugerido a contenção permanente ou definitiva como
solução para o problema da instabilidade da correção da sobremordida
profunda15. Entretanto, deve-se levar em conta os outros diversos fatores
envolvidos com a recidiva da sobremordida profunda.
Outro fator que pode estar envolvido com a recidiva é a reação do
tecido do pós-tratamento incluindo a intercuspidação dental, função dos
músculos, “stress” oclusal e em especial a contração de estruturas fibrosas
deslocadas16.
Acredita-se que o ângulo interincisivos possa desempenhar um papel
importante na estabilidade da correção da sobremordida profunda. Um
ângulo interincisivos com valor alto no final do tratamento pode relacionar-se
com a recidiva da sobremordida profunda. De acordo com RIEDEL12 em
1960, as inclinações axiais dos incisivos e a sobremordida profunda não
mudaram significativamente, durante o período do pós-tratamento. Isso
sugere que boas inclinações axiais dos dentes no final do tratamento podem
ser um fator na estabilidade do resultado final.
Outros fatores, como os dentários e esqueléticos podem também estar
envolvidos na recidiva da sobremordida profunda. As alterações no ângulo
interincisivos são citados por diversos autores12,
13, 17
e relatam ter obtido
estabilidade dos casos tratados que apresentavam sobremordida profunda
5
corrigidas por meio da utilização de fios retangulares durante o tratamento e
com isso, obtendo assim o controle da inclinação axial dos incisivos.
Portanto para o sucesso do tratamento das más oclusões verticais, é
importante o clínico ter uma boa compreensão dos fatores etiológicos que
conduzem ao desenvolvimento destas más oclusões. Os processos do
crescimento associados com estas más oclusões devem ser compreendidos
assim como a função normal e anormal dos tecidos moles, isto é, o lábio e a
língua, a fim de diagnosticar e planejar com sucesso o tratamento para estes
pacientes18.
A relação da recidiva da sobremordida profunda com indivíduos de
Classe I e II de acordo com alguns autores19,
20
não possui diferenças
significantes.
Diante da extração diversos estudos15,
20,
21
não encontraram
evidências no relacionamento entre a recidiva com a extração dentária. Já
HERNANDEZ em 1969, relata em seu trabalho que a recidiva nos casos com
extração é mais evidente quando comparado com os casos sem extração.
Os dentes e as estruturas de suporte apresentam uma tendência
natural de se moverem na direção da má oclusão inicial. Sendo assim, as
alterações na largura e no comprimento do arco dentário durante o
tratamento propicia uma forte tendência de retorno às dimensões iniciais no
período pós-contenção12, 22.
Desta forma, o protocolo para o tratamento do arco inferior deve ser
mantido o máximo possível, pois a alteração da largura intercaninos do arco
inferior é mais pré-disposta à recidiva promovendo assim diminuições no seu
6
comprimento. A projeção para vestibular dos incisivos inferiores deve ser
considerada como uma situação de provável recidiva. De acordo com o autor
existem
diversos
fatores
que
contribuem
para
a
instabilidade
da
sobremordida profunda como a situação periodontal, o crescimento e o
equilíbrio muscular23.
Diante do padrão facial do indivíduo, vários autores relatam que
indivíduos que possuem um tipo facial curto (braquifacial) estão mais
propensos à recidiva da sobremordida profunda e uma maior tendêndia à
diminuição da distância intercaninos24. Quando comparado entre os sexos,
NANDA25 relata que os indivíduos com tendência de crescimento vertical
possuíam o surto de crescimento puberal mais adiantando que os outros
grupos, portanto, a implicação clínica destas observações devem ser
relevadas para o período de contenção e a predição da situação oclusal do
indivíduo durante a dentadura mista.
Apesar de ocorrer pequenas alterações durante o crescimento e
desenvolvimento, uma vez estabelecido o padrão facial, a sua manutenção e
constância são a regra. Os pacientes com padrão de face curta acentuada,
com sobremordida profunda, apresentam um ritmo de crescimento do terço
ântero-superior maior que o inferior, mantendo ou acentuando as proporções
faciais e a má oclusão, tornando-se mais evidentes durante o surto de
crescimento puberal26.
Na tentativa de compreender melhor a natureza multidimensional que
ocorre no esqueleto, vários autores realizaram experimentos e verificaram
que a variação do trespasse vertical provavelmente coincide com um relativo
7
hiper ou hipodivergismo dos planos cefalométricos. Relata-se também, que
os planos são diretamente influenciados pelo centro de rotação da
mandíbula27, desenvolvimento da sínfise28, a altura facial anterior inferior e
posterior inferior, a inclinação da sínfise e a altura do processo mentoniano 27.
De acordo com SADOWSKY6, as mudanças em relacionamentos
dentais muitos anos após a conclusão do tratamento seriam na maior parte o
aumento na sobremordida, o apinhamento anterior inferior e o aumento da
sobressaliência.
A intrusão de incisivos em crianças e adultos que possuem
sobremordida profunda relacionado à idade e o tipo facial com a quantidade
de intrusão não impedem a mecânica dos mesmos29. Nesta fase etária podese considerar que na época da esfoliação dos dentes decíduos existem sinais
que indicam as mudanças na sobremordida profunda em diferentes idades,
decorrente da esfoliação e erupção dos dentes7. Diante desta mecânica
pode-se dizer que a recidiva da sobremordida não tem relação com a
quantidade de extrusão de molares durante o tratamento 10.
Em indivíduos que possuem uma rotação anterior da mandíbula, a
recidiva na região incisivo inferior é relacionada, ligeiramente, com o
aprofundamento do relacionamento vertical do incisivo e a uma redução na
largura intercaninos30. Esta rotação anterior da mandíbula é um resultado do
crescimento maior na região dos côndilos31 e apesar de não ter sido
comprovado estatisticamente14, pode comprometer a estabilidade da
sobremordida profunda8.
8
Para
o
dimorfismo
sexual,
não
são
encontradas
evidências
científicas32 que exista alguma relação, mas sabe-se que quando tratados
indivíduos com crescimento pode favorecer a correção da sobremordida
profunda, e posteriormente, um resultado mais estável25.
De
acordo
com
KAWAUCHI
et
al9,
os
fatores
dentários
correlacionados com a recidiva da sobremordida profunda podem ser a
sobressaliência, a movimentação dos incisivos e dos molares e o ângulo
interincisivos. Diante dos os fatores esqueléticos, somente uma correlação
estatisticamente significante e variável a altura facial anterior total e uma forte
correlação da quantidade da correção com a quantidade da recidiva.
CONCLUSÃO
Assim, com base nas informações obtidas na literatura concluímos que
a recidiva da sobremordida profunda mostrou-se diretamente relacionada ao
padrão facial e a instabilidade da oclusão. Sendo assim, os fatores dentários
mostraram uma grande contribuição na recidiva da má oclusão em relação
aos fatores ósseos, exigindo assim diagnóstico preciso com um plano de
tratamento refinado considerando as possíveis variáveis do pós-tratamento.
9
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