a história da igreja primitiva e antiga

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A HISTÓRIA DA IGREJA PRIMITIVA E ANTIGA
Karl Josef Romer – 2014
Tema 10
V. Após o Império Romano, a Igreja na (trans)formação da Europa I
(cf. K. Christ5, Imperium Romanum, in: LThK² V,635-638; H. Jedin, Concilios
ecumênicos, 37s.)
1) O fim do Império Romano
Fundada pelo ano 753 a. Cr., Roma tinha-se expandido pelas regiões da
Itália; a partir de 227 a.Cr. foram incluídas as Ilhas vizinhas (Sicília, Sardenha,
Córsega) e já bem cedo expandiu-se pelos países do Norte, do Leste e Oeste. Já
antes de Cristo, praticamente toda a Europa era romana, inclusive toda a (costa
norte da) África. Cícero já identifica o Império Romano com o “orbis terrarum”
(universalidade da terra) (CIC. Mur. 22). A Inglaterra (Britannia) entrou no
império só no ano 43 d. Cr.; a Arábia, em 106; a Mesopotâmia, em 115.
No tempo de Augustus (31 a. Cr. – 14 d. Cr.), o Império passa por grande
reforma (reorganização) e estabelece-se o tempo da paz “universal”, a PAX
ROMANA. No ano 12 a. Cr. Augusto é declarado também “Pontifex Maximus”.
É neste tempo admirável que o mundo viu o espetáculo das inimagináveis
distâncias integradas num único império, o rico mosaico de línguas unidas sob a
única língua (oficial), o latim, povos, culturas e tradições convivendo sob uma
única suprema autoridade, a do Imperador.
No Oriente já havia tendências de se divinizar o Imperador. Na realidade,
Augustus era “apenas” “divi filius” (homem, mas Filho da divindade). Mas o
culto imperial foi oficialmente introduzido em 12 a. Cr. (a divindade do
Imperador, ao lado da Deusa ROMA). O poder e o peso das grandes cidades, no
entanto, era ainda muito grande, contrapondo-se – relativamente – ao
absolutismo do Imperador.
Todo o Império tinha, calcula-se, uns 16.000 km de fronteiras, das quais
1.600 km eram protegidos por “limes” (diques, trincheiras) ou por muros; 3.000
km eram protegidos por pontos de apoio (militares) móveis. As legiões, que
protegiam as fronteiras, eram um fator de desenvolvimento das regiões
longínquas. De 235 a 285 os Imperadores eram militares. A concentração
(militar) do governo era tanto mais urgente diante das crescentes pressões de fora
(Germânia,
Arábia,
nômades
africanos).
Também
as
pressões
internas
aumentavam: camponeses, escravos, artesãos, grandes negociantes. Diocleciano 1
introduz a tetrarquia, mas será de pouca duração. – O politeísmo já tinha perdido
a simpatia do povo. Muitos se sensibilizavam pelas influências do Oriente
(religiões mistéricas) e pela pureza do cristianismo. Esta situação de divergências
e novos interesses encontrados por Constantino (306-337), já não podia mais ser
mudada em toda a sua radicalidade pelo cristianismo. De fato, Constantino
sonhava com uma nova unidade do Império, vendo no cristianismo a única força
verdadeiramente unificadora2.
A Igreja, sem pretensão política de garantir a unidade de todos esses
povos, trouxe de fato uma nova, mas outra, unidade: humana e divina, a
dignidade de todo ser humano e a transcendência (e encarnação) do Deus único.
Pelo ano 395 foi dividido, definitivamente, o Império em Oriente (com
Constantinopla – Bizâncio como centro) e Ocidente (com Roma). O Oriente
fortificou-se pelo poder cultural (e religioso) de Bizâncio. O Ocidente já não
sabia resistir às forças centrífugas (os Bálcãs, a Germânia, etc e, mais tarde, a
Ibéria e Gállia). Roma Ocidental entrava em um lento processo de decadência.
Desde 410, Itália e Roma foram invadidas e pilhadas pelos vigorosos exércitos
balcânicos. Em 476 foi deposto Romulus, o último Imperador romano ocidental.
1
Diocleciano (Diocletianus) vinha de família popular; como excelente militar, foi elevado ao trono
imperial pelo exército, no dia 20 de novembro de 284. Com rigor lutou contra toda anarquia, eliminou
usurpadores, criou nova divisão em províncias com rigorosa organização dos funcionários; criou novo
sistema de impostos, reformou as moedas... Sua reorganização do exército foi de grande importância,
garantindo a segurança das fronteiras do Império. Querendo dinamizar o culto pagão, opõe -se aos
cristãos. Sua perseguição, que começou com todas as conseqüências em 303, tornou-se a mais grave e
cruel. Mesmo no exército, cristãos que negavam o sacrifício foram gravemente punidos. Um primeiro
edito exigia a destruição dos edifícios de culto, a entrega dos livros sagrados; cristãos que ocupavam altas
funções e não renunciavam ao cristianismo foram degradados. Inúmeros clérigos foram presos e,
negando-se a sacrificar, executados. No ano 304, lançou o quarto edito, obrigando todos os cristãos a
sacrificar aos deuses romanos. Quem se recusasse seria ou morto ou condenado ao trabalho nas minas
(pedreiras). Especialmente no Oriente, antes de tudo no Egito, onde houve dias com mais de cem
execuções, os sofrimentos dos cristãos eram pavorosos. Sob o Imperador Constantius Chlorus (pai de
Constantino), que aplicava somente o primeiro edito, houve muito mais paz. Em 305, Diocleciano
renunciou, e morreu em 316.
2
Cf. K. Christ, Imperium Romanum, in: LThK² V,635-638
Enquanto o Imperador, desde Constantino, habitava na glória de Bizâncio,
Itália e Roma estavam cada vez mais entregues às pretensões e lutas entre as
famílias “nobres”.
Diante do avanço dos povos balcânicos, o povo da Itália e de Roma sentiase desprotegido. Os saques, as humilhações e violências eram terríveis, tanto
mais graves uma vez que muitíssimos dos invasores já eram cristãos, (semi)arianos. Negavam a divindade de Jesus, odiavam a doutrina trinitária.
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