Plantas sagradas e dadiva

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Plantas sagradas e dádiva
Eric Sabourin1
Um congresso diferente
De 7 a 11 de junho de 2009, a cidade amazônica de Tarapotó capital do
Departamento de San Martin na região de produção de coca do Peru tem sediado o
Congresso Internacional “Medicinas Tradicionais, Interculturalidade e Saúde Mental”.
O evento foi organizado pelo Centro de reabilitação de Toxicômanos Takiwasi e por
entidades semelhantes de Argentina e Columbia.
A particularidade do Centro Takiwasi, fundado pelo medico franco-peruano Jacques
Mabit é de mobilizar os ensinamentos e técnicas dos xamás indígenas e dos
curandeiros vegetalistas da Amazônia em particular o uso de plantas sagradas para
curar e reabilitar toxicômanos.
A maioria dessas plantas mestras é destinada a purgas e limpezas, como por
exemplo, o tabaco. Mas a mais famosa é a ayahuasca, preparação a base de duas
plantas amazônicas que tem como o cogumelo Peyotle (Porras, 2009) ou o cacto
São Pedro, (Guzman, 2009) um efeito de alteração da consciência, mas sem
provocar nenhuma dependência química ou psicológica.
Os objetivos do congresso eram três: i) compartilhar experiências de aplicação das
medicinas tradicionais para resolver problemas de saúde mental; ii) comprometer
representantes de instituições públicas e de organismos internacionais a prestar
mais atenção ao potencial dessas medicinas para políticas de saúde mental
especialmente para problemas de consumo de drogas; iii) propiciar a criação de uma
rede Regional Americana que possa prosseguir a exploração deste campo de
estudo e aplicações nas políticas de saúde.
Xamanismo e saúde mental
Os aportes terapêuticos dos povos originários ou nativos alcançam dimensões transculturais e respondem a um nível de constantes humanas invariáveis ou
arquetípicas. Ademais, seus instrumentos podem ser adaptados para oferecer
respostas inovadoras em campos onde a medicina ocidental é bastante deficiente,
como no caso do tratamento das toxicomanias.
Porem existe uma serie de resistências e dificuldades entre a medicina convencional
e as terapias tradicionais: i) a não separação nas Medicinas Tradicionais do mental e
do espiritual, ii) o uso frequente de plantas ou substancias psicoativas e técnicas de
indução de estados modificados da consciência, iii) a implicação voluntaria e
necessária, na relação terapêutica, da subjetividade, tanto do paciente como do
terapeuta, diferente da suposta objetividade científica; iv) a dimensão vivencial mais
que conceptual da prática terapêutica das Medicinas Tradicionais
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Antropologo e sociologo, pesquisador do CIRAD (Dep. Meio Ambiente e Sociedade) e do
Centro de Desenvolvimento Sustentavel da Universidade de Brasilia (CDS). E-mail [email protected]
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Ao mesmo tempo, existe hoje uma busca errática de numerosos ocidentais para
encontrar alternativas aos seus padecimentos psicoemocionais, existenciais ou
espirituais. Isto os leva cada vez mais a viajar longe do seu contexto cultural para
adentrar-se em sociedades tradicionais em busca de curandeiros, xamãs e
praticantes dessas medicinas. Aparte das frequentes incompreensões interculturais
que se dão, este movimento tem gerado um neo-xamanismo duvidoso e um turismo
xamánico que ameaça degenerar as Medicinas Tradicionais e destruir-las. Assim a
própria saúde mental dos povos indígenas também está em jogo (Domenech, 2009).
Estado de consciência modificado
O psicólogo Benny Shanon (2009) da Universidade Hebraica de Jerusalém estudou
as experiências cognitivas em estados de consciência modificada (ECM) e
comparou as com estados de consciência ordinários (ECO). Ele se interessou ao
caso especifico da ayahuasca e realizou uma cartografia de visões a partir de mais
de 200 entrevistas em diversos países e situações.
Os sujeitos entrevistados passam por três fenômenos ou processos psicológicos
semelhantes
a) Ao nível do corpo: o organismo passa a funcionar a partir de uma expansão
da psique, a temperatura corporal é modificada, os mal estares podem ser
acompanhados de vômitos
b) As visões: as mais comuns são caracterizadas pela revelação no mínimo de
figuras geométricas e de cores e geralmente por imagens de uma grande
beleza estética ou plástica inclusive imagens e estatuas de figuras sagradas e
divinas (de acordo com o referencial cultural e religioso do sujeito), templos e
palácios que aparentam pertencer a eternidade. Existe a sensação de atingir
outra dimensão onde são relativizados os pequenos problemas materiais do
cotidiano, por causa de um sentimento de conexão quando não de comunhão
e de pertencimento com a cosmologia do universo. Este tipo de visão pode
ser acompanhado pelo recebimento de ensinamentos. Porem pode existir
certa censura, ligadas as manias de ensinar do professor
c) As visões mostram situações passadas, atuais ou potenciais e ate futuras
relacionadas com o sujeito e diversas experiência da sua vida, quando não o
sentimento de relação com vidas passadas.
As visões como os ensinamentos procedem por metáforas (alma e corpo
separados, ilhas e mares, arquétipos do tipo serpente, aranhas, lobos, etc.)
Podem revelar fatos ou locais da vida e inclusive experiências de percepção do
universo por meio de animais (vôo da águia ou corrida do jaguar)
Para Benny Shanon (2009), essas visões remetem para três tipos de ideais e de
possibilidades de uso das plantas sagradas
a) um fenômeno psicológico de tipo insight, extremamente mais rápido e
eficiente que as praticas terapêuticas de tipo psicanálise ou psicoterapias,
acompanhados de uma aprendizagem sobre si mesmo
b) usos profissionais: variações possíveis entre o insight teórico ou ético e as
curas xamánicas, certos icaros (cantos xamánicos de cura dos curandeiros
com ayahuasca) já são de domínio público
.c) campo filosófico que fica ainda para ser melhor explorado
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Quais as conclusões e os ensinamentos que podemos tirar deste tipo de
trabalho:
1. Todos os ayahuasqueiros passam, mais ou menos pelos mesmos tipos de
experiência e de visão; são mecanismos recorrentes relacionados com
arquétipos humanos milenares
Portanto, isto relativiza o sentimento de ser “escolhido” para beneficiar de uma
conexão especial com as forças superiores ou divindades
2. Tais elementos levam a procurar um esforço de discernimento entre pelo
menos quatro elementos
- visões recorrentes da mente humana em nível cultural e coletivo (os arquétipos
junguianos);
- projeções do nosso ego interior, normalmente não acessíveis em Estado de
Consciência Ordinário, que são potencializadas e acessíveis pelo processo de
expansão da consciência
- visões guiadas ou produzidas pelo guia da sessão (curandeiro, xamá, mestre
religioso, mediante uso de artefato, musicais, cantos, percussões etc);
- eventuais mensagens de espíritos, seres superiores ou inferiores, mentores ou
energias da natureza.
“A mi la planta me habla”
Um dos temas de debates abertos entre acadêmicos, curandeiros, terapeutas e o
público foi sobre a origem e a natureza das visões e dos ensinamentos propiciados
pela tomada de plantas sagradas. Os insight ou ensinamentos, as mirações
provocadas pela ayahuasca, o peyotle e a wachuma (São Pedro), são apenas frutos
de representações do ego provocadas pelos fenômenos de expansão da
consciência (acesso a conhecimentos ou pensamentos normalmente reservados ao
plano inconsciente ou a certas zonas do córtex cerebral ordinariamente não
ativadas)? Ou será que são mensagens e orientações proporcionadas pelo “espírito
da planta”, por mentores, guias espirituais quando não diretamente por deuses?
Essa pergunta que não é nova, já tem tido pelo menos três categorias de respostas:
- a maioria dos acadêmicos se recusa a considerar fenômenos não racionais ou a
aceitar explicações de tipo paranormal. Portanto os efeitos reconhecidos das plantas
sagradas são apenas aqueles que podem encontrar uma explicação racional por
meio dos conhecimentos biológicos e das interpretações dos mecanismos químicos.
Por exemplo, no caso da ayahuasca: os farmacólogos e psicólogos indicam que a
expansão da consciência ou as visões são devidas a conjunção do efeito
alucinógeno da DMT conteúdo na chacruna ( Psychotria viridis, P. carthaginensis) e
no cipó “mariri” (Banisteriopsis caapi) que inibe o efeito do acido amino bloqueador
da DMT produzido pela hipófise.
- os usuários religiosos das plantas sagradas (cultos do Santo Daime ou da União do
Vegetal no Brasil) consideram que a bebida sagrada tem o poder de conectar os
indivíduos não somente com o seu próprio inconsciente, mas também com mentores
espirituais e religiosos quando não diretamente com santos e deuses (McRae,
2009).
- os curandeiros que usam as plantas sagradas para cura e os terapeutas ocidentais
que em particular recorrem a elas para recuperação de adictos não conseguem
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separar o poder de cura (e em particular de cura mental) dessas plantas, do seu
poder de conexão espiritual com as energias da natureza e do universo, com uma
cosmologia holística, que para eles corresponde a expressão da divindade na
humanidade, quando não em cada um de nos.
Fora das duas posturas extremas (acadêmica e religiosa) e da postura intermediaria
dos curandeiros e terapeutas vegetalistas, essa pergunta é importante porque
coloca a questão do discernimento quanto à origem e natureza dos insights e das
visões produzidas pela ingestão de plantas sagradas.
Tanto os mestres religiosos como os terapeutas vegetalistas recomendam de não se
apegar a nenhuma visão ou orientação, sem examiná-la tranquilamente, após o
processo de miração (por exemplo o dia seguinte), ou sem considerar um fenômeno
recorrente das visões. Os mestres religiosos os menos exaltados ou doutrinários
indicam também que não cabe sur-interpretar o efeito às vezes encantador,
maravilhoso ou divino produzido pela planta sagrada e pensar que estamos
diretamente conectados com o cristo, a virgem Maria, quando não o próprio Deus,
Buda ou Maomé (Barrionuevo, 2009). Indicam que o praticante já pode se
considerar como muito agraciados ou abençoados, entrando em conexão com uma
representação de um dos mentores das religiões ayahuasqueiras como Mestre
Irineu (Santo Daime), Mestre Gabriel (UDV) ou Mestre Sebastião (Cefluris).
De fato, houve assim um coro de especialistas, com voz grave e postura séria, todos
unidos, apesar das suas opiniões opostas, em preservar o uso de plantas sagradas
de toda referencia negativa ou fantasiosa que poderia alimentar as interpretações ou
acusações geralmente veiculadas pela mídia (seita, charlatanismo, alucinação,
coletiva, etc.). No meio desse coro de pessoas “sérias” que tinham em comum o
fato de ter dedicado o essencial da sua vida, mas também da sua subsistência
material as plantas sagradas, houve algumas vozes dissonantes, que disseram com
toda convicção, naturalidade e sinceridade: Pois a mim a planta me fala, sei muito
bem quando me fala ou quando se trata de uma projeção do meu ego; e alem de me
falar, o espírito da planta me mostra muitas coisas...
Uma jovem que tinha sido educada desde jovem a tomar ayahuasca, chegou a
questionar tal tipo de afirmação, dizendo: “Sei também porque e quando a planta me
fala de tal ou tal maneira, e quando não tenho outro recurso, sei como recorrer a ela,
para me orientar ou simplesmente ser o meu consolo”.
Uma quarta categoria de postura seria aquela dos indígenas e curandeiros ou
xamás usuários das plantas sagradas. De fato, para eles, esse tipo de pergunta não
existe ou não tem razão de ser. Por natureza, não existe separação entre
consciência e divindade, entre ego e sentimento cosmogónico e divino de
humanidade.
Cura e espiritualidade
Outra temática dos debates noturnos e abertos do congresso foi sobre a relação
entre cura e espiritualidade. A dimensão espiritual está presente na essência do
xamanismo ou das medicinais tradicionais indígenas e, geralmente, está ausente da
medicina ocidental que estabelece uma separação entre espiritualidade (as religiões
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reveladas) e medicina (ciência ocidental e processos de medicina química) (Bacle,
2009).
Anedoticamente, essa divisão artificial e anti-humana do ponto de vista das culturas
indígenas, encontra-se perpetuada no caso do uso ritual da ayahuasca. No Brasil,
onde existe uma tradição de liberdade religiosa e um controle central e positivista da
medicina, a única via autorizada do uso da ayahuasca e mediante centros religiosos.
O uso de ayahuasca para cura seria considerado como exercício ilegal da medicina.
No Peru é o contrario, a religião crista não deixa muito espaço para outras religiões
em particular ayahuasqueiras, porem o uso da ayahuasca como medicina tradicional
sendo reconhecido e autorizado, tornou-se a única possibilidade para distribuir a
ayahuasca. Obviamente acontece cura nos centros religiosos ayahuasqueiros no
Brasil e existe trabalho de alta espiritualidade no uso terapêutico do vegetal no Peru,
pois a não separação entre cura e espiritualidade exige que a ayahuasca seja
utilizada dentro de um ritual.
Os riscos e os vieses acontecem: por um lado, no Peru, charlatanismo e praticas
abusivas da ayahuasca fora dos rituais ou alem da sua capacidade curativa; por
outro, abusos rituais deixando acreditar aos devotos ou fieis de certas igrejas e
centros ayahuasqueiros do Brasil, que apenas podem acessar a espiritualidade
mediante a ingestão de ayahuasca.
O psicanalista mexicano de origem sueca Swen Doehner (2009) fez uma palestra
em torno das adições e da sua liberação mediante o uso das plantas sagradas. No
sentido jungiano, a cura e a libertação de todas as adições no sentido estendido.
Não são apenas drogas que levam a dependência, mas o tabaco, o álcool, o café, o
dinheiro. A adição pode ser também pelo trabalho, pelo poder, pelo sexo, pelo
consumo compulsivo, etc.
As plantas sagradas têm o poder de libertar da dependência das adições e ate da
dependência dos entorpecentes químicos. Por outra parte as plantas sagradas
consumidas num ambiente ritualístico não levam a nenhuma dependência
psicológica ou fisiológica. Agora a pergunta que faz Swen Doehner, em particular
perante os fieis das igrejas vegetalistas ou dos consumos ritualísticos do neo
xamanismo é a seguinte. Não se trataria de trocar uma adição por outra. Não estão
trocando o fumo pela ayahuasca? Mesmo se não existe dependência química, não
passa a ter uma dependência espiritual?
Isto precisa ser colocado e examinado particularmente no caso dos ex-dependentes
de drogas que passam a freqüentar cultos de plantas sagradas. Quer dizer, se as
pessoas para se conectar para o divino ou com a espiritualidade precisam ingerir
uma planta sagrada, qual é a diferença, qual é o progresso? De que adianta uma
conexão espiritual se ela exige e depende da ingestão de uma planta de poder.
Provavelmente a maior ameaça seja associada à mercantilização do uso da
ayahuasca seja para fins turísticos e neo-xamánicos no Peru e mais recentemente
no Brasil (Labate, 2004, 2008), seja para o uso religioso ou espiritual no Brasil.
Ayahuasca e anti-utilitarismo
Na tradição xamánica ou curandeira, o uso de ayahuasca ou outras plantas
sagradas para rituais ou para cura é gratuito. Como as demais plantas medicinas, e
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ainda mais pelo seu caráter de planta sagrada, o ayahuasca é considerado como um
recurso comum ou, melhor um bem comum (Ostrom, 2008).
Neste sentido foi reconhecido como patrimônio cultural nacional e da humanidade
tanto no Brasil como no Peru. Da mesma maneira, a solidariedade internacional com
os movimentos indígenas da Columbia e os esforços das organizações indígenas
amazônicas lideradas pela COICA (Coordenação das Organizações Indígena das
Cuenca Amazônica) tem impedido junto a justiça americana o direito de laboratórios
privados patentear a ayahuasca nos Estados Unidos. O paciente da ao xamã uma
compensação, muitas vezes em natureza ou produtos. Mesmo na pratica dos
curandeiros vegetalistas mestiços no Peru, a introdução do dinheiro é recente, e
geralmente o paciente paga a sessão ou a consulta de acordo com os seus meios.
A mercantilização chegou com o turismo xamánico e o neo xamanismo, em
particular no Peru (Iquitos, Pucallpa, Madre de Dios, Cuzco, etc), embora este
fenômeno já esta atingindo centros turísticos do Brasil (Manaus, Belém, etc).
As doutrinas das religiões ayahuasqueiras do Brasil (Santo Daime, União do Vegetal
, UDV, Cefluris) condenam também todo uso mercantil da bebida sagrada. De fato,
produzir uma ayahuasca de qualidade para distribuição na cidade tem um custo
relativamente alto, mesmo sem pagar a matéria prima (chacruna, Psychotria viridis e
o mariri banisteriopsis caapi) apenas pelo transporte, equipamento, lenha e trabalho.
Par isto as igrejas organizadas como a UDV e o Santo Daime, começaram a usar as
suas próprias plantações para não favorecer a mercantilização das plantas sagradas
e, sobretudo, para não participar do processo de degradação e extinção dessas
plantas. O Estado do Acre no Brasil já proibiu a saída das suas fronteiras de mariri e
chacruna tanto como de ayahuasca preparado.
Obviamente, alem dos custos agregados a preparação e ao transporte do cha
ayahuasca, a demanda por consumidores eventuais a procura de novas sensações
tem gerado um comercio paralelo via internet. O preço no mercado capitalista da
ayahuasca por internet chega hoje em torno de 100 US$ o litro.
Qualquer curandeiro ou vegetalista, mesmo mestiço, fica preocupado quando não
espantado pelas conseqüências do consumo da ayahuasca em tais condições e
circunstancias: fora de qualquer ritual e de proteção espiritual; fora da estrita procura
da cura mental, espiritual e física; num plano de procura de sensações de alteração
da consciência sem domínio nem conhecimento do caráter sagrado da bebida e,
ainda mais, num contexto poluído pelo interesse comercial e pelo lucro a partir da
venda de um recurso natural ancestral gratuito.
Sem chegar aos mesmos extremos, pode se fazer uma comparação com o uso de
outra planta sagrada fora dos rituais das suas regiões de origem (a maconha ou
Cannabis sativa). Potencialmente a maconha é uma planta sagrada e de poder,
usada no seu berço ela participa da expansão da consciência e de uma rica cultura
espiritual e filosófica ancestral. Usada fora dessas condições, para a procura de
prazer ou de evasão para escapar das dificuldades da vida cotidiana, num plano
mercantil e clandestino, o consumo da maconha virou um vicio provocando uma
forte dependência química e conseqüências mentais e físicas das mais diversas e
negativas. Obviamente, existe uma forte carga negativa do cannabis obtido nessas
condições: pagando preços altos para um material vegetal produzido a custo da
exploração do trabalho dos produtores, de violência, roubo, mortes e de dinheiro
ligado aos múltiplos tráficos ilegais das diversas máfias (Velásquez et al, 2009).
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Jacques Mabit, o fundador do centro de reabilitação de toxicômanos Takiwasi
lembra como a dependência do cannabis é a mais difícil de ser tratada. Mas uma
das forças da terapia do centro Takiwasi, alem da desintoxicação pelas plantas
sagradas (diversas purgas de origem amazônica) e do acompanhamento psicólogo
dos pacientes pelo trabalho, o desporte e arte, tem a ver com a cura pelo amor e
pela espiritualidade. Mabit costuma dizer que um toxicômano é muitas vezes um
xamá potencial que não encontrou o guia correto.
Brasília, 25 de junho de 2009
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Velásquez José Miguel, Graña Diego & Pfitzner Frank, “Los ejes del tratamiento en el protocolo
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7
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