Associações entre Sons e Imagens realizadas pelo Cérebro e o Ef

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Associações entre Sons e Imagens realizadas pelo Cérebro e o Efeito Buba-Kiki
Braga, C. F. R.; Cândido, E. G.; Ganso, G. P. S.; Julião, A. E. S. S.; Lago, L. C. C.; Martins, L. M.;
Novais, B. R. R.; Peláez, F. J. R.;
Santo André, Universidade Federal do ABC
Introdução: Será que os nomes dados aos objetos a nossa volta seriam completamente
arbitrários? Esclarecer este tópico, é o objetivo deste trabalho. A proto-linguagem legou aos idiomas
modernos algumas características de quando o homem associava os sons da fala ao formato dos
objetos. Um interessante reflexo disto é o “Efeito bouba-kiki” descoberto por Köhler em 19291 e
pesquisado por Ramachandran e Hubbard2 em 2001.
Estes pesquisadores mostraram que, perante duas figuras, uma com contornos arredondados e
outra com contornos agudos, a maioria das pessoas chamam de bouba a imagem arredondada, e kiki
a imagem de contornos agudos. Este trabalho propõe que tal associação poderia estar relacionada
com os harmônicos de Fourier presentes nas imagens. Harmônicos de alta ou baixa freqüência
estariam contidos nas figuras com contornos agudos ou arredondados respectivamente.
Nossa hipótese, que foi testada com 200 voluntários fundamenta-se na existência de mapas
tonotópicos no córtex auditivo e nas pesquisas de Kulikowski e Robertson. Kulikowski3 mostrou
que o córtex visual primário analisa a informação visual através de análises de Fourier enquanto que
Robertson4 expôs a hipótese de que os contornos arredondados das figuras mimetizam os contornos
das ondulações dos sons graves, enquanto os sons agudos produzem o mesmo efeito às figuras
pontiagudas.
No nosso trabalho sugere-se, por fim, que a utilização desta tendência natural de associação
poderia ser útil para o tratamento fonoaudiológico da afasia de Wernicke.
Objetivo: Este trabalho visa demonstrar como o cérebro pode relacionar estímulos sonoros e
visuais, assim como analisa esta relação a partir das séries de Fourier.
Materiais e métodos: Realizou-se um teste para verificar a existência do efeito buba-kiki,
apresentando quatro gráficos obtidos com um osciloscópio: dois com harmônicos de alta frequência e
dois com harmônicos de baixa frequência. Foram entrevistadas 200 pessoas escolhidas ao acaso (em
três instituições de ensino do estado de São Paulo). Pediu-se que os 200 entrevistados escolhessem
uma sílaba para cada imagem, partindo de um conjunto de cinco sílabas com diferentes modos de
articulação fonética. As respostas foram analisadas mediante o teste de hipótese qui-quadrado(X²).
Resultados: Os resultados obtidos a partir do questionário são consistentes aos já conseguidos
anteriormente1,2. Os testes X2 realizados mostraram que há evidências de associação entre as sílabas
e os gráficos (p < 0,05). A análise mostrou que a escolha das sílabas não foi aleatória e que a escolha
do nome dos objetos relaciona-se com o formato esperado.
Conclusões : Os resultados mostram que, existe uma correlação significativa entre os
harmônicos de Fourier presentes nas formas e a fonética das palavras, o que sugere que o cérebro
poderia estabelecer relações entre sons e imagens a partir de correlações entre os harmônicos das
séries de Fourier. A lesão da região de Wernicke, no cérebro, impede a correta associação de
imagens com palavras (afasia de Wernicke5). Na nossa pesquisa sugere-se uma possível terapia para
tratar a afasia de Wernicke, tendo em consideração a tendência natural do ser humano de associar
algumas formas e palavras (efeito Bouba-Kiki).
Referências:
1. Köhler, W. Gestalt Psychology. New York: Liveright. 1929
2. Ramachandran, V.S. & Hubbard, E.M. (2001). Synaesthesia: A window into perception,
thought and language. Journal of Consciousness Studies, 8(12), 3 - 34.
3.KULIKOWSKI, J. J; BISHOP, P. O. Fourier analysis and spatial representation in the visual
cortex. Cellular and Molecular Life Sciences. Birkhäuser Basel. 1981
4. ROBERTSON, Lynn C. SYNESTHESIA: Perspectives from Cognitive Neuroscience. New
York: Oxford University Press, 2005.
5. NOLTE, John. Neurociência.Filadélfia: Mosby Elsevier, 2006.
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