TEXTO 8 8. O SETOR EXTERNO A análise das relações econômicas internacionais constitui condição necessária para um adequado entendimento da estrutura econômica de uma determinada nação. Isto porque os países não são estruturas isoladas, e mesmo os mais “fechados” acabam por manter uma série de relações econômicas com outros países, envolvendo trocas de mercadorias, fatores de produção e ativos financeiros. Tais relações acabam tendo importantes implicações no cômputo de determinados agregados macroeconômicos. Assim, numa economia aberta, a oferta agregada passa a ser composta não apenas pela produção doméstica, mas também por bens e serviços produzidos por outros países. Por outro lado, na poupança total da economia, pode vir a incluir-se, não apenas a poupança interna, mas também a poupança externa. Em outras palavras, a existência de transações econômicas internacionais produz inúmeras implicações, não só para as contas nacionais, como para a própria teoria macroeconômica. Na análise que efetivamos até o momento, tratamos da determinação do produto e da demanda agregada, considerando apenas variáveis internas ao país. Acontece, que atualmente, ao menos do ponto de vista econômico, o mundo se apresenta crescentemente interligado, seja através dos fluxos comerciais, seja através dos fluxos financeiros. De modo geral as relações econômicas internacionais têm posição fundamental para a maioria dos países, inclusive o Brasil. As importações representam parcela significativa da oferta dos países, enquanto as exportações constituem importante elemento de demanda. A constatação da importância do setor externo no funcionamento das economias nacionais levou ao surgimento de importante ramo de estudo na Teoria Econômica, denominado “Economia Internacional”. Este ramo procura, em primeiro lugar, responder a perguntas como: Por que os países fazem comércio entre si e quais os benefícios deste comércio? Esta é a chamada parte microeconômica da análise. Do ponto de vista do que interessa neste texto, poderíamos dizer que os países comercializam entre si, pois não são auto-suficientes, isto é, não conseguem produzir tudo o que necessitam; assim, o bem-estar dos cidadãos e o desenvolvimento econômico podem ser maiores quando se comercializa com outros países. Um outro aspecto a considerar, é que a economia internacional estuda os impactos macroeconômicos da relação entre os países. Uma questão importante é que esta relação envolve moedas diferentes, colocando-se assim um segundo grupo de questões para a Economia Internacional, relativas às taxas de câmbio. O tipo de regime cambial traz conseqüências em termos de política monetária e fiscal, bem como sobre o nível de atividade, emprego e produto do país. É sobre este último que nos interessa analisar quanto os seus efeitos sobre a demanda agregada. 8.1. O Comércio internacional e a demanda agregada Antes de analisarmos a influência do comércio internacional sobre a demanda agregada é necessário compreender por que os países comercializam entre si? Esta é a questão básica a ser respondida. Muitas explicações podem ser levantadas como a diversidade de condições de produção ou a possibilidade de redução de custos, a 119 obtenção de economias de escala, na produção de determinado bem vendido para um mercado globalizado. Os economistas clássicos forneceram a explicação teórica básica para o comércio internacional através do chamado “Princípio das Vantagens Comparativas”. 8.1.1. Princípios Orientadores O Princípio das Vantagens Comparativas sugere que cada país deve especializarse na produção daquela mercadoria em que é relativamente mais eficiente, ou que tenha custo relativamente menor, que será, portanto, a mercadoria a ser exportada; por outro lado, este mesmo país deverá importar aqueles bens cuja produção interna implicar custo relativamente maior, porque a produção interna é relativamente menos eficiente. Deste modo explica-se a especialização dos países na produção de bens diferentes, a partir da qual se concretiza o processo de troca entre países. Ao analisar-se a evolução do setor externo da economia brasileira nos últimos anos três aspectos chamam a atenção: em primeiro lugar, o gradativo abrandamento do grau de abertura comercial do Brasil, vis-à-vis a outros países; em segundo, a importância do setor externo como fator determinante das fases de crescimento e recessão do país; e, em terceiro, a capacidade de resposta do setor externo aos instrumentos de política econômica, quer na direção correta, quer na direção incorreta. O ano de 1968 pode ser considerado o início de um processo de maior abertura do país ao resto do mundo. A tentativa de buscar novas alternativas de crescimento ficou evidenciada pelas alterações da política cambial (implantação do sistema de minidesvalorizações) e pela criação de um sistema de incentivos às exportações. Para se ter uma idéia do que representou essa internacionalização da economia brasileira basta observar o comportamento de algumas variáveis: as exportações passaram de US$ 1,9 bilhão em 1968 para US$ 58,2 bilhões em 2001 e para US$ 118.309 em 2005; da mesma forma, as importações saltaram de US$ 1,9 bilhão em 1968 para US$ 55,6 bilhões em 2001e para US$ 73.551 em 2005. No mesmo período, a dívida externa líquida (dívida externa bruta menos reservas internacionais) passava de US$ 3,5 bilhões (1968) para US$ 210,1 bilhões (2001). Em 2005 as exportações somaram US$ 118,3 bilhões enquanto as importações chegaram a US$ 73,5 bilhões a dívida externa liquida estava em US$ 115,6. Vale observar, porém, que, ao longo desses anos, ocorreram fatos importantes na economia internacional. Além das crises do petróleo (1974, 1979 e “quase crise” em 2000), o mundo assistiu a uma substancial elevação das taxas internacionais de juros (início dos anos 80), moratória de países devedores (Brasil, México, Argentina, Peru, nos anos 80, e mais recentemente a Rússia, em 1998); crescimento significativo dos fluxos financeiros internacionais, crises financeiras e assim por diante. Como seria de esperar, esses fatos impactaram a economia brasileira, gerando em alguns momentos estímulos e, em outros, grandes dificuldades para o país. O objetivamos de agora em diante discutir como o Brasil foi afetado pelas diferentes situações da economia internacional, como foram acionados internamente os instrumentos de política econômica, as conseqüências sobre produção, emprego e inflação, enfim, como se comportou o setor externo da economia brasileira nos últimos anos. Para o entendimento dessa questão, é fundamental discutir o significado e a 120 composição do balanço de pagamentos, bem como outros conceitos relativos à área externa. 8.2. O Balanço de Pagamentos. O balanço de pagamentos de um país representa o registro das transações entre o país e o resto do mundo. Formalmente, o balanço de pagamentos registra todas as transações entre residentes e não residentes de um país num determinado período de tempo. Em termos gerais, o balanço de pagamento é composto dos seguintes itens: balança comercial; balança de serviços; transferências unilaterais; balança de transações correntes (que representa a soma das contas anteriores); balança de capitais; uma conta de ajuste denominada de erros e omissões e, por fim, resultado do balanço de pagamento. Vejamos agora a estrutura do balanço de pagamentos do Brasil no ano de 2005. Tabela 1 – Brasil: balanço de pagamento, ano de 2005 (em milhões de dólares). Discriminação 2005 1 – Balança Comercial (saldo) 44.758 1.1. Exportações 118.309 1.2. Importações -73.551 2 – Balança de Serviços (saldo) -34.115 2.1. Pagamento de Juros -13.496 2.2. Lucros e Dividendos - 12.686 2.3. Outros itens - 7.933 3 – Transferências Unilaterais (saldo) 3.556 4 – Balança de Transações correntes (saldo de 1 + 2 + 3) 14.199 5 – Balança de Capitais (saldo) -8.808 5.1. Investimentos 15.193 5.2. Empréstimos e Amortizações -24.001 6 – Erros e Omissões (saldo) -1.072 7 – Resultado Final (saldo de 4 + 5 + 6) 4.319 Fonte: Conjuntura Econômica Vol.60 Nº 06 A balança comercial registra as operações de compra e venda de mercadorias: em 2005, as exportações no valor de US$ 118.309 bilhões representam ingresso de divisas e importações de US$ 73.551 bilhões significam saída de divisas. Como se verá adiante, a balança comercial ganha posição relevante no balanço de pagamentos, porque é o componente do balanço mais sensível aos instrumentos internos de política econômica. A balança de serviços, como o próprio nome diz, refere-se a pagamentos (saída de divisas) e recebimentos (entrada de divisas) relativos à remuneração de serviços. O saldo total da conta serviços em 2005 foi de US$ -34.115. Os principais componentes dessa conta são: a) juros, que se referem aos serviços da dívida externa (não incluem amortizações); vale destacar que os juros são devidos tanto pelo setor público como pelo setor privado; como o Brasil é tomador de empréstimos no exterior e não emprestador, a conta líquida dos juros (isto é, juros pagos menos recebidos) tem sido negativa; o valor de – US$ 13.496 bilhões (2005) representa uma saída de divisas do país; 121 b) lucros e dividendos referem-se a remessas efetuadas por empresas estrangeiras instaladas no país para seus países de origem; embora existam empresas brasileiras com filiais no exterior, a presença de estrangeiras no Brasil é muito maior, fazendo com que o resultado líquido seja negativo (US$ 12.686 bilhões em 2005), isto é, saída de dólares da economia brasileira; c) outros, em que se pode destacar principalmente as operações com fretes e seguros; toda a mercadoria transacionada internacionalmente envolve despesa de frete e seguro; se, por exemplo, o seguro ou transporte de mercadoria for feito por empresa brasileira, ocorre entrada de divisas; se realizado por empresa estrangeira, significa saída de divisas; em 2005, essa conta foi deficitária em US$ 7.933 bilhões. As transferências unilaterais referem-se ao fluxo de recursos provenientes de pessoas trabalhando fora do país. Se um brasileiro vai trabalhar no Japão e remete parte de seu salário para o Brasil, será uma entrada de divisas no país. Por outro lado, se um japonês trabalhar no Brasil e fizer a mesma remessa para seu país de origem, implicará uma saída de divisas do país. No caso brasileiro, em 2005, as transferências unilaterais apontaram uma entrada “líquida” de divisas da ordem de US$ 3.586 bilhões. A balança de transações correntes (também conhecida como conta corrente) é a soma dos três itens anteriores (balança comercial, de serviços e transferências unilaterais). É o item mais importante do balanço de pagamentos, à medida que mostra o desempenho do país como o resto do mundo. Em 2005, o saldo foi positivo em US$ 14,199 bilhões. A balança de capitais, por sua vez, indica as alternativas de cobertura do déficit em transações correntes quando houver. Uma das formas é o ingresso de capitais estrangeiros de risco (item investimentos), que podem entrar no país por meio da construção de uma unidade de empresa multinacional, aquisição de empresas nacionais por residentes fora do país. Em 2005, o Brasil conseguiu atrair investimentos de ordem de US$ 15.193 bilhões, número esse muito expressivo, se considerarmos que antes do Plano Real a entrada de recursos no Brasil por esse item era de cerca de US$ 2,0 bilhões/ano. A outra forma de entrada de capitais é por meio de empréstimos externos obtidos pelo setor público junto a órgãos oficiais (Banco Mundial, FMI, Clube de Paris etc.) ou junto a bancos privados externos (aí pode ser tanto o setor público como o privado) e ainda com o lançamento de títulos de empresas públicas e privadas no exterior. É importante observar que esse item pode ser negativo, porque inclui empréstimos novos e subtrai amortizações; assim, em períodos em que há dívida vencendo e dificuldade de se obterem novos recursos, o resultado pode ser negativo ou positivo. Em 2005 este item chegou a US$ -24.001 bilhões, ou seja, saiu mais que entrou recursos neste ano, dai que o saldo foi de -8.808 bilhões. Se a balança de capitais registrar um saldo (positivo) maior que o saldo (negativo) da balança de transações correntes, diz-se que o país tem um superávit na balança de pagamentos. Em outras palavras, há mais divisas disponíveis do que aquela necessária para cobrir o déficit e estas “sobras” de moedas estrangeiras representará um aumento das reservas internacionais do país. Em caso contrário, isto é, se os recursos da balança de capitais não forem suficientes para cobrir o saldo da balança de transações correntes, ter-se-á um déficit na balança de pagamentos. 122 Em 2005 houve soldo positivo de US$ 4.319 bilhões, o que representou uma ampliação do nível de reservas internacionais. 8.2.1. Relações entre balança comercial e demanda agregada Como já falamos, por Balança Comercial entendem-se basicamente as exportações e as importações de mercadorias. Se as exportações forem maiores que as importações, a balança comercial do país será superavitária, se ocorrer o inverso, teremos uma balança comercial deficitária. Para análise do que influencia os níveis da utilização da capacidade produtiva nos interessa entender como a relação com o resto do mundo, ou seja, o setor externo auxilia nos níveis de Demanda Agregada. Esta relação se dá pelo saldo na Balança Comercial do país. Se o saldo for positivo, exportação maior que importação, este contribuirá para aumentar os níveis de Demanda Agregada, mas se o saldo for negativo, exportação menor que importação, este contribuirá para diminuir o grau de utilização da capacidade produtiva do país. Tabela 02 – Brasil: Balança Comercial em anos selecionados em milhares de dólares Anos Exportações Importações Saldo 1990 31.414 20.661 10.753 1995 46.506 49.858 -3.352 2000 55.086 55.722 -636 2005 118.309 73.551 44.758 Fonte: FGV / Conjuntura Econômica – Vol 60 Nº 06 Vejamos agora os principais fatores a determinarem o saldo da balança comercial que são, o nível de renda da economia e do resto do mundo, a taxa de câmbio e os termos de troca. Assim: a) quanto maior a renda interna do país maior será a demanda por produtos importados, logo, piora o saldo da balança comercial; b) quanto maior a renda do resto do mundo maior a demanda por produto do país melhorando o saldo da balança comercial; c) quanto mais desvalorizada a moeda nacional em relação às moedas estrangeiras, maior a competitividade dos produtos nacionais e, portanto, maior o estímulo às exportações e desestímulo às importações, melhora o saldo da balança de pagamento; d) quanto melhor os termos de troca, isto é, quanto mais caros forem os produtos que exportamos em relação aos produtos que importamos, melhor será o saldo da balança de pagamento nacional. 8.3. A influência da taxa de câmbio Do ponto de vista dos objetivos de política econômica, vale observar que a taxa de câmbio pode contribuir para o aumento do PIB, por meio da elevação da exportação, que é um dos componentes da demanda agregada. Portanto, para incentivar a exportação e, portanto, o PIB, a política cambial precisa ser agressiva. A política de incentivos à exportação também pode ser usada para aumentar as vendas externas, embora seu grau de flexibilidade seja reconhecidamente menor. 123 Por outro lado, desvalorizações mais pronunciadas da moeda local (e, portanto, aumentos da taxa de câmbio) impactam negativamente a inflação, pelo aumento dos preços dos produtos importados, em reais. Portanto, se o objetivo da política econômica está concentrado no combate à inflação, quanto mais baixo for o valor do dólar, maior será a contribuição da política cambial para estabilizar a inflação. A mesma contribuição ocorre com a redução das alíquotas do imposto de importação, como ocorreu no âmbito do Plano Real. Quanto ao equilíbrio externo, a experiência brasileira é muito rica em termos do papel da política cambial. As crises externas de 1982-1983, de 1987 e de 1998-1999 foram superadas a partir de fortes desvalorizações da moeda brasileira. De outro lado, as prefixações da correção cambial de 1980, o congelamento do câmbio no Plano Cruzado e a política cambial do real mostraram que, quando a moeda local fica supervalorizada, a crise no setor externo acontece, inevitavelmente. É importante lembrar que políticas de ajustamento do balanço de pagamentos (redução do déficit), nas quais a política cambial tem um papel crucial, normalmente vêm acompanhadas de retração do ritmo de atividade econômica. Isso porque, além da desvalorização da moeda, objetiva-se conter a demanda agregada (redução de gastos públicos, aumento de impostos, aumento de juros etc.) para diminuir o volume de importações. Embora as importações acabem sendo afetadas, a demanda dirigida à produção doméstica também se contrai, levando, freqüentemente o país à recessão. Quando falamos de trocas internacionais precisamos incorporar o elemento taxa de câmbio. Assim, observa-se uma importante diferença do comércio internacional em relação ao comércio doméstico. Este último é realizado com uma mesma moeda nacional, enquanto no comércio internacional existe a necessidade da conversão entre diferentes moedas. Dentro do Brasil, a compra e venda de mercadorias são feitas com a moeda nacional, o Real, porém, quando um brasileiro adquire um produto alemão (importa), o vendedor alemão quer receber em euro (moeda da CE). Do mesmo modo, quando o Brasil exporta para a Japão, desejará receber o valor das exportações em reais e não em iens, pois ele tem seus custos, com salários, impostos, matéria-prima, etc, em reais e não em moeda estrangeira. Deste modo, o comércio internacional introduz um novo elemento a ser considerado: a taxa de câmbio. A taxa de câmbio é o valor que uma moeda nacional possui em termos de outra moeda nacional; é a taxa pela qual duas moedas de países diferentes podem ser trocadas, ou cambiadas. Assim temos, por exemplo, a taxa de câmbio do real, moeda nacional brasileira, em relação ao dólar norte-americano, moeda nacional dos EUA, era em dezembro de 2005 de aproximadamente 2,20 R$/US$, ou seja, cada 1 (um) dólar valia 2,20 reais. É assim que através das taxas de câmbio, torna-se possível realizar as transações entre os países. As taxas de câmbios são basicamente determinadas através do mercado cambial. Aqui cabe uma observação importante, o mercado cambial pode ser feito com várias moedas como, por exemplo, o dólar, o euro ou outra moeda qualquer. No nosso caso usamos mais o dólar porque as nossas transações comerciais majoritariamente ainda são com países que tem o dólar como moeda de troca. Por mercado cambial entende-se o mercado em que as moedas dos diferentes países são transacionadas. Neste mercado, existem ofertas e demandas pelas várias 124 moedas. Deste modo, temos por um lado àqueles agentes, privado ou públicos, que demandam determinada moeda. No Brasil, temos, por exemplo: i. os importadores de mercadorias que necessitam de moeda estrangeira para pagamento de suas faturas; ii. os agentes que necessitam de moeda estrangeira para saldar dívidas contraídas anteriormente; iii. as empresas estrangeiras que atuam no Brasil e desejam remeter lucros para a matriz; iv. os turistas brasileiros que viajam para o Exterior, necessitam de moeda estrangeira para efetuar seus gastos. A partir destes agentes, temos a demanda brasileira por moeda estrangeira. Porém, ao mesmo tempo, estes agentes também estão oferecendo reais no mercado cambial. Por outro lado, há outros agentes, que também podem ser privados ou públicos, por exemplo, que oferecem moeda estrangeira e procuram reais, neste caso, temos: i. os exportadores brasileiros; ii. os estrangeiros que querem investir no Brasil; iii. os tomadores de empréstimos no exterior; iv. os turistas que trazem moeda estrangeira para o Brasil, etc. As oscilações na demanda e na oferta de determinada moeda devem conduzir a modificações no equilíbrio deste mercado – taxa de câmbio e quantidade de moeda transacionada. Assim, por exemplo, um aumento dos investimentos estrangeiros no Brasil significa um aumento na oferta de moeda estrangeira e também um aumento na demanda de reais. Estes aumentos fazem com que a taxa de câmbio se modifique, valorizando o real e desvalorizando as moedas estrangeiras (dólar, euro, etc.). Ou seja, o preço do real em relação às moedas estrangeiras deve crescer e a quantidade de reais que se compra com um dólar ou euro ou ien deve ser menor. Assim, define-se uma valorização da moeda nacional, quando o poder de compra desta em relação às demais cresce, e uma desvalorização, quando seu poder de compra cai. A determinação da taxa de câmbio envolve diversas variáveis, sendo as exportações e importações consideradas como as principais. Se tais variáveis forem as preponderantes no mercado de divisa do país, a taxa de câmbio de equilíbrio deve refletir a competitividade da produção doméstica frente à do restante dos países. Entretanto, esta competitividade também pode ser influenciada pela taxa de câmbio, à medida que uma desvalorização cambial aumenta a competitividade deste país e uma valorização a diminua, pois, quando se desvaloriza o câmbio, aumenta-se o preço, em moeda nacional, dos produtos importados e possibilita-se a diminuição dos preços dos produtos exportados ou tomando medidas que influenciam as taxas de câmbio. Assim, os governos podem procurar intervir nas taxas de câmbio, por exemplo, desvalorizando-as com o intuito de aumentar suas exportações e diminuir as importações, conseguindo talvez aumentar o nível de emprego e de renda do país. Se todos os países optarem por este tipo de atuação, teremos uma guerra comercial, ou seja, uma guerra cambial. Como vimos, a taxa de câmbio é uma variável muito importante dentro de uma economia, pois ela pode influenciar o nível de produção e de inflação desta economia, além do próprio comércio externo e dos movimentos de capital relacionados a este país e de vários outros aspectos de sua economia. Deste modo, o governo procura regulamentar 125 o mercado cambial com o objetivo de melhorar o desempenho de certas variáveis econômicas de seu interesse. Em suma, o nível de exportações e importações de determinado país depende basicamente das condições de competitividade da economia e das condições de demanda interna e externa. As exportações do país, como dissemos, correspondem à demanda de não-residentes por produtos nacionais, isto é, ampliam a demanda agregada do país, sendo assim, dependem do preço do produto e da renda no resto do mundo. Quanto menor o preço do produto nacional e quanto maior for a renda externa, maior será o volume de exportações. Já as importações ampliam a oferta interna e correspondem à demanda de residente por produtos estrangeiros, esta dependerá do preço dos produtos e da renda interna do país. Quanto menor o preço do produto importado e quanto maior a renda interna, maior será o volume de importações. Antes de continuarmos a discussão sobre política cambial, é interessante definir alguns conceitos. O primeiro refere-se ao termo taxa de câmbio que, na realidade, é a medida de conversão de uma moeda em outra moeda. No caso brasileiro, a taxa de câmbio tem como referência o valor do dólar norte-americano (como poderia ser outra moeda, euro, Px). Como se verá, a taxa de câmbio é um preço fundamental da economia, porque afeta a situação do setor externo, a inflação, o crescimento da produção e assim por diante. Já quando se fala em política de comércio exterior de um país, está-se referindo às decisões do governo que afetam as entradas e saídas de divisas do país em termos de transações comerciais (tarifas de importação, estabelecimento de quotas, incentivos à exportação etc.). 8.4. Os Sistemas Cambiais Por sua importância como um dos preços básicos da economia, tem sido comum, principalmente entre os países que registram maior instabilidade, mudanças freqüentes na forma de condução da política cambial, dependendo das condições do mercado internacional e do objetivo de política econômica que está sendo perseguido. Em termos simplificados, pode-se dividir em três os sistemas de cambio existentes: câmbio livre, câmbio fixo e “minibandas”. No sistema de câmbio livre, o valor da moeda estrangeira é determinado pelas forças livres de mercado, isto é, oferta e demanda de dólares. A oferta de dólares como já dissemos, é dada pelos exportadores, pelos turistas estrangeiros que vêm ao Brasil, pelas empresas multinacionais, que vêm fazer investimentos, pelos empréstimos obtidos por empresas brasileiras no exterior, enfim, por todos os agentes que trazem dólares para o país. Por outro lado, a demanda de dólares é determinada pelos importadores, pelas empresas brasileiras que efetuam pagamento de juros ou títulos no exterior, pelas empresas multinacionais quando remetem juros ou lucros para seus países de origem, pelos turistas brasileiros quando vão ao exterior, ou seja, por todos os agentes que enviam dólares para fora do país. Uma das características do câmbio livre é sua alta volatilidade, como ocorreu no Brasil em 1999 e em 2002. Essa volatilidade é explicada pelos movimentos bruscos de entrada (dólares de privatização, novos empréstimos externos etc.) ou saída de dólares (vencimentos de empréstimos no exterior, remessa de lucros etc.). Essa volatilidade traz uma série de inconvenientes para o bom funcionamento da economia: em primeiro lugar, torna-se um campo fértil para a especulação com moeda estrangeira, trazendo incerteza aos agentes econômicos; em segundo, gera dificuldades para os importadores 126 determinarem o preço (em reais) das mercadorias importadas, sejam elas bens intermediários ou bens finais; e, em terceiro, acaba por desestimular as exportações pela incerteza quanto ao valor a ser recebido pelo exportador (em reais). Essa volatilidade faz com que a maior parte dos países do mundo adotem o sistema chamado de “flutuação suja”. Nesse sistema, o câmbio flutua livremente, mas dentro de certos limites que o Banco Central não comunica ao mercado. Se a cotação supera o limite máximo estabelecido, o Banco Central vende moeda estrangeira, fazendo o contrário (comprando) quando a cotação cai abaixo do limite inferior. Um segundo sistema cambial é o de taxa fixa, no qual o valor da moeda estrangeira é determinado pelo governo e não se altera. A experiência mais forte nesse sentido é a da Argentina, que desde 1991 vinha mantendo a paridade 1 US$ = 1 peso. O Banco Central da Argentina, de acordo com a lei, comprometia-se a vender e a comprar qualquer montante de divisas à taxa estipulada, até que em 2001, depois de uma grave crise, teve que liberar o câmbio. Uma observação importante em relação ao sistema de câmbio fixo é o fato de o mesmo ser normalmente adotado por países que têm problemas inflacionários, e identificam no câmbio fixo uma forma de eliminar a inflação, uma vez que os preços dos produtos importados param de subir (a chamada “âncora cambial”). Para que esse programa tenha sucesso como elemento de combate à inflação, é necessária uma adequada condução das políticas fiscal e monetária. No Brasil, assistiu-se a vários congelamentos de taxas de câmbio, como no Plano Cruzado e Verão, mas os resultados em termos de combate a inflação, não tiveram êxito. Além disso, para a implantação de um sistema de câmbio fixo, o país precisa contar com um bom nível de reservas, para que o Banco Central possa fazer frente a eventuais ataques especulativos (agentes querendo trocar moeda local por moeda estrangeira acreditando que a paridade fixa não vá se manter). Por outro lado, um sistema de câmbio fixo pode comprometer as contas externas do país, tirando competitividade das exportações e incentivando importações, principalmente se mantido por um período de tempo muito longo. Essa experiência o Brasil viveu por ocasião do Plano Cruzado, levando inclusive o país à moratória em 1987. O terceiro sistema é, na verdade, um meio termo entre os dois primeiros: é o sistema de minibandas, no qual o governo estabelece (e informa ao mercado) miniintervalos, em que o Banco Central garante que a moeda estrangeira permanecerá. Se necessário, o Banco Central compra ou vende divisas para manter sua cotação dentro da minibandas. Esse sistema ganhou muito impulso na América Latina, principalmente a partir da experiência do México, que havia sido bem-sucedida até o final de 1994. O Brasil, a partir de 1995, passou a utilizar o sistema de minibandas, mas da mesma forma que o México, também teve seu sistema fracassado em janeiro de 1999. Na realidade, esse sistema, a exemplo do câmbio fixo, também foi adotado com objetivos antiinflacionários, mas tem uma pequena flexibilidade, dada pela banda, que vai gradualmente sendo alterada ao longo do tempo. 127 8.5. Taxa de Cambio de Equilíbrio O conflito entre manter as contas externas equilibradas e combater a inflação tem levado a uma grande discussão sobre qual a taxa de câmbio “adequada” para um país. Infelizmente, essa questão não tem uma resposta objetiva, embora se possam tecer algumas considerações a respeito. Inicialmente, vale lembrar que a política cambial a ser adotada procura estar sintonizada com o objetivo que está sendo perseguido pela política econômica do país: se a ênfase está concentrada no controle da inflação, no equilíbrio externo ou no crescimento da produção. No lançamento do Plano Real, por exemplo, o objetivo da política econômica era o de atacar a inflação. Já em janeiro de 1999, o objetivo centravase na busca do equilíbrio externo. Para discutir esse quadro, é importante avaliar os impactos das mudanças cambiais nas exportações e nas importações. O quadro 01 mostra que o aumento da taxa de câmbio tende a elevar as exportações (porque a receita em reais aumenta) e reduzir as importações (porque a despesa em reais aumenta). Quadro 01 – Relação entre taxa de câmbio, exportações e importações (dois exemplos). Taxa de Câmbio Preço do Aço Preço do Aço Exportações (R$ por Dólar) (em US$) (em US$) 2,00 4,00 8,00 Desejam exportar mais 1,00 4,00 4,00 Desejam exportar menos Taxa de Câmbio Preço do Petróleo Preço do Petróleo Importações (R$ por Dólar) (em US$) (em US$) 2,00 0,50 1,00 Desejam importar menos 1,00 0,50 0,50 Desejam importar mais Feitas essas observações, a discussão pode ser iniciada supondo duas situações distintas: a primeira, partindo de uma situação de equilíbrio das contas externas, e a segunda, saindo de uma situação de desequilíbrio. A teoria de paridade do poder de compra diz que, a partir de uma situação de equilíbrio, a variação da taxa cambial será igual à diferença entre a inflação interna e externa. O impacto da inflação interna fica evidente sobre o comportamento do setor externo, à medida que eleva os custos da produção e, se a receita não acompanhar esses custos, a rentabilidade da exportação diminui ou até mesmo desaparece. Esse fato ocorreu na década de 60 no Chile e na Argentina, quando esses países congelaram a taxa de câmbio, na presença de inflação interna Outra questão importante, que impacta a evolução da taxa cambial, refere-se ao índice de relação de trocas de um país. O índice de relação de trocas é a relação entre o índice de preços de exportação (Px) e o índice de preços dos produtos importados (Pm). Se essa relação é desfavorável ao país (isto é, os preços de importação sobem mais que os de exportação), a diferença deve ser “compensada” com a desvalorização do câmbio. Isso porque a receita da exportação deve evoluir menos favoravelmente que as despesas com a importação, tendendo a gerar déficit. A forma de evitar o déficit é desvalorizar a moeda para compensar. 128 Deve-se levar em conta também os efeitos dos ganhos de produtividade sobre a taxa de câmbio. Assim, se um país está registrando ganhos de produtividade (como ocorreu com o Brasil após a implantação do Real) superiores a de seus concorrentes, a taxa de câmbio que equilibra as contas externas do país pode ser reduzida, porque os custos de produção ficam mais baixos, exatamente em função desses ganhos de produtividade. É importante observar que a análise aqui efetuada está-se referindo à evolução da taxa de câmbio no sentido de alterar ou não a rentabilidade do exportador. Do ponto de vista da capacidade de competição do produto no exterior, seria necessário levar em conta também a evolução da produtividade dos países concorrentes. Outro ponto importante a destacar é a evolução relativa das moedas com as quais o Brasil mantém intercâmbio comercial. Nos anos de 1996-1998, as moedas européias e o ien japonês, desvalorizaram-se perante o dólar, acarretando também uma desvalorização em relação ao real, dado que o Brasil define sua política cambial em relação ao dólar. O procedimento mais correto seria levar em conta uma cesta de moedas, com a participação ponderada dos países com os quais o Brasil mantém comércio. 8.6. Política de Comércio Exterior Uma análise retrospectiva das políticas de comércio exterior adotadas no mundo mostra que, em determinados períodos de tempo, o comércio internacional foi visto como um importante fator de desenvolvimento econômico, enquanto em outros, esse mesmo comércio representou uma ameaça às economias domésticas. Além disso, para vários países, principalmente na América Latina, a política de comércio exterior passou a ser vista como elemento estratégico nos programas de estabilização, ao tornar a concorrência mais acirrada no mercado interno (como ocorreu com o Brasil por ocasião da implantação do Plano Real). Logo após a Segunda Guerra Mundial e até 1973, o mundo assistiu a um processo crescente de liberalização das economias, com conseqüente redução de barreiras alfandegárias (a tarifa média de importação nos paises industrializados caiu de 35% para 6% nesse período). No período 1953 a 1973, para um crescimento do PIB mundial de 4,8% a.a., o comércio internacional aumentou 7,8% (Tabela 03). Tabela 03 – Crescimento do PIB e do volume de comércio mundial (em anos selecionados) entre 1953 a 1999. Discriminação 1953/1973 1974/1985 1986/1990 1991/1999 2003 Comercio Mundial (A) 7,80 4,10 5,20 6,20 6,6 PIB Mundial (B) 4,80 3,30 3,40 3,10 3,9 Relação A/B 1,63 1,24 1,53 2,00 1,69 Fonte: World Bank A partir de 1974, nota-se significativa alteração nas políticas de comércio exterior adotada no mundo. O substancial aumento dos preços do petróleo em 1974 e o surgimento de países emergentes com grande capacidade de competição internacional deram “espaço” para o surgimento de um novo conjunto de medidas protecionistas, no que se convencionou chamar de restrições não tarifárias. Tais medidas envolviam ações antidumping, quotas, licenças não automáticas de importação e assim por diante. 129 No início dos anos 80, esse quadro foi reforçado com o segundo choque do petróleo, a escalada dos juros internacionais (conseqüência do desequilíbrio fiscal norteamericano) e ainda a crise da dívida externa dos países em desenvolvimento. Com isso, no período 1974-1985, o PIB mundial cresceu 3,3% ao ano e o comércio mundial apenas 4,1% ao ano. Para reverter essa situação de protecionismo excessivo é que se criou a Organização Mundial de Comércio (1986), a qual propicia, por meio de vários acordos, uma nova onda de redução de barreiras à importação. Embora as principais cláusulas acordadas no âmbito da OMC entrassem em vigor em 1995, já a partir de 1986 o comércio internacional é retomado, e reforçado depois com o processo de globalização, como se pode observar na Tabela acima. No caso brasileiro, verificam-se vários períodos distintos da política de comércio exterior. Nos anos 50, foi a política de substituição de importações, a qual se esgota no início da década de 60, e somente é substituída por uma estratégia mais agressiva de exportações a partir de 1968, período no qual o comércio exterior foi visto como uma importante “mola” do processo de desenvolvimento econômico. Acompanhando a tendência mundial, o período 1974-1988 é caracterizado pelo aumento das tarifas de importação e das restrições não tarifárias, o que transformou o Brasil numa das economias mais fechadas do mundo. De acordo com Silber11, entre 1980 e 1987, o grau de abertura da economia brasileira12 ao comércio mundial reduziu-se em 42% (de 9,4% em 1980 para 6,6% em 1987). A partir de 1988, essa situação inverte-se e o país inicia um novo período de abertura da economia. Em março de 1990, foram eliminados os regimes especiais de importação e as restrições não tarifárias sobre as importações. Em 1991, entrou em vigor um cronograma gradual de redução das tarifas de importação, cuja evolução está apresentada na Tabela 04. Como se pode observar, houve forte redução de tarifa entre 1988 (45%) e 1994 (14,2%), que foi mantida nos anos iniciais do Plano Real. Posteriormente, em 1998, a elevação das alíquotas de importação de brinquedos, têxteis e eletroeletrônicos, entre outros, gerou um aumento na tarifa média de importação, que volta a se reduzir em 1999. Tabela 04 – Brasil Tarifas de Importações (em %) de 1988 a 1999. Ano Tarifa Média Ano 1988 45,0 1994 1989 41,0 1995 1990 32,2 1996 1991 25,3 1997 1992 21,2 1998 1993 17,1 1999 Tarifa Média 14,2 14,5 13,6 13,8 16,7 10,8 Fonte: Conjuntura Econômica 11 Ver a respeito SILBER, 5. D. Cenário mundialeas perspectivas da economia brasileira. São Paulo: FIA/USP, 2000. 12 O grau de abertura de um país é medido pela soma das exportações e Importações de um determinado período e dividido pelo PIB do mesmo período multiplicado por 100. Ou seja, pela fórmula: Grau de Abertura = X + M ×100 PIB 130 8.7. Outros Conceitos Importantes Além dos itens que compõem o balanço de pagamentos, existem outros conceitos importantes utilizados na análise do setor externo. Esses conceitos são apresentados a seguir. 8.7.1. Índice de relação de trocas O índice de relação de trocas mede a relação entre os preços dos produtos que o país exporta (Px) e o preço dos produtos que o país importa (Pm) (ambos medidos em dólares), isto é: IRT = Px Pm É importante observar três aspectos em relação ao índice de relação de trocas: (a) sempre que a relação se tornar desfavorável às exportações, isto é, o índice cair, a tendência é de desvalorização da moeda local, porque serão necessárias mais exportações para adquirir a mesma quantidade de importação; (b) é comum observar queda no índice, sempre que ocorre uma desvalorização cambial no país, uma vez que os importadores pressionam os exportadores para reduzirem os preços (em dólares) a fim de se apropriarem de parte dos benefícios da desvalorização cambial; e (c) sempre que os preços internacionais sobem excessivamente, como ocorreu com o petróleo em alguns períodos, os países importadores perdem no índice de relação de trocas e o câmbio é pressionado no sentido da desvalorização. 8.8. Indicador da Situação Externa A situação externa de um país pode ser analisada através da construção de indicadores a partir de dados sobre a dívida externa e do balanço de pagamento. Assim, podem-se construir quatro indicadores. Indicador de vulnerabilidade, de comprometimento, de segurança e de abertura. A seguir analisaremos cada um destes indicadores. Com alguns dados mais detalhados de cada um destes indicadores relativos aos últimos anos de nossa economia. 8.8.1. Indicador de vulnerabilidade O indicador ou coeficiente de vulnerabilidade é um indicador do grau de solvência externa de um país, e mede a relação entre a dívida externa líquida de um país (dívida externa – reservas internacionais) e o valor das exportações. O objetivo é verificar quantos anos de exportação são necessários para pagar a dívida externa. Indicador de vulnerabilidade, calculado através da relação dívida externa menos as reservas, dividido pelas exportações, cujo resultado representa quantos anos de exportações são necessários para pagar a dívida externa. Assim: Indicador de vulnerabilidade Externa = Onde: DB = Dívida Externa Bruta, R = Reservas Internacionais, X = Exportações. 131 DB − R X A Tabela 05 apresenta a evolução do coeficiente de vulnerabilidade do Brasil desde 1980. Chamam a atenção três períodos em que o índice se tornou muito elevado: o primeiro, no período 1981-1982, quando o índice ultrapassou a casa dos 4,0 (significando que seriam necessários mais de quatro anos de exportação para pagar toda a dívida externa), e o Brasil recorreu ao FMI (1982), desvalorizando a moeda; o mesmo ocorre em 1986-1987, quando o Brasil decretou moratória da dívida externa (governo Sarney) e novamente desvalorizou a moeda (gestão Bresser Pereira); e, por fim, o período 19981999, quando outra vez o Brasil recorreu ao FMI e desvalorizou a moeda (adoção do regime de câmbio flexível). Tabela 05 – Brasil: Coeficiente de vulnerabilidade em anos selecionados de 1990 a 2005 Dívida Bruta Reservas Externas Exportações Coeficiente Anos (1) (2) (3) (1 – 2) / (3) 1990 123,4 10,0 31,4 3,61 1995 159,3 51,8 46,5 2,31 2000 216,9 33,0 55,1 3,34 2005 179,5 53,8 118,3 1,06 Fonte: Conjuntura Econômica Vol 60 nº 06 8.8.2. Indicador de Comprometimento Vejamos agora o indicador de comprometimento que é calculado através da relação entre o pagamento de juros referentes à dívida externa/exportações, e representa a parcela das exportações comprometida com o pagamento de juros. Desta forma: Indicador de Comprometimento = Juros X Onde: Juros = Juros da Dívida Externa, X = Exportações. Tabela 06 – Brasil: Coeficiente de Comprometimento em anos selecionados de 1990 a 2005 Juros pagos Exportações Coeficiente Anos (1) (2) (1) / (2) 1990 9,7 31,4 0,31 1995 8,2 46,5 0,18 2000 14,6 55,1 0,26 2005 13.5 118,3 0,11 Fonte: Conjuntura Econômica Vol 60 nº 06 8.8.3. Indicador de Segurança Já o indicador de segurança é calculado pela relação entre as reservas internacionais do país e as importações, indicando quantos meses de importações estão garantidos pelas reservas que dispõe. Ou seja: Indicador de Segurança = RESERVAS M Onde: Reservas = Saldo de reservas estrangeiras que o país possui, M = São as Importações do País. 132 Tabela 07 – Brasil: Coeficiente de segurança em anos selecionados de 1990 a 2005 Reservas externas Importações Coeficiente Anos (1) (2) (1) / (2) 1990 10,0 20,7 0,34 1995 51,8 49,7 1,04 2000 33,0 55,8 0,59 2005 53,8 73,6 0,73 Fonte: Conjuntura Econômica Vol 60 nº 06 8.8.4. Indicador de Abertura O último indicador é o de abertura da economia do país, que representa a relação do comércio exterior do país como a produção interna, ou seja, a soma das exportações e importações dividido pelo PIB, e multiplicado por cem. Assim: Indicador de Abertura = X +M 100 PIB Onde: X+M = É a soma das Exportações e Importações do país PIB = É o Produto Interno Bruto. Tabela 08 – Brasil: Coeficiente de abertura em anos selecionados de 1990 a 2005 Exportações Importações PIB Coeficiente Anos (1) (2) (3) (1+2) / (3) 1990 31,4 20,7 469,3 11,1 1995 46,5 49,7 705,5 13,6 2000 55,1 55,8 595,4 18,6 2005 118,3 73,6 797,8 24,0 Fonte: Conjuntura Econômica Vol 60 nº 06 Explorada a questão conceitual, pode-se partir para uma análise da situação do setor externo da economia brasileira. Para facilitar a visualização das diferentes etapas enfrentadas pelo país, a exposição será dividida em vários períodos, que serão destacados em seguida. 8.9. Evolução do Setor Externo Como já foi comentado no início deste texto, a partir de 1968 o Brasil adotou uma estratégia de maior abertura da economia ao resto do mundo. Até então, o volume de comércio de mercadorias do país com o resto do mundo apresentava números muito reduzidos, situando-se em torno de US$ 2,5 bilhões a US$ 3 bilhões (exportações mais importações) e praticamente estáveis nos 20 anos anteriores ao início deste processo. E, é bom frisar, a política cambial era a principal responsável por esse quadro de estagnação. Na verdade, antes de 1968, o sistema cambial adotado pelo Brasil consistia em desvalorizações abruptas da taxa de câmbio, em grandes intervalos de tempo, fato esse que trazia conseqüências desfavoráveis sobre o desempenho das principais variáveis do setor externo da economia. Em primeiro lugar, havia um grande risco para o exportador, dada a incerteza em relação ao tempo e tamanho da próxima desvalorização. Além disso, a atividade exportadora não contava com estímulos suficientes para aumentar seu volume 133 de vendas ao exterior, em virtude de problemas relacionados à remuneração (taxa cambial valorizada, inexistência de incentivos fiscais etc.). Como conseqüência, a capacidade de importar do país também era reduzida. Além disso, as desvalorizações cambiais bruscas criavam movimentos especulativos em termos de importações e de fluxo de capitais. Quando eram esperadas desvalorizações cambiais significativas, os agentes procuravam antecipar importações e converter moeda nacional em moeda estrangeira, fazendo o oposto logo após a desvalorização. Esse sistema representava um forte obstáculo à política de desenvolvimento econômico, para a qual era importante a importação de equipamentos, máquinas, matérias-primas, componentes etc. Essa necessidade crescente de importações tenderia a criar fortes pressões sobre a balança de pagamentos, em razão da baixa capacidade de exportar do país. A constatação dessa evidência resultou, a partir de 1968, na formulação de uma política de desenvolvimento com ênfase nas exportações, sendo a taxa cambial um dos principais instrumentos dessa nova política. 134