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1
EVIDÊNCIDAS DO FORTALECIMENTO DOS MÚSCULOS DO COMPLEXO
PÓSTERO-LATERAL DO QUADRIL NO TRATAMENTO DA SÍNDROME DA DOR
PATELOFEMORAL
Nilo Vieira Borges¹, Acácia Gonçalves Ferreira Leal2
¹Pós-graduando em Fisiologia do Exercício; Treinamento à Reabilitação, Centro de Estudos
Avançados e Formação Integrada (CEAFI), chancelado pela Pontifícia Universidade Católica
de Goiás (PUC-Goiás), Goiânia, Goiás, Brasil.
²Orientadora da Pós-Graduação em Fisiologia do Exercício, Centro de Estudos Avançados e
Formação Integrada (CEAFI), chancelado pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás
(PUC-Goiás), Goiânia, Goiás, Brasil.
Instituição: Pontifícia Universidade Católica de Goiás
Endereço para correspondência:
Rua: Feliciano Martins Correa n83
Quirinópolis/GO-CEP: 75860/000
Telefone: 64-984524762
E-mail: [email protected]
2
RESUMO
Introdução: A Síndrome da dor patelofemoral (SDPF) é uma desordem biomecânica,
caracterizada por dor na parte anterior do joelho, muito comum entre atletas, com maior
prevalência entre as mulheres. Embora sua etiologia seja multifatorial, acredita-se que a
fraqueza da musculatura estabilizadora do quadril e do joelho esteja relacionada com a SDPF.
Objetivo: Analisar os protocolos de tratamento fisioterapêutico que utilizam o fortalecimento
do complexo póstero-lateral do quadril (CPLQ) como forma de tratamento para a SDPF.
Método: Realizou-se um levantamento bibliográfico utilizando as bases de dados Lilacs,
Pubmed e Scielo, produzidos no período de 2006 a 2016, na língua portuguesa e inglesa.
Foram analisados estudos que investigaram a correlação do fortalecimento dos músculos do
CPLQ com o tratamento da SDPF. Resultados: Dos 52 artigos selecionados, 44 foram
retirados devido à baixa qualidade metodológica, sendo inclusos neste estudo apenas oito
artigos para análise qualitativa. Considerações Finais: Embora existam divergências quanto
ao tempo de tratamento fisioterapêutico em específico, o programa de fortalecimento do
CPLQ é eficaz na melhora da função articular, diminuição da dor, aumento da força e um
retorno mais precoce as atividades físicas quando comparado a outros protocolos de
tratamento.
Palavras chave: Fortalecimento, Condromalácia, Síndrome da dor Patelofemoral.
3
SUMMARY
Introduction: Patellofemoral pain syndrome (PFPS) is a biomechanical disorder,
characterized by pain in the anterior part of the knee, very common among athletes, with a
higher prevalence among women. Although its etiology is multifactorial, weakness of the hip
and knee stabilizing muscles is believed to be related to PFPS. Objective: To analyze the
physiotherapeutic treatment protocols that use the strengthening of the posterolateral hip
complex (PLHC) as a form of treatment for PFPS. Method: A bibliographical survey was
carried out using the Lilacs, Pubmed and Scielo databases, produced between 2006 and
2016, in Portuguese and English. We analyzed studies that investigated the correlation of
PLHC muscle strengthening with the treatment of PFPS. Results: Of the 52 articles selected,
44 were withdrawn because of poor methodological quality, and only eight papers were
included for qualitative analysis in this study. Final Thoughts: Although there is
disagreement over the time of specific physical therapy treatment, the PLHC strengthening
program is effective in improving joint function, decreasing pain, increasing strength and
earlier return to physical activities when compared to other treatment protocols.
Key words: Strength, Chondromalacea, Patellofemoral Pain Syndrome.
4
INTRODUÇÃO
A SDPF é um termo que engloba todo tipo de dor ocorrida na articulação
patelofemoral (APF) ou em torno dela1. É uma patologia ortopédica comum entre atletas
corredores e triatletas2,3,4,5, sendo mais prevalente em mulheres jovens ativas, entre18 a 40
anos6, 7.
Acredita-se que a etiologia da SDPF seja multifatorial, sendo o desalinhamento patelar
um dos fatores contribuintes para o seu desenvolvimento ou agravo. É proposto que alterações
biomecânicas proximais, locais e distais estejam atribuídas à sua origem. Dentre essas
alterações biomecânicas, pode-se destacar: fraqueza no músculo do glúteo médio, abdutores e
rotadores externos do quadril9,10,11; rigidez dos isquiotibiais, gastrocnêmio, retináculo lateral e
trato iliotibial1; aumento do ângulo Q12; desequilíbrio neuromuscular entre os músculos vasto
medial oblíquo (VMO) e o vasto lateral (VL)13; genuvalgo14; torção tibial e frouxidão
ligamentar do joelho15; pronação anormal do pé e a rotação subseqüente da extremidade
inferior12, 16, 17.
O paciente com SDPF, com freqüência, tem um histórico de dor difusa, localizada na
região retropatelar ou peripatelar, podendo ser bilateral e com períodos de exacerbação15, 18.
Atividades como caminhada, corrida, salto, agachamentos, subir e descer escadas ou
simplesmente permanecer por longos períodos na posição sentada, pode exacerbar a dor
devido ao aumento das forças compressivas na APF18. Pesquisas indicam que durante
atividades de agachamento, por exemplo, a musculatura do quadril e os rotadores externos
devem agir excentricamente a fim de controlar a adução e rotação interna do fêmur9, 11.
A adução excessiva do fêmur pode aumentar as forças compressivas que agem na
patela, promovendo o valgo dinâmico no joelho9. Por conseguinte, é sugestivo que o valgo
dinâmico do joelho pode promover a SDPF, assim como lesões no ligamento cruzado anterior
(LCA)5. Em análise eletromiográfica em pacientes com SDPF, o que se observa é uma maior
atividade elétrica dos músculos: glúteo médio (GM) e vasto medial (VM), durante atividades
como descer escadas, por exemplo19. Como se não bastasse, pacientes com SDPF apresentam
maior fraqueza da musculatura do quadril19.
Tradicionalmente, no que diz respeito ao tratamento da SDPF, a reabilitação
fisioterapêutica entra como protagonista, com o propósito de aliviar a dor, além de, aconselhar
e instruir a respeito das atividades da vida diária (AVD´s) e profissional (AVP´s), a fim de
evitar excesso de carga sobre a APF. Além disso, alongamentos dos membros inferiores,
fortalecimento dos músculos adutores, VMO e VL também são prescritos e executados20. Para
5
melhor estabilização segmentar, o uso de palmilhas ortopédicas e bandagens funcionais
também são orientados. Em casos mais graves, é indicado o uso de anti-inflamatórios não
esteroidais, e a liberação do retináculo lateral20, 21.
A literatura propõe, dentre as possíveis formas de tratamento para a SDPF, a
otimização dos músculos abdutores do quadril e rotadores laterais, a fim de controlar os
movimentos do fêmur e prevenir ou reduzir as forças laterais que atuam sobre a patela22.
Também é recomendado o fortalecimento da musculatura pélvica e do tronco, uma vez que a
falta de controle dessa musculatura pode causar excessiva inclinação pélvica anterior, levando
a rotação medial do fêmur22.
Vários autores relatam a importância de um programa de fortalecimento que envolva
os músculos rotadores externos do quadril (músculo piriforme, músculo obturador externo e
interno, músculo gêmeo superior e inferior e músculo quadrado femoral) e os músculos
abdutores do quadril (glúteo máximo, glúteo médio, glúteo mínimo), também chamados de
complexo póstero-lateral do quadril (CPLQ) como forma de tratamento mais adequado para a
SDPF23, 24,25. Este método de tratamento justifica-se, pois, durante o exercício, especialmente
em exercício unipodal, a musculatura do quadril evita a adução e a rotação interna do joelho,
a qual pode resultar em disfunção na extremidade da articulação, e consequente
desenvolvimento da SDPF25.
Observa-se na literatura grande divergência no meio científico envolvendo o
fortalecimento do CPLQ como forma de tratamento da SDPF. Os tipos de tratamento entre si
são discordantes, e os resultados encontrados são diferentes. Desta forma, o objetivo do
presente trabalho é expressar de maneira clara e sucinta sobre as evidências do fortalecimento
dos músculos do CPLQ como forma de tratamento da SDPF demonstrando os melhores
resultados.
6
MÉTODOS
Trata-se de uma revisão sistemática, em que foram utilizados artigos científicos e
livros, publicados pelas bases de dados Lilacs, Pubmed e Scielo, produzidos no período de
2006 a 2016, na língua portuguesa e inglesa. Foi utilizada a combinação dos termos: valgo
dinâmico, disfunção patelofemoral e fortalecimento do quadril. Os termos foram combinados
utilizando os operadores booleanos OR, AND, e NOT AND.
Como critérios de inclusão foram selecionados artigos originais, prospectivos,
randomizados, cegos e duplo-cegos. Quanto aos critérios de exclusão, foram desconsiderados
estudos de caso e artigos de revisão de literatura.
Como recurso de classificação dos artigos selecionados, foi utilizada a escala validada
de qualidade de Jadad, a qual possui cinco parâmetros para pontuação, variando de zero a
cinco pontos. Pesquisas com pontuações inferiores a três pontos são consideradas de baixa
qualidade metodológica, e com poucas possibilidades de extrapolação dos resultados para a
prática clínica.
A coleta de dados foi realizada no período de janeiro a abril de 2016. Foram
selecionados 52 artigos científicos, sendo que oito abordavam o fortalecimento dos músculos
rotadores laterais do quadril e glúteo médio na SDPF. Após a seleção dos artigos, os mesmos
foram lidos e estudados, conforme os objetivos, com posterior redação do artigo de revisão.
7
RESULTADOS
Foram identificados, primeiramente, através de pesquisa na base de dados, 346 artigos, sendo 289 excluídos devido ao título não estar de
acordo com o tema. Cinco artigos foram excluídos por serem trabalhos de revisão bibliográfica e estudo de caso. A partir desta amostragem,
foram selecionados 52 artigos, dentro os quais 44 trabalhos foram retirados devido à baixa qualidade metodológica, restando ao final, apenas oito
artigos para análise qualitativa.
No total, foram investigados 424 indivíduos, os quais receberam diferentes intervenções quanto ao fortalecimento dos músculos do joelho
e do quadril, como alternativa de tratamento da SDPF.
Entre as pesquisas selecionadas, todos os oito estudos apresentaram método de randomização adequado, sendo que dois estudos eram
duplo-cegos. No que referem-se à amostra, dois estudos apresentavam sua composição heterogênea (homens e mulheres), e cinco estudos
apresentavam composição homogênea (apenas mulheres). Apenas um estudo não evidenciou claramente a natureza de sua amostra.
A tabela a seguir apresentará os resultados de diferentes ensaios clínicos que estudaram o fortalecimento do CPLQ, no tratamento para a
SDPF.
Tabela 1 – Artigos selecionados para revisão.
Autor
Dolak et al.2
Objetivo
Amostra e tempo de
Unidade de
tratamento
Medida
Diminuir a dor 33
através
Desfecho
(17
EVA; Escala
Dois grupos de tratamento de Ambas as abordagens demonstraram
do mulheres no grupo do
Funcional dos
quatro semanas: fortalecimento da melhora da função e redução da dor.
fortalecimento
mulheres
Tratamento
quadril e, 16 mulheres
do quadril, ou no grupo do joelho). O
MMII.
Dinamômetro.
musculatura
fortalecimento
do
do
quadril
e, O fortalecimento da musculatura do
quadríceps. quadril permitiu, inicialmente, uma
do joelho em tempo de tratamento foi
Após este período ambos os dissipação da dor de forma mais
mulheres
grupos realizaram fortalecimento rápida,
SDPF.
com de oito semanas.
funcional.
em
comparação
fortalecimento do quadríceps.
ao
8
Autor
Objetivo
Ferber et al.17
Amostra e tempo de
Unidade de
tratamento
Medida
Comparar a dor, Participaram
EVA, Escala de
O G1(88 indivíduos) realizou o Ambos
força muscular, indivíduos (66 homens e
Dor Anterior do
protocolo de exercícios resistidos fortalecimento de joelho e quadril
mulheres).
Seis
e resistência em semanas de tratamento.
Joelho,
dinamômetro.
o
fortalecimento
protocolos
de
dos apresentou a melhora da dor, função
músculos do joelho (quadríceps), articular e força muscular. Embora os
e o G2 (111 indivíduos) realizou o resultados fossem semelhantes, o G2
SDPF ao
protocolo de exercícios resistidos evidenciou mais rápido melhora da
joelho
para
o
ou
et Avaliar
o
fortalecimento
dos dor e maior ganho de força em
músculos do quadril (REQ, RIQ, comparação ao G1.
quadril.
al.
para
os
indivíduos com
fortalecer
20
Desfecho
199
função articular 133
Avraham
Tratamento
e ABD do quadril).
três Participaram
30 EVA, Escala de Os pacientes foram divididos em Os
diferentes
pacientes. O tempo de Avaliação
programas
de tratamento foi de três Patelofemoral.
três
grupos:
G1
diferentes
programas
(7,5' reabilitação explorados mostraram
fortalecimento de quadríceps, 7,5' efeito benéfico semelhantes.
reabilitação pra semanas.
agachamentos e 15' de TENS), G2
a SDPF.
(3' alongamento dos isquiotibiais,
3'
alongamento
do
TI,
9'
fortalecimento dos REQ e 15'
TENS) e, G3 (3' fortalecimento de
quadríceps, 3' fortalecimento dos
REQ,
3'
de
agachamentos,
3'
alongamento dos isquiotibiais, 3'
alongamento do TI e 15' TENS).
9
Autor
Nakagawa
Objetivo
et Estudar
22
al.
Unidade de
tratamento
Medida
o Foram 14 participantes EVA;
fortalecimento
dos
Amostra e tempo de
GC
(10 mulheres e quatro Dinamômetro
músculos homens) divididos em Isocinético;
ABD do quadril, dois
grupos:
Tratamento
grupo Eletromiografia
(mobilização
fortalecimento
do
Desfecho
patelar, Apenas o GC obteve melhora na dor
quadríceps, e maior ativação do glúteo médio. Os
gastrocnêmio, banda iliotibial e extensores do joelho melhoraram em
isquiotibiais e fortalecimento de ambos
os
grupos.
Não
houve
controle (sete) e grupo
quadríceps em cadeia cinética diferenças estatísticas no torque dos
laterais
do de intervenção (sete). O
aberta e fechada. GE (exercícios músculos do quadril em nenhum
quadril
e tempo de tratamento foi
rotadores
do
grupo
controle
o grupo.
quadríceps num de seis semanas
fortalecimento
programa
de
transverso do abdômen, músculos
reabilitação para
ABD do quadril e rotadores
pacientes
laterais.
com
do
mais
músculo
SDPF.
Fukuda et al.23
Determinar se o Foram divididas em dois NPRS,
fortalecimento
GFJ
(26 do
oferece indivíduos) e GFJQ (28 LEFS.
melhor resultado indivíduos). Tempo de
comparado
apenas
tratamento foi de quatro
ao semanas, realizados três
fortalecimento
do joelho.
do
GFJQ
obtiveram
grupos 54 mulheres com de Dor Anterior dois grupos de fortalecimento: melhora na função e diminuição da
do quadril e do SDPF:
joelho
Escala As mulheres foram divididas em Pacientes
vezes por semana.
Joelho, GFJ e GFJQ.
dor após um ano de tratamento em
comparação ao GFJ.
10
Autor
Rabelo et al 24
Objetivo
Avaliar
Unidade de
tratamento
Medida
o Foram
fortalecimento
dos
Amostra e tempo de
trabalho
incluídas
34
no Escala de dor GC
dos Os
resultados
evidenciam
nova
(mesmos
exercícios
do
GC,
semanas, três vezes por manual, Sistema porém em superfície estável e
rotadores
do semana, sendo uma hora de Análise de instável).
quadril e ABD de treino.
Movimento
associados com
Vicon.
exercício
(fortalecimento
NPRS; laterais do quadril e ABD). GE
joelho, tratamento foi de quatro dinamômetro
laterais
Desfecho
do extensores do joelho, rotadores técnica no tratamento conservador.
mulheres Anterior
extensores sedentárias. O tempo de Joelho;
do
Tratamento
de
controle
neuromuscular
dos MMII.
Khayambashi
Examinar
et. al.26
eficiência
a Foram randomizadas 28 EVA, Estado de O grupo controle realizou o Houve melhora da dor, estado de
de mulheres
em
dois Saúde
fortalecimento bilateral de ABD saúde e força bilateral do quadril no
exercícios de
grupos: controle (n=14 (WOMAC),
do quadril e REQ durante três grupo que realizou o exercício em
fortalecimento
fortalecimento
vezes na semana. O grupo placebo comparação ao grupo controle. Após
isolado
dos quadril
REQ e ABD do placebo
quadril
e
do dinamômetro.
REQ)
(n=14).
foi orientado a tomar 1000 mg de seis meses de intervenção, ainda foi
O
Omega- 3 e 400 mg de cálcio por observado melhora no quadro de dor.
em tempo de tratamento foi
indivíduos com de oito semanas.
SDPF.
e
dia, durante oito semanas, sem
praticar atividade física.
11
Autor
Razeghi
27
al.
Objetivo
et Avaliar
quadril
alternativa
tratamento
Medida
em dois grupos: G1 (16
e participantes,
como joelhos)
e
24
G2
de participantes,
Tempo
(16
fortalecimento
Desfecho
entre 90º e 50°. Já o G2 realizou fortalecimento
de
fortalecer o quadríceps.
cirúrgico
para tratamento foi de quatro
esteja
focado
do
quadríceps,
no
o
quadril e extensão do quadríceps resultado aqui apresentado sugere o
mini-agachamentos
não joelhos).
resistidos SDPF
progressivos para os músculos do fortalecimento
28
tratamento
SPDF.
Tratamento
32 EVA, miômetro O G1 realizou exercícios de Embora o conceito atual para tratar a
de mulheres randomizadas digital.
fortalecimento
joelho
Unidade de
o Participaram
programa
do
Amostra e tempo de
para quadril
melhor
dos
músculos
tratamento,
do
por
apresentar maior eficiência.
semanas.
SDPF= Síndrome da Dor Patelofemoral; EVA= Escala Visual Analógica; MMII= Membros inferiores; G1= Grupo Um; G2= Grupo Dois; G3= Grupo Três;
TI= Trato Iliotibial; REQ= Rotadores Externos do Quadril; RIQ= Rotadores Internos do Quadril; TENS= Transcutaneous Electrical Nerve Stimulation; GC=
Grupo Controle; GE= Grupo Experimental; GFJ= Grupo de Fortalecimento do Joelho; GFJQ= Grupo de Fortalecimento de Joelho e Quadril; NPRS=
Numerical Pain Rating Scale; LEFS= LowerExtremityFunctionalScale; ABD= Abdutores; MMII= Membros Inferiores.
12
Tabela 2. Análise metodológica pela Escala de Jadad.
Estudos
Autor
Nakagawa et al.
Dolak et al.
Rabelo et al.
Fukuda et al.
Khayambashi et. al.
Razeghi et al.
Ferber et al.
Avraham et al.
Randomizado
Sim/Não
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim/Não
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim/Não
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim/Não
Sim
Não
Não
Não
Não
Não
Sim
Não
Sim/Não
Sim
Não
Não
Não
Não
Não
Sim
Não
5
3
3
3
3
3
5
3
Método de
randomização
adequado
Houve descrição
das perdas
Estudo duplo
cego
Mascaramento
foi adequado
PONTUAÇÃO
5 ou 0
(5 a 0)
Escala
de
Jadad
–
Não=
0
pontos;
Sim=
1;
Pontuação
maior
ou
igual
a
3
pontos
possui
bom
rigor
metodológico.
13
DISCUSSÃO
O tratamento fisioterapêutico da SDPF através de um programa de fortalecimento do
CPLQ vem sendo discutido no meio científico. Embora alguns estudos referentes ao tema
tenham apresentado bons resultados, ainda há grande divergência quanto aos tipos de
tratamento.
Neste quesito, no que diz respeito ao tempo de tratamento da SDPF, a literatura ainda
não entrou em um consenso comum, apresentando grande discrepância de resultados entre os
trabalhos publicados. Fukuda et al.23 e Rabelo et al.24 apresentaram um precoce programa de
reabilitação com apenas quatro semanas de intervenção. Em contrapartida, Dolak et al.2 e
Khayambashi et al.26 utilizaram um protocolo de tratamento mais extenso, totalizando oito
semanas de intervenção.
Quanto ao que se refere à melhora da dor, avaliada através da EVA, no programa de
Nakagawa et al.22 o grupo de intervenção apresentou uma melhora significativa (P<0,05) entre
a avaliação inicial e final do tratamento em comparação ao grupo controle (P<0,31). Fukuda23
também encontrou resultados semelhantes, em que pacientes com SDPF, que realizaram o
fortalecimento do quadril e do joelho em comparação aos pacientes que apenas fortaleceram o
joelho, apresentaram melhora na função articular e menos dor (P<0,05) após três, seis e 12
meses de realização do tratamento. Por outro lado, Khayambashi et al.26 evidenciou resultados
ainda mais animadores; em comparação ao início do tratamento, pacientes que realizaram o
fortalecimento do quadril apresentaram melhora da dor (P<0,001) após oito semanas de
intervenção. Nessa evolução de menor intervalo de tempo de reabilitação, Ferber et al.17
realizaram também o fortalecimento do quadril ou do joelho de pacientes com SDPF, sendo
assim, também beneficiados com a melhora precoce do quadro álgico (após apenas três
semanas de reabilitação), em comparação ao grupo do fortalecimento do joelho (após quatro
semanas de reabilitação).
Seguindo a mesma linha de pesquisa, Razeghi et al.27 comparou um grupo de
pacientes com SDPF que realizou um programa de fortalecimento dos músculos do quadril
associado ao fortalecimento dos músculos extensores do joelho (G1), e um segundo grupo que
realizou apenas o fortalecimento do extensor do joelho (G2), encontraram melhora no quadro
álgico no G1(p=0.001) em comparação ao G2 (p=0.005). Tal fato, segundo os autores, deve
ser atribuído a melhora da força da musculatura do quadril.
Os protocolos de tratamento mencionados corroboram com os resultados
apresentados no último Consenso Internacional para o Tratamento da SDPF realizado em
14
Manchester em 2016. Este consenso estabelece que os exercícios de fortalecimento do joelho
e do quadril são benéficos para os indivíduos que apresentam SDPF. Além disso, os
exercícios que envolvem a combinação do fortalecimento do joelho e do quadril obtiveram
melhores resultados quando comparados aos exercícios que apenas fortaleceram a
musculatura do joelho 28.
Os diferentes protocolos dos diferentes estudos são realmente discrepantes, com
resultados semelhantes, porém em estudos como o de Avraham et al.20 apresentou
mascaramento dos resultados. Avraham et al.20 mesmo tendo comparado três diferentes
protocolos de tratamento para a SDPF e encontrado resultados positivos para melhora da dor,
evidenciou erroneamente a real eficiência do tratamento, uma vez que utilizou a
administração de eletroterapia analgésica (TENS) em todos os grupos, não havendo grupo
placebo ou grupo que não utilizasse medida de eletroterapia.
Além da melhora do quadro álgico, o padrão de força muscular é discutido na
literatura. Piazza et al. avaliou 52 sujeitos do sexo feminino (23 sujeitos com SDPF e 29
clinicamente saudáveis). Após avaliação isocinética, foi observado menor pico de torque e
trabalho dos flexores e extensores dos músculos do joelho e menor capacidade funcional do
joelho em pacientes com SDPF8. Por outro lado, Cichanowski et al.12 apontam a relação entre
a diminuição da força muscular do CPLQ associado a SDPF. Dessa forma as alterações de
força no quadril e no joelho são capazes de promover desordens biomecânicas e exacerbar
quadros álgicos no joelho.
Bolgla et al.19 evidenciaram que pacientes com SDPF apresentaram redução de
22% de força nos músculos abdutores do quadril e uma redução de 21% da força dos
músculos rotadores externos do quadril em comparação a indivíduos sem SDPF. Além do
mais, os mesmos autores ainda relataram que indivíduos com SDPF apresentaram maior
atividade eletromiográfica nos músculos GM e VM durante atividades funcionais, como
descer escadas, o que sugere alteração na atividade neuromuscular. De acordo com Oliveira et
al.18 indivíduos com SDPF apresentam redução de 22% da força dos rotadores mediais do
quadril e, 23% da força dos extensores do joelho em comparação aos indivíduos que não
possuem SDPF. Desta forma, um programa de fortalecimento muscular pode beneficiar sim
estes indivíduos.
Encontra-se na literatura diversos trabalhos que sugerem a inclusão do fortalecimento
dos músculos do CPLQ como recurso no tratamento da SDPF23,24,25,29,30,31. Semelhantemente
o proposto, Ferber et al.17 em seu estudo a despeito do fortalecimento muscular em indivíduos
com SDPF, os mesmos apresentaram nítido ganho de força muscular, em ambos os grupos de
15
fortalecimento do joelho e do quadril. No entanto, o grupo que realizou o fortalecimento do
quadril, obteve melhores resultados no ganho de força muscular para os músculos abdutores
do quadril (aumento de 11,46% da força) e músculos extensores do quadril (aumento de
11,34% da força), em comparação ao grupo que realizou o fortalecimento do joelho (aumento
de 8,21% da força em abdutores do quadril e 7,13% da força em extensores do quadril).
Concernente ao Consenso Internacional para o Tratamento da SDPF, faltam maiores
estudos para evidenciar com clareza a superioridade do fortalecimento do CPLQ em relação
ao fortalecimento do joelho. Tal fato se deve alguns exercícios, como o agachamento,
fortalecer ambas as articulações, não focando corretamente em uma estrutura específica28.
Desta forma, o presente estudo revela que o fortalecimento do CPLQ é eficaz no tratamento
da SPDF, por outro lado, há necessidade de maiores estudos para estabelecer um protocolo
mais adequado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Existem evidências favoráveis quanto ao fortalecimento do CPLQ como tratamento da
SDPF. O fortalecimento dos músculos do quadril auxilia na melhora da função articular,
diminuição da dor, aumento da força e um retorno mais precoce as atividades físicas quando
comparado a outros tipos de tratamento. Embora ainda haja divergências quanto aos diversos
tipos de tratamentos utilizados, é de suma importância a realização de novos estudos com
amostras maiores, e diferentes intervenções, com subsequentes comparações entre os mesmos.
REFERÊNCIAS
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