1 EVIDÊNCIDAS DO FORTALECIMENTO DOS MÚSCULOS DO COMPLEXO PÓSTERO-LATERAL DO QUADRIL NO TRATAMENTO DA SÍNDROME DA DOR PATELOFEMORAL Nilo Vieira Borges¹, Acácia Gonçalves Ferreira Leal2 ¹Pós-graduando em Fisiologia do Exercício; Treinamento à Reabilitação, Centro de Estudos Avançados e Formação Integrada (CEAFI), chancelado pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-Goiás), Goiânia, Goiás, Brasil. ²Orientadora da Pós-Graduação em Fisiologia do Exercício, Centro de Estudos Avançados e Formação Integrada (CEAFI), chancelado pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-Goiás), Goiânia, Goiás, Brasil. Instituição: Pontifícia Universidade Católica de Goiás Endereço para correspondência: Rua: Feliciano Martins Correa n83 Quirinópolis/GO-CEP: 75860/000 Telefone: 64-984524762 E-mail: [email protected] 2 RESUMO Introdução: A Síndrome da dor patelofemoral (SDPF) é uma desordem biomecânica, caracterizada por dor na parte anterior do joelho, muito comum entre atletas, com maior prevalência entre as mulheres. Embora sua etiologia seja multifatorial, acredita-se que a fraqueza da musculatura estabilizadora do quadril e do joelho esteja relacionada com a SDPF. Objetivo: Analisar os protocolos de tratamento fisioterapêutico que utilizam o fortalecimento do complexo póstero-lateral do quadril (CPLQ) como forma de tratamento para a SDPF. Método: Realizou-se um levantamento bibliográfico utilizando as bases de dados Lilacs, Pubmed e Scielo, produzidos no período de 2006 a 2016, na língua portuguesa e inglesa. Foram analisados estudos que investigaram a correlação do fortalecimento dos músculos do CPLQ com o tratamento da SDPF. Resultados: Dos 52 artigos selecionados, 44 foram retirados devido à baixa qualidade metodológica, sendo inclusos neste estudo apenas oito artigos para análise qualitativa. Considerações Finais: Embora existam divergências quanto ao tempo de tratamento fisioterapêutico em específico, o programa de fortalecimento do CPLQ é eficaz na melhora da função articular, diminuição da dor, aumento da força e um retorno mais precoce as atividades físicas quando comparado a outros protocolos de tratamento. Palavras chave: Fortalecimento, Condromalácia, Síndrome da dor Patelofemoral. 3 SUMMARY Introduction: Patellofemoral pain syndrome (PFPS) is a biomechanical disorder, characterized by pain in the anterior part of the knee, very common among athletes, with a higher prevalence among women. Although its etiology is multifactorial, weakness of the hip and knee stabilizing muscles is believed to be related to PFPS. Objective: To analyze the physiotherapeutic treatment protocols that use the strengthening of the posterolateral hip complex (PLHC) as a form of treatment for PFPS. Method: A bibliographical survey was carried out using the Lilacs, Pubmed and Scielo databases, produced between 2006 and 2016, in Portuguese and English. We analyzed studies that investigated the correlation of PLHC muscle strengthening with the treatment of PFPS. Results: Of the 52 articles selected, 44 were withdrawn because of poor methodological quality, and only eight papers were included for qualitative analysis in this study. Final Thoughts: Although there is disagreement over the time of specific physical therapy treatment, the PLHC strengthening program is effective in improving joint function, decreasing pain, increasing strength and earlier return to physical activities when compared to other treatment protocols. Key words: Strength, Chondromalacea, Patellofemoral Pain Syndrome. 4 INTRODUÇÃO A SDPF é um termo que engloba todo tipo de dor ocorrida na articulação patelofemoral (APF) ou em torno dela1. É uma patologia ortopédica comum entre atletas corredores e triatletas2,3,4,5, sendo mais prevalente em mulheres jovens ativas, entre18 a 40 anos6, 7. Acredita-se que a etiologia da SDPF seja multifatorial, sendo o desalinhamento patelar um dos fatores contribuintes para o seu desenvolvimento ou agravo. É proposto que alterações biomecânicas proximais, locais e distais estejam atribuídas à sua origem. Dentre essas alterações biomecânicas, pode-se destacar: fraqueza no músculo do glúteo médio, abdutores e rotadores externos do quadril9,10,11; rigidez dos isquiotibiais, gastrocnêmio, retináculo lateral e trato iliotibial1; aumento do ângulo Q12; desequilíbrio neuromuscular entre os músculos vasto medial oblíquo (VMO) e o vasto lateral (VL)13; genuvalgo14; torção tibial e frouxidão ligamentar do joelho15; pronação anormal do pé e a rotação subseqüente da extremidade inferior12, 16, 17. O paciente com SDPF, com freqüência, tem um histórico de dor difusa, localizada na região retropatelar ou peripatelar, podendo ser bilateral e com períodos de exacerbação15, 18. Atividades como caminhada, corrida, salto, agachamentos, subir e descer escadas ou simplesmente permanecer por longos períodos na posição sentada, pode exacerbar a dor devido ao aumento das forças compressivas na APF18. Pesquisas indicam que durante atividades de agachamento, por exemplo, a musculatura do quadril e os rotadores externos devem agir excentricamente a fim de controlar a adução e rotação interna do fêmur9, 11. A adução excessiva do fêmur pode aumentar as forças compressivas que agem na patela, promovendo o valgo dinâmico no joelho9. Por conseguinte, é sugestivo que o valgo dinâmico do joelho pode promover a SDPF, assim como lesões no ligamento cruzado anterior (LCA)5. Em análise eletromiográfica em pacientes com SDPF, o que se observa é uma maior atividade elétrica dos músculos: glúteo médio (GM) e vasto medial (VM), durante atividades como descer escadas, por exemplo19. Como se não bastasse, pacientes com SDPF apresentam maior fraqueza da musculatura do quadril19. Tradicionalmente, no que diz respeito ao tratamento da SDPF, a reabilitação fisioterapêutica entra como protagonista, com o propósito de aliviar a dor, além de, aconselhar e instruir a respeito das atividades da vida diária (AVD´s) e profissional (AVP´s), a fim de evitar excesso de carga sobre a APF. Além disso, alongamentos dos membros inferiores, fortalecimento dos músculos adutores, VMO e VL também são prescritos e executados20. Para 5 melhor estabilização segmentar, o uso de palmilhas ortopédicas e bandagens funcionais também são orientados. Em casos mais graves, é indicado o uso de anti-inflamatórios não esteroidais, e a liberação do retináculo lateral20, 21. A literatura propõe, dentre as possíveis formas de tratamento para a SDPF, a otimização dos músculos abdutores do quadril e rotadores laterais, a fim de controlar os movimentos do fêmur e prevenir ou reduzir as forças laterais que atuam sobre a patela22. Também é recomendado o fortalecimento da musculatura pélvica e do tronco, uma vez que a falta de controle dessa musculatura pode causar excessiva inclinação pélvica anterior, levando a rotação medial do fêmur22. Vários autores relatam a importância de um programa de fortalecimento que envolva os músculos rotadores externos do quadril (músculo piriforme, músculo obturador externo e interno, músculo gêmeo superior e inferior e músculo quadrado femoral) e os músculos abdutores do quadril (glúteo máximo, glúteo médio, glúteo mínimo), também chamados de complexo póstero-lateral do quadril (CPLQ) como forma de tratamento mais adequado para a SDPF23, 24,25. Este método de tratamento justifica-se, pois, durante o exercício, especialmente em exercício unipodal, a musculatura do quadril evita a adução e a rotação interna do joelho, a qual pode resultar em disfunção na extremidade da articulação, e consequente desenvolvimento da SDPF25. Observa-se na literatura grande divergência no meio científico envolvendo o fortalecimento do CPLQ como forma de tratamento da SDPF. Os tipos de tratamento entre si são discordantes, e os resultados encontrados são diferentes. Desta forma, o objetivo do presente trabalho é expressar de maneira clara e sucinta sobre as evidências do fortalecimento dos músculos do CPLQ como forma de tratamento da SDPF demonstrando os melhores resultados. 6 MÉTODOS Trata-se de uma revisão sistemática, em que foram utilizados artigos científicos e livros, publicados pelas bases de dados Lilacs, Pubmed e Scielo, produzidos no período de 2006 a 2016, na língua portuguesa e inglesa. Foi utilizada a combinação dos termos: valgo dinâmico, disfunção patelofemoral e fortalecimento do quadril. Os termos foram combinados utilizando os operadores booleanos OR, AND, e NOT AND. Como critérios de inclusão foram selecionados artigos originais, prospectivos, randomizados, cegos e duplo-cegos. Quanto aos critérios de exclusão, foram desconsiderados estudos de caso e artigos de revisão de literatura. Como recurso de classificação dos artigos selecionados, foi utilizada a escala validada de qualidade de Jadad, a qual possui cinco parâmetros para pontuação, variando de zero a cinco pontos. Pesquisas com pontuações inferiores a três pontos são consideradas de baixa qualidade metodológica, e com poucas possibilidades de extrapolação dos resultados para a prática clínica. A coleta de dados foi realizada no período de janeiro a abril de 2016. Foram selecionados 52 artigos científicos, sendo que oito abordavam o fortalecimento dos músculos rotadores laterais do quadril e glúteo médio na SDPF. Após a seleção dos artigos, os mesmos foram lidos e estudados, conforme os objetivos, com posterior redação do artigo de revisão. 7 RESULTADOS Foram identificados, primeiramente, através de pesquisa na base de dados, 346 artigos, sendo 289 excluídos devido ao título não estar de acordo com o tema. Cinco artigos foram excluídos por serem trabalhos de revisão bibliográfica e estudo de caso. A partir desta amostragem, foram selecionados 52 artigos, dentro os quais 44 trabalhos foram retirados devido à baixa qualidade metodológica, restando ao final, apenas oito artigos para análise qualitativa. No total, foram investigados 424 indivíduos, os quais receberam diferentes intervenções quanto ao fortalecimento dos músculos do joelho e do quadril, como alternativa de tratamento da SDPF. Entre as pesquisas selecionadas, todos os oito estudos apresentaram método de randomização adequado, sendo que dois estudos eram duplo-cegos. No que referem-se à amostra, dois estudos apresentavam sua composição heterogênea (homens e mulheres), e cinco estudos apresentavam composição homogênea (apenas mulheres). Apenas um estudo não evidenciou claramente a natureza de sua amostra. A tabela a seguir apresentará os resultados de diferentes ensaios clínicos que estudaram o fortalecimento do CPLQ, no tratamento para a SDPF. Tabela 1 – Artigos selecionados para revisão. Autor Dolak et al.2 Objetivo Amostra e tempo de Unidade de tratamento Medida Diminuir a dor 33 através Desfecho (17 EVA; Escala Dois grupos de tratamento de Ambas as abordagens demonstraram do mulheres no grupo do Funcional dos quatro semanas: fortalecimento da melhora da função e redução da dor. fortalecimento mulheres Tratamento quadril e, 16 mulheres do quadril, ou no grupo do joelho). O MMII. Dinamômetro. musculatura fortalecimento do do quadril e, O fortalecimento da musculatura do quadríceps. quadril permitiu, inicialmente, uma do joelho em tempo de tratamento foi Após este período ambos os dissipação da dor de forma mais mulheres grupos realizaram fortalecimento rápida, SDPF. com de oito semanas. funcional. em comparação fortalecimento do quadríceps. ao 8 Autor Objetivo Ferber et al.17 Amostra e tempo de Unidade de tratamento Medida Comparar a dor, Participaram EVA, Escala de O G1(88 indivíduos) realizou o Ambos força muscular, indivíduos (66 homens e Dor Anterior do protocolo de exercícios resistidos fortalecimento de joelho e quadril mulheres). Seis e resistência em semanas de tratamento. Joelho, dinamômetro. o fortalecimento protocolos de dos apresentou a melhora da dor, função músculos do joelho (quadríceps), articular e força muscular. Embora os e o G2 (111 indivíduos) realizou o resultados fossem semelhantes, o G2 SDPF ao protocolo de exercícios resistidos evidenciou mais rápido melhora da joelho para o ou et Avaliar o fortalecimento dos dor e maior ganho de força em músculos do quadril (REQ, RIQ, comparação ao G1. quadril. al. para os indivíduos com fortalecer 20 Desfecho 199 função articular 133 Avraham Tratamento e ABD do quadril). três Participaram 30 EVA, Escala de Os pacientes foram divididos em Os diferentes pacientes. O tempo de Avaliação programas de tratamento foi de três Patelofemoral. três grupos: G1 diferentes programas (7,5' reabilitação explorados mostraram fortalecimento de quadríceps, 7,5' efeito benéfico semelhantes. reabilitação pra semanas. agachamentos e 15' de TENS), G2 a SDPF. (3' alongamento dos isquiotibiais, 3' alongamento do TI, 9' fortalecimento dos REQ e 15' TENS) e, G3 (3' fortalecimento de quadríceps, 3' fortalecimento dos REQ, 3' de agachamentos, 3' alongamento dos isquiotibiais, 3' alongamento do TI e 15' TENS). 9 Autor Nakagawa Objetivo et Estudar 22 al. Unidade de tratamento Medida o Foram 14 participantes EVA; fortalecimento dos Amostra e tempo de GC (10 mulheres e quatro Dinamômetro músculos homens) divididos em Isocinético; ABD do quadril, dois grupos: Tratamento grupo Eletromiografia (mobilização fortalecimento do Desfecho patelar, Apenas o GC obteve melhora na dor quadríceps, e maior ativação do glúteo médio. Os gastrocnêmio, banda iliotibial e extensores do joelho melhoraram em isquiotibiais e fortalecimento de ambos os grupos. Não houve controle (sete) e grupo quadríceps em cadeia cinética diferenças estatísticas no torque dos laterais do de intervenção (sete). O aberta e fechada. GE (exercícios músculos do quadril em nenhum quadril e tempo de tratamento foi rotadores do grupo controle o grupo. quadríceps num de seis semanas fortalecimento programa de transverso do abdômen, músculos reabilitação para ABD do quadril e rotadores pacientes laterais. com do mais músculo SDPF. Fukuda et al.23 Determinar se o Foram divididas em dois NPRS, fortalecimento GFJ (26 do oferece indivíduos) e GFJQ (28 LEFS. melhor resultado indivíduos). Tempo de comparado apenas tratamento foi de quatro ao semanas, realizados três fortalecimento do joelho. do GFJQ obtiveram grupos 54 mulheres com de Dor Anterior dois grupos de fortalecimento: melhora na função e diminuição da do quadril e do SDPF: joelho Escala As mulheres foram divididas em Pacientes vezes por semana. Joelho, GFJ e GFJQ. dor após um ano de tratamento em comparação ao GFJ. 10 Autor Rabelo et al 24 Objetivo Avaliar Unidade de tratamento Medida o Foram fortalecimento dos Amostra e tempo de trabalho incluídas 34 no Escala de dor GC dos Os resultados evidenciam nova (mesmos exercícios do GC, semanas, três vezes por manual, Sistema porém em superfície estável e rotadores do semana, sendo uma hora de Análise de instável). quadril e ABD de treino. Movimento associados com Vicon. exercício (fortalecimento NPRS; laterais do quadril e ABD). GE joelho, tratamento foi de quatro dinamômetro laterais Desfecho do extensores do joelho, rotadores técnica no tratamento conservador. mulheres Anterior extensores sedentárias. O tempo de Joelho; do Tratamento de controle neuromuscular dos MMII. Khayambashi Examinar et. al.26 eficiência a Foram randomizadas 28 EVA, Estado de O grupo controle realizou o Houve melhora da dor, estado de de mulheres em dois Saúde fortalecimento bilateral de ABD saúde e força bilateral do quadril no exercícios de grupos: controle (n=14 (WOMAC), do quadril e REQ durante três grupo que realizou o exercício em fortalecimento fortalecimento vezes na semana. O grupo placebo comparação ao grupo controle. Após isolado dos quadril REQ e ABD do placebo quadril e do dinamômetro. REQ) (n=14). foi orientado a tomar 1000 mg de seis meses de intervenção, ainda foi O Omega- 3 e 400 mg de cálcio por observado melhora no quadro de dor. em tempo de tratamento foi indivíduos com de oito semanas. SDPF. e dia, durante oito semanas, sem praticar atividade física. 11 Autor Razeghi 27 al. Objetivo et Avaliar quadril alternativa tratamento Medida em dois grupos: G1 (16 e participantes, como joelhos) e 24 G2 de participantes, Tempo (16 fortalecimento Desfecho entre 90º e 50°. Já o G2 realizou fortalecimento de fortalecer o quadríceps. cirúrgico para tratamento foi de quatro esteja focado do quadríceps, no o quadril e extensão do quadríceps resultado aqui apresentado sugere o mini-agachamentos não joelhos). resistidos SDPF progressivos para os músculos do fortalecimento 28 tratamento SPDF. Tratamento 32 EVA, miômetro O G1 realizou exercícios de Embora o conceito atual para tratar a de mulheres randomizadas digital. fortalecimento joelho Unidade de o Participaram programa do Amostra e tempo de para quadril melhor dos músculos tratamento, do por apresentar maior eficiência. semanas. SDPF= Síndrome da Dor Patelofemoral; EVA= Escala Visual Analógica; MMII= Membros inferiores; G1= Grupo Um; G2= Grupo Dois; G3= Grupo Três; TI= Trato Iliotibial; REQ= Rotadores Externos do Quadril; RIQ= Rotadores Internos do Quadril; TENS= Transcutaneous Electrical Nerve Stimulation; GC= Grupo Controle; GE= Grupo Experimental; GFJ= Grupo de Fortalecimento do Joelho; GFJQ= Grupo de Fortalecimento de Joelho e Quadril; NPRS= Numerical Pain Rating Scale; LEFS= LowerExtremityFunctionalScale; ABD= Abdutores; MMII= Membros Inferiores. 12 Tabela 2. Análise metodológica pela Escala de Jadad. Estudos Autor Nakagawa et al. Dolak et al. Rabelo et al. Fukuda et al. Khayambashi et. al. Razeghi et al. Ferber et al. Avraham et al. Randomizado Sim/Não Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim/Não Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim/Não Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim/Não Sim Não Não Não Não Não Sim Não Sim/Não Sim Não Não Não Não Não Sim Não 5 3 3 3 3 3 5 3 Método de randomização adequado Houve descrição das perdas Estudo duplo cego Mascaramento foi adequado PONTUAÇÃO 5 ou 0 (5 a 0) Escala de Jadad – Não= 0 pontos; Sim= 1; Pontuação maior ou igual a 3 pontos possui bom rigor metodológico. 13 DISCUSSÃO O tratamento fisioterapêutico da SDPF através de um programa de fortalecimento do CPLQ vem sendo discutido no meio científico. Embora alguns estudos referentes ao tema tenham apresentado bons resultados, ainda há grande divergência quanto aos tipos de tratamento. Neste quesito, no que diz respeito ao tempo de tratamento da SDPF, a literatura ainda não entrou em um consenso comum, apresentando grande discrepância de resultados entre os trabalhos publicados. Fukuda et al.23 e Rabelo et al.24 apresentaram um precoce programa de reabilitação com apenas quatro semanas de intervenção. Em contrapartida, Dolak et al.2 e Khayambashi et al.26 utilizaram um protocolo de tratamento mais extenso, totalizando oito semanas de intervenção. Quanto ao que se refere à melhora da dor, avaliada através da EVA, no programa de Nakagawa et al.22 o grupo de intervenção apresentou uma melhora significativa (P<0,05) entre a avaliação inicial e final do tratamento em comparação ao grupo controle (P<0,31). Fukuda23 também encontrou resultados semelhantes, em que pacientes com SDPF, que realizaram o fortalecimento do quadril e do joelho em comparação aos pacientes que apenas fortaleceram o joelho, apresentaram melhora na função articular e menos dor (P<0,05) após três, seis e 12 meses de realização do tratamento. Por outro lado, Khayambashi et al.26 evidenciou resultados ainda mais animadores; em comparação ao início do tratamento, pacientes que realizaram o fortalecimento do quadril apresentaram melhora da dor (P<0,001) após oito semanas de intervenção. Nessa evolução de menor intervalo de tempo de reabilitação, Ferber et al.17 realizaram também o fortalecimento do quadril ou do joelho de pacientes com SDPF, sendo assim, também beneficiados com a melhora precoce do quadro álgico (após apenas três semanas de reabilitação), em comparação ao grupo do fortalecimento do joelho (após quatro semanas de reabilitação). Seguindo a mesma linha de pesquisa, Razeghi et al.27 comparou um grupo de pacientes com SDPF que realizou um programa de fortalecimento dos músculos do quadril associado ao fortalecimento dos músculos extensores do joelho (G1), e um segundo grupo que realizou apenas o fortalecimento do extensor do joelho (G2), encontraram melhora no quadro álgico no G1(p=0.001) em comparação ao G2 (p=0.005). Tal fato, segundo os autores, deve ser atribuído a melhora da força da musculatura do quadril. Os protocolos de tratamento mencionados corroboram com os resultados apresentados no último Consenso Internacional para o Tratamento da SDPF realizado em 14 Manchester em 2016. Este consenso estabelece que os exercícios de fortalecimento do joelho e do quadril são benéficos para os indivíduos que apresentam SDPF. Além disso, os exercícios que envolvem a combinação do fortalecimento do joelho e do quadril obtiveram melhores resultados quando comparados aos exercícios que apenas fortaleceram a musculatura do joelho 28. Os diferentes protocolos dos diferentes estudos são realmente discrepantes, com resultados semelhantes, porém em estudos como o de Avraham et al.20 apresentou mascaramento dos resultados. Avraham et al.20 mesmo tendo comparado três diferentes protocolos de tratamento para a SDPF e encontrado resultados positivos para melhora da dor, evidenciou erroneamente a real eficiência do tratamento, uma vez que utilizou a administração de eletroterapia analgésica (TENS) em todos os grupos, não havendo grupo placebo ou grupo que não utilizasse medida de eletroterapia. Além da melhora do quadro álgico, o padrão de força muscular é discutido na literatura. Piazza et al. avaliou 52 sujeitos do sexo feminino (23 sujeitos com SDPF e 29 clinicamente saudáveis). Após avaliação isocinética, foi observado menor pico de torque e trabalho dos flexores e extensores dos músculos do joelho e menor capacidade funcional do joelho em pacientes com SDPF8. Por outro lado, Cichanowski et al.12 apontam a relação entre a diminuição da força muscular do CPLQ associado a SDPF. Dessa forma as alterações de força no quadril e no joelho são capazes de promover desordens biomecânicas e exacerbar quadros álgicos no joelho. Bolgla et al.19 evidenciaram que pacientes com SDPF apresentaram redução de 22% de força nos músculos abdutores do quadril e uma redução de 21% da força dos músculos rotadores externos do quadril em comparação a indivíduos sem SDPF. Além do mais, os mesmos autores ainda relataram que indivíduos com SDPF apresentaram maior atividade eletromiográfica nos músculos GM e VM durante atividades funcionais, como descer escadas, o que sugere alteração na atividade neuromuscular. De acordo com Oliveira et al.18 indivíduos com SDPF apresentam redução de 22% da força dos rotadores mediais do quadril e, 23% da força dos extensores do joelho em comparação aos indivíduos que não possuem SDPF. Desta forma, um programa de fortalecimento muscular pode beneficiar sim estes indivíduos. Encontra-se na literatura diversos trabalhos que sugerem a inclusão do fortalecimento dos músculos do CPLQ como recurso no tratamento da SDPF23,24,25,29,30,31. Semelhantemente o proposto, Ferber et al.17 em seu estudo a despeito do fortalecimento muscular em indivíduos com SDPF, os mesmos apresentaram nítido ganho de força muscular, em ambos os grupos de 15 fortalecimento do joelho e do quadril. No entanto, o grupo que realizou o fortalecimento do quadril, obteve melhores resultados no ganho de força muscular para os músculos abdutores do quadril (aumento de 11,46% da força) e músculos extensores do quadril (aumento de 11,34% da força), em comparação ao grupo que realizou o fortalecimento do joelho (aumento de 8,21% da força em abdutores do quadril e 7,13% da força em extensores do quadril). Concernente ao Consenso Internacional para o Tratamento da SDPF, faltam maiores estudos para evidenciar com clareza a superioridade do fortalecimento do CPLQ em relação ao fortalecimento do joelho. Tal fato se deve alguns exercícios, como o agachamento, fortalecer ambas as articulações, não focando corretamente em uma estrutura específica28. Desta forma, o presente estudo revela que o fortalecimento do CPLQ é eficaz no tratamento da SPDF, por outro lado, há necessidade de maiores estudos para estabelecer um protocolo mais adequado. CONSIDERAÇÕES FINAIS Existem evidências favoráveis quanto ao fortalecimento do CPLQ como tratamento da SDPF. O fortalecimento dos músculos do quadril auxilia na melhora da função articular, diminuição da dor, aumento da força e um retorno mais precoce as atividades físicas quando comparado a outros tipos de tratamento. Embora ainda haja divergências quanto aos diversos tipos de tratamentos utilizados, é de suma importância a realização de novos estudos com amostras maiores, e diferentes intervenções, com subsequentes comparações entre os mesmos. REFERÊNCIAS 1 - Prentice WE. Fisioterapia na Prática Esportiva: uma abordagem baseada em competências. 14a ed. Porto Alegre: AMGH; 2012. 2 – Dolak KL, Silkman C, Mckeon JM, Hosey RG, Lattermann C, Uhl TL. Hip strengthening prior to functional exercises reduces pain sooner than quadriceps strengthening in females with patellofemoral pain syndrome: a randomized clinical trial. 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