Tecnologias de Manejo As cinco principais lagartas da cultura do milho no Brasil Tecnologias de Manejo As cinco principais lagartas da cultura do milho no Brasil A cultura do milho é uma das mais importantes na agricultura brasileira. Presente em mais de 14 milhões de hectares, representa uma importante fonte de renda e desenvolvimento para muitas regiões produtoras (IBGE 2012). Entre as principais pragas que atacam a planta de milho podemos destacar as lagartas da classe Insecta, ordem Lepidoptera, que são insetos mastigadores que se alimentam de partes da planta de milho em todas as fases de desenvolvimento. As espécies que causam significativos impactos econômicos na cultura do milho são Spodoptera frugiperda, Helicoverpa zea, Diatraea saccharalis, Elasmopalpus lignosellus e Agrotis ipsilon. Os danos econômicos ocasionados pelas lagartas de qualquer espécie se tornam um problema quando temos uma ocorrência elevada de lagartas em maiores ínstares. As mariposas distribuem centenas de ovos que vão eclodir e dar início a todo o processo de infestação da lavoura. Se este número de indivíduos for elevado, as lagartas se alimentarão de colmos, folhas, estigmas, grãos, pedúnculos e outras partes da planta, que deixarão de exercer suas funções fisiológicas e passarão a consumir energia para se recuperar do ataque da praga. Spodoptera frugiperda Os danos causados variam conforme a espécie da praga e podem ocasionar reduções drásticas de produtividade e impacto econômico. Por isso, é importante fazer um diagnóstico correto das espécies e do grau de infestação na área cultivada para que se tomem as decisões corretas, como a intervenção com inseticida, tanto na lavoura Bt quanto na convencional. A Spodoptera frugiperda, popularmente conhecida como lagarta-do-cartucho, foi identificada em 1797 nos EUA e tem na cultura do milho seu hospedeiro preferencial (Cruz et al. 1999). A lagarta-do-cartucho recebeu este nome devido ao hábito de se alojar no cartucho da planta de milho. No entanto, ela também ataca outras partes da planta, como a base, na fase inicial, podendo causar sua morte, muitas vezes confundida com o sintoma do ataque de Agrotis ipsilon. Já na planta mais desenvolvida, do estágio V2 a V4, penetra em seu interior e se alimenta do ponto de crescimento, causando um sintoma conhecido 2 Figura 1. Lagarta da Spodoptera frugiperda entre 4o e 5o ínstares e detalhe do “Y” invertido na cabeça. Fotos: Schneider, A.M. como “coração morto”, semelhante ao ataque de Elasmopalpus lignosellus. Normalmente a fêmea da mariposa da Spodoptera frugiperda vai ovipositar uma massa de 100 a 300 ovos na folha do milho (Figura 2). Após 3 a 5 dias ocorre a eclosão das lagartas (Figura 3) que se alimentarão da folha, conferindo o sintoma característico de raspagem (Figura 4). Com o passar dos dias, estas larvas migram para o interior do cartucho, onde ficarão mais protegidas (Figura 5). Quando o ataque ocorre na espiga, o dano pode ser muito severo, a ponto de a espiga ser destacada da planta. Danos na parte central ou na ponta da espiga, diretamente nos grãos ou na palha que a protege, aumentam o índice de grãos ardidos e micotoxinas (Figura 6). O ciclo de vida da Spodoptera frugiperda varia de acordo com a temperatura, mas de uma forma geral as fases – ovo, lagarta, pupa e adulto – se completam em aproximadamente 3, 10, 8 e 10 dias, respectivamente. As lagartas passam por 6 ou 7 estágios, e a fase de pupa ocorre no solo ou sob restos culturais numa câmara pupal. Tecnologias de Manejo As cinco principais lagartas da cultura do milho no Brasil Figura 2. Mariposa no cartucho fazendo oviposição. Foto: Oliveira Jr., J.A. Figura 3. Massa de ovos com eclosão de lagartas neonatas de Spodoptera frugiperda. Foto: Schneider, A.M. Figura 4. Raspagem de folha de milho ocasionada por Spodoptera frugiperda em estágio inicial. Foto: Schneider, A.M. Figura 5. Evolução do dano de S. frugiperda e migração da lagarta em estágios maiores para o cartucho. Fotos: Oliveira Jr., J.A. Controlar a Spodoptera frugiperda não tem se mostrado uma tarefa fácil. O mercado brasileiro conta hoje com diversas opções de proteínas Bt. As plantas Bt são uma nova e importante ferramenta de controle da Spodoptera frugiperda, que tem se mostrado bastante eficiente. No entanto, algumas características bioecológicas da praga, como o alto potencial reprodutivo, ciclo biológico relativamente curto e a polifagia, associadas a um cenário de sobreposição ou sucessão de cultivos de plantas hospedeiras, “ponte verde” e o baixo índice de adoção de refúgio em algumas regiões, expõem a Spodoptera frugiperda a uma elevada pressão de seleção por proteínas Bt. O uso inadequado da tecnologia Bt associado à biologia deste inseto pode colocar em risco a durabilidade desta ferramenta ao longo do tempo Helicoverpa zea A praga Helicoverpa zea é conhecida como lagarta-da-espiga (Figura 8) devido ao seu hábito de atacar a espiga do milho. A mariposa deposita os ovos separadamente no estilo-estigma do milho na fase de R1 a R3 (Figura 7). A larva se desenvolve e migra para a ponta da espiga consumindo o estigma no primeiro momento e, após alguns dias, passa a se alimentar dos grãos em formação. Este consumo traz um dano direto em produtividade pela redução do número viável de grãos na espiga. Além disso, ao abrir buracos na espiga, ela ocasiona a Figura 6. Dano na ponta da espiga, na palha e nos grãos causado por Spodoptera frugiperda. Fotos: Oliveira Jr., J.A. e Schneider, A.M. 3 Tecnologias de Manejo As cinco principais lagartas da cultura do milho no Brasil Figura 7. Helicoverpa zea – lagarta-da-espiga. Fotos: Schneider, A.M. Figura 8. Oviposição de Helicoverpa zea no estilo estigma do milho. Foto: Oliveira Jr., J.A.; Tocchetto, SARG. Figura 9. Danos de Helicoverpa zea na espiga de milho e orifício de saída do adulto. Fotos: Boer C.; E.E. UDI.; Denez, M.; E.E. RON, respectivamente. Figura 10. Variações de cor das Helicoverpas. Fotos: Gasparin, R.C.; Batistela, M.J.; Denez, M.N.; Oliveira Jr., J.A. entrada de fungos e outros patógenos responsáveis pelo aumento dos grãos ardidos e micotoxina (Figura 9). Quando está completamente desenvolvida, a lagartada-espiga mede cerca de 35mm e possui uma coloração que pode variar de verde-claro, rosa a marrom ou quase preta, com algumas partes mais claras (Figura 10). O dano que causa uma perda de produtividade de cerca de 8% pode ser confundido com um ataque da espécie Spodoptera frugiperda. Calcula-se que a Helicoverpa zea causa um 4 prejuízo à produtividade de cerca de 8%. O controle convencional por meio da pulverização de inseticida tem baixa eficiência devido à localização da praga e época de ocorrência. Um controle efetivo pode ser alcançado com a liberação de vespas do gênero Trichogramma e com a utilização de tecnologias Bt em milho, que tem sido a melhor opção de controle até agora. Outro ponto que merece atenção é a similaridade da Helicoverpa zea com a Heliothis virescens, que também ataca a soja e o algodão, podendo ser identificada com uma lupa, pela presença de pelos característicos no dorso. Tecnologias de Manejo As cinco principais lagartas da cultura do milho no Brasil Figura 11. Diatraea saccharalis danificando espiga e colmo com galeria e finalizando estágio de pupa. Fotos: Schneider, A.M. e Cavalli, M. Diatraea saccharalis Também conhecida como Broca-da-Cana ou Brocado-Colmo (Figura 11). Os danos mais comuns ocorrem em plantas mais desenvolvidas, mas a praga também pode infestar plantas recém-emergidas. Neste caso, as plantas atacadas tornam-se totalmente improdutivas e os prejuízos são proporcionais à redução da população de plantas. Durante os últimos anos, a praga Broca-do-Colmo tem se mostrado um dos principais problemas para a cultura do milho no Brasil. A mariposa da Diatraea saccharalis deposita ovos nas folhas mais novas, nos estádios entre V8 e VT, e nos primeiros dias se alimenta apenas das folhas. Só após iniciar seu desenvolvimento passa a penetrar o colmo, causando uma galeria muito característica desta praga. Os danos são variados, podendo ocorrer nas raízes, no colmo e nas espigas (Figura 12). O tratamento de sementes ou aplicação de inseticida na base das plântulas são formas eficientes de controlar esta praga quando o ataque ocorre nos primeiros estágios. Na fase vegetativa, o controle químico é menos eficiente e após a entrada da lagarta no colmo é ineficiente. Não existem inseticidas registrados no MAPA para o controle dessa praga no milho. Na cultura da cana-de-açúcar, o controle desse inseto tem sido realizado com sucesso por meio de inimigos naturais. Os principais parasitoides são o Metagonistylum minense e o Trichogramma spp., atingindo até 20% de parasitismo. Para o milho, o uso de tecnologia Bt é altamente eficaz no controle dessa praga. Figura 12. Galerias em colmos e espigas atacadas por Diatraea saccharalis. Fotos: Oliveira Jr., J.A. 5 Tecnologias de Manejo Tecnologias de Manejo As cinco principais lagartas da cultura do milho no Brasil Elasmopalpus lignosellus Figura 13. Lagarta elasmo e formação de teia para proteção da lagarta no solo. Fotos: Boer, C.A.; Oliveira Jr., J.A. Também conhecida como lagarta elasmo (Figura 13). A mariposa deposita ovos preferencialmente no colmo das plantas ou no solo. É uma praga esporádica, porém polífaga, alimentando-se de diversas culturas com grande capacidade de destruição num curto intervalo de tempo, principalmente nos estágios VE a V3. Seus danos estão associados à estiagem depois da emergência das plantas, e os maiores danos são observados em áreas sob plantio convencional em solos leves e bem drenados, com incidência menor sob plantio direto. Logo após a eclosão, a lagarta raspa as folhas da planta e inicia sua penetração no colmo. Normalmente, o meristema é danificado causando a diminuição do crescimento e/ou a morte das folhas mais jovens, sintoma conhecido como “coração morto” (Figura 14). As tecnologias Bt têm demonstrado boa supressão a esta praga; porém, a eficácia é variável e depende da proteína. Agrotis ipsilon Figura 14. Sintoma de “coração morto” em plantas de milho após ataque de elasmo. Foto: Oliveira Jr., J.A. Agrotis ipsilon, também conhecida como lagarta rosca, devido ao hábito de se enrolar quando é tocada (Figura 16). A espécie pode facilmente ser confundida com a Spodoptera frugiperda. A mariposa deposita seus ovos em plantas daninhas ou em restos culturais. A lagarta vive no solo e sai durante a noite para cortar as plantas, causando redução no stand inicial. Também pode causar o sintoma de “coração morto”, principalmente quando ataca plantas maiores. Figura 15. Agrotis ipsilon se alimentando da plântula de milho e à direita a pupa no solo ao lado da plântula. Fotos: Schneider, A.M. Figura 16. Agrotis ipsilon enrolada após ser tocada. Foto: Schneider, A.M. 6 Figura 17. Agrotis Ipsilon. Foto: Cavalli, M. É comum encontrarmos lagartas grandes logo no início da instalação da cultura, por isso recomenda-se dessecação antecipada das plantas daninhas e o uso de inseticida, caso existam lagartas resistentes na cobertura vegetal. Como controle emergencial pode-se utilizar Clorpirifós em pulverização, de preferência no início da noite e com grande volume de calda. Este procedimento é dispendioso e nem sempre apresenta uma boa eficácia. A utilização de sementes Bts para controle desta praga vai depender do tipo de proteína em questão e do tamanho das lagartas. Tecnologias de Manejo As cinco principais lagartas da cultura do milho no Brasil Figura 18. Da esquerda para a direita, duas plantas normais e quatro plantas atacadas por Agrotis ipsilon, mostrando a diferença de tamanho das plantas. Foto: Schneider, A.M. Referências Cruz, I. Cultivar grandes culturas,. n. 109, p 23-27 junho 2008. http://agrofit.agricultura.gov.br/ acesso em 16-03-2013. http://www.ctnbio.gov.br/upd_blob/0001/1736.pdf acesso em 18-03-2013. http://www.insetario.uem.br/colecao/pragas/lepidoptera/noctuidae/agrotis_ipsilon.htm acesso em 16-03-2013. http://www.irac-br.org.br/ acesso em 16-03-2013. http://www.irac-online.org/ acesso em 17-03-2013. http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/agropecuaria/lspa/lspa_201302_4.shtm acesso em 18-03-2013. Nakano, O. et al. Cultivar grandes culturas, n. 102. P 20-26. novembro 2007. Marçon, P.G. et al. Caderno técnico cultivar, n. 44. P3-10. outubro 2002. 7 Saiba mais: www.monsanto.com.br 8 /MonsantoBrasil