ANEMIA INFECCIOSA EQUINA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

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Revista Eletrônica Novo Enfoque, ano 2010, v. 09, n. 09, p. 01 – 13
ANEMIA INFECCIOSA EQUINA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO: ASPECTOS
EPIDEMIOLÓGICOS, CLÍNICOS E LABORATORIAIS
CHV KARAM1; MF ROLIM2; FAS GRAÇA3; AP ARAGÃO4
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Acadêmico do Curso de Medicina Veterinária - UCB, RJ
Secretaria de Agricultura, Pecuária, Pesca e Abastecimento - Rio de Janeiro, RJ
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4
Professor da Clínica Médica do Curso de Medicina Veterinária - UCB, RJ
Curso de Pós-graduação - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - RJ
ANEMIA INFECCIOSA EQUINA: ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS, CLÍNICOS E
LABORATORIAIS NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
CHV KARAM1; MF ROLIM2; FAS GRAÇA3; AP ARAGÃO4
EQUINE INFECTIOUS ANEMIA: EPIDEMIOLOGICAL, CLINICAL AND
LABORATORY IN THE STATE OF RIO DE JANEIRO
RESUMO
Foram analisados os dados no período entre abril de 2002 e março de 2008 através do
levantamento dos dados provenientes dos relatórios oficiais elaborados pelo Ministério da
Agricultura, Pesca e Abastecimento (MAPA) e da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária,
Pesca e Abastecimento (SEAPPA). O que mostra um crescente aumento da incidência e da
distribuição da doença em diversos municípios do Rio de Janeiro. O acompanhamento de um
foco de AIE de 2008 sob os aspectos clínicos e epidemiológicos revelam que poucas são as
alterações clínicas e laboratoriais encontradas, o que demonstra a importância do exame
sorológico (IDGA) para confirmação dos casos.
Palavras-chave: equideos, anemia infecciosa equina, sorodiagnóstico, foco, Rio de Janeiro
ABSTRACT
Were analyzed in the period between April 2002 and March 2008 through the removal of data
from official reports prepared by Ministry of Agriculture, Fisheries and Food Supply (MAPA)
and the Secretary of State for Agriculture, Livestock, Fisheries and Food Supply (SEAPPA). This
shows a growing increase in the incidence and distribution of disease in different municipalities
of Rio de Janeiro. The monitoring of an outbreak IEA, 2008 under the clinical and
epidemiological aspects show that the changes are few clinical and laboratory found, which
demonstrates the importance of the serological test (AGID) for confirmation of cases.
Key-words: equid, equine infectious anemia serodiagnosis, focus, Rio de Janeiro
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1- INTRODUÇÃO
Segundo dados do IBGE (2006), o rebanho equideo brasileiro é de 8.322.551 animais dos
quais 1.842.113 pertencentes à região Sudeste. Destes, 123.037 se encontram no Estado do Rio
de Janeiro.
O mercado nacional para o equideo e, principalmente, o da região Sudeste está em visível
crescimento, constituindo uma importante cadeia do agronegócio (ALMEIDA et al., 2006). As
atividades que envolvem os equinos ganham importância, pois representam no Brasil uma
movimentação econômica na ordem de R$ 7,3 bilhões por ano e a ocupação direta de cerca de
640 mil pessoas, que poderia atingir a casa de 3,2 milhões se forem incluídos empregos
considerados indiretos (CNA, 2004).
A Anemia Infecciosa Equina (AIE) é uma doença infectocontagiosa, ocasionada pelo
Vírus da família Retroviridae, subfamília Lentivirinae (WEIBLEN, 2007). O vírus da AIE tem
distribuição mundial especialmente em regiões úmidas e montanhosas de clima tropical e
subtropical, onde existe grande quantidade de vetores (SILVA et al., 2004). Foi diagnosticada
pela primeira vez no Brasil em 1968 por Dupont e desde então, constitui um grande obstáculo
para o desenvolvimento da equideocultura acarretando prejuízos aos criadores, além de dificultar
o acesso ao mercado internacional (ALMEIDA et al., 2006).
O principal meio de transmissão do vírus é através de insetos hematófagos. Muitas
espécies parecem estar envolvidas, incluindo os tabanídeos (Tabanus spp. e Hybomitra spp.,
Chrysops flavidus), mosca de estábulo (Stomoxys spp.), borrachudos (Simulinium vittatum),
mosquitos (Psorophora columbiae, Aedes vexans e Anopheles spp.) e possivelmente Culicoides
spp. O vírus está presente em todas as secreções e excreções (incluindo colostro, leite, saliva,
urina e sêmen) do animal infectado. A transmissão do vírus requer a transferência de células
sanguíneas de um animal infectado para um animal não infectado e pode ocorrer por infecção
iatrogênica, transplacentária ou pela monta (MURPHY et al., 1999; TIMONEY et al., 1988).
A evolução e a intensidade das manifestações clínicas são variáveis dependendo da dose,
virulência da amostra bem como da susceptibilidade do animal (Ibid.). O “Teste de Coggins” é
uma prova qualitativa e é o método escolhido para certificar animais como livres da doença para
exportação, transporte, eventos e é o único teste prescrito oficialmente para trânsito pela
Organização Mundial de Sanidade Animal e no Brasil, pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA).
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No Brasil as medidas de controle e profilaxia à AIE seguem o Programa Nacional de
Sanidade de Equideos (PNSE), desde 1981, através da Portaria nº 200 (BRASIL, 1981). A AIE
está incluída entre as doenças passíveis de medidas previstas no Regulamento de Defesa
Sanitária Animal – MAPA – (Decreto Federal 24.548/1934). Atualmente, está em vigor a
Instrução Normativa (IN) nº 45 de 15 de junho de 2004 (BRASIL, 2004), a qual contém normas
para prevenção e o controle da AIE, sendo obrigatória a notificação da doença no território
brasileiro. No estado do Rio de Janeiro, além da IN nº 45, também vigoram o Decreto Estadual
nº 26.214 e a CECAIE / RJ nº 001 (18/10/2000).
O presente trabalho teve como objetivos o estudo da ocorrência de focos de AIE no
Estado do Rio de Janeiro no período entre abril de 2002 e março de 2008 através do
levantamento dos dados provenientes dos relatórios oficiais elaborados pelo MAPA e da
Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária, Pesca e Abastecimento (SEAPPA) e, através de
um estudo de caso de AIE, levantar a importância da intervenção do médico veterinário para
diagnosticar, planejar e conduzir esta enfermidade em um foco, no município de Silva Jardim –
Rio de Janeiro.
2- MATERIAL E MÉTODOS
Em uma etapa inicial foi realizada a avaliação da distribuição dos focos de AIE ocorridos
no Estado do Rio de Janeiro de abril de 2002 a março de 2008 mediante dados obtidos de
relatórios oficiais. Posteriormente, foram feitas análises clínica e laboratorial dos equideos
soropositivos para AIE e execução das ações sanitárias da iniciativa privada e da Defesa
Sanitária Animal (DSA) na baixada litorânea do Estado do Rio de Janeiro, ocorrido no período
entre maio de 2007 e janeiro de 2008 em uma propriedade no Município de Silva Jardim – Rio
de Janeiro.
No exame clínico foi avaliado anamnese, score corporal, exame de mucosas e
temperatura dos dezenove equinos antes do óbito.
A coleta de sangue por punção jugular para hemograma e leucograma em dezenove
equinos foi realizada imediatamente antes da eutanásia, o sangue foi armazenado em tubos com
EDTA, conservado em gelo e levado ao laboratório de patologia clínica veterinária da
Universidade Castelo Branco, onde foi processado em até 24 horas.
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3- RESULTADOS E DISCUSSÃO
A prova sorológica para AIE foi solicitada pelo médico veterinário da iniciativa privada
em maio de 2007 durante um exame clínico e andrológico de rotina do reprodutor. O animal,
apesar de estar clinicamente normal, apresentou diagnóstico sorológico positivo. Posteriormente,
o referido resultado foi notificado em 24hs à Defesa Sanitária local, que de imediato interditou a
propriedade. Realizou-se então em 05 de junho de 2007 a coleta de sangue para obtenção do soro
dos demais 53 equinos existentes na fazenda para realização de exame sorológico, dentre os
quais foram diagnosticados mais dezoito equideos positivos. Os dezenove equideos foram
sacrificados no dia 12 de junho de 2007. No dia 22 de outubro de 2007 coletou-se o sangue dos
35 equideos restantes na propriedade para realização de nova prova sorológica, com mais oito
casos positivos na mesma propriedade os quais foram sacrificados em 31 de outubro de 2007
(Fig. 1).
Ao verificar os dados recolhidos junto à SEAPPA observa-se uma ocorrência de dois
focos no ano de 2002, seis em 2003, seis em 2004, seis em 2005, nove em 2006, 101 em 2007 e
até março de 2008 já se observa 13 focos no Estado do Rio de Janeiro (Figs. 2 a 8) .
O aumento significativo do número de focos relatados no Estado do Rio de Janeiro, verificado a
partir do ano de 2007, deve-se, em grande parte, à intensificação das medidas de defesa sanitária
realizadas em todo o estado através da parceria estabelecida entre o MAPA e a SEAPPA,
entretanto os dados revelam a existência de um elevado número de focos, o que leva a crer que o
Rio de Janeiro vem se mantendo como área endêmica, mostrando a importância do programa
instituído pela CECAIE (Fig. 9).
Na propriedade que for detectado o foco de AIE, deverá ser adotado as seguintes medidas
obrigadas pelo MAPA: Interdição da propriedade após identificação do equideo portador,
cumprimento do termo de interdição, notificação ao proprietário da proibição de trânsito dos
equideos da propriedade e da movimentação dos fômites passíveis de veiculação do vírus da
AIE; Deverá ser realizada investigação epidemiológica de todos os animais que reagiram ao teste
de diagnóstico de AIE, incluindo histórico de trânsito; Marcação permanente dos equideos
portadores da AIE, através da aplicação de ferro candente, na paleta do lado esquerdo com um
“A”, contido em um círculo de oito centímetros de diâmetro, seguido da sigla da UF, conforme
modelo do MAPA; Eutanásia, que deverá ser rápido e indolor, sob responsabilidade do serviço
veterinário oficial, de acordo com a Instrução Normativa Nº 45, ou isolamento dos equideos
portadores; Realização de exame laboratorial, para o diagnóstico da AIE, de todos os equideos
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existentes na propriedade; Desinterdição da propriedade foco após realização de 2 (dois) exames
com resultados negativos para AIE, consecutivos e com intervalo de 30 (trinta) a 60 (sessenta)
dias, nos equideos existentes; Orientação aos proprietários das propriedades que se encontrarem
na área perifocal, pelo serviço veterinário oficial, para que submetam seus animais a exames
laboratoriais para diagnóstico de AIE (BRASIL, 2004).
Por se tratar de uma das doenças mais importantes em equídeos sob o ponto de vista
sanitário e econômico, torna-se necessário aperfeiçoar os recursos de manejo sanitário e
minimizar os erros de diagnóstico, uma vez que, de acordo com a legislação vigente, os animais
soropositivos devem ser eliminados, representando alto custo para a reposição e adestramento de
novos cavalos para as tarefas a que estão destinados (JACOBO et al., 2006).
Durante o acompanhamento do foco no Município de Silva Jardim não foram
encontradas alterações significativas no exame clínico dos animais. Na avaliação do hematócrito
observou-se 52% dos animais dentro dos parâmetros de normalidade. Os demais animais (48 %)
apresentaram valores discretamente abaixo do normal sendo o menor valor do hematócrito
encontrado de 26,1%, o qual não caracteriza um quadro clínico de anemia.
No referido
experimento não foram encontradas alterações clínicas e laboratoriais em concordância com
Ferraz (1998), o qual considerou que mais de 95% dos animais infectados são portadores
assintomáticos, portanto o diagnóstico laboratorial assume papel decisivo no controle e
prevenção da doença.
Os problemas evidenciados referentes à falta de um programa efetivo de controle da
entrada e saída de animais na propriedade, sorologia periódica dos animais, de medidas de
controle e profilaxia referentes aos fômites existentes no haras devem-se, em grande parte, à
ausência de um responsável técnico.
De acordo com Almeida et al. (2006), a alta prevalência desta enfermidade deve-se à
deficiência de assistência veterinária, onde há assim uma dificuldade de acesso dos proprietários
e responsáveis pelas fazendas a informações de ordem sanitária, que poderiam ajudar na
prevenção da AIE, afirmando o aumento significativo no número de focos no ano de 2007.
Onde há uma maior concentração de criadores de equinos, a média da prevalência da AIE
é baixa, pois há uma preocupação por parte dos produtores em sacrificar o mais rápido possível
os animais portadores, assim que identificados (ALMEIDA et al., 2006).
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4- CONCLUSÕES
A maior parte dos casos positivos para Anemia Infecciosa Equina no Estado do Rio de
Janeiro está concentrada nas regiões Metropolitana, Centro-Sul Fluminense, Serrana e Baixada
Litorânea.
O número de focos de Anemia Infecciosa Equina ocorridos no Estado do Rio de Janeiro
notificados à SEAPPA teve um aumento significativo no ano 2007.
5- REFERÊNCIAS
ALMEIDA, V.M.A. et al. Anemia infecciosa equina: prevalência em equideos de serviço em
Minas Gerais. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, Belo Horizonte, v. 58, n.
2, p.141-148, abr. 2006.
BRASIL. Programa Nacional de Sanidade de Equideos (PNSE). Portaria nº 200, de 18 de agosto
de 1981. Disponível em: < http://www.agricultura.gov.br/>. Acesso em: 09 de junho de 2008.
BRASIL. Instrução Normativa Número 45, de 15 de junho de 2004, da Secretaria de Defesa
Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Disponível em:
<http://extranet.agricultura.gov.br/sislegisconsulta/consultarLegislacao.do?operacao=visualizar&id=8136>. Acesso em: 4 de abril de 2008.
CNA.
Estudo
do
complexo
agronegócio
do
cavalo.
2004.
Disponível
em:
<http://www.cepea.esalq.usp.br/pdf/cavalo_resumo.pdf>. Acesso em: 2 de abril de 2008.
DUPONT, O. et al. Diagnóstico da anemia infecciosa equina no Rio de Janeiro. In:
CONGRESSO FLUMINENSE DE MEDICINA VETERINÁRIA, 9., Niterói, 1968. p. 160-161.
FERRAZ, I. B. F. Vírus da Anemia Infecciosa Equina: Amplificação por PCR do DNA pró viral
da GP90, comparação com o teste de Elisa e IDGA e variabilidade genética de amostras
brasileiras. 1990. 153 f. Tese (Doutorado em Ciência Animal) – Universidade Federal de Minas
Gerais, Belo Horizonte, 1998.
IBGE.
Banco
de
dados
agregados.
2006.
Disponível
em:
<http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/listabl.asp?z=t&c=73>. Acesso em: 04 de março de
2008.
JACOBO, R. A. et al. Reações não específicas no diagnóstico da anemia infecciosa equina. A
Hora Veterinária, Porto Alegre, n. 151, mai./jun. 2006. Ano 26.
MURPHY, F. A. et al. Veterinary Virology. 3. ed. San Diego: Academic Press, 1999. 629 p.
7
RIO DE JANEIRO. Decreto Estadual Número 26.214, de 25 de abril de 2000. Disponível em: <
http://www.agricultura.rj.gov.br/sanidade_prog.asp>. Acesso em 01 de março de 2008.
SILVA, R. A. M. S. et al. Programa de Prevenção e Controle da Anemia Infecciosa Equina no
Pantanal Sul-Matogrossense. 2004. Disponível em:
<http://www.cpap.embrapa.br/publicacoes/online/DOC68.pdf>. Acesso em: 22 de março de
2008.
TIMONEY, J. F. et al. Hagan and Bruner’s Microbiology and Infectious Diseases of Domestic
Animals. 8. ed. Ithaca: Cornell University, 1988. 951 p.
WEIBLEN, R. Anemia Infecciosa Equina. In: RIET-CORREA, F. et al. Doenças de Ruminantes
e Equideos. Santa Maria: Pallotti, 2007. p.62-71.
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ANEXOS
Figura 1. Destino das carcaças dos equinos após o óbito confirmado.
Município de Silva Jardim, Rio de Janeiro.
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Figura 2. Mapa do Estado do Rio de Janeiro. O número de focos
por região. Os círculos vermelhos correspondem à localização dos
focos no ano de 2002 (Dados MAPA e SEAPPA).
Figura 3. Mapa do Estado do Rio de Janeiro. O número de focos por
região. Os círculos vermelhos correspondem à localização dos focos
no ano de 2003 (Dados MAPA e SEAPPA).
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Figura 4. Mapa do Estado do Rio de Janeiro. O número de focos por
região. Os círculos vermelhos correspondem à localização dos focos
no ano de 2004 (Dados MAPA e SEAPPA).
Figura 5. Mapa do Estado do rio de Janeiro. O número de focos por
região. Os círculos vermelhos correspondem à localização dos focos
no ano de 2005 (Dados MAPA e SEAPPA).
11
Figura 6. Mapa do Estado do Rio de Janeiro. O número de focos por
região. Os círculos vermelhos correspondem à localização dos focos
no ano de 2006.
Figura 7. Mapa do Estado do Rio de Janeiro. O número de focos por
região. Os círculos vermelhos correspondem à localização dos focos
no ano de 2007 (Dados MAPA e SEAPPA).
12
Figura 8. Mapa do Estado do Rio de Janeiro. O número de focos por
região. Os círculos vermelhos correspondem à localização dos focos
no ano de 2008 (Dados MAPA e SEAPPA).
120
100
80
60
Nº de focos
40
20
0
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
Figura 9. Número de focos de AIE no Estado do Rio de Janeiro, de 2002 a março de 2008
(Dados MAPA e SEAPPA).
13
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