decrescimento - Worldwatch Institute

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Na contramão de medidas
anticrise, movimento ambientalista
prega 'decrescimento'
Paula Adamo Idoeta
Da BBC Brasil em Londres
Atualizado em 12 de abril, 2012 - 05:41 (Brasília) 08:41 GMT
Enquanto países afetados pela
crise se esforçam para voltar a
crescer e emergentes, como o
Brasil, fomentam seu mercado
de consumo interno, existe um
movimento defendendo o
"decrescimento" como a única
forma de garantir a
sustentabilidade do planeta a longo prazo.
O decrescimento ("degrowth", em inglês) significaria tirar as economias globais
da "perpétua busca pelo crescimento" do Produto Interno Bruto (PIB), reduzindo
a escala de produção e consumo, distribuindo melhor recursos e trabalho, com a
meta de criar uma economia mais sustentável e frear o uso de recursos naturais.
A proposta não é exatamente nova - já vem sendo defendida há alguns anos por
correntes ambientalistas -, mas ganha repercussão com uma conferência sobre
o tema em Montreal, em maio, e com o encontro Rio+20, em junho, que reunirá
delegações de todo o planeta para discutir sustentabilidade.
Em relatório recém-lançado, o instituto de pesquisas ambientais WorldWatch
Institute, dos EUA, dedica um capítulo para defender o decrescimento "nos
países que se desenvolveram demais", ou seja, onde o consumismo e a dívida
tomaram proporções excessivas.
O autor do capítulo, Eric Assadourian, um dos diretores do WorldWatch Institute,
defende que, "países e populações superdesenvolvidos terão que proativamente
buscar o decrescimento, ou seguir no caminho atual até que o litoral se inunde
(por conta do aquecimento global) e outras grandes mudanças ecológicas os
forcem a não crescer".
Em entrevista à BBC Brasil, Assadourian explica como esse "decrescimento"
poderia ser aplicado na prática, reconhecendo que seria necessária uma
significativa mudança na forma como pensamos a economia e o consumo.
BBC Brasil - O que o senhor quer dizer com o "decrescimento em países
superdesenvolvidos"?
Eric Assadourian - Países com altos índices de desenvolvimento, como os
EUA, abraçam demais o consumismo, apresentam altas taxas de obesidade,
excessivo uso de automóveis, tudo isso às custas do meio ambiente.
BBC Brasil - Como esse
decrescimento ocorreria,
considerando que vemos o
consumo como sinônimo de
prosperidade?
Eric Assadourian - São quatro
pontos-chave:
1. Transformar a indústria do consumo, tornando a ideia da vida sustentável tão
natural quanto a ideia de consumir. Por exemplo, a noção de que cada um de
nós tem que ter um carro próprio é antiquada;
2. Redistribuir os impostos, cobrando mais de indústrias que poluem, da
publicidade (que fortalece o consumismo) e de quem ganha além do necessário
para a sobrevivência básica;
3. Reduzir as jornadas de trabalho, dando às pessoas mais tempo, redistribuindo
riquezas e gerando mais empregos;
4. Fortalecer a chamada "economia da plenitude", em que as pessoas plantam
mais para prover para sua própria alimentação, cuidar de sua família, aprender
novas habilidades, e os recursos são melhores usados. Se podemos produzir
um livro da série "Jogos Vorazes", para ser usado por milhares pessoas em uma
biblioteca, porque produzir 10 mil para serem comprados por milhares de
pessoas? Teríamos um uso mais eficiente, com a mesma qualidade.
BBC Brasil - Mas haveria uma perda econômica, não? A autora deixaria de
vender milhões de livros.
Eric Assadourian - Sim, mas teríamos milhares de árvores de pé. E as pessoas
confundem consumo com prosperidade, mesmo que a maioria não esteja
próspera. Acumulamos sacrifícios escondidos – por exemplo, na questão da
mobilidade. Em vez de andar 400 metros, muitos preferem usar um carro, objeto
que custará dois meses de seu trabalho, provocará poluição e ficará parado no
trânsito.
Acho que o decrescimento nos deixaria mais ricos. Ganharíamos em tempo e
qualidade de vida.
BBC Brasil - Ao mesmo tempo, Barack Obama recentemente comemorou
indícios de retomada da indústria automobilística dos EUA, o que
reforçaria o crescimento da economia americana em geral. Isso não mostra
o quanto a política econômica vai na contramão do que você falou?
Eric Assadourian - Estamos presos num mito de que o crescimento econômico
é essencial; a imprensa fica horrizada se não há crescimento. Se eu fosse um
líder lidando com uma recessão, não buscaria o crescimento.
"Decrescimento não é o mesmo que recessão. O decrescimento
é como uma dieta controlada, em que o objetivo é ficar mais
saudável. A recessão é como passar fome. Agora, para fugir da
recessão, estamos (os EUA) comendo loucamente de novo"
Veja, por exemplo, que com a crise dos EUA cresceu o número de casas
multigeneracionais (filhos morando com pais e avós, por exemplo). Isso estreita
os laços e promove economia de gastos com creche e cuidados médicos,
porque um ajuda o outro. Assim, temos menos hipotecas e menos gastos, o que
pode ser visto como algo ruim para o crescimento econômico. Mas também
temos menos pobreza e estamos fazendo mais com menos dinheiro.
BBC BRASIL - Esse seria o lado bom da recessão?
Eric Assadourian - Decrescimento não é o mesmo que recessão. O
decrescimento é como uma dieta controlada, em que o objetivo é ficar mais
saudável. A recessão é como passar fome. Agora, para fugir da recessão,
estamos (os EUA) comendo loucamente de novo, com uma grande parcela da
população trabalhando demais e outra sem emprego.
Os países emergentes estão estimulando o consumo interno – algo que, no caso
do Brasil, ajudou o país a não ter sido tão afetado pela crise mundial. O
decrescimento vale para emergentes?
Para eles, a questão não é apenas
decrescer, mas sim combinar isso com
crescimento verde – num mix de
políticas públicas, que desestimulem a
posse individual de carros para
desafogar as cidades, melhoras no
transporte público e desenvolvimento
que não prejudique o meio ambiente.
Talvez sua busca tenha de ser por progresso, em vez de crescimento
econômico.
BBC Brasil - Os países emergentes estão estimulando o consumo interno –
algo que, no caso do Brasil, ajudou o país a não ter sido tão afetado pela
crise mundial. O decrescimento vale para emergentes?
Eric Assadourian - Para eles, a questão não é apenas decrescer, mas sim
combinar isso com crescimento verde – num mix de políticas públicas, que
desestimulem a posse individual de carros para desafogar as cidades, melhoras
no transporte público e desenvolvimento que não prejudique o meio ambiente.
Talvez sua busca tenha de ser por progresso, em vez de crescimento
econômico.
BBC Brasil - Dá para convencer um consumidor normal a pensar em
termos de decrescimento?
Eu iria pelo caminho do "choice editing" (direcionar as escolhas das pessoas por
meio da ação do marketing, políticas públicas, etc). É fascinante como temos
pouco controle sobre nossas escolhas, como elas são determinadas
inconscientemente. Atualmente, elas são direcionadas para estimular o
consumo. Temos que quebrar esse processo, direcionando-o para (promover
um estilo de vida) de baixo consumismo.
Você tem as expectativas de que alguma decisão nessa direção seja
tomada na Rio+20?
Gostaria de dizer que sim, mas não espero esse nível de decisão política da
reunião. Se conseguirmos retomar algum tipo de acordo para o clima, já será
muito.
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