Comida processada, o novo tabu

Propaganda
07-11-2015 | Revista E
Pág: 7
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Semanal
Área: 23,50 x 24,34 cm²
Âmbito: Lazer
Corte: 1 de 2
D.R.
ID: 61748852
Tiragem: 100925
Comida
processada,
o novo tabu
AS SALSICHAS E HAMBÚRGUERES SÃO O NOVO
INIMIGO PÚBLICO NÚMERO UM, MAS HÁ MAIS
ALIMENTOS TRANSFORMADOS PELO HOMEM. E,
SIM, AINDA NÃO ESTAMOS PROIBIDOS DE OS
COMER. TEM TUDO A VER COM A QUANTIDADE
TEXTO CAROLINA REIS INFOGRAFIA ANA SERRA
E 7
ID: 61748852
fisga
07-11-2015 | Revista E
Tiragem: 100925
Pág: 8
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Semanal
Área: 23,50 x 29,70 cm²
Âmbito: Lazer
Corte: 2 de 2
ALIMENTOS
POR NÍVEL DE
PROCESSAMENTO
Experimente fazer o seguinte exercício: antes de
encher o carrinho das compras no supermercado,
leia os rótulos de cada uma das embalagens em
que pegar. E tenha especial atenção à letra E, em
especial quando surge antes de números como
E170 (carbonato de cálcio), E270 (ácido láctico),
E330 (ácido cítrico), E 440 (pectinas), E570 (ácidos
gordos) ou E941 (azoto). Sempre que encontrar
estas combinações pense duas vezes se vai comprar
em doses para comer todos os dias. Estes aditivos
alimentares podem ser uma de quatro coisas
(nenhuma delas muito boa). Ou são corantes,
utilizados para adicionar ou restaurar cor num
determinado alimento; ou conservantes, usados
para prolongar a durabilidade dos alimentos; podem
ser antioxidantes, para aumentar a durabilidade; ou
ainda agentes de tratamento da farinha, adicionados
para melhorar a qualidade da cozedura.
Saiba que ao comprar algo com o tal E no rótulo
está a levar um alimento processado, ou seja,
deliberadamente alterado do seu estado natural. Não
é que estes aditivos alimentares sejam proibidos,
pelo contrário, constam da legislação comunitária
sobre alimentação — o que, aliás, atesta pela sua
segurança. A carne processada, depois do estudo da
Organização Mundial de Saúde que veio relacionar
o seu consumo excessivo com o cancro, passou a
inimigo público número um, mas há mais alimentos
transformados pelo homem nas nossas dietas.
“Alguns alimentos processados, tais como as
refeições pré-confecionadas, podem conter teores
elevados de açúcar ou de sal e, por isso, serem pouco
aconselhados para consumo frequente. A leitura dos
rótulos poderá permitir identificar alimentos mais
adequados nutricionalmente e que, por 100 gramas
de produto, tenham menos de 5 gramas de açúcares,
menos de 3 gramas de lípidos e menos de 0,3 gramas
de sal”, alerta Ezequiel Pinto, diretor do curso de
Dietética e Nutrição da Universidade do Algarve.
Ao contrário da ideia que se generalizou nas
últimas semanas, não são só os hambúrgueres e
as salsichas os alimentos processados. Quando se
fala neste tipo de comida engloba-se, segundo o
Conselho Europeu para a Informação Alimentar,
tudo o que seja congelado, desidratado, curado,
salgado, fermentado ou fumado, assim como
tudo o que tenha recebido aromas, conservantes
ou edulcorantes. O problema do excesso de
processamento são as propriedades naturais que o
processo retira aos alimentos. E, por esta altura, já
está a pensar que vai encher o carrinho de compras
com... nada. Calma. Cuidado e equilíbrio não
são sinónimo de proibição. Tem tudo a ver com a
quantidade.
Nutricionistas e endocrinologistas alertam para
os perigos do consumo excessivo de produtos
processados, o que significa comê-los todos os
dias, a todas as refeições. Numa altura em que
estão a ser diabolizados, contudo, o equilíbrio
GRUPO 1
POUCO OU NÃO PROCESSADOS
Alimentos que foram submetidos
a alterações mínimas
Arroz
Carne
Feijão
Leite
Fruta
Raízes e tubérculos
Vegetais
Peixe
Ovos
Outros 1
(1) GRÃOS (ALÉM DO ARROZ E DO FEIJÃO), FRUTOS
SECOS E SEMENTES (SEM SAL), MARISCOS, CAFÉ,
CHÁ, E CONDIMENTOS SECOS
GRUPO 2
ALIMENTOS PROCESSADOS
Os que resultam da junção adição de sal e/ou
açúcar a outro alimento pouco processado
Açúcar (sacarose)
Óleo vegetal
Farinha de mandioca
Farinha de trigo
Massas
Gordura vegetal (margarinas)
Gordura animal (manteiga, banha ou natas)
Outros 2
(2) FARINHA DE MILHO, AMIDOS, OUTROS AÇÚCARES
E ADOÇANTES, E LEITE DE COCO
GRUPO 3
ULTRAPROCESSADOS
Alimentos que resultam de várias etapas
e técnicas de processamento e são
produzidos essencialmente
de maneira industrial
Pão
Biscoitos
Doces
Refrigerantes
Salsichas
Queijo
Carne salgada, curada ou fumada
Refeições enlatadas, congeladas
ou desidratadas
Molhos, incluindo a maionese
Outros 3
(3) PEIXE SALGADO, SECO OU EM CONSERVAS,
VEGETAIS ENLATADOS EM SALMOURA, MASSAS
INSTANTÂNEAS, CEREAIS DE PEQUENO-ALMOÇO
AÇUCARADOS, BEBIDAS DE LEITE E OUTRAS BEBIDAS
AÇUCARADAS
FONTE: CADERNO SAÚDE PÚBLICA, RIO DE JANEIRO,
NOV. 2010
passou a ser a palavra de ordem. Sim, devem ser
evitados, mas não, não é preciso nunca mais comer
uma bolacha ou um hambúrguer. A vida, também
na alimentação, não é a preto e branco e a velha
máxima segundo a qual “tudo o que é em excesso
faz mal” deve prevalecer. Entre os dois extremos
existem várias camadas de cinza. “Não se trata de
dizer que tudo o que é processado é mau e tudo
o que não é processado é bom”, defende Nuno
Borges, presidente da Associação de Nutricionistas.
Um desses exemplos são as massas alimentícias,
como esparguete ou o macarrão, processadas,
porém com poucos ingredientes, para serem mais
facilmente digeridas. O bife, um alimento natural,
é um outro exemplo: quando é grelhado em
demasia sofre um tipo de processamento. “É difícil
arranjar um chapéu que englobe tudo. Existem
alimentos que diferem notavelmente no seu grau
de processamento”, destaca o nutricionista. Não
existem definições oficiais, no entanto, há artigos
científicos que começam a estabelecer diferentes
tipos de patamares para o processamento (ver
gráfico).
Na hora de escolher o que comer, há um truque
que pode ser usado: comprar o que tenha cinco ou
menos ingredientes no rótulo. “É importante saber
ler as embalagens e sempre que as pessoas não
perceberem o que lá está o melhor é perguntar ao
médico ou ao nutricionista”, diz Davide Carvalho,
endocrinologista e professor da Faculdade de
Medicina da Universidade do Porto. O “principal
flagelo”, defende o especialista, é a obesidade (afeta
um milhão de adultos), um fator a ter em conta no
risco de cancro.
Recentemente, a preocupação com a alimentação
deixou de ter como objetivo a elegância e passou
a ser feita em nome da saúde. Pelas prateleiras
dos supermercados multiplicam-se os produtos
saudáveis, as sementes, os alimentos biológicos,
os cereais alternativos. Já na internet é fácil
encontrar bloggers ‘especialistas’ em alimentação
saudável (que se baseiam apenas nas suas próprias
experiências, sem terem qualquer tipo de formação)
ou casos de quem passou de um nº 42 para um
34 cortando o glúten, os produtos lácteos e os
processados. Vivemos um período de modas na
comida em que, de repente, se generalizam as
teorias. “Aparece um estudo a dizer que algo faz
mal e toda a gente deixa de comer. Parece que é
impossível ter bom senso para fazer uma dieta
equilibrada, as pessoas gostam de modas, de
tendências”, frisa Davide Pinheiro. Só assim se
percebe que a atual preocupação com os alimentos
processados, um fenómeno antigo e cuja origem
remonta à conservação de latas em França, durante
a época de Napoleão Bonaparte. “Não se pode meter
tudo no mesmo saco. Hoje em dia, praticamente
todos os alimentos passam por algum tipo de
processamento”, recorda Nuno Borges. b
“É IMPORTANTE SABER LER AS EMBALAGENS, E SEMPRE QUE AS PESSOAS
NÃO PERCEBEREM O QUE LÁ ESTÁ O MELHOR É PERGUNTAR AO
MÉDICO OU AO NUTRICIONISTA”, DIZ DAVIDE CARVALHO, ENDOCRINOLOGISTA
Download