CEFAC CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA MOTRICIDADE ORAL PARALISIA FACIAL BILATERAL Causas e tratamentos Monografia de conclusão do curso de Especialização em Motricidade Oral Orientadora: Mirian Goldenberg VIVIANE RITA CAROPRESO SÃO PAULO 2000 RESUMO Esta pesquisa teórica tem como objetivo observar qual a incidência de casos que apresentam paralisia facial bilateral, enfocando as etiologias e os tipos de terapia mais recomendados para estes casos. Para tanto, foi realizado um estudo aprofundado sobre a parte anatômica e funcional do nervo facial, bem como quais os músculos que o facial inerva e os níveis de lesão. Através dos estudos feitos, observou-se que há outros pares cranianos que podem estar comprometidos, dependendo da etiologia. Devido a isto, resolvemos fazer um breve relato sobre cada par. Em relação à parte terapêutica, concluiu-se que o trabalho é semelhante ao de outras etiologias onde ocorre paralisia facial unilateral, com a diferença de que a pessoa com paralisia facial bilateral não possui a referência de apresentar ao menos um dos lados da face íntegros, dificultando um pouco mais a recuperação. Em algumas bibliografias lidas, notou-se que há uso de estimulação elétrica logo que a paralisia é detectada, porém a maior parte dos autores não recomenda seu uso, pois o excesso de estimulação pode causar espasmos e contraturas, dificultando ainda mais o quadro. A terapia deve ser executada em todos os casos onde, dependendo do grau de acometimento do nervo, existir ou não maior probabilidade de recuperação. A paralisia facial bilateral não é tão estudada quanto a unilateral e, devido este fator, há muitas contradições em relação a suas etiologias. Por ser a mais estudada, faremos um breve relato sobre a Síndrome de Möebius e outras patologias que podem causar este tipo de paralisia. Esta pesquisa pode contribuir para os fonoaudiólogos se aprofundarem mais nessa área pelo simples fato de que todo e qualquer tipo de paralisia deve ser tratada, proporcionando maior bem estar para o paciente; para que os otorrinolaringologistas se conscientizem cada vez mais sobre a importância da atuação do fonoaudiólogo em casos de paralisia facial; para os neurologistas tomarem conhecimento do nosso trabalho, e o quanto podemos contribuir para a melhora destas pessoas; e finalmente, para a família e para o próprio paciente, que fique bem claro que a terapia é fundamental na recuperação total ou parcial a fim de que o paciente possa prosseguir sua vida com mais qualidade. ABSTRACT This theoretical research aims to observe which is the incidence on cases which present types of bilateral most facial palsys, focusing recommended on therapies etiologies for and these the cases. For this reason a deep study about the anatomic and functional part ofthe facial nerve was made, as well as the muscles that the face innervates and the levels of injury. It has been observed through these studies that there are other skull pairs which may be involved, depending on the etiology. Due to this, we decided to make a brief report on each pair. In relation to the therapeutic side, it has been concluded that the work is similar to other etiologies where unilateral facial palsys occurs, with the difference that the person who has bilateral facial palsys does not have the reference to present at least one of the sides of the face without injury making the recuperation a little more difficult. It has been noticed in some of the bibliographies read that there is electric stimulation as soon as the palsys is detected, although most of the authors do not recommend its use, because the excess of stimulation may cause spasms and contracting, making the case more difficult. The therapy must be applied in all cases where there is or not a bigger probability of recuperation depending on the level of the nerve attack. Bilateral facial palsys is not so much studied as the unilateral one, and because of this factor, there are many contradictions in relation to its etiologies. We will make a short report on the Möebius Syndrome and other pathologies which may cause this type of palsys because they are the most studied ones. This research may contribute to speech pathology therapists to learn better about this field for the simple reason that all types of paralysis must be treated giving the patient a better life quality; for otorhinolaryngologists realize the important part speech pathology therapists play in cases of facial palsyis; for the neurologists become aware of our work, and how much we can contribute to make these people better; and finally, for the patient and his or her family to realize that the therapy is essential for the total or partial recuperation of the patient, so that he or she can have a better life quality. Dedico este trabalho aos meus pais, que durante todo o caminhar de minha vida estiveram presentes. Pais por natureza, por opção e por amor. Pais que me ajudaram a encontrar ânimo, mesmo nos momentos mais difíceis, me incentivando a nunca fugir dos meus objetivos. Meus queridos pais, dedico este trabalho a vocês, devido ao amor e carinho intenso que têm por mim, e se mais uma etapa está sendo cumprida, isto também é graças a vocês. Muito obrigada. AGRADECIMENTOS À Maria Valéria S. Goffi Gomes, por todo ensino passado durante alguns anos, e por ter mostrado o quanto que trabalhar com paralisia facial pode ser prazeroso À Eliézia Helena de Lima Alvarenga, com quem pude contar durante todo o trabalho, orientando e incentivando, no tema a ser estudado À grande amiga e companheira Christina Lee Mac Fadden, que sempre me apoiou com suas palavras amigas, mesmo nas horas mais difíceis. Às minhas novas amigas Renata Beatriz Sayeg Goussain, Christiane Torloni e Sandra Maria Ayusso Ulsom, que mesmo com todas as suas preocupações, em nenhum momento esqueceram seus amigos Aos meus queridos irmãos, Paulo, Carlos e Luiz, que dispensaram boa parte de seu tempo, colaborando com uma grande porcentagem, para que este trabalho fosse concluído Às minhas cunhadas, Marilisa, Solange e Bete, que com toda sua paciência, sempre estiveram presentes com suas palavras de carinho e seus conhecimentos Ao Márcio, pelo carinho, paciência, compreensão e grande colaboração na realização deste trabalho À Adriana Diniz Pereira, que além de amiga, mostrou-se muito disponível em contribuições que só foram possíveis graças a sua boa vontade À fonoaudióloga Zelita Guedes, que mesmo sem me conhecer, abriu as portas do ambulatório onde trabalha, mostrando sua disponibilidade em ensinar assuntos que para mim eram desconhecidos Aos meus pais, Antonio e Magda pelo apoio, compreensão, e dedicação, que com suas valiosas palavras de carinho e incentivo me ajudaram a chegar onde estou À professora e orientadora Mirian Goldenberg, por suas orientações valiosas no decorrer de todo o trabalho À minha grande amiga de tantos anos Ana Carolina Fontolan e toda sua equipe que além de todo carinho dispensado, fez certas mudanças nas figuras deste trabalho, que além de fundamentais, só foram possíveis devido sua grande amizade Ao Gabriel Vinícius, meu querido sobrinho e afilhado, por ter feito valiosas contribuições no início deste trabalho Ao Luiz Bronzati, professor e amigo, por ter feito a tradução do resumo deste trabalho A todos que direta ou indiretamente, colaboraram de alguma forma para que este trabalho fosse concluído. Sem vocês isto não seria real, mas apenas um sonho. Muito obrigada “Pode-se viver no mundo uma vida magnífica, quando se sabe trabalhar e amar, trabalhar pelo que se ama e amar aquilo que se trabalha” Tolstoi SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 1 2. DISCUSSÃO TEÓRICA 3 2.1. ASPECTO ANÁTOMO FUNCIONAL DO NERVO FACIAL 2.2. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DE PARALISIA FACIAL CENTRAL E PARALISIA FACIAL PERIFÉRICA 2.3. MÚSCULOS DA FACE INERVADOS PELO NERVO FACIAL 6 9 2.4. ETIOLOGIA DA PARALISIA FACIAL CENTRAL E PARALISIA FACIAL PERIFÉRICA 16 2.5. NÍVEIS DE LESÃO DO NERVO FACIAL 18 2.6. PARES CRANIANOS 21 2.7. PARALISIA FACIAL BILATERAL 26 2.8. TERAPIA 31 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 35 1- INTRODUÇÃO Dentre as patologias que interferem diretamente na vida das pessoas, está a paralisia facial. Mesmo sendo uma patologia antiga, e possuindo inúmeras etiologias, ainda é pouco conhecida. Quando ocorre, gera problemas muito sérios devido a mutilação dos movimentos expressivos da face, causando inclusive sérios problemas psicológicos. Ocorre também o comprometimento das funções fisiológicas, tais como, o lacrimejamento, o reflexo do músculo do estribo, a sensibilidade gustativa dos dois terços anteriores da língua, a salivação, os movimentos voluntários e a modificação do tônus da boca, gerando problemas no processo alimentar. As paralisias faciais periféricas são as mais estudadas em relação ao prognóstico e tratamento, enquanto que pouco se sabe sobre as paralisias faciais centrais, bem como sobre as bilaterais. Entre estas, a de Möebius é a mais estudada. Entretanto, há diferenças que deveriam ser levantadas para fim de prognóstico, e do próprio tratamento, pois nem toda paralisia bilateral é Möebius. O objetivo desta pesquisa é realizar um levantamento bibliográfico a respeito das paralisias faciais bilaterais, apresentando sua incidência, etiologias, tratamentos, e grau de extensão - ou seja, quais são as outras áreas que podem ser lesadas em decorrência da patologia, fazendo um breve relato sobre cada uma delas, e determinando seu prognóstico. A partir destes dados, poderemos estipular uma terapia adequada, levando-se em conta que, em alguns casos mais sérios, esta terá por finalidade a melhora da qualidade alimentar da pessoa, e não mudanças estéticas. Porém, sempre deverá ser feita, pois a sua realização é de suma importância para o paciente. 2 - DISCUSSÃO TEÓRICA 2. 1 - ASPECTOS ANÁTOMO FUNCIONAIS DO NERVO FACIAL O conhecimento detalhado sobre a anatomia do nervo facial (VII par craniano), é essencial para a localização do nível da lesão e conseqüentemente, correto prognóstico e tratamento. O nervo facial é um nervo misto, dividido em duas porções. A maior porção, motora, inerva os músculos da expressão facial, e a menor porção, de fibras aferentes sensitivas e eferentes parassimpáticas (Nervo intermédio de Wrisberg), inervam os dois terços anteriores da língua, e as glândulas lacrimais e salivares, submaxilar e sublingual, consecutivamente (BENTO & BARBOSA, 1993). O núcleo de origem do nervo facial, situa-se no tronco encefálico, descrevendo um trajeto circular em torno do núcleo do nervo abducente (VI par). A porção motora caminha ao lado da porção sensitiva, e juntamente com o nervo vestíbulo coclear (VIII par), atravessam a região do ângulo ponto cerebelar. Penetram o meato acústico interno, percorrendo um trajeto lateral e superior entre a cóclea e o canal semi circular superior.(FIGÚN & GARINO, 1978). Caminham juntos até determinado ponto, no segmento labiríntico, onde o nervo facial separa-se do nervo vestíbulo coclear e percorre em um canal próprio denominado canal de Falópio, ou canal do nervo facial. Caminha até a parede medial do recesso epitimpânico, encurvando-se em ângulo agudo, formando o primeiro joelho do nervo facial, onde está situado o gânglio geniculado (LUCENA, 1993). Do vértice do gânglio geniculado, nascem os nervos petrosos superficiais maiores e menores, periféricos e centrais, com função secretomotora da glândula lacrimal, da sensibilidade gustativa da língua, e da sensibilidade profunda da face, determinados pelo nervo intermédio e raiz motora do facial (HUNGRIA, 1984). Em direção quase paralela ao maior eixo da parte petrosa do osso temporal, encontra-se o segmento timpânico. No gânglio geniculado o nervo facial faz uma curvatura, para entrar na porção timpânica horizontal do canal de Falópio.(MAY & SHAMBAUGH, 1991). Na área correspondente ao segundo joelho do nervo facial, localizase o segmento piramidal. O segundo joelho é constituído pela angulação do segmento vertical ou mastóideo, estabelecendo uma relação íntima com o canal semicircular lateral, e com o tendão do músculo do estapédio (HUNGRIA, 1984). Segundo HUNGRIA (1984), até o décimo oitavo mês de vida, a ponta da mastóide está ausente ou pouco desenvolvida, o que deixa o nervo desprotegido e, portanto, mais exposto ao trauma no decurso da antrotomia, abertura cirúrgica da mastóide. O último ramo importante é o nervo corda do tímpano, que se inicia quatro a seis milímetros antes do orifício estilomastoídeo, e contém fascículos secreto-motores destinados às glândulas sublingual e submandibular, vinculada à sensibilidade da gustação (LUCENA, 1993). Ao passar para o segmento extratemporal, quando emerge do forame estilomastoídeo, o nervo facial descreve trajeto em alça anteriormente na região abaixo do ouvido, penetrando a seguir a fascía parotídea e, passando entre os lobos superficial e profundo da glândula, porém sem inervá-la. Nesta, ele se divide em vários ramos a partir de dois grupos principais: o têmporo-facial e o cérvico-facial (CRUZ & ALVARENGA, 1998). Estes se subdividem em cinco ramos que são: Ramo Temporal- inervando o músculo orbicular do olho, músculos auriculares anterior e superior, ramo frontal do músculo occiptofrontal e o músculo corrugador do supercílio. Ramo Zigomático- inerva os músculos zigomático e orbicular do olho, corrugador do supercílio, e supre os músculos relacionados com o lábio superior, abertura da asa do nariz e bucinador. Ramo Bucal- segue inferiormente em direção ao músculo risório, músculo bucinador e músculos elevadores do lábio superior e do ângulo da boca, e os músculos depressores do lábio inferior e do ângulo da boca. Ramo Mandibular- passa à cima e à frente do ramo da mandíbula (deglutição), abaixo do músculo platisma, em direção ao ângulo da boca. Passa pelo músculo masseter e superficialmente pela artéria e veias faciais, suprindo os músculos relacionados com o lábio inferior e o ângulo da boca. Ramo Cervical- após deixar a glândula parótida, dirige-se para baixo e depois para diante, até suprir a parte profunda do músculo platisma (LUCENA, 1993; KENDALL & MC CREARY, 1986). Os neurônios que se dirigem aos músculos frontal, parte superior do orbicular dos olhos e superciliar, recebem inervação cortical bilateral e estão situados no núcleo superior do facial. Estes dados são de suma importância para o reconhecimento da paralisia facial central, onde estes músculos encontram-se preservados (BENTO & BARBOSA, 1994). 2.2 - DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DE PARALISIA FACIAL CENTRAL E PARALISIA FACIAL PERIFÉRICA As paralisias faciais periféricas são decorrentes de uma lesão do núcleo de origem ou do próprio tronco nervoso, afetando os músculos inervados pelo facial do lado da lesão. Toda esta hemi face estará comprometida, em maior ou menor grau de acometimento (BENTO & BARBOSA, 1994). Neste tipo de paralisia ocorre hipotonia da musculatura facial, pois o nervo está comprometido e não permite a passagem de impulsos nervosos, além de, geralmente, o lacrimejamento encontrar-se alterado. Há também o comprometimento dos movimentos voluntários e involuntários, devido à lesão ocorrer no tronco nervoso (GOMEZ, 2000). Quanto às paralisias faciais centrais, há lesão das fibras corticais, que fazem conexão com os núcleos do nervo facial, situados no tronco cerebral, e atingem os músculos faciais contralaterais à lesão. Neste caso, não há acometimento das fibras superiores do nervo facial. Em conseqüência disto, a musculatura do quadrante superior da face apresenta-se preservada (BENTO & BARBOSA, 1994). Nos casos em que ocorre paralisia facial central, o tônus encontra-se preservado porque o nervo apresenta-se conectado e íntegro. Os movimentos involuntários preservam sua integridade porque são determinados pela área extra piramidal que se situa sob o córtex. Caso a área lesada seja muito extensa, todos os movimentos estarão afetados (GOMEZ, 2000). Para se obter um diagnóstico diferencial, basta solicitar ao paciente que feche os olhos. Se ele não conseguir, estaremos diante de um caso de paralisia facial periférica. No caso de ser uma paralisia facial central, é possível que ele feche os olhos sem dificuldade, porém apresentará um desvio de boca para um dos lados da face. Há casos, menos comuns, onde a paralisia facial periférica é bilateral. Ela é determinada por apresentar falta de mímica na musculatura da expressão. Durante o tratamento, ocorre a recuperação mais rápida de uma face do que de outra, porém isto se normaliza com o decorrer do tratamento (LUCENA, 1993). 2.3 - MÚSCULOS DA FACE INERVADOS PELO NERVO FACIAL Os músculos da face inervados pelo nervo facial devem ser trabalhados em terapia. Porém, para isto, é necessário que se tenha conhecimento sobre qual é o sentido em que caminham suas fibras. Conseqüentemente, onde estão localizadas as origens e inserções de cada um dos músculos e suas determinadas funções. Músculo occiptal Origina-se nos 2/3 externos da linha curva occiptal superior e região mastoideana do temporal, inserindo-se sobre a borda posterior da aponeurose epicraniana. O músculo occipital tem a função de mover o couro cabeludo para trás. Músculo frontal Possui três tipos de fibras cujas origens são: Fibras mediais- contínuas às fibras do prócero; Fibras intermédias- misturadas com o corrugador e o orbicular dos olhos; Fibras laterais- misturadas com o orbicular dos olhos sobre o processo zigomático do osso temporal. Estas fibras se unem, inserindo-se na camada profunda da pele na região supraciliar e interciliar. O músculo frontal tem como função mover o couro cabeludo para frente, e elevar as sobrancelhas, formando rugas horizontais na testa (expressão de surpresa ou medo). Músculo corrugador do supercílio Origina-se através de fibras carnosas, sobre a extremidade medial da arcada superficial. Após haver passado sob o frontal e sob a porção orbitária do orbicular superior das pálpebras, insere-se na camada profunda da pele da sobrancelha, nos 2/3 ou metade da órbita. Tem como função tracionar o supercílio para baixo e medialmente. Músculo prócero (piramidal do nariz) Origina-se na aponeurose que recobre a parte inferior do osso nasal e parte superior da cartilagem nasal lateral, inserindo-se na camada profunda da pele na região intermediária das sobrancelhas, após ter se cruzado com as fibras do frontal. Sua função é a de tracionar a pele situada entre as sobrancelhas, elevando a pele da raiz do nariz. Músculo orbicular dos olhos Este músculo divide-se em duas porções. A porção palpebral tem origem na porção lateral do ligamento palpebral interno e sobre a crista posterior do osso lacrimal, inserindo-se na linha palpebral lateral. A porção orbitária, tem origem na porção nasal do osso frontal, ramo ascendente frontal da maxila, face anterior e borda do ligamento palpebral medial. As fibras musculares formam uma elipse que se alarga inserindo-se no ângulo externo do olho. Este músculo tem a função de proteger os olhos contra a luz, fechando as pálpebras, de modo normal e forçado. Músculo transverso do nariz Origina-se sobre a linha aponeurótica do dorso do nariz. As fibras inferiores dirigem-se à camada profunda da pele inserindo-se nesta. As fibras superiores fundem-se com as fibras laterais do mirtiforme. Possui a função de dilatar as narinas junto com o dilatador. Músculo nasal (dilatador das narinas) Origina-se na cartilagem lateral da asa do nariz, inserindo-se na camada profunda da pele no sulco nasolabial, extremidade inferior da asa do nariz. Sua função é de aumentar o diâmetro transversal da narina. Músculo depressor do septo (mirtiforme) Origina-se na fosseta mirtiforme da maxila e da saliência alveolar do dente canino, inserindo-se no septo nasal e borda posterior da asa do nariz. Possui a função de abaixar a ponta do nariz estreitando o orifício nasal e abaixar o lábio superior. Músculo elevador do lábio superior e da asa do nariz O músculo elevador superficial, tem origem na face externa da apófise ascendente da maxila e inserção na camada profunda da pele da borda posterior da asa do nariz. Sua função é de elevar e everter o lábio superior e elevar a asa do nariz. Há também o músculo elevador profundo, com origem na metade medial da borda inferior infra-orbitária. Após ter cruzado as fibras do canino; insere-se na camada profunda da pele na borda inferior da asa do nariz e do lábio superior. Sua função é idêntica à do elevador superficial. Músculo elevador do ângulo da boca (canino) Origina-se abaixo da cavidade infra-orbitária, na fossa canina. Insere-se na camada profunda da pele comissural e do lábio superior. Possui a função de elevar o ângulo da boca, descobrindo o dente canino. Músculo zigomático menor Origina-se na parte média da face lateral do osso zigomático. Insere-se na camada profunda da pele do lábio superior, lateralmente ao elevador. Possui a função de movimentar o lábio superior para cima e para fora. Músculo zigomático maior Origina-se através de fibras aponeuróticas na face do osso zigomático, abaixo e atrás do músculo zigomático menor. Insere-se na camada profunda da pele e na mucosa da comissura labial. Possui a função de movimentar a comissura dos lábios para cima e para fora. Músculo bucinador Origina-se posteriormente sobre a borda alveolar da maxila e mandíbula, ao longo dos três últimos molares, e na borda anterior do ligamento pterigomandibular. As fibras superiores e inferiores cruzam-se na altura da comissura labial e, então, inserem-se na camada profunda da pele, no terço extremo do vestíbulo da boca. Sua função é movimentar a comissura labial para trás, alongando a fenda bucal. Comprime a cavidade bucal, apoiando-se fortemente sobre a face externa dos molares. Músculo risório Origina-se posteriormente, sobre as fibras aponeuróticas do músculo masseter. Insere-se na pele da comissura labial. Possui a função de tracionar o ângulo da boca para trás. Músculo depressor do lábio inferior Origina-se no terço anterior da borda lateral da mandíbula, inserindo-se na camada profunda da pele do lábio inferior, fundindo-se com o músculo orbicular dos lábios. Possui a função de retrair o lábio inferior. Músculo mental Origina-se nas saliências alveolares dos dois incisivos e caninos inferiores. Inserese na polpa da camada profunda da pele do mento. Possui a função de elevar o mento havendo protrusão do lábio inferior. Músculo depressor do ângulo da boca (triangular dos lábios) Origina-se abaixo do depressor do lábio inferior, sobre a porção anterior da linha externa da mandíbula. Insere-se na comissura labial. Possui a função de movimentar a comissura do lábio para baixo e para fora, determinando assim, a expressão de tristeza. Músculo platisma (cutâneo do pescoço) Origina-se através de fibras carnosas na camada profunda da pele, que recobrem o acrômio, as regiões deltoídea e clavicular, e peitoral maior. Sua inserção se apresenta da seguinte forma: as fibras anteriores entrecruzam-se com as fibras opostas, e se dirigem em direção à pele da eminência mentoniana; as fibras médias terminam em parte sobre a borda inferior da mandíbula, e em parte entrecruzam-se com as fibras do músculo triangular dos lábios e do músculo depressor do lábio inferior; as fibras posteriores ou externas, continuam nas fibras carnosas do músculo triangular, outras vão diretamente para a camada profunda da pele da comissura labial e da bochecha. Possui a função de abaixar a pele do mento e a comissura labial, esticar transversalmente a pele do pescoço e elevar (KENDALL & MC CREARY, 1986). Músculo orbicular dos lábios Músculo em forma de elipse, constrictor principal, que ocupa a espessura dos lábios. Ele compreende duas partes: uma externa (periférica), e a outra interna (central). As fibras externas: são compostas de fibras extrínsecas e de fibras intrínsecas. As fibras extrínsecas, são formadas pelas fibras terminais dos músculos triangular, bucinador e canino, essencialmente, e de todos os músculos peribucais. As fibras intrínsecas fazem parte dos músculos incisivos, dois para cada lábio. As fibras internas seguem a borda livre dos lábios, misturando-se com as fibras do compressor dos lábios. Possui a função de aproximar e comprimir os lábios. Músculo compressor dos lábios Nome dado às fibras musculares estendidas de frente para trás, ao redor do orifício bucal. Suas fibras misturam-se com o orbicular interno dos lábios. Músculo particularmente bem desenvolvido no lactente (sucção). Possui a função de comprimir os lábios de frente para trás; trabalha em sincronia com o músculo orbicular dos lábios, músculo bucinador, músculos masseteres e os músculos da língua (LACÔTE, 1987). Os Músculos auriculares posteriores, superior e anterior, também são inervados pelo nervo facial, porém, não possuem função importante É importante ressaltar que os músculos: elevador da pálpebra superior e o masseter não são inervados pelo nervo facial e sim pelo terceiro par (nervo oculomotor) e pelo quinto par (nervo trigêmeo), respectivamente (LUCENA, 1993). 2.4 - ETIOLOGIA DA PARALISIA FACIAL CENTRAL E DA PARALISIA FACIAL PERIFÉRICA Há inúmeras etiologias para as paralisias. No entanto, as mais estudadas são as que causam a paralisia periférica. Apresentaremos, a seguir, as principais etiologias das paralisias faciais. Paralisia de Bell Também conhecida como a Frigore ou Idiopática: paralisia de aparecimento súbito, afetando um lado da face. A recuperação é espontânea e sua causa é desconhecida. Dentre todas as etiologias de paralisia facial, esta é a mais comum. Paralisia Facial Traumática É determinada por fraturas do osso temporal ou dos ossos da face causadas por projéteis de arma de fogo, por ferimentos corto-contusos nas partes moles da face, por acidentes de carro - e, principalmente – motocicletas. Ocorre também, por traumas de parto (causados por fórceps, ou por compressão do rosto do feto no canal de parto) e ainda pelas iatrogênicas, quando o cirurgião lesa o facial deliberada ou inadvertidamente. Paralisia por Infecção Estas infecções podem ser virais (herpes zoster, mononucleose, caxumba, citomegalovírus e sarampo), bacterianas inespecíficas (otite média aguda e otite média crônica colesteatomatosa), e bacterianas específicas (tuberculose e lues). Paralisia por Tumores A instalação súbita pode ser confundida com a paralisia de Bell, por isso deve-se fazer um diagnóstico bem preciso. Pode ocorrer no Sistema Nervoso Central (neurinoma ou schwanoma do facial), no Osso Temporal - que são os mais comuns - e no Extratemporal, quase sempre de conotação congênita. Outras linhagens possíveis nesta região, são os hemangiomas. Paralisia Congênita Já se comentou sobre os traumas no parto; além destes há a Síndrome Congênita de Möebius, caracterizada por envolvimento simultâneo do VI e VII nervos cranianos, associada a outras alterações. Paralisia Metabólica Aparece em indivíduos com diabetes, hipotiroidismo, ou até mesmo durante a gravidez. Síndrome de Melkerson-Rosenthal De início súbito, com edema de hemi-face, língua plicata, normalmente com aparecimento entre a terceira ou quarta década da vida. A etiologia é desconhecida, e a recuperação é espontânea, como a paralisia facial de Bell. Doença de Lyme É uma infecção causada pela espiroqueta transmitida por picada de carrapato. A paralisia facial pode ser uni ou bilateral (CRUZ & ALVARENGA, 1998; BENTO & BARBOSA, 1994; MAY & SHAMBAUGH JR., 1991). Dentre estas patologias citadas, faremos uma referência mais abrangente sobre as patologias que causam paralisia facial bilateral. 2.5 - NÍVEIS DE LESÃO DO NERVO FACIAL As lesões do facial podem ocorrer em pontos específicos do seu trajeto, até atingir a musculatura. A seguir, citaremos os locais das lesões com os respectivos sinais e etiologias. Lesão supranuclear (lesão central) Os quadrantes superiores da face encontram-se intactos e há presença de sorriso espontâneo. Possui como etiologias acidente vascular cerebral ou trauma crânio encefálico. Lesão nuclear Há envolvimento do VI e do VII par craniano e sinal do trato corticoespinal. Suas etiologias são de causa vascular, intoxicação por talidomida, poliomielites, esclerose múltipla, encefalites ou adenocarcinoma. Lesão no ângulo ponto-cerebelar Há envolvimento da porção vestibular e coclear do VIII par craniano, diminuição do lacrimejamento e do reflexo de piscar. O paladar e a salivação podem encontrarse alterados. Envolve, também, o V par craniano e mais tarde o IX, X e XI par craniano. Possui como etiologias neurinoma, meningioma, colesteatoma, trauma crânio encefálico ou adenocarcinoma. Lesão no gânglio geniculado Há paralisia facial, hiperacusia (sensibilidade auditiva, principalmente aos sons agudos), alterações no paladar, lacrimejamento e salivação. Possui como etiologias o herpes zoster, trauma crânio encefálico, paralisia de Bell, neurinoma ou meningioma. Lesão na timpanomastóide Há paralisia facial, diminuição no reflexo de piscar, alteração do paladar e salivação, porém o lacrimejamento permanece intacto. Pode apresentar hiperacusia se houver lesão no nervo do estribo. Possui como etiologias paralisia de Bell, colesteatoma, trauma crânio encefálico, infecção, neurinoma, glomus jugular ou adenocarcinoma. Lesão extracraniana Há paralisia facial. O caminho parassimpático e o paladar encontram-se intactos, ocorre desvio do mento para o lado normal. Possui como etiologias trauma crânio encefálico, carcinoma parotídeo ou carcinoma de faringe (MAY & SHAMBAUGH JR., 1991). 2.6 - PARES CRANIANOS Os nervos cranianos se originam em pares simétricos, nas faces ântero-inferior e lateral do tronco encefálico, com exceção do nervo olfatório e do nervo óptico, que se ligam, respectivamente, ao telencéfalo e ao diencéfalo. Há doze pares numerados de I a XII de acordo com a seqüência de emergência, de anterior para posterior, no tronco encefálico. I Olfatório Origina-se das células olfatórias da mucosa que recobre uma porção do palato e das paredes medial interna e lateral externa das fossas nasais. Possui um prolongamento periférico que termina na área olfatória e um central que atravessa a lâmina crivosa do osso etmóide, para terminar no bulbo olfatório. É um nervo exclusivamente sensitivo. Função: olfação. II Óptico Origina-se de células ganglionares da retina, estendendo-se desde o quiasma óptico, onde há o cruzamento parcial de suas fibras, até o bulbo ocular. É um nervo exclusivamente sensitivo. Função: visão. III Oculomotor Origina-se de um degrau do aqueduto cerebelar com emergência perto da linha média da parte superior e da ponte. Procede lateralmente para o clinóide posterior na parede lateral do seio cavernoso, passa através da fissura orbital superior chegando na órbita. Inerva o esfíncter da pupila e músculo ciliar. IV Troclear Origina-se na face dorsal do mesencéfalo e finaliza no músculo oblíquo maior. Função: rodar o globo ocular para dentro e para baixo. V Trigêmeo Este nervo é assim denominado devido a seus três ramos: nervo oftálmico, nervo maxilar e nervo mandibular. Possui duas raízes, uma motora e uma sensitiva, que originam-se na face anterior da ponte e no limite com os pedúnculos cerebelares médios. A raiz sensitiva termina no gânglio trigeminal e a motora fusiona-se ao nervo mandibular. Função: sensitiva (temperatura, dor, pressão e tato), vasomotora, secretora, sobre a pupila e o tônus muscular. VI Abducente Origina-se no sulco bulbo-pontino, por cima da pirâmide da medula oblonga, caminha para frente, para cima e para fora, atravessando sucessivamente as fossas craniais posterior e média, a fissura orbital superior e a órbita onde termina o seu trajeto. Função: rotação do globo ocular. VII Facial Nervo facial propriamente dito e o nervo intermédio (considerado por alguns como a raiz sensitiva e visceral do nervo facial). VIII Vestíbulo coclear Possui duas raízes: a coclear, cujas fibras procedem da cóclia originadas no gânglio espiral ou de Corti, e a vestibular, que tem origem nos canais semicirculares e no gânglio vestibular situado no vestíbulo da orelha interna. É um nervo exclusivamente sensitivo. Função: audição e equilíbrio. IX Glossofaríngeo Origina-se superiormente no sulco dorso lateral do bulbo, entre a raiz troclear do VIII par, e inferiormente, junto ao nervo vago. Função: sensibilidade do terço posterior da língua, nas fauces e tonsilas, faringe e palato mole; estímulos motores para a faringe e para o músculo estilo faríngeo e impulsos para a glândula parótida. X Vago Nervo misto e essencialmente visceral. Origina-se no sulco lateral posterior do bulbo sob forma de filamentos radiculares que se reúnem para formar o nervo vago. Este emerge do crânio pelo forame jugular, percorre o pescoço e o tórax, terminando no abdômen. Função das fibras sensitivas: sensibilidade à porção posterior do meato acústico externo, faringe, laringe, tórax e vísceras abdominais; inervação das fibras motoras: fibras para a faringe, base da língua, laringe, inervação gangliar autônoma do tórax e vísceras abdominais. XI Acessório Possui duas raízes, a bulbar e a medular. A raiz bulbar origina-se por quatro ou cinco filetes muito finos da porção inferior do sulco dorso-lateral do bulbo, inferiormente à origem do X par craniano. A raiz medular destaca-se por quatro ou cinco filetes delgados e superpostos, na parte mais elevada da face lateral dos cinco ou seis primeiros segmentos cervicais da medula óssea, localizados à frente da emergência das raízes dorsais dos nervos espinhais. Inerva: a faringe, porção superior da laringe, úvula e palato, fibras recorrentes da laringe, nervo cardíaco, músculo esternocleidomastoídeo e músculo trapézio, C2, C3 e C4. XII Hipoglosso Nervo essencialmente motor. Emerge do sulco lateral anterior do bulbo sob a forma de filamentos radiculares que se unem para formar o tronco nervoso. Inerva: músculos do pescoço e da língua - estilo-hioideo, milo-hioideo, esterno-tiroídeo, estiloglosso, hioglosso, genioglosso, genio-hioideo e músculos intrínsecos da língua (NETTER, 1957; MACHADO, 1986). 2.7 – PARALISIA FACIAL BILATERAL Pouco se sabe sobre as patologias que causam paralisia facial bilateral. Durante nossos levantamentos bibliográficos, pudemos notar que existem certas etiologias que causam paralisia facial bilateral. No entanto, o quadro geral da doença é tão sério que a paralisia facial acaba sendo apenas comentada superficialmente. Em outras, o sintoma é passageiro. Segundo May & Shambaugh Jr. (1991), as etiologias que causam paralisias faciais bilaterais são: Síndrome de Guillain-Barré Sarcondosis Distrofia Miôtonica Trauma de Tronco Mononucleose Citomegalovírus Botulismo Paralisia de Bell – Herpes Simples Segundo Gomez (2000), a paralisia de Bell nunca é bilateral. Se for bilateral, não é Bell. A seguir descreveremos alguns casos de paralisia facial bilateral. Nossa dificuldade foi muito grande em encontrar textos sobre o assunto, pois a bibliografia possui um maior número de referências à Seqüência de Möebius. Além desta, descreveremos a Doença de Lyme, e a Síndrome de MelkersonRosenthal, que, apesar de não possuírem grande incidência, devem ser descritas para nosso conhecimento. Doença de Lyme É uma doença transmitida através da picada do carrapato. Ocorre com maior freqüência no verão, porque nessa época as pessoas permanecem fora de casa por maior tempo. É caracterizada por eritema crônico migratório de cinco a doze centímetros. As lesões somem após três semanas. Há a paralisia facial de aparecimento súbito, semelhante à paralisia de Bell. Os sintomas associados são: mal-estar, fadiga, calafrios e febre, dor de cabeça, rigidez de nuca, dor nas costas, dores musculares, náusea e vômito e sensibilidade oral. Há envolvimento cardiológico, reumatológico (artrite) e auditivo (perda sensório neural irreversível), sendo que raros casos podem apresentar sintomas neurológicos (polineurite). Através de estudos, alguns autores concluíram que a incidência de paralisia facial era de dez por cento em todos os pacientes com doença de Lyme, e vinte e cinco por cento destes pacientes apresentavam paralisia facial bilateral. A paralisia se resolve de forma espontânea. A suspeita inicia-se a partir dos dados da história e quadro clínico, sendo confirmada através de exames de sangue, cultura e sorológico. O prognóstico é ótimo e o tratamento é medicamentoso (MAY & SHAMBAUGH JR., 1991; GOMEZ, 2000; CRUZ & ALVARENGA, 1998). Síndrome de Melkerson-Rosenthal Desordem rara caracterizada por paralisias faciais recorrentes. A síndrome caracteriza-se pela presença de edemas de lábios ou face, que podem preceder, acompanhar ou suceder a paralisia em meses ou anos. Apresentam também fissuras de língua, e paralisia facial intermitente, de início súbito e etiologia desconhecida. A paralisia pode ser parcial ou completa e, ocasionalmente, é bilateral. Recidivas são freqüentes, porém há recuperação da maior parte dos pacientes. Um terço dos pacientes estudados apresentavam fissura de língua, meio por cento apresentavam língua plicata, sendo que em uma população normal o índice de língua plicata é de cinco por cento. É uma patologia de origem genética e a maior parte dos casos ocorre em mulheres (oitenta por cento). Outras associações encontradas são: protuberâncias nas mãos, peito e nádegas, enxaqueca, dor de cabeça e anormalidades oftalmológicas (incluindo neurites retrobulares) e anormalidade na retina. É comum encontrar casos onde somente uma ou algumas das características descritas são encontradas. O prognóstico é favorável na maioria dos casos, no entanto, há permanência de seqüelas piores a cada recidiva. O tratamento é semelhante ao da paralisia de Bell. Alguns autores observaram que após cirurgia de descompressão do nervo facial, não houve mais a ocorrência de recidiva (MAY & SHAMBAUGH JR., 1991; BENTO & BARBOSA, 1994). Seqüência de Möebius Recebe o nome de seqüência porque não possui uma sintomatologia fechada. Possui etiologia desconhecida, porém alguns autores acreditam que a causa principal seja a ingestão de medicamentos abortivos pela mulher. Não há comprovação hereditária. Causa paralisia parcial ou completa do VI par e do VII par, resultando em paralisia uni ou bilateral, com ausência de expressão facial (face de máscara) e estrabismo convergente, como se o paciente estivesse olhando para a ponta do nariz durante todo tempo. Muito freqüentemente está associado a comprometimento de outros pares cranianos. O XII par pode estar afetado, causando hipoglossia e micrognatia. O III par e o IV par podem resultar em ptose palpebral e oftalmoplegia completa. O V par altera a sensibilidade da face e os músculos da mastigação e por fim o VIII par que pode ser acometido levando a um quadro de déficit auditivo (FERREIRA, 1998). Há uma série de alterações que são de suma importância e citaremos a seguir: Alterações Orgânicas Pregas epicânticas proeminentes lembrando o mongolismo; Fácie de máscara, inerte tanto no riso como no choro. Impossibilidade de franzir a testa, fraqueza dos músculos zigomáticos e, muitas vezes, movimentação compensatória do músculo platisma; Lábios pequenos permanentemente abertos, com queda das comissuras e filtro longo; Atrofia, assimetria e fasciculação da língua; Hipoplasia dentária, lábio ou linguoversão de dentes e oclusão tipo classe II de Angle; Alteração de palato podendo ocorrer fissura palatina ou úvula bífida; Alteração das extremidades como polidactilia, sindactilia, fusão das falanges, eqüino varo (pés tortos); Hipoplasia dos músculos do pescoço e do tórax; Problemas cardíacos; Possível paralisia de outros pares como o IX e o X. Alterações Funcionais Diminuição do piscar; Inabilidade ou dificuldade para sugar; Dificuldades na deglutição; Restrições ou ausência de movimentos mastigatórios; Incontinência salivar; Diminuição da abertura de boca; Fala disártrica; Na ausência de problemas mentais, geralmente a linguagem encontra-se preservada; Sensibilidade normal para toque, dor e temperatura (ALTMANN e colaboradores, 1999). Alguns autores referem que pouco se pode esperar em termos de um bom prognóstico. Embora este não possa ser estabelecido, a experiência clínica demonstra que há melhoras com fonoterapia em até seis meses. O tratamento deve ser iniciado o mais precocemente possível, realizando massagens e exercícios até a idade adulta. Também devem ser realizadas estimulação das funções de respiração, mastigação, sucção e deglutição. Quanto às alterações de membros e visuais, podem ser feitas cirurgias, inclusive no decorrer da vida adulta (ALTMANN e colaboradores, 1999; FERREIRA, 1999). 2.8 - TERAPIA Há vários métodos terapêuticos que podem ser aplicados com igual eficiência, no entanto, o que se pode notar em todos os trabalhos lidos é que, quanto antes iniciar a terapia, maiores serão as possibilidades de recuperação. O período considerado de melhora espontânea ocorre nos primeiros seis meses, porém, deixando-se sempre claras as limitações do trabalho de acordo com a etiologia determinante do problema. As terapias utilizadas para o tratamento das paralisias faciais bilaterais são semelhantes às utilizadas para o tratamento das unilaterais. A diferença é que ao invés das manobras serem efetuadas apenas em um lado da face, estas são realizadas bilateralmente. As terapias dividem-se em: fisioterapia, massagem e eletroterapia. A fisioterapia é o primeiro estágio da terapia, preparando a face para massagem e a pele para a condução da eletroterapia quando necessário. Podemse usar também compressas úmidas geladas, tapinhas em toda face e luz infravermelha (com proteção nos olhos). Após a face estar preparada, são passadas orientações e exercícios. As orientações são referentes aos cuidados com os olhos e estratégias para facilitar na mastigação. Em relação aos olhos, o próprio médico orienta o paciente, porém, como o fonoaudiólogo mantém contatos semanais com este, deve estar sempre frisando a importância de usar óculos escuros, colírio a cada uma hora e proteger os olhos durante a noite com pomada e micropore. Quanto à mastigação, deve-se estimular o paciente a mastigar bilateralmente, e se necessário ajudar colocando as palmas das mãos sobre cada bochecha, e o dedo mínimo no lábio inferior. Isto ajuda a não sobrarem restos de comida no vestíbulo e permite que os lábios fiquem fechados. No decorrer de todo tratamento terapêutico, o fonoaudiólogo deve observar se as orientações estão sendo seguidas corretamente. Os exercícios devem ser feitos três vezes ao dia em frente a um espelho. Para um melhor aproveitamento do tempo, podem ser realizados durante a escovação. A terapia se divide em exercícios de mastigação, sucção, deglutição, sopro e movimentos faciais, que serão descritos a seguir (GUEDES, 1994). Os ramos a serem trabalhados são: temporal, zigomático, bucal e mandibular. Os exercícios dividem-se em: elevar a testa; fechar os olhos naturalmente; elevar o nariz fazendo cara de assustado ou cara de bravo; fazer cara de cheiro ruim ou de cachorro rosnando; boca de sapo; preensão de lábios isolado ou segurando bexiga; bico de peixe com facilitação; beijo bem estalado; empurrar as bochechas com a língua; rodar a língua no vestíbulo; sugar a seringa com água; alternar ar nas bochechas; estourar ar com resistência das bochechas e lábios (GOMEZ, 2000). Depois de realizados por algum tempo, caso a recuperação do paciente não tenha sido satisfatória, introduzem-se as massagens. Estas são realizadas de forma manual, lenta e simétrica, com pressão superficial ou profunda (GUEDES, 1994). Em casos de Síndromes congênitas, a terapia deve ser realizada logo que a paralisia facial foi detectada. Nos bebês são realizadas massagens intra e extra orais, estimulação das funções de respiração, mastigação, sucção e deglutição. Podem-se usar compressas frias. Em relação à cavidade oral propriamente dita, é necessário fazer um trabalho de sensibilização gustativa. Este poderá ser o ponto básico para o processo terapêutico. Quando a criança está maior, a terapia é voltada para massagens indutoras e exercícios ativos do tipo isométrico, e de simetria do sistema sensório motor oral (ALTMANN e colaboradores, 1999; GEMIGNANI e colaboradores, 1996). Segundo GOMEZ (2000), as massagens sempre devem ser feitas em casos onde há ausência total de movimentos. De acordo com BOARDI e colaboradores (1996), em casos como na Seqüência de Möebius, por suas características específicas de alteração, o trabalho direto mioterápico é de fundamental importância. Assim, a estimulação através de massagens, variação térmica (principalmente fria) e de texturas e manobras facilitadoras para posturas e movimentação devem ser utilizadas. A eletroterapia não é muito recomendada, pois o estímulo pode causar espasmos e contraturas que são muito mais difíceis de serem tratados e, na maioria das vezes, o paciente não obtém melhora significativa. Pode ser utilizada no início do tratamento, quando a musculatura ainda encontra-se muito flácida, e deve ser interrompida com o reaparecimento dos primeiros movimentos voluntários (GUEDES, 1994). Estudos recentes citam a utilização de acupuntura no tratamento das paralisias faciais unilaterais, porém não há estudos que relatem casos de sua utilização em paralisias faciais bilaterais. Sempre devemos lembrar que a terapia é fundamental para qualquer caso de paralisia facial, e mesmo que não haja melhora na estética facial, nós, fonoaudiólogos, podemos melhorar as condições de vida do paciente. 3 – CONSIDERAÇÕES FINAIS A idéia de fazer esta pesquisa teórica surgiu devido ao pequeno número de estudos publicados por fonoaudiólogos sobre o assunto. Há aproximadamente quatro anos, quando trabalhávamos com pacientes portadores de paralisia facial, para nossa surpresa, nos foi encaminhado um caso de paralisia facial bilateral. Procuramos trabalhos que relatassem etiologias e tratamentos mas, apesar de tê-los encontrado, eram tão escassos que muitas dúvidas persistiram. A maior parte encontrada era sobre a Seqüência de Möebius. Sabíamos que haviam outras etiologias, mas pouco era relatado sobre as paralisias faciais bilaterais. O objetivo desta pesquisa é ressaltar as etiologias das paralisias faciais bilaterais, as ocorrências, os seus tratamentos e fornecer mais subsídios ao fonoaudiólogo para trabalhar com este tipo de patologia sem receio. Durante o levantamento bibliográfico, encontramos fatores muito importantes. Um deles foi o trajeto percorrido pelo nervo facial, que, por se tratar de um nervo extenso, quando afetado, provoca um determinado tipo de sintomatologia, e de acordo com a etiologia, pode-se deduzir qual é este tipo de segmento. Foi possível observar que 100% dos casos de paralisia facial devem ser tratados, mesmo nas etiologias com recuperação espontânea, ou quando houver a secção do nervo. Quanto antes se iniciar o tratamento, maiores serão as chances de recuperação. No entanto, se após seis meses não houver melhora, o prognóstico se torna desfavorável e a recuperação limitada. Nos casos onde há paralisia facial decorrente de Síndromes, o cuidado deve ser ainda maior, como no caso da Seqüência de Möebius. As crianças que nascem com esta Síndrome merecem atenção especial. O tratamento deve iniciar logo que a paralisia facial é diagnosticada, e deve-se enfatizar o trabalho de sensibilização oral e das funções neurovegetativas. Conforme a criança vai crescendo o trabalho continua com direcionamento muscular, sempre acompanhado de massagens. Sobre as terapias, não há divergências de idéias, a não ser em relação à estimulação elétrica que, alguns acreditam, deve ser sempre utilizada, enquanto outros acham que só deve ser usada no início do tratamento, sendo interrompida com o reaparecimento dos primeiros movimentos voluntários. Há também quem acredite que, devido a estimulação elétrica ser muito intensa podendo causar espasmos e contraturas, ela não deve ser usada, mesmo porque, os exercícios, e as massagens, são muito eficientes. Em nossa pesquisa notamos que existe um número pequeno de textos sobre as diferentes etiologias que causam paralisia facial bilateral. Alguns casos onde ocorre este tipo de paralisia, a patologia é tão grave que logo o paciente vai a óbito. Conseqüentemente a paralisia facial é apenas citada. Há casos em que a recuperação é rápida e espontânea. Como no Brasil a incidência da Seqüência de Möebius tem aumentado, devido à quantidade de mulheres que tem usado abortivos, há uma grande variedade de textos sobre este assunto, porém, somente alguns relatam o método terapêutico. Observou-se também que muitos fisioterapeutas atuam nesta área, deixando para segundo plano a fonoaudiologia. Será que a pouca atuação do fonoaudiólogo nessa área é devida à pequena quantidade de trabalhos publicados por este profissional sobre o assunto, ou por falta de conhecimento mais abrangente sobre a musculatura e seus tratamentos? Seria interessante a realização de uma pesquisa com crianças possuidoras de paralisia facial, pois é um público fácil de ser encontrado; além do que, há casos onde a probabilidade de uma criança adquirir paralisia facial, é maior do que no adulto. Como desdobramento desta pesquisa, pretendemos elaborar ilustrações como: palhaços, crianças, bonecos, representando passo a passo os respectivos exercícios faciais, com o objetivo de ajudar no trabalho terapêutico com idosos, crianças e analfabetos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALTMANN, E.B.C.; VAZ, A.C.N.; RAMOS, A.L.N.F.; PAULA, M.B.S.F.; KHOURY, R.B.F.; MARQUES, R.M.F. -- Paralisia Facial Congênita: resultados com fonoterapia oromiofuncional - Revista Fono Atual 8(3):14-8 2° trimestre, 1999. AMAYA, L.G.; WALKER, J.; TAYLOR, D. -- Moebius Syndrome: a study and report of 18 cases- from the hospital for sick children. Binocular Vision Quaterly, 3(5): 119-32, London- April, 10, 1990. 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