II SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA. 2013 171 O lúdico e a educação ambiental: teatro de fantoches sobre as relações da comunidade local, do manguezal e a sua preservação Glória Maria Martins Bermudez¹*, Jeane Pignaton Agostini¹ & Valderes Bento Sarnaglia Junior² ¹ Universidade Federal do Espírito Santo, Departamento de Ciências Biológicas, Av. Fernando Ferrari 514, Goiabeiras, 29075-910, Vitória, ES, Brasil 2 Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Rua Pacheco Leão 915, 22460030, Rio de Janeiro, RJ, Brasil *autor para correspondência: [email protected] Introdução O manguezal é um ecossistema associado ao bioma Mata Atlântica. Os manguezais são ecossistemas costeiros que se originaram nas regiões dos oceanos Índico e Pacífico e que distribuíram suas espécies pelo mundo com auxílio das correntes marinhas durante o processo da separação dos continentes (Herz, 1987 apud Alves, 2001). Esse tipo de ecossistema suporta uma complexa rede de alimentação aquática e providencia um habitat único para uma variedade de animais (Spalding et al., 1997). Na região noroeste do município de Vitória, encontra-se o bairro Inhanguetá uma comunidade local que vive ao entorno de áreas de manguezal (Silva et al., 2009). Uma parte desse bairro se desenvolveu devido aos aterros entre a década de 80 e 90 (ISJN, 2011), nessa época não havia preocupação da sociedade e do poder público com a preservação do manguezal e esse ecossistema foi muito destruído. Hoje, os resquícios de manguezal da região continuam sendo destruídos por causa do lixo e esgotos lançados. Diante desse quadro, buscou-se produzir uma atividade lúdica para trabalhar questões de educação ambiental com alunos que vivem e/ou convivem em espaços próximos ao manguezal, conhecendo suas ideias sobre preservação e tentando contribuir para a sensibilização ambiental desses. Material e métodos Os sujeitos da pesquisa são alunos de uma turma da 4ª série do ensino fundamental da EMEF Professora Regina Maria Silva, situada no bairro Inhanguetá em Vitória/ES. Esse trabalho fez parte de uma pesquisa maior onde foi utilizada uma abordagem qualitativa de pesquisa utilizando como metodologia a pesquisa-ação (Barbier, 2002; Franco, 2008). Inicialmente, em atividade anterior a este trabalho, foi realizada a coleta de dados através da observação dos sujeitos durante roda de conversa e nas narrativas produzidas por esses em uma oficina de desenho (Agostini, dados não publicados). Em seguida foi realizada a intervenção, parte essencial da abordagem da pesquisa-ação, a qual corresponde aos dados mostrados neste trabalho, onde de forma participativa foi realizada uma oficina para confecção de fantoches e a dramatização (teatro de fantoches) envolvendo o tema manguezal. Para a realização da oficina os discentes foram divididos em duplas, onde cada dupla ficou responsável pela confecção de um personagem escolhido por eles. Foram confeccionados nessa atividade os seguintes personagens: pescador, meninas, peixes, caranguejos e borboletas. 172 BERMUDEZ ET AL: O LÚDICO E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL Foram selecionados materiais reaproveitados como garrafas pet, caixas de ovos, embalagens de plástico, jornal, etc. para confecção dos fantoches. A escolha do tipo de material foi sugestão da professora de artes da escola, que durante a reunião para apresentação do projeto enxergou nestes materiais uma oportunidade para trabalhar com os alunos a questão do lixo e do reaproveitamento. O roteiro de dramatização foi desenvolvido a partir dos relatos dos alunos durante uma atividade anterior de roda de conversa sobre o manguezal e através das narrativas dos desenhos produzidos pelos mesmos durante esta atividade (Agostini, dados não publicados). O roteiro também incluiu questões de educação ambiental, ressaltando a importância da preservação desse ecossistema, onde foram trabalhados pontos como o período de defeso das espécies estuarinas e a poluição, além, da revisão de alguns conceitos científicos sobre o manguezal. O teatro foi apresentado em sala de aula durante a aula de ciências. Após a apresentação foi realizada uma breve sistematização dos conteúdos, para analisar o entendimento dos alunos permitindo também o aprofundamento de algumas das ideias apresentadas. Resultados e Discussões A oficina de fantoches foi intitulada "Arte com Lixo". Algumas ideias para confecção dos bonecos foram pensadas antes da execução da oficina, sendo acrescidas sugestões da professora de artes e dos alunos. A Educação Ambiental é fundamentalmente uma educação para a resolução de problemas (São Paulo, 1999, p. 17), de modo que essa atividade permitiu chamar atenção dos alunos para a problemática do lixo e seus efeitos sobre o ambiente mostrando alternativas, como reaproveitamento de resíduos sólidos. Trabalhos como Cordula (2010) e Gazineli et al. (2001) também chamam a atenção de como a educação ambiental pode ajudar em temáticas ambientais e representam exemplos de outra situações que se encaixam no mesmo perfil da nossa pesquisa. Utilizando o material produzido pelos alunos na oficina de fantoches (Figura 1), apresentou-se a história intitulada “Aprendendo com o manguezal” (Figura 2). De forma lúdica, objetivou-se criar uma reflexão com os alunos sobre os temas de preservação e importância do ecossistema manguezal para a natureza e comunidade local. O lúdico faz parte do mundo das crianças e possui um papel fundamental no desenvolvimento e aprendizagem das mesmas, pois, através da brincadeira se é capaz de adquirir conhecimentos e desenvolver de habilidades de uma forma natural e agradável. De maneira que em acordo com as ideias de Guerra et al. (2013, p 4.) “a utilização do teatro de fantoches possibilita a criatividade, a sensibilização e a mudança de atitude em relação ao ambiente”. Durante o decorrer da apresentação os alunos mostraram-se atentos e envolvidos com a história. O envolvimento dos alunos também reflete em sua aprendizagem sobre o tema, uma vez que aquilo que dá mais prazer tende-se a aprender mais naturalmente. De acordo com Galvão (1996), “As crianças parecem receber bem melhor e armazenar com mais facilidade as imagens, quando são apresentadas através de algo que as encante emocionalmente como é o caso do Teatro de Bonecos”. Após a apresentação houve uma breve sistematização dos conteúdos expostos com perguntas do tipo “O quê vocês aprenderam com a história?” e “Pode catar caranguejo o ano todo?”. Percebeu-se que os alunos compreenderam bem a história e destacaram em suas falas a necessidade de “deixar os filhotinhos nascerem”, “para não acabar com todos os caranguejos” concluindo que “não pode jogar lixo no mangue”. De forma que II SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA. 2013 173 acreditamos que essa atividade contribuiu para a sensibilização dos alunos em relação ao ambiente, não desconsiderando a totalidade das questões que envolvem a formação da consciência ambiental, um processo contínuo e pessoal, sobre o qual o ambiente escolar tem importante papel. Surgiram ainda novos questionamentos por parte dos alunos sobre a biologia das espécies do manguezal, sobretudo sobre o caranguejo, com perguntas do tipo “por que eles põem muitos ovinhos?”. As dúvidas foram solucionadas e aproveitou-se esse tempo para explicar um pouco melhor sobre o período de defeso e a importância da preservação das espécies estuarinas. Conclusão Conclui-se que através de atividades simples que envolvam a realidade dos alunos, pode-se trabalhar de forma efetiva questões de educação ambiental. Destaca-se ainda a importância do uso de atividades lúdicas, como o teatro de fantoches, no ensino, sobretudo nessa faixa etária. Agradecimentos Agradecemos a todo corpo pedagógico da EMEF Professora Regina Maria Silva por nos receber para a realização deste trabalho. Referências bibliográficas Alves, J. R. P. 2001. Manguezais: educar para proteger. FEMAR, Rio de Janeiro, 91 p. Barbier, R. 2002. A pesquisa-ação. Plano editora, Brasília, 159 p. Córdula, E. B. L. 2010. Educação Ambiental Integradora (EAI): Unindo saberes em prol da consciência ambiental sobre a problemática do lixo. Revista Brasileira de Educação Ambiental 5(1): 96-103. Franco, M. A. S. 2008. 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