64º Congresso Nacional de Botânica Belo Horizonte, 10-15 de Novembro de 2013 POTENCIAL AUTOTÓXICO DE EXTRATOS AQUOSOS DE FOLHAS E RAMOS DA ESPÉCIE EXÓTICA INVASORA Casuarina equisetifolia (CASUARINACEAE). 1 2 Thalita Gabriella Zimmermann *, Antônio Carlos Silva de Andrade Instituto de Pesquisas Jardim Botânica do Rio de Janeiro (JBRJ). *[email protected] Introdução Casuarina equisetifolia L. é uma das espécies arbóreas com maior potencial invasor do mundo [1]. Entre os mecanismos envolvidos no sucesso da invasão de algumas plantas exóticas está a produção de substâncias químicas que são liberadas no ambiente e que afetam negativamente os membros da comunidade vegetal (alelopatia) [2]. Quando uma planta produz compostos químicos que inibem a germinação e o crescimento das plântulas da sua espécie é chamado de autotoxicidade [3]. Como é baixo o número de plântulas de C. equisetifolia nos locais onde tem a presença da serapilheira dessa espécie, este estudo teve como objetivo verificar se o baixo recrutamento é causado por inibição química dos extratos aqusoso das suas folhas e ramos (autotoxicidade). Metodologia Folhas e ramos senescentes foram recolhidos de coletores dispostos sob indivíduos adultos de C. equisetifolia. Após a coleta, o material foi seco durante 10 dias (18ºC/18%URar). Os extratos aquosos foram preparados empregando-se o método da maceração estática. A extração foi realizada a quente (80ºC; 10 min e 25ºC; 24h) ou a temperatura ambiente (25ºC; 24h), na concentração de 15% (massa/volume). Após, o material foi filtrado e diluído nas concentrações de 10% e 5%. No tratamento controle foi utilizado água destilada. A germinação foi avaliada em placas de petri, com cinco repetições de 40 sementes por tratamento. A avaliação da germinação foi realizada diariamente, durante 30 dias, sendo trocado o extrato a cada dez dias. Foram determinadas a porcentagem e a velocidade de germinação. O crescimento inicial das plântulas foi determinado quando estas tinham 10 dias. Foi medido o comprimento da parte aérea e da raiz (n=50), a massa seca e a condutividade elétrica (5 x 10 plântulas). Os bioensaios foram realizados em câmara de germinação em 30ºC (temperatura ótima de germinação para a espécie). As médias foram comparadas por ANOVA, seguido do teste de Dunnett (p<0,05). Resultados e Discussão Os extratos aquosos das folhas e ramos de C. equisetifolia não tiveram efeito autotóxico na percentagem de germinação. Considerando a velocidade de germinação, houve redução em todos os extratos aquosos, cujos valores foram significativamente menores que o tratamento controle. Isso indica a presença de compostos alelopáticos que retardam o tempo de germinação, o que pode afetar o recrutamento de novos indivíduos. Nas plântulas os extratos não inibiram o crescimento da parte aérea, mas na raiz causaram diminuição do comprimento, sendo que apenas no extrato a quente, concentração 5% (Q5), o tamanho da raiz não diferiu de forma significativa do controle (Figura 1). Assim, os extratos aquosos das folhas e ramos podem afetar a fixação das plântulas no solo, pois inibem o crescimento da raiz. No comprimento total, as plântulas dos extratos em temperatura ambiente e quente na concentração de 15% tiveram redução significativa em relação ao controle, mas nos demais tratamentos não houve diferença. Em relação a massa seca, as plântulas dos tratamentos com extrato não apresentaram diferença significativa em relação ao tratamento controle. A condutividade elétrica em todos os tratamentos foi maior que o controle, mostrando que os extratos causaram rompimento das membranas celulares e ocorreu vazamento do conteúdo citoplasmático, o que pode prejudicar o crescimento das plântulas. 2.5 ns ns ns ns ns parte aérea raiz ns 2.0 1.5 comprimento (cm) 1,2 1.0 0.5 0.0 -0.5 -1.0 -1.5 - -2.0 Controle A5 A10 A15 ns Q5 Q10 Q15 -- Tratamentos Figura 1: Potencial autotóxico de extratos aquosos de folhas e ramos de Casuarina equisetifolia L. no crescimento das suas plântulas. Legenda: A: extração a tempertura ambiente; Q: extração a quente; 15: concentração de 15%; 10: concentração de 10%; 5: concentração de 5%. Valor inferior (-) ou sem diferença significativa (ns) quando comparados ao controle pelo teste de Dunnett (p < 0,05). Conclusões Os extratos aquosos das folhas e ramos de C. equisetifolia causaram atraso no tempo de germinação, afetaram o crescimento das raízes e romperam a membrana plasmática, o que pode prejudicar no estabelecimento das plântulas. Esse efeito autotóxico pode ser uma das causas do baixo recrutamento nas áreas com a presença da serapilheira dessa espécie. Agradecimentos À CAPES pela bolsa de doutorado. Referências Bibliográficas [1] Richardson, D.M. & Rejmanek, M. 2011. Trees and shrubs as invasive alien species - a global review. Diversity and Distributions 17: 788-809. [2] Hiero, J.L. & Callaway, R.M. 2003. Allelopathy and exotic plant invasion. Plant and Soil 256: 29-39. [3] Miller, D.A. 1996. Allelopathy in forage crop systems. Agronomy Journal 88(6): 854–859.