Painel: A Geolingüística Brasileira - ALFAL 2008 - Programa on-line

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PAINEL OS CAMINHOS DO ALiB
UM PASSEIO HISTÓRICO PELOS CAMINHOS DA GEOLINGÜÍSTICA NO
BRASIL
Maria do Socorro Silva de Aragão
(Universidade Federal da Paraíba, UGC)
INTRODUÇÃO
O Brasil não tinha, a exemplo de países da Europa, grande tradição em
estudos dialetais, de modo geral, e de geografia lingüística, em particular.
Porém, nos últimos vinte anos, a Dialetologia e a Geolingüística no Brasil,
apesar das dificuldades pelas quais têm passado, especialmente com a pouca
quantidade de pessoal qualificado dedicado a estes estudos, da falta de interesse
das instituições e da conseqüente falta de recursos, continua a se expandir, não
só quantitativamente, mas qualitativamente, incluindo em seus estudos, além dos
aspectos diatópicos, os aspectos diastráticos e diafásicos.
Outro fato a ressaltar é o surgimento de grande interesse pelos estudos
dialetais e, como conseqüência, muitos trabalhos, em forma de teses,
dissertações, monografias, conferências e comunicações em seminários e
congressos de lingüística têm sido publicados, numa confirmação desse
interesse.
A situação atual dos estudos de Dialetologia e de Geografia Lingüística em
nosso país, de modo geral, ainda não pode ser considerada ideal, mas já
conseguimos alguns resultados e suas perspectivas futuras podem vir a ser as
melhores possíveis.
Como resultado dessas pesquisas o Brasil já possui, até o momento,
dezenove Atlas Lingüísticos concluídos, dos quais nove publicados. Os Atlas
Lingüísticos estaduais brasileiros publicados são: o Atlas Prévio dos Falares
Baianos (1963), o Esboço de um Atlas Lingüístico de Minas Gerais (1977), o Atlas
Lingüístico da Paraíba (1984), o Atlas Lingüístico de Sergipe (1987), o Atlas
Lingüístico do Paraná (1994), o Atlas Lingüístico de Sergipe II (2002), o Atlas
Lingüístico Sonoro do Estado do Pará (2004) e o Atlas Lingüístico do Mato
Grosso do Sul (2007). O Atlas Lingüístico Etnográfico da Região Sul (2002), é o
único Atlas Regional brasileiro.
Os últimos Atlas elaborados, mas ainda não publicados, são o Atlas
Lingüístico do Ceará, o Atlas Lingüístico do Amazonas, tese defendida na UFRJ
em 2004, o Atlas Fonético do Entorno da Baia da Guanabara, dissertação
defendida na UFRJ em 2006, o Atlas Geolingüístico do Litoral Potiguar, tese
defendida na UFRJ em 2007, o Atlas Lingüístico do Paraná II, tese defendida na
UEL em 2004, o Atlas Lingüístico Rural do Município de Ponta-Porã – Mato
Grosso do Sul, dissertação defendida na UFMS em 2006, o Atlas Lingüístico da
Ilha de São Francisco do Sul – SC, tese defendida na UEL em 2008, o Atlas
Lingüístico da Ilha de Marajó, dissertação defendida na UFPA, [s.d.], Atlas
Lingüístico de Adrianópolis-PR, dissertação defendida na UEL, [s.d.] e o Atlas
Lingüístico de Ortigueira – PR, dissertação defendida na UEL, [s.d.].
Outros tantos Atlas estaduais encontram-se em fase avançada ou inicial de
elaboração, como o Atlas Lingüístico Sonoro do Estado do Rio de Janeiro, O Atlas
Lingüístico de São Paulo, o Atlas Lingüístico do Acre, o Atlas Lingüístico do Mato
Grosso, o Atlas Lingüístico do Espírito Santo, o Atlas Geo-Sociolingüístico do
Pará, o Atlas Lingüístico do Maranhão, o Atlas Lingüístico do Rio Grande do Norte
e o Atlas Lingüístico do Piauí.
Outros Atlas em elaboração como teses ou dissertações são o Micro Atlas
Fonético do Estado do Rio de Janeiro, em preparação como tese, na UFRJ; o
Atlas Lingüístico do Oeste Potiguar, em realização como tese, na UFC; o Atlas
Lingüístico do Iguatu-CE, como dissertação, na UFC, o Atlas Lingüístico da Mata
Sul de Pernambuco como dissertação, na UFPB, o Atlas Lingüístico do Oeste
Paulista como dissertação na UEL, e o Esboço de um Atlas Lingüístico de Mato
Grosso: um registro da língua falada na mesorregião Sudeste, como dissertação,
na UFMS.
Assim, apesar dos pesares, o sonho de Antenor Nascente e Serafim da
Silva Neto vai aos poucos sendo realizado, prevendo-se sua completa realização
com o Atlas Lingüístico do Brasil, em fase inicial de elaboração.
1. RETROSPECTIVA
Os estudos dialetológicos, em sentido amplo, e a Geografia Lingüística, em
particular, não têm ainda tradição muito firmada no Brasil.
Apesar do esforço de um grupo de pioneiros, como os professores Serafim
da Silva Neto, Antenor Nascentes e Cândido Jucá Filho inicialmente e,
posteriormente, dos professores Sílvio Elia, Celso Ferreira da Cunha, Nelson
Rossi e Heinrich Bunse, poucos são os cursos de Dialetologia e Geografia
Lingüística em nossas universidades.
Como resultado dos cursos ministrados e da pregação do prof. Silva Neto,
o Centro de Pesquisas da Casa de Rui Barbosa, através de sua Comissão de
Filologia, propôs como um de seus objetivos a elaboração do Atlas Lingüístico do
Brasil. Para a consecução desse objetivo, e a convite da Casa de Rui Barbosa,
esteve no Rio, em 1954, o Professor Sever Pop, que ministrou um curso, a partir
do qual se esperava que surgissem pessoas interessadas em desenvolver
pesquisas dialetológicas, o que não ocorreu.
O professor Antenor Nascentes, outro dos precursores da Geografia
Lingüística no Brasil, publicou as “Bases para Elaboração do Atlas Lingüístico do
Brasil”, em duas partes. A primeira, em 1958 e a segunda, em 1961. Nesses
trabalhos, o autor apresenta diretrizes gerais para a escolha de localidades, de
informantes e para a elaboração do questionário lingüístico, e propõe, muito
claramente, a elaboração de atlas regionais.
Em 1957, os professores Serafim da Silva Neto e Celso Ferreira da Cunha,
no III Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros, em Lisboa,
apresentaram a idéia de um Atlas Lingüístico-Etnográfico do Brasil, por regiões,
tarefa que agora começa a ser cumprida, com a pesquisa do Atlas Lingüístico do
Brasil - AliB.
Por não termos, em nosso país, dados técnicos confiáveis definindo as
características da língua portuguesa falada em todo o território nacional, a
realização do Atlas Lingüístico do Brasil é tarefa importante e urgente.
Os estudos dialetais realizados no passado, analisando, principalmente, as
diferenças lexicais, e os estudos de natureza monográfica, abrangendo uma
determinada área, a exemplo dos trabalhos de Amadeu Amaral, Antenor
Nascentes e Mário Marroquim, entre outros, têm o caráter introdutório ou
exploratório das características específicas dessas áreas e regiões estudadas.
Apesar da importância desses trabalhos, eles não abrangem todas as áreas
dialetais do país sendo necessária, assim, uma descrição mais ampla e
sistemática, cobrindo todo o território nacional, a fim de que se tenha uma visão
de conjunto da realidade lingüística do País.
Mário Marroquim, em seu trabalho, já dizia que o estudo do dialeto
brasileiro ainda não tinha sido feito, afirmação que nos parece, em pleno século
vinte e um, estar perfeitamente atualizada. Diz ele:
Não está ainda feito o estudo do dialeto brasileiro. A enorme
extensão geográfica em que o português é falado no Brasil dá a
cada região peculiaridade e modismos desconhecidos nas outras,
e exige, antes da obra integral que fixe e defina nossa
diferenciação dialetal, trabalhos parcelados, feitos com critério e
honestidade, sobre cada zona do país.1
Portanto, o primeiro movimento para a elaboração de um atlas lingüístico
do Brasil começou com trabalhos monográficos isolados tendo se iniciado
oficialmente em 1952, quando, através do Decreto n o. 30.643, Art. 3o. de 20 de
março, determina-se como principal finalidade da Comissão de Filologia da Casa
de Rui Barbosa a elaboração do atlas lingüístico do Brasil. O Decreto foi
regulamentado pela Portaria nº. 536, de 26 de maio do mesmo ano, a qual dá
instruções quanto à execução do decreto de criação do Centro de Pesquisas
Casa de Rui Barbosa e estabelece como finalidade principal, entre as pesquisas a
serem planejadas, a própria elaboração do atlas lingüístico do Brasil.2
1
MARROQUIM, M. A língua do Nordeste. Curitiba: HD Livros, 1996, p. 9.
Os dados aqui contidos foram retirados de CARDOSO, S.A.M. et al. Projeto Atlas Lingüístico do Brasil AliB. Salvador: UFBA, 2000.
2
A esse respeito diz Cardoso, em sua justificativa ao Projeto Atlas
Lingüístico do Brasil, que, a partir dessas dificuldades é possível, tendo-se
conhecimento delas, partirmos para a elaboração do Atlas Lingüístico do Brasil na
atualidade, seguindo as prioridades das tarefas urgentes já apontadas por
Serafim da Silva Neto.
Silva Neto diz ainda que o atlas nacional deve ser precedido de atlas
regionais e de estudos monográficos, além das sondagens preliminares,
comentando logo a seguir (1957: 11- 12) que “A ele [isto é, ao atlas nacional]
havemos de chegar, mas temos de partir do começo, se o quisermos realizar com
segurança”. O autor define como passos iniciais e fundamentais para a realização
do Atlas Nacional: estudos preliminares que devem envolver não só sondagens
experimentais, com a aplicação de questionários, como também estudos de
natureza sócio-econômico-histórica sobre a região a ser abordada; a elaboração
de trabalhos de cunho monográfico, explorando, assim, aspectos da realidade
que será amplamente investigada; e finalmente os atlas regionais que deverão
conduzir ao atlas nacional.
2. OS ATLAS LINGÜÍSTICOS REGIONAIS BRASILEIROS
2.1. ATLAS PUBLICADOS
2.1.1. Atlas Prévio dos Falares Baianos
O Atlas Prévio dos Falares Baianos se constitui em um marco nos estudos
da Geografia Lingüística no Brasil não só por ter sido o primeiro trabalho a ser
publicado, mas por sua fundamental importância para o conhecimento do falar
regional da Bahia e, por extensão, de grande parte do falar nordestino.
Publicado em 1963, constitui-se de dois volumes: o primeiro,
compreendendo as cartas, em folhas soltas, e o segundo, encadernado, com a
introdução, questionário comentado e elenco das respostas transcritas.
A metodologia está assim organizada: 50 localidades, cobrindo todo o
estado da Bahia; 99 informantes de faixa etária entre 25 a 84 anos; nível de
instrução de analfabeto a semi-alfabetizados; sexo masculino e feminino. O
Questionário contém
164 questões nos Campos Semânticos: agricultura,
pecuária, anatomia e fisiologia humana, culinária e alimentação, geografia e
astronomia. As cartas são em número de 209, compreendendo 11 de
identificação, 154 fonéticas e léxicas e 44 cartas resumo. Os termos vêm
transcritos no interior da própria carta ou com legendas e símbolos, em preto e
branco e coloridos. Algumas cartas apresentam dados etnográficos, inclusive com
ilustrações. Na parte inferior esquerda das cartas há comentários informativos
sobre a aplicação do questionário.
2.1.2. Esboço de um Atlas Lingüístico de Minas Gerais
O segundo Atlas Lingüístico publicado no Brasil é o de Minas Gerais,
resultado do trabalho de um grupo de professores do Departamento de Letras da
Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais: José Ribeiro, Mário Roberto
Lobuglio Zágari, José Passini e Antonio Pereira Gaio.
A metodologia para a realização do ALMG foi a seguinte: 116 localidades,
cobrindo todo o estado de Minas Gerais; 83 informantes de faixa etária entre 30 e
50 anos; de nível de instrução entre analfabeto a primário completo; sexo:
masculino e feminino. O questionário constou de 415 questões, abrangendo os
campos semânticos a terra e folguedos infantis. As cartas, em número de 78, são
05 de identificação, 21 léxicas, 24 fonéticas, 03 isófonas e 25 cartas isoléxicas.
Os termos vêm com símbolos e legendas. Na parte extrema esquerda das cartas
constam os vocábulos de freqüência mínima e na direita, os vocábulos de alta
freqüência, ficando no interior do mapa apenas os símbolos, círculos e triângulos
cheios e vazios.
2.1.3. Atlas Lingüístico da Paraíba
O terceiro Atlas Lingüístico publicado no Brasil é o da Paraíba, resultado do
trabalho de uma equipe de professores do Departamento de Letras Clássicas e
Vernáculas da Universidade Federal da Paraíba, sob a coordenação das Profas.
Maria do Socorro Silva de Aragão e Cleusa Palmeira Bezerra de Menezes. O
Atlas compreende três volumes, dos quais dois já publicados.
A pesquisa se estruturou do seguinte modo: 25 municípios base e 75
municípios satélite, cobrindo todo o Estado; 107 informantes da faixa etária entre
30 a 75 anos; com nível de instrução entre analfabeto a primário completo; sexo:
masculino e feminino. O Questionário, com 877 questões, dividido em geral e
específico. O questionário geral tem os campos semânticos: a terra, o homem, a
família, habitação e utensílios domésticos, aves e animais, plantação e atividades
sociais; o questionário específico: mandioca, cana-de-açúcar, agave, algodão e
abacaxi.
O primeiro volume do Atlas é composto de cartas léxicas e cartas fonéticas,
intercaladas. Assim, por exemplo, a carta léxica nº. 030 da pergunta 29, arco-íris,
é seguida pelas cartas fonéticas nºs. 031, 032 e 033, correspondentes às
variantes fonéticas de arco-íris, arco-celeste e olho-de-boi.
O segundo volume traz uma descrição detalhada da metodologia utilizada,
os dados histórico-geográficos, geo-econômicos e sócio-culturais das localidades,
a ficha dos informantes, os informantes por localidade, e a análise das formas e
estruturas lingüísticas encontradas sob os aspectos fonético-fonológicos e
morfossintáticos.
O Atlas apresenta, ainda, um glossário, com 363 verbetes dicionarizados
em sentido diferente do uso geral ou não dicionarizados.
2.1.4. Atlas Lingüístico de Sergipe
O Atlas Lingüístico de Sergipe foi elaborado pelos pesquisadores Carlota
Ferreira, Jacyra Mota, Judith Freitas, Nadja Andrade, Nelson Rossi, Suzana
Cardoso e Vera Rollemberg, alguns dos quais fizeram parte da equipe
responsável pelo Atlas Prévio dos Falares Baianos. O material, pronto desde
1973, por uma série de problemas, inclusive financeiros, somente foi publicado
em 1987.
A pesquisa foi assim estruturada: 15 localidades, cobrindo todo o Estado;
30 informantes; faixa etária: 25 a 65 anos; nível de instrução: analfabetos e semianalfabetos; sexo: masculino e feminino. O questionário contém 700 questões;
campos semânticos: terra, homem, animais, vegetais.
Foram elaboradas 180 cartas, sendo 11 introdutórias e 169 cartas léxicas
com transcrição pormenorizada e numerosos dados etnográficos, tendo em vista
a quantidade de notas que acompanham as cartas. Em cada carta há a remissão
à carta correspondente no Atlas Prévio dos Falares Baianos. Há no ALS, ainda,
uma série de cartas conjuntas Bahia-Sergipe, com dados da Bahia, não
apresentados no APFB.
2.1.5. Atlas Lingüístico do Paraná
O Atlas Lingüístico do Paraná é um trabalho da Professora Vanderci de
Andrade Aguilera, da Universidade Estadual de Londrina, Paraná, apresentado
inicialmente como Tese de Doutorado e posteriormente publicado pelo Governo
do Paraná e Universidade Estadual de Londrina. Compreende dois volumes: um
com a Apresentação e o outro com as Cartas.
A pesquisa foi estruturada do seguinte modo: 65 localidades, cobrindo todo
o Estado; 130 informantes; faixa etária: 25 a 65 anos; nível de instrução:
analfabeto e primário completo; sexo: masculino e feminino. O questionário com
325 questões nos Campos semânticos: I - Terra - a) natureza, fenômenos
atmosféricos, astros, tempo; b) flora: árvores, frutos; c) plantas medicinais; d)
fauna. II - Homem - a) partes do corpo, funções, doenças; b) vestuário e calçados;
c) agricultura, instrumentos agrícolas; d) brinquedos e jogos infantis; e) lendas e
superstições.
O Atlas contém os seguintes tipos de cartas: cartas de identificação - 06;
cartas léxicas - 92; cartas fonéticas - 70; cartas isoléxicas - 19; cartas isófonas 10; cartas anexas com a distribuição geográfica do povoamento do Paraná, do
século XVII a XX - 06. No verso de cada carta há notas explicativas e de análise
do material coletado.
2.1.6. Atlas Lingüístico-Etnográfico da Região Sul do Brasil - ALERS
O Atlas Lingüístico-Etnográfico da Região Sul, resultado de um projeto
coordenado pelo Professor Walter Koch, envolve os três Estados do Sul do país:
Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná e foi realizado com equipes locais
em cada Estado. Foi iniciado em 1980 e teve seus dois primeiros volumes
publicados em 2002. O volume 1 compreende a Introdução e o volume 2 contém
as Cartas Fonéticas e Morfossintáticas.
A pesquisa foi assim estruturada: Localidades: área rural - 275 pontos: 100
no Paraná, 80 em Santa Catarina e 95 no Rio Grande do Sul; área urbana - 19
pontos: 6 no Paraná, 6 em Santa Catarina e 7 no Rio Grande do Sul. Informantes:
dois por cada ponto das zonas rurais e seis por cada ponto das zonas urbanas;
sexo: masculino e feminino; faixa etária: 28 a 58 anos; graus de escolaridade:
analfabetos ou com até a 4ª série do Fundamental.
O Questionário: 735 questões de caráter geral, subdivididas em mil itens,
das quais algumas coincidem com os outros atlas já publicados, complementadas
por questionário específico em cada estado; O questionário Semântico Lexical
contém oitocentas questões, cobrindo os campos semânticos: acidentes
geográficos, fenômenos atmosféricos, astros e tempo, sistema de pesos e
medidas, flora, atividades agro-pastoris, fauna, corpo humano, cultura e convívio,
ciclos da vida, religião e crenças, festas e divertimentos, habitação, alimentação e
cozinha, vestuário; O questionário Morfossintático, com 75 perguntas, inclui
gênero, pluralização, flexão verbal, concordância nominal e verbal, grau de
adjetivo e formas de tratamento; O Fonético - Fonológico conta com 26 questões
de caráter geral e 24 específicas para as regiões de colonização não portuguesa.
O Atlas contém um total de 176 cartas, sendo 70 de fonética e fonologia,
104 de morfossintaxe e duas cartas auxiliares (microrregiões homogêneas e rede
de pontos). Após cada conjunto de cartas vêm apêndices de itens sem carta, com
o item, o número de ordem, o símbolo, a variante, a freqüência e o ponto onde
ocorreu.
2.1.7. Atlas Lingüístico de Sergipe II
O Atlas Lingüístico de Sergipe II foi elaborado, inicialmente, como tese da
Professora Suzana Alice Cardoso, defendida no final de 2002, na Universidade
Federal do Rio de Janeiro, e publicado pela UFBA.
A pesquisa foi assim estruturada: 15 localidades, cobrindo todo o Estado
de Sergipe. As localidades são as mesmas do Atlas Lingüístico de Sergipe I com
um recorte para o campo semântico homem. 30 informantes; faixa etária: 25 a 65
anos; nível de instrução: analfabetos e semi-analfabetos; sexo: masculino e
feminino. O Questionário Semântico-Lexical contém 700 questões. Campos
semânticos: terra, homem, animais, vegetais.
O Atlas compõe-se de dois volumes, com três tomos e um CD, com
amostras dos questionários aplicados a 15 informantes. O Volume I contém uma
introdução, o tema numa perspectiva histórica, uma fundamentação teórica, a
metodologia e uma bibliografia. O Volume II contém dois tomos, sendo o primeiro
dedicado à introdução das cartas, com os inquéritos, o questionário da área
semântica homem, os critérios de apresentação das cartas, referências
bibliográficas, índice de formas transcritas e índice onomasiológico. O segundo
tomo do Volume II é dedicado às cartas, em número de 108, das quais, três são
de identificação. As cartas semântico-lexicais são compostas com legendas
coloridas e marcas diferenciadoras da realização masculina e feminina. Na parte
inferior direita há histogramas com percentuais de ocorrência masculina e
feminina. No verso estão as variantes fonéticas dos itens lexicais, seguidas de
notas e comentários.
2.1.8. Atlas Geo-Sociolingüístico do Pará - ALISPA
Este Atlas é o resultado de um projeto do Professor Abdelhak Razky, da
Universidade Federal do Pará, e parte do Atlas Geo-Sociolingüístico do Pará, que
se encontra em fase avançada de realização.
A pesquisa foi assim estruturada: 10 localidades pertencentes às seis
Mesorregiões do Estado do Pará; 40 informantes; faixas etárias: 18 a 30 e 40 a 70
anos; nível de instrução: até a 4ª série do primeiro grau; sexo: masculino e
feminino. O Questionário Fonético- Fonológico contém 157 questões. O mesmo
questionário do Projeto ALiB, com adaptações.
O Atlas é o primeiro Atlas sonoro do Brasil e utiliza o software PRAAT 4.0,
de Paul Boresma e Paul Wenink.
Contém 600 cartas lingüísticas e o Menu apresenta os seguintes itens: a)
Entrevistas; b) Informantes; c) Realização; d) Análise Acústica; e) Palavras.
Através desses itens pode-se buscar as cartas por localidades, por informantes,
por faixas etárias, por sexo, podendo-se ouvir as realizações fonéticas produzidas
pelos informantes, para cada item do questionário, além da possibilidade de uma
busca automática da variação fonética, em certos contextos, e sua relação com
os fatores sociolingüísticos. Pode-se, também, ouvir as entrevistas integrais dos
40 informantes.
2.1.9. Atlas Lingüístico do Mato Grosso do Sul
Este Atlas foi elaborado sob a organização do Prof. Dr. Derci Pedro
Oliveira, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. Está assim organizado:
A Rede de Pontos é constituída por 32 localidades, distribuídas por cinco
setores, cujos municípios principais são Três Lagoas, Corumbá, Aquidauana,
Campo Grande e Dourados. A escolha das localidades teve por base aspectos
demográficos, históricos e sociais do Estado.
Os informantes são em número de 128, sendo sessenta e quatro homens e
sessenta e quatro mulheres, nas faixas etárias de 18 a 30 e 45 a 70 anos,
homens e mulheres, com grau de instrução analfabetos ou até a 4ª série do
Fundamental
O questionário contém 557 perguntas, subdivididas entre o questionário
fonético e léxico-semântico. O aspecto morfossintático foi estudado a partir das
narrativas feitas pelos informantes, sobre fatos que tenham marcado suas vidas.
Os campos semânticos das questões são: acidentes geográficos; fenômenos
atmosféricos; tempo; flora; fauna; corpo humano; doenças mais comuns; funções
do corpo humano; características físicas; ciclos da vida; religiões e crenças;
vestuários e objetos de uso pessoal; brinquedos e diversões; sistema de pesos e
medidas superstições, simpatias e lendas.
As cartas lingüísticas foram elaboradas por meio do programa
computacional SPDGL (Sistema de Processamento de Dados Geolingüísticos), e,
posteriormente, editadas em programa de computação gráfica. As cartas são do
tipo: Cartas Fonéticas; Cartas Semântico-lexicais; Cartas Morfossintáticas.
2.2. ATLAS CONCLUÍDOS
2.2.1. Atlas Lingüístico do Amazonas
O Atlas Lingüístico do Amazonas é resultado da tese de Maria Luíza de
Carvalho Cruz, defendida em 2004, na UFRJ, estando ainda inédito.
A pesquisa foi assim estruturada: 09 localidades, cobrindo todo o Estado e
distribuídas pelas diferentes microrregiões do Estado. 54 informantes; faixa etária:
18 a 35; 36 a 55; mais de 56 anos; nível de instrução: alfabetizados, com no
máximo, a 4ª série do Fundamental; sexo: masculino e feminino. O questionário,
com 329 questões. Campos semânticos: A natureza, o Homem.
O Atlas está organizado em dois volumes. No primeiro, estão a
Apresentação, Introdução e Fundamentação teórico-metodológica. O segundo,
contém as cartas, que são do seguinte tipo: 107 cartas fonéticas, com notas e
comentários explicativos, além de gráficos com os percentuais de ocorrência dos
fatos analisados, e 150 cartas semântico-lexicais, também comentadas e algumas
delas com ilustrações. No final do primeiro volume há uma bibliografia.
2.2.2. Atlas Lingüístico do Ceará
O Atlas Lingüístico do Estado do Ceará, em fase de publicação, é o
resultado do trabalho de um grupo de professores do Departamento de Letras
Vernáculas da Universidade Federal do Ceará, coordenados pelo Prof. José
Rogério Fontenele Bessa, assessorado por professores visitantes daquela
instituição.
A pesquisa foi assim estruturada: 69 municípios selecionados dentro das
microrregiões homogêneas, com características físicas, sociais e econômicas
semelhantes; 268 informantes da faixa etária: 30 a 60 anos; nível de instrução:
analfabeto ou até a 4ª série do Fundamental, sexo: masculino e feminino. O
questionário contém 306 questões, compreendendo 583 itens, nos Campos
semânticos: natureza (tempo, o homem, parentesco, partes do corpo, funções do
corpo, doenças); o homem (características físicas, tipos sociais, jogos, objetos de
uso pessoal, atividades e utensílios domésticos, comida, religião, animais, outro).
Foram elaboradas 223 cartas, das quais 75 lexicais e 148 fonéticas,
constando, entre elas, as cartas de ocorrência única e de variação zero. O ALECE
deverá constar de três volumes: no primeiro, haverá uma introdução com os
antecedentes, a orientação teórica, os objetivos, a metodologia do trabalho e uma
bibliografia dialetal cearense. O segundo volume trará as cartas léxicas e
fonéticas e o terceiro, um glossário e um apêndice com o registro das formas ou
expressões encontradas e que não se enquadram em itens lexicais
predeterminados pela pesquisa.
2.2.3. Atlas Geolingüístico do Litoral Potiguar
O Atlas Geolingüístico do Litoral Potiguar é resultado da tese de Maria das
Neves Pereira, defendida em 2007, na UFRJ, estando ainda inédito.
Localidades: 05 localidades, cobrindo todo o litoral riograndense do norte e
distribuídas pela região do litoral do Estado.
Informantes: 24 nas faixas etárias de 18 a 31; 45 a 59 anos. Nível de
instrução: alfabetizados, com no máximo a 7ª série do Fundamental no interior e
com ensino superior, na capital. Sexo: masculino e feminino.
Questionários: foram utilizados os questionários do ALiB: Semântico-lexical;
Fonético-Fonológico; Morfossintático.
O Atlas está organizado em dois volumes. No primeiro está a
Apresentação, Introdução, Fundamentação Teórico-Metodológica e análise dos
dados e uma bibliografia.. O segundo, contém as cartas, que são do seguinte tipo:
08 cartas geográficas, 35 cartas fonéticas, com gráficos de percentuais de
ocorrência dos fatos analisados, 09 cartas morfossintáticas e 35 cartas
semântico-lexicais. No final do segundo volume há anexos com as fichas de
levantamento dos dados.
2.2.4. Atlas Fonético do Entorno da Bahia de Guanabara
O Atlas Fonético do Entorno da Bahia de Guanabara é resultado de uma
Dissertação de Luciana Gomes de Lima, defendida em 2006, na UFRJ, estando
ainda inédito.
Localidades: 04 localidades, cobrindo o entorno da Bahia de Guanabara:
Nova Iguaçu, Duque de Caxias, Magé e Itaboraí.
Informantes: 24 nas faixas etárias de 18 a 35; 36 a 55; 56 anos em diante.
Nível de instrução: analfabetos ou com no máximo a 4ª série do Fundamental;
sexo: masculino e feminino.
Questionários: foram utilizadas 160 questões.
O Atlas está organizado em dois volumes, no primeiro, estão a
Apresentação, Introdução, Fundamentação Teórico-Metodológica e análise dos
dados e, no final há uma bibliografia.. O segundo, contém as cartas fonéticas, em
número de 308.
2.2.5. Atlas lingüístico do município de Ponta-Porã-MS: um registro das
línguas em contato na fronteira do Brasil com o Paraguai.
O Atlas lingüístico do município de Ponta-Porã-MS: um registro das línguas
em contato na fronteira do Brasil com o Paraguai é o resultado da dissertação de
Regiane Coelho Pereira Reis, na UFMS, em 2006.
2.2.6. Atlas Lingüístico do Paraná II
O Atlas Lingüístico do Paraná II é o resultado da tese de Fabiane Cristina
Altino, defendida em 2007 na UEL. A autora estabeleceu o duplo propósito de (i)
mapear os dados relativos às XXX questões não aproveitadas por Aguilera (1994)
e (ii) fazer um estudo dialectométrico das variantes paranaenses, envolvendo
ambos os atlas. O ALPR II conta com cartas de natureza lexical e inova, em
relação ao anterior, na apresentação dos mapas que incluem os acidentes
geográficos (rios e rodovias), gráficos de freqüência e distinção entre a fala
feminina e a masculina.
2.2.7. Atlas Lingüístico da de São Francisco do Sul-SC
O Atlas Lingüístico de São Francisco do Sul – SC é o resultado da tese de
Tânia Maria Braga Guimarães, defendida em 2008, na UEL e teve como
objetivos: (i) elaborar um atlas lingüístico de São Francisco do Sul; (ii) descrever
aspectos fonético-fonológicos e semântico-lexicais caracterizadores do falar
francisquense; (iii) fazer um levantamento das semelhanças e diferenças
lingüísticas com base no fator diatópico, isto é, em relação à rede de pontos
lingüísticos; (iv) verificar em que medida as variáveis sexo e faixa etária podem
justificar a ocorrência de variantes e (v) comparar os dados do ALSFS com os
apresentados em cartas fonéticas do ALERS I. Contém 9 pontos com trinta e seis
informantes, selecionados com base nas variáveis sexo e faixa etária, todos no
nível fundamental de escolaridade. São 53 cartas fonético-fonológicas e 42
semântico-lexicais.
2.3. ATLAS EM REALIZAÇÃO
Alguns dos Projetos de Atlas estaduais já estavam em desenvolvimento
anteriormente ao ALiB, como é o caso do Atlas Lingüístico de São Paulo, do Atlas
Lingüístico do Acre e do Atlas Etnolingüístico dos Pescadores do Estado do Rio
de Janeiro, que não foram concluídos. Outros se iniciaram depois do Projeto AliB,
que, sem dúvida, deu uma nova vida aos estudos dialetais e geolingüísticos em
nosso país.
2.3.1. Atlas Lingüístico do Estado de São Paulo
O projeto de realização do Atlas Lingüístico de São Paulo surgiu em 1980
durante o curso de Introdução à Dialetologia, ministrado pelo Prof. Dr. Pedro
Caruso, no Curso de Pós-Graduação em Letras do Departamento de Lingüística
do Instituto de Letras, História e Psicologia da Universidade Estadual Paulista,
Campus de Assis, São Paulo.
A pesquisa está em desenvolvimento, com um novo grupo de professores,
liderados pela Profa. Dra. Vanderci Santana.
2.3.2. Atlas Lingüístico do Acre
Projeto original de Professores da Universidade Federal do Acre,
coordenado pela Profa. Dra. Luíza Galvão Lessa, desenvolveu uma série de
atividades, tendo publicado muitos estudos, especialmente do léxico daquela
região. A equipe inicial se desfez e agora um novo grupo, liderado pelas
Professoras Dras. Maria do Socorro Silva de Aragão e Lindinalva Messias Chagas
está dando início a um novo projeto, dentro dos métodos e técnicas empregados
pelo projeto AliB.
2.3.3. Atlas Lingüístico do Maranhão
O Atlas Lingüístico do Maranhão - ALIMA, coordenado pela Profa. Dra.
Conceição de Maria de Araújo Ramos, está em sua fase inicial de realização,
seguindo os parâmetros teórico-metodológicos do projeto AliB.
2.3.4. Atlas Lingüístico do Rio Grande do Norte
O Atlas Lingüístico do Rio Grande do Norte - ALIRN, coordenado pela
Profa. Dra. Maria das Neves Pereira, está em sua fase inicial de realização,
seguindo os parâmetros teórico-metodológicos do projeto AliB.
2.3.5. Atlas Lingüístico do Mato Grosso
O Atlas Lingüístico do Estado do Mato Grosso - ALiMAT, coordenado por
uma equipe do Prof. Dr. Derci Oliveira, está em sua fase inicial de realização,
seguindo os parâmetros teórico-metodológicos do Projeto AliB..
2.3.6. Atlas Lingüístico do Espírito Santo
O Atlas Lingüístico do Estado do Espírito Santo - ALES, coordenado pela
Profa. Dra. Catarina Vaz Rodrigues, está em fase adiantada de realização, já
tendo sido feita a pesquisa de campo, estando em inicio a elaboração das cartas.
2.3.7. Atlas Lingüístico do Piauí
O Atlas Lingüístico do Estado do Piauí – AliPI, coordenado pelos
Professores Dra. Maria do Socorro Silva de Aragão e Luiz Egito de Souza, está
em fase inicial de implantação, seguindo os parâmetros teórico-metodológicos do
Projeto AliB.
2.3.8. Atlas Lingüístico do Oeste Potiguar
O Atlas Lingüístico do Oeste Potiguar é o projeto de tese de Moisés Batista
da Silva na Universidade Federal do Ceará, sob a orientação da Profa. Dra. Maria
do Socorro Silva de Aragão, em fase inicial de elaboração.
2.3.9. Atlas Lingüístico do Iguatu
O Atlas Lingüístico do Iguatu é o projeto de dissertação de Fabiana dos
Santos Lima, na Universidade Federal do Ceará, sob a orientação da Profa. Dra.
Maria do Socorro Silva de Aragão, em fase inicial de elaboração.
2.3.10. Atlas Lingüístico da Mata Sul de Pernambuco
O Atlas Lingüístico da Mata Sul de Pernambuco e o projeto de dissertação
de Edilene Almeida na Universidade Federal da Paraíba, sob a orientação da
Profa. Dra. Maria do Socorro Silva de Aragão, em fase inicial de elaboração.
2.3.11. Micro-Atlas Fonético do Estado do Rio de Janeiro
O Micro-Atlas Fonético do Estado do Rio de Janeiro é o projeto de tese de
Fabiana da Silva Campos Almeida na UFRJ, em fase adiantada de elaboração.
2.3.12. Atlas Lingüístico do Oeste de São Paulo
O Atlas Lingüístico do Oeste de São Paulo é o projeto de dissertação de
Ariane Cardoso dos Santos na UEL, em fase de elaboração.
Cada um dos Atlas Lingüísticos Brasileiros, estaduais e o regional, aqui
analisados, a seu modo, utilizou a metodologia que lhe pareceu mais importante e
de acordo com os objetivos a que se propunham seus autores. As metodologias
têm sempre em comum itens como escolha das localidades, cobrindo as áreas e
sub-regiões do estado e que têm marcas lingüísticas específicas do falar do
estado; informantes com características de faixa etária, sexo e escolaridade que,
além das variações lingüísticas, podem mostrar variações sociolingüísticas.
Alguns campos semânticos, também, são comuns, tais como o homem e a terra.
Apesar do número de Atlas publicados, concluídos ou em elaboração,
permanecem bastante atuais as palavras de Mário Marroquim quando, já em
1934 dizia:
Não está ainda feito o estudo do dialeto brasileiro. A enorme
extensão geográfica em que o português é falado no Brasil dá a
cada região peculiaridade e modismos desconhecidos nas outras,
e exige, antes da obra integral que fixe e defina nossa
diferenciação dialetal, trabalhos parcelados, feitos com critério e
honestidade, sobre cada zona do país.3
Tal fato tem se refletido negativamente no ensino da Língua Portuguesa
3
MARROQUIM, M. A língua do nordeste. Curitiba: HD Livros, 198-96, p. 9.
em nosso país, por não haver, em termos das variantes diatópicas e diastráticas,
um maior conhecimento da realidade lingüística regional e nacional, pois
concordamos com Tarallo (1985), quando diz que:
O Atlas lingüístico de uma comunidade pode, por exemplo,
fornecer dados valiosíssimos para o estudo de variação fonológica
ou mesmo lexical.4
3. O ATLAS LINGÜÍSTICO DO BRASIL
A Geolingüística brasileira, após a realização de todos estes atlas, tem
agora as condições técnicas para a realização de sua tarefa mais importante que
é a elaboração do atlas lingüístico do Brasil.
As condições históricas, geográficas, políticas e sócio-econômico-culturais
do país, atualmente, são bastante diferentes daquelas da década de 1950,
quando os pioneiros da Geolingüística pretendiam iniciar a tarefa para a
elaboração do Atlas Lingüístico do Brasil.
Os limites políticos, geográficos, históricos, e sócio-econômico-culturais
desapareceram por conta da ampliação e facilidade de comunicação e a
conseqüente globalização das informações transmitidas pelo rádio, a televisão e
pela internet; as facilidades dos meios de transporte tornaram o universo uma
“aldeia global”, fazendo do cidadão um homem sem fronteiras, pondo em contato
diuturnamente populações, costumes e usos lingüísticos diferenciados.
A situação brasileira, como uma sociedade multilingüística, multissocial e
multicultural exige um maior conhecimento de sua realidade lingüística a fim de
oferecer subsídios para um ensino da língua portuguesa que leve em conta essa
realidade do país. A Dialetologia brasileira, neste início de milênio, tem as
condições técnicas para a realização dessa tarefa, através da realização do atlas
lingüístico do Brasil.
Segundo Suzana Alice Cardoso, Diretora e Presidente do Comitê Nacional
do Projeto AliB, na apresentação do projeto:
O Atlas Lingüístico do Brasil, ao tempo em que prioriza a
identificação espacial dos fenômenos, se propõe não só manter
sob controle certas variáveis sociais dos informantes, como
também fornecer comentários e estudos interpretativos que
acompanharão as cartas e, ainda, tentar estabelecer, via Internet,
um sistema de consulta à distância que faculte ao leitor o
conhecimento de formas ou usos linguageiros e também lhe dê a
possibilidade de ouvir, de viva voz, as realizações daquela área
cartografada e selecionada para audição. Do ponto de vista da
orientação teórica, pretende ser o ALiB um atlas de terceira
4
TARALLO, F. A pesquisa sociolingüística. São Paulo: Ática, 1985, p. 70.
geração, reunindo, assim, às informações lingüísticas
cartografadas, estudos e comentários às cartas e oferecendo as
facilidades de acesso aos dados vivos por meio do que os
franceses identificam como um atlas informatisé et parlant.5
O Comitê Nacional foi criado no final de 1996 com o objetivo de elaborar o
Projeto e conduzir a realização da pesquisa para o Atlas Lingüístico do Brasil.
Esse Comitê é constituído por seis professores e pesquisadores de Universidades
brasileiras, sob a coordenação da professora Suzana Alice Cardoso e Jacyra
Mota, da Universidade Federal da Bahia, Maria do Socorro Silva de Aragão, da
Universidade Federal do Ceará, Vanderci de Andrade Aguilera, da Universidade
Estadual de Londrina, Mário Roberto Zágari, da Universidade Federal de Juiz de
Fora, Cléo Altenhofen, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Abdelhak
Razky da Universidade Federal do Pará e Aparecida Negri Isquerdo da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Cada membro do Comitê é Diretor
Científico e responsável por determinadas áreas, e em cada Estado há uma
coordenação e uma equipe local.
O Comitê vem se reunindo sistematicamente, para traçar as diretrizes,
métodos e técnicas a serem utilizadas, e para o treinamento dos pesquisadores.
Para isso, estão sendo realizados workshops e reuniões de trabalhos do Comitê
Nacional, em diferentes cidades do país.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pelo que se pode observar, a partir da rápida análise acima realizada, num
país como o Brasil, com 26 Estados e o Distrito Federal, é muito pouco o que foi
realizado ou está sendo realizado, no que concerne à Geografia Lingüística.
Contudo, complementando esses atlas, teses, dissertações, trabalhos
monográficos e apresentações em Congressos nacionais e internacionais,
analisando os mais diferentes aspectos da língua portuguesa no Brasil, com
enfoque dialetal e sociolingüísticos, têm surgido com grande freqüência no
momento atual.
Assim, a realização das pesquisas para a elaboração do Atlas Lingüístico
do Brasil, será, sem qualquer dúvida, um marco na história dos estudos dialetais e
geolingüísticos no Brasil. A concretização de tal empreitada pode ser assegurada
por fatores de dois tipos:
 Infra-estrutura e vontade política
5

O país oferece as condições de transporte e infra-estrutura para que se
possa cruzá-lo de norte a sul e de leste a oeste;

Há a vontade política das universidades para apoiar tal tipo de
pesquisa;
CARDOSO, S A. M. et al. Op. cit. p. 13.

Os diversos segmentos das áreas de Letras e Lingüística do país estão
convencidos da importância e da necessidade da realização da
pesquisa.
 Condições técnicas

Há, em diferentes universidades brasileiras, pessoas competentes e
dispostas a realizarem o trabalho para a elaboração do Atlas
Lingüístico;

Há bibliografia com trabalhos teóricos e práticos de Dialetologia e
Geolingüística, não apenas estrangeira, mas, acima de tudo, nacional
que podem fornecer o apoio documental de que se necessita;

O país já conta com um sistema de computação e informação via
internet, que permite a realização de um Atlas de terceira geração,
como pretende ser o AliB.
Apesar de todos os contratempos, carências e problemas até aqui
apontados, cremos que a situação atual é das mais promissoras por termos
atualmente 34 atlas publicados, concluídos e em realização, já contarmos com
modernos métodos de pesquisa, equipamentos e, acima de tudo, com recursos
humanos bem treinados e motivados, levando-nos a esperar que os estudos de
Geografia Lingüística no Brasil venham em futuro próximo a assumir o papel de
relevância que lhes cabe no âmbito dos estudos da Língua Portuguesa.
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