COMUNICAÇÃO SOCIAL: DA LEITURA À LEITURA CRÍTICA (CAPÍTULO 08 – LEITURA: PERSPECTIVAS INTERDISCIPLINARES) José Marques de Melo (USP) A leitura assume, no âmbito da comunicação social, uma dimensão bem mais ampla que a decifração da escrita. A riqueza dos processos de comunicação humana pressupõe o uso de um simbolismo vasto e diferenciado que ultrapassa o universo alfabético do texto escrito. A experiência da comunicação geralmente se baseia na idéia de um emissor e um receptor. Aparentemente, a leitura se localiza no pólo da recepção. Num contexto de decifração, a idéia que se tem é que ler um texto é como traduzir códigos. Entretanto, não é assim que a leitura se dá. Nas basta recorrer a signos possíveis de serem decodificados. É fundamental referenciar esses signos a um universo cultural capaz de atribuir significação. A preocupação com a leitura, principalmente nos processos de comunicação de massa, origina-se na emissão. A composição das mensagens tem que potencializar a leitura. A composição tem que conduzir a leitura. Indústria cultural tem como característica (entre outras) a redundância – a explicitação da própria mensagem. 1 Fogem dessa dependência de um universo “conhecido”, as mensagens produzidas como atos de criação estética e os produtos de investigação científica (autonomia codificadora). Portanto, temos uma leitura autônoma quando estamos falando de mensagens literárias ou acadêmicas não massivas. Temos uma leitura compartida quando se tratam de atos convencionais de comunicação interpessoal e grupal... // A intenção aqui é agilizar a apreensão ou retenção dos significados emitidos. INTERFERÊNCIAS Existem interferências nesse processo de circulação das mensagens. O autor diz que os aparatos que permitem a circulação das mensagens interferem na codificação destas. Temos duas interferências: tecnológicas e mercadológicas. As limitações tecnológicas decorrem da natureza dos canais utilizadas para a emissão-recepção. Por exemplo: Imprensa (jornal, revista, livro, cartaz): a codificação fica restrita ao código lingüístico. Canal visual. 2 Rádio: usa o código lingüístico oral (emprega infinitas possibilidades do código sonora). Para a leitura, faz uso do canal auditivo. Televisão e cinema: podem valer se três códigos disponíveis: icônico, sonoro e lingüístico. Para a leitura de ambos, faz-se uso dos canais visual e auditivo. Há um outro problema a ser considerado no processo de leitura das mensagens difundidas pelos mass media: a velocidade do fluxo emissão-recepção. Veículos eletrônicos (rádio, cinema, televisão) – a leitura é instantânea, determinada pelo ritmo da emissão. // Exige do receptor grande agilidade perceptiva e uma contínua prontidão decodificadora. Veículos impressos – caracteriza-se pela permanência. O leitor tem o arbítrio da decifração sígnica. Quanto às limitações mercadológicas: Estamos falando de um processo industrial (fabricação em série). A fabricação em série acarreta numa imediata submissão do gosto pessoal ao gosto de mercado. Ao transformar o gosto individual no gosto de mercado, criase uma espécie de gosto médio... Isto amplia bastante a faixa de audiência. 3 Toda a produção de informação leva em conta essa tentativa de sintonia com as preferências populares. A leitura das expressões simbólicas emanadas da indústria cultural acha-se em certo sentido predeterminada, pela identificação anterior dos padrões e hábitos dominantes no mercado potencial. Como fica o trabalho intelectual dos produtores? O trabalho deles também fica subordinado aos valores e gostos impostos pelo mercado. Por isso mesmo, temos uma espécie de imobilismo cultural. É preciso reconhecer, entretanto, que essa tendência massificante, moldadora dos hábitos de leitura, não se mostra de todo estável, fixo. Eventualmente, surgem alguns insatisfeitos. Por conta disso, temos algumas iniciativas que visam disseminar a leitura crítica da comunicação. E isso começa na escola. A leitura crítica entre as crianças capacitará esse público a realizar leituras desmistificadas, despindo-se portanto das distorções perceptivas ocasionadas pela ignorância retórica peculiar a cada veículo. Quando o leitor estará liberto? Ao dominar efetivamente a gramática dos mass media, conhecer sua engrenagem produtiva e compreender sua inserção dentro da sociedade. 4