1 RECURSOS HUMANOS EM PEQUENAS EMPRESAS Dra. MIRIAN PALMEIRA CEPPAD/UFPR - Centro de Pesquisa e Pós-graduação em Administração da Universidade Federal do Paraná Resumo As pequenas empresas representam um segmento de 98,3% dos estabelecimentos registrados na economia brasileira. Geram a maior parte dos empregos, e muitas vezes em função da espontaneidade de seu surgimento, carecem de melhor formação organizacional. Muito se tem feito para a área de Recursos Humanos relacionada às empresas de grande porte. Entretanto, pouca é a informação para as pequenas empresas. É possível que, através de uma mudança de abordagem, a ser descoberta com base em pesquisa junto ao segmento de pequenas empresas, dar-lhes instrumentos que as auxiliem no melhor uso de seus Recursos Humanos. O problema de pesquisa está focado em verificar qual é a melhor alternativa para as pequenas empresas, em termos de Administração de Recursos Humanos, a de ter uma estrutura interna própria ou a de utilizar serviços terceirizados para os vários subsistemas de Recursos Humanos 1. Introdução As pequenas empresas representam um segmento de 98,3% dos estabelecimentos registrados na economia brasileira (Censo Econômico, 1985, in SEBRAE, 1994), sem contar aqueles submersos na economia informal. As pequenas empresas, que geram a maior parte dos empregos, muitas vezes em função da espontaneidade de seu surgimento, carecem de melhor formação organizacional. A forma de operar é casuística, levando a um uso ineficiente de recursos escassos, não só financeiros, mas principalmente das pessoas, que representam valores inestimáveis, dentro das pequenas empresas. Este uso inadequado de recursos gera uma elevada mortalidade empresarial. Muito se tem feito para a área de Recursos Humanos relacionada às empresas de grande porte, a tal ponto que a literatura está plena de assuntos a elas relacionados. Entretanto, pouca é a informação para as pequenas empresas. Há, inclusive, estudiosos que acreditam na inviabilidade de implantação dos subsistemas de Recursos Humanos neste segmento, sem se aprofundar em sua realidade. É possível que, através de uma mudança de abordagem, a ser descoberta com base em pesquisa junto ao segmento de pequenas empresas, dar-lhes instrumentos que as auxiliem no melhor uso de seus Recursos Humanos. Uma vez que estão presentes em todos os ramos de atividades, sugere-se a escolha de setores, que estejam ao alcance, para verificar quais as carências das pequenas empresas, quais os trabalhos de sensibilização devem ser feitos junto aos segmentos para a importância do uso correto dos Recursos Humanos, quais os níveis de custo que suportam e se é mais adequada a forma de serviço terceirizado ou se a implantação de um grupo próprio dentro da empresa é o mais adequado. Os setores a serem selecionados devem atender a mercados emergentes, com intensa mutação, exigindo das empresas que 2 deles fazem parte, um nível de flexibilidade e adaptação elevado, além de uma melhor formação de seus gestores e demais participantes. Em função dessa realidade, é proposto um estudo junto às pequenas empresas dos Setores Eletro-Eletrônico e MetalMecânico da Região Metropolitana de Curitiba, para verificar a viabilidade de implantação dos subsistemas de Recursos Humanos. Assim, o trabalho a ser realizado pode ser delineado no problema de pesquisa, a seguir: Qual é a melhor alternativa para as pequenas empresas, em termos de Administração de Recursos Humanos, a de ter uma estrutura interna própria ou a de utilizar serviços terceirizados para os vários subsistemas de RH? 1.1 Pressupostos de Pesquisa ü A implantação dos subsistemas de Recursos Humanos nas pequenas empresas é viável; ü Os subsistemas de Recursos Humanos que estão mais inadequados nas pequenas empresas são os de Suprimentos e Desenvolvimento de RH; ü A forma mais viável de implantação dos subsistemas de RH nas pequenas empresas é através da terceirização. 1.2 Objetivos a) Objetivo Principal - determinar a viabilidade de Implantação dos Subsistemas de Recursos Humanos nas Pequenas Empresas dos Setores Eletro-Eletrônico e MetalMecânico da Região Metropolitana de Curitiba. b) Objetivos Específicos ü Descrever a estrutura das pequenas empresas, de ambos os setores. ü Descrever a realidade atual das pequenas empresas, em termos de Recursos Humanos. ü Detectar áreas de maior carência: suprimentos, aplicação, manutenção, desenvolvimento ou controle de Recursos Humanos. ü Verificar qual a melhor forma de implantação: terceirização ou implantação de um setor dentro da empresa. ü Descrever o perfil dos empresários das pequenas empresas. ü Determinar qual é o nível de custo que os empresários das pequenas empresas estão dispostos a investir nos subsistemas de Recursos Humanos. 1.3 Justificativa As grandes tendências do mercado mundial apontam para a globalização, onde as empresas precisam, cada vez mais, ser extremamente flexíveis para atender aos clientes que fazem parte deste mercado. As organizações de maior porte, em função de sua capacidade em obter informações do mercado e por atenderem geralmente vários segmentos, possuem vantagens diferenciais competitivas, que facilitam esta flexibilização. Porém, o que se pode dizer das pequenas empresas brasileiras, que representam 98,3% dos estabelecimentos registrados (Censo Econômico, 1985, in SEBRAE, 1994)? É importante que tenham capacidade de estar atentas aos traços relevantes do sistema mundial e qual a presença do Brasil neste contexto globalizado. Para que tenham esta visão, enquanto organização, devem ser constituídas por pessoas com formação e perfil adequados para perceber as mudanças internas e externas. É neste ponto que existe um panorama empresarial quase que desconhecido e para o qual poucas soluções vêm sendo apresentadas. Pessoas de visão mercadológica, criam pequenas empresas para atender a uma oportunidade de mercado, porém, à proporção que o empreendimento cresce, estas pessoas têm dificuldade de melhor escolher os integrantes de suas equipes de trabalho, uma vez 3 que têm restrições em relação a tempo e à habilidade para recrutar e selecionar pessoas, definir quais as competências necessárias para participar da empresa, como melhor avaliar o seu desempenho, como remunerá-las e treiná-las, além de ter dificuldades em consolidar todas estas informações da melhor maneira possível, que facilite o seu processo de tomada de decisão em relação à gestão de pessoas dentro de seus empreendimentos. Este estudo pretende, através de análise comparativa, conhecer a realidade das pequenas empresas da Região Metropolitana de Curitiba, verificar a existência, ou inexistência, de gestão de Recursos Humanos e detectar quais possíveis alternativas de melhoria se fazem necessárias para atrair e reter pessoas competentes. 2. Fundamentação Teórico-empírica 2.1 Pequena Empresa Há uma série de conceituações de pequena empresa (Palmeira, 1988, p.15), que são determinadas de acordo com os mais variados critérios, quantitativos e qualitativos. Existem classificações do tamanho de empresa para determinar se é pequena, média ou grande, dependendo do faturamento ou número de funcionários (Palmeira, 1995, p.13-14). Para efeito de tamanho, a classificação do SEBRAE (1994, p. 05) de caráter orientativo, que se visualiza na figura 01, com base no número de empregados, é útil para definir o quadro referencial para análise das pequenas empresas brasileiras. São consideradas microempresas as organizações com menos de 10 funcionários, se comerciais e de serviços, e com até 19, se industriais. As pequenas empresas brasileiras são aquelas que apresentam de 10 a 50 empregados, quando comerciais e de serviços, e de 20 a 100 se forem indústrias. Empresas com mais de 50 empregados nos setores de comércio e serviços, e mais de 100 na indústria, são consideradas médias empresas. A preocupação com o seu tamanho justifica-se, pois este lhe imprime um grau de eficiência ou ineficiência, devido à existência ou falta de escala nas suas operações. Com base nesta classificação orientativa, para efeito desta pesquisa, considera-se pequena empresa aquela que possui de 10 a 100 empregados e que precisa crescer para sobreviver numa sociedade competitiva. Figura 01 - Classificação das Empresas por Número de Empregados Menos que 10 10 Microempresa Comercial e de Serviços Microempresa Industrial 20 Pequena Empresa Comércio e Serviços Pequenas Industriais 50 100 Acima de 100 de Empresas Médias Empresas de Comércio e de Serviços Médias Empresas Industriais Fonte: Balcão SEBRAE, 1996. A seguir são desenvolvidos conceitos sobre empreendedorismo, complementares à pequena empresa, de acordo com a mais atual abordagem estratégica para esses pequenos empreendimentos. 2.2 Empreendedorismo Quando se abordam os aspectos sobre pequena empresa, surge a necessidade de desenvolver um segmento de conhecimento específico sobre empreendedorismo, uma 4 vez que, para surgir o negócio, é necessária a figura daquela pessoa que visualiza uma oportunidade de mercado a ser atendida, congrega junto a si pessoas que compartilham da crença da possibilidade de sucesso do empreendimento, aplicam capital próprio para formar a organização e decidem assumir riscos calculados (Palmeira, 1999). Em função disso, são apresentadas informações sobre empreendedorismo. O século XXI estará repleto de um grande número de pequenas empresas. Pelo globo, pessoas de todos os países estão escolhendo sistemas econômicos ancorados em pequenos negócios altamente produtivos. Esta é a era do empreendedorismo. O ressurgimento do espírito empreendedor é um dos movimentos mais importantes da história recente da administração. Este empreendedor tem introduzido produtos e serviços inovadores, ampliado as fronteiras tecnológicas e criado novos empregos e aberto novos mercados globais (Zimmerer & Scarborough, 1994, p 4). Em função dessa realidade, é extremamente importante conhecer quem é este empreendedor, procurando estabelecer o seu perfil e quais são as suas características básicas. Afinal, é através desta pessoa, que as empresas têm o seu início. 2.2.1 Conceito de Empreendedor Um empreendedor é uma pessoa que cria um novo negócio em face a risco e incerteza, com o propósito de conseguir lucro e crescimento, através da identificação de oportunidades de mercado e do agrupamento dos recursos necessários para capitalizar sobre estas oportunidades. Na literatura americana, existem pesquisas relacionadas ao tema, onde procuram estabelecer qual é o perfil do empreendedor. Uma vez que é possível que o perfil do empreendedor brasileiro tenha alguma semelhança, convém tomar conhecimento de seus aspectos. Gerber (1990, p. 22) afirma que “a personalidade empreendedora transforma a condição mais insignificante numa excepcional oportunidade. O empreendedor é o visionário dentro de nós. O sonhador. A energia por trás de toda atividade humana. A imaginação que acende o fogo de futuro. O catalisador das mudanças”. Trata-se de uma personalidade criativa, “sempre lidando melhor com o desconhecido, perscrutando o futuro, transformando possibilidades em probabilidades, caos em harmonia”. Tem necessidade de exercer controle; quem vive, como ela, no visionário mundo do futuro, precisa ter controle sobre pessoas e eventos atuais, a fim de poder concentrar-se em seus sonhos. 2.2.2 Perfil do Empreendedor O Perfil do Empreendedor envolve alguns pontos críticos, no sentido de viabilizar a continuidade do negócio que, porventura, tenha iniciado. A seguir, resumidamente, é demonstrado o seu perfil típico: (1) tem desejo por responsabilidade - geralmente, alimenta um responsabilidade pessoal pelo resultado do negócio; prefere ter controle sobre os recursos e procura usá-los para alcançar os objetivos por ele determinados; (2) tem preferência por riscos moderados - trabalha com riscos calculados; dificilmente “joga”; (3) possui confiança em sua habilidade para o sucesso - tende a ser otimista em relação a sua possibilidade de sucesso e geralmente seu otimismo é baseado na realidade. (4) sente desejo de contínuo feedback - gosta de saber como está se saindo e constantemente procura por apoio e reforço; (5) apresenta elevado nível de energia tem mais energia que a média das pessoas, que é fator crítico para o início de um novo negócio, pois muitas horas e trabalho árduo são mais a regra do que a exceção, no início de uma empresa; (6) mantém uma orientação futura - tem um senso bem definido para a busca de oportunidades; (7) olha para frente e está menos preocupado com o que aconteceu no dia anterior do que virá acontecer amanhã; (8) tem capacidade de organização no sentido de escolher as pessoas e os recursos certos; e (9) possui visão do dinheiro como símbolo do sucesso e não um fim em si mesmo. 5 2.2.3 Características Básicas do Empreendedor Bem-sucedido As características de um empreendedor bem-sucedido estão ligadas aos aspectos de seu perfil (Zimmerer & Scarborough, 1994, p.5-8), conforme é observado: (1) pró-ativo - tem iniciativa, porque faz as coisas antes que lhe peçam ou que seja forçado pelos eventos. É assertivo, pois é capaz de confrontar problemas e fala para os outros o que devem fazer, de forma direta; (2) voltado para resultados - vê e age em função de oportunidades, orientado para a eficiência, comprometido com a uma alta qualidade do que faz, uso de planejamento sistemático e acompanhamento dos resultados; (3) comprometido com as pessoas - faz esforços para ter o trabalho realizado no tempo certo, reconhece a importância dos relacionamentos dentro do empreendimento; (4) tolerância com ambigüidade e flexibilidade - consegue conviver com situações mutáveis do ambiente em que atua. Esta habilidade é crítica para o sucesso do empreendimento, pois as circunstâncias são geralmente novas e exigem trabalhar com informações muitas vezes contraditórias. Consegue adaptar sua empresa às mudanças de demanda por parte dos clientes. Num mundo em rápida mutação, rigidez geralmente leva ao fracasso. Uma das características que permitem o empreendedor ser bemsucedido em seu negócio é a sua capacidade de atribuir tarefas para as demais pessoas. Ele se torna não efetivo quando tenta fazer tudo sozinho. A capacidade de delegação é muito importante para o sucesso do empreendimento e vai contra a tendência natural do empreendedor em centralizar. (Mancuso, 1985, p.76). Na seqüência, são desenvolvidos os conceitos relacionados ao Modelo Sistêmico de Recursos Humanos, ou como atualmente se denomina a área, de Gestão de Pessoas. 2.3 Modelo Sistêmico de Recursos Humanos A área de Recursos Humanos, ou de Gestão de Pessoas, envolve vários aspectos que existem e se inter influenciam, de forma que, ao atuar em algum aspecto, os demais inevitavelmente sofrem influências. Em função disso, é importante que se tenha uma visão macro de como funciona a área. “Numa visão estratégica, também é papel da Administração de Recursos Humanos zelar pela eficiência da organização no longo prazo ...” (Luna e Lima, 1995, p.138). No modelo sistêmico de Recursos Humanos, as atividades são agrupadas de forma a se perceber a sua interação e a necessidade de vê-las como atividades integradas. Os subsistemas são intimamente inter-relacionados e interdependentes (Palmeira, 1999, p.362). A figura 02 dá uma idéia das alternativas. Cada item dos subsistemas é detalhado, na seqüência, de forma a facilitar o seu uso e aplicação no dia-a-dia do profissional responsável pela Gestão de Pessoas de sua organização. Figura 02 - Modelo Sistêmico de Recursos Humanos ê ê SUPRIMENTO APLICAÇÃO 2.3.1 ê 2.3.2 ê ARH ê MANU-TENÇÃO 2.3.3 ê ê ê DESENVOLVIMENTO 2.3.4 ê CONTROLE 2.3.5 ê • recrutamento • descrição e • salários • T&D • sistemas • seleção análise de • remuneraçã treinamento e de • integração cargos o desenvolvimento informaç • avaliação de estratégica • DO ões desempenho • benefícios desenvolvimento • auditoria • plano de organizacional carreiras 6 Fonte Adaptado de PALMEIRA, Mirian. Gestão de Pessoas. in BULGACOV, : Sergio. Manual de Gestão Empresarial. São Paulo: Atlas, 1999. 2.3.1. Subsistema de Suprimentos - O subsistema de Suprimentos engloba atividades de recrutamento (Lodi, 1992), como recrutar empregados, critérios utilizados, como definir fontes de recrutamento, instrumentos necessários, entre outros; atividades de seleção, como determinar etapas da seleção de pessoal, critérios para selecionar candidatos, elaboração e aplicação de testes de seleção, e entrevista de seleção; e a integração de pessoal, envolvendo um processo de socialização organizacional, que é “uma interação entre um sistema social e os novos membros que nele ingressam, é o conjunto de processos pelos quais um novo membro aprende o sistema de valores, as normas e os padrões de comportamento requeridos pela organização na qual ingressa” (Chiavenato, 1995, p.224). Uma das grandes preocupações do gestor de pessoas é utilizar, da melhor forma possível, os instrumentos que o permitam atrair profissionais do mercado de trabalho, que sejam interessantes para a organização e que desejam nela permanecer atuando. Para atrair e manter pessoas, competentes e automotivadas, é necessário desenvolver as três grandes etapas deste processo recrutamento, seleção e integração - para “suprir” a organização com as “competências” desejadas e importantes 2.3.2. Subsistema de Aplicação - O subsistema de Aplicação engloba a descrição e análise de cargos (Pontes, 1993), onde se estabelece qual é a estrutura e agrupamento das funções dos ocupantes dos vários cargos existentes na organização, além das qualificações e responsabilidades inerentes a cada cargo; procedimentos e elaboração da avaliação de desempenho (Bergamini, 1992) e do potencial humano, englobando critérios de como será feita, quem será avaliado, e a elaboração das fichas de avaliação. Os planos de carreiras (Pontes, 1993 e Dutra, 1996) também são incluídos no subsistema de aplicação, envolvendo as estruturas e os tipos de carreira existentes, que possam se melhor utilizados para o empreendimento de pequeno porte. 2.3.3 Subsistema de Manutenção - O subsistema de Manutenção é constituído por todas as questões relacionadas à remuneração, direta e indireta (Wood Jr., 1997); aos benefícios sociais (planos assistenciais, recreativos, gratificações, vale-refeição, entre outros); à higiene e segurança no trabalho (que engloba normas e procedimentos para proteger a integridade física e mental do trabalhador, como normas sobre a iluminação do local de trabalho, nível de ruído, temperatura e umidade, normas estas com caráter preventivo e corretivo); às relações trabalhistas, que inclui, também o relacionamento com os sindicatos das várias categorias ocupacionais. 2.3.4 Subsistema de Desenvolvimento - O subsistema de Desenvolvimento reúne as atividades que permitam o aperfeiçoamento e crescimento humano, com enfoque de curto e médio prazo (treinamento e desenvolvimento de pessoal) e de longo prazo (desenvolvimento organizacional), gerando profundas modificações na empresa (Boog, 1994, p.11). As pessoas constituem o aspecto dinâmico das organizações, apresentando uma “incrível aptidão para o desenvolvimento, que é a capacidade de aprender novas habilidades, obter novos conhecimentos e modificar atitudes e comportamentos” (Chiavenato, 1995). Existem meios disponíveis de se criar condições para que as pessoas se desenvolvam. O treinamento e desenvolvimento de pessoas (T&D) é um conjunto de técnicas para gerar condições de melhoria e adequação de aptidões, num enfoque de curto e médio prazo. Numa abordagem de longo prazo, o desenvolvimento organizacional (DO) apresenta técnicas de intervenção, no sentido de criar condições futuras de mudança planejada da organização como um todo. 7 2.3.5 Subsistema de Controle - O subsistema de Controle deve conter todas as informações sobre os Recursos Humanos da empresa, em tempo real, que facilitam o processo de tomada de decisão do empreendedor, através de um banco de dados e sistema de informações bem estruturado e de padrões de avaliação para a auditoria da condição existente, em termos de pessoal. O Controle a ser utilizado pela ARH é feito através de uma seqüência de etapas, que formam um processo: estabelecimentos de padrões desejados; observação do desempenho dos empregados; comparação do desempenho com os padrões desejados; e ação corretiva. A Área de Recursos Humanos, ou Gestão de Pessoas, deve ser encarada como uma área dinâmica e devese reconhecer a sua importância como área de apoio ao gestor, que tem responsabilidade hierárquica pelo trabalho de outras pessoas dentro da organização, auxiliando nos processos de tomada de decisões. 2.3 Recursos Humanos e a Pequena Empresa Nas décadas oitenta e noventa, a tendência em relação à pequena empresa e a Recursos Humanos apresenta mudança de foco. Inicialmente, é voltado para a idéia geradora do negócio, adicionada às necessidades financeiras para criar e dar continuidade ao empreendimento, sem haver uma evidente preocupação com as pessoas que viriam a formar a equipe de trabalho. Em termos de Pequena Empresa, Gorb et al. (1981) reflete o espírito do período quando há a ênfase nos aspectos financeiros do empreendimento. A preocupação básica é a montagem de um plano de negócio, que facilite a busca e aquisição de recursos financeiros para o início ou a continuidade da empresa. Hargreaves (1983) apresenta a tendência dos anos 80, quando a maior preocupação é gerar um plano de negócio (Business Plan), com previsão de vendas, necessidades financeiras e aspectos legais. Brown (1985), ainda que através de plano de negócio, enfoca o aspecto mercadológico como o mais importante para a sobrevivência da empresa, envolvendo a definição do segmento de mercado a ser atendido, a estratégia de marketing a ser implantada, a gerência de produtos, a política de preço e lucros, a estratégia de comunicação, as atividades de venda, a administração dos canais de distribuição, entre outros. Ora, como é possível que uma empresa, principalmente de pequeno porte, tenha condições de fazer este aspecto mercadológico brilhantemente, se a equipe de trabalho não tiver as habilidades necessárias e se não for preparada para isso? Ao longo do tempo, começa a se perceber a importância da escolha das pessoas com perfil adequado ao negócio e ao mercado em que se atua. Não se visualiza uma estrutura complexa de gestão de Recursos Humanos para uma pequena empresa, pois o seu tamanho não permite tão elevado custo fixo, que isso acarreta. Entretanto, é importante que empreendedor esteja informado e consciente da importância de saber gerir a sua equipe de trabalho e comece a estabelecer uma estratégia de Recursos Humanos, norteadora das atividades que permitam colocar a pessoa certa no lugar certo. Mancuso (1985, p.132) apresenta um pequeno check list para iniciar e manter uma pequena empresa e começa a esboçar alguma atenção com a gestão de pessoas que venham a fazer parte deste empreendimento, porém ainda envolvida junto a questões administrativas, como por exemplo, a parte de compras de matéria-prima. A preocupação inicial é com a contratação das pessoas, com a criação de uma estrutura salarial e programa de incentivos apropriados e atrativos, e com o ambiente de trabalho. Ao final da década de oitenta, começa a surgir uma preocupação com os participantes de um pequeno negócio. Ainda, parece ser uma vaga menção e não como algo de relevante papel para o sucesso das atividades. “Os empregados de um 8 novo empreendimento são colaboradores importantes para seu sucesso ou fracasso. Um empregado motivado e bem treinado pode atrair clientes, enquanto um empregado desmotivado, sem as habilidades necessárias para um bom atendimento, pode afugentá-los” (Degen, 1989, p.131). Geralmente, numa pequena empresa, a função da administração de pessoal tende a ser uma área órfã (Baty, 1990, p.152). Neste período, apresentam-se sugestões para a função de pessoal, relacionadas à manutenção, envolvendo salários, férias, seguros, plano de benefícios, distribuição de lucros, bônus e comissões. Outro aspecto está ligado ao recrutamento, entrevista de seleção e formas de desligamento. Não se percebe a preocupação com treinamento e desenvolvimento de pessoal, e avaliação de desempenho e do potencial humano. Halloran (1992) inclui no seu trabalho a gestão de pessoas, mas aparentemente, a reduz a um elemento, afirmando somente que a melhor ferramenta para manter as pessoas-chave é a honestidade: Como empreendedor “se você precisa de determinadas pessoas para trabalhar para você, diga-lhes o quanto são necessárias. Não tente demonstrar que elas precisam do emprego para atender às necessidades financeiras, nem glamourize o trabalho que venham a realizar. [...] Explique-lhes as oportunidades e, se possível, as recompensas financeiras, quando o negócio crescer. Descreva a sua filosofia de trabalho e veja se elas concordam. Compartilhe o seu sistema de valores. [...] Você tem uma grande vantagem - a vantagem humana. A organização de pequeno porte pode reagir para preencher as necessidades individuais de seus empregados, de uma maneira mais pessoal” (p.137-138). No início da década de noventa, um maior número de aspectos do modelo sistêmico de Recursos Humanos são abordados. Inicialmente, a importância da pequena empresa em ter uma política de pessoal, que norteia o recrutamento e seleção das pessoas certas, a avaliação de desempenho, o treinamento e desenvolvimento de pessoal, o processo sucessório à proporção que o empreendimento cresce, as técnicas de desenvolvimento gerencial, o relacionamento com sindicatos, e a questão do desligamento de empregados, entre outros. Kuriloff et al. (1993) apresenta um diagrama para pequenos empreendimentos bem-sucedidos, onde se observa a importância que se atribui às pessoas que farão ou venham a fazer parte da empresa. Reforça-se a tendência de centralizar o foco das atenções nas pessoas que fazem parte da equipe de trabalho: Figura 03 - Diagrama do Processo de Formação e Gestão de Uma Pequena Empresa Você + Idéia + Dinheiro e Crédito + Pessoas ⇒ Produto ou Serviço + Marketing ⇒ Dinheiro e Crédito ⇒ Lucro Fonte Adaptado de KURILOFF et al. Starting and Managing the Small : Business. New Jersey - USA: McGraw Hill, 1993, p.588. Zimmerer & Scarborough (1994, p.472), através de um plano de negócio, visualizam o empreendedor como um “planejador de recursos humanos”, uma vez que ao haver a expansão do negócio, o momento adequado para contratar novos funcionários é importante. Se o empresário falhar na contratação de pessoas à proporção que o trabalho aumenta, provavelmente também perde os bons empregados que se sentem excessivamente sobrecarregados. A preocupação do empreendedor não deve se limitar somente a questão da contratação de novos empregados, ou seja, o recrutamento e seleção das pessoas mais qualificadas. Aspectos relacionados à 9 avaliação de cargos e salários, à política salarial, à avaliação de desempenho e ao treinamento e desenvolvimento de pessoal e ao sistema de informações de Recursos Humanos, entre outros, devem ser levados a bom termo e são elementos indispensáveis num planejamento de Recursos Humanos para as pequenas empresas nesta virada de milênio, sob pena de não terem condições de reter os melhores profissionais já contratados. O foco nas pessoas começa a ser mais intenso ao final da década de oitenta e início de noventa. Em resumo, é possível visualizar uma tendência das principais indicações para o sucesso das pequenas empresas, ao longo de duas décadas, através da figura 04: Figura 04 - Ênfase para o Sucesso das Pequenas Empresas PERÍODOS DÉCADA DE 80 1980 IDÉIA INOVADORA + RECURSOS FINANCEIROS Gorb (1981) Hargreaves (1983) DÉCADA DE 90 ANOS (em torno de...) 1985 1990 1995 TENDÊNCIAS IDÉIA INOVADORA IDÉIA INOVADORA IDÉIA INOVADORA + + + RECURSOS RECURSOS RECURSOS FINANCEIROS FINANCEIROS FINANCEIROS + + + MARKETING MARKETING MARKETING + + PESSOAS PESSOAS + INFORMAÇÕES AUTORES Brown (1985) Degen (1989) Kuriloff (1993) Mancuso (1985) Baty (1990) Zimmerer & Halloran (1992) Scarborough (1994) Uma questão que pode ser levantada é em que momentum dessas tendências, que parecem existir, se encontram as pequenas empresas brasileiras, principalmente aquelas que atuam em mercados emergentes, com intensa mutação. 3. Metodologia de Pesquisa A metodologia envolve alguns aspectos, a seguir, de acordo com Mattar (1994, p. 66286): 3.1 Determinação do tipo de pesquisa - trata-se de uma pesquisa descritiva, com utilização de técnicas estatísticas simples, a ser realizada mediante estudo de campo ex post facto. O delineamento é do tipo levantamento ou enquete. 3.2 Determinação do método e da técnica de coleta de dados - para a coleta de dados primários, é feito uso do método de comunicação estruturado não disfarçado, através de questionários auto-preenchidos, distribuídos e recolhidos pessoalmente. O instrumento da coleta de dados é composto por perguntas com respostas fechadas (dicotômicas e escolha múltipla) e abertas (Mattar, 1994, p.238). 3.3 Determinação da população de pesquisa, tamanho da amostra e processo de amostragem 3.3.1 População - trata-se do “agregado de todos os casos que se enquadram num conjunto de especificações previamente estabelecidas” (Kinnear & Taylor,1979, citado por Mattar, 1994, p.280). Neste estudo, são duas populações diferentes, que permitam, a princípio, uma análise dentro de cada uma, e uma análise entre elas. A primeira é constituída por todas as pequenas empresas existentes no Setor Eletro-Eletrônico, e a segunda por aquelas organizações do Setor Metal-Mecânico da Região Metropolitana 10 de Curitiba. Conforme figura 05, visualiza-se o número de pequenas empresas no Estado do Paraná e em Curitiba, dos dois ramos de atividades (SEBRAE, 1997). Figura 05 -Pequenas Empresas dos Setores de Eletro-Eletrônico e MetalMecânico no Estado do Paraná e na Região Metropolitana de Curitiba Ramo de Tipos de Número de Número de Amost Amost Atividad Empresas por Empresas no Empresas na ra ra e Setor Estado do Região Previs Real (nomenclatura Paraná (inclui Metropolitana ta da FIEP*) as que de Curitiba integram a (RMC) RMC) Setor Indústria de 65 40 30 3 EletroMatérias Eletrônic Elétricos, o Eletrônicos e de Comunicação Setor Indústria 114 65 30 5 MetalMecânica Mecânico Fonte: Balcão SEBRAE, 1997. * FIEP - Federação das Indústrias do Estado do Paraná. 3.3.2 Amostra - “é qualquer parte da população” (Mattar, 1994, p. 276). Para este estudo, serão duas amostras, uma de cada setor, no sentido de permitir os dois focos de análise comparativa, dentro de cada setor e entre os dois setores. O tipo de amostra utilizado será aleatória simples, para ambas as populações. Na amostra aleatória, não apenas cada indivíduo tem uma probabilidade igual de ser selecionado, mas também todas as combinações entre os indivíduos têm igualmente probabilidades iguais de serem selecionadas. 3.3.3 Amostragem - “ é o processo de colher amostras de uma população” (Mattar, 1994, p.276). Sabe-se da superioridade técnica da amostragem probabilística, onde todos os elementos da população tem a mesma probabilidade de fazer parte da amostra (Boyd & Westfall, 1987, p.398). É feito um sorteio das unidades amostrais, retiradas do grupo das organizações existentes, que estão no cadastro do SEBRAE/PR. As amostras atenderiam ao número mínimo de 30 unidades amostrais para poder se configurar numa curva normal e permitir tratamento estatístico. 3.4 Limitações do Estudo A grande dificuldade nesta pesquisa é o retorno reduzido dos questionários respondidos pelos empresários das pequenas empresas participantes das amostras. São analisados os dados de 08 questionários. Outra restrição enfrentada, é a resistência dos empresários em divulgar dados vistos como confidenciais. 4. Análise dos Resultados As pequenas empresas pesquisadas manufaturam produtos e prestam serviços típicos dos ramos de atividades (metal-mecânico e eletro-eletrônico), nos quais são classificadas: usinagem, rack’s, serviços de jateamento, pintura, peças de alta precisão, calderaria e estamparia, peças e molas de suspensão e transporte de cargas, eletromecânicos, redutor eletrônico de velocidade, equipamentos de segurança eletrônica, solução para ambientes bancários e comerciais, entre outors. Basicamente, são formadas por dois sócios e com um número médio de 41 empregados. 11 Apresentam faturamento anual (em dólares), variando de US$ 410 mil a US$ 6 milhões (foram mencionados valores de US$ 600 mil, US$ 1,2 milhões, US$ 2 milhões e US$ 3 milhões, também). Os principais mercados dessas empresas são localizados principalmente no Estado do Paraná. Algumas atuam em São Paulo e Santa Catarina. 4.1 Estrutura das pequenas empresas, de ambos os setores. A estrutura das pequenas empresas é basicamente a mais simples, com ênfase na área industrial e na comercial, seguida de uma área que acumula as mais diversas atividades de apoio administrativo-financeiro. Múltipla Escolha Áreas Existentes Produção/ Industrial/ Manufatura Comercial Financeira/ Administrativo-financeira/ Administrativa/ Contabilidade Desenvolvimento/ área técnica/ projetos Outras Áreas: Transportes/ prestação de serviços Total Setores de Atividades Metal-Mecânica Eletro-Eletrônica 4 3 3 3 6 2 Total 7 6 8 2 2 1 - 3 2 17 9 26 4.2 Realidade atual das pequenas empresas, em termos de Recursos Humanos. Numa lista de 24 grupos de atividades ligadas à ARH, somente 10 são realizadas pela maioria das 08 empresas pesquisadas (indicadas na tabela a seguir por uma área sombreada). Como se pode observar, trata-se de atividades realizadas para atender às exigências legais ou aquelas que tradicionalmente são feitas para viabilizar o funcionamento básico da organização. Ações ligadas à avaliação de desempenho, remuneração estratégica e programas de desenvolvimento de futuros gerentes não são mencionadas. Em termos de atividades terceirizadas, observa-se que, predominantemente, são as de natureza trabalhista: elaboração da folha de pagamento (4 em 8 empresas), férias (3 em 8) e recolhimento de encargos sociais (2 em 8). Atividades realizadas pelas empresas dos setores de Metalmecânica e Eletro-eletrônica 1. Elaboração de estimativas sobre necessidade de pessoal 2. Recrutamento e Seleção de gerentes 3. Recrutamento e Seleção de M.O. operac. e administrativa 4. Aplicação de testes psicológicos na seleção 5. Controle de Rotação de Pessoal 6. Elaboração do catálogo de cargos 7. Avaliação de Desempenho dos gerentes 8. Avaliação de Desempenho da M.O. operac. e administrativa 9. Auto-avaliação para gerentes 10.Entrevista de avaliação de desempenho com os funcionários 11.Uso de remuneração funcional, rem.por habilidade, variável vinculada a metas de desempenho, prêmios e gratificações com forma de reconhecimento 12.Uso de salário indireto (benefícios) 13.Uso de participação acionária (vinculada a Realizadas dentro da empresa Atividades Terceirizada s Não tem 7 1 - 5 7 1 1 2 - 1 4 4 2 5 1 - 6 4 4 6 3 1 1 - 7 7 2 - 6 3 - - 5 8 12 objetivos de lucratividade da empresa) 14.Uso de algum método de avaliação e 3 5 classificação de cargos e salários 15.Pesquisa salarial 4 4 16.Elaboração da Folha de pagamentos 4 4 17.Férias 5 3 18.Recolhimento dos encargos sociais 6 2 19.Atividades de prevenção de acidentes e 7 1 Existência de CIP A 20.Atividades de prevenção de roubos e incêndios 6 2 21.Relações com os sindicatos 8 22.Treinamento de gerentes 5 3 23.Treinamento de mão-de-obra operacional e 8 administrativa 24.Programas de Desenvolvimento de Trainees 2 6 Na visão da maioria dos empresários das pequenas empresas entrevistados, Recursos Humanos não representa uma área dentro da organização e sim um grupo de atividades incluídas na área Administrativa. E todos eles respondem não estar satisfeitos com a ARH de suas empresas. Alegam falhas no recrutamento, falta de recursos para “aplicar programas de RH mais profissionais”, além de enfrentar dificuldade na mudança de mentalidade dentro da empresa, em relação a administração de recursos humanos RECURSOS HUMANOS Como área Dentro da área Administrativa O empresário não indicou área O empresário não indicou atividade e nem área Total Metal-Mecânica 5 - Setores de Atividades Eletro-Eletrônica 1 1 1 5 3 4.3 Áreas de maior carência: suprimentos, aplicação, desenvolvimento ou controle de Recursos Humanos. Múltipla Escolha Atividades** Suprimentos (06 atividades) Aplicação (06 atividades) Manutenção • Estratégica (08 atividades) • Burocrática (07 atividades) Desenvolvimento • Gerentes e Trainees (02 atividades) • Mão-de-obra Adm. e Operac. atividades.) Total * (02 30 30 MetalMecânic a 21 14 40 35 Total 6 1 1 8 manutenção, Setores de Atividades * Eletro* Eletrônica Total 18 18 9 4 48 48 30 18 10 28 24 21 8 18 64 56 18 46 10 10 4 10 6 6 3 6 16 16 7 16 155 87 93 48 248 135 * Estes números são resultantes da quantidade de atividades da área de Recursos Humanos pelo número de empresas que responderam à pesquisa. ** não se tem informação sobre as atividades de Controle de Recursos Humanos. Considerando que o adequado seria que todas as empresas desenvolvessem as atividades de Recursos Humanos para a melhor administração das pessoas que trabalham na organização, pode-se observar nesta tabela que os subsistemas de aplicação, o de manutenção no que se refere às atividades de cunho estratégico e o 13 subsistema de desenvolvimento (com os programas voltadas para desenvolvimento de trainees e gerentes) são as áreas mais carentes nas pequenas empresas. Esta constatação pode ser feita confrontando a quantidade de atividades de recursos humanos ideal, com o número de atividades efetivamente existentes nas empresas. Na opinião dos empresários, há algumas atividades que ainda não implementaram na empresa e gostariam de aplicar. Há uma preocupação com implantação de cargos e salários, treinamento e desenvolvimento de nível gerencial, avaliação de desempenho e, predominantemente com critérios de remuneração estratégica. Múltipla Escolha Atividades Elaboração de plano cargos e salários Novos treinamentos/ treinamento de gerentes e chefes de setor/ treinamento de pessoal Avaliação de Desempenho/ determinação de critérios para avaliação de capacidade para cargos mais elevados/ auto -avaliação Política de remuneração baseada em resultados/ remuneração variável/ participação nos lucros Outros (teste seletivo mais qualificado, implantação do terceiro turno) Total Setores de Atividades Metal-Mecânica EletroEletrônica 2 1 Total 3 3 1 4 2 1 3 3 2 5 2 12 5 2 17 4.4 Melhor forma de implantação da Administração de Recursos Humanos: terceirização ou implantação de um setor dentro da empresa. Na avaliação das atividades, a tendência é de que o resultado da atividade terceirizada (8,1) seja inferior ao daquela realizada dentro da organização (9,1), como se verifica pela média das médias dos dois setores: M/M Atividades Elaboração de Folha de Pagamento Férias Encargos Média das Médias * Não terceiriza Dentro Fora 8,0 8,0 9,3 8,4 7,3 8,5 8,5 8,1 SETORES E/E Dentro Fora 9,5 10,0 10,0 9,8 TOTAL Dentro Fora 8,0 8,0 * 8,0 8,7 9,0 9,6 9,1 7,6 8,2 8,5 8,1 Na opinião dos empresários entrevistados, a melhor forma de Administração de Recursos Humanos é através da combinação da implantação de um setor de RH na organização, juntamente com o envolvimento dos gerentes nas atividades de RH, que lhes cabem. Mais uma vez, verifica-se que a terceirização não é vista como a melhor forma de gestão, somente como forma de redução de custo. Múltipla Escolha A melhor forma de Administração de Recursos Humanos é ... através da implantação de um setor de Recursos Humanos na empresa através da terceirização das atividades fazer com que todos os gerentes conheçam e realizem as atividades de Administração de Recursos Humanos Total Setores de Atividades Metal-Mecânica EletroEletrônica Total 3 1 1 1 4 2 3 7 1 3 4 10 Ao serem questionados, os empresários não mostraram muito interesse em terceirizar atividades de Administração de Recursos Humanos. Atividades Todo o RH (basicamente atividades de cunho trabalhista) foi Setores de Atividades Metal-Mecânica Eletro-Eletrônica Total 14 terceirizado Já foram terceirizadas (folha de pagamento e informatização do ponto) Não gostariam de terceirizar atividades de RH Não responderam Total - 1 1 1 2 2 5 2 3 1 2 4 8 4.5 Perfil dos empresários das pequenas empresas. Os empresários entrevistados nasceram predominantemente no período compreendido entre 1953 e 1967 (21-1, 53-1, 54-2, 55-1, 61-1, 64-1, 67-1). Desses empresários, quatro são os fundadores da empresa e dois são da segunda geração. São de ascendências étnicas típicas da região do Paraná (italiana, alemã), além da etnia japonesa. Sua formação educacional superior está ligada, principalmente, a áreas técnicas (ciências exatas-5, ciências sociais aplicadas-1 e ciências humanas-1). EssaS características podem ser comuns para os profissionais que atuam nos ramos de atividades de metal-mecânico e eletro-eletrônico. Antes de serem empresários, basicamente exerceram várias atividades técnicas (sete em onze respostas de indicação múltipla). Somente metade deles está vinculada a algum tipo de associação de classe. Em termos de esportes, sete mencionam algumas atividades físicas (futebol, pesca, caminhada, natação, dança de salão) e, em relação a hobbies, há duas indicações (orquidofilia e leitura de livros). Interessante observar que seis empresários, em oito, consideram-se bem-sucedidos. Ter conseguido enfrentar crises (estruturais e financeiras) fazendo a empresa crescer; criar um nome forte junto a clientes, bancos e fornecedores, bom relacionamento com os funcionários e produtos de alta qualidade; “pelo lucro da empresa”; ter começado do nada, passando por todos os governos, nunca tendo nenhuma ajuda financeira e detendo 41% do mercado; ”por estar cercado por uma boa equipe” são algumas razões mencionadas para os empresários se considerarem com bem-sucedidos. Quando questionados sobre possíveis fatores de sucesso de um negócio, mencionam 26 possibilidades, classificadas em cinco categorias. As qualidades pessoais do empresário são as mais indicadas (13 em 26). Múltipla Escolha Fatores de Sucesso de um Negócio MERCADO PRODUTO CAPACIDADE DE ADAPTAÇÃO QUALIDADES PESSOAIS ASPECTOS ADMINISTRATIVOS Total Setores de Atividades Metal-Mecânica EletroEletrônica 2 2 1 2 1 8 5 4 1 15 11 Total 4 3 1 13 5 26 4.6 Nível de custo que os empresários das pequenas empresas estão dispostos a investir nos subsistemas de Recursos Humanos. Nível de recursos utilizados com ARH (em US$) de US$ 501 a US$ 1000 de US$ 1001 a US$ 1500 de US$ 1501 a US$ 2000 de US$ 2001 a US$ 2500 de US$ 2501 a US$ 3000 acima de US$ 3000 Total Setores de Atividades Metal-Mecânica EletroEletrônica 2 1 1 2 1 1 5 3 Total 3 1 2 2 8 Devido ao número reduzido de respondentes do questionário que retornaram, não é possível ter uma visualização adequada do perfil de recursos utilizados para ARH. Observa-se três faixas de indicação, que não incluem os valores utilizados com a folha 15 de pagamentos, férias e benefícios. Somente são levados em consideração os custos para manter algum tipo de estrutura (interna ou externa) para a Administração de Recursos Humanos. Predominantemente, as atividades de manutenção de recursos humanos representam o maior “gasto” para a organização, em termos de ARH (53,5%). Entretanto, o índice é muito maior nas empresas do setor de metal-mecânico (75%), em comparação com as do ramo de eletro-eletrônico (32%). As atividades de aplicação de RH (descrição e análise de cargos, avaliação de desempenho e plano de carreiras), que auxiliam na melhor estruturação de ARH e que são potencialmente motivadoras, são aquelas que participam percentualmente de forma bem reduzida (3,2%). GRUPOS DE ATIVIDADES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS ATIVIDADES DE SUPRIMENTO - recrutamento e seleção ATIVIDADES DE APLICAÇÃO - descrição e análise de cargos, avaliação de desempenho, e elaboração de um plano de carreiras ATIVIDADES DE MANUTENÇÃO - administração da folha de pagamento, férias, encargos sociais, e atividades de higiene e segurança do trabalho ATIVIDADES DE DESENVOLVIMENTO - treinamento de pessoal, programas de treinamento e desenvolvimento (T&D) ATIVIDADES DE CONTROLE DE RH - banco de dados, sistema de informações e auditoria de recursos humanos Total em percentual PARTICIPAÇÃO MÉDIA NO CUSTO TOTAL DA ARH DA EMPRESA M/M E/E Total 4,3 15,0 9,6 3,1 3,3 3,2 75,0 32,0 53,5 8,7 28,2 18,5 8,7 21,7 15,2 100% 100% 100% 5. Conclusões e Recomendações Através da consolidação dos resultados é possível ter mais informações sobre a viabilidade de implantação dos Subsistemas de Recursos Humanos nas Pequenas Empresas dos Setores Eletro-Eletrônico e Metal-Mecânico da Região Metropolitana de Curitiba. Evidentemente, o número reduzido de questionários respondidos, comparativamente à amostra prevista, exige extrema cautela no uso destas informações. Entretanto, elas têm a sua importância para a literatura sobre pequenas empresas, que ainda é muito restrita, considerando-se sua importância para a economia brasileira. O que se pode observar é que alguns pressupostos iniciais deste trabalho foram verificados, porém alguns são, de certa forma, surpreendentes. • a estrutura das pequenas empresas pesquisadas tem ênfase na área industrial e comercial, além de uma área que acumula as mais diversas atividades de apoio administrativo-financeiro. • na opinião dos empresários entrevistados, Recursos Humanos não representa uma área dentro da organização e sim um grupo de atividades incluídas na área administrativa, predominantemente aquelas que atendem às exigências trabalhistas (folha de pagamentos, férias, recolhimentos de encargos sociais, entre outras) e as que são feitas para viabilizar o funcionamento básico da organização (estimativas sobre necessidade de pessoal, recrutamento e seleção de mão-de-obra administrativa e operacional, pesquisa salarial, entre outras). • as áreas de maior carência são aquelas compreendidas dentro do subsistema de aplicação (elaboração da descrição e análise de cargos, avaliação de desempenho e do potencial humano), dentro do subsistema de manutenção (as de caráter estratégico, como remuneração por habilidades e competências e remuneração variável) e dentro do subsistema de desenvolvimento, também de caráter estratégico (programas de desenvolvimento de gerentes e trainees). 16 • quando se verifica a avaliação que os empresários, que terceirizaram atividades de recursos humanos fizeram, observa-se uma tendência de que o resultado da atividade terceirizada seja inferior ao daquela realizada dentro da organização. Na opinião dos respondentes, a melhor forma de administração de recursos humanos é através da combinação da implantação de uma área de RH na empresa, juntamente com o envolvimento dos gerentes nas atividades de RH, que lhes cabem. A terceirização é vista como meio de redução de custo e não como forma de gestão. • os empresários entrevistados estão compreendidos numa faixa etária entre 30 a 50 anos, a maioria é o fundador da empresa, que divide com mais um sócio. Têm formação superior e atuação profissional, anterior a empresa, de caráter técnico. Seis em oito empresários se consideram bem-sucedidos e as razões para o sucesso do negócio estão vinculadas às características pessoais do empreendedor, na sua opinião. • não é possível visualizar o nível de recursos utilizados para manter algum tipo de estrutura (interna ou externa) de ARH. Existem indicações para os valores médios de US$750, US$1.750 e US$2.750. Predominantemente, as atividades de manutenção de RH (administração da folha de pagamentos, férias, encargos sociais e atividades de higiene e segurança no trabalho) representam o maior custo para a organização, não incluindo neste percentual os valores repassados aos funcionários e ao governo. Para contribuir para o crescimento das pequenas empresas e viabilizar a implantação do modelo sistêmico de recursos humanos, é necessário focalizar nas iniciativas de instrumentalizar o empresário, para que ele próprio realize um processo de mudança organizacional. Existem indicações de que a terceirização das atividades de recursos humanos é vista como meio de redução de custos e não como forma de gestão. Portanto, a melhor recomendação para organismos de fomento das pequenas empresas e para as consultorias que atendem a estes segmentos seja desenvolver estruturas conceituais e modelos de trabalho acessíveis aos empresários de pequenas empresas, que os auxiliem a implantar a administração de recursos humanos dentro da organização. 6. Sugestões para Estudos Futuros Este trabalho apresenta as características de algumas empresas do setor metalmecânico e do setor de eletro-eletrônico. Pode ser considerado como um estudo que fornece algumas pistas para melhor conhecer a realidade da pequena empresa situada na Região Metropolitana de Curitiba, no Paraná e que estimule a curiosidade em relação a organizações de outros setores nas diversas regiões brasileiras. Como possíveis estudos futuros, há uma série de alternativas, que podem vir a ser desenvolvidas: (1) pesquisar pequenas empresas de outros ramos de atividades; (2) fazer estudos comparativos entre as realidades dos negócios das várias regiões do Brasil e de outros países; (3) comparar o perfil dos empresários das pequenas empresas; (4) fazer uma análise comparativa entre a situação da administração de recursos humanos das organizações de vários setores e regiões; (4) estudar forma de melhorar a eficácia da gestão de pessoas nas pequenas empresas. As possibilidades são inúmeras, no sentido de melhor conhecer a realidade da ARH nas pequenas empresas 7. Referências Bibliográficas BATY, Gordon B. Entrepreneurship for the Nineties. New Jersey - USA: Prentice-Hall, Inc., 1990. BERGAMINI, Cecília Whitaker e BERALDO, Deobel Garcia Ramos. Avaliação de Desempenho 17 Humano na Empresa. São Paulo: Atlas, 1992. BOOG, Gustavo. Manual de Treinamento e Desenvolvimento. São Paulo: Makron Books, 1994. 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