Avaliação dos metabolismos oxidativo e cardíaco de equinos da raça Puro Sangue Árabe submetidos a exercício em esteira de alta velocidade e suplementados com vitamina E LETÍCIA A. YONEZAWA1; MERE E. SAITO2; LUCIANA P. MACHADO3; VERIDIANA F. DA SILVEIRA4; MARCOS J. WATANABE5; SANDRA S. KITAMURA6; AGUEMI KOHAYAGAWA7 1. Doutoranda bolsista FAPESP – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), Unesp, Botucatu/SP, e-mail: [email protected] 2. Professora Doutora – Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Lages/SC 3. Professora Doutora – Universidade Federal do Piauí (UFPI), Bom Jesus/PI 4. Professora Doutora – Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Cruz das Almas/BA 5. Professor Doutor – Departamento de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária, FMVZ, Unesp, Botucatu/SP 6. Professora Doutora – Universidade Anhembi-Morumbi, São Paulo/SP 7. Professora Titular – Departamento de Clínica Veterinária, FMVZ – Unesp, Botucatu/SP INTRODUÇÃO O exercício físico é capaz de promover estresse oxidativo induzido pelo desequilíbrio entre a produção de espécies reativas de oxigênio (ERO) e a capacidade antioxidante das células e fluidos extracelulares, ocasionando lipoperoxidação das membranas celulares e lesão tecidual. O músculo cardíaco apresenta intenso metabolismo aeróbico, exibindo elevada demanda de oxigênio em condições de repouso, que aumenta em grandes proporções durante exercício físico exaustivo. Para avaliar o efeito do exercício físico, treinamento e suplementação com vitamina E sobre os metabolismos oxidativo e cardíaco em equinos, mensurou-se o malondialdeído (MDA) sérico, que determina indiretamente a intensidade do estresse oxidativo, e a troponina I cardíaca (cTnI) sérica, marcador altamente sensível e específico para dano miocárdico. A concentração sérica de cTnI, na maioria dos animais e momentos, permaneceu abaixo do limite de detecção do kit (<0,01 µg/L). Apenas em três animais houve um discreto aumento de cTnI sérica (0,03; 0,05 e 0,18 µg/L), determinado após 6 h do término do exercício. Em dois desses equinos, foram observados três a quatro complexos ventriculares prematuros monomórficos e isolados em um minuto de exame eletrocardiográfico, imediatamente após o exercício. Como não está definido um limite de concentração de cTnI que considere a gravidade da lesão cardíaca, nem se os mecanismos ou doenças podem causar discreta, moderada ou grave elevação desses níveis, é possível sugerir que houve uma lesão miocárdica discreta, mas não expressiva. Figura 1. Médias da concentração sérica de malondialdeído (MDA, nmol/mL)) nas provas P1 (antes do treinamento) e P2 (após o treinamento) de exercício progressivo em esteira, nos grupos controle (GC) e suplementado com vitamina E (GE). MATERIAL E MÉTODOS Utilizou-se 16 equinos da raça Puro Sangue Árabe, sem treinamento, divididos em dois grupos de oito: controle (GC) e suplementado com vitamina E (GE) na dose oral diária de 1.000 UI/L. Ambos os grupos foram submetidos a provas de exercício progressivo em esteira de alta velocidade inclinada a +7%, antes (P1) e após (P2) a um período de treinamento de 20 dias. O protocolo de exercício das provas foi: 5min na velocidade de 1,8 m/s, 3 min a 4,0 m/s, 2 min a 6,0 m/s, e 1 min nas velocidades 8,0 m/s, 9,0 m/s, 10,0 m/s ou até quando os cavalos conseguiam se manter em exercício. Além das concentrações séricas de MDA e cTnI, analisou-se a vitamina E sérica, sendo os momentos avaliados: antes (M0), imediatamente após o exercício, 15 min, 30 min, 2 h, 6 h, 12 h e 24 h após o término do exercício. Foi realizado eletrocardiograma de repouso antes e imediatamente após as provas P1 e P2 em ambos os grupos. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados sugerem a ocorrência do estresse oxidativo determinado por meio da elevação de MDA sérico após o exercício, mas cujo aumento foi significativo somente para o GE em P2, nos momentos 15 min (1,21±0,67 nmol/mL) e 30 min (1,35±0,85 nmol/mL) comparados ao M0 (0,54±0,31 nmol/mL). Entretanto, apesar de não haver significância, o GE apresentou valores inferiores de MDA em relação ao GC na maioria dos momentos avaliados, indicando que a suplementação atenuou o estresse oxidativo. Não houve efeito do treinamento sobre o estresse oxidativo, provavelmente devido ao curto período. A concentração de vitamina E se manteve mais elevada nos animais suplementados em todos os momentos e provas. Acredita-se que o estresse oxidativo ocasionado pelo exercício físico promove a lipoperoxidação e lesão de membrana dos cardiomiócitos devido ao aumento de ERO, favorecendo a liberação de cTnI do compartimento citosólico e seu aumento na circulação. Em contrapartida, não foi possível correlacionar as concentrações séricas do indicador de lipoperoxidação, o MDA, com as de cTnI. Figura 2. Médias da concentração sérica de vitamina E (µmol/mL) nas provas P1 (antes do treinamento) e P2 (após o treinamento) de exercício progressivo em esteira, nos grupos controle (GC) e suplementado com vitamina E (GE). CONCLUSÃO Portanto, conclui-se que o exercício físico progressivo promoveu a lipoperoxidação nestas condições, que não foi prevenida pela suplementação com vitamina E nem pelo treinamento, mas não foi suficiente para causar uma lesão cardíaca significativa. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ATALAY, M.; SEN, C.K. Physical exercise and antioxidant defenses in the heart. Annals of the New York Academy of Sciences, v.874, p.169-177, 1999. 2.DURANDO, M.M. et al. Acute effects of short duration maximal exercise on cardiac troponin I in healthy horses. Equine and Comparative Exercise Physiology, v.3, n.4, p.217-223, 2006. 3.HOLBROOK, T.C. et al. Endurance exercise is associated with increased plasma cardiac troponin I in horses. Equine Veterinary Journal, Supplement, v.36, p.2731, 2006. 4.KIRSCHVINK, N. et al. Investigation of blood oxidant/antioxidant markers in healthy competition horses of different breeds. Equine Veterinary Journal, v.36, supl, p.239-244, 2006. 5.WILLIAMS, C.A.; CARLUCCI, S.A. Oral vitamin E supplementation on oxidative stress, vitamin and antioxidant status in intensely exercised horses. Equine Veterinary Journal, v.36, supl, p.617-621, 2006. 6.YONEZAWA, L.A. et al. Marcadores cardíacos na medicina veterinária. Ciência Rural, v.40, n.1, p.222-230, 2010. APOIO: