Desempenho agronômico a campo de híbridos de milho inoculados com bactérias diazotróficas na região da Depressão Central do RS Quadros, P. D. de1; Vieira, V. M.2 ; Endrigo, P. C. 3; Maass, L. B.4, Jandrey, D. B.5; Silva, P. R. F. da6; Camargo, F.A. de O.7 1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), [email protected] ; 2,5 Mestrandos do Programa de Pós-Graduação Fitotecnia, (UFRGS), 3, 4Acadêmicos UFRGS e bolsistas CNPq / Pibic; 6 Professor Colaborador Convidado da Faculdade de Agronomia/ UFRGS e bolsista do CNPq, [email protected]; 7 Professor Adjunto da Faculdade de Agronomia/ UFRGS, bolsista CNPq, [email protected] . Palavras-chave: Zea mays L., fixação biológica de nitrogênio, adubação nitrogenada. A cultura do milho no Brasil, além de apresentar grande importância no agronegócio, é base de sustentação para a pequena propriedade agrícola, constituindo-se num dos principais insumos do complexo agroindustrial. Além disso, a cultura do milho representa um importante papel na rotação de culturas no sistema plantio direto. Entretanto, é uma cultura que necessita grandes quantidades de nitrogênio (N) quando se deseja produtividade elevada, requerendo o uso de adubação nitrogenada em cobertura para complementar a quantidade suprida pelo solo. O adubo nitrogenado usualmente utilizado é a uréia, fertilizante derivado do petróleo, um recurso energético não renovável. A adubação nitrogenada, além de ter custo elevado, dependendo do manejo, pode percolar ou lixiviar poluindo reservatórios naturais de água. Os custos econômicos e ambientais relacionados à fertilização nitrogenada têm estimulado a busca por alternativas que possam diminuir a utilização deste fertilizante sem que haja redução do rendimento. Uma das possibilidades para viabilizar maior rendimento e diminuir custos sem prejudicar o ambiente é a utilização do potencial genético das plantas, aliado aos recursos biológicos do solo, como as bactérias diazotróficas, que podem fixar N2 para a planta e produzir hormônios de crescimento como auxinas e giberelinas, que estimulam o crescimento vegetal, principalmente de raízes, por aumentar a absorção de nutrientes e água (DOBBELAERE et al. 2002; BASHAN et al. 2004) . A utilização do potencial microbiano para fixação biológica de N no milho no Brasil é incipiente, dada a abordagem simplificada desse tema. A maioria dos estudos brasileiros referentes a este assunto aborda apenas o isolamento de bactérias diazotróficas de plantas de milho e testes bioquímicos em vasos e laboratório (QUADROS et al. 2006; ROESCH et al. 2007), faltando a avaliação destes isolados a campo para demonstrar a interação planta-microorganismo. Em estudo anterior, QUADROS et al. (2007) testaram em vasos dez híbridos de milho inoculados com bactérias diazotróficas selecionadas, tendo verificado incremento no teor de N da parte aérea, aumento na massa seca e no volume de raízes. Porém, se faz necessário validar os experimentos de laboratório e de vasos a campo para avaliar o comportamento das bactérias em ambiente natural. Este trabalho teve como objetivo avaliar a campo as características agronômicas de plantas de três híbridos de milho inoculados com bactérias diazotróficas, cultivados com e sem adubação nitrogenada, na região da Depressão Central do Estado do RS. 1 O experimento foi conduzido no município de Eldorado do Sul. O solo do local é classificado como um Argissolo Vermelho Distrófico típico. O delineamento experimental foi o completamente casualizado, disposto em fatorial 3 x 4, com quatro repetições. Três híbridos (Pioneer P 32R48, Santa Helena 5050 e Agroeste 1575) foram testados com e sem inoculação e com e sem adubação nitrogenada conforme descrito a seguir: a) sem inoculação e sem adição de adubação nitrogenada - controle; b) com inoculação, sem adição de adubação nitrogenada; c) com inoculação + adição de 50 kg de N ha-1 na base e d) com adição de 130 kg de N ha-1 (50 kg na base + 80 kg em cobertura), sem inoculação. Nos tratamentos com inoculação, as sementes de milho foram inoculadas com uma mistura de turfa estéril + 4 linhagens de bactérias diazotróficas em proporções iguais na concentração de 108 células por g de turfa. As bactérias diazotróficas utilizadas foram EL-S (Azospirillum brasilense, isolado de plantas de milho no município de Eldorado do Sul/RS), LG1-R (Azospirillum lipoferum, isolado de plantas de milho no município de São Luíz Gonzaga / RS), M-S (Azospirillum oryzae, isolado de plantas de milho no município de Marau/RS), e a L-S (Azospirillum lipoferum, isolado de plantas de milho no município de Livramento/RS), as quais foram selecionadas por ROESCH et al. (2006) devido à fixação de N2, à produção de auxinas in vitro, à capacidade de degradação de diferentes fontes de carbono e à resistência à estreptomicina. O experimento foi instalado numa área manejada sob plantio direto há 17 anos, em área com cultivo anual anterior de milho, em sucessão à aveia-branca. A semeadura foi realizada com saraquá, em parcelas de 3,2 x 5m (16 m2). O espaçamento entre linhas adotado foi de 80 cm e o espaçamento entre plantas na linha de 21 cm. Quando as plantas estavam com três a quatro folhas, foi realizado desbaste mantendo-se 26 plantas por linha, para obtenção da densidade de 75.000 plantas por hectare. A adubação de P (100 kg ha-1 de P2O5), K (100 kg ha-1 de K2O) e N (290 kg de uréia ha-1 no tratamento 130 kg de N ha-1, e 110 kg de uréia ha-1 no tratamento inoculado + 50 kg de N ha-1) foi realizada de acordo com o resultado da análise físico-química do solo e a recomendação de adubação e calagem para os Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina (CFSRS/SC, 2004) para média tecnologia, por ser o nível tecnológico mais comumente utilizado entre os produtores do Estado do RS. As plantas foram irrigadas por aspersão e receberam tratamentos fitossanitários, quando necessário. As determinações realizadas foram o teor relativo de clorofila na folha, com o aparelho Minolta 502, no estádio R1, e estatura de planta no estádio R2, segundo escala de Ritchie et al. (1993). Para quantificação das bactérias diazotróficas presentes nas plantas no final do ciclo da cultura, raízes e colmos de milho foram desinfestados e macerados (10g de matéria fresca para 90 ml de solução salina – NaCl 1%) e diluídos serialmente até a diluição de 10-7. Uma alíquota de 100µl das diluições 10-5, 10-6 e 10-7 foi inoculada em triplicata em tubos contendo 8 ml de meio de cultura NFb (livre de nitrogênio), sendo incubados a 30°C por sete dias. Após o período de incubação, procedeu-se a contagem dos tubos negativos e positivos, considerando-se tubos com crescimento positivo aqueles que apresentaram a película característica de crescimento de bactérias diazotróficas (na condição microaerofílica). Os dados da contagem foram utilizados para quantificação do número mais provável (NMP) de bactérias por g de massa fresca, utilizando-se para isso a tabela de McCrady, segundo DÖBEREINER et al. (1995). Também foram determinados o peso de grão por espiga, o número de grãos por espiga, o teor de N e o rendimento de massa seca na parte aérea. Os resultados foram avaliados por meio do software estatístico SAS, efetuando-se a análise de variância e o teste de Tukey, ao nível de significância de 5%. 2 Log do NMP de células g matéria fresca-1 Avaliando-se o numero mais provável (NMP) de bactérias diazotróficas por grama de massa fresca das raízes, observou-se que os tratamentos com inoculação e com inoculação + 50 kg de N foram estatisticamente iguais nos três híbridos (Figura 1). Nos tratamentos sem inoculação também foram detectadas bactérias diazotróficas, provavelmente porque elas ocorrem naturalmente no solo e a área do experimento já vem sendo cultivada com milho há 17 anos, mantendo-se desta maneira uma população de diazotróficos estável. Entretanto, a quantidade destas bactérias nas raízes nos tratamentos sem inoculação foi de 7 a 31 vezes menor em relação aos tratamentos que receberam inoculação. Quanto ao NMP de bactérias g massa fresca-1 dos colmos, destacou-se o híbrido P 32R48 no tratamento inoculado em relação aos outros tratamentos, com 450.000 células g massa fresca-1. Os tratamentos com inoculação e sem adubação nitrogenada, com inoculação + 50 kg de N ha-1 e controle não diferiram estatisticamente. Os tratamentos com 130 kg de N ha-1 sem inoculação, apresentaram baixo número de diazotróficos nos colmos em relação aos demais (média de 7.000 células g de massa fresca-1), provavelmente devido à inibição do crescimento populacional bacteriano pelo alto teor de N no solo. 107 106 a) Raízes b) Colmos Controle A Inoculado, sem N Inoculado + 50 kg N ha-1 A 106 A A A B B B A 130 kg N ha-1 A 105 B BC 105 B B B B 104 BC B B B BC C C C 104 b a a AS 1575 b c a a P 32R48 b b a a b 103 SH 5050 b b a AS 1575 c b a b P 32R48 b a ab b c SH 5050 Tratamentos *Colunas grafadas com a mesma letra maiúscula não diferem entre híbridos e grafadas com a mesma letra minúscula não diferem entre os tratamentos relacionados à inoculação e adubação nitrogenada, pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.. Figura 1. Número mais provável (NMP) de células bacterianas por grama de matéria fresca de raízes e colmos de três híbridos de milho com e sem adubação nitrogenada. Eldorado do Sul - RS, 2008. Sem aplicação de adubo nitrogenado, a inoculação das sementes de milho com bactérias diazotróficas não alterou o número de grãos por espiga, o peso de grãos por espiga e o rendimento de grãos dos três híbridos. Entretanto, aumentou o teor relativo de clorofila na folha e o teor de N na parte aérea no híbrido AS 1575 e o rendimento de massa seca da parte aérea no híbrido SH 5050 em relação ao tratamento sem inoculação (Tabela 1). Na comparação entre os tratamentos com inoculação + 50 kg N ha-1 e com aplicação de 130 kg N ha-1, sem inoculação, observou-se que não houve diferença estatística para a maioria das características avaliadas. As exceções foram o número de grãos por espiga 3 no híbrido SH 5050 e o rendimento de grãos no híbrido P 32R48, que foram superiores com aplicação da maior dose de N, sem inoculação (Tabela 1). Tabela 1. Características agronômicas de três híbridos de milho, com e sem inoculação de bactérias diazotróficas, com e sem adubação nitrogenada. Eldorado do Sul - RS, 2008. Sem adubação nitrogenada Híbrido P 32R48 AS 1575 SH 5050 P 32R48 AS 1575 SH 5050 P 32R48 AS 1575 SH 5050 P 32R48 AS 1575 SH 5050 P 32R48 AS 1575 SH 5050 P 32R48 AS 1575 SH 5050 P 32R48 AS 1575 SH 5050 Com adubação nitrogenada 2 Inoculado + 50 130 kg de N ha-1 Controle Inoculado -1 kg N ha Sem inoculação 3 Teor relativo de clorofila na folha R1 (CV% = 8,39) 4 ns 28,75 b ns 31,57 b ns 37,85 a ns 39,60 a 26,65 c 34,52 b 38,45 ab 45,15 a 26,65 b 32,15 b 40,60 a 45,35 a 3 Estatura de planta estádio R2 (CV% = 5,1) ...................................................... cm ............................................................ ns 223 b ns 219 b ns 259 ab ns 262 a 225 b 234 ab 259 a 279 a 213 b 219 b 252 a 255 a Grãos / espiga (CV% = 9,9) .......................................................... n° ............................................................. B 146 b B 172 b B 252 a B 302 a A 213 b A 204 b A 312 a A 380 a AB 165 c B 125 c AB 262 b AB 337 a Peso de grãos / espiga (CV% = 12,6) ......................................................... g ................................................................. B 39 b AB 55 b B 70 b B 98 a A 77 c A 70 c A 104 b A 128 a B 50 c B 42 c B 79 b B 100 a (CV% = 17,0) Rendimento de massa seca da parte aérea 5 ......................................................Mg ha-1............................................................... A 7,13 ns B 6,61 B 9,33 B 9,66 A 10,71 b A 12,39 b A 15,36 a A 15,04 a A 7,12 b A 10,89 a AB 12,73 a AB 12,48 a Rendimento de grãos (CV% = 14,9) .....................................................Mg ha-1................................................................. B 2,87 b ns 3,69 b B 4,88 b AB 7,46 a A 5,27 b 4,92 b A 7,78 a A 9,19 a AB 3,43 b 3,09 b B 5,69 a B 7,15 a Teor de N na parte aérea (CV% = 8,1) ................................................mg g-1............................................................. ns 3,35 b AB 3,75 ab n.s. 4,10 ab n.s. 4,27 a 3,50 b A 4,22 a 4,15 a 4,42 a 2,97 b B 3,12 ab 3,57 ab 3,80 a 1 1)Dose integralmente aplicada na base; 2) 50 kg de N ha-1 na base + 80 kg de N ha-1 em cobertura; 3) R1 = embonecamento e polinização e R2 = estádio grão em bolha d’água, conforme escala de Ritchie et al. (1993); 4) ns = não significativo, ao nível de 5% de probabilidade; 5) Referente à massa seca de folhas, colmos e espiga sem grãos. * Médias antecedidas da mesma letra maiúscula na coluna, e médias seguidas pela mesma letra minúscula na linha não diferem entre si pelo teste Tukey ao nível de 5% de probabilidade. Estes resultados evidenciam um possível efeito da inoculação nas sementes sobre a disponibilidade de N para as plantas nos tratamento com inoculação + aplicação de 50 4 kg de N ha-1 na base, já que a adição de 80 kg de N ha-1 em cobertura no tratamento sem inoculação não foi superior a este tratamento para a grande maioria das determinações. Em trabalhos anteriores sobre inoculação de diazotróficos em gramíneas já foram encontrados resultados semelhantes (Bashan et al. 2004). Provavelmente quando se aplica de 30 a 50 kg N ha-1 juntamente com a inoculação, a população bacteriana é estimulada a crescer, visto que utilizam N para síntese protéica. Entretanto, doses acima de 60 kg N ha-1 podem ser tóxicas às bactérias diazotróficas. Com base nos resultados obtidos conclui-se que: - O genótipo do híbrido influencia a associatividade entre as bactérias e as plantas. - A inoculação foi efetiva, sendo as raízes das plantas mais receptivas às bactérias diazotróficas do que os colmos. - Sem adubação nitrogenada na base, a inoculação de sementes com bactérias diazotróficas não se mostra eficiente independentemente do híbrido testado. - A inoculação apresentou indícios de que, juntamente com a adição de dose de 50 -1 kg de N ha na base, apresenta performance equivalente à aplicação de 130 kg de N ha-1, sem inoculação. Referências BASHAN, Y.; HOLGUIN, G. & DE-BASHAN, L.E. Azospirillum-plant relationships: physiological, molecular, agricultural, and environmental advances (1997-2003). Canadian Journal of Microbiology, 50:521-577, 2004. DOBBELAERE, S.; CROONENBORGHS, A.; TRYS, A.; PTACEK, D.; OKON, Y.; VANDERLEYDEN, J. 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