Uma Visão Neuropsicopedagógica do Desenvolvimento Humano: da Vida Intrauterina até a Primeira Infância. (A influência do afeto, do estímulo e da alimentação nas alterações neuroquímicas do cérebro) Luiz Antônio Corrêa A Neuropsicopedagogia é uma ciência transdisciplinar, fundamentada nos conhecimentos da Neurociência aplicada à educação, com interfaces da Psicologia e Pedagogia que tem como objeto formal de estudo a relação entre o cérebro e a aprendizagem humana, numa perspectiva de reintegração pessoal, social e escolar. Entender o funcionamento do cérebro é de fundamental importância para todos, pois assim conseguiremos administrar os conflitos entre o desenvolvimento humano e a aprendizagem. Os impulsos nervosos são transmitidos nas sinapses a partir da liberação de substâncias químicas chamadas de neurotransmissores. Estudos de neurociências demonstram que o cérebro humano tem a capacidade de gerar novas células e que existe um sincronismo entre o cérebro em desenvolvimento e o que molda seu crescimento e maturação. O cérebro é moldável pelos estímulos vindos do próprio organismo, de sua genética e do ambiente externo, além de coordenar suas funções internas. Na visão Neurobiológica a aprendizagem se efetiva pela formação e consolidação das ligações entre células nervosas. É o resultado das modificações químicas e estruturais no sistema nervoso. Os processos cognitivos e emocionais estão profundamente entrelaçados no funcionamento do cérebro. Os órgãos dos sentidos enviam as informações até o cérebro por meio de circuitos neurais. Se um estímulo tem importância com valor emocional, é captado, e mobiliza a atenção, atingindo as regiões corticais específicas, onde é percebido e identificado, tornando-se consciente. As informações serão enviadas a uma região chamada Amígdala Cerebral (ou núcleo Amidaloide). A Amígdala está incluída num conjunto de estruturas encefálicas conhecido como Sistema Límbico, ao qual se estabelece o controle das Emoções e dos processos motivacionais. Envolvida no desenvolvimento de emoções positivas: sensação de bem-estar e prazer. Participam no circuito dopaminérgico. Comunica-se com regiões da base do cérebro (Núcleo Acumbente), onde os hormônios se conectam ao córtex pré-frontal. Estimulações dessa via provocam sensações de prazer e bem-estar. Tendo uma ligação com a motivação. A liberação da Dopamina em algumas regiões cerebrais parece estar associada a esse tipo de recompensa, que leva à aprendizagem. Estudiosos sobre inteligência tem tomado como referência a flexibilidade mental ou comportamental, pois ela permite o aparecimento de soluções novas. Deve-se levar em conta também o número de neurônios corticais, a velocidade de comunicação entre essas células e o metabolismo da glicose no cérebro. O aumento da capacidade de processar as informações, as especializações funcionais em determinados circuitos corticais são ainda mais importantes na determinação das capacidades intelectuais do ser humano. Todas essas especializações são decorrentes do modo de origem dos neurônios corticais, consolidando as novas capacidades como a linguagem e a autoconsciência. Quase impossível separar as influências genéticas das influências ambientais. Tem-se uma grande plasticidade na estrutura e no funcionamento do cérebro, que se modifica com a experiência. As áreas motoras se desenvolvem com o treinamento, o hipocampo aumenta de volume em pessoas com muita habilidade na orientação espacial, músicos tem um aumento do córtex motor, auditivo e visual. Dedicação e esforço podem modificar as condições trazidas por fatores genéticos. As dificuldades de aprendizagem são resultado de vários aspectos que interferem na aquisição de novos esquemas e na reorganização do cérebro para produção de novos comportamentos. Elas dependem da interação do individuo com o ambiente. O ambiente, na verdade, leva ao desenvolvimento de comportamentos adaptativos que podem dificultar ou propiciar a aprendizagem. Motivação, incentivo pela leitura e saúde física são fatores fundamentais na aprendizagem. A mãe consumidora de substâncias como o álcool e os componentes do tabaco, tendo doenças, como diabetes e hipertensão arterial sistêmica mal controlada, baixo peso da criança ao nascimento, prematuridade, dentre outros, estão estatisticamente associados a transtornos emocionais e cognitivos da criança. A neurociência nos dá evidências de que ambientes com estímulos sensoriais, que despertem a curiosidade e a busca de realização de experimentações levam, devido à neuroplasticidade, ao aumento da densidade de conexões das células nervosas, aumentando o desempenho cognitivo, mesmo em crianças com déficit intelectual. Por outro lado, a pouca estimulação sensorial pode levar ao desenvolvimento de diferentes formas de deficiência. A neurociência contribui para a compreensão dos processos neurais do aprendizado, entendendo os mecanismos de memória, de atenção, de motivação e de comunicação. Entendemos que o desenvolvimento pré-natal tem nos primeiros dois trimestres uma importância vital para o desenvolvimento do sistema nervoso central. A mielinização é o envolvimento dos axônios com uma camada de gordura feito pelas células da glia. A bainha de mielina acelera a condução do impulso nervoso, ela funciona como um isolante, sendo assim, os impulsos ocorrem aos saltos ao longo do axônio, através dos nódulos de Ranvier. Pesquisas atuais apontam a vida intrauterina como um importante período de desenvolvimento cognitivo. A aprendizagem, no útero materno ou fora dele, ocorreria em estreita interação com os estímulos que provêm do ambiente. A deficiência nutricional, por exemplo, relaciona-se à ocorrência na vida adulta de problemas como hipertensão, obesidade e resistência à insulina. Os alimentos agem na química dos neurotransmissores e ajudam a alterar o estado de espírito, regulam o humor e as sensações de prazer e bem-estar. No comando desses estímulos, quatro substâncias neurotransmissoras - serotonina, endorfina, adrenalina e dopamina, responsáveis pela conexão entre os neurônios e pelos impulsos nervosos que ditam o estado de ânimo. "Todas as emoções são resultado de reações químicas, realizadas pelos neurotransmissores. Só se é capaz de sentir determinada sensação quando a estrutura química do cérebro está predisposta, e quem produz essa química são os alimentos", explica o endocrinologista Tércio Rocha. Devido a isso que uma pessoa mal nutrida fica meio apática e não reage a notícias boas nem ruins; ou quando está com fome fica mal humorada e irritada. A endorfina garante prazer, a serotonina, calma e felicidade, a dopamina, disposição e energia, e a adrenalina deixa a pessoa em estado de alerta, tensa. O organismo saudável produzirá essas substâncias e as liberará de acordo com as situações. Diante disso estão os neurotransmissores, responsáveis pela comunicação entre os neurônios. Alimentar-se de forma correta ajudará a manter o cérebro em plena atividade em qualquer idade. Luiz Antônio Corrêa é Doutor em Psicologia pela USAL, de Buenos Aires, Argentina, tem formação em Pedagogia e Psicanálise. É presidente da Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia (SBNPp), já atuou na área de psicologia clínica, como psicanalista; hospitalar, como psicólogo hospitalar; organizacional, como gestor de recursos humanos e educacional como psicólogo escolar. Palestrante e professor universitário, ministra aulas em cursos de pós-graduação em vários estados brasileiros e também no exterior, em disciplinas referentes a educação, psicanálise, neurociência, neuropsicologia e neuropsicopedagogia.